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FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA

PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS

NOTAS DE AULA - 10º PERÍODO

Autor: Professor Paulo Rogério Pinheiro Nazareth

Aluno(a): ............................................................................................................................

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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS ( PSE )

I- INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PROTEÇÃO

I.1- FILOSOFIA DE PROTEÇÃO DOS SISTEMAS ELÉTRICOS

I.1.1- Exploração de um Sistema de Energia Elétrica


Com a intenção de garantir economicamente a qualidade do serviço e assegurar uma vida
útil razoável às instalações, os concessionários dos Sistemas de Energia Elétrica deparam-se,
com as perturbações e anomalias de funcionamento que afetam as redes elétricas e seus
elementos de controle.
Se pensarmos que, na fixação do equipamento global, já foi considerada a previsão de
crescimento do consumo, três outras preocupações persistem para o concessionário:

1- A elaboração de programas ótimos de geração


2- A constituição de esquemas de interconexão apropriados;
3- A utilização de um conjunto coerente de proteções.

Nos programas de geração, deve ser realizado o compromisso entre a utilização mais
econômica dos grupos geradores disponíveis, bem como a repartição geográfica dos grupos
em serviço, evitando as sobrecargas permanentes de transformadores e linhas de
transmissão. Assegurar nos principais nós de consumo uma produção local suficiente ao
atendimento aos usuários prioritários, na hipótese de ocorrer um grave incidente sobre a rede
de energia elétrica.

Com relação aos esquemas de interconexão e mesmo fugindo, por vezes, à condição ideal
da rede em malha, devido a extensão territorial e o custo, deve-se tentar atingir os seguintes
objetivos:

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a) Limitação da corrente de curto-circuito entre fases a um valor compatível com a


salvaguarda do material constitutivo da rede, como por exemplo, 40 KA em 380 kV,
30 kA em 220 kV, etc.
b) Evitar em caso de incidente, inadmissível transferência de carga sobre as linhas ou
instalações que permanecerem em serviço, impedindo-se com isso sobreaquecimento,
operação das proteções e perda de sincronismo entre as regiões ou sistemas
interligados.

O conjunto coerente de proteções é para atenuar os efeitos das perturbações, o sistema de


proteção deve assegurar o melhor possível, a continuidade de alimentação dos usuários, bem
como salvaguardar o material e as instalações da rede.
No cumprimento dessas ações ele deve tanto alertar os operadores em caso de perigo não
imediato, como retirar de serviço a instalação se, por exemplo, um curto-circuito que poderia
deteriorar um equipamento ou afetar toda a rede.
Logo, verifica-se assim, que existe a necessidade de dispositivos de proteção distintos para
as situações anormais de funcionamento do conjunto interconectado, ou de elementos
isolados da rede (perda de sincronismo, perda súbita de carga, etc), os curtos-circuitos e os
defeitos de isolamento.

I.1.2- Estatísticas dos defeitos ou faltas


As concessionárias de energia elétrica, geradores e distribuidores, acompanham e avaliam
com rigor as interrupções de seus sistemas devido a defeitos ou faltas, com o objetivo de se
orientarem no planejamento estratégico e operacional, com intuito de melhorar a qualidade
de fornecimento de energia elétrica a seus clientes.
As principais causas das interrupções são:
- Fenômenos naturais: 48%.
- Falhas em materiais e equipamentos: 12%.
- Falhas humanas: 9%.
- Falhas diversas: 9%.
- Falhas operacionais: 8%.
- Falhas na proteção e medição: 4%.

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- Objetos estranhos sobre a rede: 4%.


- Condições ambientais: 6%.
As interrupções podem se originar de:
- Linhas de transmissão: 68%.
- Rede de distribuição: 10%.
- Barramento de subestação: 7%.
- Transformador de potência: 6%.
- Gerador: 1%.
- Próprio sistema: 4%.
- Consumidor: 4%.

A duração das interrupções (T em minutos) é dada pelos seguintes intervalos:


- 1 < T ≤ 3: 57%.
- 3 < T ≤ 15: 21%.
- 15 < T ≤ 30: 6%.
- 30 < T ≤ 60: 4%.
- 60 < T ≤ 120: 3%.
- T > 120: 9%.
As interrupções também podem ser contabilizadas ao longo dos meses do ano, o que varia
em cada região dependendo, principalmente, das condições climáticas.
Podemos acrescentar a essas estatísticas as interrupções quanto ao tipo de curto-circuito:
- Curto-circuito trifásico: 8%.
- Curto-circuito bifásico: 14%.
- Curto-circuito fase e terra: 78%.
Existe um tipo de interrupção bastante característico dos sistemas de distribuição, urbano
ou rural, denominado defeito fugitivo. Corresponde à falta monopolar à terra de curtíssimo
tempo, como, por exemplo, o galho de uma árvore tocando os condutores de uma rede aérea
devido a uma rajada moderada de vento. As estatísticas mostram que cerca de 80% do total
das interrupções são classificadas como fugitivas.

I.1.3- Aspectos considerados na proteção.

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Na proteção de um sistema elétrico, devem ser examinados três aspectos:


1- Operação normal, que presume a inexistência de falhas de equipamento, de erros do
pessoal de operação e de incidentes ditos “segundo a vontade de Deus”.
2- Prevenção contra falhas elétricas, onde não é possível eliminar por completo todas
as falhas. Porém podemos preveni-las tomando-se algumas providências como,
isolamento adequado, coordenação do isolamento, o uso de cabos para-raios e baixa
resistência de pé-de-torre; apropriadas instruções de operação e manutenção, etc.
3- Limitação dos defeitos devido às falhas, que inclui limitar a magnitude da corrente
de curto-circuito (reatores); um projeto capaz de suportar os efeitos mecânicos e
térmicos das correntes de defeito; existência de circuitos múltiplos e geradores de
reserva; existência de releamento e outros dispositivos, bem como disjuntores com
suficiente capacidade de interrupção; meios para observar as medidas anteriores
através de oscilógrafos e observação humana. Por fim, frequentes análises sobre as
mudanças no sistema (crescimento e desdobramento das cargas) com os consequentes
reajustes dos relés, reorganização do esquema operativo, etc.

I.1.4- Análise geral da proteção.


Num sistema elétrico, basicamente, encontramos os seguintes tipos de proteção:
- Contra incêndio;
- Pelos relés, ou releamento e por fusíveis;
- Contra descargas atmosféricas e surtos de manobra.

Um estudo de proteção leva em conta as seguintes considerações principais:


1- Elétricas: devidas as características do sistema de potência (natureza das faltas,
sensibilidade para a instabilidade, regimes e características gerais dos equipamentos,
condições de operação, etc);
2- Econômicas: devidas a importância funcional do equipamento (custo do equipamento
principal X custo relativo do sistema de proteção);
3- Físicas: devidas principalmente às facilidades de manutenção, localização (dos relés e
redutores de medida), distância entre os pontos de releamento (carregamento dos TC’s,
uso de fio piloto), etc.

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É importante dizer que um sistema de proteção bem projetado é capaz de minimizar:


- O custo de reparação dos estragos;
- A probabilidade de que o defeito possa propagar-se e envolver outro equipamento;
- O tempo que o equipamento fica inativo, reduzindo a necessidade de reservas;
- A perda de renda e o desgaste das relações públicas, enquanto o equipamento está fora
de serviço.
O custo de um sistema de proteção é da ordem de 2 a 5% daquele correspondente aos
equipamentos protegidos. É, portanto, um seguro barato, principalmente considerando-se
o tempo usual para a depreciação dos equipamentos.

I.1.5- Características gerais dos equipamentos de proteção.


Existem dois princípios gerais a serem obedecidos em sequência:
1- Em nenhum caso a proteção deve dar comando, se não existe defeito na sua zona de
controle (desligamentos intempestivos podem ser piores que a falha de atuação);
2- Se existe defeito nessa zona, os comandos devem corresponder exatamente aquilo que
se espera, considerada que seja a forma, intensidade e localização do defeito.

Disso resulta que a proteção por meio de relés, ou o releamento, tem duas funções:
a) Função principal: que é a de promover uma rápida retirada de serviço de um elemento
do sistema, quando esse sofre um curto-circuito, ou quando ele começa a operar de
modo anormal que possa causar danos ou, de outro modo, interferir com a correta
operação do resto do sistema.
Nessa função um relé (elemento detector-comparador e analisador) é auxiliado pelo
disjuntor (interruptor), ou então um fusível que engloba as duas funções.
A
B
C

DISJUNTOR
TP

TC
RELÉ

CARGA
A Fig.1: Esquema básico de um conjunto relé-disjuntor

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b) Função secundária: que promove a indicação da localização e do tipo do defeito,


visando mais rápida reparação e possibilidade de análise da eficiência e características
de mitigação da proteção adotada.
Os princípios fundamentais do releamento compreendem três etapas:
1- Releamento primário ou de primeira linha;
2- Releamento secundário;
3- Releamento auxiliar.
O releamento primário é aquele em que uma zona de proteção separada é estabelecida ao
redor de cada elemento do sistema, visando à seletividade, onde os disjuntores são colocados
na conexão de cada dois elementos. Existe uma superposição das zonas, em torno dos
disjuntores visando à retaguarda em caso de falha da proteção principal.

O releamento de retaguarda, cuja finalidade é a de atuar na manutenção do releamento


primário ou falha deste, só é usado, por motivos econômicos, para determinados elementos
do circuito e somente contra curto-circuito. No entanto, sua previsão deve-se a probabilidade
de ocorrer falhas, seja na corrente ou tensão fornecida ao relé, ou na fonte de corrente de
acionamento do disjuntor, ou no circuito de disparo ou no mecanismo do disjuntor, ou no
próprio relé, etc.

O releamento auxiliar tem função como multiplicador de contatos, sinalização ou


temporização, etc.

I.1.6- Requisitos básicos de um sistema de proteção.


Para que se obtenha um bom desempenho, devemos considerar as seguintes propriedades
fundamentais:

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a) Seletividade
É uma técnica utilizada no estudo de proteção e coordenação, por meio do qual
somente o elemento mais próximo da falta desconecta da parte faltosa do sistema
elétrico.
b) Zonas de atuação
Durante a ocorrência de uma anormalidade, o elemento de proteção deve ser capaz de
definir se aquela ocorrência é interna ou externa à zona protegida. Se a ocorrência está
nos limites da zona protegida, o elemento de proteção deve atuar e acionar a abertura
do disjuntor associado, num intervalo de tempo definido no estudo de proteção. Se a
ocorrência está fora dos limites da zona protegida, o relé não deve ser sensibilizado
pela grandeza elétrica do defeito (depende do tipo de proteção utilizada).

c) Velocidade
Desde que seja definido um tempo mínimo de operação para um elemento de
proteção, a velocidade de atuação deve ser a de menor valor possível, a fim de as
seguintes condições favoráveis:
- Reduzir ou mesmo eliminar as avarias no sistema protegido;
- Reduzir o tempo de afundamento da tensão (sag) durante as ocorrências nos sistemas
de potência;
- Permitir a ressincronização dos motores.

d) Sensibilidade
Consiste na capacidade do elemento de proteção reconhecer com precisão a faixa e os
valores indicados para a sua operação e não operação.
Para avaliar numericamente o nível de sensibilidade de um elemento de proteção,
pode-se aplicar a equação abaixo:
I
M c  ccmi , onde:
I pk

M c  Múltiplo da corrente de pick-up (acionamento);

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I ccmi  Corrente de curto-circuito franco calculada no extremo mais afastado da zona

de proteção e sob condição de geração mínima;


I pk  Corrente de acionamento do elemento de proteção, isto é, o valor mínimo da
corrente capaz de acionar o referido elemento de proteção.
Um nível adequado de sensibilidade deve-se ter: 1,5  M c  2 .

e) Confiabilidade
É a propriedade do elemento de proteção cumprir com segurança e exatidão as
funções que lhes foram confiadas.
f) Automação
Consiste na propriedade do elemento de proteção operar automaticamente quando for
solicitado pelas grandezas elétricas que os sensibilizam e retornar sem auxilio
humano, se isso for conveniente, à posição de operação depois de cessada a
ocorrência.
Ainda existem outras propriedades fundamentais para o bom desempenho dos
dispositivos de proteção:
- Os relés são sensibilizados, mas não devem operar por sobrecargas ou sobretensões
momentâneas.
- Os relés são sensibilizados, mas não devem atuar por oscilações de corrente, tensão
e frequência ocorridas naturalmente no sistema, desde que consideradas normais pelo
projeto.
- Os relés devem ser dotados de bobinas e circuitos de pequeno consumo de energia.
- Os relés devem ter suas características inalteradas para diferentes configurações do
sistema elétrico.

I.1.7- Dispositivos de proteção.


Basicamente existem dois dispositivos aplicados na proteção de sistemas elétricos de
qualquer natureza, ou seja, são os fusíveis e os relés.
Os fusíveis são dispositivos que operam pela fusão rompendo seu elemento metálico
construído com características específicas de tempo X corrente.

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Os relés, porém, constituem uma ampla gama de dispositivos que oferecem aos
sistemas elétricos nas mais variadas formas, ou seja, sobrecarga, curto-circuito,
Sobretensão, subtensão, subfrequência, etc. Cada relé de proteção possui uma ou mais
características técnicas que o definem para exercer as funções básicas, dentro dos limites
exigidos pelos esquemas de proteção e coordenação, para cada sistema elétrico em
particular.
O primeiro dispositivo de proteção eletromecânico surgiu em 1901 e os relés têm
evoluído progressivamente. Consistia em um relé de proteção de sobrecorrente tipo
indução. Por volta de 1908 foi desenvolvido o princípio da proteção diferencial de
corrente, seguindo-se, em 1910, o desenvolvimento das proteções direcionais. Somente
por volta de 1930 foi desenvolvida a proteção de distância.
A qualidade e a complexidade da tecnologia dos dispositivos eletromecânicos
evoluíram ao longo dos anos, permitindo que os esquemas de proteção alcançassem cada
vez mais um elevado grau tanto de sofisticação quanto de confiabilidade.
Na década de 1930 surgiram os primeiros relés de proteção com tecnologia à base de
componentes eletrônicos, com o uso de semicondutores. Os relés eletrônicos ou estáticos
não tiveram aceitação imediata no mercado, devido à forte presença dos relés
eletromecânicos, que já nessa época eram fabricados com tecnologia de alta qualidade,
robustez, praticidade e competitividade. Eram e ainda hoje são verdadeiras peças de
relojoaria de precisão.
Na década de 1980, com o desenvolvimento acelerado da microeletrônica, surgiram as
primeiras unidades de proteção utilizando a tecnologia digital. O mercado nacional não
absorveu prontamente a tecnologia de proteção digital devido ao fracasso tecnológico das
proteções eletrônicas, com as sucessivas falhas desses dispositivos. Algumas
concessionárias, receosas com o uso dos relés digitais, chegaram a utilizá-los juntamente
com os relés eletromecânicos como proteção de retaguarda. Os limites de temperatura dos
relés estáticos e em seguida dos relés digitais contribuíram muito para as falhas desses
elementos de proteção. Os relés eletromecânicos de indução de construção robusta,
utilizados frequentemente em armários metálicos instalados ao tempo, resistiam às
intempéries sem apresentar falhas graves de funcionamento. Já os relés estáticos e digitais
construídos à base de componentes de alta sensibilidade às temperaturas elevadas muitas

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vezes foram utilizados em condições críticas em armários metálicos instalados no pátio


das subestações, ocorrendo falhas graves de funcionamento.
Pode-se afirmar que as vantagens dos relés eletrônicos sobre os eletromecânicos foram
relativamente pequenas quando comparadas com as vantagens que os relés
microprocessados levam sobre os eletromecânicos e os eletrônicos.
Os relés eletromecânicos e os eletrônicos são relés que executam apenas as funções lhe
foram atribuídas, enquanto que os relés digitais incorporam todas as facilidades que a
tecnologia dos microprocessadores oferece, além de preços competitivos e confiabilidade.
Uma observação importante é que com o advento da tecnologia digital houve uma
mudança brusca no conceito de tempo de vida útil de um sistema de proteção. Os relés
eletromecânicos de indução são equipamentos que pela sua construção robusta
apresentavam uma vida útil de 20 a 30 anos. Já a vida útil dos relés digitais não é contada
pelo tempo de desgaste de seus componentes eletrônicos, mas sim pelo tempo de
obsolescência da tecnologia da informação que faz funcionar o relé. Assim, à medida que
os softwares aplicados aos sistemas de proteção digitais adquirem maior poder de
programação e lógica, é necessário desenvolver novos relés com a mesma função para
poder se beneficiar desses aplicativos.
Outra mudança sentida pelos profissionais de proteção está ligada à formação técnica.
Na época dos relés eletromecânicos de indução, o tempo de formação de um técnico de
nível médio para ajustar e realizar as manutenções necessárias num relé de um
determinado fabricante se restringia a cerca de 10 horas. Com duas ou três horas
adicionais, o mesmo técnico adquiria conhecimento suficiente para ajustar e realizar
manutenções no mesmo tipo de relé de outro fabricante. Isso ocorria porque os relés de
uma mesma função tinham construções muito semelhantes.
Atualmente, o perfil técnico desses profissionais mudou significativamente. Agora, o
tempo de treinamento de um técnico para ajustar e realizar manutenções num determinado
tipo de relé digital de um fabricante pode durar semanas. Se esse mesmo técnico for
chamado para ajustar e realizar os mesmos serviços num relé de outro fabricante, mas
com funções equivalentes, o tempo de treinamento será praticamente o mesmo.

I.1.8- Funções de proteção.

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As funções de proteção e manobra são caracterizadas por um código numérico que


indica o tipo de proteção a que se destina um relé. Um relé pode ser fabricado para atuar
somente na ocorrência de um determinado tipo de evento, respondendo a esse evento de
uma única forma. Um exemplo é o relé de sobrecorrente instantâneo do tipo indução,
constituído apenas de uma unidade instantânea (função 50). Nesse caso, disse-se que o
relé é monofunção.
Outros relés, no entanto, são fabricados para atuar na ocorrência de vários tipos de
evento, respondendo a esses eventos de duas ou mais formas. Um exemplo é o relé de
sobrecorrente, constituído de uma unidade instantânea (função 50) e uma unidade
temporizada (função 51), incorporando uma unidade de subtensão e outra de
Sobretensão. Nesse caso, diz-se que o relé é multifunção.
Para padronizar e universalizar os vários tipos de funções elaborou-se uma tabela pela
ANSI (American National Standards Institute) dada a seguir:
Tabela: Nomenclatura das funções de proteção e manobra (ANSI)
Código Função
1 Elemento principal (master element)
2 Relé de partida ou fechamento temporizado (time-delay starting or closing relay)
3 Relé de verificação ou interbloqueio (checking or interlocking relay)
4 Contactor principal (master contactor)
5 Dispositivo de interrupção (stopping device)
6 Disjuntor de partida (starting circuit breaker)
7 Disjuntor de anodo (anode circuit breaker)
8 Dispositivo da desconexão da energia de controle (control power disconnecting device)
9 Dispositivo de reversão (reversing device)
10 Chave de sequência das unidades (unit sequence switch)
11 Reservada para futura aplicação
12 Dispositivo de sobrevelocidade (over-speed device)
13 Dispositivo de rotação síncrona (synchronous-speed device)
14 Dispositivo de subvelocidade (under-speed device)
15 Dispositivo de ajuste ou comparação de velocidade ou frequência
16 Reservado para futura aplicação
17 Chave de derivação ou de descarga (shunting, or discharge, switch)
18 Dispositivo de aceleração ou desaceleração (accelerating or decelerating device)
19 Contactor de transição partida-marcha (starting-to-running transtion contactor)
20 Válvula operada eletricamente (electrically operated valve)
21 Relé de distância (distance relay)
22 Disjuntor equalizador (equalizer circuit breaker)
23 Dispositivo de controle de temperatura (temperature control device)

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24 Reservado para futura aplicação
25 Dispositivo de sincronização ou de conferência de sincronismo (synchronism-check device)
26 Dispositivo térmico do equipamento (apparatus thermal device)
27 Relé de subtensão (under voltage relay)
28 Reservado para futura aplicação
29 Contactor de isolamento (isolator contactor)
30 Relé anunciador (annunciator relay)
31 Dispositivo de excitação em separado (separate excitation device)
32 Relé direcional de potência (directional power device)
33 Chave de posicionamento (position switch)
34 Chave de sequência, operada por motor (motor-operated sequence switch)
35 Dispositivo para operação das escovas ou para curto-circuitar os anéis do coletor
36 Dispositivo de polaridade (polarity device)
37 Relé de subcorrente ou subpotência (undercurrent or under power relay)
38 Dispositivo de proteção de mancal (bearing-protective device)
39 Reservado para futura aplicação
40 Relé de campo (field relay)
41 Disjuntor ou chave de campo (field circuit-breaker)
42 Disjuntor ou chave de operação normal (running circuit breaker)
43 Dispositivo ou seletor de transferência manual (manual transfer or selector device)
44 Relé de sequência de partida das unidades (unit sequence starting relay)
45 Reservado para futura aplicação
46 Relé de reversão ou balanceamento corrente de fase (reversefhase, or current relay)
47 Relé de sequência de fase de tensão (fhase-sequence voltage relay)
48 Relé de sequência incompleta (incomplete sequence relay)
49 Relé térmico para máquina ou transformador (machine, or transformer, thermal relay)
50 Relé de sobrecorrente instantâneo (instataneous over current, or rate-of-rise relay)
51 Relé de sobrecorrente-tempo CA (a-c time over current relay)
52 Disjuntor de corrente alternada (a-c circuit breaker)
53 Relé para excitatriz ou Gerador CC (exciter or d-c generator relay)
54 Disjuntor de corrente contínua, alta velocidade (high-speed d-c circuit breaker)
55 Relé de fator de potência (power fator relay)
56 Relé de aplicação de campo (Field application relay)
57 Dispositivo para aterramento ou curto-circuito (short-circuiting or grounding device)
58 Relé de falha de retificação (power rectifier misfire relay)
59 Relé de Sobretensão (overvoltage relay)
60 Relé de balanço de tensão (voltage balance relay)
61 Relé de balanço de corrente (current balance relay)
62 Relé de interrupção ou abertura temporizada (time-delay stopping, or opening, relay)
63 Relé de pressão de nível ou de fluxo, de líquido ou gás (liquid or gaz pressure, level, or flow relay
64 Relé de proteção de terra (ground protective relay)
65 Regulador (governor)
66 Dispositivo de intercalação ou escapamento de operação (notching, or jogging, device)
67 Relé direcional de sobrecorrente CA (a-c directional overcurrent relay)
68 Relé de bloqueio (blocking relay)

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69 Dispositivo de controle permissivo (permissive control device)
70 Reostato eletricamente operado (electrically operated rheostat)
71 Reservado para futura aplicação
72 Disjuntor de corrente contínua (d-c circuit breaker)
73 Contactor de resistência de carga (load-resistor contactor)
74 Relé de alarme (alarm relay)
75 Mecanismo de mudança de posição (position changing mechanism)
76 Relé de sobrecorrente CC (d-c overcurrent relay)
77 Transmissor de impulso (pulse transmitter)
78 Relé de medição de ângulo de fase, ou de proteção contra falha de sincronismo
79 Relé de religamento CA (a-c reclosing relay)
80 Reservado para futura aplicação
81 Relé de frequência (frequency relay)
82 Relé de religamento CC (d-c reclosing relay)
83 Relé de seleção de controle ou de transferência automática (automatic selective control relay)
84 Mecanismo de operação (operating mechanism)
85 Relé receptor de onda portadora ou fio-piloto (carrier, or pilot-wire, receiver relay)
86 Relé de bloqueio (locking-out relay)
87 Relé de proteção diferencial (differential protective relay)
88 Motor auxiliar ou motor gerador (auxiliary motor, or motor generator)
89 Chave separadora (line switch)
90 Dispositivo de regulação (regulating device)
91 Relé direcional de tensão (voltage directional relay)
92 Relé direcional de tensão e potência (voltage and power directional relay)
93 Contactor de variação de campo (field changing contactor)
94 Relé de desligamento, ou de disparo livre (tripping, or trip-free, relay)
95 a 99 Usados para aplicações específicas, não cobertas pelos números anteriores.

Tabela: Nomenclatura complementar das funções de proteção e manobra (ANSI)


Código Função
21B Proteção de subimpedância: contra curtos-circuitos fase-fase
27TN Proteção de subtensão residual de terceira harmônica
37P Proteção direcional de sobrepotência ativa
37Q Proteção direcional de sobrepotência reativa
48-51LR Proteção contra partida longa, rotor bloqueado
49T Supervisão de temperatura
50N Sobrecorrente instantâneo de neutro
51N Sobrecorrente temporizado de neutro (tempo definido ou curvas inversas)
50G Sobrecorrente instantâneo de terra
50GS Sobrecorrente instantâneo de terra
51G Sobrecorrente temporizado de terra (com tempo definido ou curvas inversas)
51GS Sobrecorrente temporizado de terra (com tempo definido ou curvas inversas)
50BF Relé de proteção contra falha de disjuntor
51Q Relé de sobrecorrente temporizado de sequência negativa (tempo definido ou curvas inversas)
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51V Relé de sobrecorrente com restrição de tensão
51C Relé de sobrecorrente com controle de torque
59Q Relé de Sobretensão de sequência negativa
59N Relé de sobretensão residual ou sobretensão de neutro
62BF Relé de proteção contra falha de disjuntor
64G Relé de sobretensão residual ou sobretensão de neutro
64REF Proteção diferencial de fuga a terra restrita
67N Relé de sobrecorrente direcional de neutro instantâneo ou temporizado
67G Relé de sobrecorrente direcional de terra instantâneo ou temporizado
67Q Relé de sobrecorrente direcional de sequência negativa
78PS Proteção de perda de sincronismo
81L Proteção de subfrequência
81H Proteção de sobrefrequência
81R Taxa de variação da frequência (df/dt)
87B Proteção diferencial de barramento
87T Relé diferencial de transformador
87L Proteção diferencial de linha
87G Relé diferencial de gerador
87GT Proteção diferencial do grupo gerador-transformador
87M Proteção diferencial de motores

I.1.9- Características construtivas e operacionais.


Os relés de proteção apresentam diversas características que particularizam a sua
aplicação num determinado sistema, de acordo com os requisitos exigidos. Os relés podem
ser fabricados de várias formas, cada uma delas utilizando princípios básicos peculiares. Em
relação à forma de construção, são classificados como:

a) Relés Fluidodinâmicos.
Normalmente são construídos para ligação direta com a rede e são montados nos polos
de alimentação do disjuntor de proteção. Esses relés utilizam líquidos, em geral, o óleo
de vaselina, como elemento temporizador. Possuem um êmbolo móvel que se desloca
no interior de um recipiente, no qual é colocada certa quantidade de óleo, que provoca
sua temporização quando o êmbolo para fora do recipiente pela ação do campo
magnético formado pela bobina ligada diretamente ao circuito protegido.
Não são mais fabricados desde que a NBR 14039 eliminou o seu uso como proteção
principal de subestação de consumidor. No entanto, ainda é muito grande a quantidade
desse tipo de relé em operação em pequenas e até médias instalações industriais. Em

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geral, foram empregados na proteção de subestações de até 1000 KVA, sendo que
muitas concessionárias limitavam sua aplicação a valores inferiores.
Os relés fluidodinâmicos não foram utilizados pelas concessionárias de energia
elétrica na proteção de suas subestações de potência, em virtude da sua estreita
possibilidade de coordenação com os elos fusíveis de proteção de rede. Outra limitação
do seu uso foi quanto à inaplicabilidade de ser instalado ao tempo, situação
característica das subestações das companhias de serviço público de energia elétrica.

b) Relés Eletromagnéticos.
O princípio de funcionamento de um relé eletromagnético se baseia na força de
atração exercida entre elementos de material magnético. A força eletromagnética desloca um
elemento móvel instalado no circuito magnético de modo a reduzir a sua relutância,
conforme pode ser visto na figura a seguir:

Contato móvel

Fluxo magnético

Terminais do circuito
de acionamento

Mola
Terminais do circuito
auxiliar de alimentação
do relé

O relé eletromagnético é constituído basicamente de uma bobina envolvendo um núcleo


magnético, cujo entreferro é formado por uma peça móvel na qual é fixado um contato
elétrico que atua sobre um contato fixo, permitindo a continuidade do circuito de
acionamento do disjuntor. A referida peça móvel se desloca no sentido de permitir o menor
valor de relutância no circuito magnético.

c) Relés eletrodinâmicos.

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Os relés eletrodinâmicos funcionam dentro do princípio básico de atuação de duas


bobinas, uma móvel interagindo dentro de um campo formado por outra bobina fixa, tal
como se constroem os instrumentos de medida de tensão e corrente conhecido como os de
bobina móvel. Na realidade, eles não têm aplicação notável como elementos de proteção de
circuitos primários, apesar de sua grande sensibilidade. Por outro lado, um custo
normalmente superior aos demais citados anteriormente.

d) Relés de indução.
Os relés de indução são também conhecidos como relés secundários, tendo sido
largamente empregados em sistemas industriais de potência e de concessionaria de serviço
público, na proteção de equipamentos de grande valor econômico.
Seu princípio de funcionamento é baseado na construção de dois magnetos, um
superior e outro inferior, entre os quais está fixado, em torno do seu eixo, um disco de
indução. Esses núcleos magnéticos permitem a formação de quatro entreferros, cada um
sendo responsável pelo torque de acionamento do disco. O núcleo superior é dotado de dois
enrolamentos. O primeiro é diretamente ligado ao circuito de alimentação, no caso um
transformador de corrente, enquanto o outro é responsável pela alimentação do núcleo
inferior.
O disco de indução possui um contato, denominado contato móvel, que, com o
movimento de rotação, atua sobre um contato fixo, fechando o circuito de controle. Uma
mola de restrição força o retorno do disco de indução à sua posição original, responsável
pela frenagem eletromagnética, e seu ajuste é feito na instalação através de parafusos de
ajuste.

e) Relés térmicos.
Em geral, algumas máquinas, tais como transformadores, motores, geradores, e etc.,
sofrem drasticamente com o aumento da temperatura de seus enrolamentos, o que implica a
redução de sua vida útil e, consequentemente, falha do equipamento. Para se determinar o
valor verdadeiro da temperatura no ponto mais quente de uma máquina, é necessário
introduzir sondas térmicas no interior dos bobinados. Porém, apesar de sua eficiência, essas

17
18

sondas passam a fazer parte do equipamento fisicamente, acarretando consequências


indesejáveis de manutenção.
No entanto, existem relés dotados de elementos térmicos ajustáveis, chamados de
réplicas térmicas. Eles são atravessados pela corrente de fase do sistema, diretamente ou por
meio de transformadores de corrente, e, através dos elementos térmicos com características
semelhantes às características térmicas do equipamento que se quer proteger. Atuam sobre o
circuito de alimentação da bobina do disjuntor, desenergizando o sistema antes que a
temperatura atinja valores acima do máximo permitido para aquela máquina em particular.
Esses relés são também chamados de imagem térmica, por simularem a mesma curva de
aquecimento do equipamento a ser protegido.

f) Relés eletrônicos.
Os relés eletrônicos são fruto do desenvolvimento tecnológico da eletrônica dos
sistemas de potência. Na época em que eram fabricados atendiam a todas as necessidades de
proteção dos sistemas elétricos, competindo em preço e desempenho com os modelos
eletromecânicos, exceto em pequenos sistemas, quando se podiam utilizar os relés
convencionais de ação direta, dispensando-se os transformadores de medida e as fontes
auxiliares de alimentação.
A tecnologia estática apresenta como vantagens adicionais sobre os relés
convencionais eletromecânicos a compacidade, a precisão nos valores ajustados e a
facilidade de modificação das curvas de operação em uma mesma unidade.

g) Relés digitais.
É uma proteção baseada em técnicas de microprocessadores. Os relés digitais
mantêm os mesmos princípios das funções de proteção e guardam os mesmos requisitos
básicos aplicados aos relés eletromecânicos ou de indução e aos relés estáticos ou
eletrônicos. No entanto, eles oferecem além das funções dos seus antecessores novas
funções aos seus usuários adicionando maior velocidade, melhor sensibilidade,
interfaceamento amigável, acesso remoto, armazenamento de informações, e etc.
Enquanto os relés utilizam as grandezas analógicas de tensão e da corrente e
contatos externos, bloqueios etc., denominados eventos, os relés digitais utilizam técnicas de

18
19

microprocessamento. Porém, as grandezas de entrada continuam sendo analógicas, e são


convertidas internamente para sinais digitais através de conversores analógicos/digitais A/D.
Os relés digitais chegaram ao mercado brasileiro nos meados da década de 1980,
porém nos anos 90 sua aplicação tomou um forte e definitivo impulso, à medida que a
tecnologia de digitalização dos sistemas elétricos foi sendo cada vez mais aperfeiçoada e
universalizada.
Ao contrário dos relés eletromecânicos de indução e dos relés eletrônicos, os relés
digitais, devido ao fato de operarem segundo uma programação inteligente e poderosa, têm a
capacidade de processar digitalmente os valores medidos do sistema, tais como tensão,
corrente, frequência etc., e de realizar operações lógicas e aritméticas. Além de exercer as
funções de seus antecessores tecnológicos, apresentam as seguintes vantagens:
- Pequeno consumo de energia, reduzindo a capacidade dos transformadores de
corrente.
- Elevada confiabilidade devido à função de autossupervisão.
- Diagnóstico de falha por de armazenagem de dados de falta.
- Possibilidade de se comunicarem com um sistema supervisório, por meio de uma
interface serial.
- Possibilidade de serem ajustados à distância.
- Durante os procedimentos de alteração nos ajustes, mantêm a proteção do sistema
elétrico ao nível dos ajustes existentes.
- Elevada precisão devido a tecnologia digital.
- Amplas faixas de ajuste com vários degraus; ajuste dos parâmetros guiado por uma
interface amigável.
- Indicação dos valores de medição e dos dados de falha por meio de display
alfanumérico.
- Segurança operacional com a possibilidade de estabelecer uma senha do
responsável pelo seu ajuste.

A tecnologia analógica dos relés digitais pode ser resumida no fato de que os sinais
analógicas de entrada são isolados eletricamente pelos transformadores de entrada dos relés
após o que são filtrados analogicamente e processados pelos conversores analógicos/digitais.

19
20

Os relés digitais são dotados dos seguintes elementos de indicação e operação:

a) Display (mostrador) alfanumérico


É utilizado para mostrar os valores de medição e de ajuste, os dados armazenados na
memória de massa e as mensagens que o relé quer transmitir.

b) Teclas
São utilizadas para ativar os parâmetros de medida a serem indicados e alterar o
armazenamento desses parâmetros.
Os relés digitais são caracterizados por três tipos de funções:
1- Funções de proteção
São aquelas que monitoram as faltas e atuam em tempo muito rápido. São dotadas
de larga faixa de medição, atuando em valores que podem atingir 20 vezes a grandeza
nominal. Um exemplo de função de proteção é a proteção de sobrecorrente.
2- Funções de medição
São aquelas que exercem a supervisão do sistema elétrico. Algumas medições são
registradas diretamente pelo relé, tais como tensão e corrente, enquanto outras são obtidas
através de cálculos numéricos, tais como potência e fator de potência. A medição de corrente
de um alimentador é um exemplo de função de medição.
Para melhor entendimento do relé digital é importante descrever as diferentes etapas de
processamento das informações recebidas pelo mesmo por meio de seus terminais de
entrada, bem como os sinais enviados aos equipamentos de manobra e sinalização, e o
resultado desse processamento deve ser comparado com valores pré-ajustados.
Etapas de processamento do relé digital:
a) Interface com o processo
Há duas formas do relé digital interfacear com o processo elétrico:
- Condicionamento dos sinais
Significa realizar a interface entre o processo elétrico e o ambiente eletrônico,
isolando galvanicamente os referidos ambientes, a fim de evitar que as grandezas do sistema
elétrico normalmente de valor elevado, tais como tensão e corrente, causem danos aos
circuitos muito sensíveis do relé digital que operam com valores típicos  5 a  15 V.

20
21

O relé digital é dotado de um conjunto de filtros analógicos cuja finalidade e reduzir


os efeitos dos ruídos contidos nos sinais de entrada. Para determinadas funções, como, por
exemplo, a proteção de sobrecorrente, o conjunto de filtros deixa passar apenas os sinais da
frequência fundamental.
O isolamento galvânico, citado anteriormente, é exercido nos relés digitais pelos
transformadores de corrente e de potencial.

- Conversão dos sinais analógicos para digital


Realizado o acondicionamento do sinal, este deve ser convertido da forma
analógica para a digital. Os relés contêm vários canais de entradas, CE, que alimentam no
final o conversor analógico/digital, A/D. Sendo um componente de custo elevado, utiliza-se
apenas uma unidade que tem a capacidade de converter um canal de cada vez. Assim, cada
canal de entrada CE coleta uma amostra do sinal e o armazena analogicamente, utilizando,
por exemplo, um capacitor, até que o conversor A/D possa obter uma representação
numérica do mesmo.
No circuito de conversão existe um elemento denominado multiplexador que tem a
função de selecionar e ordenar o sinal que deve ser processado pelo conversor A/D.
É interessante observar que os diferentes canais de entrada podem conter diferentes
tipos de grandezas elétricas, por exemplo, corrente nas fases A, B, C e neutro ou as tensões
entre fases AB, BC, CA, fase-neutro e mais uma tensão residual. Por sua vez, o conversor
A/D realiza a conversão analógica da grandeza elétrica numa sequência numérica que é
enviada aos microprocessadores.

b) Microprocessadores
São elementos do relé que recebem os sinais digitais do conversor, além dos sinais
digitais gerados naturalmente pelos contatos secos de chaves, contatores etc. e executam as
funções de medição, proteção, controle etc. O resultado dessas operações é mostrado no
display de cristal líquido do relé e/ou enviado para os canais de saída, representados por
diodos de saída.

21
22

Os microprocessadores também exercem a função de autossupervisão e comunicação


serial. São operados por programas dedicados denominados algoritmos, responsáveis pela
elaboração dos cálculos.

c) Memória
Os relés podem ser dotados de um ou mais tipos de memória:
- Memória RAM (Random Access Memory) => É aquela que armazena os dados
variáveis de natureza temporária, tais como alarmes, correntes de atuação, etc. Os dados
armazenados podem ser eliminados na memória RAM quando da ausência da tensão auxiliar
de alimentação do relé, sem que isso comprometa o desempenho da unidade.
- Memória ROM (Read Only Memory) => É aquela na qual é armazenado um
conjunto de informações proprietárias do fabricante do relé. Esse tipo de memória somente
pode ser acessado para a operação de leitura.
- Memória PROM => É uma memória ROM que pode ser programada eletricamente.
- Memória EPROM => É uma memória ROM que pode ser programada eletricamente
várias vezes. Antes de qualquer regravação, seu conteúdo anterior é eliminado por meio de
raios ultravioleta.
- Memória EEPROM => É uma memória PROM cujos dados armazenados podem ser
eliminados eletricamente. Nesse tipo de memória, são armazenadas informações de caráter
variável que não podem ser eliminadas com a ausência da tensão auxiliar, tais como energia
acumulada, ajuste das proteções, contagem de eventos etc.
- Memória FLASH => Tem características semelhantes à memória EEPROM, no
entanto, as informações podem ser eliminadas eletricamente, aplicando um determinado tipo
de tecnologia.

d) Entradas e saídas seriais.


São componentes do relé capazes de receber e enviar informações digitais, tais como
mensagens operacionais, estado de operação do disjuntor etc. As entradas/saídas digitais
normalmente empregadas nos relés são a RS232 e a RS485.

e) Fonte de alimentação.

22
23

Os relés digitais necessitam de uma fonte de tensão operando em baixas voltagens


para alimentar seus circuitos internos. A fonte de alimentação auxiliar normalmente utilizada
é um banco de baterias provido de um retificador/carregador. Em geral, as tensões auxiliares
mais empregadas são: 24 – 48 – 125 – 220 Vcc. A tolerância de variação da tensão auxiliar
está compreendida entre 10 e 20%.

f) Autossupervisão.
A fim de garantir a compatibilidade de um sistema elétrico e do próprio dispositivo,
os relés digitais são monitorados constantemente por um software dedicado que informa o
estado dos diversos componentes que integram a unidade, ou seja, fonte de alimentação,
processador, memórias etc. No caso da ocorrência de uma condição não favorável ao
desempenho do relé, um alarme sonoro e/ou luminoso será emitido indicando a sua origem.

g) Interface homem-máquina.
Normalmente, o relé é acompanhado de software que permite ao usuário, a partir de
um microcomputador, comunicar-se facilmente com o dispositivo de proteção. A
comunicação tem por objetivo introduzir e alterar os ajustes dos relés, acessar informações
armazenadas e carregar tais informações para análise posterior. A fim de facilitar a solução
para os usuários, normalmente os software oferecidos são executados em ambiente
Windows.

h) Relatório de falhas.
Os relés numéricos, em geral, são dotados de memórias para armazenamento de
eventos relacionados a eles próprios, além de informações sobre os últimos defeitos
ocorridos no sistema elétrico que protege. Normalmente são armazenados os últimos 50
eventos relacionados aos relés, e o último evento depois de completada a memória de
armazenamento anula o primeiro evento, e assim sucessivamente.

II- REDUTORES OU TRANSFORMADORES DE MEDIDA


II.1- INTRODUÇÃO

23
24

Assim como os dispositivos de medida, os relés são usualmente conectados ao sistema


de potência através de transformadores de corrente e/ou potencial.
A grande expansão dos sistemas elétricos exige o uso de correntes e tensões cada vez
maiores. Estes sistemas para serem controlados e protegidos necessitam transmitir aos
instrumentos de medição e proteção essas grandezas. Como é economicamente inviável o
uso de instrumentos que meçam diretamente as tensões e correntes de linha, utilizam-se os
transformadores de medida que possuem os seguintes objetivos:
a) Alimentar o sistema de proteção e medição com tensão e corrente reduzidas, mas
proporcionais às grandezas dos circuitos de força.
b) Proporcionar o isolamento entre o circuito de alta tensão e os instrumentos de
medição e proteção e, consequentemente, segurança pessoal.
c) Padronizar a fabricação dos instrumentos de medida.

Praticamente, apenas duas grandezas são medidas através dos redutores de medida, ou
seja, a corrente com o uso do transformador de corrente (TC) e a tensão com o uso do
transformador de potencial (TP).

II.2- TRANSFORMADORES DE CORRENTE (TC’s)


São dispositivos que têm o primário ligado em série com o circuito principal e o
secundário ligado aos relés e/ou instrumentos de medição, cujo valor da corrente secundária
depende da relação de transformação do equipamento (número de espiras dos enrolamentos).
O enrolamento primário dos TC’s é normalmente constituído de poucas espiras (duas ou três,
por exemplo), podendo ser até mesmo o próprio condutor ao qual o TC está conectado. O
enrolamento possui um número elevado de espiras e é projetado para correntes nominais
padronizadas de 1 ou 5 A, sendo a corrente primária nominal estabelecida de acordo com a
ordem de grandeza da corrente do circuito em que o TC está ligado.

II.2.1- LIGAÇÃO DE UM TRANSFORMADOR DE CORRENTE


A bobina primária do TC é ligada em série com a carga conforme figura abaixo:
Disjuntor

IP = Icarga

24
25
NP
TC Núcleo
NS
Zcarga
EG
IS

Bobinas de corrente dos relés

A corrente de carga passa pela bobina primária do TC. Portanto, para que o TC não
produza queda de tensão e seu consumo de energia seja insignificante, sua bobina primária
deve ter:
- Fios grossos, para que sua resistência elétrica seja bem pequena;
- Poucas espiras, para que sua reatância seja a menor possível.
Observe que, como a bobina primária do TC está em série com a carga, sua corrente
varia de acordo com a solicitação da mesma. Por isso, o TC deve ser dimensionado para ter
bom desempenho para um grau bem variado no valor da corrente. Esta corrente varia desde
zero (circuito sem carga) até a corrente de demanda máxima do sistema elétrico em regime
permanente e em defeito até a corrente máxima de curto-circuito no local da instalação do
TC.
Os instrumentos ligados no secundário do TC estão todos em série, para garantir que a
corrente elétrica seja a mesma em todos os equipamentos.

II.2. POLARIDADE DO TC
Resumidamente, a polaridade é a direção relativa da tensão induzida nos terminais
primários do TC (de H1 para H2) quando comparada com a tensão induzida nos terminais
secundários (de X1 para X2).
- Polaridade subtrativa => é aquela em que a tensão induzida no primário e
secundário está na mesma direção, mostrado na figura:

Corrente no primário Corrente no secundário


do transformador do transformador
H1 X1

Tensão no primário do Tensão no secundário


transformador do transformador

25
H2 X2
26

- Polaridade aditiva => é aquela em que a tensão induzida no primário e secundário


está em direções opostas, mostrado na figura:

Corrente no primário
do transformador
H1 X1

Tensão no primário do Tensão no secundário


transformador do transformador

H2 X2
Corrente no secundário
do transformador

A marcação da polaridade dos TC’s, TP’s e transformadores de força, utilizados na


empresa, é subtrativa.

II.3. CARACTERIZAÇÃO DE UM TC
Segundo a ABNT, os valores nominais que caracterizam um TC são:
a) Relação e corrente nominal de um TC.
Dentro da precisão requerida, considera-se o TC um transformador operando dentro
das características ideais. Dessa forma, vale a relação similar à Lei de Ohm, aplicada
a circuitos eletromagnéticos. Isto é:
FP  FS  .

Onde:
FP => Força magnetomotriz da bobina primária do TC
FS => Força magnetomotriz da bobina secundária do TC
 => Relutância do circuito magnético do núcleo do TC
 => Fluxo magnético no núcleo do TC
N P I P  N S I S  .

Para o transformador ideal, a relutância magnética vale zero.


26
27

N PI P  NSIS  0

N P I P  NSIS

1
NP IS  I NS I
IS  IP ; NS P ; RTC  ; IS  P
NS NP RTC
NP

Como os equipamentos de proteção são padronizados para 5A, as relações de


transformação do TC são convencionalmente denotadas por X/5, como indica a figura
abaixo: RTC = X/5
IP = X A

IS = 5 A
Relé

Assim, pela NBR 6856 da ABNT, as correntes primárias do TC são de 5, 10, 15, 20, 25,
30, 40, 50, 60, 75, 100, 150, 200, 250, 300, 400, 500, 600, 800, 1000, 1200, 1500, 2000,
2500, 3000, 4000, 5000, 6000, 8000 A.
Os valores sublinhados são os usados segundo a norma ANSI.
Exemplo: Considerando o TC da figura abaixo, determinar:
1- A relação de transformação do TC e a corrente nominal primária;
2- A corrente secundária que passa pelo relé.
IP = 120 A

20 esp.
TC
600 esp.

IS
Relé
b) Classe de tensão de isolamento nominal de um TC.
É definida pela tensão do circuito ao qual o TC vai ser ligado
(em geral, a tensão máxima de serviço). Os TCs usados em circuitos de
13,8 KV, por exemplo, têm classe 15 KV.

c) Frequência nominal.
São normais as frequências de 50 e/ou 60 Hz.

d) Fator de sobrecorrente do TC.

27
28

O fator de sobrecorrente (F S) do TC é definido pela relação da máxima corrente


simétrica de curto-circuito que pode passar pelo primário do TC e sua corrente primária
nominal, para que a precisão de sua classe de exatidão seja mantida.
I
Pmáximo de curto circuito
FS 
I Pno min al do TC

As precisões dos TC’s para proteção são de 2,5%, 5% e 10%, sendo o mais comumente
utilizado de 10%.
Os valores do fator de sobrecorrente (F S) padronizados pelas normas ANSI e ABNT é
20 vezes a corrente nominal secundária.
800
Por exemplo, um TC com relação de transformação de e FS  20 só pode ser usado
5

em um sistema elétrico, se a máxima corrente de curto-circuito no local de instalação do TC


não ultrapassar o valor de:
I Pmáximo curtocircuito  20.800  16KA

Isto significa que para corrente de curto circuito menor ou igual a 16 KA o erro que o TC
envia ao seu secundário é menor ou igual a 10%.
Considere a figura a seguir que mostra a correspondência entre as correntes primárias e
secundárias do TC:
IS (A)

20IS(NOMINAL)
 10%

IP
IS 
RTC

Devido à saturação
do núcleo do TC
IP
IS   I'0
RTC IP (A)

Construtivamente, o F S produz uma


20Ilimitação no TC quanto ao seu erro produzido pela
P(NOMINAL)

não linearidade da curva de magnetização do núcleo. Essa limitação é dada pela expressão:
I curto  circuito  FS .I P no min al do TC

A limitação na figura anterior é a garantia do TC de não ultrapassar o seu erro de sua


classe de exatidão.
Os erros do TC são expressos por classe de exatidão definida de várias maneiras de
acordo com a norma empregada.

28
29

Como o primário tem poucas espiras e as perdas no material ferromagnético são


pequenas, temos os seguintes três casos de operação do TC de interesse prático em relação a
proteção:
I- Operação normal.
Na operação normal, isto é, dentro de sua precisão, pode-se considerar I’0 igual a zero.
I
Logo, I S  P
RTC

II- Operação no joelho da curva de magnetização.


Na operação do TC no joelho da curva de magnetização, a corrente I’0 aumenta
consideravelmente. Desse modo a corrente enviada ao secundário do TC estará distorcida
com alto conteúdo de harmônicas. Como na proteção a prioridade é a rapidez, costuma-se
utilizar os TCs com classe de exatidão de até 10%. Esse é o conteúdo aceitável, mas a partir
daí as distorções são mais acentuadas provocando graves desvios no desempenho dos
equipamentos que compõem a proteção, comprometendo a qualidade desta. Os principais
problemas são a perda e a distorção da sensibilidade, seletividade e coordenação das
proteções, podendo, indevidamente provocar a atuação ou a não atuação destas.
III- Operação dentro da saturação do TC.
Quanto mais se avança no joelho da curva de magnetização do TC, menos corrente
será enviada aos relés e mais corrente será exigida para a magnetização do núcleo do TC.
Portanto, operando dentro da saturação do TC parte da corrente será enviada para a
magnetização (excitação) do núcleo. Assim, com o aumento do nível de saturação do núcleo

 I
I'0  P
do TC, Temos:  RTC
 I S  0

Considerando-se o TC operando completamente saturado, temos o seu circuito


mostrado na figura a seguir:
I1
H1 Z’1=K².Z1 Z2
X1
I’1= I1/K I’0 I2

Z’m Vt Zcarga

29
X2
H2
30

Na saturação a impedância Z’ m → 0 e, portanto, o núcleo do TC é representado por um


curto como mostrada na figura. Desse modo, a corrente no secundário do TC é praticamente
zero. Logo, verifica-se no circuito da figura, um curto-circuito na sua bobina de excitação,
de modo que não haverá nenhuma (ou pouca) corrente na saída do secundário do TC, de
forma que os relés não serão sensibilizados pela corrente de defeito, ou seja, a proteção não
atua. Isso mostra a relevância do bom dimensionamento dos TCs, para não prejudicar a
qualidade do desempenho da proteção.

Obs.: Se na ocorrência do curto-circuito houver razoável componente contínua, o valor da


corrente simétrica deve ficar menor que 20.I nominal do TC, para não prejudicar e garantir a sua
classe de exatidão.

e) Classe de exatidão.
A classe empregada depende da aplicação (medição, controle e proteção):

1- TCs de medição – Por norma (ABNT), têm as seguintes classes de exatidão: 0,3;
0,6 e 1,2%. A classe 0,3% é obrigatória em medição de energia para faturamento.
As outras são usadas nas medições de corrente, potência, ângulo, etc..

Em geral, a indicação da classe de exatidão precede o valor correspondente à carga


nominal padronizada, por exemplo: 0,6-C2,5. Isto é, índice de classe = 0,6%, para uma carga
padronizada de 2,5 VA.

2- TCs de proteção - É importante que os TCs retratem com fidelidade as correntes de


defeito, sofrendo, o mínimo possível, os efeitos da saturação.
Na Fig. a seguir, está representado o circuito Iequivalente de um TC, com todas as
1 – valor eficaz da corrente primária (A);
grandezas referidas ao secundário: K = N2/N1, relação de espiras secundárias para
I1
primárias;
H1 Z’1=K².Z1 Z2
X1 Z1 – impedância do enrolamento primário;
Z’1 – idem, referida ao primário;
I’1= I1/K I’0 I2
I’0 = I0/K, corrente de excitação, referida ao
secundário;
Z’m – impedância de magnetização, referida ao
Z’m E2 Vt Zcarga
secundário;
E2 – tensão de excitação secundária (volts);
Z2 – impedância do enrolamento secundário;
I2 – corrente secundária (ampères); 30
X2 Vt – tensão nos terminais do secundário (volts);
H2
Zc – impedância da carga (ohm).
31

As verdadeiras correntes do primário e secundário do TC são as apresentadas na figura


acima. A corrente que passa pela carga (equipamentos e relés conectados no secundário do
TC) é a corrente I2.
Portanto aplicando a 1ª lei de Kirchhoff no nó do circuito acima, temos:
I1 I
 I'0 I 2 ; I 2  1  I'0
K K
Deste modo I’0 é a corrente responsável pelo erro causado pelo TC, ou seja, erro de
relação e ângulo de fase. O TC para proteção deve fornecer ao seu secundário uma corrente
I2 com bastante fidelidade, principalmente durante o curto-circuito.
Os relés de sobrecorrente devem atuar adequadamente para correntes de curtos-
circuitos. Não há necessidade de obter exatidão absoluta na corrente secundária do TC que
entra no relé, mas apenas ter um valor aproximado de sua grandeza, principalmente durante
o curto-circuito de modo a atender a filosofia de proteção.
A filosofia da proteção é: Na ocorrência de um defeito no sistema elétrico, a proteção deve
comandar a abertura do disjuntor o mais rápido possível de modo a eliminar o curto-circuito
e deixar o menor número de consumidores sem energia. Portanto, na ocorrência de um curto-
circuito a prioridade é a rapidez e não a precisão do valor da corrente elétrica como a exigida
em medição.
A proteção atua para correntes de curto-circuito elevadas e estas podem levar à saturação do
núcleo magnético do TC.
A curva de magnetização (ou de excitação) do núcleo do TC é mostrada na figura a seguir:

Φ E2
Não linear
45º
Saturação

Ponto ANSI
Linear (Knee-point)

I’0

31
32

Observe que pelo modelo do TC do seu circuito equivalente a corrente I 2 aumenta, a


tensão E2 também aumenta e consequentemente aumenta o fluxo magnético dentro do
núcleo do TC, aumentando a corrente de magnetização I’ 0. Portanto a corrente que entra no
relé terá mais erro.
Na operação normal do sistema elétrico a corrente de carga é pequena, e o fluxo
magnético no núcleo do TC opera com valor pequeno, isto é, dentro da região linear da
curva de magnetização. Nesse caso, o erro do TC é pequeno, podendo dentro da precisão ser
compatível com os equipamentos de medição do sistema.
Durante o defeito, a corrente de curto-circuito é elevada, aumentando-se assim a tensão
E2 e o fluxo magnético. Quando o fluxo magnético entra no joelho da curva de magnetização
do TC, aumenta-se acentuadamente a corrente de magnetização I’ 0. Assim, o relé está sendo
alimentado por uma corrente errada e distorcida pelas harmônicas oriundas da não
linearidade do joelho da curva de magnetização.
Ainda, no defeito, isto é, durante o período onde a corrente de curto-circuito é alta, a
prioridade não é fazer medições, mas sim, fazer a proteção atuar adequadamente o mais
rápido possível dentro das limitações operativas e de coordenação. Portanto, nesse caso, o
importante é rapidez e não a precisão. Então para o caso específico da proteção, admite-se
para o curto-circuito, uma precisão de 2,5%, 5% ou 10% nas correntes secundárias do TC.
Logo, admite-se uma corrente máxima de curto-circuito, de modo que o fluxo
magnético fique a 2,5%, 5% ou 10% dentro da região não linear da curva de magnetização
do TC.
O ponto de precisão de 10% é obtido no ponto ANSI, ou seja, no ponto onde a reta a
45º em relação ao eixo da abscissa, tangencia a curva de magnetização do TC mostrada em
um gráfico log-log.

 Segundo a norma ANSI, define-se classe de exatidão do TC pela máxima tensão que
pode aparecer no secundário do TC no instante da máxima corrente de curto-circuito,
de acordo com o seu fator de sobrecorrente, ou seja, uma corrente no primário de
20IPNominal, para que o erro não ultrapasse 2,5%, 5% e 10%.
Seja a figura a seguir: X/5

IS =20.5=100 A IP = 20X
Vmax 32
Z
33

Nota-se na figura que quando o curto-circuito no primário for de 20.X, no secundário a


corrente é de 100 A. Portanto, no secundário do TC a corrente não pode ultrapassar 100 A,
sob pena de exceder o erro de sua classe de exatidão. Quando a corrente de curto-circuito for
de até 20.X, e a tensão secundária na carga do TC não exceder o seu valor máximo, significa
que o TC está dentro de sua classe de exatidão e o TC funciona como se fosse um TC ideal.
Pela ANSI as possíveis combinações das classes de exatidão dos TCs são dadas a
seguir:
Por exemplo, um TC – Classe 10H200 é um TC de alta reatância, tal
 10  que quando ocorrer um curto-circuito cuja corrente secundária é
 20 
  20x5=100 A, no máximo poderá ter no secundário 200 volts, para que
2,5  50 
   L   o erro devido a saturação do núcleo do TC não ultrapasse a 10%.
 5  100 
H
 10  200
    Obs.: Muitos fabricantes têm os TCs com as tensões de excitação no
400
  ponto ANSI entre os valores da coluna da direita, cuja especificação é
800 
feita para valores imediatamente abaixo. Isso representa uma folga na
classe de exatidão do TC com respeito ao dimensionamento,
objetivando uma margem de segurança ao projetista, incluindo a
componente contínua.
A carga no secundário do TC será a máxima que pode ser conectada de modo a não
ultrapassar a máxima tensão dada pela sua classe de exatidão.
Vmáximo  Z c arg a .I S

Sendo Z c arg a  Z sec undário do TC  Z fiação   Z relés .

1º Exemplo: Qual a máxima carga que se pode conectar no secundário do TC 10H400.

2º Exemplo: Em relação ao diagrama unifilar da figura dada para um TC 10H400, calcular:


a) A corrente no secundário do TC quando passa no primário uma corrente de 480 A.
b) A corrente no secundário para o curto-circuito no terminal do TC.
c) A máxima carga no secundário, para que o TC fique dentro de classe de exatidão.
600/5
IP = 480 A

IS IPmax = 8400 A
Vmax

Zcarga

33
34

 Segundo a norma ABNT define-se a classe de exatidão do TC, como sendo a máxima
potência aparente (VA) consumida pela carga conectada ao secundário do TC, para
uma corrente nominal de 5 A e que o máximo curto-circuito limitado pelo seu fator de
sobrecarga, o seu erro não ultrapasse o da sua classe de exatidão, mostrado na figura a
seguir.
X/5

IS =5 A
VS

Scarga

Pela ABNT as possíveis combinações das classes de exatidão dos TCs são dadas a
seguir:
 2,5 
 5  Por exemplo, um TC – Classe A10F20C50 é explicitada
 
12,5  como segue:
 
5 22,5 A → TC de alta reatância;
2,5  
 A   10  
 25  10 → Erro admissível da sua classe de exatidão (10%);
  5  F   C  
B
  10    15  45  F → Fator de sobrecorrente;
  20  
  50 20 → 20IN = 20x5 A = 100 A;
 
 90  C → Carga no secundário do TC em VA definido para a
 100  corrente nominal de 5 A;
 

 200 
 50 → 50 VA, carga do TC para uma corrente nominal de 5 A
do TC.
I2  V I
Portanto, S c arg a  Z c arg a S S S

3º-Exemplo: Especificar o TC – Classe A10F20C50 segundo a norma ANSI.

f) Fator Térmico de um Transformador de Corrente.


O Fator Térmico (F T) de TC é definido como sendo a relação entre a máxima corrente
primária admissível em regime permanente e a sua corrente nominal.
Os valores mais usuais são: 1,0; 1,2; 1,3; 1,5 e 2,0.
Um TC pode operar carregado plenamente e permanentemente até o limite térmico
sem prejudicar seu desempenho, vida útil e nível de isolação. O fator térmico é importante,
porque já contempla o crescimento da carga do alimentador e das possíveis folgas nas
eventuais situações de contingências e emergências no sistema elétrico.

34
35

4º Exemplo: Qual a máxima corrente de regime permanente que pode passar pelo
alimentador do diagrama unifilar dado a seguir.
600/5
Alimentador

FT = 1,5
A
Relé

g) Limite Térmico do Transformador de Corrente.


O Limite Térmico (LT) do TC é a máxima corrente de curto-circuito simétrica que o
transformador de corrente pode suportar durante 1 s, com o secundário em curto-circuito.
Veja a figura:
X/5

Icurto-circuito = Limite Térmico

Curto

Essa limitação é causada pela máxima temperatura dada pela sua classe de isolação.
Nesse ensaio, durante o curto-circuito os esforços eletromecânicos e de aquecimento não
deverão de nenhum modo comprometer a integridade do TC.
Se a proteção juntamente com o disjuntor demorar um tempo maior do 1 s para
eliminar o curto-circuito, a corrente limite para o TC fica determinada pela expressão:
2
I sc t AD  K

Onde:
Isc → corrente limite de curto-circuito que persiste durante o tempo tAD;
tAD → tempo de abertura do disjuntor;
K → constante que depende das características construtivas do TC.

5º Exemplo: Um TC tem seu limite térmico de 40 KA. Qual a corrente permissível que pode
passar pelo TC, sabendo que o disjuntor demora 2 s para eliminar o defeito.

h) Limite Dinâmico do Transformador de Corrente.


Limite Dinâmico (L D) é definido como o maior valor eficaz da corrente primária
assimétrica que o TC pode suportar por um determinado tempo (geralmente 0,1 s), com o

35
36

secundário em curto, sem se danificar mecanicamente, devidas as ações das forças


eletromagnéticas. Segundo a norma VDE vale 2,5 vezes o limite térmico (LT).
II.4. DIFERENÇA ENTRE TC DE MEDIÇÃO E PROTEÇÃO.
De forma geral, os TCs se classificam em dois tipos:
- TC para serviço de medição;
- TC para serviço de proteção.
Os TCs para serviço de medição devem manter o seu erro de sua classe de exatidão para
correntes de carga indicadas na expressão:
0,1I no min al do TC  I c arg a  I no min al do TC

Suas classes mais usuais são de 0,3; 0,6 e 1,2%.


Ou seja, os TCs de medição devem manter sua precisão para correntes de carga normal.
Já os TCs de proteção devem ser precisos até o seu erro aceitável para corrente de
curto-circuito de 20INominal. Portanto o núcleo magnético do TC de proteção deve ter seção
transversal grande, para não saturar durante o curto-circuito.
Os núcleos magnéticos dos TCs de medição são de seção menor que os de proteção,
para propositadamente saturarem durante os curtos-circuitos. Isto é favorável, porque a
saturação limita o valor da sobretensão aplicada nos equipamentos de medição. Logo, a
saturação é uma proteção, evitando a perfuração por sobretensão da isolação dos TCs de
medição. Geralmente os TCs de medição saturam para uma corrente de 4I Nominal. A figura
abaixo mostra a saturação das curvas de magnetização do núcleo do TC de medição e
proteção.
Saturação proteção
Φ E2

Saturação medição

Então, para o TC poder contemplar estas duas características, o braço do núcleo


20IN IP e o braço da bobina secundária de
magnético da bobina secundária
4IN de medição deve ser fino,
proteção deve ser grosso. Para Atender esse propósito, pode-se:
 Usar dois TCs, um para medição e outro para a proteção, ou,
 Usar um TC com três enrolamentos, com braço de medição fino e o braço do
enrolamento de proteção grosso.

36
37

II.5. IMPEDÂNCIA DA FIAÇÃO.


Podemos ter TCs instalados no pátio da subestação e os equipamentos de medição,
controle e relés estão na sala de controle (operação), como mostra a figura:
Barra TC
Alimentador
Terminal do TC
R
Fiação R
R

Sala de operação

Como a distância do TC aos equipamentos da sala de operação é grande, deve-se


considerar a carga adicional da fiação no carregamento do TC.
Logo, a impedância dos fios de cobre é dada por:
L
Zc arg a   cobre  
S cobre

Sendo:
L  compriment o total da fiação de cobre (m )
S cobre  seção da fiação de cobre (mm 2 )
1 mm 2
 cobre 
58,82 m

O carregamento total conectado ao secundário do TC, para obtenção da classe de exatidão é


dado pela expressão:
L
Z c arg a do TC  Z sec undário do TC   cobre   Z relés
S cobre

6º Exemplo: Um TC tem uma fiação de 10 mm², cujo comprimento até a sala de operação é
de 180 m. Qual a carga da fiação conectada no secundário do TC?

II.6. CARGAS TÍPICAS DE MEDIÇÃO.


As cargas dos dispositivos de medição e controle devem ser obtidas do fabricante. Algumas
cargas típicas dos aparelhos de medição são apresentadas na tabela a seguir e as potências
estão de acordo com a ABNT, isto é, quando passam 5 A no secundário do TC e nos
equipamentos de medição.

37
38

Tabela de cargas típicas dos dispositivos de medição da GE


Impedância Resistência
TIPO Z (ohms) R (ohms) VA W VAr cosϕ
AMPERÍMETROS
CD-3, CD-4 0,515 0,140 12,8 3,5 12,3 0,27
CD-27, CD-28
AB10, AB12, 0,116 0,055 2,9 1,4 2,5 0,48
AB13
AH-11 0,090 0,085 2,25 2,1 0,9 0,92
WATTÍMETROS
AB10, AB12, 0,102 0,023 2,5 0,6 2,5 0,22
AB13
AB-15, AB-16, 0,063 0,019 1,6 0,5 1,5 0,30
AB-18
P3 0,160 0,145 4,0 3,6 1,5 0,92
MEDIDORES DE WATT-HORA
I-30 0,106 0,052 2,6 1,30 2,30 0,50
V-65 0,008 0,005 0,2 0,12 0,12 0,69
IB-10 0,044 0,030 1,1 0,80 0,80 0,70
FASÍMETROS
AB10, AB12, 0,144 0,100 3,6 2,6 2,5 0,72
AB13
P-3 0,100 0,090 2,5 2,2 1,0 0,90

II.7. CARGAS DOS RELÉS.


Os relés são os principais elementos da proteção. Eles representam uma carga
considerável no carregamento do TC. Estão assim distribuídos:
 Relés de carga fixa: São relés em que o ajuste não é feito através de derivações da sua
bobina magnetizante. Sua impedância conectada no secundário do TC é fixa, isto é,
não varia com a mudança do ajuste da corrente de atuação do relé. Estes são os relés
eletromecânicos de êmbolo ou armadura atraída, na qual o ajuste pode ser feito do
seguinte modo:
- mudança no entreferro do seu circuito magnético;
- tracionamento na mola de braço móvel do relé.

38
39

Os relés digitais também apresentam carga fixa em relação ao secundário do TC, isto porque
os relés digitais são supridos por uma fonte de alimentação externa. Por esse motivo o relé
digital representa uma carga mínima em relação ao secundário do TC. A carga do relé digital
pode ser desconsiderada em relação à alta impedância do relé eletromecânico. A carga do
relé digital geralmente é ≤ 0,03Ω.
 Relés de carga variável: São os relés eletromecânicos em que o ajuste da corrente de
atuação é feito pela mudança do tap na sua bobina de magnetização. Como a
impedância do relé depende do tap escolhido e para facilitar a obtenção desse valor, o
fabricante informa sempre a maior impedância do relé correspondente ao menor tap.
Os valores da impedância do relé referidos ao menor tap são dados na tabela a seguir:
MODELO FAIXA DE TAPs IMPEDÂNCIA NO
DO RELÉ [A] MENOR TAP [Ω]
IAC51A101A 4 - 16 0,35
IAC51A2A 1,5 - 6 2,40
IAC51A3A 0,5 - 2 22,0
IAC51B101A 4 - 16 0,38
IAC51B2A 1,5 - 6 2,43
IAC51B3A 0,5 - 2 22,2
IAC51B22A 0,5 - 2 23,0
IAC52B3A 0,5 - 2 22,2
IAC52B101A 4 - 16 0,38
IAC53101A 4 - 16 0,12
IAC53B33A 1,5 - 6 4,62
IAC53B3A 0,5 - 2 4,19
IAC53B35A 0,5 - 2 16,8

MODELO FAIXA DE TAPs IMPEDÂNCIA NO


DO RELÉ [A] MENOR TAP [Ω]
IAC53B32A 0,1 – 0,4 107,5
IAC55B18A 0,5 - 2 54,2
IAC55B3A 0,5 - 2 54,4
IAC77A3A 0,5 - 2 1,60
IAC77A2A 1,5 - 6 0,20
C02 0,5 - 2 19,2
C02 2-6 1,26
C02 4 - 12 0,30
C05 0,5 - 2 15,68

39
40
C05 2-6 0,97
C08 0,5 - 2 9,52
C08 2-6 0,60
C08 4 - 12 0,15
C09 0,5 - 2 9,52
C09 2-6 0,60
C09 4 - 12 0,15
C011 0,5 - 2 2,88
C011 2-6 0,18
C011 4 - 12 0,05
ICM2 0,5 - 2 16,4
ICM2 4 - 16 0,25

O menor tap representa a maior impedância do relé. Em outro tap, a impedância


diminui, tendo o seu menor valor no tap máximo. Se for utilizado o menor tap do relé no
carregamento do TC, o mesmo estará bem dimensionado em relação a sua classe de
exatidão. Qualquer mudança de tap do relé corresponde a um alívio de carga no TC.
Para obter a impedância do relé, correspondente a outro tap, basta usar a equação de
equivalência da potência aparente, dada pela expressão:
   
Z Tap I Tap 2  Z Tap mínimo I Tap mínimo 2

Onde:
Z Tap mínimo  impedância do tap de menor corrente;
I Tap mínimo  corrente do menor tap;
Z Tap  impedância do novo tap;
I Tap  corrente do novo tap.

7º Exemplo: O relé IAC51 da GE tem uma impedância de 21,2Ω e a faixa de Taps


disponíveis é de: 0,5-0,6-0,7-0,8-1,0-1,2-1,5-2,0A.
a) Qual a impedância no Tap de 1A?
b) Qual a impedância no Tap de 2A?
8º Exemplo: Qual a impedância do maior Tap do relé IAC53101A?
Obs.: Todas as considerações relativas a carregamento de TC são referentes a relés
eletromecânicos. Atualmente as novas aquisições de relés pelas empresas são do tipo digital,
onde o carregamento passa a ser mínimo. Isto, porque os relés digitais necessitam de uma
fonte externa de alimentação, aliviando o carregamento do TC. Por esse motivo, com a
aplicação da tecnologia digital na proteção, os TCs podem ter núcleo magnético mais
40
41

reduzido e inclusive, como alguns fabricantes já informam que os TCs podem manter sua
classe de exatidão para correntes de curto-circuito mais elevadas do que 20IN.
9º Exemplo: Considere os diagramas unifilares das figuras abaixo.
Barra B
Barra A
X/5 10 MVA
Alimentador 69 KV
Z = 0,1 pu
Geração 10 MVA
Equivalente 69 KV
SE A R BASE
100 MVA 10 MVA

Icc3F = 8 KA
IccFT = 6 KA
Barra A Barra B
X/5
Alimentador

0,1Ω
Amperímetro Wh Wh
AH-11 V-65 IB-10

Relé
IAC51B101A

O TC deve alimentar simultaneamente, um Amperímetro AH-11, um medidor de Watt-


hora V-65, um medidor de Watt-hora IB-10 e um relé de sobrecorrente IAC51B101A,
conectado no Tap de 8 A e fator de sobrecorrente de 20. Desconsiderar a impedância da
fiação e considerar a impedância interna do secundário do TC.

a) Dimensionar o TC, quanto a sua relação de transformação.


b) Qual a impedância do relé IAC51B101A?
c) Qual a carga total conectada no secundário do TC especificado.
d) Especificar a classe de exatidão do TC pela ANSI.
e) Especificar a classe de exatidão do TC pela ABNT.

Nota: No Sistema de Potência, o dimensionamento do TC é feito pela maior relação de


transformação obtida pelo critério de carga e de curto-circuito. Geralmente, nas
proximidades das usinas de geração, o critério de curto-circuito sobrepõe o da carga. Sendo a
rede de energia elétrica o final do sistema elétrico, o dimensionamento do TC é
caracterizado pelo critério de carga. Já nas redes de distribuição próximas às usinas de
geração, os curtos-circuitos são elevados, e a ponderação pelos dois critérios deve ser
considerada.

II.8. TRANSFORMADOR DE CORRENTE – SECUNDÁRIO ABERTO.

41
42

Para verificar o comportamento do TC com o secundário aberto, faremos uma análise


da operação em regime permanente do TC eIcarga
do TP (Transformador de potencial), como
F1
mostra a figura: IP(TP)
IS(TP)
TC F2

EG TP Zcarga
V
IS(TC)
R

A equação que rege o comportamento do TC e do TP é idêntica, já vista anteriormente.


FP  FS  .

Onde:
FP => Força magnetomotriz da bobina primária do TC ou TP
FS => Força magnetomotriz da bobina secundária do TC ou TP
 => Relutância do material ferromagnético do núcleo do TC ou TP
 => Fluxo magnético dentro do núcleo do TC ou TP
N P I P  N S I S  .

A força magnetomotriz de ação ( FP  NPIP ) sofre reação da força magnetomotriz (


FS  N S I S ), cuja diferença, isto é, a resultante é contra balanceada pelo produto . .

O diagrama fasorial do TC ou TP expressa pela expressão N P I P  N S I S  . , é


mostrado na figura abaixo:

.

NSIS NPIP

O . do TC e TP é na verdade muito pequeno, apenas o necessário e suficiente para


contrabalançar a força magnetomotriz resultante dentro do núcleo magnético.
Portanto para o circuito magnético do TP, temos:
N P I P TP  N S I S TP  .

Abrindo o secundário do TP, a corrente secundária é zero. Logo:


N P I P TP  N S .0  . => N P I P TP  .

Então o termo . permanece praticamente com o mesmo valor indicado no diagrama
fasorial indicado acima. Ou seja, a corrente I P TP diminui rapidamente, adaptando-se ao novo

42
43

valor N P I P TP  . , conforme pode ser observado no diagrama fasorial do TP com


secundário aberto a seguir:

. NPIP decresce

Isto acontece porque o TP está conectado em paralelo com a carga. No TP com carga no
secundário ou com o seu secundário aberto, a sua tensão primária permanece fixa.
Abrindo o secundário do TC, temos que:
No TC é a carga do circuito que impõe a corrente de carga que passa pelo primário do
TC.
Com o TC funcionando normalmente com carga, ou com seu secundário em curto-
circuito, tem-se a equação geral:
N P I P TC  N S I S TC  .

Sabe-se que I P TP  I c arg a , e quando o secundário do TC abre, I S TC  0 , e a equação


acima fica:
N P I c arg a  N S .0  '.' => N P I c arg a  '.'

Note que nesse caso o termo N P I c arg a fica fixo (constante), porque a carga do circuito
não mudou. Assim o valor de '.' aumenta para ficar com o mesmo valor de N P I c arg a ,

conforme mostra o diagrama fasorial abaixo:


.

'.'  N P I c arg a

N P I c arg a (fixo)

Assim o fluxo magnético ( ' ) dentro do núcleo cresce, entrando na região de saturação
do TC, provocando distorção na sua onda de fluxo. A relutância  também muda, porque
depende da permeabilidade do material do núcleo, dado pela expressão abaixo:
Onde:
l
L => comprimento médio do núcleo do material ferromagnético do TC;
 A => área da secção transversal do núcleo do TC;
 .A
μ => permeabilidade do material ferromagnético do núcleo no ponto de
operação do TC.

O excessivo aumento do fluxo magnético no núcleo do TC causa os seguintes efeitos:


 Excessivas perdas por histerese e correntes parasitas no núcleo do TC, aquecendo-o
rapidamente e queimando o TC.
43
44

 Produção de elevadas tensões no terminal secundário do TC, perfurando sua isolação


e produzindo elevados riscos no sistema elétrico e na segurança humana.
 Ruídos (zumbidos) intensos devidos às vibrações mecânicas na estrutura interna do
TC.

II.3- TRANSFORMADORES DE POTENCIAL (TP’s)


II.3.1- INTRODUÇÃO.
O Transformador de Potencial é um equipamento destinado especialmente para
fornecer o sinal de tensão a instrumentos de medição, controle e proteção. Deve funcionar
adequadamente sem que seja necessário possuir tensão de isolamento de acordo com a rede
a qual está ligada.
Na sua forma mais simples, os transformadores de potencial possuem um enrolamento
primário de muitas espiras e um enrolamento secundário por meio do qual se obtém a tensão
desejada, normalmente padronizada em 115 V ou 115 / 3V (Norma Asa ou ABNT) e 110 V
ou 110 / 3V (Norma IEC). Dessa forma, os instrumentos de proteção e medição são
dimensionados em tamanho reduzidos com bobinas e demais componentes de baixa
isolação.
Os TPs são unidades monofásicas. Seus agrupamentos podem produzir as mais diversas
configurações.
A norma NBR 6855 estabelece que os TPs tenham polaridade nos enrolamentos
primários e secundários do mesmo tipo conforme figura abaixo:
A
B AT
C
a
b BT 115 V
c

TP

Uma configuração bastante utilizada é a ligação Y – Y de acordo com a figura acima.

44
45

A Alta Tensão (AT) será a tensão nominal da linha de transmissão ou de outro


alimentador no qual o TP está conectado, e a rede trifásica secundária do TP é geralmente
normalizada na tensão de 115 Volts.

Exemplo1: Suponha que o TP da figura acima esteja conectado a uma LT de 230 KV. Qual a
relação de transformação (RTP) do TP.
NP V
RTP   P no min al faseneutro
NS VS no min al faseneutro

230K
RTP  3  230K  2000
115 115
3

Isto significa que a cada 2000 V no primário corresponde a 1 V no secundário do TP.


Construtivamente o TP deverá manter a relação de espiras indicada na expressão abaixo:
N P 2000

NS 1

Ou seja, para cada conjunto de 2000 espiras no primário corresponde a 1 espira no


secundário.

II.3.2- CARCTERÍSTICAS DE UM TP.


Segundo a ABNT, os valores nominais que caracterizam os TPs, são:
a) Erro de relação de transformação;
b) Erro de ângulo de fase;
c) Classe de exatidão nominal
d) Tensão primária e relação de transformação nominal;
e) Classe de tensão de isolamento;
f) Frequência nominal;
g) Carga nominal;
h) Descargas parciais;
i) Potência térmica nominal.

II.3.2.1- Erro de relação de transformação.

45
46

Esse tipo de erro ocorre na medição de tensão com TP, onde a tensão primária não
corresponde exatamente ao produto da tensão lida no secundário pela relação de
transformação de potencial nominal. Este erro pode ser corrigido através do fator de
correção de relação FCR. O produto entre a relação de transformação de potencial nominal
RTP e o fator de correção de relação resulta na relação de transformação de potencial real
RTPR, ou seja:
RTPR
FCR R 
RTP
Percentualmente, o erro de relação pode ser calculado pela equação abaixo:
RTP .VS  VP
P  .100(%)
Vp

O erro de relação percentual também pode ser expresso pela equação a seguir:
 P  (100  FCR P ) (%)

FCRP => fator de correção de relação percentual dado pela expressão:


RTPR
FCR P  .100(%)
RTP
Os valores percentuais de FCRP podem ser encontrados nos gráficos abaixo, que
compreendem as classes de exatidão 0,3; 0,6 e 1,2.

46
47

Algumas observações devem ser feitas envolvendo as relações de transformação nominal e


real, ou seja:
- Se RTP > RTP R, e o fator de correção de relação percentual FCR P < 100%: o valor real
da tensão primária é menor que o produto (RTP)VS.
- Se RTP < RTP R, e o fator de correção de relação percentual FCR P > 100%: o valor real
da tensão primária é maior que o produto (RTP)VS.

47
48

Exemplo2: Uma medição efetuada por um voltímetro de precisão indicou que a tensão no
secundário do transformador de potencial é de 112,9 V. Calcular o valor real da tensão
primária, sabendo que o TP é de 13800 V e apresenta um fator de correção de relação igual a
100,5%.

13800V
A RTP nominal será: RTP   120
115 V

O valor da tensão primária não corrigida vale: VP  RTP .VS  120.112 ,9  13548 V
O erro percentual para um FCRP = 100,5% será:
 P  (100  FCR P ) (%)  100  100,5  0,5%

Então, o verdadeiro valor da tensão primária é:


13548.( 0,5) 
VPR  VP   VP . P   13548     13548  67,74  13615,74 V
 100

VPR = 13615 V

II.3.2.2- Erro de ângulo de fase.


É o ângulo γ que mede a defasagem entre a tensão vetorial primária e a tensão vetorial
secundária de um TP. Pode ser dado pela equação:
  26(FCTP  FCR P ) (' )

Sendo FCT P o fator de correção de transformação que considera tanto o erro de relação
de transformação como o erro do ângulo de fase, nos processos de medição de potência. A
relação entre o ângulo de fase γ e o fator de correção de relação é dada nos gráficos dos
paralelogramos de exatidão, mostrado acima, extraída da NBR 6855.
Os gráficos dos paralelogramos de exatidão são determinados a partir da equação de γ.
Assim, fixando-se os valores de FCTP para cada classe de exatidão considerada e variando-
se os valores de FCRP, tem-se para a classe 0,6:
FCTP1 = 100,6%
FCTP2 = 99,4%
γ = 26(99,4 – 100,6) = - 31,2’
γ = 26(100,6 – 99,4) =+ 31,2’

48
49

II.3.2.3- Classe de exatidão nominal.


A classe de exatidão exprime nominalmente o erro esperado do TP, levando em conta o
erro de relação de transformação e o erro de defasamento angular entre as tensões primária e
secundária. Este fator é medido pelo fator de correção de transformação.
Considera-se que um TP está dentro de sua classe de exatidão quando os pontos
determinados pelos fatores de correção de relação FCR e pelos ângulos de fase γ estiverem
dentro do paralelogramo de exatidão, correspondente à sua classe de exatidão.
As classes de exatidão para os TPs são: 0,1; 0,3; 0,6; 1,2 e 3%. A tabela abaixo mostra a
classe de exatidão dos TPs e suas aplicações:

Classe de
Aplicações
exatidão
0,1% Calibrações de equipamentos em laboratórios. TP padrão.
0,3% Medições de grandezas para fins de faturamento.

0,6% Medições de grandezas sem finalidade de faturamento, apenas para o


acompanhamento das condições operativas do sistema.
1,2% Relés de proteção.

3% Em TPs com ligação em Δ aberto para proteção residual de defeitos fase-terra.

Os TPs se classificam em 3 grupos de acordo com o grupo de ligação elétrica, que são:
 Grupo 1: TPs com ligação entre fases.
 Grupo 2: TPs com ligação entre fase e terra, em sistemas aterrados.
 Grupo 3: TPs com ligação entre fase e terra, em sistemas onde não se tem garantia do
aterramento.

II.3.2.4- Tensão primária e relação de transformação nominal.


A tabela abaixo mostra as tensões primárias nominais e relações nominais.
Grupo 1 Grupos 2 e 3
Para ligação fase para fase Para ligação de fase para neutro
Relação nominal
49
50
Tensão primária Relação Nominal Tensão secundária de Tensão secundária
nominal nominal 115 / 3V de 115 V
115 1:1 - - -
230 2:1 230/ 3 2:1 1,2:1
402,5 3,5:1 402,5/ 3 3,5:1 2:1
460 4:1 460/ 3 4:1 2,4:1
575 5:1 575/ 3 5:1 3:1
2300 20:1 2300/ 3 20:1 12:1
3475 30:1 3475/ 3 30:1 17,5:1
4025 35:1 4025/ 3 35:1 20:1
4600 40:1 4600/ 3 40:1 24:1
6900 60:1 6900/ 3 60:1 35:1
8050 70:1 8050/ 3 70:1 40:1
11500 100:1 11500/ 3 100:1 60:1
13800 120:1 13800/ 3 120:1 70:1
23000 200:1 23000/ 3 200:1 120:1
34500 300:1 34500/ 3 300:1 175:1
44000 400:1 44000/ 3 400:1 240:1
69000 600:1 69000/ 3 600:1 350:1
- - 88000/ 3 800:1 480:1
- - 115000/ 3 1000:1 600:1
- - 138000/ 3 1200:1 700:1
- - 161000/ 3 1400:1 800:1
- - 196000/ 3 1700:1 985:1
- - 230000/ 3 2000:1 1200:1

II.3.2.5- Classe de tensão de isolamento do TP.


Os transformadores de potencial devem suportar as tensões de ensaio previstas na NBR
6855 apresentadas na tabela a seguir:
Tensão máxima Tensão suportável nominal à Tensão suportável nominal de
do equipamento freqüência industrial durante impulso atmosférico (KV
(KV) 1 minuto (KV) crista)
KVef KVef KVcr

50
51
0,6 4 -
1,2 10 30
7,2 20 40
60
15 34 95
110
24,2 50 125
150
36,2 80 150
170
200
75,5 140 350
92,4 185 450
145 230 550
275 650
242 360 850
395 950

II.3.2.6- Frequência nominal do TP.


Os TPs são fabricados para 50 ou 60 Hz.

II.3.2.7- Carga nominal do TP.


A carga nominal do TP é definida como sendo a máxima potência aparente em VA que
se pode conectar no seu secundário, para que o TP não ultrapasse o erro de sua classe de
exatidão.
A soma das potências aparentes em VA solicitadas pelos diversos instrumentos ligados
em paralelo ao secundário do TP, não deve a carga nominal de placa do TP, sob pena de
exceder o erro admissível de sua classe de exatidão.
Os instrumentos alimentados pelo TP são de altíssima impedância e baixa corrente.
Portanto, é baixo o consumo em VA.

Tabela de Cargas Nominais do TP

ABNT ANSI Carga Nominal em VA do TP


P 12,5 W 12,5
P 25 X 25
P 35 M 35
P 75 Y 75

51
52
P 200 Z 200
P 400 ZZ 400
- ZZZ 800

Tabela das bobinas de aparelhos de medição e proteção


Aparelhos Potência Ativa (W) Potência Reativa (VAr) Potência Total (VA)
Medidor de kWh 2,0 7,9 8,1
Medidor de kVArh 3,0 7,7 8,2
Wattímetro 4,0 0,9 4,1
Motor do conjunto de demanda 2,2 2,4 3,2
Autotransformador de defasamento 3,0 13,0 13,3
Voltímetro 7,0 0,9 7,0
Frequencímetro 5,0 3,0 5,8
Fasímetro 5,0 3,0 5,8
Sincronoscópio 6,0 3,0 6,7
Cossfímetro 12,0
Registrador de freqüência 12,0
Emissores de pulso 10,0
Relógios comutadores 7,0
Totalizadores 2,0
Emissores de valores medidos 2,0

II.3.2.8- Descargas Parciais do TP.


Os transformadores de potencial fabricados em epóxi estão sujeitos, durante o
encapsulamento dos enrolamentos, à formação de bolhas no interior da massa isolante. Além
disso, com menor possibilidade, pode-se ter misturado ao epóxi, alguma impureza
indesejável.
A presença de uma impureza qualquer resulta no surgimento de descargas parciais no
interior do vazio ou entre as paredes que envolvem a referida impureza. Disso decorre a
formação de ozona e a destruição gradual da isolação.
As normas prescrevem os valores limites e o método para a medição das descargas
parciais, tanto para transformadores imersos em óleo isolante como para aqueles
encapsulados em epóxi.

II.3.2.9- Potência térmica nominal.


É a potência que o TP pode suprir continuamente, sem que sejam excedidos os limites
nominais de temperatura. Para os TPs pertencentes aos grupos de ligação 1 e 2, a potência
52
53

térmica nominal não deve ser inferior a 1,33 vezes a carga nominal mais elevada,
relativamente à classe de exatidão.
O valor da potência térmica de um TP pode ser determinado a partir da equação abaixo:
VS2
Pth  1,21.K . ( VA )
Z cn

Onde, VS – tensão secundária nominal;


Zcn – impedância correspondente à carga nominal em ohms;
K = 1,33 para TPs dos grupos 1 e 2;
K = 3,6 para TPs do grupo 3.

Nota: A impedância Zcn pode ser obtida pela equação:


( VS ) 2 VS – tensão secundária nominal do TP
Z cn  ;
S S – potência aparente em (VA)

III- RELÉS DE PROTEÇÃO


III.1- Introdução.
A proteção dos Sistemas Elétricos de Potência é feita por esquemas de proteção que,
por sua vez, são basicamente comandados por relés. Entende-se por relé de proteção de
sobrecorrente aquele que responde à corrente que flui no elemento do sistema que se quer
proteger quando o módulo dessa corrente supera o valor previamente ajustado.
A função primordial desses relés é identificar os defeitos, localizá-los da maneira mais
exata possível e alertar a quem opera o sistema, promovendo o disparo de alarmes,
sinalizações e também dependendo do caso, comandando a abertura dos disjuntores de modo
a isolar o defeito, mantendo o restante do sistema em operação normal, sem que os efeitos
desse defeito prejudiquem sua normalidade.
Todos os segmentos dos sistemas elétricos são normalmente protegidos por relés de
sobrecorrente, que é a proteção mínima a ser protegida. É grande a diversidade de relés que
desempenham essa função de proteção.
A proteção com relé de sobrecorrente é a mais econômica de todas as proteções
utilizadas nos sistemas de potência e é também a que mais frequentemente necessita de
reajuste quando são efetuadas alterações na configuração do sistema.

53
54

As proteções com relés de sobrecorrente são utilizadas em alimentadores de média


tensão, linhas de transmissão, geradores, motores, reatores e capacitores e, de forma geral,
nos esquemas de proteção onde são necessários tempos de operação inversamente
proporcionais às correntes que circulam no sistema.
Os principais relés de sobrecorrente empregados nos sistemas elétricos são:
 Relés de sobrecorrente não direcionais.
 Relés de sobrecorrente diferenciais.
 Relés de sobrecorrente não direcionais.
 Relés de sobrecorrente de distância.

Esses quatro tipos de relés podem ser construídos com três diferentes tecnologias:
- Relés de sobrecorrente de indução, cuja tecnologia é obsoleta e, portanto não são
mais fabricados.
- Relés de sobrecorrente estáticos, que também sua tecnologia é obsoleta e não são
mais fabricados.
- Relés digitais microprocessados, que são os relés atualmente mais utilizados em todos
os esquemas de proteção.

III.2- Tipos de relés de sobrecorrente não direcionais.


Simplesmente chamados de relés de sobrecorrente, esses relés podem ser construídos
de duas diferentes formas quanto ao tipo de acionamento do disjuntor, ou seja, relés
primários e relés secundários.
Os relés primários atuam mecanicamente sobre o disjuntor por meio de varetas
isolantes. Já os relés secundários acionam os disjuntores fechando um contato interno,
inserindo uma fonte externa, normalmente um banco de baterias sobre a bobina de abertura
do disjuntor.
Os relés primários, também conhecidos como relés de ação direta, atualmente não são
aceitos pela norma brasileira NBR 14039 para proteção geral de unidades consumidoras
supridas em média tensão. No entanto, é utilizado na proteção das demais partes ou
componentes do sistema de média tensão internos a unidade consumidora.

54
55

Existem aplicados em subestações de média tensão relés primários dos tipos


fluidodinâmicos, eletromagnéticos e estáticos ou eletrônicos. No caso dos relés
fluidodinâmicos e eletromagnéticos, o princípio de atuação refere-se à ação eletromagnética
de um campo formado por uma bobina de corrente. Diferem, porém quanto ao princípio de
retardo ou temporização.

Os relés de sobrecorrente de ação indireta, também conhecidos como relés


secundários, são fabricados em unidades monofásicas e alimentados por transformadores de
correntes ligados ao circuito que se quer proteger. São utilizados na proteção de subestações
industriais de médio e grande porte, na proteção de motores e geradores, banco de
capacitores e, principalmente, na proteção de subestações de sistemas de potência das
concessionárias de energia elétrica.
Atualmente, não se fabricam mais os relés de sobrecorrente do tipo indução, porém
ainda existem milhares desses relés aplicados em diferentes tipos de subestações de média e
alta tensão.
O esquema básico de proteção de sobrecorrente usando relés secundários do tipo
indução é representado nas figuras a seguir:
IP TC
Disjuntor
IP IS TC
52
IS TC
IP

IS

50/51 R R R

50/51N R
IP TC
Disjuntor
IP IS TC
52
IS TC
IP 3I0
R
IS
50/51GS

50/51 R R R

55
56

Os relés de indução são normalmente constituídos de três unidades operacionais, ou


seja:
- Unidade de sobrecorrente temporizada, formada por uma bobina que aciona um disco
de indução.
- Unidade de sobrecorrente instantânea.
- Unidade de bandeirola e selagem.
III.3- Curvas de operação.
Os relés de indução, como elementos de proteção, são dotados de características
definidas a fim de se ajustar às várias condições impostas pelo sistema de proteção. Uma
dessas características mais importantes são as curvas de temporização.
A partir da declividade e do tempo de operação em função da grandeza da corrente de
atuação, pode-se especificar o relé adequadamente para o esquema de proteção desejado.
São várias as curvas tempo X corrente dos relés de indução, e dada em papel.
No relé digital, não há necessidade de ter as curvas de tempo no papel, por que o relé
opera associando a curva a uma função que reproduz a curva normalizada. Esta função que
representa as curvas de tempo X múltiplos dos relés eletromecânicos, estabelecidas pela
IEC, I2t e pela C37.112-1996 IEEE Standard Inverse-Time Characteristic Equations for
Overcurrent Relays é dada pela expressão a seguir:
Onde:
 K 
t opr  Tcurva    L Tcurva  Múltiplo de tempo das curvas de tempo do relé
M  
eletromecânico, por exemplo, curva 100% = Tcurva = 1 ou curva de
tempo 30% = Tcurva = 0,3;
topr → tempo de operação do relé em segundos (tempo de trip);
I
M  Múltiplo do relé, sendo M ≥ 1;
I ajuste
I → corrente real que entra no relé;
I ajuste  Corrente de ajuste do relé;
K, α, β e L → coeficientes fornecidos na tabela abaixo:

Norma Tipo de curva K α β L


Curva inversa 0,14 0,02 1 0
Moderadamente 0,05 0,04 1 0
inversa
56
57
Muito inversa 13,5 1 1 0
IEC Extremamente
inversa 80 2 1 0

Moderadamente
0,515 0,02 1 1,14
inversa
IEEE Muito inversa 196,1 2 1 4,91
Extremamente
282 2 1 1,217
inversa
I²t Curva I² t 100 2 0 0
Todas Tempo definido

As inclinações das curvas de tempo do relé pela IEC, também, são conhecidas por:

Inversa Classe A
IEC Muito inversa Classe B
Os tempos Extremamente inversa Classe C obtidos nas curvas
de tempo dos relés de proteção apresentam erros, que para os relés eletrônicos e digitais
podem ser de até 5% e nos eletromecânicos em até 7,5%. Esses erros já são considerados no
tempo de folga do tempo de coordenação.

Exemplo 1: Determinar os ajustes dos relés de sobrecorrente que atuam nos disjuntores 52.1
e 52.2, instalados conforme o diagrama da figura dada. O transformador não dispõe de
ventilação forçada. Utilizar o relé de indução de sobrecorrente da GE cuja corrente nominal
é de 5 A. A faixa de ajuste da unidade
69 kV -de
3Ф –sobrecorrente
60 Hz temporizada de fase é de 1,0 – 12,0
A, com tapes disponíveis em ampères CSde 1,0 – 1,2 – 1,5 – 2,0 – 2,5 – 3,0 – 3,5 – 4,0 – 5,0 –
6,0 – 7,0 – 8,0 – 9,0 – 10,0 – 12,0. A faixa de ajuste da unidade de sobrecorrente
52.1
temporizada de neutro é de 0,5 – 2,5 A, com tapes disponíveis em ampères de 0,5 – 0,6 – 0,7
CS
– 0,8 – 1,0 – 1,2 – 1,5 – 2,0 – 2,5 A. A faixa de atuação da unidade instantânea de fase vai
50/51 50/51
de (20 – 160 A)RTC, e a de neutro de (3,0TCs– 8,0)RTC. AN corrente de curto-circuito trifásica
no lado de 69 kV vale 7500 A com um ângulo de – 83º, e a de fase e terra tem o valor
10 MVA
Δ
máximo de 400 A. 69/13, 8 kV
Z = 7,5%

50/51 50/51
N
TCs

CS

52.2
57
CS
13,8 kV - 3Ф – 60 Hz
58

58
59

Curva IEC Tempo Normal Inverso

59
60

Curva IEC Tempo Muito Inverso

60
61

Curva IEC Tempo Extremamente Inverso

61
62

III.4- Relé Direcional de Sobrecorrente.


III.4.1- Introdução.
Num sistema de energia elétrica em anel, a proteção com relés de sobrecorrente é
impraticável, devido a não coordenação entre eles. No entanto, a proteção do sistema em
anel é possível se relé de sobrecorrente receber um auxilio do relé direcional.
Como o nome indica, tem sensibilidade direcional em relação ao sentido do fluxo de
energia que trafega pelo sistema.
O relé direcional, que monitora o relé de, confere característica radial ao sistema em
anel. Ou seja, o sistema em anel se comporta como dois sistemas radiais em sentidos
opostos.

III.4.2- Relé de sobrecorrente direcional.


Relé de sobrecorrente direcional (67) é um dispositivo que opera quando a corrente é
maior que o seu ajuste e tem sentido pré-estabelecido de acordo com sua referência de
polarização.
Esse relé para atuar necessita de duas grandezas de operação. Essas grandezas
geralmente são:
 Uma grandeza de polarização que pode ser tensão ou corrente. A tensão é mais usada.
 Uma grandeza de operação, sendo esta característica geralmente pela corrente elétrica.

A direcionalidade é dada pela comparação fasorial das posições relativas da corrente de


operação e tensão de polarização. Esta defasagem é que produz o sentido da direção do fluxo
de energia da corrente de operação ou do curto-circuito.

III.4.3- Princípio de funcionamento do Relé de sobrecorrente direcional.


O diagrama unifilar da figura representa simbolicamente o relé de sobrecorrente
direcional: TC
Circuito
Fase A protegido
IA
Ia Bobina de corrente

TP

67 Bobina de tensão
Ipolarização

62
63

O relé direcional tem dois conjuntos de bobinas em quadratura, alimentados pela


corrente elétrica e pela tensão de polarização. A corrente de operação da fase A, via
secundário do TC, entra na marca de polaridade da bobina de corrente do respectivo relé, e a
tensão de polarização, via secundário do TP, é referenciada na marca de polaridade da
bobina de tensão do relé.
Segue abaixo, o diagrama fasorial das grandezas envolvidas no relé direcional,
considerando uma falha (curto-circuito) na fase A:
Van Normal

φ IA

ФIa
r
Ia

Vpolarização = Vbc
α
Ipolarização

Фpolarização

O diagrama acima representa o relé diferencial da fase “A” do sistema elétrico em


análise, no qual identificamos:
Ia → é a corrente secundária da fase “A”, durante o curto-circuito.
ФIa → é o fluxo magnético criado pela corrente I a na bobina de corrente do relé direcional.
Este fluxo está em fase com a corrente Ia.
Van → Tensão secundária da fase “A” em relação ao neutro do sistema.
Vpolarização → Tensão de polarização que nesse caso é a tensão Vbc.
Ipolarização → Corrente elétrica que passa pela bobina de potencial. Esta corrente é decorrente
da tensão de polarização aplicada na bobina de tensão do relé direcional.
Фpolarização → Fluxo magnético na bobina de tensão decorrente da corrente de polarização.
Este fluxo está em fase com a corrente de polarização.
α → Ângulo entre os fluxos, ФIa e Фpolarização.
Θ → Ângulo entre Ia e tensão de polarização.

63
64

r → É o ângulo de máximo torque motor do relé. Este ângulo é uma característica do relé de
acordo com sua fabricação.
φ → É o ângulo da carga.
IA → É a corrente de carga na fase “A”.

Durante o curto-circuito, por ser alinha de transmissão fortemente indutiva, a corrente I a


fica bastante defasada da tensão Van. A defasagem entre a corrente Ia e a tensão Van é o
ângulo 90º - θ.
O torque motor do relé direcional é obtido pela conjugação dos fluxos magnéticos da
figura anterior e é dado pela expressão:
 motor do relé  KI a polarizaçãosen

Sendo α = 90º - r + θ = 90º - (r – θ), vem:

 motor do relé  K 1 I a Vbc sen[90º (r   )]

 motor do relé  K Ia  polarização cos(r  )

Se considerarmos o efeito restaurador da mola, o torque efetivo resultante que atua no


relé será:
   motor do relé   restaurador
  K 1I a Vbc cos(r   )   restaurador

No limiar de operação do relé, tem-se τ = 0, logo:


0  K 1I a Vbc cos(r  )   restaurador

Durante o curto-circuito, a tensão de polarização fica praticamente constante, isto é,


Vbc=constante, portanto;
 restaurador
I a cos(r  )  , onde o segundo termo é cons tan te, vem :
K 1 Vbc
I a cos(r  )  K 2

A equação acima é válida no limiar de operação do relé direcional. Utilizando como


referência a tensão de polarização Vbc, a corrente secundária na fase “a” fica sendo:
I a  I a 

64
65

Nota-se que só há duas variáveis “I a“ e “θ”. Fazendo o diagrama fasorial dos lugares
geométricos da corrente Ia, tal que se mantenha sempre no limiar de operação do relé, temos
a figura a seguir:
Opera Normal

Bloqueio

Ia r

Vpolarização = Vbc
Iajuste 67

Limiar de operação, τ = 0

65

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