Você está na página 1de 9
(A VIDA ENTRE PARENTES Es) — 0 CASO GLEINICO COMO FICGAO Edson Luiz André de Sousa’ “Amar uma imagem 6 encontrar sem saber uma metafora nova para um amor antigo” Gaston Bachelard Resumo / O artigo aborda o caso clinico em psicandlise, O caso éentendido como uma construcdo, que revela nio s6 0 sujeito que fala do seu sofrimento, como tam- bém o analista que escuta, as sinuosidades do campo conceitual onde transita. 0 caso clinica nao deve ser confundido com a histéria do paciente, j4 que € uma ficgdo que s6 pode ser compreendida como produzida entre analista e analisante. (Lire neecng amir) — Ti enna. cA as ro Patavras-chave: metapsicologia, psicandlise ecasos clintcos. Key words: metasychology. psychoanalysisand Abstract / The subject of this paper is the clinical case, The case is understood asa clinical eases. construction that reveals not only the subject who speaks of his suffering, but also the analyst that listens to him, and the sinuosities of the conceptual field where he moves. The clinical case should not be confused with the patient history once it is a piece of fiction, which should be considered as emerging between analist and patient. Jean Genet apreciava muito o trabalho de Alberto Giacometti. Ele pa- recia surpreso ao encontrar, a cada visita ao atelier do artista, outras for- mas possfveis para 0 corpo, Encontrava, nas esculturas de Giacometti, uma profunda reflexao sobre a morte ea solidao estrutural do homem. As formas verticais que se langavam num encontro sonhado com Deus vi- nham dar um contorno preciso a impossibilidade deste encontro, Esta sedugdo que o trabalho lhe provocava, 0 fez retornar intimeras vezes ao ‘Uma primeira versto deste texto fol aprescntada na Jornada de Abertura “A clinica psicanalitica’ da APPOA (Associacan Psicanal tica de Porto Alegre) em abril de 2000. wologia * psicanalista, Professor do PPG Psicologia Social e do Departamento de Psicandlise « Psicopalsioe’t do Instituto de Psicologia UFRGS, Professor do PPG Artes Visuals do Instituto de Artes {a membro da Assaciagio Psicanalltica de Porto Alegre (APPOA) e membro da Association Freudienne Internationale (Paris) | Edson Luiz André de Sousa sn \ construgao do caso pe atelier do escultor e, entre siléncios e palavras trocadas, acabou redigin- do um pequeno texto, “0 Estiidio de Alberto Giacometti”. Logo no infcio deste ensaio, ele nos surpreende com seu conceito de belo, pois & catego- rico ao dizer que “na origem da beleza esta unicamente a ferida singular, diferente para cada qual, escondida ou vistvel, que todos os homens guar- dam dentro de si, preservada, e ande se refugiam ao pretenderem trocar © mundo por uma solugao cpbreia, mas profunda” (Genet, 1999). As palavras de Genet sao efeitos desta ferida que ele identifica na obra, Seu texto tenta reequilibrar seu desamparo diante da obra, como se 0 tecida de suas palavras cavasse um lugar possivel naquilo de que o encontro com Giacometti o priva. E neste sentido que Genet construiu um Giaco- metti que, certamente, nao é 0 homem (como Freud quis mostrar em 0 homem Moisés), mas um sujeito revelado pela obra. E neste encontra, re- gido pela clssica transferéncia, que o texto de Genet revela a verdade de um Giacometti constru(do pela ficcao de Genet. Esta lembranca elemen- tar terd toda conseqiiéncia quando, um pouco mais tarde, mergulharmos na problematica docaso em psicanilise. Ora, insiste Genet, ohomem se refugia na ferida. Esta ferida, no meu entender, vem indicar 0 quanto nos- sa existéncia é marcada pela descontinuidade entre pensamento e ato, entre enunciado e enunciagao, entre o que fala no Outro e o que se enun- cia no sujeito. Esta ferida Freud nomeou como o Inconsciente. f A obra surge, quem sabe, na esperanca de tentar restaurar 0 sujeito do desequilfbrio que 0 discurso do Outro produz. Contudo, se ela tem suces- so € faz jus a alguma dimensao de beleza, reafirma a condigao radical de um vazio. Como lembra René Passeron (2000), a obra surge como um en- ‘fermeiro do vazio, mas esse vazio jamais cicatriza, Nao é por esta razio que 0 que é da ordem da beleza sempre est muito perto daquilo que nos ameaga profundamente? “Pois que € 0 Belo senao 0 grau do Terrivel que ainda suportamos e que admiramos porque, impassivel, desdenha des- truir-nos?” (Rilke,1984) Retomemos entao a questdo da qual partimos. O que é um caso clfni- ; co? Pode a psicandlise produzir casos? Como pensar esta passagem de uma hist6ria clinica para um caso clinico? Que relagao existe entre a construcao do casoe a producao tedrica? A estrutura de um relato de caso ndo seria antinémica com a construcao da meméria da situagao analiti- ca? (Fedida, 1992) Todas estas indagaces nos conduzem t mite o encontro com varias idéias: imediatamente a pensar que a 1. Aidéia de transmissao, de testemunho e de meméria er como anteparo da verdade. Nao podemos 2. Afungao classica do sabi ambém se dé, como a escuta, na via de uma esquecer que esta producao ti resisténcia. 7 3, Reencontramos aqui uma légica de lugares que Freud instituiu des- de a fundagao da psicandlise ao falar da transferéncia, de que o ponto de vista determina também a pulsagao do objeto. ‘4, Pierre Fedida insiste no quanto o caso é uma teoriaem gérmen, uma capacidade de transformagdo_metapsicol6gica. Trata-se, portanto, de uma construgao. Enquanto tal, este caso nao pode proceder de um relato. Nao existe histéria de caso. Nasso desafio tedrico é de poder pensar esta passagem que meta- foricamente poderia descrever como: Genet dando forma, no texto, a CL srtnhedinccatces® escultura que Giacometti Ihe subtrai. Quem ¢ 0 autor? Quem é a obra? De quem é, enfim, 0 sintoma? O discurso psicanalitico sempre recu- as simplificagdes sou as simplificacées explicativas que fizessemn evaporar o mal-estar de se saber determinado pelo discurso do Outro. Indaga esta busca eerie « incessante de reencontrar-se naquilo que se produz, exatamenteé como descreve Pirandello de um personagem que sai em busca de _jmal-estardese saber Seu autor. Perceber que o efeito que provocamos no outro (transferén- —sererminado pelo nosso lugar e de nossa responsabilidade nao deixa de ser nquistas de um percurso de andlise. Esta evidéncia esta longe de ser senso comum. Como, hé algum tempo, tenho tido o prazer de descobrir a potenciali- dade de enunciacao teérica a partir de um simples fragmento de infancia, percurso este inspirado em Walter Benjamin, mas, sobretudo, na riqueza das interlocugdes com minhas colegas Ana Maria da Costa e Liicia Serra- no Pereira, vou trazer aqui, neste texto, um flash de um fragmento que acreditei ter vivido e que reconstruo num esforco demonstrativo da pro- blematica que estou querendo introduzir para discussao. Estava na primeira semana de aula, 34 ou 4? série, ainda num esforco — de reequilforio e reencontro com colegas € novos professores, quando correu um boato, pelos corredores, de que havia um médico no colégio que iria examinar todos os meninos. Até af nenhuma inquietacao. Quan- do percebi que estava sendo conduzido para uma longa fila, e que o zumzum dos que safam indicavam que o olhar do médico nao era para qualquer parte do corpo, senti uma profunda inquieta¢ao, Suportava em siléncio a violéncia deste olhar anunciado, e ainda nao sei se consegui disfargar minha inquietude. Pior que o olhar do médico teria sido revelar ameus colegas este mal-estar. Embora todos estivessem quase na mesma tico sempre recusou {fizessem evapararo discterso do Outro, Edson Luiz André de Sot = posicao de apreensao, evidentemente ninguém dava o brago a torcer, afirmando, assim, fora e poténcia pela discrigdo. Cada um entrava na sala sozinho. Safam triunfantes, acolhidos pelo olhar de expectativa dos que ainda aguardavam. Claro, chegou também minha vez. Voltei para casa com o mal-estar de ter de encontrar um lugar para o que senti (mew embara¢o) e um lugar para o que deveria ter sentido. Uma semana depois, estava na casa de um primo e contei a ele sobre um colega (que nada mais era do que um certo eu de mim mesmo) e do constrangimento e apreensao deste na espera na fila para ser examinado. Evidentemente, inventei e criei uma série de detalhes da reagdo deste co- lega do qual rfamos, eu e meu primo, exageradamente. Este riso me posicionou, novamente, com este Outro ea vida parecia assim reencontrar ‘sua justa medida. Este riso me possibilitou umm outro olhar sobre a cena. Abria-se ali um entre parénteses, numa demonstracao simples de nos sabermos implicados e revelados nas imagens que construimos, e do quanto estas construcdes vém a revelar o “em falta” em nossa relagio com o Ouro. Este parece ser o espaco possfvel da existéncia de cada um, na medida em que assumimos o yisco de ocupar um lugar no discurso do Outro. A construgao do caso parece ter uma relacao estreita com este infantil, neste esfor¢o herdico de construcdo de uma teoria que dé conta do se- xual. Voltamos ent&o, novamente, a nosso ponto de partida. O que éum _caso clinico? retry ‘ A patencialidade do “caso” se revela no momento em que podemos deduzir de suas construcées 0 que Pierre Fedida nomeia como uma “teo- | ria em gérmen” (Fedida, 1992). A esterilidade de uma estratégia de casos se evidencia no momento em que estes vém, tinica e exclusivamente, ; para adornar e ilustrar a suposta proposi¢ao tedrica que os organiza. Le- | gitimar assim diante do Outro (que Outro?) a pertinéncia de uma escolha ‘do pensamento. Por isto, ndo perceber a dimensio de resisténcia com que muitos se protege com os “casos” que sao propostos, é perder 0 es- sencial da escuta psicanalitica. O caso, nos mostra Pierre Fedida, atesta o exato lugar em que a fala do analisante faz resisténcia na histéria ficcio- nal do analista. Este é o nosso ponto de partida. 2 Esta imagem do “entre parénieses” encontra um didlogo muito estreito com uma série de trabalhos do artista pldstico Helio Fervenza que utiliza esta imagem dos.partnteses em algumas de suas obras ‘mais recentes tentando dar conta de uma idéia de conjunto vazio. Ver, por exemplo, seu trabalho apre- seniado recentemente na exposigto “Investigagdes” — Rumos Vi sesaado recente S na iumos Visuals 2, Itai Cultural, Sdo Paulo de ° Entao, “a matéria primeira de um easo nao é um conhecimento mas {que resiste:ao saber. técnica e A teoria” (Fernandez, 1998). Derivaria dat uma preocupagao sobre a questio da meméria. Que memoria traz um caso? De uma escuta e uma fala que se encontram num panto cego, em que o tinico caminho possfvel é poder pensar a condigao resistencial jm- posta pela transferéncia, Assim, a naga de construgao do caso parece ser esbogado no espirito da reflexao benjaminiana de que: “As verdadejras Jembrangas devem proceder muito menos de forma informativa, do que findicar o lugar exato onde o investigador se apoderou delas. A rigor, rap- s6dica e epicamente, uma verdadeira lembranca deve, portanto, a9 mes- mo tempo, fornecer uma imagem daquele que se lembra (0 analista, no contexto de nossa formulacdio), assim como um bom relat6rio arqueolé- gico deve nao apenas indicar as camadas das quais se originam os acha- dos, mas também, antes de tudo, aquelas outras que foram atravessadas anteriormente” (Benjamin, 1995). Ora, nesta diregao de incluir no abjeto © percurso histérico do investigador (seu transito transferencial), vemos. que o “caso” funcionaria, em ultima instancia, como este abjeto que nos olha que interpela a teoria. Gostet muito da enunciagao de Catherine Cyssau, de que a andlise constrdi o infantil do paciente a caso se cons- tr6i com o infantil do analista (Fernandez, 1999). Mas, se continuarmos nesta ldgica de principios, seré que nao seria le- gitimo perguntarmos se a psicandlise pode produzir casos? Numa primeira tentativa de responder a esta questo, me veio a ima- gem do titulo deste texto: A vida entre parénteses. Ora, a vida entre pa- rénteses nao deixa de ser uma primeira resposta possivel & questio do que é um caso clfnico. Este “entre parénteses” indica os limites de nosso discurso, mostrando que toda forma guarda os tragos do recorte que the \ deu nascimento. Nosso esquecimento, contudo, apaga, com a esponja da clareza, o entorno que deu naseimento a forma, como se a histéria nao ti- vesse passado. 0 “caso” seria, entio, uma apreensdo circunstancial e mo- mentanea de uma construcao. O caso é uma construcao. Injetar natureza j em suas proposi¢des, como se nosso trabalho fosse de retirar das cinzasa pérola esquecida, nao sem um elogio por vezes timid, por vezes efusivo, quer da eficdcia do método, quer da riqueza da sensibilidade e intui¢ao, s6 serve para nos desviar do caminho mais promissor. Por outro lado, guardar o recorte do caso e poder pensé-lo, junto com os retalhos deixa- dos no chao, com a tesoura/método que o configurou com a mao hesi- tantee, éclaro, pensante, que escolheu os pontos de corte, é um desenho mais vivo do que est4 em questdo em nosso trabalho. --& caso, nesta perspectiva, revela nao s6 0 sujeito que fala do seu sofri- mento, como também o analista que escuta, as sinuosidades do campo conceitual onde transita. Por isto, a clinica psicanalitica sempre se recu- sou & simplificagao que recalca a histéria na produgao de qualquer dis- curso. Q que in indica 0 caso clinico? Os casos revelam, em maior ou menor gral, §eu.autor. Pode-se também pensé-los como um. esforco de trans- .miss4o. Mas de que estilo de transmissdo? Se pensarmos nos casos que Freud publicou, muito mais que atestara pertinéncia do tedrico, estes fo- ram construidos para problematizar e confrontar este teGrico. A resisténcia da teoria é que, na garantia de seu campo e na compro- vacao de seus pressupostos, recalca e afasta aameaca das formas que nao encontram lugar. Se seguirmos a proposicao de Roger Caillois (1986) de que o semelhante produz o semelhante, teremos a pista necessdria para interrogar a mimesis. Nao se trata, portanto, de denuncia-la como falsa, como se fosse poss{vel se vestir sem roupas, mas, justamente, do contr4- rio, ou seja, poder reconhecer a Idgica de sua operacao, pois esta revela, af sim, a "natureza” da operacdo psiquica. Nao foi isto que Freud nos le- gou quando mostrou esta dupla dimensdo do sintoma que é de esconder e de revelar? Tentou construir um campo tedrico, o da psicandlise, que nos possibilitasse alguma visibilidade nestas operagdes. A tentagao de poder prescindir desta teoria ou fazé-la 4 sua medida é tao problematica . | Pois, se ndo temos estes parénteses que nos orientam, é sempre com nos- Sa a lets sen nceailista @ acti wie constllmney o jlo, Nesta perspectiva, o caso seria como a cama de Procusto, onde o que sobra se corta e 0 que falta se estica até o limite da cama. Imposs{vel nao pensar aqui na intervencdo artfstica que Tula Agnostopoulos fez no Torredo.’ Mandou baixar 0 teto da sala na exata dimensao de sua altura. 0 mundo daquele espago de exposicao se conformava A medida de sua estatura, O narcisismo de 1 metro ¢ 53 cm organizando 0 espaco, O visitante, conse- qiientemente, tinha de se curvar & altura da artista. Acredito que, assim, Tula conseguia dar visibilidade a uma constru¢do que fazemos quotidia- namente sem necessariamente nos darmos conta. Nao seriao caso clfnico um “entre parénteses’, indicando um encontro | interrompido entre alguém que fala e outro que@scutano limite do fan- — tasma que o suporta e da teoria que o orienta? Certamente, 0 caso vem. 3 a s 3 = < 3 = § 3 3 3 a = + Intervengao artistica de Tula Agnostopoulos intitulada “Small Size" em junho de 1998, O Torteso é tum espago de investigacdo e produco em arte contemporanea em Porto Alegre coordenados pelos artistas plasticos jalton Moreira e Elida Tesster. iluminar estes determinantes, ¢ é nesta medida que sua construgao pode ser potencialmente rica para.o avanco da interrogacao clinica. A poten cialidade, contudo, de seus enunciados, s6 adquire sua justa medida se pensada no campo transferencial em que foi formulada. Entdo, por que nao pensar que o () 6a forma, por exceléncia, do apare- cimento do sintoma. Interrupgao da cadeia associativa. Seu desenho, ao abriro primeiro paréntese, poderiaindicar a contorno de onde principia o sintoma (ficgao da origem), e, o segundo paréntese, o limitedesuaexten- sAo. O ato analltico viria entao buscar a incluso de outra pontuacao pos- sfvel: uma virgula, uma reticéncia, uma interrogacao. Isto produziria uma suspensao do “entre parénteses”. Novos sentidos se fazem, a partir da, Possiveis, e este discurso se vé novamente inclufdo na série associativa. Vejamos a seguinte cena do filme de Raoul Ruiz “Genealogias de um Crime’. Uma muther insistia em que seu sobrinho, desde crianca, tinha um temperamento criminal. Relata em seus didrios todas as “evidéncias", que vao da insisténcia com que o menino repetia frases do tipo “isto me mata’, as experiéncias cruéis que fazia com animais. O sobrinho descobre um dia os escritos da tia e se poe a ler, dizendo que lia ali o seu destino, Acaba assassinando a tia. Uma advogada recebe a noticia da morte de seu filho num acidente e, no mesmo momento, um telefonema de um colega para que se ocupe da defesa de René, o joven assassino. Aceita 0 caso. Ao reconstituir a hist6- tia de René, a advogada percebe a crueldade desta tia e o quanto é a viti- ma que leva 0 jovern ao assassinato. Ao ouvir o rapaz, ela se lembra de uma revelacéo que sua mie lhe fizera um dia, de que, em menina, gosta- va de jogar gatos pela janela. Esta lembranga trazida pela mie lhe sur- preendera, pais nao tinha registro destas recordagdes, Sua mae frequenta um analista e, numa das sess6es, relata o seguinte sonho: “Bu vejo. E s6 uma galinha e a corto. Chega minha filha e pergunta o que fiz para o jantar. Ela diz: "Desculpe, mas estou atrasada.” Ela pega os pedagos de galinhae come cru. Ehorrivel... Olho para meu braco e vejo crescer pélos de gato. A galinha me persegue. Mi- nha filha também me persegue, gritando: “A galinha que persegue a raposa é 0 mundo as avessas.” Eu digo a ela: “Nao sou uma raposa, sou um gato.” Entdo, neste mo- mento ela me joga pela janela. . Podemos perceber, nesta breve sinopse, uma rede de projegdes transferéncias e a presenga viva dos fantasmas de cada um determinan- 1 os 35 Be coe : 3 Significante, como se estivesse em excesso, Sua condicao de efeito do discurso do Outro, do movimentos no outro. O sintoma de to entre parénteses, que so do Outro. O sintoma cada um seria como um fragmen- vein posicionar o sujeito como efeito do discur- Precisa ser lido para que possa revelar sua genea- logia. A posicéo mesma €m que aparece, como que encaixado na cadeia busca disfarear sua origem, Quanto a esta sujei¢ao, a ex- Periéncia psicanalitica, ao Tevelar 0 entorno a quem fala, permite que, Por movimentos de reviravoltas, 0 Sujeito possa se posicionar de outra forma diante daquilo que o determina. Todo 0 discurso é interrompido. A onstrucdo do caso viria, neste Ponto preciso, restituir linhas possiveis de Osintoma de cada um seria como um fragmento entre arénteses, que vem posictonaro sujelto como efeito do discurso do Outro. ni Pensamento sobre as possibilidades de costuras destas falas inacabadas, (Tessler e Lima, 2000), destas falas interrompidas. Na cena do filme, a mae revela a filha, no sem uma certa crueza, ue esta jogava gatos pela janela. © que sera quea filha jogava? No seu sonho, a substituicao de raposa por gato mostra um resto de resistén- cia do discurso materno a reconhecer uma parte de autoria e respon- sabilidade no sintoma da filha (jogar os gatos pela janela). No mo- mento cm que, no texto do sonho, reintegra a continuidade discursi- va do pensamento de origem “eu sou um Gato", posicdo sacrifical, re- ducao a puro objeto nas maos do outro, o pesadelo se configura e se conclui, despertando esta mae do sono; “A filha a joga pela janela.” Quantas passagens; da tia a advogada, do jovem assassino ao filho morto, da galinha a filha, da raposa ao gato, da filha mae... Quando sujeito pode se encontrar implicado naquilo que provoca no outro, re- conhecimento este que envolve enconirar-se frente a frente com seu desejo, temos certamente um outro lugar possivel de discurso. £ deste lugar que psicandlise pensa caso que, mais uma vez insisto, 140 devemos confundir com histéria do paciente. Nao é uma apresenta- G40 biogréfica. E uma ficcéo clinica, resultado de uma hipotese teérica, al es binar estes dois tipos de apresenta casos de Freud continuam aser lidos como romances, Para finalizar esta reflexao, algumas palavras de Freud (1975), O caso em psicandlise € um novo género literdrio, e € Por isto que os Lembremos entao, Por vezes quecidas: “Nao posso escrever a hist6ria de meu paciente nem do ponto de vista histori- co nem do ponto de vista Pragmatico, Nao posso fazer uma narrativa seguida nem daquela da docnea, mas sou obrigado acom- iGGes. Os registros literais ‘completos das esses de andlise nao seriam de nenhuma ajuda..." Palcologia Clfntew Vol, 12 nt Ao problematizar este lugar de construgdo do caso. procurei dar um pouco de visibilidade as posigoes “3 sujeito nestes entre lugares. Nao é pouca coisa poder também ver Genet no Giacometti narrado por Genet. Referancias bibliograficas BENJAMIN, W. (1995). Imagens do pensamento, in Obras excothidas Il. So Paulo, Ed. Brasiliense. CALLOIS. R, (1986). Mimetismo e psicastenia legendéria, Revista Che Vout, 1, 0. Cooperative Cultural |. Lacan, P Alegre. FEDIDA, P1992). Nome, figura e memdria—a linguagem na situaedo psicanalttica. Sto Paulo: Editora Escuta. FERNANDEZ, D. R. (1999), Language du cas: Modeles et modalités, in P Fedida (ed.) Le cas en controverse, Paris: PUF FREUD. 5. (1905/1975). Cing Psychanalyses — Articles. Paris: PUF. GENET, |. (1999). 0 Estuldio de Alberto Glacomeitl. Lisboa: Ed. Ass{tio. PASSERON, R. (2000). Por uma polandlise. Correio da APPOA — Psicandlise e Ato Criativo, 9.78, 4. RILKE, 1M. (1964), legias de Duina, Porto Alegre: Ed. Globo. TESSLEReLIMA. M.R. de (2000) Rat Inacabades — Objetor#uin pose. Posto Alegre: Tomo torial seg he tem e2yuyp> ore? 0 — euue epiav) sayy owo>

Você também pode gostar