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CONCEIÇÃO DO COITÉ
PROCURADORIA DO MUNICÍPIO
I – DA TEMPESTIVIDADE
Desta forma, requer a declaração da incompetência material deste Juízo para conhecer da
presente ação, remetendo os presentes autos à Vara do Trabalho de Conceição do Coité,
Bahia, conforme §3º, do artigo 64 do CPC.
É cediço que a ações ajuizadas contra a Fazenda Pública prescrevem em cinco anos,
conforme estabelece o Decreto nº 20.910/32, nos artigos 1º, 2º e 3º, in verbis:
No caso sub examine, qualquer pleito atinente aos meses anteriores a dezembro de 2012, se
encontram mortificados pela prescrição quinquenal.
Tendo em vista que a ação fora intentada no dia 06 de dezembro de 2017, restam prescritos
os direitos pleiteados do período entre a data de admissão ate 06 de dezembro de 2012.
Vejamos a ementa abaixo colacionada do Tribunal de Justiça do Pará no que tange a mesma
matéria supramencionada.
Assim, por cautela requer que toda a verba eventualmente deferida, o que se admite apenas
por amor ao debate, obedeça ao limite prescricional quinquenal previsto na Carta Magna em
seu art. 7°, inciso XXIX, restando, de pleno direito, indeferido o pedido referente ao período
anterior aos últimos cinco anos do ingresso da presente ação, conforme acima explanado.
Argui-se a prescrição bienal do pedido da Autora uma vez que a ação foi proposta no dia
06/12/2017, ou seja, vinte e dois anos após a mudança do regime celetista para o estatutário,
conforme Lei Municipal nº 106 de 30 de junho de 1995 e anotação em sua CTPS de ID nº
9435316, in verbis:
A Constituição Federal estabeleceu em seu artigo 7º, inciso XXIX que o prazo prescricional
para a cobrança de créditos decorrentes da relação de trabalho é de “cinco anos para os
trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de
trabalho”.
Importante salientar que, não se aplica a prescrição de 30 (trinta) anos, para pagamento do
FGTS, tendo em vista a decisão do Supremo Tribunal Federal em novembro de 2014, ao
julgar o Agravo de Instrumento de Recurso Extraordinário n° 709212, com repercussão
geral reconhecida, declarando a inconstitucionalidade dos artigos 23, § 5° da Lei nº.
8.036/1990 e artigo 55 do Decreto nº. 99.684/1990 que regulamenta o referido fundo
Tal medida corresponde à correta aplicação da Constituição Federal de 1988, uma vez que
esta definiu o FGTS como um direito de natureza trabalhista, posto que previsto no artigo
7°, inciso III da CF/88 e, assim sendo, ao mesmo deve ser aplicada as mesmas regras
referentes aos direitos da mesma natureza.
Assim, com o rompimento do contrato de trabalho, o empregado que ingressasse com uma
reclamação trabalhista na Justiça do Trabalho, pleiteando diferenças que entendesse devidas
deveria fazê-lo no prazo de 02 (dois) anos após a ruptura contratual, sendo-lhe devidos
apenas os últimos 05 (cinco) anos, contados da data do ajuizamento da ação, pois os
créditos devidos após o quinquênio estabelecido na Constituição Federal seriam atingidos
pela prescrição.
30/06/1997, não podendo exercer sua pretensão, depois de transcorrido mais de 22 (vinte e
dois) anos, como no caso em tela.
Diante do exposto, requer seja declarada a extinção do processo, com resolução do mérito,
com base no artigo 487, II, do CPC.
Cumpre ressaltar que, em virtude dos direitos indisponíveis representados pelo Município
Acionado, cujo interesse da Administração Pública não comporta autocomposição, bem
como da necessidade de formação de precatório, não se vislumbra a possibilidade de
realização da audiência de conciliação ou mediação, conforme previsto no art. 334, §4º, II
do novo CPC, in literis:
Ademais, não é possível a realização de audiência de conciliação nas causas em que esta
Fazenda Pública figure como parte, em razão da inexistência de autorização legal expressa
em ato normativo do Chefe do Poder Executivo Municipal, regulamentando e autorizando o
exercício da autocomposição.
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Tal exigência visa garantir que os atos da Administração Pública obedeçam aos princípios
da legalidade, publicidade e impessoalidade, estabelecidos no art. 37 da Constituição
Federal.
VI – DO MÉRITO
A pretensão da Autora ao recebimento de valores de FGTS não merece prosperar, haja vista
que, no período correspondente a sua admissão até 30/06/1995 está prescrito e no período
posterior até sua aposentadoria por tempo de serviço, o mesmo desempenhou suas atividades
no regime estatutário, não sendo a referida verba compatível com o regime jurídico único.
Senão vejamos:
A Autora foi contratada sob o regime celetista em 25/04/80, tendo seu regime jurídico
modificado para o estatutário em 30/06/1995, o que implica na extinção do contrato de
trabalho anteriormente firmado, conforme comprova anotação em sua CTPS.
A Lei Municipal nº 106 de 30 de junho de 1995 dispõe em seu artigo 10, que com a
transformação dos empregos em cargos, os contratos individuais de trabalham ficam
extintos. Portanto, a Lei Municipal versa sobre a instituição do regime jurídico único para os
servidores públicos de Conceição do Coité, tendo como consequência a extinção do contrato
de trabalho.
Nesse sentido, confira-se o ED 3868511, Rel. Min. José Ivo de Paula Guimarães, 2ª Câmara
de Direito Público, DJ 23.7.2015 e o AI-AgR 321.223, Rel. Min. Moreira Alves, Primeira
Turma, DJ 14.12.2001, a seguir ementados:
Neste sentido, os servidores públicos devem ser regidos por estatuto próprio, editado por
cada ente da federação, ao qual permanecem vinculados. Assim é que, no âmbito federal, por
exemplo, os servidores são regidos pela Lei 8.112/90.
Quanto à natureza da relação jurídica estatutária, José Carvalho Filho dispõe que “essa
relação não tem natureza contratual, ou seja, inexiste contrato entre o Poder Público e o
servidor estatutário”1. O Estatuto do Servidor é, portanto, a base legal dos direitos e
obrigações previstos para os servidores.
In casu, o Município Contestante regula a contratação de seu pessoal no próprio Estatuto dos
Servidores, Lei Municipal 133/1996, especialmente aqueles de caráter efetivo como a
Requerente.
1
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 30 e, 2016, p.
629.
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Pois bem, estabelecidas estas premissas, resta evidente, no caso em tela, que o pedido da
parte Autora encontra-se desprovido de fundamentação jurídica apta a ensejar o seu
provimento, uma vez que, através da presente ação pleiteia o pagamento do FGTS de todo o
seu vínculo contratual, ignorando a existência de integração ao Regime Estatutário, a partir
de 1995, conforme anotação da CTPS, juntada pela Autora no ID nº 9435316:
Dessa forma, mesmo sem a investidura por meio de concurso, a Autora aderiu por livre e
espontânea vontade ao regime jurídico único, sem quaisquer impugnação, se beneficiando dos
direitos assegurados aos servidores públicos estatutários, fazendo gozo de quinquênios, licença
prêmio, etc, desde a edição da Lei nº 133/1996, o que demonstra a natureza estatutária do seu
vínculo, não lhe sendo devida qualquer parcela referente ao Fundo de Garantia por Tempo
de Serviço - FGTS.
A própria Constituição Federal prevê no §3º do art. 39 quais direitos trabalhistas são devidos
aos servidores ocupantes de cargos públicos, excluindo-se do rol desses direitos,
expressamente, o FGTS que se encontra previsto no art. 7º, inciso III, da CF, vejamos:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:
(...)
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
Assim, pelas razões expostas, comprovadas pela documentação anexa, tendo em vista a
integração da Autora ao regime estatutário, não há que se falar em direito ao recebimento de
qualquer verba referente ao FGTS, razão pela qual deve a presente ação ser julgada
improcedente.
Cumpre salientar que a Lei 8.162/1991 veda o saque dos valores depositados na conta do
FGTS nos casos de conversão de regime, asseverando-se, ainda, que a Lei 8.036/90 dispõe,
taxativamente, as hipóteses autorizativas de movimentação da conta vinculada do FGTS,
não prevê a conversão de regime como ensejadora do levantamento dos valores referidos.
Por fim, não há previsão constitucional acerca da aplicabilidade do inciso III do art. 7º aos
servidores públicos, para os quais a Carta Magna elencou, expressamente, as hipóteses em
que os direitos fundamentais dos trabalhadores em geral são extensíveis aos servidores
ocupantes de cargos públicos, pelo que requer que a ação seja julgada improcedente em
todos os seus pedidos.
Com efeito, tem-se que a parte Autora não apenas deduz pretensão contra texto expresso de
Lei, como também pretende conseguir objetivo ilegal com a lide em questão. É que,
conforme se observa da própria legislação, bem como dos documentos que seguem em
anexo, a Autora, por se tratar de servidora pública ESTATUTARIA, não fazia jus ao
recolhimento de qualquer verba referente ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
Salienta-se que, os servidores públicos são regidos por estatuto próprio, possuindo regime
diverso dos trabalhadores celetistas. Assim é que, dentro das regras previstas para os
servidores da Administração, a própria Constituição Federal prevê no §3º do art. 39 quais
direitos trabalhistas são devidos aos servidores ocupantes de cargos públicos, excluindo,
expressamente, o FGTS, que se encontra previsto no art. 7º, inciso III, da CF, vejamos:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:
(...)
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
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Dessa forma, a Demandante, além de deduzir pretensão contra texto expresso de lei, ainda
pretende, com isso, conseguir objetivo ilegal, uma vez que requer a condenação do ente
público ao pagamento de vantagem indevida, a qual não pode ser paga pela Administração
sem a devida lei autorizadora.
Sendo assim, pela má-fé da Autora aqui discriminada, requer seja a Demandante, nos termos
do artigo 81 do CPC, condenada ao pagamento de multa não inferior a 5% (cinco por cento)
do valor da causa, pela litigância de má-fé perpetrada contra o Município Contestante.
Nestes Termos.
Pede deferimento.
Conceição do Coité - Bahia, 06 de julho de 2017.
Eliziane Mascarenhas
OAB/BA 36.316