o levará a uma nova fase, sem mudar suas bases, mas adicionando novas características.
Este novo estágio é chamado Imperialismo/Capitalismo Monopolista e vai dominar o
século 20 e adentrar o 21 com diferentes propriedades.
8.1. A Evolução do Modo de Produção Capitalista
O primeiro estágio do MPC é o mercantilismo, iniciado no século XV, que surge no
seio da decadência feudal e começa com a acumulação primitiva de bens e culmina até
os primeiros passos para controlar a produção de mercadorias e nela comandar o
trabalho, estabelecendo a manufatura. O papel dos comerciantes/mercadores,
denominados burgueses, foi essencial, pois tinham o controle das principais atividades
econômicas, já que acumulou grandes capitais comerciais. É nesta época que as grandes
navegações começam e novas terras (América, Ásia, África) são descobertas,
colonizadas e extirpadas de seus bens naturais, que são levados a Europa para
comercialização e para garantir seu enriquecimento. Os interesses da burguesia, são
nesse sentido, conjugados com os da massa da população, por isso é empreendedora e
marcha rumo a construção de uma nova sociedade, confrontandose com os privilégios
da nobreza e efetivamente fazendo a Revolução Burguesa, que tem seu maior exemplo
na Revolução Francesa. Os eventos de 1789 deixam claro que os burgueses não
aceitariam mais enriquecerem uma nação, controlar os modos de produção e força de
trabalho e não ter privilégios e o controle político que os nobres tinham. É neste
contexto que, na segunda metade do século 18, o capitalismo avança para sua segunda
fase, chamada de concorrencial/liberal/clássico. Esta passagem é possibilitada pelas
mudanças políticas (Burgueses assumem o controle efetivo das estruturas
governamentais e acabam com o absolutismo, conseguindo representação) e
transformações técnicas (Revolução Industrial). É neste tempo que o capitalismo se
amplia e se afirmar nos principais países da Europa Ocidental. É baseado na grande
indústria, também chamada de indústria moderna, que provoca uma urbanização nunca
vista antes e cria um mercado mundial. O mercado mundial é caracterizado pela busca
de matérias primas brutas e primas nas partes mais afastadas do globo. Estabelecemse,
então, vínculos econômicos e culturais entre pessoas separadas por milhares de
quilômetros. A integração acontece não só pela intervenção militar, mas também pela
invasão comercial. Esta fase é chamada de concorrencial devido às amplas
possibilidades de negócios que se abriam entre os médios e pequenos capitalistas, pois
não precisavam de grandes massas de capital para abrir uma empresa e tinham chances
de se estabelecer em meio a uma concorrência desordenada e generalizada. É aí que
surge também as lutas de classes na configuração moderna, ou seja, fundadas na
contradição entre capital e trabalho, antagonizando a burguesia e os trabalhadores. Se a
politização dos burgueses havia acontecido anteriormente, é neste período que começa a
do proletariado, que se organiza em movimentos de protestos para reivindicar os
mínimos direitos necessários, já que estes eram inexistentes e se opor às explorações
desenfreadas. Os primeiros protestos operários foram marcados por muita violência, no
entanto, era apenas proporcional ao modo como eram explorados. A resposta burguesa
era marcada por repressão e aperfeiçoamentos da maquinaria, ou seja, as lutas de classes
influem fortemente no desenvolvimento das forças produtivas. Já é possível inferir que
o principal constituinte do MPC é a mobilidade e transformação, graças ao intenso
desenvolvimento das forças produtivas, tendo sua expressividade sociopolítica de suas
contradições exprimidas nas lutas de classe. Se antes a burguesia era revolucionária,
transformase em conservadora, interessada em manter o status quo. Abandonam os
princípios ideológicos que os auxiliaram na luta contra o Antigo Regime, acarretando a
decadência ideológica. No entanto, seguimentos mais lúcidos de capitalistas,
perceberam que precisavam parar de responder puramente repressivamente aos
movimentos e adotaram mínimas reformas sociais para reduzir minimamente os efeitos
da exploração dos trabalhadores. Evidentemente, as mudanças eram limitadas
absolutamente pelo direito à propriedade privada dos meios de produção, estabelecida
como direito natural. Para garantir a manutenção do status quo, fizeram estas mudanças,
logo, garantiram a manutenção de sua posição privilegiada.
8.2. A transição a um novo estagio
Ao mesmo tempo que as mudanças sociopolíticas citadas anteriormente aconteciam, na
segunda metade do século XIX, três outros processos interligados aconteciam: um de
caráter técnico cientifico e outros dois de natureza econômica. As novas demandas da
indústria estavam estimulando o desenvolvimento dos domínios das ciências naturais,
como novas concepções na biologia, química e física. Estes progressos afetaram os
insumos, meios de produção e mercadoria, inaugurando uma Segunda Revolução
Industrial. Os maiores exemplos destas inovações é o aço sendo produzido em grande
escala e substituindo o ferro, aplicação da química na obtenção do papel a partir da
polpa de madeira, alumínio a partir da bauxita, petróleo generalizado como
combustível, entre outros. Na economia, as mudanças se realizaram de dois modos: O
surgimento dos monopólios e a modificação do papel dos bancos. A monopolização
acontece quando, ao longo do capitalismo concorrencial, a classe capitalista se
diferencia em razão do volume de capitais que lhes pertenciam. A concorrência, então,
se modifica e tenderá a concentração e centralização, confluindo nos modernos
monopólios. Poucos grupos comandavam vários segmentos industriais, empregando
muitos trabalhadores e influindo diretamente na economia. Em poucas décadas, a
economia tornase mundial e o capital é monopolista. Isto acontece quase que
concomitante com a mudança do papel dos bancos, que de casas bancarias responsáveis
apenas como intermediários de pagamento, passam a ser a base do sistema de créditos,
caracterizado pelo controle de grandes massas monetárias, disponibilizadas para
empréstimo, pois a concorrência entre capitalistas industriais levouos a recorrer ao
credito de bancos para seus novos investimentos. Portanto, os bancos contribuem
ativamente para implementar o processo de centralização do capital. A fusão dos
capitais monopolistas industriais com os dos bancários, cria o capital financeiro que
ganha centralidade no imperialismo.
8.3. O estágio imperialismo
Este estágio se configura nos últimos trintas anos do século XIX e é nele que o capital
financeiro desempenha papel decisivo. A forma empresarial é monopolista, o que não
elimina pequenas e medias empresas, estas estarão subordinadas ás grandes. As
principais características deste período são: concentração de produção de modo
altamente elevado, fusão do capital bancário e monopolista, criando o financeiro,
formação de associações internacionais monopolistas de capitalistas que partilham o
mundo entre si e o termo de partilha territorial do mundo entre as potencias capitalistas
mais importantes. Sob o imperialismo, o comercio externo não perdeu importância, mas
a prioridade era a exportação de capitais, realizado pelo capital de empréstimo, que era
quando os capitalistas concediam créditos em troca de determinados juros a governos
ou capitalistas de outros países e o capital produtivo, com a implantação de industrias
em outros países. Em todos os casos, o objetivo é o lucro máximo. O credor e o devedor
tinham uma relação de domínio e exploração. O principal objetivo dos monopólios,
além dos lucros, é o controle de mercados, portanto, as gigantescas empresas
monopolistas tratam de ganhar mercados estrangeiros para si e, neste processo,
absorvem empresas de outros países. Assim, dividem as regiões do mundo que
pretendem subordinar entre si, realizando uma partilha econômica do mundo.
Simultaneamente, os Estado capitalistas realizam a partilha territorial do mundo,
configurando uma recolonização. As consequências desta partilha chegam ao ápice em
1914, quando não existiam mais territórios livres e qualquer expansão nova levava a um
confronto entre Estados imperialistas. É neste panorama que explode a Primeira Guerra
Mundial.
8.4 Indústria bélica
As guerras procedem largamente a historia do capitalismo, assim como a historia do
capitalismo sempre foi marcada por conflitos. No entanto, sob o imperialismo, a
industria bélica (e as atividades a ela conexas) tornase um componente central da
economia. Exemplo da importância da produção de armamento: os gastos militares
foram fundamentais para a economia dos EUA no pósguerra, cerca de 9% da força de
trabalho dependem do orçamento militar. Se tais despesas fossem reduzidas a
proporções anteriores a 2º Grande Guerra, a economia norteamericana voltaria ao nível
econômico da depressão de 30. (Baran e Sweezy, 1974). A inovação tecnociêntifica
que é fundamental na indústria bélica – permite testar processos produtivos e
componentes que depois serão transladados para a indústria civil (são os chamados
“subprodutos” da indústria bélica). A indústria bélica envolve interesses econômicos e
políticos de enorme magnitude. Por isso mesmo, é constante a pressão que os
monopólios realizam sobre os estados, no sentido de estimular um clima de belicismo e
militarismo (constante tensão entre países). O desenvolvimento da indústria bélica
introduz duas variáveis muito significativas na dinâmica capitalista: A. Esse setor serve
para travar e reverter um dos fatores de crises (subconsumo), uma vez que as grandes
encomendas estatais à indústria bélica operam como um contrapeso a tal tendência. B.
Oferece uma espécie de solução (provisória) ao problema da superacumulação. Com o
incremento da indústria militarista, grandes quantidades de capitais encontram
condições de volumosos lucros a seus investidores. Por fim, a indústria bélica e sua
consequência, a guerra, são um excelente negócio para os monopólios nelas envolvidos:
a enorme destruição de forças produtivas que a guerra provoca abre um imenso campo
para a retomada de ciclos ameaçados pela crise.
8.5. A Constituição de um sistema econômico mundial
O caráter abrangente e inclusivo das atividades capitalistas, aplicável pela lógica do
capital, valor que tem que se valorizar, potência que tem que se expandir para além de
qualquer fronteira. O capitalismo concorrencial criou o mercado mundial. O
desenvolvimento capitalista implicou sempre uma crescente divisão do trabalho, própria
da produção mercantil. O capitalismo induziu a uma divisão internacional do trabalho,
com espaços nacionais, especializandose em determinados tipos de produção. O
desenvolvimento do capitalismo resultou numa determinada hierarquização entre os
países, com os mais desenvolvidos estabelecendo as relações de domínio e exploração,
sobre os poucos desenvolvidos. Tratase de um desenvolvimento desigual: em função
de razões históricas, políticas e sociais, afetando até mesmo a relação entre os países
dominantes. O crescimento capitalista revelouse, no que diz respeito aos países
atrasados, um desenvolvimento combinado, Leon Trotski, 18791940), pressionados
pelo capital dos países desenvolvidos, os atrasados progridem aos saltos, combinando a
assimilação de técnicas mais modernas com relações sociais e econômicas arcaicas.
Tendo esse processo não lhes retirado a condição de economias dependentes e
exploradas.
8.6 A economia do Imperialismo
Com o imperialismo, decorrem fenômenos que antes de seu surgimento ou não haviam
existido ou não se tinha a relevância adquirida nesse processo. Nesse cenário, os
monopólios representam uma estratégia do capitalismo a fim de aumentar lucros, pois
nessa época as crises eram constantes, aconteciam com periodicidade, portanto, com
esse recurso, foi possível organizar esse modelo de produção que visa obter lucros
acima da média (lucros extraordinários monopolistas) e escapar dos efeitos da
tendência à queda de juros devido a variação e instabilidade econômica.
Dentre outros procedimentos, cabe ressaltarmos a exploração dos trabalhadores que
encontrou limites políticos, os trabalhadores sindicalizados na década de 1910 tinham
carga horária de 50 horas por semana, enquanto os que não tinham vínculo com
sindicatos eram ainda mais explorados e trabalhavam em média de 60 a 65 horas por
semana. Na indústria americana de aço e ferro, trabalhar 12 horas por dia era
considerado normal durante esse período.
Os lucros extraordinários advêm de:
a) Fixação de um preço superior, (preço de monopólio), o que era possível através de
acordos entre os detentores dos setores de produção de uma mesma mercadoria que,
por serem poucos, controlam a oferta no mercado e possuíam o poder de aumentar
os preços, pois uma das características dos monopólios é exatamente o controle dos
mercados. Com isso, entendemos mais facilmente a diferença de capitalismo
concorrencial de capitalismo monopolista, onde no primeiro segundo Baran e
Sweezy “a empresa individual aceita os preços de mercado, ao passo que no
capitalismo monopolista a grande empresa é quem faz o preço”.
b) Apropriação de parte da maisvalia de setores nãomonopolizados pelos
monopólios, através da imposição (pelos grupos monopolistas) de preços inferiores
ao valor das mercadorias que compram dos setores nãomonopolizados; essa
pressão dos monopolistas é também ressaltada por Sweezy, ao lembrar que um
lucro extra dos monopolistas vem dos seus colegas capitalistas;
c) Vantagens obtidas pelas empresas monopolistas têm, dadas as suas dimensões, com
relação às médias e pequenas empresas e ainda também do setor nãomonopolizado.
Essa vantagem é basicamente caracterizada pelo lucro obtido também pelo número
de trabalhadores e mais que isso, o lucro obtido com a maior escala de produção,
pois o produto líquido por assalariado cresce à medida que cresce o número de
assalariados.
Elencados esses fatores, restanos ressaltar que eles não são únicos e os lucros obtidos
pelos monopólios também são provenientes da relação privilegiada que esses grupos
possuem com o Estado e de sua influência no desenvolvimento social e tecnológico, nos
avanços que partem de seus interesses principalmente no lucro em que essas medidas
propiciam, por exemplo, em países subdesenvolvidos, isso porque nesse caso, quando o
capital é aplicado nesses países produtivamente, são investidos em setores onde a taxa
de lucro se apresenta superior à taxa média de lucro dos países centrais. Aplicados dessa
forma, os capitais monopolistas têm taxa de lucros muito acima no exterior que em seus
próprios países.
Os limites do superlucro
Existindo a taxa média de lucro no modelo econômico, surge a necessidade também de
estabelecer uma taxa média de superlucro
e a existências de uma dupla taxa é um
fenômeno particular do Imperialismo, salvo conjunturas excepcionais, além de também
ser um fato característico do Imperialismo o crescimento extraordinário do excedente
econômico, devido ao alto grau de concentração e centralização do capital, que chegou
a se deparar com o fenômeno da superacumulação onde não havia como encontrar
ramos capazes de oferecer aos investimentos possíveis os lucros visados pelos
monopolistas.
Surgem com mais ênfase duas tensões importantes na dinâmica econômica, sendo elas:
A expansão da produção e essa demanda que só é interessante para os monopólios na
medida em que há demanda de venda de seus produtos então, por vezes, a capacidade
de produção é muito maior que a demanda de venda o que ocorre a obtenção de lucros
com a diminuição da mão de obra e consequentemente da produção, causando ainda a
desvalorização do trabalho e um número maior de pessoas sem emprego. Outra tensão é
diretamente relacionada ao avanço tecnológico que no imperialismo monopolista ocorre
de maneira mais lenta se comparada ao modelo do capitalismo concorrencial.
8.7 A fase “clássica” do Imperialismo
As transformações sofridas pelo Imperialismo foram significativas e o período
“clássico”, assim descrito por Mandel, foi de 1890 a 1940, entrando logo após os
períodos dos “anos dourados” do fim da segunda guerra até a década de 1970 e, por
contemporâneo,
último, o capitalismo o que nos permite dizer que o Imperialismo se
mantém em plena vigência no início do século XXI.
O período clássico foi afetado com a Segunda Guerra Mundial, contudo, devese
ressaltar que mais crises eclodiram inclusive com manifestações com violência, mas a
principal delas, a de 1929, teve proporção gigantesca e obrigou os dirigentes capitalistas
a buscar alternativas de políticas socioeconômicas seriam implantadas posteriormente
pelas principais potências monopolistas.
Evidenciase com a crise de 1929 a necessidade de intervenção do Estado na economia
capitalista sentida inclusive pelos burgueses que também desenvolveram o espírito
revolucionário e interventista desses grupos, especialmente os de comerciantes,
interessados em uma intervenção nas condições gerais de produção e de acumulação.
Nesse período dois fenômenos merecem destaque, o primeiro é relacionado à
organização e combatividade de amplos setores operários onde partidos políticos
especialmente na Europa Ocidental e Nórdica industrializada, ganhavam expressão e
desenvolviam políticas de massas e levavam as reinvindicações aos parlamentos;
O segundo fenômeno, diz respeito à Revolução de Outubro, dirigida pelos Bolcheviques
na Rússia, em 1917. A criação do primeiro Estado Proletário simbolizando um conjunto
extenso de promessas de cunho satisfatório à classe dos trabalhadores e por isso atraiu a
simpatia da massa, bem como adesão à vanguardas operárias, significando um duro
golpe contra o Imperialismo.
O sentimento de medo de outros governos se aguçou, pois no cenário da época, com a
criação posterior de Partidos comunistas estimulados pela Internacional Comunista ,
havia a insegurança e temor de que essa experiência socialista se expandisse e como
uma espécie de “contágio” se alastrasse.
Nos países mais democráticos onde os trabalhadores não foram derrotados não houve
alteração na forma de comando do Estado, mas nos países onde houve derrota, os
Estados continuaram antidemocráticos, do capital levado ao extremo dos monopólios
com a supressão de todos os direitos trabalhistas e formouse o regime político
adequado aos monopólios – o Fascismo.
O fascismo surge com esse cenário, onde os monopólios reagiram em alguns países com
a supressão de todos os direitos e garantias ao trabalho e aos trabalhadores, sendo
instaurado este que, à parte de suas peculiaridades como no caso do racismo da
Alemanha, dentre outras características de diferentes países, é o modelo considerado
mais propício ao livre desenvolvimento dos monopólios. A modalidade fascista de
intervir na economia para garantir as condições gerais, visa produção e acumulação
capitalistas, onde o terrorismo de Estado controla ou destrói as organizações
trabalhistas, regula a massa salarial, conforme interesse dos monopólios e favorece
transparentemente o grande capital, além de militarizar a vida social, impondo o poder
pelo uso da força e investe fortemente na indústria bélica, como no caso da Alemanha
hitlerista.
No imediato período pósguerra, a influência de Keynes que foi um intelectual
conceituado que expressava a vanguarda burguesa se deu, a priori, com a contribuição
deixada na Obra Teoria Geral do Emprego, do Juro e do dinheiro, essa obra legitimou o
intervencionismo estatal que não se solidificou no modelo fascista e defendia ideias de
que para a utilização plena dos recursos econômicos, o capitalismo deveria evitar as
crises e suas consequências, como o desemprego em massa e que o Estado deveria
operar como organizador e regulador dos investimentos privados, através do
direcionamento dos seus próprios gastos.
8.8. Os anos dourados da economia imperialista
Do fim da Segunda Guerra Mundial (1945) até aproximadamente o início dos anos 70, o
capitalismo monopolista viveu sua fase de glória, e as crises cíclicas tiveram seus
efeitos reduzidos devido à regulação posta pela intervenção estatal, inspirada nas ideias
de Keynes. Nesse período a produção industrial dos países capitalistas aumentou muito,
e o sistema teve resultados econômicos nunca vistos. Foi paradoxalmente uma época de
grande desempenho, mas também de grandes críticas e questionamentos ao capitalismo.
Nesse cenário, os EUA se afirmaram frente às outras potências imperialistas como país
líder no mundo capitalista, tendo como pano de fundo a guerra fria e a corrida
armamentista. Em contrapartida, temos a União Soviética como líder de um grupo de
países experimentando o socialismo, uma mobilização anticolonialista, com muitos dos
países libertados aderindo ao socialismo (China, Cuba), e o crescimento, da
legitimidade dos movimentos operário e sindical e dos partidos ligados aos
trabalhadores na Europa, estes passando a impor restrições efetivas aos monopólios.
A guerra fria (1945 1989) é um período de forte bipolarização políticoideológica
mundial, que teve início com a suspensão das relações de cooperação com a União
Soviética, iniciadas na era Roosevelt. A política externa antissoviética conhecida como
Doutrina Truman, do presidente Harry Truman (1945), resultou em graves conflitos,
como a Guerra da Coreia (1950) e a Guerra do Vietnã (1964).
A economia teve mudanças importantes, mudou o fluxo das exportações, que na fase
anterior (imperialismo clássico) era dos países centrais para os periféricos, e passa a ser
dos países centrais entre si, permitindo a construção de subsidiárias para as firmas
monopolizadoras. As transferências para a periferia passam a se dar na forma de
empréstimos de Estado a Estado. Também nesse período, o taylorismofordismo se
tornou o padrão para toda a produção industrial, universalizandose nos anos dourados
do imperialismo. É a mescla da produção em série fordista com o cronômetro taylorista,
a separação entre elaboração e trabalho, suprimindo a dimensão intelectual do operário,
transferida para a esfera da gerência científica.
Houve uma imposição de valores especificamente norteamericanos a povos de distintas
tradições culturais, o inglês é tornado a língua mundial, a indústria cultural teve função
determinante nesse processo, especialmente os monopólios da produção
cinematográfica.
Nos anos dourados, tornamse traços próprios do imperialismo, o crescimento da prática
do crédito ao consumidor, incomum antes da segunda guerra, e a cronificação da
inflação, uma vez que vira prática emitir moeda sem lastro, permitindo que haja uma
massa de dinheiro disponível para que a circulação mercantil se realize sem problemas,
a fim de evitar as crises de superprodução e favorecer a acumulação do capital. Houve
ainda, intenso crescimento do setor terciário, ou setor de serviços, onde prevalece o
trabalho improdutivo, essa hipertrofia, continuou até a fase final do imperialismo, e
consolidase como uma das mais fortes tendências do Modo de Produção Capitalista
(MPC), que é mercantilizar todas as atividades humanas, submetendoas à lógica do
capital, tudo se torna mercadoria, inclusive educação e saúde.
8.9. A intervenção estatal nos anos dourados
O estágio imperialista não apresenta soluções para nenhuma das contradições imanentes
do MPC, pelo contrário, acentua a produção e a concorrência e potencializa as
contradições ao nível máximo. Aprofunda exponencialmente a contradição básica do
MPC, entre a socialização da produção e a apropriação privada do excedente, agora em
escala mundial. Acentua tensões, de um lado os povos coloniais e semicoloniais, cuja
miséria e desenvolvimento travado são a maior fonte de superlucros dos monopólios e
do outro as grandes burguesias metropolitanas. Assim, para gerir essas contradições, o
imperialismo precisa de outro modelo de Estado, que garanta mais que as condições de
produção e acumulação capitalistas, é preciso um estado interventor, que garanta
condições gerais.
Keynes fez proposições que contrariavam o liberalismo, pois propunha uma nova
organização políticoeconômica, que defendia o Estado como agente indispensável na
economia. Assim, questionava as ideias do livre mercado, argumentando que a
economia não é autorregulada. Não acreditava que o Estado deveria controlar plena e
amplamente a economia, aproximandose de uma formulação marxista, mas pregava
que o Estado tinha o dever de conceder benefícios sociais para que a população tivesse
um padrão mínimo de vida. As ideias de Keynes, popularizadas como Keynesianismo,
nunca defenderam a estatização da economia, mas pregavam a participação do Estado
em segmentos que não podem ser atendidos pela iniciativa privada, assim, deram
origem ao chamado
Estado de bemestar social
.
O estado passou se inserir, de forma direta, como empresário nos setores básicos não
rentáveis, fornecendo, a baixo custo, insumos aos monopólios, e assumindo o controle
de empresas em dificuldade. Suas funções indiretas, além de compras aos monopólios,
residem em subsídios, como renúncia fiscal, investimentos em meios de transporte e
infraestrutura e também em gastos com pesquisa.
O grande diferencial entre o Estado a serviço dos monopólios nos anos dourados, do
estado do capitalismo concorrencial é o seu papel frente aos trabalhadores. No
capitalismo concorrencial o estado respondia coercitivamente às lutas das massas
exploradas, agora a intervenção estatal desonera o capital de boa parte do ônus da
preservação da força de trabalho, pelos tributos recolhidos da população, que financiam
os serviços públicos, tais como saúde e educação. Essas funções estatais estão a serviço
dos monopólios, mas conferem ao Estado comandado pelo monopólio alto grau de
legitimação, o Estado, nesse contexto, para servir ao monopólio, não pode ser só
instrumento de coerção, precisa desenvolver instrumentos de coesão social. Assim, o
reconhecimento de direitos sociais, nada mais é que um empenho do Estado para
legitimarse. Houve uma consolidação e ampliação da abrangência das políticas sociais
dando conformação ao chamado Estado de BemEstar Social.
Os anos dourados foram então, um período de grande dinamismo econômico, somados
à aquisição e garantia de expressivos direitos sociais, e que vicejou sob a égide das
instituições democráticas, respaldadas pela presença de partidos políticos de massa e de
intensa ação sindical. No entanto, o chamado “capitalismo democrático” não foi mais
que um breve episódio no desenvolvimento do MPC, que no início dos anos 70 entrou
em crise, exigindo a adoção de medidas reestruturantes pela burguesia monopolista,
revertendo as conquistas sociais do pósguerra, e instaurando a terceira fase do
imperialismo, no capitalismo contemporâneo.