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120 DIAS DE SODOMA

DE RODOLFO GARCÍA VÁZQUEZ


A PARTIR DE MARQUÊS DE SADE

CENA I
APRESENTAÇÃO DOS LIBERTINOS

ATORES
As crises que sempre marcaram a história da nossa nação destruíram a riqueza do Estado e a
garra do povo. No entanto, tais crises guardavam o segredo que leva os corruptos à
prosperidade. Estes parasitas souberam, durante todos esses séculos, obter todas as vantagens
possíveis à custa do sangue do povo.

Alguns anos após a queda da Grande Ditadura, registrou-se o surgimento de muitas fortunas
misteriosas, de origens tão obscuras quanto a luxúria e o deboche que as acompanhavam.

Foi no final desse período glorioso, e um pouco antes das Grandes Manifestações Públicas, que
quatro desses poderosos libertinos conceberam a idéia das orgias singulares que vamos
apresentar. Vivia-se num tempo em que não se investigava e punia como agora e onde tais
libertinos podiam exercer sua vilania com tranqüilidade. E, por mais incrível que possa parecer,
todas as paixões e os crimes a serem apresentados neste palco ocorreram sem nenhum tipo de
prejuízo aos nossos protagonistas.

MARQUÊS
Quatro libertinos da época eram ligados por seus negócios obscuros e gostos extravagantes.
Através de suas alianças, estreitaram seus laços em uma sociedade secreta em que o deboche
tinha um papel fundamental.

A sociedade mantinha um fundo comum que contava com contribuições milionárias de cada um
deles. Sua única finalidade era a satisfação de seus prazeres.

Duque de Blangis – Herdeiro de uma fortuna colossal. Seus ancestrais haviam dominado a
economia do país desde os primeiros tempos, com grandes propriedades produtoras de cana-de-
açúcar e café, passando pela exploração do ouro e mesmo o tráfico de escravos africanos.
Posteriormente, seus gloriosos antepassados apostaram em investimentos empresariais e
associações com grandes conglomerados internacionais.

BLANGIS
A Natureza me dotou de uma riqueza imensa, que eu soube multiplicar muito bem. Mais do que
o dom da multiplicação do dinheiro, possuo todos os impulsos do deboche.

MARQUÊS
Seu irmão, o Bispo de Blangis, é dotado da mesma alma perversa. Sua carreira destacada como
líder religioso o conduziu à Assembléia Nacional, como deputado federal. Nessa casa, fez fama
por seus discursos inflamados, que tantos votos lhe renderam.

BISPO
Tudo o que faço é pelo nosso povo!

MARQUÊS

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Sua defesa da Moral e dos Bons Costumes escondia perfeitamente seus acordos ilícitos com
empresas estatais e privadas e a compra de uma rede de t.v. Entre os mais íntimos, comentava:

BISPO
Estou convencido de que a existência do criador é um absurdo revoltante. Nas mãos da
Natureza, sou apenas uma máquina que ela dirige como quer.

MARQUÊS
Outro membro da sociedade secreta era sua excelência, o Presidente do Supremo Tribunal
Federal, senhor de Curval. Apesar de ser responsável pela defesa dos ideais da Liberdade,
Igualdade e Fraternidade, era nos convívios libertinos que suas verdadeiras convicções
mostravam-se plenas.

PRESIDENTE
Alguns dizem que todos os homens possuem idéias sobre o justo e o injusto, como se isso fosse
inerente à condição humana. Mas essas idéias são relativas, pois os fortes sempre consideraram
justo o que os fracos consideram injusto, e basta uma inversão de posições para cada um poder
mudar também seu modo de pensar.

MARQUÊS
Sua fortuna foi acumulada pela execução de alguns crimes grandiosos, como a libertação de um
poderoso traficante de drogas e a construção da sede do Tribunal Superior Federal, além de
favorecer alguns de seus amigos donos de grandes construtoras e lhe engordou várias contas
bancárias em paraísos fiscais, deixando-o suficientemente rico para todos os deboches desta
vida e de várias gerações.

MINISTRO
Meus princípios me fizeram compreender o vazio da virtude. Só através do vício o homem é
capaz de experimentar a vibração moral e física que é a fonte da mais deliciosa volúpia.

MARQUÊS
Com estas sublimes palavras apresento-vos agora Sua Excelência, o Ministro Durcet. Sua fortuna
deveu-se a inúmeros subterfúgios nos corredores do poder, nos quais se tornou respeitado
mestre da artimanha entre os mais famosos ladrões de dinheiro público.

TODOS OS LIBERTINOS
Somos libertinos na plena acepção do termo.

MARQUÊS
As filhas dos libertinos também foram levadas para o Castelo de Silling: Constance, filha do
ministro Durcet, 23 anos; Julie, filha do duque de Blangis, 20 anos; Adelaide, filha do Presidente
Curval, 22 anos; Aline, filha do duque de Blangis, na verdade, filha do Bispo de Blangis, 21
anos.Para consolidar a força da aliança estabelecida entre eles ocorreu o seguinte: O Duque deu
em casamento sua filha Julie como esposa a Curval, este por sua vez deu sua filha Adelaide a
Durcet que por sua vez deu sua filha Constance ao Duque. O Bispo para manter as aparências
cedeu a todos sua filha Aline, desde que pudesse usar todas as esposas a seu bel prazer. Esse foi
o acordo!

ATORES
Assim são os nossos protagonistas, retratados como são e não para seduzir o espectador. Sade
diria que a Natureza, em sua aparente desordem, é sublime, mesmo quando depravada. E
nossos libertinos sabem que, apesar de não ter nenhuma delicadeza, o crime é sempre mais
sublime do que a virtude, sempre tão fria e monótona.

MARQUÊS
Peço aos presentes, uma salva de palmas para os nossos heróis. (aplausos dos atores)

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CENA II
APRESENTAÇÃO DA NARRADORA, DAS VÍTIMAS E DOS FODEDORES

DUQUE
Não se pode imaginar até que ponto o homem multiplica as paixões quando sua imaginação se
inflama.

MARQUÊS
E convidaram duas senhoras para contar histórias belas e infâmes, Madame Duclos e Madame
Desgranges.
(ENTRA DUCLOS)
Madame Duclos - nascida como menino num pequeno vilarejo miserável, aos doze anos já se
imaginava mulher e prostituta, e usando dos avanços da medicina moderna, realizou várias
operações para chegar ao seu ideal. Trabalhou em diversos prostíbulos, onde aprendeu tudo o
que sabe.

DUCLOS
Cedo entendi que um pênis e dois seios podem conduzir à fortuna, ao satisfazer desejos secretos
de requintados libertinos.

MARQUÊS
Transferiu-se ainda jovem para a capital do país, onde iniciou seus negócios.

DUCLOS
Sou promotora de eventos.

MARQUÊS
Madame Desgranges - incendiária, sodomita, parricida, assassina, envenenadora, culpada de
incesto, de estupro, ladra, de abortos e de sacrilégios. Não há um único crime no mundo que não
tenha cometido. Seu prostíbulo a fez íntima de poderosos políticos, lobistas e líderes religiosos.

DESGRANGES
Sou fiel aos amigos e guardo os maiores segredos da República.

MARQUÊS
Contratadas essas grandes mulheres, os amigos voltaram sua atenção para os acessórios. Desde
o começo, planejavam rodear-se de um grande número de objetos sensuais de ambos os sexos.
Contrataram proxenetas e como prêmio por cada objeto aprovado pelos quatro libertinos, foram
pagas trinta mil barras de ouro. Dedicaram um ano de trabalhos para obter os espécimes mais
deliciosos da República.

ENTRAM AS MENINAS. O MARQUÊS DIZ O NOME E AS PRÓPRIAS ATRIZES DESCREVEM A


PERSONAGEM.

Augustine – de apenas quatorze anos, filha de uma auxiliar de enfermagem e de um operário.


Sequestrada na porta da escola.

Sophie – filha de um motorista de táxi e de uma cabelereira. Abandonada no centro da capital


pelo pai.

Zelmire – filha de um marceneiro com uma dona de casa. Vendida por duas freiras do colégio
católico onde estudava.

Fanny - filha de um desembargador com uma artista plástica. Raptada no enterro do pai.

Hébé – filha de um comerciante e de uma professora de inglês, raptada ao sair de casa para
visitar a avó.

ENTRAM OS MENINOS

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Zelamir – filho de um advogado e de uma médica. Raptado na estrada, quando ia visitar um
parente na região sul do país.

Cupidon – de apenas quinze anos, filho de um advogado e uma artesã. Raptado em uma cilada
preparada quando ia a um passeio da escola, em um Domingo.

Narcisse – filho de um gerente de uma entidade filantrópica e de uma empregada doméstica. A


caminho da escola foi sequestrado.

Zephyr – filho de um empresário de uma multinacional e de uma assistente social. O diretor do


internato onde estudava o vendeu e apesar dos esforços do pai em recuperá-lo, não conseguiu
escapar.

Hyacinthe – filho de um motorista de ônibus e de uma manicure. Sequestrado enquanto passava


férias em uma praia com a família.

E os fodedores:

Hercule – vinte e um centímetros de circunferência por trinta e dois de comprimento.

Antinous – vinte centímetros de circunferência e vinte e cinco de comprimento.

Invictus – vinte e oito centímetros de comprimento por dezenove de circunferência.

Bum Cleaver – possuía uma qualidade muito preciosa e apreciada pelos nossos gastos libertinos.

Além destes, um séquito de damas de companhia, servas de copa e cozinheiras, arrumadeiras e


faxineiras serviram aos propósitos da grande trupe de deboche.

CENA III
REGRAS DO CASTELO DE SILLING

MARQUÊS
E as regras:

AS REGRAS SERÃO ENUNCIADAS PELOS QUATRO LIBERTINOS.

1a regra – É terminantemente proibido aliviar-se de seus excrementos em qualquer local que não
seja a capela.

2a – das duas às três da tarde serão servidas as refeições, e não será admitido nenhum atraso.

3a – às três da tarde será servido o almoço dos libertinos. Estas refeições serão servidas em
escala por alguns dos jovens completamente nus.

4a – os amigos deverão levantar-se da mesa às cinco horas, momento em que passarão para o
salão onde dois meninos e duas meninas, em estado de nudez, lhes servirão cafés e licores.

5a – às seis horas, os senhores passarão para o aposento da assembléia, onde a narradora


contará uma história.

6a – Concluída a refeição da noite, os senhores passarão ao salão para a celebração das orgias.
Todos os presentes estarão nus e seguindo o exemplo dos animais, se tocarão, misturarão,
abraçarão, copularão incestuosamente, adulterosamente, sodomisticamente.

7a – As orgias cessarão precisamente às duas horas da madrugada.

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DUQUE
As penas para aqueles que descumprirem o regulamento sáo severas e seráo aplicadas sempre
aos sábados. E náo se esqueçam: Ninguém na terra sabe que vocës estão aqui, nem amigos ou
parentes. Para o mundo, vocês estão mortos, e se ainda respiram é simplesmente para satisfazer
os nossos prazeres.

CENA IV
POSIÇÃO GEOGRÁFICA

MARQUÊS
Os 120 dias de deboche aconteceram no castelo de Silling. Sua localização era imprecisa e
poucos o conheciam. Atravessava-se a grande floresta densa, mais de quinze léguas após a
travessia do grande rio. Chegava-se entáo em um pequeno povoado, ali começava a propriedade
do Ministro Durcet. O povoado era seu: a população era feita só de ladrões, contrabandistas e
prostitutas. Depois de passada a aldeia, começava a escalada por uma montanha quase tão alta
e iimpossível de se subir se não fosse a pé. Com precípicios por todos os lados, qualquer veículo
estava condenado a cair pelo despenhadeiro. A o chegar ao topo a montanha era dividida em
dois cumes, e entre eles um fosso de 300 metros. Uma ponte entre os dois cumes permitia que
os visitantes chegassem ao castelo. No dia primeiro de novembro, após a chegada de todos os
participantes do deboche, o Ministro ordenou detonar a fina ponte, o que isolou o castelo do
mundo.

MARQUÊS
Muitas extravagâncias que serão vistas aqui podem merecer o seu desagrado. Mas algumas
delas podem atiçar sua imaginação a ponto de lhes propiciar um orgasmo. Se faltar alguma coisa
do seu interesse, não nos recrimine. Pelo contrário, você deve aproveitar o que lhe agrada e
deixar o resto. O espectador ao seu lado fará o mesmo, e assim, todos ficarão satisfeitos. Escolha
como num banquete e deixe o resto para quem se interessar. E seja um filósofo...ou uma filósofa.
Bom espetáculo!

CENA V
CICLO DAS PAIXÕES SIMPLES:
PADRE ETIENNE

DUCLOS – Julie, minha irmã mais velha, era experiente nos caminhos do prazer, uma das
prostitutas mais respeitadas do vilarejo em que nasci. Ela conhecia um libertino que sempre
perguntava por mim e pedia que ela me levasse até ele. No próprio dia do meu aniversário de
nove anos, minha irmã me levou até um canto da igreja, perto da sacristia. Lá estava o padre
Etienne. Mal fechou a porta e me perguntou:

ATOR
Você sabe bater uma punheta, meu garotinho?

DUCLOS
O que é isso, eu nem imagino do que o senhor está falando?

ATOR
Bem, então eu explico, menino levado.

DUCLOS
Disse isso derrubando beijos apaixonados em minha boca e em meus olhos.

ATOR
Meu único prazer neste mundo é educar meninos, e as lições que dou são tão boas, que são
inesquecíveis. Vamos começar por você, por que se vou te ensinar como se deve fazer para me

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dar prazer, é justo que te ensine como recebê-lo. Vamos lá. Abro-lhe a braguilha. O que você tem
aqui?

DUCLOS
Então ele me ensinou como usar as minhas mãos para atingir o orgasmo. E com todo o vigor
imaginável usei a mão como ele me ensinara. Umas vagas sensações começaram a me tocar e
me convenceram a continuar. E o intenso uso que faço deste exercício até hoje me provou a
competência de meu mestre.

ATOR
E agora é a minha vez. Por que o seu prazer desperta meus desejos, e eu preciso simplesmente
compartilhar da mesma sensação, meu anjo. Vamos lá: segure aqui.

DUCLOS
“Pegue aqui, meu filho, isto chama-se um pau, e este movimento chama-se punheta” ele disse. E
apertando seu peito contra o meu, ao mesmo tempo que falava e eu continuava em movimento,
usou suas mãos com tanta habilidade, mexia o dedo no meu rabinho tão bem que o prazer
finalmente me atingiu. E é sem sombra de dúvida a ele que devo minha iniciação. E durante
anos frequentei aquele local, onde o padre Etienne me ensinava a cada dia novas variantes do
prazer. Mas o destino chamou-me, depois, para outro lugar. Eventos mais importantes me
esperavam num mundo novo.

BISPO
Bravo! Bravo! Ah, Duclos, sua história foi absolutamente perfeita para o início dos nossos
trabalhos. Seu amigo padre deve ser um grande homem, sensível aos desígnios da natureza.

MINISTRO
E tão ateu quanto o sr. Bispo.

Risadas. Soa um sino no salão. Ceia disponível.

CENA VI
CICLO DAS PAIXÕES SIMPLES:
O CÍRCULO DE SOPHIE

DUQUE
Mas a masturbação só pode ser usufruída plenamente quando se consegue ter um belo orgasmo
ao final.

MINISTRO
E nisso os homens levam vantagem em relação às mulheres, principalmente as virgens.

BISPO
Nada me dá mais prazer numa menina virgem do que vê-la gozar muito...

PRESIDENTE
Mas provavelmente nenhuma dessas ainda gozou de verdade.

DUQUE
Tenho faro para essas coisas. Reconheço uma virgem que goza pelo olhar.

PRESIDENTE
Quem, entre essas meninas, senhor duque? Seria capaz de identificar pelo menos uma virgem
que pode gozar?

DUQUE
Vossa Excelência poderia apostar que sim. (observa as meninas) Ali, aquela! (aponta
(aponta para
Sophie) ...basta uma bela masturbação feita por libertinos experientes para que ela
experimente o verdadeiro orgasmo.

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O duque ordena aos fodedores de carregá-la até a máquina da masturbação. Ela grita
e tenta se desvencilhar. Pede ajuda às outras vítimas que não reagem. Os fodedores
arrancam suas roupas. Amarrada, os libertinos se aproximam e começam a masturbá-
la. Ela goza abundantemente.

MINISTRO
Apesar de meninas não serem a minha preferência, admito que o orgasmo da pequena me
deixou com muito tesão.

DUQUE
E agora, nada mais justo do que todas estas crianças aprenderem conosco como fazer bem as
coisas.

CENA VII
CICLO DAS PAIXÕES SIMPLES: ORGIA

Uma grande orgia dos libertinos.

MARQUÊS
Nessa noite, dedicaram-se aos prazeres da masturbação, em tantas variantes quantas a
imaginação pode criar. Afinal, a masturbação é o reino onde tudo se torna possível e todos os
nossos desejos podem se realizar plenamente.

MINISTRO
Ah, o vinho! Os truques de Dionisio sempre nos dão sentidos mais apurados, satisfazendo pelos
excessos, potencializam nossa luxúria.

DUQUE
Nada pode ser mais natural do que o deboche. E quanto maiores as nossas extravagâncias,
melhor servimos ao criador de todos nós.

Duque cai alcoolizado. Bispo faz sinal para fodedores o carregarem. Fodedores
carregam-no completamente alcoolizado para os seus aposentos.

PRESIDENTE
Durma em boa companhia, amigo Duque!

Orgasmos variados dos três libertinos na companhia das vítimas. Duclos assiste a
tudo e se masturba. Lagrande também.

CENA VIII
CICLO DAS PAIXÕES SIMPLES
QUARTO DAS MENINAS E CRIME NA CAPELA

Meninas estão dormindo. Augustine e Bum Cleaver estão se beijando. Sons. Bum
Cleaver sai e meninas ficam a sós. Tramam uma fuga. Cupidon assiste ao diálogo e
delata o plano a Duclos, e ambos se aproximam mas voltam todos a dormir. Hébé reza
na capela. Zelamir se aproxima e faz suas necessidades. Libertino espia
silenciosamente e depois ataca as duas vítimas

ZELAMIR
Você não pode fazer isso aqui.

HÉBÉ
Você também não.

Ela volta a rezar.

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ZELAMIR
Você ainda tem esperança.

Zelamir vai até ela e pede para ela parar de rezar.


ZELAMIR
Pára. Pára com isso.

HÉBÉ
Reza comigo. Reza comigo. É o único jeito.

Zelamir e Hébe se atracam. Ela reza cada vez mais alto.

ZELAMIR
Eles vão matar a gente.

Ela desiste de lutar. Ele a abraça e se beijam. Entra Bispo

BISPO
(bate palmas) Lindo! O que as minhas crianças estavam fazendo.

Ele aponta para ela e desiste. Ela sussurra Não.

BISPO
O que ela fez? Conta prá mim.

ZELAMIR
O senhor quer ver o que eu aprendi? Eu aprendi. Eu aprendi. Faço o que o senhor quiser.

BISPO
Calma, criança! Calma!

Bispo vê o papel higiênico e pega. Cheira e diz:

BISPO
Vocês se amam, vocês querem se casar, que lindo!

Bispo joga Zelamir aos pés de Hébé. Pega Hébé e diz.

BISPO
Vem!

HÉBÉ
Não!

BISPO
Postura!

Bispo obriga os dois a cheirar o papel higiênico.

BISPO
Então vos declaro marido e mulher. Beija!

Eles se beijam.

BISPO
Enfia a cabeça dele na merda.

BISPO
Olha o teu maridinho! Agora reza! Reza putinha!

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BISPO
Olha o teu maridinho. Vai. Agora apaga a vela no cu dele.

Ficam no escuro.

BISPO
O escuro estimula os meus sentidos.

Grito da Hébé. Som de candelabro batendo na cabeça. Corpo cai. Bispo acende o candelabro e
um cigarro. Fim.

BISPO
Rezem! Rezem em silêncio até o juízo final!

CENA IX
CICLO DAS PAIXÕES SIMPLES:
A INSPEÇÃO DAS VÍTIMAS

Os quatro libertinos observam os jovens alinhados, mostrando seus pinicos vazios.

MARQUÊS
Alguns acontecimentos podem destoar do tom do primeiro mês das festas. Nem tudo o que
aconteceu nesse período deve ser exposto aqui. Outros fatos, por outro lado, não podem ser
narrados simplesmente por haver discordância entre os testemunhos dos presentes. Mas era
hábito, e nisso estavam todos de acordo, de que pela manhã, os libertinos sempre conduziam a
inspeção e observação dos jovens.

Libertinos ordenam o alinhamento dos jovens com seus respectivos penicos. Analisam
minuciosamente cada penico e estipulam punições para Fanny e Narcisse, que haviam
desobedecido às ordens.

MINISTRO
Duas punições para o sábado.

CENA X
CICLO DAS PAIXÕES SIMPLES:
OBSERVAÇÕES DO MARQUÊS

MARQUÊS
As festividades do Castelo de Silling foram divididas em quatro ciclos. Os acontecimentos que
vocês acabaram de ver fazem parte do primeiro deles, o Ciclo das Paixões Simples. Talvez estas
cenas sejam explícitas demais e possam perturbar as sensibilidades mais frágeis. Mas posso
garantir que, até o final deste ciclo, nenhuma criança foi deflorada, como diziam claramente as
regras.

CENA X

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CICLO DAS PAIXÕES SIMPLES:
FIST FUCKING

DUCLOS
Transferi-me para um prostíbulo da capital quando tinha quatorze anos. E lá tive uma experiência
fantástica com o meu primeiro cliente. Minha irmã me apresentou a ele. Era um lobbysta da
indústria da construção e tinha fortes conexões com o governo. Atarracado, de cerca de quarenta
e cinco anos, baixo, forte mas enérgico e disposto. Quiseram me apresentar ao homem, pois ele
sempre se excitava com meninos afeminados que usassem saias mas ainda não tivessem peitos.
Logo que ficamos a sós, foi levantar a minha saia e oferecer a minha bunda para ele reagir com
pavor:

ATOR
Meu Deus, querido, nada disso, por favor. Esconda isso.

DUCLOS
Puxou-me e disse:

ATOR
Essas putazinhas. Que falta de criatividade.

ATRIZ
Então o que quer que eu faça?

DUCLOS
Chame sua irmã, ele respondeu. E deitou-se na cama, ficou de costas para mim. Entendi o que
dizia, trouxe minha irmã até o quarto e exibiu-se com aquela velha bunda flácida e
encarquilhada. Ela introduziu cinco dedos naquele orifício e começou a torcê-lo, forçá-lo e
atormentá-lo com tanta força que a cama gemia.

Sons de cama rangendo feitos por outro ator.

DUCLOS
Nosso homem retorceu-se, contraiu-se, seguiu os movimentos da mão de minha irmã, e dedicou-
se com luxúria àquele abuso, exclamando:

ATOR
Estou gozando, estou gozando. Ah, esse é o maior prazer que pode haver.

DUCLOS
Levou realmente uma surra furiosa, minha irmã transpirava muito.

OUTRA ATRIZ
Mas que coisa branda! Que falta de imaginação!

DUCLOS
Minha irmã se foi depois dessa noite, para trabalhar em outro local onde ganharia mais. E eu
fiquei sozinha ali.

DUQUE
Um momento! Demorei a interromper, até você fazer uma breve pausa, chegou o momento.
Gostaria de mais informações sobre dois pontos: você nunca mais encontrou sua irmã? e você
voltou a trabalhar para o libertino?

DUCLOS
Nunca mais tive notícias dela.

PRESIDENTE
E sobre o libertino?

DUCLOS

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Sim, aprendi o ofício de minha irmã e me dediquei à sua mania com muita técnica. Recebia uma
bela remuneração pelo serviço, até sua morte.

MINISTRO
Passemos, por favor, ao salão, onde poderemos realizar o matrimônio dos jovens.

CICLO DAS PAIXÕES SIMPLES:


CASAMENTO DOS VIRGENS

O Duque, representando o pai da noiva, e Curval, representando o pai do noivo. Os


noivos estão extraordinariamente impecáveis em suas roupas de cerimônia, mas
também inversamente, o menino vestido de menina e a menina usando roupas de
rapaz.

BISPO
Por favor, ajoelhem-se!
Estamos aqui reunidos para o enlace matrimonial de Fanny e Narcisse. Narcisse, aceita Fanny
como se legítimo esposo, e promete desrespeitá-lo, maltratá-lo, arrombá-lo e sufocá-lo até que a
morte os empale? (imitando uma voz afeminada) Sim!
E Fanny, aceita Narcisse como sua legítima esposa e promete desrespeita-la, maltrata-la, cornea-
la e esfaquea-la até que a morte arreganhe a sua boceta? (voz bem masculina) Sim!
Sendo assim, eu vos declaro marido e mulher.
Pode beijar a noiva.

Após a cerimônia, os libertinos deixam as crianças a sós. Elas começam a se beijar e


abraçar. Os libertinos entram e abusam dos corpos dos noivos. Mas de acordo com
orientação do Ministro “só nas coxas”. Após o abuso, o Ministro atira o buquê da
noiva para o Presidente, que exclama: “Cerimônias de casamento me emocionam.”

Cena XI
CICLO DAS PAIXÕES COMPLEXAS:
ABERTURA DO MARQUÊS

MARQUÊS
Em primeiro de dezembro, os libertinos iniciaram entusiasmados o segundo período: o Ciclo das
Paixões Complexas, composta por cento e cinqüenta complexas. Passaram o mês a ouvir as
narrações de Madame Desgranges, intercaladas pelos escandalosos feitos ocorridos no Castelo
durante esse mês. Tudo anotado sob a forma de um diário.X

Cena XII
CICLO DAS PAIXÕES COMPLEXAS:
CENA DO VELÓRIO

DUQUE
Antes de iniciar, gostaríamos que você nos apresentasse a parte mais famosa do seu corpo,
Desgranges, conhecida em todo o país.

Desgranges exibe um dos seios.

DUQUE
Não deixa de ser belo, mas não é a essa parte que me refiro, Desgranges.

Desgranges exibe a boceta.

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DUQUE
Você é uma grande cínica. Me refiro ao seu rabo, Desgranges.

Desgranges exibe o rabo. Explodem em aplausos.

DESGRANGES
Havia um determinado cavalheiro, dono de um grande banco com agências espalhadas por todo
o país, que me pagava cem moedas de ouro por cada cadáver fresco de menina virgem que eu
conseguisse arrematar de coveiros em cemitérios públicos. Seu único prazer consistia em ir
comigo até a pequena morta, e uma vez ali instalados, queria chupar a minha boca enquanto
penetrava a boceta da pequena morta até gozar. Era um homem de cerca de trinta e cinco anos
e foi meu cliente por quase dez anos. Tenho certeza que, durante o período de nossa
colaboração, eu fiz o homem gozar em pelo menos dois mil corpinhos.

DUQUE
Mas ele não dizia nada durante o ritual? Não falava com você?

DUCLOS
Não.

DUQUE
Nem com o morto?

DUCLOS
Dizia tantos palavrões ao cadáver, gritava e xingava muito.

ATOR
Toma, desgraçada, toma, bandida, vagabunda, filha da puta, leva meu esperma contigo para o
inferno.

PRESIDENTE
Uma mania muito rara, sem dúvida.

DUQUE
Meu amigo, pode Ter certeza de que esse homem era como nós, e sem dúvida não ficava por aí.

BISPO
Que coisa! Como isso me provoca uma reação. E se tivesse que me confessar aqui e agora,
garantia-lhes que já fiz a mesma coisa. Já estou de pau duro...Abre as pernas, menino.

MINISTRO
Aposto que está imaginando o menino morto, Bispo.

BISPO
Claro, caso contrário, como é que eu ia ficar assim, de pau duro?

DUQUE
Tenho uma idéia melhor. Vem

Duque arrasta o menino para fora. Libertinos o seguem. Ouve-se um grito lá dentro.
Entra o fodedor carregando o cadáver do menino. As outras vítimas se aproximam do
cadáver, alguém chora. Entram os libertinos vestidos de carpideiras, chorando e
lamentando. Aproximam-se do cadáver do menino. Começam a se masturbar. Falam
palavróes e o chamam de puta, ordinária, vagabunda. E afinal, ela deve levar o
esperma dos libertinos para o céu, de onde ela nunca deveria ter saído. Libertinos
saem, vítimas ficam sozinhas e atônitas diante do cadáver. Cadáver se levanta e
abraça um dos amigos.

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Cena XII
CICLO DAS PAIXÕES COMPLEXAS:
O BAILE

MINISTRO
Adoro percorrer os largos corredores dos palácios do poder. Os libertinos podem se encontrar
casualmente, agendar festas e orgias, patrocinar falcatruas com a maior tranqüilidade. E não
pensem vocês que por pertencermos a partidos diferentes, não podemos ser amigos. Eu, por
exemplo, sempre que meu partido assume o poder, encaixo meus amigos corruptos em belos
cargos no governo, pouco visíveis aos olhos do público mas altamente rentáveis em contratos
ilícitos. E não faço isso por benevolência ou caridade, mas simplesmente por interesse próprio,
pois quando meu partido está fora do poder e os adversários assumem, são eles que me ajudam
a encontrar um belo lugar na máquina do Estado. Afinal, estamos ali para servir o Estado, mas
como o Estado existe para nos servir, torna-se evidente que fazemos tudo pelo nosso próprio
bem. Naturalmente, neste esquema delicioso do poder, devemos dar algumas esmolas ilusórias
aos miseráveis e sempre fazer belos discursos exaltando as qualidades do bem comum,
justamente a fim de mantê-los no seu devido lugar, para que possamos extorquir o máximo da
burocracia do Estado. Afinal, é a partir disso que podemos realizar orgias exuberantes como
esta.

Realiza-se o baile. Todos os jovens, os fodedores, as contadoras de histórias,


executam uma quadrilha. Todos os participantes do baile estão nus. Nossos devassos,
reclinando-se indolentes em sofás, divertem-se deliciosamente com todas as
diferentes belezas e as atitudes dos dançarinos. E infâmias ocorreram durante o
baile.

CICLO DAS PAIXÕES COMPLEXAS:


CENA ÁRABE

DUQUE
Como é que alguém pode ser feliz quando pode satisfazer constantemente todos os seus
desejos? A felicidade não consiste na consumação do desejo, mas no próprio desejo, no
movimento para a remoção dos obstáculos colocados na frente do que se deseja. Mas o que
fazemos aqui neste castelo? Aqui só precisamos desejar para ter. Juro: desde que cheguei aqui,
não gozei nem uma vez por causa dos objetos do castelo. Todas as vezes gozei pelo que não está
aqui, pelo que está ausente deste lugar. Assim, acredito que falta uma coisa essencial na nossa
felicidade. É justamente o prazer da comparação, prazer que só existe a partir da observação de
pessoas desgraçadas. É poder ver aqueles que nem em sonhos desfrutam do que eu posso
desfrutar. Onde quer que os homens possam ser iguais, e onde não houver diferenças, a
felicidade também nunca vai poder existir.

MINISTRO DURCET
Porisso, nosso país possui alguns homens poderosos e uma multidão de miseráveis. Os nossos
poucos privilegiados são dos mais felizes do mundo. Eles podem ver todos os dias, nas ruas, os
miseráveis e na comparação dizer: “Como somos felizes!”

BISPO DEPUTADO
Quantas vezes vi meu irmão sorrir de alegria através do vidro fumê do seu carro em um
semáforo qualquer da madrugada, ao ver meninos implorando alguma esmola.

DUQUE
O meu prazer deixaria de existir se não fossem pequenos privilégios como esse. Se eu me
dedicasse a libertar essas crianças do estado de miséria, estaria proporcionando aos coitados um
instante de felicidade. Assim acabaria o prazer proporcionado pela comparação.

13
MINISTRO DURCET
Portanto, em nome da felicidade, devemos sempre agravar ainda mais a situação dos
miseráveis.

DUQUE
E por acaso vossa Excelência tem alguma dúvida a respeito? Isso explica as infâmias de que me
acusam. Os que ignoram meus motivos me chamam duro, feroz, bárbaro, mas rindo disso tudo,
continuo a cometer essas atrocidades em nome da comparação que me dá o verdadeiro prazer.
E pratico o mal simplesmente por isso, apenas em nome do prazer.

PRESIDENTE DE CURVAL
Confesso que adoro essa sensação. Uns dois meses atrás, uma mulher acusada de roubar frutas
de um pequeno mercado caiu nas minhas mãos. Tinha três filhos e confessava que havia
roubado porque os filhos estavam passando fome. O marido era alcoólatra e desempregado e ela
não conseguia atender sozinha as necessidades da casa e dos três filhos. Os advogados de
defesa imploravam: Pobre mulher, senhor juiz, ela é uma boa mãe e não tinha o que dar aos
filhos. As crianças estavam condenadas a morrer de fome se a mãe não tivesse roubado. Eles
suplicavam para não condená-la e que seria uma ação cruel e desumana, apesar de legalmente
justa. Não tive dúvidas: condenei a desgraçada a quatro anos e meio de prisão. Essa é a justiça
que me interessa. A que preserva os miseráveis em sua condição. E humilha ainda mais a todos.
Isso, sim, me deixa com muito tesão.

CICLO DAS PAIXÕES COMPLEXAS


CENA DO QUARTO DOS MENINOS

Som de nevasca. Os jovens estão adormecidos.

MARQUÊS
Um imenso manto de neve encheu o vale ao redor do castelo de Silling. Parecia proibir até os
animais selvagens de se aproximarem do esconderijo de nossos safados.

DUQUE
(aproximando-se do quarto das crianças) Estou sozinho aqui, estou no fim do mundo,
afastado de todos os olhares. Aqui ninguém pode me alcançar, não há criatura que possa vir até
aqui: não há limites, por isso, não há barreiras: sou livre!

Duque afasta-se do quarto. Jovens dormem. Um dos jovens acorda e começa a


masturbar um colega. Os dois brigam e depois começam a se masturbar mutuamente.
O Ministro os pega desprevenidos.

MINISTRO
O que significa isso? Não conhecem as regras?

Os meninos tentam falar mas sua voz só é audível para o Ministro.

MINISTRO
Desculpas, desculpas, desculpas e mais desculpas. Duas punições para sábado.

CICLO DAS PAIXÕES COMPLEXAS


CENA DO CHICOTE

Os fodedores Invictus, Hercule e Antinous chicoteiam Narcisse, Fanny e Zelmire.


Enquanto isso, o Duque se espreguiça ao lado do piano.

DUQUE

14
Cento e cinquenta e dois! (chicoteiam) Cento e cinquenta e três! (chicoteiam) Cento e
cinquenta e quatro! (chicoteiam)

Duque observa os três fodedores e pára.

DUQUE
Chega, chega! (para as vítimas) Então vamos fazer o coro agora.

Duque chicoteia os três.

DUQUE
É só repetir o coro. Só isso o que peço.

FANNY
Deus, seu filho da puta, vem chupar meu cu!

DUQUE
Viu, viu como era fácil. É só isso. Era só repetir. Que voz deliciosa! Como você está maravilhosa,
Fanny. Como todos vocês são maravilhosos. Eu só posso me arrepender de tudo o que fiz com
criaturas tão deslumbrantes. Eu mereço um castigo. Soltem eles todos!

Os fodedores soltam as vítimas.

DUQUE
(para Fanny) Meu castigo, qual é? Diz o castigo que eu mereço.

FANNY
Desgraçado, chupa o ranho do meu nariz!

Duque chupa o ranho do nariz de Fanny.

DUQUE
E você, doce Narcisse, diz, diz, me castiga!

NARCISSE
Filho do Demo! (cospe na cara do Duque, que se excita)

DUQUE
(para Zelmire)
Zelmire) Zelmire, doce e meiga Zelmire, me condena, me condena ao pior dos castigos!
Eu mereço, eu fui muito muito mau.

Os outros libertinos se aproximam e ficam horrorizados.

ZELMIRE
Chupa o sangue da minha boceta, maldito!

DUQUE
Não vou chupar essa boceta pobre. Só se eu for obrigado. Só obrigado.

Hercule chicoteia o Duque por três vezes.

HERCULE
Bicha velha! Verme magricelo!

Duque atinge o orgasmo ao chupar a boceta de Zelmire. Aos poucos vai se


recompondo. Levanta-se.

DUQUE
Tá vendo? Tá vendo? Tá vendo como tudo é uma questão de posição e oportunidade. Vai, leva prá
fora esses três. Fodam com os três.

15
Vítimas são arrastadas para fora por fodedores.

DUQUE
Hercule!

Hercule volta.

DUQUE
Agora é a minha vez. (Duque se amarra e espera ser chicoteado por Hercule) Eu queria
agradecer a todos os grandes homens que manipularam a humanidade criando deuses para
adorar e subjugá-los. Jesus Cristo! Maomé! Buda! Oxossi!

Desamarra-se.

DUQUE
Chama a japonesa. Vai, japonesa, toca. Traz a japonesa aqui, Antinous.

Antinous entra com Hyacinthe.

DUQUE
Aliás, Antinous. Vem aqui!

Antinous se aproxima.

DUQUE
Você gostou da minha interpretação?

ANTINOUS
Com certeza. Muito convincente, senhor Duque.

DUQUE
Obrigado. Obrigado. Sabe...eu até tinha pensado de durante a cena pedir desculpas a você pelos
quatro séculos que a minha família enriqueceu abusando da tua raça, escravizando teus
antepassados e estuprando tuas tatataravós todas. Mas no final, achei que não ia ficar muito
verossímil. Entende?

ANTINOUS
Perfeitamente.

DUQUE
E agora, eu quero dançar contigo, Hercule. Vamos dançar porque hoje estou sensível.

CICLO DAS PAIXÕES COMPLEXAS


CENA DA TENTATIVA DE FUGA

Corredor escuro do castelo. Augustine e Bum Cleaver tentam fugir. Ministro e Cupidon
os aguardam.

AUGUSTINE
Aqui! Onde é que você está?

MINISTRO
Aqui! Aqui!

Bum Cleaver, percebendo se tratar do Ministro, foge. Menina fica só. Aproxima-se do
Ministro que a pega de surpresa. Ela se assusta.

MINISTRO

16
E você, Cupidon, caluniadorzinho barato. Vai receber tantas chicotadas quanto ela. (dá-lhe um
tapa na cara)

Cena XIV
CICLO DAS PAIXÕES CRIMINOSAS:
CENA DOS QUATRO LIBERTINOS FERAS

DESGRANGES
Quatro famosos libertinos da capital federal, ligados por seus negócios ilícitos com um poderoso
Ministro de Estado, tinham um hábito extremamente curioso, que repetiam com regularidade. Ao
final de cada mês, solicitavam que eu trouxesse uma menina virgem de quinze anos à mansão
que tinham comprado especialmente para esse deboche. Vestiam-se de animais selvagens, e ao
entrar no quarto esbofeteavam a menina, batiam-lhe e davam-lhe pontapés até ela cair.
Prostrada no chão, os libertinos animais se aproximavam uns dos outros aos urros, ganidos e
outros sons bestiais, masturbavam-se mutuamente e gozavam em cima do corpo da pobre
menina. Depois a abandonavam ali, jogada, e toda coberta de esperma. E só retornavam à casa
um mês depois, para cometer os mesmos crimes com uma nova menina.

Os fodedores fazem uma coreografia baseada no relato anterior, com Sophie como
vítima.

Cena XVI
CICLO DAS PAIXÕES COMPLEXAS:
CASAMENTO DO LIBERTINO

BISPO
Como todos sabem, sou deputado federal. Talvez até algum de vocês tenha votado em mim, ou
em algum dos meus colegas da Assembléia Nacional. E defendo ardentemente a democracia. Ela
é a máscara mais adequada para esconder as diferenças descomunais entre nós. Assim
podemos ser sempre poderosos fingindo ser iguais aos pobres. E quanto mais os miseráveis
vivem na ilusão de que são iguais a nós, mais podemos abusar do poder que o Estado nos
propicia. E ao final, aos fracos só lhes resta o direito de votar em algum de nós. E o melhor de
tudo é que todos nós podemos dizer: “Somos todos cidadãos”, mas eles sempre foram ensinados
a esquecer de perguntar: “De que tipo?”

DUCLOS
(se aproxima) Podemos iniciar a cerimônia, senhor Bispo?

BISPO
Certamente, Duclos. Música.

O Ministro Durcet se aproxima num lindo vestido de noiva. O fodedor noivo se


aproxima.

BISPO
Hoje é um dia de grande felicidade para a nossa comunidade pois celebraremos o matrimônio do
Presidente Curval, doravante a noiva, e seu fodedor Invictus, doravante o noivo.
Presidente Curval, aceita o fodedor Invictus como seu legítimo esposo, e promete sodomiza-lo,
trai-lo e humilha-lo até que a morte os separe?

PRESIDENTE
Sim!

BISPO

17
Fodedor Invictus, aceita o presidente Curval como sua legítima esposa e promete arromba-la,
sevicia-la, corrompe-la até que a morte os separe?

INVICTUS
Sim.

BISPO
Se alguém tiver algo contra essa união, manifeste-se agora ou cale-se para sempre! O que Deus
uniu, só uma boa foda separa! as alianças... Pode beijar a noiva! Agora, o coral da nossa igreja!

O Ministro se aproxima das vítimas e faz o coral cantar.

MARQUÊS
E de acordo com o ciclo das paixões complexas, os quatro libertinos puderam realizar os
defloramentos que há tanto desejavam em uma seqüência de orgias fantásticas, e cada um dos
jovens foi submetido aos seus prazeres

Apresentam-se as vítimas

ENTRAM AS MENINAS

Augustine
É deflorada pelo Duque, que está grandemente apaixonado por ela há semanas, e ele goza três
vezes nela.

Sophie
Deflorada pelo Presidente de Curval pela frente e pelo Bispo por trás, na mesma noite.

Zelmire
O seu cabaço posterior é tirado pelo Duque, um dia depois do o Bispo seu irmão a ter deflorado
pela frente, no meio de palavrões e xingamentos

Fanny
O Presidente a obriga a cagar em sua boca antes de a possuir pela frente.

Hébé
O Duque e o Presidente cagam em sua boceta e em seu ânus antes de deflorá-la

ENTRAM OS MENINOS

Zelamir
Enquanto enrabava o Ministro, o Bispo deflora seu cu.

Cupidon
É chicoteado duzentas e cinqüenta vezes por três fodedores, antes de ser deflorado pelo Ministro
Durcet com um consolo de 38 centímetros

Narcisse
Deflorado pelo Bispo enquanto este ria e xingava Deus em vários idiomas,

Zephyr
Possuído por dois fodedores, em penetração dupla, enquanto o Duque se fazia masturbar por
ambos.

Hyacinthe
Teve seu rabo fustigado por cento e vinte chicotadas. Após o Ministro cagar em seu ânus, o
Duque o comeu sem pomada.

CENA DAS PAIXÕES CRIMINOSAS:

18
CENA DAS NARRADORAS COMENDO PETISCOS

Duclos se aproxima do vaso de merda. Come. Desgranges se aproxima.

DESGRANGES
Você tem alguma coisa prá me contar?

DUCLOS
Eu pensava que você tivesse alguma coisa prá me contar.

DESGRANGES
Eu estava passando pelo corredor, e por debaixo da porta do quarto do Ministro Durcet eu vi uma
luz...Du, mas que cabelo mais lindo...o que é que você passou?

DUCLOS
Imagina? Vai continua.

DESGRANGES
Daí eu estava passando pela porta do quarto do Ministro, quando eu vi a luz...

DUCLOS
Des, mas que pele mais linda...o que é que você passou?

DESGRANGES
Imagina? Então eu estava te falando, eu passei pela porta do quarto do ministro e então eu vi a
luz...Du, mas que dentes mais lindos...o que é que você passou?

DUCLOS
Imagina? Vai continua...

DESGRANGES
E daí eu tava passando quando eu vi...

DUCLOS
Mas Des, que lábios mais lindos, o que é que você passou?

DESGRANGES
Imagina!

As duas começam a se cheirar.

DESGRANGES E DUCLOS
(juntas)
(juntas) Que perfume mais gostoso! O que é que você passou?

As duas riem.

Cena XIV
CICLO DAS PAIXÕES CRIMINOSAS:
CENA DO CHÁ

DUQUE
Muito inteligente é a criatura que percebe que a gratidão é um absurdo, uma alucinação, nunca
se deve permitir que os laços de amizade nos façam parar ou mesmo suspender os efeitos do
crime.

MINISTRO DURCET
Tão verdadeiro que nunca se verá um homem sensato fazer com que os outros lhe fiquem
gratos. É certo que a benevolência só cria inimigos e os sábios só praticam as artas que sua
sabedoria aprova para sua segurança.

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BISPO
Quem nos serve não procura dar-nos prazer, mas antes se esforça por ganhar influência sobre
nós, tornando-nos devedores. Bem pergunto, que merece um esquema assim?

MINISTRO DURCET
Essas reflexões parecem-me provar abundantemente que é absurda a prática do bem, pois quem
o faz sempre pensa em proveito próprio. Está certo que os pobres de espírito gozem através de
sua fraqueza de tais prazeres, mas aqueles que se revoltam com eles, como é o nosso caso,
seriam uns consumados idiotas se prestassem atenção a coisas tão tépidas.

PRESIDENTE
É sempre melhor foder o homem do que tentar compreendê-lo.

Cena XIX
CICILO DAS PAIXÕES ASSASSINAS:
CENA DO JOGO DE CARTAS DOS FODEDORES

INVICTUS
Quantos dias faltam?

ANTINOUS
Um mês.

HERCULE
Ainda?

BUM CLEAVER
Não vejo a hora.

HERCULE
E eu?

INVICTUS
Encheram a cara ontem. Tive que carregar dois.

ANTINOUS
Ainda bem...pelo menos agora podemos jogar um pouco.

HERCULE
Eu estava fazendo as contas... Gozei mais de quatrocentas vezes aqui no Castelo.

ANTINOUS
É. Eu também...Por aí.

BUM CLEAVER
Eles me fodem mas eu fodo muito mais.

Risada geral. Um rouba nas cartas.

HÉRCULE (debochando do Duque)


É terminantemente proibido trapacear no jogo antes de aliviar-se de seus excrementos.

BUM CLEAVER (debochando do Ministro)


Apesar de meninas náo serem a minha preferência, admito que o orgasmo da pequena me
deixou com muito tesáo.

ANTINOUS (debochando do Presidente)

20
Vamos resolver essa questão incestuosamente, adulterosamente, sodomisticamente.

INVICTUS (debochando do Bispo)


Tudo o que faço é ... prá foder o nosso povo.

Cena XV
CICLO DAS PAIXÕES CRIMINOSAS:
APRESENTAÇÃO DO MARQUÊS

MARQUÊS
E então, no mês de janeiro ocorreu o ciclo das 150 paixões criminosas. Durante esse mês, as
narrações de Madame Desgranges são intercaladas com os feitos escandalosos dos libertinos no
Castelo de Silling, feitos que são sempre criminosos, mas que nunca chegariam ao assassinato.

Cena XV
CICLO DAS PAIXÕES CRIMINOSAS:
CENA DAS PUTAS E DO ALUCINÓGENO

DESGRANGES
Havia um libertino, muito conhecido funcionário de carreira de uma Embaixada, que se deliciava
com um perverso jogo. Ele me pedia para lhe enviar todos os meses uma menina nova, dessas
que estivessem ainda no início da vida na prostituição. Tratava-a com gentileza e depois de uma
bela ceia, levava-a para o quarto e a obrigava a engolir um alucinógeno que soltava sua
imaginação. Após algum tempo, a jovem ficava totalmente embriagada em seus sentidos, e ele a
conduzia a acreditar em ferozes alucinações, criando imagens em sua mente. Ela imagina que o
quarto está sendo inundado, vê a água subir, sobe numa cadeira, mas a água continua subindo,
já a atinge e ele lhe diz que sua única alternativa é pular e nadar. A menina mergulha, mas cai
no chão de pedra e se fere gravemente. Ele se delicia beijando-lhe a bunda, enquanto sua
cabeça escorre rios de sangue. É neste ponto que o libertino goza. E goza muito.

Duque recebe três das jovens vítimas completamente drogadas e propõe um jogo
perverso com elas. Sufoca-as enquanto as sodomiza, juntamente com seu irmão o
Bispo e um dos fodedores.

Cena XVII
CICLO DAS PAIXÕES ASSASSINAS:
CENA DO BANQUETE DO ABORTO

MARQUÊS
E para celebrar o início dos trabalhos do último ciclo, os libertinos organizaram um belo
banquete, repleto de iguarias exóticas e inesperadas e vinhos de qualidade superior. Tal
banquete deveria honrar o início do ciclo das paixões assassinas. Comam! Bebam! Comam!
Bebam! E divirtam-se muito.

Têm lugar o banquete, durante o qual o feto será arrancado de Constance.

PRESIDENTE CURVAL
Há apenas dois ou três crimes a cometer neste mundo, e esses, uma vez praticados, nada mais
há a dizer. Tudo o resto é inferior, deixa-se de sentir. Ah, quantas vezes, por Deus, não desejei
ser capaz de assaltar o sol, arrebatá-lo do universo, fazer a escuridão geral, ou usar essa estrela
para queimar o mundo! Ah, isso seria um crime, oh sim, e não um pecadinho como os que
praticamos que se limitam num ano inteiro a metamorfosear uma dúzia de criaturas em pedaços
de barro.

21
Cena XX
CICLO DAS PAIXÕES ASSASSINAS
A DANÇA DE AUGUSTINE

O duque fará 58 ferimentos em suas nádegas e deitará óleo a ferver em cada chaga. Enfiarão
um ferro quente em sua boceta outro em sua bunda e foderão seus encantos feridos.
A carne será tirada dos ossos de seus braços e de suas pernas, seus ossos serão serrados em
diversos lugares, os nervos serão expostos e as pontas atadas a um pequeno torniquete que
será torcido.
A agonia de Augustine é inaudita. Pausa. Ela recuperará as forças e eles retomarão o trabalho.
Os nervos já expostos serão raspados com o fio da navalha. Um buraco será feito em sua
garganta, a língua empurrada para trás e passada pelo orifício. O que gerará um efeito cômico.
O Bispo enfiará a mão em sua boceta e rasgará a parte que separa o ânus da vagina. Remexerão
em suas entranhas e a farão cagar pela boceta.
Rasgarão-lhe as orelhas, queimaram a passagem nasal, cegaram seus olhos com lacre derretido,
recortarão o seu crânio, pendurarão-na pelos cabelos, amarrarão pesadas pedras aos seus pés,
deixarão-na cair. A tampa do crânio continuará a balançar.Ainda respirará.
Então o presidente ateará fogo às suas entranhas e, de escalpelo em punho, cavará seu peito e
fustigará seu coração.
Sua alma foge de seu corpo. Aos 14 anos e oito meses perecerá uma das criaturas mais divinas
feitas pela hábil mão da natureza.

Cena XX
CICLO DAS PAIXÕES ASSASSINAS:
REFLEXÕES SOBRE DE LA BOÉTIE

Augustine dança. Durante sua dança, uma vítima descreve as atrocidades a que será
submetida. Uma outra vítima, Cupidon, a delata. Libertino chega e a arrasta.

ATOR
Pobre gente miserável, deixam roubar seus campos e devastar suas casas! Vivem como se nada
mais fosse deles. E não são os inimigos que fazem despencar toda essa ruína sobre eles.

OUTRO ATOR
Esse senhor porém só tem dois olhos, duas mãos, um corpo e nada mais. A única coisa que
possui a mais são os meios que essa pobre gente lhe deu para destruí-los. Mas ele teria algum
poder se não viesse de nós? Que mal ele poderia nos fazer se o povo não fosse traidor da sua
própria liberdade?

OUTRO ATOR
Vocês semeiam seus campos para que ele os devaste; preparam suas casas para receber e
alimentar sua ladroagem; educam suas filhas para que ele possa saciar sua luxúria; alimentam
seus filhos para que ele os transforme em soldados.

ATORES
Não o derrubam porque pensam como ele? Porque acham justas as injustiças que ele comete?
Porque se acostumaram a pensar como ele? Ou porque têm medo do poder, poder que vocês
mesmos lhe concederam? Ou ainda porque são como hienas à espera das migalhas mesquinhas
que seu representante vai abandonando pelo caminho?

ATOR

22
Ele não precisa ser enfrentado nem atacado. É simplesmente perder sua sustentação e todos
podem ver como um gigante de barro desaba com seu próprio peso e se quebra.

Cântico de lamento por todos os atores.

UM ATOR
Não são as armas que defendem um líder corrupto, mas sempre quatro ou cinco homens que o
apóiam e que para ele sujeitam o país inteiro. Sempre foi assim. Tão bem esses cinco ou seis
domam seu chefe, que ese se torna mau para com a sociedade, não só com suas próprias
maldades, mas também com as deles. Esses seis têm seiscentos que, debaixo deles, domam e
corrompem, como corromperam o tirano. Esses seiscentos mantêm sob sua dependência seis
mil. Grande é a série dos que vêm depois deles. E quem quiser seguir o rastro não verá os seis
mil, mas cem mil, milhões que por essa via se agarram ao tirano, formando uma corrente
ininterrupta que sobe até ele.
Assim o tirano subjuga os súditos uns através dos outros. É guardado por aqueles de quem
deveria se guardar. Não que eles mesmos não sofram com sua opressão, mas esses, contentam
em suportar o mal para também fazê-lo, não àquele que lhe faz mal, mas aos outros, ao resto,
que nada podem fazer.

TODOS
Afinal, quando a sociedade inteira comete as mesmas faltas, geralmente estas são perdoadas.

Cena XX
CICLO DAS PAIXÕES ASSASSINAS:
CARNAVAL DE SANGUE

MARQUÊS
Na manhã do último dia, realizaram-se os preparativos mais requintados para a grande festa de
Carnaval. No dia 28 de fevereiro, ao final das 120 Jornadas, e percebendo que as neves não se
tinham derretido, os Senhores resolvem dar por encerrado o deboche. Estavam satisfeitos com
as orgias e esperavam apenas a conclusão dos trabalhos finais do ciclo das paixões assassinas.

Entram as vítimas. Vestidas para um baile de carnaval.

ZELMIRE
Em sua boceta enterram um ferro em brasa, seis ferimentos são feitos em seus seios, uma dúzia
em suas coxas, agulhas são espetadas a grande profundidade em seu umbigo, cada amigo aplica
vinte violentos socos em seu rosto. Arrancam-lhe quatro dentes, seu olho é furado, é açoitada, é
enrabada. Morre aos quinze anos e dois meses.

NARCISSE
Suas bolas foram arrancadas pela assembléia dos libertinos com uma tesoura.

AUGUSTINE
O interior da boceta da Menina foi queimado quando seu corpo já não tinha vida.

ZELAMIR
Curval perdeu o controle de si próprio, viola o acordo da sociedade e escalpa o menino enquanto
enraba um outro menino.

FANNY
Recebe duzentas chicotadas com o vergalho de boi, e perde os dois olhos.

HÉBÉ
Recebe uma tempestade de cem golpes de vergalho de boi. Os senhores tiram-lhe um olho, e
muito cinicamente mandam-na engoli-lo . Já engoliu.

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CUPIDON
Seus dedos das mãos e dos pés foram todos cortados. Curval enrabou-o sem pomada, o mesmo
fazendo o Duque, e o mesmo se permitindo os quatro fodedores.

SOPHIE
Conduzida ao centro do palco, seu amante foi obrigado a queimar-lhe o interior da boceta, todos
seus dedos foram cortados, seus quatro membros sangrados, sua orelha direita mutilada, o olho
direito obliterado.

HYACINTHE
Cada vez que esboçava reação, seu murmúrio era recompensado com cem chicotadas e um ferro
em brasa marcava seu corpo.

ZÉPHIR
Teve uma mão decepada. Perde um olho e quatro dentes. Sangra até morrer na noite do
carnaval.

entram os libertinos

DUQUE
O nosso povo é conhecido por sua cordialidade e simpatia. Por favor, todos devem sorrir e se
alegrar: vamos celebrar agora o nosso carnaval, mundialmente famoso. Sorriso! Sorriso! Alegria!
Vamos lá!

Começa uma marcha de carnaval antiga. Os libertinos se entusiasmam. Obrigam as


vítimas a dançar, com ordens imperativas. As vítimas fazem um cortejo tristemente
paramentado para a morte. Sons de metralhadora espalham-se pelo ar. Ouvem-se
gritos de dor, lamentos, gemidos finais. Ao final, silêncio. Todos os corpos
amontoados. A um canto, os libertinos sorriem e se despedem.

CENA XXX
EPÍLOGO

MARQUÊS
Tudo isto fez parte de uma história que me foi contada e talvez tenha acontecido, talvez não, ou
talvez até seja o fruto de uma imaginação perversa. Mas o que realmente importa é que aquilo
que vocês acabaram de assistir, queridos espectadores, era possível naquela época em nosso
país. Esqueçam-se das pequenas traições que cometemos contra o sábio Marquês, pois ele com
certeza já deve ter se esquecido delas. Foram cometidas apenas para contar melhor a lenda
dessa nação desfacelada. Talvez algumas cenas tenham lhes causado desagrado. Então levem
na lembrança apenas os momentos de prazer e reflexão que tiveram esta noite conosco. Boa
noite.

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