Talvez, seja mais confortável estar só, estar somente inerte
Do que tentando, de fato Não é tão simples sair da prisão Nós nos acostumamos a fingir que somos livres E até que ponto podemos ser? É visível? Eu fujo sim e fugi várias vezes Gosto de observar Sou uma espectadora que não se permite sentir tão intensamente É fácil deixá-los ir É bem mais duro deixá-las aqui, as palavras... Nós costumávamos ter uma chave Você ainda é capaz de lembrar o que ela pode abrir? Anos se passam e me sinto tão desconectada O que será essa sensação? Estamos cercados de palavras e gestos vazios Dançamos bem sozinhos Mas melhor juntos Nessa peça de teatro onde não sabemos exatamente qual é a nossa parte Ações são extensões de nós mesmos Porém quando você não consegue saber o que você é Essas ações têm um significado mesmo assim? Várias perguntas Palavras embaralhadas E olhos cegos para luz É lentamente, acontece lentamente Guardo aquela antiga garrafa vazia Pretendo preenchê-la com pedras, Escritos, E esperança Já que não posso preenchê-la com música Porque ela é livre e vai sendo levada pelas correntes de ar Que vem e vão. Não se pode aprisionar viajantes Tão pouco sonhadores, Vamos indo e indo Em direção a um rio numa noite composta por nuvens e escuridão Indo e indo Deixando que as luzes cintilem E guiem toda a inspiração para aqueles que a buscam sem saber Ela está lá, dormente Às vezes sonambula, vem à tona nas madrugadas Quando tudo se perde Pois diários podem capturar palavras, não pensamentos E a velha garrafa Não pode capturar os sensíveis sons Que nos fazem exorcizar o que mantemos em cativeiro O que mantemos no escuro, o que é sem nome Aquilo que realmente somos E ninguém é capaz de ver O que éramos antes do mundo acontecer E a escuridão chegar Alguns aprendem a amá-la Outros a contorná-la Uns seguem ainda, lentamente Não chegaram a encruzilhada Na verdade, não chegaram a lugar nenhum. 05.01.2017