Você está na página 1de 9

I CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

X ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO


18-21 julho 2004, São Paulo. ISBN 85-89478-08-4.

MELHORIA DA QUALIDADE DOS SISTEMAS PREDIAIS


HIDRÁULICOS E SANITÁRIOS ATRAVÉS DO ESTUDO DA
INCIDÊNCIA DE FALHAS

Simar Vieira de Amorim (1); Reinaldo P.Dias Júnior (2); Karina Elias de Souza (3)
(1) Universidade Federal de São Carlos, simar@power.ufscar.br
(2) Universidade Federal de São Carlos, rpdjunior@hotmail.com
(3) Universidade Federal de São Carlos, keliassouza@hotmail.com

RESUMO
O objetivo deste trabalho é testar a validade da aplicação de uma metodologia de APO para a
identificação das patologias mais frequentes nos Sistemas Prediais Hidráulicos e Sanitários (SPHS). A
metodologia utilizada foi: 1. produção e aplicação de questionários aos profissionais responsáveis por
projeto e execução e aos usuários finais dos apartamentos; 2. estudo dos métodos utilizados pela
construtora desde o projeto até a entrega final da edificação; 3. estudo dos métodos construtivos dos
SPHS para cada edifício pesquisado; 4. correlacionamento entre as patologias encontradas e os
métodos utilizados. O caso, onde foi aplicada a metodologia, foi um conjunto habitacional de 6
edifícios com 8 pavimentos cada, construídos por uma única empresa, na cidade de São Carlos (São
Paulo, Brasil). Da aplicação desta metodologia concluiu-se que as patologias mais freqüentes foram o
vazamento em sifões, o não escoamento das águas de lavagem e o retorno de espuma pela tubulação.
Pela análise dos gráficos de patologia x idade do edifício, observou-se que não existia uma tendência
de aumento no vazamento em sifões e que o não escoamento das águas de lavagem e o retorno de
espuma pela tubulação não possuiam uma relação direta com a idade do edifício. Foram apontadas
soluções para os problemas. Como conclusão final chegou-se a que a metodologia desenvolvida era
plenamente adequada.
Palavras-chave: construção civil, sistemas prediais hidráulicos e sanitários, instalações hidráulicas,
patologias das construções

1. INTRODUÇÃO
Após a entrega da edificação, os Sistemas Prediais Hidráulicos e Sanitários passam a entrar em
equilíbrio com o seu meio ambiente, isto é, os usuários. É um dos sub-sistemas da edificação que está
mais em contato com o usuário e o seu mau funcionamento gera problemas sérios ao bem-estar físico
e psicológico do ser humano.
Mas, curiosamente, é onde menos pesquisas acontecem. Vários autores concordam que dados sobre os
problemas que ocorrem com estes sistemas durante sua utilização seriam fundamentais à melhoria da
qualidade do projeto e da execução. Dados brasileiros na área de análise das patologias dos SPHS
podem ser encontrados em poucas referências (LICHTENSTEIN, 1985 ; AMORIM et all, 1993 ;
ALMEIDA, 1994).
Pesquisas foram realizadas em Construtoras (AMORIM, 1997) para identificar a existência de
registros de gastos em manutenção e re-serviços após a ocupação dos edifícios por elas executados.
Como resultado obteve-se que apenas uma coletava sistematicamente esses dados.
Nas outras empresas pesquisadas a resposta foi quase sempre a mesma quando perguntadas sobre os
custos e a incidência de problemas após a entrega dos edifícios: que a quantidade de problemas era
muito pequena, quase insignificante; que os custos não eram significativos, etc.
Percebe-se que o desconhecimento é total; que os custos são embutidos na execução de outros
edifícios e que existe um receio muito grande de que a transparência desses problemas pós-ocupação
irão prejudicar a imagem da empresa perante os clientes. Apesar das dificuldades inerentes a esse tipo
de pesquisa, esforços devem ser envidados para que sejam feitas em um campo cada vez mais
representativo para a obtenção de diretrizes que influenciem todas as etapas do processo de produção
desse sub-sistema.

2. METODOLOGIA
Foi selecionado para pesquisa um conjunto residencial com 6 edifícios, 8 pavimentos cada, 4
apartamentos por pavimento-tipo, construídos por uma mesma empresa, na cidade de São Carlos (São
Paulo, Brasil).
Com base nas maiores incidências de patologias nos SPHS vistas em bibliografias e comentadas pelos
engenheiros da construtora em estudo, foram elaborados questionários para os usuários (moradores),
zeladores e síndicos, encanadores e engenheiros responsáveis.
Foram feitas entrevistas em cada edifício considerado objeto da pesquisa adotando-se como meta de
amostragem 50% dos usuários e todos os síndicos ou zeladores, engenheiros e encanadores. Não foi
possível realizar 50% de entrevistas em todos os edifícios em virtude de moradores não estarem
presentes nos dias de entrevista, moradores que se recusaram responder o questionário ou ainda
edifícios muito novos e com poucos apartamentos ocupados (exemplo na Figura 1).
Paralelamente às entrevistas foi analisado pormenorizadamente o projeto dos SPHS do residencial
(Figura 2), descrito o método executivo dos mesmos e fotografada a obra (Figura 3).
Após a coleta dos dados e o estudo dos métodos construtivos foram efetuadas as análises e
manipulações estatísticas na tentativa de correlacionar as patologias com suas possíveis causas. A
pesquisa realizada pode ser visualizada em página internet no endereço: www.deciv.ufscar.br
(“Grupos de Pesquisa”; “NUSIHP”; “Pesquisas”; “Patologias”)

3. RESULTADOS
Dos edifícios inicialmente selecionados 1 foi desprezado (bloco 3) por ter sido entregue recentemente
quando da coleta de dados para a pesquisa. Foram entrevistados 50 moradores e 7 síndicos.
Após a realização das entrevistas as patologias foram classificadas em subjetivas, objetivas, resultantes
do mau uso pelo usuário e resultante de problemas gerados pela execução (Tabela 1).
Como o objetivo específico deste trabalho é a melhoria da qualidade na execução, somente foram
analisadas as patologias consideradas como objetivas e resultantes de problemas de execução.
Determinou-se as porcentagens de incidência de patologias através da relação do número de
ocorrências pelo número de indivíduos expostos em cada bloco e no total de blocos (Tabela 2), onde
entende-se por indivíduos expostos todos os ítens dos sistemas hidráulicos prediais existentes na
edificação sujeitos à incidência da falha em questão. Com os dados referentes às patologias
encontradas em todo o residencial, construiu-se o gráfico da Figura 4 cujos valores podem ser vistos
na Tabela 3.
Levando-se em consideração o número de indivíduos expostos à patologia em questão, classificou-se
as patologias em três categorias, A, B e C, onde A são as que apresentaram maior número de
ocorrência (>15%), B são as de número médio (15%≥ocorrência>5%) e C são as de menor número
(≤5%).
APARELHOS SANITÁRIOS (vasos sanitários, lavatórios, pias, tanques, chuveiros, torneiras e registros)
Sim Não
PROBLEMAS Onde / Quais
Vazamentos
Entupimentos
Espaço suficiente para o uso dos aparelhos
Danos por impactos e fadiga
Facilidade de cuidado e limpeza
Defeitos que tornem desagradáveis ao
uso(lascas, estufamentos, fissuras, etc)
Descolamentos
Necessidade de troca de peças
ÁGUA FRIA
Sim Não Onde / Quais
Problemas
Ruídos nas tubulações
Vibrações nas tubulações
Falta de água
Vazamentos nas tubulações
Fissuras nas tubulações
Umidade em áreas molhadas
Entupimentos de tubulações
Baixas pressões nos pontos de utilização
Altas pressões nos pontos de utilização
Infiltração
Carência de pontos de utilização
Tubulações atrapalhando o trânsito na
garagem
Limpeza dos reservatórios (freqüência)
Facilidade de manutenção
Mau funcionamento das bombas
ESGOTO SANITÁRIO
Sim Não Onde / Quais
Problemas
Entupimentos de tubulações
Infiltrações nos ralos
Vazamentos em sifões
Surgimento de insetos
Surgimento de odores
Não escoamento de águas de lavagens
Volta de espuma pelas tubulações
Figura 1: Exemplo de questionário aplicado aos síndicos
Figura 2: Planta baixa do conjunto residencial.
Figura 3: Exemplo de método executivo da construtora (distribuição de água fria e coleta de esgotos em
um banheiro)

Tabela 1: Classificação das patologias

Patologia objetiva subjetiva usuário execução


1) Vazamento nos aparelhos X X
sanitários
2) Entupimento dos aparelhos X X X
sanitários
3) Espaço suficiente para o uso dos X X
aparelhos
4) Danos por impacto e fadiga dos X X X
aparelhos
5) Facilidade de cuidado e limpeza X X
6) Defeitos que tornem X X
desagradáveis ao uso
7) Deslocamento das peças X X
sanitárias
8) Necessidade de troca de peças X X
9) Ruídos nas tubulações de água X X
fria
10) Vibrações nas tubulações de X X
água fria
11) Falta de água X X
12) Vazamentos nas tubulações de X
3.1.1 X
água fria
13) Fissuras nas tubulações de água X X
fria
14) Umidade em áreas molhadas X X
15) Entupimentos de tubulações de X X
água fria
16) Baixas pressões nos pontos de X X
utilização
17) Altas pressões nos pontos de X X
utilização
Tabela 1: Classificação das patologias (cont.)

18) Infiltração X X
19) Carência de pontos de X X
utilização
20) Tubulações atrapalhando o X X
trânsito na garagem
21) Freqüência de limpeza dos X X
reservatórios
22) Facilidade de manutenção X X X
23) Mau funcionamento das X X X
bombas
24) Entupimento de tubulações de X X X
esgoto sanitário
25) Infiltração nos ralos X X
26) Vazamentos em sifões X X
27) Surgimento de insetos X X
28) Surgimento de odores X X
29) Não escoamento das águas de X X
lavagem
30) Retorno de espuma pela X X
tubulação
31) Empoçamento de águas X X
pluviais nas sacadas
32) Empoçamento de águas X X
pluviais na garagem
33) Presença de meios de combate X X
a incêndio
34) Vazamentos de gás X X
35) Problemas de medição de gás X X

Figura 4: Porcentagem de ocorrência das patologias

Gráfico ABC da incidência (%) de patologias nos edifícios em estudo.

50
44,00

45

40

35
Incidência (%)

30

25
16,67
16,00

20

15
6,25

6,00

10
3,33
2,25

2,00

1,00

0
Vazamentos nos Descolamentos Necessidade de Vazamentos nas Iinfiltrações nos Vazamentos em Não Volta de Vazamentos de
aparelhos de aparelhos troca de tubulações de ralos sifões escoamento de espuma pelas gás combustível
sanitários sanitários aparelhos água fria águas de tubulações
sanitários lavagens
Patologia
Tabela 2: Exemplo de análise da patologia 01 (vazamento nos aparelhos sanitários), por bloco e em todo o
residencial

BLOCO 1 BLOCO 2

Ocorrên Indivíduos Ocorrên Indivíduos


Aparelhos % %
cias expostos cias expostos
chuveiro 0 10 0 0 7 0
caixa de
1 10 10 2 7 28,57
descarga
vaso sanitario 0 10 0 0 7 0
torneiras 2 30 6,67 3 21 14,29
pia 0 10 0 0 7 0
tanque 0 10 0 0 7 0
TOTAL 3 80 3,75 5 56 8,93

BLOCO 4 BLOCO 5
Ocorrên Indivíduos Ocorrên Indivíduos
Aparelhos % %
cias expostos cias expostos
chuveiro 0 12 0 0 8 0
caixa de
3 12 25 1 8 12,5
descarga
vaso sanitario 0 12 0 0 8 0
torneiras 5 36 13,89 1 24 4,17
pia 0 12 0 0 8 0
tanque 0 12 0 0 8 0
TOTAL 8 96 8,33 2 64 3,13

BLOCO 6 TODOS OS BLOCOS


Ocorrên Indivíduos Ocorrên Indivíduos
Aparelhos % %
cias expostos cias expostos

chuveiro 0 13 0 0 50 0
caixa de 50
1 13 7,69 8 16
descarga
vaso sanitario 0 13 0 0 50 0
torneiras 6 39 15,38 17 150 11,33
pia 0 13 0 0 50 0
tanque 0 13 0 0 50 0
TOTAL 7 104 6,73 25 400 6,25
Tabela 3: Porcentagem de incidência das patologias em todos os blocos

No.PAT. PATOLOGIA % DE INCIDÊNCIA


01 Vazamento nos aparelhos sanitários 6.25
07 Deslocamento de peças sanitárias 2.25
08 Necessidade de troca de aparelhos 2.00
sanitários
12 Vazamento nas tubulações de água 3.33
fria
25 Infiltração nos ralos 1.00
26 Vazamentos em sifões 16.00
29 Não escoamento de água de lavagens 16.67
30 Retorno de espuma pelas tubulações 44.00
34 Vazamento de gás combustível 6.00

Da Figura 4 e da Tabela 3 separou-se as patologias da seguinte forma:


• Categoria A: patologias 26, 29 e 30.
• Categoria B: patologias 01 e 34.
• Categoria C: patologias 07, 08, 12 e 25.
Separou-se as patologias da categoria A e correlacionou-se a idade de construção do edifício com as
patologias (Figura 5).
Os edifícios possuem as seguintes idades de entrega das chaves: Bloco 1 - 2 anos ; Bloco 2 - 1 ano ;
Bloco 4 - 5 anos ; Bloco 5 - 4 anos ; Bloco 6 - 3 anos.

Gráfico do índice de ocorrência pela idade do


edifício
Índice de ocorrência

50
40
30
20
10
0
-10 0 1 2 3 4 5 6
Idade do edifíco (anos)

Figura 5: Relação entre o coeficiente de ocorrência da patologia 29 com a idade de


entrega do edifício

4. DISCUSSÃO
Com a análise pormenorizada das patologias 26 (vazamento em sifões), 29 (não escoamento das águas
de lavagem) e 30 (retorno de espuma pela tubulação) constatou-se a validade do método empregado.
Pela análise dos gráficos de patologia x idade do edifício, observou-se que não existe uma tendência
de aumento no vazamento em sifões (patologia 26). Blocos com 1 ano e com 5 anos de entrega
possuem na faixa de 15% dos sifões com problemas. Como esses vazamentos ocorriam nas junções
aconselhou-se a empresa a aperfeiçoar a mão de obra de instalação dos mesmos e melhorar a
qualidade dos componentes adquiridos.
Logicamente a patologia 29 (não escoamento das águas de lavagem) não possui uma relação com a
idade do edifício, apesar das curvas mostrarem claramente que os edifícios mais novos têm menos
problemas que os mais antigos. Esse fato demonstra que a mão de obra de contrapisos, para esta
Construtora, tem se aperfeiçoado.
Já para a patologia 30 (retorno de espuma pela tubulação) notou-se a não existência de uma relação
clara com a idade do edifício. Chegou-se à conclusão que esta patologia está relacionada ao fato do
ralo estar muito próximo do tanque causando um grande turbilhonamento e formação de espuma.
Sendo este um problema de projeto aconselhou-se a empresa alterar este ítem de projeto ou inserir
dispositivos anti-espuma.

5. CONCLUSÕES
Concluiu-se que os resultados e análises deste trabalho poderão influenciar engenheiros e construtoras
a pensar em fazer avaliações pós-ocupação para terem informações necessárias a tomadas de decisões
referentes a planejamento, projeto, execução, materiais, mão de obra e fiscalização. A metodologia de
análise de patologias estudada neste trabalho mostrou-se eficaz, podendo ser aplicada na análise de
qualquer outro sub-sistema da construção civil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, G.G. Avaliação Durante Operação (ADO): Metodologia aplicada aos Sistemas
Prediais. Dissertação de Mestrado, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, (1994).
AMORIM, S.V.; VIDOTTI, E.; CASS Jr.,A. Patologias das Instalações Prediais Hidráulico-Sanitárias,
em Edifícios Residenciais em Altura, na Cidade de São Carlos. In: ENTAC 93: AVANÇOS EM
TECNOLOGIA E GESTÃO DA PRODUÇÃO DE EDIFICAÇÕES, 1993, São Paulo. Anais...
pp.515-523.
AMORIM, S.V. Metodologia para estruturação de Sistemas de Informação para projeto dos
Sistemas Hidráulicos Prediais. Tese de Doutorado, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
(1997).
LICHTENSTEIN, N.B. Patologia das construções: procedimentos para formulação do
diagnóstico de falhas e definição de conduta adequada à recuperação de edificações. Dissertação
de Mestrado, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, (1985).

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) pelas
bolsas e auxílio concedido para a realização da pesquisa.

Você também pode gostar