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Tecnica de Redacao Forense PDF
Tecnica de Redacao Forense PDF
Nota: Esta obra é registrada sob nº 362.491, no Livro 67, folha 151,
no Ministério da Cultura (Escritório de Direitos Autorais)
TÉCNICA DE REDAÇÃO FORENSE
SUMÁRIO
Introdução
Primeira Parte
1. Princípios gerais de redação
1.1. Verdade
1.2. Clareza
1.3. Coerência
1.4. Concisão
1.5. Correção
1.6. Precisão
1.7. Simplicidade
1.8. Conhecimento
1.9. Dignidade
1.10. Criatividade
Segunda Parte
2. Questões especiais - Técnica de redação forense
2.1. Citação de leis
Terceira Parte
3. Questões práticas
3.1. A blitz policial
3.2. A folhas, de folhas...
3.3. À medida que...
3.4. À nível de...
3.5. A palavra “mesmo”
3.6. Absolutamente certo
3.7. Abuso de expressões
3.8. Acordo amigável
3.9. Adjetivos
3.10. Advérbios
3.11. Alimentando
3.12. Ataque à bomba
3.13. Até porque
3.14. Atenção na leitura
3.15. Através da janela... vejo o sol
3.16. Aviso aos passageiros
3.17. Bastantes problemas
3.18. Beca ou Toga?
3.19. Colocação dos pronomes
3.20. Com certeza, não!
3.21. Concordância verbal
3.22. Crase
3.23. De modo que
3.24. Em busca da simplicidade
3.25. Denúncia de lide
3.26. Eles complicam
3.27. Em cores
3.28. É quando...
3.29. Em face de
3.30. Ementas I
3.31. Ementas II
3.32. Enquanto
3.33. Entre mim e ti
3.34. Entretanto
3.35. Erros e modismos
3.36. Este, esse, aquele
3.37. Exceção feita
3.38. Expressões da moda
3.39. Formatação
3.40. Ganhado, ganho
3.41. Gerúndio
3.42. Gerundismos
3.43. Há tanto tempo atrás...
3.44. Impropriedades
3.45. Improvisação
3.46. Inclusive... não!
3.47. Infinitivo pessoal
3.48. Linguagem forense
3.49. Locuções verbais
3.50. Mais latim
3.51. Masculino e feminino
3.52. Modismos
3.53. Não confundir
3.54. Nem café nem pão
3.55. Números
3.56. Onde (e quando) usar “onde”
3.57. O Viés autoritário
3.58. Opção pelos fatos
3.59. Os verbos do Juiz
3.60. Palácio da Justiça
3.61. Palavrão
3.62. Palavras inúteis
3.63. Politicamente correto
3.64. Pontuação
3.65. Por conta de
3.66. Prazo de dez (10) dias
3.67. Redundâncias
3.68. Regência verbal
3.69. Regência verbal II
3.70. Registro de depoimento
3.71. Revisão de Português
3.72. Risco de vida
3.73. Ritmo da frase
3.74. Ruas e datas
3.75. Sendo que... não existe!
3.76. Simplicidade
3.77. Tributo ao jurista clássico
3.78. Uso das abreviaturas
3.79. Uso das maiúsculas
3.80. Uso das minúsculas
3.81. Uso das siglas
3.82. Uso dos Verbos
3.83. Uso dos Verbos - 2
3.84. Uso dos Verbos - 3
3.85. Uso dos Verbos- 4
3.86. Uso dos Verbos - 5
3.87. Vírgula
3.88. Vírgula antes do “e”
TÉCNICA DE REDAÇÃO FORENSE
Introdução
Primeira Parte
1.1. Verdade
1.2. Clareza
1.3. Coerência
Uma boa redação deve ser coerente. A palavra “coerência” (do latim “co-haerentia”,
ligação, harmonia) indica a conexão ou nexo entre os fatos, ou as idéias; lógica. Ou seja: é
necessário ter um discurso lógico, se possível calcado no modelo do silogismo, pelo qual,
postas duas premissas, segue-se uma conclusão.
O importante é não se contradizer: uma vez adotada uma tese, ou escolhido um
ponto de vista, cumpre desenvolver o raciocínio pertinente até o fim, usando argumentos bem
encadeados.
Incorreta uma sentença, na qual o juiz considerou que os fatos ficaram provados, o
réu era culpado, mas absolveu-o ... por falta de provas. Pura distração, desatenção, descuido –
o que seja, mas a lógica não pode ser sacrificada: é preciso observar sempre o antecedente
para afirmar o conseqüente.
Essa técnica se adquire com a prática e com a reflexão: pensar antes de escrever; se
necessário, redigir um resumo, um rascunho, ou simples notas que ajudarão a memória
(documentos, folhas dos autos, artigos da lei, precedentes da jurisprudência etc.). O
computador é precioso auxiliar nessa tarefa, bastando que seu usuário saiba dirigir
corretamente suas pesquisas.
Vale lembrar que o Código de Processo Civil considera inepta a petição inicial, entre
outras hipóteses, quando “da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão”, ou
quando “contiver pedidos incompatíveis entre si” (incisos II e IV do parágrafo único, do art.
295).
Daí a responsabilidade do advogado ao redigir a inicial, sem dúvida a peça mais
importante do processo. E a própria escolha do tipo de ação a ser ajuizada é tarefa das mais
árduas, que exige o máximo de cuidados técnicos, bom senso e diligência. O mesmo ocorre
com o juiz, que deverá observar os requisitos essenciais da sentença (art. 458 do CPC), o que
às vezes envolve questões muito complexas, nas quais a lógica e a clareza da expressão
disputam, ao lado da verdade, a primazia da boa redação.
1.4. Concisão
1.5. Correção
1.6. Precisão
A precisão (do latim praecisu, cortado, separado de; cortado a pique) indica a idéia da
redação planejada e incisiva. No texto, é empregada com o sentido de exatidão, rigor sóbrio de
linguagem (Dicionário Aurélio).
Em primeiro lugar, é necessário planejar o texto a ser escrito. Um breve resumo, um
esquema, anotações, um rascunho – qualquer coisa deve anteceder a redação, que há de
seguir um roteiro, pelo qual se definirão as dimensões do trabalho. Se se trata de uma prova
acadêmica, o aluno deverá calcular o tempo disponível para escrever, a possibilidade de
consulta a textos legais (ou a proibição dessa consulta), o espaço de papel que lhe é permitido
ocupar e assim os demais fatores que envolvem esse momento crítico da vida estudantil.
Na prova escrita, num concurso público, é necessário dosar o tempo concedido aos
candidatos, tendo em vista que, às vezes, outras questões dissertativas também deverão ser
respondidas.
Já quando o trabalho exige maior envergadura (monografias, dissertações etc.) o
planejamento é indispensável, para que resulte um texto preciso, bem desenvolvido mas
“enxuto”, em que se encadeiam todos os princípios da boa redação.
Em segundo lugar, a precisão importa no uso de substantivos e verbos, em lugar de
adjetivos, advérbios e outras expressões vagas e vazias. Não se devem usar expressões como
“um grave acidente aéreo, no qual morreram todos os ocupantes do avião” (todo acidente
aéreo é grave); “um incêndio pavoroso destruiu totalmente a favela” (o fato em si dispensa o
comentário “pavoroso”; o advérbio “totalmente” é dispensável, pois “destruiu a favela” já indica
sua destruição total); “a vítima foi despojada de todos os seus haveres” (o adjetivo “todos” é
dispensável); “o recurso é completamente intempestivo” (se o recurso está fora de prazo, é
intempestivo; se está no prazo, é tempestivo – não existe “completamente intempestivo”).
A precisão da linguagem jurídica também envolve o uso adequado das expressões
próprias da lei, que devem ser adotadas na redação, de preferência a sinônimos ou palavras
estranhas ao vocabulário técnico (p.ex. parâmetro, em lugar de critério, princípio etc.;
referencial, diferencial e outras palavras inadequadas à linguagem jurídica).
E não há mal em repetir palavras de uso específico (ex. hipoteca, penhora,
usucapião), como aliás determina a lei: “expressar a idéia, quando repetida no texto, por meio
das mesmas palavras, evitando o emprego de sinonímia com propósito meramente estilístico”
(Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998) (ver “Redação de atos normativos”,
neste volume).
1.7. Simplicidade
A palavra “simples” (do latim simplice, simples, só, isolado, sem dobras, ao contrário
do complicado, que significa dobrado, enrugado, enrolado) indica exatamente o que é natural,
não artificial, não composto.
Escrever com simplicidade é uma das coisas mais difíceis que existem, pois a
tendência natural dos que se consideram eruditos parece levá-los a complicar um pouco o
texto, usar palavras difíceis, citações excessivas, como se isso significasse valorizar o que
escrevem. Puro engano: os melhores redatores sabem escrever bem simples. Acontece que o
ato de escrever envolve a própria personalidade humana, como disse Dale Carnegie: “Use a
linguagem que quiseres que nunca poderás dizer senão aquilo que és”. Daí a dificuldade da
redação de um texto limpo, claro, simples e direto: a vaidade e o desejo de mostrar-se culto
levam à busca da redação sofisticada, assim como pessoas que se julgam feias se vestem às
vezes de roupas mais vistosas para disfarçar suas supostas imperfeições físicas...
Mas, como disse o encenador britânico Peter Brook, a simplicidade não é simples de
ser alcançada; é o resultado de um processo dinâmico que abarca tanto o excesso como o
gradual perecimento do excesso (“Fios do tempo”, autobiografia, tradução portuguesa lançada
no Brasil, conforme nota do jornal “O Estado de S. Paulo”, ed. 29.7.2000, p. D3).
Então, um dos segredos da boa redação está resumido na sábia lição de Paul
Valery, citado na epígrafe: “Entre duas palavras, escolha sempre a mais simples; entre duas
palavras simples, escolha a mais curta”.
Exemplos, colhidos de Eduardo Martins: votar é melhor que sufragar; pretender é
melhor que objetivar, intentar ou tencionar; voltar é melhor que regressar ou retornar; tribunal é
melhor que corte; passageiro é melhor que usuário; eleição é melhor que pleito; entrar é melhor
que ingressar (“Manual de Redação e Estilo”, Editora Moderna, 3a. ed., p. 15).
Palavras longas e curtas: depois é melhor que posteriormente; morte é melhor que
falecimento, passamento ou óbito (estamos tratando apenas de técnica de redação, bem
entendido!); prova é melhor que avaliação; está é melhor que apresenta-se ou encontra-se
(p.ex. o diretor está presente; não o diretor encontra-se presente – o tempo está bom; não o
tempo apresenta-se bom etc.); fato é melhor que acontecimento; a testemunha disse é melhor
que a testemunha declarou, afirmou, asseverou; autor e réu (como está no Código de Processo
Civil) é melhor que demandante, demandado, postulante, peticionário; ação é melhor que
demanda; resposta é melhor que contestação; pedido é melhor que requerimento; recurso é
melhor que inconformação; negar provimento é melhor que desacolher; a falta da testemunha é
melhor que o não comparecimento ou a ausência da testemunha; advogado é melhor que
causídico, patrono, defensor; juiz é melhor que julgador, órgão decisório; tribunal é melhor que
pretório, colegiado, corte; Supremo Tribunal Federal, ou simplesmente STF (sem pontinhos) é
melhor que Pretório Excelso, Corte Suprema, Doutíssimo Colegiado e outras denominações
aberrantes.
1.8. Conhecimento
1.9. Dignidade
A boa redação é elegante. Escrever com elegância significa escrever com escolha,
com gosto, com distinção (em latim, elegantia vem de eligere, eleger, escolher). A linguagem
elegante é elevada, trata os temas com dignidade, usa palavras selecionadas. Na redação
jurídica, acadêmica ou formal, não se deve empregar gíria, gracejos, modismos, lugares-
comuns; nesses casos, é preciso que o texto obedeça aos rigores da linguagem culta, sem
exagero de preciosismos, mas sem o abuso da vulgaridade e do popular. Uma piada, uma
“gracinha” mal colocada, às vezes uma simples vulgaridade baixa o nível da redação e faz o
leitor perder a concentração; a partir daí, é difícil retomar o discurso e manter a atenção e o
interesse pelo texto. Os modismos veiculados pela televisão (“super legal”, “hiper feliz”, “lindo
de morrer”, “com certeza”) devem ser banidos: não fazem parte do nosso vocabulário.
Mas não é só. A redação elegante não ofende nem agride, trata os temas com
elevação, evita o óbvio. Assim, em matéria jurídica, nunca se deve escrever “o facínora”, “o
bandido”, “o malfeitor”, “o marginal”, mas apenas o que está no Código: o réu (eventualmente,
o acusado). E para responder (contestar) uma ação, não é preciso ofender a parte contrária,
assim como para apelar de uma sentença não é necessário criticar o juiz, afirmando que ele
“errou”: deve-se argumentar com firmeza, expor os seus fundamentos, sem ofensa pessoal,
sem agressão e sem pejorativos.
Mesmo os temas mais delicados (sobretudo eles) devem ser tratados com a máxima
dignidade (sexo, partes do corpo humano, defeitos físicos, morais ou sociais) – com o emprego
da linguagem mais simples e objetiva, sem insinuações, pejorativos ou preconceito.
Por fim, é necessário evitar o óbvio. Uma vez, um aluno escreveu: “A sociedade se
compõe de homens e mulheres que lutam pela vida, nascem, crescem e morrem”. E outro:
“Vigência significa que a lei deve estar em vigência”. Outro: “É preciso o nosso povo votar nas
pessoas que são capazes de mudar ou pelo menos tentar mudar o retrato da realidade do
Brasil, onde sobrevalece (?) miséria, fome, desemprego, educação, saúde etc”. Por fim, mais
este: “Como podemos ver, o problema da violência é bastante genérico e está longe de ser
resolvido”. Banalidades, considerações óbvias e inúteis, sem conteúdo, que nada dizem e nada
significam.
1.10. Criatividade
Escrever com amor é o melhor meio de escrever bem. Quem gosta do que faz realiza
seu trabalho com prazer e realiza-o bem; os preguiçosos, os descontentes chocam-se contra
as palavras, nelas não encontram nem doçura nem dureza, sofrem quando precisam escrever
e, quando escrevem, fazem os outros sofrerem na leitura de textos pesados, vazios, que
causam tédio.
“O tédio... Quem tem Deuses nunca tem tédio. O tédio é a falta de uma mitologia. A
quem não tem crenças, até a dúvida é impossível, até o cepticismo não tem força para
desconfiar. Sim, o tédio é isso: a perda, pela alma, da sua capacidade de se iludir, a falta, no
pensamento, da escada inexistente por onde ele sobe sólido à verdade” (Fernando Pessoa,
Livro do Desassossego, p. 260).
A redação técnica, embora contida, pode perfeitamente ser criativa; aliás, deve ser
criativa. Nada mais desagradável que um texto longo, inchado de números e estatísticas, com
palavras difíceis, sem o clarão de uma ironia, às vezes uma expressão afetiva, uma metáfora.
É preciso saber alternar o peso da linguagem e dos conceitos abstratos com a leveza de uma
palavra cordial ou de uma idéia evocativa e poética, o que enriquece o texto, tornando-o mais
assimilável.
O estudante de direito em geral se defronta com leituras áridas, de juristas às vezes
excessivamente técnicos, que não se permitem a liberdade de escrever com o sentimento,
porque vivem algemados à lógica e à razão. Em compensação, muitos autores escrevem com
simplicidade e clareza, o que não impede que adotem as boas lições dos clássicos e saibam
redigir com elegância e fino lavor literário. Cabe ao estudioso escolher o autor que mais de
perto lhe fale à sensibilidade; uma vez feita a escolha certa, o estudo se torna muito mais
proveitoso e interessante.
Escrever é criar: criar é um ato de amor. O bom estudante é sempre um estudioso; o
bom profissional (advogado, magistrado, professor), dedica-se à leitura, à pesquisa e ao
esforço de renovação de idéias e conceitos, o que se reflete na redação de textos, nos quais
se descortinam novos pedaços de infinito.
Segunda Parte
2.1.2. Os artigos de lei são citados pela forma abreviada “art.”, seguido de algarismo
arábico e do símbolo do numeral ordinal (º) até o de número 9, inclusive; a partir do 10, usa-se
só o algarismo arábico. Assim: art. 1º, art. 2º, art. 3º .... art. 9º; art. 10, art. 11, art. 20, art. 306,
art. 909 etc.
2.1.3. Os incisos são designados por algarismos romanos, seguidos de hífen (ver art.
125 do CPC, abaixo).
2.1.4. O texto de um artigo inicia-se por maiúscula e termina por ponto, salvo nos
casos em que contiver incisos, quando deverá terminar por dois pontos. Exemplo:
Dispõe o Código de Processo Civil:
“Art. 125. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
competindo-lhe:
I - assegurar às partes igualdade de tratamento;
II - velar pela rápida solução do litígio;
III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça.”
IV - tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes.”
2.1.5. Quando um artigo tiver mais de um parágrafo, estes serão designados pelo
símbolo §, seguido do algarismo arábico correspondente; a grafia é por extenso, nas
referências a parágrafo único, parágrafo seguinte. parágrafo anterior e semelhantes. Ex.: os §§
2º e 3º do art. 15...; o parágrafo único do art. 12...
2.1.6. As alíneas ou letras de um inciso ou parágrafo deverão ser grafadas com letra
minúscula, seguida de parêntese: “De acordo com o § 3º, alíneas a) a c) do art. 20 do CPC (ou
alíneas “a” a “c” do CPC).
2.1.7. As datas devem ser escritas por extenso: 2 de maio de 1970 (não se escreve 02
de maio de 1.970); o ano não tem ponto, mas o número da lei tem: Lei nº 5.450, de 2 de maio
de 1970 (Errado: Lei 5440, de 02.05.70 ou 1.970). Lembrete, para memorizar: “lei” (com i) tem
ponto, logo o número da lei também tem ponto (Lei nº 5.450/70); “ano” (sem i) não tem ponto,
portanto a indicação do ano não leva ponto (em 2002 o Brasil conquistou o pentacampeonato;
2004 é o ano da Olimpíada de Atenas).
2.2.3. As demais autoridades serão tratadas com o vocativo Senhor, seguido do cargo
respectivo: Senhor Juiz, Senhor Ministro.
NOTA – A técnica de citação de leis (itens 2.1.1 a 2.1.8) tem por fundamento as
normas constantes da Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998 (ver abaixo,
Redação de Atos Normativos, itens 2.5 a 2.5.7).
Já as regras de tratamento formal (item 2.2) constam da Instrução Normativa nº 4, de
6 de março de 1992, da Secretaria da Administração Federal (DOU 9.3.92) e do Decreto
Estadual nº 11.074, de 5 de janeiro de 1978.
Senhor Presidente:
Ao Excelentíssimo Senhor
Desembargador JOSÉ DE CAMPOS CAMARGO
Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo
2.3.1. Não abuse das maiúsculas: Pontes de Miranda, “Tratado de Direito Privado”,
XV/12; Washington de Barros Monteiro, “Direito de Família”, p. 35; RT-620/170; Theotonio
Negrão, nota 6 ao art. 420, in CPCLPV, 34ª ed. Não se deve escrever o nome todo do autor e
da obra em “caixa alta” (maiúsculas): PONTES DE MIRANDA, “TRATADO”... (apenas as
iniciais devem ser maiúsculas). Se a obra for muito conhecida e citada, não é preciso detalhar
dados da edição, editora, ano etc.; pode-se resumir, como indicado nos exemplos acima.
2.3.2. Se quiser destacar uma expressão, um nome ou uma citação, use itálico; use
negrito; sublinhe as palavras. Mas sem exagero: quanto menos destaques, melhor.
2.3.3. Adote o espaçamento médio, normal (simples ou 1,5). Usar a fonte “times new
roman” ou semelhantes – tamanho 12 ou 14, estilo normal. Margem superior – 4,5 cm; inferior –
4,0 cm; esquerda – 4,5 cm; direita – 2,5 cm; cabeçalho – 3,8 cm; rodapé – 2,5 cm.
2.3.5. Em geral, digitar textos; evitar os manuscritos, a não ser em breves despachos,
decisões ou manifestações nos autos (nestes casos, letra legível). Não escreva no verso: use
apenas um lado da folha. Despachos e decisões devem ser redigidos pelo próprio juiz, que
evitará assinar os preparados em Cartório.
A boa redação inclui não apenas a correção gramatical, com emprego de linguagem
simples e objetiva, como também requisitos relativos à boa apresentação gráfica do texto.
No tocante aos processos, há normas da Corregedoria Geral da Justiça, que devem
ser observadas pelo Cartório e seus escreventes, as quais estão coligidas em fascículos e
disquetes atualizados.
Importante notar que os carimbos devem ser limpos, bem aplicados nas folhas do
processo e corretamente preenchidos, com letra legível, caneta esferográfica azul ou preta
(não se tolera o uso de cores extravagantes: vermelho, verde, roxo etc.). Seria melhor que os
termos do processo fossem digitados; mas enquanto não forem abolidos os velhos carimbos,
que pelo menos sejam usados de forma correta.
A numeração das folhas do processo deve ser legível, no canto superior direito; evite-
se riscar numerações já existentes, para substituí-las por outros números, o que resulta em
borrões e confusão.
De preferência, não se deve escrever no verso da folha, mas sim utilizá-la só de um
lado; não parece que seja necessário inutilizar o anverso, com um risco longitudinal, ou
qualquer outra sinalização.
Cada volume de processo deve conter somente duzentas folhas, formando-se novo
volume sempre que esse número, ou seu múltiplo (quatrocentas, seiscentas folhas), for
atingido.
Assim também a juntada de documentos, furos nos papéis a serem entranhados aos
autos, a autuação, o emprego de grampos adequados, tudo deve ser bem cuidado.
Essas e outras normas, em geral ditadas pela experiência e pelo bom-senso, devem
ser seguidas pelos Escreventes, sob a fiscalização do Diretor do Cartório e orientação do Juiz
da respectiva Vara, todos procurando zelar pela boa apresentação dos autos, por maiores que
sejam as dificuldades e deficiências materiais ocorrentes.
d) buscar a uniformidade do tempo verbal em todo o texto das normas legais, dando
preferência ao tempo presente ou ao futuro simples do presente;
b) expressar a idéia, quando repetida no texto, por meio das mesmas palavras,
evitando o emprego de sinonímia com propósito meramente estilístico;
c) evitar o emprego de expressão ou palavra que confira duplo sentido ao texto;
e) usar apenas siglas consagradas pelo uso, observado o princípio de que a primeira
referência no texto seja acompanhada de explicitação de seu significado;
f) grafar por extenso quaisquer referências a números e percentuais (trinta, dez, vinte
e cinco, duzentos e trinta e cinco; zero vírgula zero duzentos e trinta e quatro por
cento; dois vírgula quinze por cento; etc.), exceto data (4 de março de 1998, 1º de
maio de 1998) , número de lei (Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990) e nos
casos em que houver prejuízo para a compreensão do texto;
g) indicar expressamente o dispositivo objeto de remissão, em vez de usar as
expressões ‘anterior’, ‘seguinte’ ou equivalentes;
2.5.7. Para a obtenção de ordem lógica (texto aqui adaptado apenas à redação
jurídica):
a) restringir o conteúdo de cada parágrafo a um único assunto ou princípio;
c) não alongar os parágrafos nem as citações (que devem conter apenas o essencial,
relativo ao tema objeto do texto);
Por isso, é necessário ter cuidado nas citações, para não confundir os vários casos de
cada declinação (são cinco declinações, cada uma com seis casos no singular e seis no plural).
Por exemplo, deve-se escrever inaudita altera parte (não ouvida a outra parte), com o uso do
ablativo, porque se trata de uma circunstância de modo (de que modo? – resposta: sem ser
ouvida a outra parte). É errado usar “inaudita altera pars”, no nominativo, que não corresponde
àquela circunstância de modo. Pior ainda “inaldita”, palavra inexistente no latim. Não confundir
com a expressão audiatur et altera pars, que significa “ouça-se a outra parte” (princípio do
contraditório), porque aqui “altera pars” é o sujeito da forma passiva do verbo “audiatur” (ouça-
se).
As citações em latim devem ser destacadas em itálico (prima facie = à primeira vista),
em negrito (in extenso = por extenso) ou entre aspas (“pro tempore” = segundo as
circunstâncias, conforme o tempo). Admite-se que uma ou outra expressão, já incorporada ao
português, possa dispensar esse destaque: quantum, quorum, referendum, de cujus, a quo etc.
Expressões corretas
Juiz “a quo”
Agora, uma questão que tem causado certa perplexidade. Costuma-se dizer “juiz a quo”
(juiz do qual se recorre). Então, alguns apressados passaram a escrever “juíza a qua” (juíza da
qual se recorre), porque “qua” é o feminino de “quo”. Mas sem razão, porque na verdade, o
recurso é da decisão proferida no juízo inferior, portanto, sempre deve ser “a quo”, nunca “a
qua”. E o recurso é sempre dirigido ao tribunal “ad quem” (para o qual se recorre).
Statu quo (ante) significa “no estado em que se encontrava (antes). Já status quer
dizer “estado”, isto é, a condição de uma coisa ou de uma pessoa, no sentido puramente
jurídico, como casado, solteiro, divorciado etc.
Já “data venia” (com licença, com a devida vênia) não leva acento, porque nenhuma
palavra latina deve ser acentuada. Nunca usar as variantes “datissima venia” ou “data venia
concessa”, expressões que não existem na boa linguagem jurídica.
Para quem gosta do latim, recomenda-se o “Dicionário de Latim Forense”, de Amilcare
Carletti, LEUD – Livraria e Editora Universitária de Direito, de onde extraímos as lições acima.
(Ver abaixo item 3.51 – “Mais latim”)
Terceira Parte
Questões Práticas
Geraldo Amaral Arruda (“A Linguagem do Juiz”) anota que o uso forense consagrou
há muito as expressões a folhas e de folhas, embora também seja freqüente encontrar a
primeira das locuções como se houvesse também o artigo as (às folhas). Portanto, podemos
dizer e escrever “a folhas 22 dos autos”, “o documento de folhas 50”, expressões que podem
ser abreviadas: a fls. 22, de fls. 50.
E José Maria da Costa (“Manual de Redação Profissional”) faz longo estudo a
respeito, para concluir: 1) tanto se pode usar o numeral cardinal quanto o ordinal: folhas vinte e
dois ou folhas vigésima segunda; 2) podem-se usar as preposições a, em, de, conforme o
caso: a folha, à folha, a folhas (jamais à folhas), às folhas, em folhas, na folha, nas folhas, de
folhas; 3) a segunda palavra da expressão fica no singular ou vai para o plural,
indiferentemente: folha ou folhas; 4) em textos jurídicos e forenses, o numeral da expressão
fica invariável no masculino, ou se flexiona, optativamente, em concordância com o substantivo
modificado: vinte e dois ou vinte e duas; 5) quanto ao substantivo folha ou folhas, pode-se
abreviar de uma ou de outra forma: fl. ou fls., apenas com a ressalva de que não se deve
empregar fls. como forma reduzida de folha.
Em suma, todas as formas são corretas, exceto à folhas (a craseado) – ou se escreve
a folhas (sem crase) ou às folhas (plural, com crase). E folha (singular) se abrevia fl. (no plural,
folhas = fls.).
Por fim, o número da folha não leva ponto no milhar: a folhas 1203 do processo (6º
vol.), o documento de fls. 1501 (8º vol.). Também o ano não tem ponto: em 2003, em 2004;
nascido em 1990, a Constituição de 1988. Só tem ponto o número da lei e seus artigos: Lei nº
1.060/50; art. 1.205 do Código Civil.
Não se deve escrever “à medida em que”, mas sempre “à medida que”, quando se
quer usar essa locução conjuntiva (une orações), que indica a proporção em que ocorre o que
se declara na outra oração: o estudante ia ficando nervoso, à medida que a data do exame se
aproximava.
O Prof. Francisco Achcar, da Unip, adverte: “Embora seja freqüente em meios
intelectuais, especialmente universitários, é inadequado o emprego de “na medida em que” (ou
variantes) em sentido puramente causal, sem qualquer idéia de proporção: “na medida em que
não afirmei tal coisa, não me sinto responsável pelas conseqüências”. Para a idéia de causa,
deve-se usar porque e equivalentes (já que, uma vez que, como...).
E José Maria da Costa, juiz aposentado, hoje advogado e professor, em seu excelente
“Manual de Redação Profissional”, publicado pela Millennium Editora, aponta um descuido do
legislador, quando no art. 72 da Lei 5.754, de 16.12.71, que instituiu o regime das cooperativas,
dispôs: “A assembléia geral poderá resolver, antes de ultimada a liquidação, mas depois de
pagos os credores, que o liquidante faça rateios por antecipação da partilha, à medida em que
se apurem os haveres sociais”. O certo seria usar a expressão “à medida que”.
A palavra “mesmo” tem largo uso na linguagem. Pode ser usada como:
ADJETIVO – com o sentido de igual, idêntico: as mesmas pessoas, a mesma casa
etc. Com o sentido de este, esse, aquele: do mesmo século, da mesma rua, da mesma cidade
etc.
SUBSTANTIVO – com o sentido de “a mesma coisa”: irá dizer-lhe o mesmo que eu
já lhe disse; ir ou não ir, é o mesmo.
ADVÉRBIO - com o sentido de exatamente, justamente: a casa que ficava mesmo
ao lado da igreja. Com o sentido de até, ainda: vi, com irritação mesmo, que ele não cumpriu a
palavra.
ASSIM MESMO – A expressão “assim mesmo”, pode significar; a) igualmente:
assim mesmo tratarei com ele a respeito do caso; b) apesar disso, contudo, ainda assim: assim
mesmo o livro foi editado; assim mesmo a prova não era concludente; mesmo que chova
(mesmo se chover) o jogo será realizado; c) desse mesmo modo: falei assim mesmo,
aconteceu assim mesmo. Para evitar o uso de uma palavra muito longa (independentemente
da chuva, o jogo deve ser realizado) é preferível adotar o exemplo da letra “b” (mesmo que
chova – ou ainda que chova, ou mesmo se chover – o jogo deve ser realizado.
MESMÍSSIMO – É expressão familiar, que não deve ser usada na linguagem formal:
é a mesmíssima coisa.
PRONOME PESSOAL – “Mesmo” jamais deve ser usado como pronome pessoal,
em lugar de ele: falei com ele (nunca: com o mesmo). Assim, no “aviso” (mal redigido) às
portas do elevador: “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado
neste andar”. O legislador (tanto o estadual, como o municipal), se fosse mais zeloso pelo
idioma, deveria ter redigido assim: ANTES DE ENTRAR NO ELEVADOR, VERIFIQUE SE
ELE ESTÁ PARADO NESTE ANDAR”. Essa a redação correta, que infelizmente não foi
adotada.
É preciso ter cuidado e atenção para não cair em certos vícios de linguagem, seja na
fala, seja na escrita.
Como ensina José Maria da Costa (“Manual de Redação Profissional”), “acordo
amigável” é expressão de uso freqüente nos meios forenses, mas não tem emprego legítimo.
Trata-se de tautologia, pleonasmo vicioso a ser evitado, redundância de termos, que não
confere mais vigor ou clareza à expressão.
Tautologia, dizem os gramáticos, é outra denominação do pleonasmo vicioso, que
consiste na repetição de um pensamento anteriormente enunciado. Exemplos mais comuns:
subir para cima, descer para baixo, entrar para dentro, sair para fora, boato falso, monopólio
exclusivo, repetir de novo etc. No direito, consideram-se tautológicas expressões como
sentença de primeira instância, pessoa viva, juiz de primeiro grau, petição inicial do autor,
contestação do réu etc.
Todavia, são admitidos pleonasmos como “a mim me parece”, “a mim basta-me a
satisfação” e outros semelhantes, usados na linguagem culta e literária. Mas, em caso de
dúvida, é bom não escrever nem falar assim, para evitar o pedantismo de construções que
caíram em desuso e só são empregadas por literatos, em casos especiais, para dar ênfase ao
estilo.
Também se consideram pleonasmo certas locuções chamadas expletivas, que podem
ser usadas, vez ou outra, com certa cautela: “quase que caí”, “que santa que é esta mulher”,
“sei lá o que ele quer” (Napoleão Mendes de Almeida, “Dicionário de Questões Vernáculas”).
3.9. Adjetivos
3.10. Advérbios
Todos sabem que os advérbios basicamente são palavras que modificam o verbo (ele
agiu mal – ela chegou apressadamente).
Certos advérbios podem reforçar o sentido de um adjetivo (fiquei completamente
imóvel) ou de outro advérbio (caminhava muito devagar); às vezes, podem modificar toda a
oração (infelizmente, o médico não o atendeu – possivelmente, não haverá segunda chamada
para a prova).
A Nomenclatura Gramatical Brasileira, aprovada pelo Ministério da Educação (sendo
Ministro Clóvis Salgado), nos termos da Portaria nº 36, de 28 de janeiro de 1959, considera que
certas palavras, que não podem ser enquadradas entre os advérbios, terão classificação à
parte, “como palavras de denotam exclusão, inclusão, situação, designação, retificação, realce,
afetividade, etc.”.
À falta de melhor designação, alguns gramáticos denominam “palavras denotativas” a
tais expressões, conforme estes exemplos, apresentados por Celso Cunha e Lindley Cunha
(“Nova Gramática do Português Contemporâneo”): a) inclusão: até, inclusive, mesmo, também
(tudo na vida engana, mesmo a glória – os bichos sentem, o mato sente também); b)
exclusão: apenas, salvo, senão, só, somente (da família, só elas duas subsistiam – às vezes
interrompia-o apenas com um gestozinho); c) designação: eis (eis o dia do casamento); d)
realce – cá, lá, é que, só (eu cá tenho medo); e) retificação: aliás, ou antes, isto é, melhor (de
repente nasci, isto é, senti necessidade de escrever); f) situação: afinal, agora, então, (afinal,
ele não tem culpa – então, conheceu o meu irmão?).
Na análise, tais palavras ou expressões devem ser consideradas como denotadoras
de exclusão, de realce, de retificação, etc.
3.11. Alimentando
Dispõe o art. 1.701 do Código Civil: “A pessoa obrigada a suprir alimentos poderá
pensionar o alimentando” etc.
A mesma expressão (alimentando) era usada no art. 403 do Código Civil de 1916.
Como anota José Maria da Costa (“Manual de Redação Profissional”), a palavra
“alimentando” consta do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras, que é o veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso idioma, estando
autorizado, por conseguinte, seu normal emprego, para designar aquele que é credor de
alimentos, ou mesmo que, de acordo com a etimologia, deve ser alimentado.Portanto, se está
na lei e no vocabulário oficial, nada contra o uso do “alimentando”, embora alguns civilistas
mais sofisticados gostem de usar o sinônimo “alimentário” (em oposição a alimentante, que é a
pessoa obrigada a prestar os alimentos).
E o Código dispõe que “os alimentos devem ser fixados na proporção das
necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada” (§ 1º do art. 1.694). O art.
1.695 reza que “são devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes,
nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam,
pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento”.
A Lei de Alimentos (Lei nº 5.478, de 25 de julho de 1968) e o Código de Processo
Civil (arts. 732-735), adotaram terminologia mais simples: credor e devedor.
Como se vê, a partir do texto legal, podem ser usados, como sinônimos de
alimentando, as expressões: reclamante, pretendente e (melhor que todas) credor, em
oposição a devedor ou alimentante.
é melhor dizer e escrever: o governo não realizou a obra, porque não havia verba – o
Congresso Modismo muito usado pelos políticos: o governo não realizou a obra, até porque
não havia verba orçamentária – o Congresso deliberou em regime de urgência, até porque a
opinião pública reclamava uma solução. E, na área jurídica: o “habeas corpus” foi denegado,
até porque lhe faltava fundamento legal – o réu foi posto em liberdade, até porque já havia
cumprido a pena. Variante desse modismo: “mesmo porque” (o réu foi condenado, mesmo
porque confessou o crime).
“Até” é preposição, quando indica um limite de tempo, no espaço, ou nas ações: subiu
até o segundo andar – trabalhou até ficar exausto – D. Pedro II reinou até 1889. É advérbio,
com o sentido de “ainda”, “também”, “mesmo”: fala bem de todos, até dos inimigos (Dicionário
Aurélio).
Mas nada justifica o uso do “até porque” (ou do “mesmo porque”), tendo em vista que,
na boa redação, não se usam palavras inúteis. Portanto, deliberou com urgência, porque a
opinião pública reclamava – o “habeas corpus” foi denegado, por falta de fundamento legal – o
réu foi posto em liberdade, porque já havia cumprido a pena. Não há razão que justifique a
pretendida “ênfase”, com o uso do “até”, se um só é o motivo alegado, aliás suficiente para
justificar o enunciado da frase.
Por fim, discutem os estudiosos se é certo usar “até ao” (chegou até ao cume), ou se
é melhor dizer chegou até o cume. Segundo José Maria da Costa, “até” é preposição, e “até a”
é locução prepositiva, ambas sinônimas, equivalentes e igualmente corretas (“Manual de
Redação Profissional”, 2ª ed.). De minha parte, discordando do ilustre colega, acompanho
Arnaldo Niskier, por ele citado: “Recomendamos o uso de até simplesmente, que basta e soa
melhor, embora não possamos considerar errado o uso de até a”.
A locução prepositiva ATRAVÉS DE só deve ser usada em casos como “uma viagem
através do Brasil”, “através da janela vejo o sol” – o que significa que, na linguagem jurídica,
seu uso é bem restrito.
Portanto, não se escreve: “Foi citado através de edital” (mas sim “foi citado por
edital”). Assim também: “Através de escritura pública”...(deve ser “por escritura pública”, ou por
meio de escritura pública) – “Através de prova pericial” (deve ser: por meio de prova pericial, ou
por prova pericial) – “O autor, através de seu advogado, requereu... (deve ser “o autor, por seu
advogado, requereu”) – “O furto ocorreu através de arrombamento” (deve ser “o furto ocorreu
por arrombamento, ou por meio de arrombamento”).
E o legislador também caiu no erro do “através de”. No art. 514 do Código de
Processo Civil, está dito (corretamente) que “a apelação, interposta por petição dirigida ao juiz,
conterá.... Já no art. 524, do mesmo Código, consta que “o agravo de instrumento será dirigido
diretamente ao tribunal competente, através de petição com os seguintes requisitos”... Evidente
o erro da segunda redação, que deveria ser: agravo...dirigido ao tribunal...por petição com os
seguintes requisitos... Se a apelação é interposta por petição, o agravo deve ser dirigido ao
tribunal também por petição (não “através de petição”).
Em suma, nada de “através de”. Menos ainda ATRAVÉS O (que é francesismo, ou
galicismo) e nunca deve ser escrito nem falado (é linguagem de locutor esportivo: “a bola
passou através a barreira...).
Para memorizar o uso do ATRAVÉS DE é só lembrar do exemplo: “Vejo o sol através
da janela” – Também posso ver a chuva através da janela, ou ver as nuvens etc. – mas na
linguagem jurídica, o uso correto é por, pelo, pela, por meio de (por petição, por meio de
advogado, pela prova pericial, pelo recurso cabível etc.).
Historicamente, foi Felipe III, em Portugal, que por alvará de 9 de abril de 1600,
ordenou que os desembargadores usassem as becas, ou seja, a veste talar, consistente numa
túnica preta, apertada com cinto, mais tarde também usada pelos magistrados em geral,
membros dos Ministério Público e advogados, no exercício de suas funções. Veste talar é a
que desce até os calcanhares; assim as vestimentas eclesiásticas e de cerimônia, bem como a
beca, que posteriormente foi se adaptando aos costumes modernos, até ficar reduzida a uma
capinha preta, colocada sobre os ombros, como fazem, por exemplo, os ministros do Supremo
Tribunal Federal.
A beca também é usada por professores universitários. Em cerimônias acadêmicas,
eles costumam ostentar, em lugar da beca, uma capinha preta chamada capelo. “Doutor de
borla e capelo” é o catedrático que tem direito de usar a capinha (capelo) e uma espécie de
barrete ou chapéu, ornado com borla, que é um enfeite recamado de arminho.
Mas, voltando à beca, para surpresa de muitos, ela tem um sinônimo bem conhecido:
é a toga. Segundo De Plácido e Silva, a toga é a própria beca, a vestimenta negra que se põe
sobre a roupa de uso comum (“Vocabulário Jurídico”, verbete “toga”).
Assim, cessam as dúvidas sobre o que é beca, o que é toga, sinônimos de uma só
vestimenta formal, usada nas sessões e solenidades judiciais. Longa ou curta, completa ou só
com a capa, é a mesma coisa.
Bem andaram os dirigentes do Tribunal de Justiça, quando deram o nome de “Sala
das Becas” ao local reservado, onde os desembargadores guardam suas becas, ou togas,
para vesti-las nas sessões e solenidades.
Agora, se alguém quiser complicar, fixando-se numa expressão arcaica, pode
empregar um terceiro sinônimo – garnacha – que é (ou era) um traje longo, usado por monges
e magistrados. Mas, parece que beca e toga já são suficientes para designar a vestimenta
formal dos profissionais do direito, também usada, na formatura, pelos bacharelandos.
Na linguagem coloquial, o pronome oblíquo átono pode começar a frase (me diga se
você sabia; me faça um favor; me empreste um livro ...). Mas ao escrever, quando se deve
usar a norma culta da língua, tal liberdade não é permitida: o certo é diga-me; faça-me,
empreste-me etc.
Normalmente, o pronome átono vem depois do verbo (ênclise): enviaram-me os
documentos; saiu pelos fundos, ausentando-se do local; peço-lhe a gentileza; ouviu-se um
estrondo na sala.
Quando o verbo está no futuro do presente e no futuro do pretérito (condicional) o
pronome átono fica no meio (mesóclise): remover-se-á o entulho; levar-se-iam em conta as
despesas. Nunca se escreve: removerá-se o entulho; levariam-se em conta as despesas.
Usa-se a próclise (pronome antes do verbo) quando existir palavra que atraia o
pronome, tais como as de sentido negativo (não, nunca), certos advérbios, pronomes
indefinidos e demonstrativos, conjunções subordinativas, o pronome relativo que: não me
convidaram para a festa; nunca se sabe; hoje me condenam, ontem me absolviam; alguém me
disse; aquilo me parece; quando me falaram; como nos convidaram; a pessoa que me
procurou; o livro que se colocou na estante; a vida que se esvaiu.
Nunca se usa o pronome oblíquo depois do particípio : tendo formado-se (deve-se
escrever tendo-se formado) – havia quebrado-se (deve ser havia-se quebrado) - tendo
dissolvido-se a sociedade (o certo é tendo-se dissolvido a sociedade).
A questão é difícil e exige muita atenção; é imperdoável que se cometam erros como
os que se encontram, com freqüência, nas petições e peças processuais: “a audiência não
realizou-se”, “quando perguntou-se ao réu”, “tendo omitido-se o laudo a respeito” – quando o
certo é a audiência não se realizou, quando se perguntou ao réu, tendo-se omitido o laudo e
assim por diante.
3.22. Crase
Regra 1 – Só se usa a crase antes de palavra feminina: vou à escola – vou à Itália –
vou à biblioteca – vou à praia – vou à estrada. VER A ÚNICA EXCEÇÃO: REGRA 5.
Regra 2 – Na dúvida, substitua a palavra feminina por uma masculina: vou à escola
(vou ao templo) – vou à Itália (vou ao Brasil) _ vou à biblioteca (vou ao cinema). Se no masculino
for “ao”, então antes do feminino tem crase: “à”.
Regra 3 – Nomes geográficos ou de lugar: na dúvida, substitua o “a” por “para” ou por “de” –
Foi à Itália (foi para a Itália – voltou da Itália). Se for “para a” ou “da” (vou para a Itália – volto da Itália),
então tem crase. Neste exemplo: foi a Roma, não tem crase, porque não se diz “foi para a Roma”, nem
“voltou da Roma”.
Regra 4 – Nome de cidades – têm crase quando precedido de uma qualificação: vou à Roma
dos Papas – vou à Paris das Luzes.
Regra 5 – EXCEÇÃO – Usa-se crase diante do masculino, só neste caso: vou àquele lugar
(senão, ficaria um hiato: vou a aquele lugar). Outro exemplo: referiu-se àqueles livros, àqueles
documentos.
Regra 6 – Indicação de horas. Se for hora determinada, usa-se crase: chegou às 7 horas, veio
à 1 hora – a contagem começa à zero hora – chegou à meia-noite. Se for hora indeterminada, não tem
crase: chegará a qualquer hora.
Regra 7 – Locuções adverbiais em geral levam crase: às vezes, à noite, à maneira de, à moda
da casa, à bala, à máquina, à tinta, à mão, à medida que, à vista. Se seguir palavra masculina, não tem
crase: vender a prazo, escrever a lápis, andar a pé, viajar a cavalo.
Regra 8 - Usa-se crase quando subentendida uma palavra feminina: salto à Luiz XV (à moda
de Luiz XV) – Estilo à Camões (à maneira de Camões) – Vou à Saraiva (subentende-se à Livraria
Saraiva).
Em primeiro lugar, nem por brincadeira se deve falar ou escrever “de modos que”, “de
maneiras que”, “de formas que”, usando o plural. Os estudiosos do idioma classificam essa
linguagem como “erro grosseiro”...
Deve-se usar o singular, como neste exemplo, citado por José Maria da Costa
(“Manual de Redação Profissional”): a testemunha virou o rosto, de modo que não fosse vista
chorando.
O fundamento gramatical para a exigência do singular está em que as expressões “de
modo que”, “de maneira que” e “de forma que” são locuções conjuntivas, equivalendo, assim, a
uma conjunção, que é uma palavra invariável (não se usa no plural).
A segunda observação é que também não se deve usar “de modo a”, “de forma a”,
considerados galicismos (construção afrancesada). Portanto: ele procedeu de modo a provocar
censura (errado) – ele procedeu de modo que provocou censura (correto) – apresentou
brilhante defesa, de forma que convenceu os jurados (correto).
As mesmas observações servem para expressões semelhantes, tais como: de jeito
que, de molde que, de sorte que. Usá-las sempre no singular, sem substituir o “que” pelo “a”
(de jeito a, de molde a, de sorte a são considerados galicismos).
E, na linguagem forense, o melhor é usar apenas “de modo que” e “de forma que”, a
menos que se prefira outra construção: a testemunha virou o rosto, para que não fosse vista
chorando (ou para não ser vista chorando) – a decisão está correta e por isso deve ser
confirmada (em vez de a decisão está correta, de forma que deve ser confirmada). É mais
simples e emprega menor número de palavras, o que significa uma redação mais enxuta e
mais objetiva.
Certos jogadores de futebol gostam de falar difícil, nas entrevistas. Um deles, por
exemplo, em vez de dizer “eu não temo o adversário”, preferiu sofisticar: “A minha pessoa não
teme o adversário”...
Mas... se fossem só eles a inventar tais complicações! Infelizmente, muito gente boa,
com diploma e título de “doutor”, faz questão de falar e escrever difícil, parece que com o
propósito, deliberado ou não, de mostrar aos aqui de baixo o que é erudição e outras coisas
mais.
Assim foi que, lendo uma publicação jurídica, que tratava de tecnologia, direito e
“Internet”, encontrei algumas “perolas”, que ilustram como é fácil falar difícil e escrever para
que os outros não entendam.
Um desses artigos dizia: “O mau uso da tecnologia e a falta de observância da devida
arquitetura legal geram riscos desnecessários”.
“Arquitetura legal” é bonito, não? Mas, exatamente o que significa? Sem dúvida, é uma
expressão da moda, mas só o tempo dirá se é melhor “arquitetura legal”, ou se é preferível
“engenharia legal”, talvez “paisagismo legal”, quem sabe “jardinagem legal”, sei lá...
Mas o artigo continuava: “Não há que se falar em zonas insulares de aplicação jurídica,
em uma nêmese entre a legislação e a auto-regulação”.
Ah, vocês também não sabem o que é “nêmese”? Pois vamos ao Dicionário Houaiss:
Nemêse ou nêmesis, na mitologia grega, era a deusa da vingança. Por extensão, é o rival ou
adversário temível, ato ou efeito de retaliar, justiça distributiva, indignação que a justiça causa,
felicidade não merecida, ciúme, inveja, sentimento de quem se rejubila pela infelicidade de
outrem etc.
Agora, é só escolher em que sentido a “nêmese” foi empregada naquela frase, que
para mim continua sem sentido...
3.27. Em cores
Em plena primavera, estação das flores, é bom relembrar o que o gramática ensina sobre o
plural das cores.
1. Quando a cor é um adjetivo, varia e vai ao plural: olhos azuis, pastas marrons, sapatos
pretos, nuvens brancas. Exceção: roupas marinho.
2. Quando a cor é um substantivo, não varia (fica no singular): paredes creme (subentende-
se cor de creme), ternos cinza (cor de cinza), blusas vinho (cor de vinho).
3. Quando se trata de compostos:
4. São invariáveis: maiôs cor-de-carne, blusas cor-de-rosa, ternos azul-marinho, tons azul-
celeste, raios ultravioleta. Mas infravermelho varia: radiações infravermelhas.
São lições de Eduardo Martins (“Manual de Redação e Estilo”), que indica, por fim, uma
regra prática: sempre que a locução “cor de” estiver subentendida ou expressa, o nome da cor fica
invariável: paredes (cor de) creme, laços (cor de) rosa, blusas (cor de) vinho, estojos cor de carmim,
folhas cor-de-rosa.
E, por falar em cores: o certo é “em cores” (não a cor): televisão em cores, transmissão em
cores.
3.28. É quando...
“Quando” é uma conjunção subordinativa, pela qual se inicia uma oração subordinada,
indicadora de circunstância de tempo: quando ele chegou, trouxe-me um presente; vou viajar,
quando tirar férias; espero que o serviço esteja pronto, quando eu voltar.
O Código Civil, por exemplo, usa os verbos “são” ou “consideram-se” para definir os
bens: “São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força
alheia”... (art. 82) – “Consideram-se móveis para os efeitos legais:.. (art. 83). Jamais o Código
usaria erroneamente a forma “São móveis os bens QUANDO suscetíveis...”, ou “consideram-se
móveis quando”...
Não se deve usar “é quando” em casos como: a apelação é quando o vencido pedirá
a reforma da sentença (deve-se dizer e escrever: na apelação, o vencido pedirá). Também não
se diz “nas férias é quando eu vou conhecer a Bahia”, mas sim: nas férias eu vou conhecer...
Se a pergunta for “quando você vai conhecer a Bahia?”, a resposta é apenas: “nas férias”.
Pior ainda seria usar “onde” (nas férias é onde eu vou conhecer...), porque é errado
usar “onde”, para indicar tempo.
Na boa redação, deve-se evitar o abuso do “quando” e do “onde”. Por uma simples
razão: em geral, ambas as palavras podem ser suprimidas, sem prejuízo para a clareza do
texto. É só pensar um pouco: nas férias, vou à Bahia (não é preciso dizer “nas férias É
QUANDO vou à Bahia”). Assim também: no escritório, vou trabalhar (não é necessário dizer “no
escritório É ONDE vou trabalhar”...).
Menos palavras, menos erros, melhor redação.
3.39. Em face de
A expressão “em face de”, segundo o dicionário Aurélio, significa na presença de,
diante de, perante: o que o salvou, em face do perigo, foi sua habitual calma. Já o Houaiss
registra a expressão “à face de”, com o significado de na presença ou na vista de.
E Caldas Aulete (“Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa”) anota a locução
prepositiva “em face de” com o sentido de em frente, por diante, perante, na presença,
defronte, à vista de, em virtude de: em face um do outro, em face da lei deve ser condenado.
Daí a lição de José Maria da Costa (“Manual de Redação Profissional”), segundo a
qual são corretas as expressões “em face de” e “em face a”, as quais, todavia, devem ser
empregadas em exemplos como este: “em face daquele depoimento, o réu acabou por
confessar o crime”.
O que, segundo o mesmo autor, não encontra respaldo na lei nem na melhor doutrina
do Direito é o uso da expressão “em face de” para posicionar processualmente a parte contra
quem se move uma ação.
Assim pensam Geraldo Amaral Arruda, Sérgio Bermudes e outros juristas e estudiosos
da boa redação jurídica, os quais não aceitam o uso (hoje generalizado e abusivo) do modismo
“ação movida por Maria em face de Antonio” e coisas semelhantes. E João Batista Lopes, autor
do apreciado “Curso de Direito Processual Civil” (Editora Atlas, 2005), observa que para se
dizer que a ação é proposta em face do réu será necessário, por coerência, aceitar a teoria da
ação como direito potestativo (segundo a terminologia de Chiovenda), posição que conflita com
o vigente CPC, que acolheu a doutrina de Liebman.
Vale lembrar que o Código de Processo Civil usa com freqüência a preposição
“contra” - p.ex. nos arts. 56, 58, 66, 268, parágrafo único, 593, II, e 730. No processo de
execução, fala-se em execução por quantia certa contra devedor solvente, contra a Fazenda
Pública e contra devedor insolvente (arts. 646/731 e 748/786-A). E o novo Código Civil também
emprega a mesma expressão, p.ex. no art. 206, § 1º, II – “a pretensão do segurado contra o
segurador, ou a deste contra aquele”. E assim por diante (arts. 679, 680, 686 etc.).
Como a melhor solução é adotar a terminologia legal, o caminho correto continua
sendo este: ação movida por Maria contra Antonio, sem receio do uso do “contra”, preposição
que significa “em oposição a”, “em direção oposta ou contrária a” (dicionário Aurélio).
3.30. Ementas I
3.31. Ementas II
1. Toda ementa deve ter um título, por exemplo: advogado, assistência judiciária,
audiência, competência, correção monetária, dano moral, extinção do processo etc. Em geral,
esse título deve ser escrito em negrito e letras maiúsculas, para facilitar a consulta.
2. Depois do título seguem os subtítulos e o dispositivo, que é o resultado jurídico do
caso: COMPETÊNCIA – Ação de obrigação de não fazer, cumulada com perdas e danos – Ré
pessoa jurídica – Prevalência do foro do lugar da sede sobre o do lugar do ato ou do fato na
ação de reparação de danos (art. 100, IV, “a”, e V, “a”, do CPC) – Recurso não provido.
3. Basta um só dispositivo, como no exemplo acima. Não se recomenda, porque inútil e
repetitivo, um desdobramento do dispositivo, como este, logo abaixo do primeiro: Para efeito de
definição de competência, sendo a ré pessoa jurídica, deve prevalecer o foro do lugar da sede
sobre o do lugar do ato ou do fato, em se tratando de ação de reparação de danos.
4. O dispositivo pode ser simples (como no exemplo acima), quando se trata de apenas
uma questão. Será duplo, triplo etc., dependendo das matérias em exame: preliminares,
decisão sobre questões diversas (denunciação à lide, valor da indenização, honorários
advocatícios etc.).
5. O fecho da ementa é indispensável: Recurso não provido, ou Recurso provido em
parte para esse fim, ou Recurso não conhecido, ou Recurso conhecido em parte etc.
6. Segue-se a identificação do acórdão: por exemplo (fictício): Agravo de Instrumento nº
000.001-9 – São Paulo – 1ª Câmara de Direito Privado – Relator: Des. João de Deus –
11.03.2004 (data do julgamento) – V.U. Em geral essa identificação é colocada entre
parênteses (Agravo de Instrumento nº ...... V.U.). Às vezes, é colocado um código de
arquivamento, da jurisprudência ou da biblioteca (dados facultativos, que variam de tribunal
para tribunal).
3.32. Enquanto
Não se deve falar nem escrever “entre eu e você”, porque as normas gramaticais
ensinam que o correto é “entre mim e você”. Assim também: nada mais há entre mim e ti
(correto), entre ela e mim (correto), o advogado sentou-se entre o juiz e mim (correto), houve
um acordo entre mim e os réus (correto).
A regra é esta: os pronomes retos da primeira e da segunda pessoa (eu e tu) não
podem ser regidos por preposição; mas o pronome reto da terceira pessoa (ele) pode. Mesmo
havendo outros substantivos (e não pronomes) a situação não muda: um acordo entre mim e os
réus, como vimos acima.
“Você” pode vir com proposição ou sem ela: nada há entre mim e você, nada há entre
você e mim.
A propósito da preposição “entre”, é bom lembrar que a expressão correta é: havia na
estante entre 50 e 60 livros e não havia entre 50 a 60 livros. Assim também: a idade dos
jogadores varia de 17 e 19 anos (não 17 a 19 anos), a rentabilidade da poupança ficará entre 1
e 2 por cento (não entre 1 a 2 por cento).
Todas essas lições constam do excelente “Manual de Redação Profissional”, do juiz
José Maria da Costa, Editora Millennium.
3.34. Entretanto... -
Deve-se dizer e escrever: coloque na estante estes livros (que estão comigo) junto
com esses; retire esses e coloque-os com aqueles, do outro lado da sala. Assim também: a
reforma da previdência, a reforma administrativa e fiscal, todas essas (ou todas elas) são
importantes; mas a mais urgente é esta: a reforma da legislação penal.
A regra é esta: o demonstrativo este refere-se ao termo mais próximo; afastando-se
um pouco, usa-se esse; o mais afastado é aquele. Isso também vale para os termos mais
próximos e os mais remotos da oração: Há dois princípios constitucionais básicos: a liberdade e
a responsabilidade; aquela (a liberdade) não pode ser exercida sem esta (a responsabilidade).
E mais: este representa coisa que se pretende mostrar ou dizer, coisa ainda não
conhecida, enquanto esse se refere a coisa já mencionada, já conhecida: Essa situação
(passada, já referida) provocou esta reação popular (que agora vou mencionar): uma greve
geral.... Assim também isto e isso: Prestem atenção nisto (que vou dizer) – não foi isso que eu
disse.
O que não se recomenda é o uso do demonstrativo em expressões como estas: Neste
domingo vou ao Rio. Basta dizer: Domingo vou ao Rio. Assim também: quarta-feira estréia o
novo programa (não nesta quarta-feira estréia). Se a pergunta for “quando é o jogo”, a resposta
será: quarta-feira, sábado, domingo. Assim deve ser, porque ninguém diria “neste amanhã será
o jogo”, mas sim amanhã será o jogo.
1. “Ele é meu amigo pessoal” – que quer dizer isso? Não bastaria: “ele é meu
amigo?”. Acaso existe “amigo impessoal”?
2. “Vontade política” – “Para vencer a inflação é necessário ter vontade política”.
Bastaria: “para vencer a inflação é necessário ter vontade”, porque será que existem várias
vontades: política, jurídica, médica, sociológica, arquitetônica?
3. “Tempo hábil” – “O Congresso não teve tempo hábil para aprovar o projeto” –
Mas, haverá um “tempo inábil”? E um “tempo útil” que tem a ver com o “tempo inútil”?
4. “Espaço físico” – “Não temos espaço físico para instalar a biblioteca” – E espaço
químico, biológico, metafísico? E “espaço de tempo” (não há espaço de tempo para julgamento
do processo)? Não bastaria apenas “espaço” para a biblioteca e “tempo” para julgar o caso?
5. “Vida útil” – “O motor desse carro tem vida útil de três anos”. Será que depois
passa a ter vida inútil? Aliás, carro tem vida? Não seria melhor usar “durabilidade” quando se
trata de coisas?
6. “Consumidor final” – “O preço sobe vinte por cento até chegar o produto ao
consumidor final”. Pergunta: E consumidor inicial, medial – por exemplo: se comprar macarrão
quando o processo de fabricação está na metade, passa a ser consumidor medial...
Esses exemplos são citados por Josué Machado, no “Manual da falta de estilo”, Ed.
Best Seller, 3ª ed., que me chegou às mãos por gentileza da funcionária Vera Lúcia Pastana
(3º Of. Acid. Trab.).
A eles acrescento mais dois: “A grande maioria” (ou a maioria esmagadora) e “a
grande minoria”, expressões usadas a torto e a direito por políticos, jornalistas e por todo-o-
mundo, em todos os lugares e circunstâncias. Será que não basta dizer a maioria concluiu
que…, a minoria entendeu que... Para que esse “reforço” desnecessário, se os adjetivos
“grande” e “esmagadora” nada acrescentam, pois a maioria será sempre de 51 para cima, ou
para mais, e a minoria de 49 para baixo, ou para menos...
3.39. Formatação
A boa apresentação gráfica é indispensável para valorizar uma boa redação. Nas
petições, nas sentenças, nos acórdãos, não basta escrever corretamente, com adequado
conteúdo jurídico. É necessário também que o texto se apresente agradável e de fácil leitura,
para que a mensagem seja transmitida ao receptor, ou destinatário, de forma rápida e
compreensível.
Os computadores oferecem hoje uma infinidade de recursos, que devem ser
utilizados com critério e moderação, sem os exageros dos textos em cores (deve-se usar
apenas a cor preta, sobre papel branco), sem o emprego de letras rebuscadas, grandes ou
pequenas demais – enfim, a composição da página deve ser graficamente limpa, clara e
padronizada com relação ao tamanho das margens, extensão, numeração e outros requisitos
técnicos.
Para os textos jurídicos, são sugeridas as seguintes medidas: margem esquerda – 4,5
cm, no mínimo (lembrar que a folha vai ser perfurada e grampeada nos autos); margem direita
– 2,5 cm, no mínimo; margem surperior – 4,5 cm; margem inferior – 4,0 cm; cabeçalho (timbre)
– 3,5 cm; rodapé – 2,5 cm. Fonte (tipo de letra) - de preferência “times new roman” ou
semelhante, tamanho 12 a 14. Espaçamento médio, normal (simples ou 1,5). Notas de rodapé:
só em casos excepcionais, com letra reduzida.
Por fim, um lembrete oportuno: não usar o verso da folha, mas apenas a frente,
porque as impressões dos dois lados ficam sempre sacrificadas na leitura (a margem direita do
verso fica “embutida” nos grampos do processo).
E... escrever à mão – só com boa caligrafia, quando o texto for muito curto e simples,
com tinta escura e indelével (azul ou preta), sem usar abreviaturas, como está no art. 169 do
Código de Processo Civil.
“Se o Brasil tivesse ganhado a Copa em 1998” (ou tivesse ganho) – qual a forma
correta?
Os verbos “ganhar”, “gastar” e “pagar”, atualmente estão sendo construídos com o
particípio irregular: tinha ganho, tivesse ganho, tinha gasto, tinha pago, em vez de tinha
ganhado, tinha gastado, tinha pagado. Mas esta última forma (se o Brasil tivesse ganhado)
também pode ser usada.
A regra geral é esta: com os verbos auxiliares “ter” e “haver” usa-se o particípio
regular: tinha matado, havia matado, tinha acendido, havia acendido.
Já com os verbos “ser” e “estar” deve-se usar o particípio irregular: foi morto, está
morto, foi preso, foi eleito, estava acesa (a lâmpada foi acesa; a lâmpada estava acesa).
Pegado, pego – A forma participial “pego” (com pronúncia fechada: pêgo) é a mais
usada hoje: havíamos pego o ladrão quando a polícia chegou. Mas também poderia ser dito: já
havíamos pegado o ladrão quando a polícia chegou.
Feito – É bom lembrar que alguns verbos (como fazer) só têm o particípio irregular
(feito). Por isso, jamais dizer ou escrever “fazido”.
Dito, escrito, visto – Assim como “fazer”, os verbos “dizer”, “escrever” e “ver” só têm
o particípio irregular: dito, escrito, visto. Nunca usar (nem por brincadeira) “dizido”, “escrevido”,
o que constitui erro grosseiro.
Também os derivados dos verbos fazer, dizer, escrever e ver apresentam somente o
particípio irregular. Portanto: desdito (de desdizer), reescrito (de reescrever), contrafeito (de
contrafazer), previsto (de prever).
3.41. Gerúndio
Primeira regra – Não se deve falar nem escrever “vou estar mandando”, “vou estar
providenciando”, “vou estar esperando sua resposta” e coisas semelhantes. Trata-se de
modismo inaceitável no vernáculo (chamado de gerundismo), pois o correto é: vou mandar, vou
providenciar, vou esperar sua resposta (ou mandarei, providenciarei, esperarei sua resposta).
Segunda regra – Evitar o encadeamento enfadonho de gerúndios, bem ilustrado no
exemplo dado por Geraldo Amaral Arruda: “Os réus foram citados, tendo apenas Aléssio
contestado a ação, aduzindo que não mantivera contato sexual com a mãe da autora,
acrescentando que esta possuía namorado...” A frase ficaria melhor assim: Citados os réus,
apenas Aléssio contestou a ação, aduzindo que não manteve contato sexual com a mãe da
autora e que esta tivera namorado... (“A linguagem do juiz”, p. 17).
Terceira regra – Não falar nem escrever “uma casa tendo quatro quartos”, mas sim
“uma casa com quatro quartos”. Assim também não se deve usar “um copo contendo vinho”,
mas sim “um copo de vinho” – “li um livro contendo várias histórias”, mas sim “li um livro que
contém várias histórias” (ou li um livro com várias histórias) e assim por diante.
Quarta regra – Na dúvida sobre o uso do gerúndio, procure verificar se há uma
continuidade de ação e, nesse caso, o gerúndio pode ser substituído, à moda portuguesa, pelo
infinitivo regido da preposição a: vi a criança brincando (vi a criança a brincar) – vi o estudante
lendo o livro (vi o estudante a ler o livro) – o caixa estava contando dinheiro (a contar dinheiro).
Nesses exemplos, pode-se usar o gerúndio, porque a continuidade da ação legitima o seu
emprego correto.
3.42. Gerundismo
Já escrevi sobre o gerundismo. Sou obrigado a voltar ao tema, porque a moda pegou
de tal forma, que só se ouvem por aí pessoas dizendo: “eu vou estar passando o seu recado” –
“vou estar anotando o seu telefone” – “vou estar transferindo sua ligação”, etc.
É a linguagem do telemarketing, que se espalhou rapidamente pelas bocas e
ouvidos, transformando-se num modismo, que cumpre ser evitado.
Trata-se de vício de linguagem, talvez má tradução do inglês, que consiste no
emprego de três verbos para exprimir uma ação futura: verbo ir (eu vou, você vai) + verbo estar
no infinitivo + outro verbo no gerúndio. Fica assim: vou estar passando o seu recado. Bastaria
dizer: vou passar o seu recado – vou anotar o seu telefone – vou transferir a sua ligação.
Pior ainda é o emprego de quatro verbos, como neste exemplo: você vai poder estar
utilizando esse ingresso duas vezes. Seria certo dizer: você poderá utilizar esse ingresso duas
vezes. Nada justifica, na linguagem correta, o uso de quatro verbos para exprimir uma só ação.
Os estudiosos admitem “vai estar” apenas para indicar a simultaneidade de dois fatos
futuros, por exemplo: domingo, quando você estiver viajando, ele vai estar trabalhando. Mas,
para evitar a tentação do gerundismo, é melhor dizer logo: quando você estiver viajando, ele
estará trabalhando. Assim, a frase fica mais clara e não há o perigo da enfadonha repetição de
verbos.
Os modismos, em geral, devem ser evitados na linguagem oral, mesmo quando se
trata da fala coloquial (conversa entre amigos, bate-papo informal, etc.). O risco, porém, é
passar tais vícios para a escrita, que não admite certas liberdades de expressão e expõe o
autor do texto a ser ridicularizado, quando não avaliado de forma depreciativa. Portanto, nada
de gerundismo, um vício que pega e do qual é dificil livrar-se depois.
3.44. Impropriedades
Sob esse título, Eduardo Martins (“Manual de Redação e Estilo”) escreve que muitas
vezes há termos ou expressões absolutamente inadequados para a situação que você
pretende descrever ou substituíveis com vantagem por outros mais apropriados ou mais
conhecidos dos leitores.
Exemplos: O próximo contato (contato seguinte) de Antonio foi com Pedro – Como
recompensa (compensação) para os problemas do time, o técnico terá as voltas (a volta) de
Alberto e Ronaldo – O gol contra premiou (puniu) a incompetência do time.
Há também impropriedade nas construções imperfeitas e de mau estilo: Na sessão de
hoje, o tribunal deverá conceder ou não o “habeas corpus” (simplesmente: deverá julgar o
habeas corpus) – os servidores conseguiram aprovar o projeto (conseguiram que fosse
aprovado o projeto).
E, por fim, há impropriedades que decorrem de formas viciadas de expressão: a
reforma que está sendo gerada no seio do governo – as provas constantes do bojo dos autos –
o tribunal, pela unanimidade de votos de seus juízes, concedeu a ordem – a sentença do juiz
de primeiro grau condenou – o tribunal reformou a sentença emanada do juiz.
Exemplos como esses servem para mostrar o descaso de quem redige, ou mesmo a
ignorância do vernáculo. E um dos piores caminhos, em matéria de redação, é imitar modismos
e expressões que a mídia solta no ar: a implementação do projeto, o viés de alta, os
parâmetros jurídicos, face ao, encontra-se presente e assim por diante.
3.45. Improvisação
Não se diz, nem se escreve: “Vou à festa, inclusive já confirmei minha presença” (diz-
se: Vou à festa; já confirmei minha presença) – Assim também: “O processo será julgado
amanhã, inclusive o advogado já foi intimado” (diz-se: O processo será julgado amanhã e o
advogado já foi intimado) – “A prova produzida, inclusive testemunhal, demonstrou...” (basta
dizer: “a prova demonstrou”, subentendendo-se que a palavra “prova” abrange também a
testemunhal).
Ensina Napoleão Mendes de Almeida (“Dicionário de Questões Vernáculas”) que
inclusive é advérbio latino (em português seria inclusivamente); só deve ser empregado com
função adverbial. Seu antônimo é exclusive: De um a dez, inclusive (incluindo o dez) – De um a
dez, exclusive (excluindo o dez). Não se usa como sinônimo de até, até mesmo, ainda, o
próprio, além de, ou com função prepositiva: Há dez passageiros a bordo, incluindo quatro
crianças (não “inclusive” quatro crianças). Pior ainda: Ele assim agiu inclusive e principalmente
para evitar a perda total... (deve-se dizer apenas: ele assim agiu para evitar a perda total...).
Mais um exemplo: “Casas, apartamentos, inclusive um iate, todos os bens foram penhorados”
(a melhor redação é: Foram penhorados todos os bens: casas, apartamentos e um iate).
a) clara: “a clareza é a maior qualidade do estilo” (Dad Squarisi, “Mais Dicas da Dad”,
Ed. Contexto);
Vamos estudar algumas expressões latinas, dado o seu uso freqüente na redação
jurídica.
Mas, primeiro, uma importante observação: essas expressões devem ser destacadas
em itálico (prima facie = à primeira vista), em negrito (in extenso = por extenso) ou entre aspas
(“pro tempore” = segundo as circunstâncias, conforme o tempo). Talvez uma ou outra, porque
já incorporada ao português, possa dispensar esse destaque: quantum, quorum, referendum,
de cujus, a quo etc.
Lato sensu (em sentido lato, sentido amplo) nunca deve ser escrito “latus sensus”, ou
“lato sensus”. Assim também: a contrario sensu (pela razão contrária), more uxório (segundo o
costume de casado), mora ex persona, mora ex re (mora proveniente da pessoa, ou da coisa),
in dubio pro reo (na dúvida, a favor do réu), in concreto e in abstracto (em concreto, em
abstrato), in extenso (por extenso), in verbis (nestes termos), in singulis (por cabeça, por cada
um), in limine (liminarmente). São casos de ablativo, usado no latim para indicar tempo, modo,
fim, causa, condição e outras circunstâncias adverbiais.
Agora, uma questão que tem causado certa perplexidade. Costuma-se dizer “juiz a
quo” (juiz do qual se recorre). Então, alguns apressados passaram a escrever “juíza a qua”
(juíza da qual se recorre), porque “qua” é o feminino de “quo”. Mas sem razão, porque na
verdade, o recurso é da decisão proferida no juízo inferior, portanto, sempre deve ser “a quo”,
nunca “a qua”. E o recurso é sempre dirigido ao tribunal “ad quem” (para o qual se recorre).
3.52. Modismos
“Não foi nem deixou que os outros fossem”. É assim que se usa corretamente a
conjunção aditiva “nem”. É errado escrever: não foi E nem deixou que os outros fossem, porque
a palavra NEM significa E NÃO. Pode-se usar vírgula: não foi, nem deixou que fossem.
NEM é usado em oração negativa (não foi nem deixou ...). É melhor usar NEM –
NEM (Não quero nem café nem pão) do que NEM – OU (Não quero café ou pão), a não ser que
os dois substantivos sejam sinônimos: Não estou alegre ou feliz com isso.
Nos demais casos, deve-se repetir o NEM: não compareceram nem os réus nem as
testemunhas – não gostei nem do restaurante nem da comida – não li nem gostei (é melhor do
que a expressão comum “não li E NÃO gostei”).
NEM UM NEM OUTRO – Quando o sujeito composto é constituído de UM E OUTRO,
NEM UM NEM OUTRO, o verbo fica indiferentemente no singular ou vai para o plural: um e
outro é bom, um e outro são bons, nem um nem outro apareceu, nem um nem outro são meus
irmãos, nem uma nem outra coisa aconteceu.
O verbo fica no singular, quando houver idéia de exclusão: nem Pedro nem Paulo
será eleito presidente.
Se houver idéia de concomitância, o verbo vai ao plural: nem ele nem sua mulher
gostaram disso.
3.55. Números
A palavra “onde” é usada como advérbio, com o sentido de “em que lugar”, “no qual
lugar”, por exemplo: não sei onde está o livro, “a bomba está principalmente onde não está”
(Carlos Drummond de Andrade).
Usa-se “onde” como pronome, no sentido de “em que”, por exemplo: a casa onde
moro vai ser vendida (= a casa em que moro).
Os mestres do vernáculo ensinam que “onde” deve ser empregado quando se trata de
estada, permanência em um lugar: “não sei onde você o encontrou” (=em que lugar). Já
“aonde” indica movimento para um lugar: “sei aonde (para que lugar) queres ir.
O que não se deve usar é “onde” com sentido temporal, por exemplo:
1. após a penhora, é onde o devedor pode oferecer embargos (deve ser: após a
penhora, o devedor poderá opor embargos).
2. ele ficou confuso; foi onde começou a mentir (deve ser: ele ficou confuso;
então, começou a mentir).
3. no segundo tempo, foi onde o jogo mudou (deve ser: no segundo tempo foi
que o jogo mudou, ou simplesmente: o jogo mudou no segundo tempo).
1. O livro onde ele defende essa tese (deve ser: o livro no qual, ou o livro em
que)
2. A situação do país, onde está aumentando a dívida externa, é muito grave
(certo: em que está aumentando, ou reescrevendo a frase: é grave a situação
do país, em vista do aumento da dívida externa...)
Para o correto uso do “onde”, é só lembrar: apenas quando se trata de lugar. Lugar
em que = ONDE ; lugar para o qual = AONDE. Na linguagem coloquial, admite-se o uso do
“onde” em ambos os casos; mas em textos formais (escritos) é melhor fazer a distinção: a
cidade onde ele mora, a cidade aonde vai passar as férias.
Geraldo Amaral Arruda (“A linguagem do juiz”) observa que, nos trabalhos forenses,
são comuns as impropriedades de expressão no que se refere às ações praticadas pelo juiz.
Uma das mais freqüentes é o uso do verbo “acatar”, que significa “respeitar”, “aceitar com
respeito”. Não é correto dizer que o juiz acatou o pedido ou a alegação da parte. O juiz aceita a
alegação da parte, acolhe o pedido, defere o requerimento, A parte é que acata a decisão do
juiz, conformando-se com ela ou contra ela interponto recurso.
Quanto aos verbos referentes à atuação do juiz, mestre Arruda relaciona setenta e
cinco casos, extraídos do Código de Processo Civil. Eis alguns exemplos:
Interessante anotar que, na linguagem dos textos legais, embora apareçam verbos
como “sentenciar”, “recorrer”, “apelar”, “contestar”, “embargar”, há certa preferência pelas
locuções como “proferir sentença”, “interpor recurso”, “interpor apelação”, “oferecer
contestação”, “opor embargos”. “Nesses casos – diz Arruda – qualquer das opções será
correta, mas freqüentemente o uso da locução permitirá construção mais expressiva ou mais
elegante”.
3.60. Palácio da Justiça
3.61. Palavrão
A linguagem jurídica deve ser simples, clara, elegante, sóbria. Nela não há espaço
para expressões de gíria, vulgaridades, palavrões, palavras chulas.
Mas, às vezes ocorre que, em um depoimento, a testemunha usa uma dessas
expressões, que não podem ser substituídas no texto, ainda mais “a critério” da autoridade que
colheu a prova. Assim, se a testemunha diz que “João deu uma porrada no Antonio”, não é
razoável registrar que João deu um soco, um murro, um tapa no Antonio. É melhor, em tal
caso, que fique constando a palavra usada, tal como foi dita, do que procurar aleatoriamente
substitui-la por outra, que nem sempre corresponde ao que foi dito pela testemunha, na sua
simplicidade ou sinceridade.
Só se admite a mudança se, ao tomar o depoimento, a autoridade reperguntar à
testemunha, fazendo-a, então, substituir uma palavra por outra. Assim, no exemplo citado, se a
testemunha disse “deu uma porrada”, a autoridade poderá perguntar-lhe: “O senhor quer dizer
‘deu um soco”? Se a testemunha confirmar, então pode-se registrar que João deu um soco no
Antonio.
Quanto às partes do corpo humano, questões sexuais e temas de natureza íntima, é
preciso cautela para que não cair na vulgaridade, baixando o nível do discurso. Devem-se usar
as palavras no seu sentido comum, ou de acordo com as expressões legais, a linguagem da
medicina, sem que seja necessário “apelar” para “baixarias”, intoleráveis nos textos oficiais.
Em tudo, na boa redação, é preciso agir com bom-senso e observar as boas regras
do idioma, da convivência e do respeito ao leitor.
Certas expressões caem no gosto da mídia e logo contaminam o público, que passa a
repeti-las e, pior, a escrevê-las a torto e a direito. “A bola da vez” (outra expressão muito em
uso) é o “politicamente correto”, ou “politicamente incorreto”.
Tal expressão ganhou maior notoriedade e chegou às manchetes quando, há
algumas semanas, o governo federal deu início à distribuição de uma polêmica cartilha,
intitulada “Politicamente Correto”. O manual, organizado pela Secretaria dos Direitos Humanos,
traz uma relação de palavras e expressões correntes (como “palhaço”, “peão”, “barbeiro”,
“anão”), que deveriam ser evitadas porque envolvem conotação pejorativa ou discriminatória.
É evidente que tal cartilha (da qual seriam distribuídas cinco mil exemplares)
provocou críticas e discussões, a tal ponto que sua distribuição foi suspensa. Em vez disso, os
órgãos oficiais decidiram que o tema precisa ser debatido e propuseram a realização de um
seminário, com o título “Linguagem, Poder e Preconceito”.
Mas, que é o “politicamente correto”? São palavras, expressões, posições,
afirmações, colocações que estão de acordo com condutas, padrões e normas correntes,
aceitas pela sociedade atual, representada por entidades, organizações, governamentais ou
não, e, em geral, os formadores de opinião, isto é, políticos, jornalistas, professores. Nesse
contexto, não se admitem preconceitos, discriminações, críticas que possam ofender ou
melindrar quaisquer raças, classes, cidadãos, sexos, nacionalidades, enfim: é “politicamente
correto” tudo o que soma em favor da coletividade; ao contrário, é “politicamente incorreto” tudo
o que divide, discrimina, ou revela preconceito.
Até aí, tudo bem. O que seria péssimo é “essa coisa de censurar palavras e
expressões nascidas do falar popular”, como observou o escritor Ferreira Gullar (“Folha de S.
Paulo”, 15.5.05).
De qualquer modo, tanto merece repulsa a censura, como o mau gosto (e a
pretensão) de ficar rotulando isto e aquilo de “politicamente correto”, ou “politicamente
incorreto”.
3.64 Pontuação
A vírgula separa:
Diz o Código de Processo Civil que “os prazos começam a correr do 1º (primeiro) dia
útil após a intimação” (§ 2º do art. 184). Já o art. 185 dispõe que será de cinco (5) dias o prazo
para...
Certo? Não, errado!
De acordo com a Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, os números
devem ser grafados por extenso, exceto data, número de lei e nos casos em que houver
prejuízo para a compreensão do texto (art. 11, inciso II, alínea “f”).
Não há norma alguma do idioma que mande repetir, entre parênteses, o número
grafado por extenso. Portanto, escreve-se “Prazo de dez dias”, “os prazos começam a correr
do primeiro dia útil”, “prazo de vinte e quatro horas”, “prazo de um ano” e assim por diante.
O Código de Processo Civil, infelizmente, contém essa imperfeição, que não deve
ser seguida, nem copiada, mesmo nas citações e transcrições entre aspas. É perfeitamente
possível citar o Código, sem a indicação de algarismos entre parênteses: basta escrever o
número por extenso.
A Constituição Federal de 1988 não caiu no erro. Lá está escrito, por exemplo,
“promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas”... “dois anos de exercício”... “dez por
cento, cinco por cento, noventa por cento”... “superior vinte e cinco julgadores”... (art. 93,
incisos II, alíneas “a” e “b”; V e XI).
Já o novo Código Civil (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002) voltou ao velho estilo
de repetir números por extenso e algarismos, ou vice-versa. É lamentável. Portanto, sem
medo de errar e sem constrangimento, devemos seguir o que determina a lei que trata da
matéria (LC nº 95/98) – grafar por extenso quaisquer referências a números e percentuais,
exceto data, número de lei e nos casos em que houver prejuízo para a compreensão do texto.
Não é preciso mencionar, entre parênteses, os algarismos correspondentes.
3.67. Redundâncias
É redundante dizer “há cinco meses atrás” (diz-se apenas “há cinco meses”). Mas há
outras redundâncias, comuns na linguagem cotidiana:
1. “Encarar de frente” – usa-se apenas encarar, que significa olhar de frente. Pode-se
encarar firmemente, encarar com ódio, com firmeza, mas nunca encarar de frente o adversário
(pior ainda “enfrentar de frente”).
2. “Receber das mãos” – usa-se, por exemplo: O governador recebeu do deputado um
exemplar do projeto (não: recebeu das mãos do deputado). Se quiser dar ênfase ao fato, diga:
o governador recebeu do próprio deputado um exemplar do projeto.
3. “Conviver junto” – conviver já encerra a idéia de junto. Portanto: eles convivem há
muitos anos; não conseguem conviver sem briga etc.
4. “Criar novos empregos” – criar já indica algo de novo. Portanto: o governo vai criar
empregos na indústria; vão ser criados mil cargos.
5. “O técnico repetirá o mesmo time” – O emprego do “mesmo” é redundante: o
técnico repetirá o time. Assim também: o teatro vai repetir o espetáculo (não: vai repetir de
novo, ou vai repetir o mesmo espetáculo).
6. “Não há outra alternativa”. Toda alternativa é “outra”. Diz-se, portanto: ele não tem
alternativa; não há alternativa possível; ou paga, ou o título será protestado, sem alternativa.
Estes exemplos constam do “Manual de Redação e Estilo”, de Eduardo Martins
a
(Editora Moderna, 3 . edição), obra prática, que merece consulta freqüente para esclarecimento
de dúvidas.
Na redação forense há alguns verbos que são muito usados, mas é preciso atender à
sua regência correta, que pode variar, conforme o caso.
Por exemplo, “atender à sua regência correta” tem o sentido de “prestar atenção”,
“levar em conta”; deve ser usado como transitivo indireto (com preposição ou crase): o juiz
atendeu ao advogado que o procurou. Já como transitivo direto (sem preposição) significa
acolher, deferir, acatar: o juiz atendeu o pedido – o funcionário atendeu o aviso – Deus
atendeu minhas preces.
O verbo “assistir”, como transitivo indireto (com preposição) é usado no sentido de
estar presente, presenciar, comparecer: os estagiários assistiram à audiência – o advogado
assistiu ao julgamento. Como transitivo direto (sem preposição) significa dar assistência,
socorrer, ajudar: o médico assistiu o paciente – o advogado assistiu seus clientes.
O verbo “proceder”, usado como transitivo indireto (com preposição) significa originar-
se, derivar, descender, instaurar processo, levar a efeito, executar, realizar: o efeito procede da
causa – o filho procede do pai – cabe à polícia proceder contra o crime – procedeu-se à
contagem dos votos. Atenção: nestes casos, não cabe a forma passiva, como “foi procedida a
leitura da ata” (deve-se escrever: procedeu-se à leitura da ata, procedeu-se à contagem dos
votos, à instauração do inquérito). Como intransitivo, o verbo “proceder” tem o sentido de
comportar-se (o réu procedeu de acordo com a lei), ser procedente, justificar-se: não procede o
argumento, os requerimentos não procedem.
E o verbo VISAR - que muitos usam com regência incorreta – deve ser empregado
como transitivo indireto (com preposição) com o sentido de “objetivar”, “ter por finalidade”:
visando a obter uma decisão favorável, visando à liberdade do réu, visando à condenação do
acusado, visando ao pagamento do débito etc. Só se usa “visar” como transitivo direto no
sentido de “pôr o visto” (visar o passaporte) ou “mirar” (visar o alvo).
O verbo PRESIDIR pode ser usado como transitivo direto ou indireto, no sentido de
“exercer a presidência”: o juiz presidiu o júri (ou presidiu ao júri) – o governador presidiu a
sessão ou à sessão.
Por fim, DIGNAR-SE é sempre usado como pronominal: o juiz dignou-se de ouvi-lo
novamente – Requeiro digne-se Vossa Excelência de deferir o pedido (há também os que
aceitam a fórmula “digne-se Vossa Excelência deferir o pedido”).
Inventaram um novo modismo: não se fala mais em risco de vida, mas sim em risco
de morte...
Assim: “a vítima ainda corre risco de morte” – “o menor foi hospitalizado, após o
acidente, mas os médicos não ‘descartam’ o risco de morte”. E por aí vai.
Certo? Não: errado.
É da tradição vernácula o uso da expressão “risco de vida”. Como está no novo
Código Civil: “Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não
obtendo a presença da autoridade” ... E assim era no antigo Código e na legislação em geral.
Como ensina De Plácido e Silva (“Vocabulário Jurídico”), a expressão “risco de vida”
exprime simplesmente “perigo iminente ou perigo de perda de vida”. Na linguagem jurídica, o
vocábulo indica simplesmente o sentido de perigo ou de mal receado: é o perigo de perda ou
de prejuízo, ou o receio de mal, que causa perda, dano ou prejuízo.
Portanto, o risco de vida é o perigo de perda da vida, perigo de perda de um bem
(vida). Embora se possa falar em “perigo de morte”, será muito mais elegante a expressão
tradicional – risco de vida, perigo de vida, que se refere à possibilidade da perda desse bem.
Só não entende quem não quer; só complica quem quer complicar; só inventa
novidades inúteis quem não conhece a índole do idioma e parece querer corrigir um “erro”
centenário, que nossos antepassados não cometeram, pois diziam (e diziam muito bem) risco
de vida, perigo de vida – o que era entendido por letrados e iletrados, expressões consagradas
na legislação e na tradição jurídica.
1. O nome de vias e lugares públicos deve ser escrito com iniciais maiúsculas:
Rua Augusta – Avenida São João – Praça São Paulo.
2. As partículas (artigos, preposições, etc.) escrevem-se em minúsculas:
Avenida da Consolação – Praça do Patriarca – Largo da Batata – Praia da
Enseada.
3. Quando tais denominações contiverem datas, usam-se algarismo arábicos e
o mês em maiúscula: Avenida 23 de Maio – Rua 12 de Outubro – Rua 25 de
Março – Rua 7 de Abril.
4. Eventualmente, os números referentes a datas históricas de grande
expressão podem ser escritos por extenso (desde que seja uma só palavra):
Largo Sete de Setembro – Rua Quinze de Novembro – Avenida Nove de
Julho.
5. Só se usam algarismos romanos quando se trata de títulos de reis e papas:
Avenida João XXIII – Praça Eduardo V – Rua Pio XII – Parque D. Pedro II.
Portanto, não se deve escrever Rua XV de Novembro, mas sim: Rua 15 de
Novembro, ou Rua Quinze de Novembro.
Outros exemplos:
l. O réu tem dois filhos, sendo que o mais velho é estudante - substituir por: O réu tem
dois filhos; o mais velho é estudante.
2. Havia vários processos em pauta, sendo que nem todos foram julgados - substituir
por: Havia vários processos em pauta; nem todos foram julgados.
3. Encontrei-me com um grupo de advogados, sendo que três deles eram meus
conhecidos - substituir por: Encontrei-me com um grupo de advogados, três dos
quais eram meus conhecidos (ou dos quais três eram meus conhecidos).
E assim por diante. A regra geral é substituir o "sendo que" por ponto e vírgula, ou por
"e", ou por outra construção, como nos exemplos acima. Como ensina Geraldo Amaral Arruda,
"sendo que" é locução que tem o valor de conjunção causal, mas vem sendo usada como
maneira fácil de "esticar a frase". O seu exagerado uso, fora do sentido de relação causal,
prejudica a clareza da frase e o estilo ("A linguagem do juiz", Saraiva, 1996, p. 109).
Também não se devem usar expressões como "sendo certo que", "sendo justo que",
"sendo razoável que". Exemplos: l. Em vez de "Pagou três prestações, sendo certo que a última
foi paga com atraso", é melhor: "Pagou três prestações, a última com atraso". 2. "São três
filhos, sendo justo que o menor fique com a mãe", é preferível: São três filhos; é justo que o
menor fique com a mãe" (ou É justo que o menor dos três filhos fique com a mãe). 3. "Ele
tentou um acordo, sendo razoável supor que pretendia pagar os atrasados", é melhor: "Ele
tentou um acordo; é razoável supor que pretendia... (ou É razoável supor que ele pretendia
pagar os atrasados, pois tentou um acordo).
3.76. Simplicidade
Uma das regras básicas da boa redação é o uso de palavras simples: “Entre duas
palavras, escolha a mais simples; entre duas palavras simples, escolha a mais curta” (Paul
Valery).
A palavra “simples” vem do latim simplex, simplice, formada de sim + plex, que
significa “sem dobra, sem prega, ou seja, singelo, não composto, não forrado, não duplicado,
que não é complexo. O verbo plicare tem o sentido de dobrar, redobrar; plicatura é a ação de
dobrar ou franzir; plicatrix era a mulher que dobrava os vestidos.
Daí derivam muitas outras palavras: complicado (= dobrado, enrolado); implicar,
implicado (=enlaçar, enrolar, envolver, envolvido); explicar (= desenrolar, desdobrar,
desenvolver, estender, esclarecer); duplicar (dobrar, daí: duplo e duplicata); multiplicar (=
dobrar muitas vezes); replicar (=dobrar para trás, recurvar, desviar, percorrer, compulsar);
aplicar (aproximar-se de, ligar a, prender a); suplicar (no latim, supplicare, com o sentido
original de dobrar o joelho, atitude de quem pedia um favor ou uma graça).
Palavra próxima e semelhante é plexus, do verbo plecto, plectere (= entrelaçar,
enlaçar, sofrer um prejuízo). Daí, amplexo (abraço); complexo (= que abrange muitos
elementos ou partes, confuso, complicado); cúmplice (aquele que está enlaçado, envolvido
com).
O adjetivo plicabilis significa “que se pode dobrar, flexível”. E plasticus é o que
modela, a arte de modelar, exercida pelo plaster, o modelador, o escultor.
Dispõe o parágrafo único, do art. 169 do Código de Processo Civil que “é vedado usar
abreviaturas”.
A rotina forense, todavia, tem abrandado esse preceito, a ponto de permitir que
algumas palavras e expressões sejam abreviadas, a começar pelo artigo, que no próprio
Código consta com “art.” (e não por extenso), o que está de acordo com o disposto na Lei
Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998.
Assim, deve-se escrever “o art. 169 do CPC dispõe que os atos e termos do processo
serão datilografados ou escritos com tinta escura e indelével” etc. (não “o artigo 169 do
CPC”...).
Os números devem ser escritos por extenso, como manda a citada LC 95/98, exceto
data, número de lei e nos casos em que houver prejuízo para a compreensão do texto.
Portanto: o fato ocorreu no dia 5 de janeiro de 2004 (nunca 05.01; mas, se quiser: 5.1.04) - A
Lei nº 8.950, de 13.12.94 – Compareceram ao exame 789 alunos, tendo faltado apenas 17.
São casos em que se usam algarismos, não cabendo a indicação dos mesmos números por
extenso.
Mas (ao contrário do que está no CPC) deve-se citar o art. 549 assim: “Distribuídos,
os autos subirão, no prazo de quarenta e oito horas, à conclusão do relator” etc. Não é
necessário escrever: quarenta e oito (48) horas: não se justifica o emprego de algarismos, se o
número já consta por extenso.
Pode-se abreviar Dr., MM.Juiz, Exmo.Sr.Juiz, E. Tribunal e outras expressões de
tratamento, embora seja mais elegante grafá-las por extenso. Nas citações, dispensam-se os
títulos dos autores – basta dizer Orlando Gomes, Washington de Barros Monteiro, Theotonio
Negrão: não é preciso usar Dr., Professor, Mestre, assim como devem ser afastados os
elogios, fúnebres ou não: o saudoso Theotonio Negrão, o grande Orlando Gomes e outros
exageros de mau-gosto.
1. Nomes de vias e lugares públicos: Rua Pamplona, Avenida Paulista, Praça João
Mendes, Alameda Santos;
2. Nomes que designam altos conceitos religiosos, políticos e sociais: Igreja, Nação,
Estado, Congresso Nacional;
3. Nomes que designam artes, ciências ou disciplinas: Direito, Arquitetura, Letras,
Filosofia, Estudos Sociais;
4. Nomes que designam cargos, postos ou dignidades: Juiz de Direito,
Desembargador, Ministro, Governador;
5. Nomes de repartições, corporações, agremiações: Presidência da República,
Assembléia Legislativa;
6. Nomes de fatos históricos importantes: Dia da Pátria, Natal, Dia da
Independência;
7. Nomes de escolas, faculdades, cursos: Faculdade de Direito da Universidade de
São Paulo;
8. Expressões de tratamento ou reverência: Vossa Excelência, Senhor Ministro, MM.
Juiz;
9. Nomes de leis, decretos etc: Lei nº 1.040/50, Decreto nº 10.162, Acórdão da 1ª
Câmara do Tribunal de Justiça;
10. Nomes próprios, títulos de livros e obras: Grande Sertão: Veredas, de João
Guimarães Rosa, revista Veja;
11. Nomes de regiões, países, cidades: Baixada Santista, Planalto Central, Países
Baixos, região de Campinas.
Primeira regra: não usar “pontinhos”, mas só letras: ONU, OAB, STF etc. (nunca
O.N.U. – O.A.B. – S.T.F.).
Segunda regra: usar todas as letras maiúsculas só nas siglas que tenham até três
letras: PT, OAB. STF. Com mais de três letras, só a inicial é maiúscula: Incra, Unesco, Fiesp,
Sabesp, Ipesp.
Terceira regra: se as siglas formadas por mais de três letras não puderem ser
pronunciadas como uma palavra, então devem ser grafadas em maiúsculas: INSS, DNER,
CNBB, CPOR.
Quarta regra: Na primeira citação, convém explicar o que a sigla significa, colocando-
a no fim do nome por extenso: O Conselho Monetário Nacional (CMN) – A discussão a
respeito do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Também se costuma usar travessão,
em lugar dos parênteses: O Instituto de Previdência do Estado de São Paulo – Ipesp. Nas
citações seguintes, no mesmo texto, usa-se apenas a sigla.
Quinta regra: Nomes de partidos políticos, bancos e empresas muito conhecidas
dispensam a explicação por extenso (referida na regra anterior): PMDB, PFL, Varig, Vasp,
Bradesco, Banespa.
Sexta regra: Não invente siglas, use apenas as consagradas pelo uso. Jamais usar,
em texto forense, aquela anotação cartorária, de uso restrito e interno: LINS (“lugar incerto e
não sabido”) e “invenções” semelhantes.
Sétima regra: Pode-se escrever CPC (Código de Processo Civil), CF (Constituição
Federal), CC (Código Civil), CP (Código Penal), CPP (Código de Processo Penal) e siglas
semelhantes, mas com certo cuidado (é mais elegante escrever por extenso). E nunca usar
“pontinhos”, que sigla nenhuma deve contê-los – nem mesmo ME (microempresa).
Oitava regra: Pode-se usar o plural, com “s” minúsculo: ORTNs, OTNs, os IPTUs,
foram pagos, os IPVAs ainda não.
Os verbos que têm predicação completa são chamados intransitivos: ele morreu; ela
acabou de jantar. Morrer, jantar dispensam complemento, pois expressam uma ação
completa; seu sentido não precisa ser completado.
Outros verbos (quase a maioria) exigem um complemento para esclarecer o seu
sentido: ele comeu pão com banana (pergunta: comeu o que? Resposta: pão com banana).
Outro exemplo: eu pedi um empréstimo ao banco (pedi o que? Resposta: um empréstimo...).
Estes são os verbos transitivos, assim chamados porque têm a predicação incompleta; eles
precisam ter seu sentido completado por outras palavras, chamadas “complementos”.
Os verbos transitivos podem ser diretos, quando o complemento é ligado ao verbo
diretamente: comeu pão, escreveu um livro, comprou um jornal.
Já os verbos transitivos indiretos necessitam de uma ligação com o complemento, o
que é feito por meio das preposições: pediu ao professor; preciso de você; a criança carecia de
cuidados médicos. As preposições “a” e “de”, nos exemplos citados, ligam o complemento ao
verbo; nesses casos, diz-se que o verbo é transitivo indireto.
Há verbos transitivos que são usados intransitivamente: o pior cego é o que não quer
ver (em geral, o verbo “ver” é usado como transitivo: eu vi um livro, eu vi o carro, eu não vi
aquela pessoa).
E outras vezes os verbos intransitivos podem ser seguidos de objeto direto: viver uma
vida alegre.
Por fim, a variação de regência pode resultar na variação de significado: aspirar o ar
da montanha – aspirar a um alto cargo.
ESQUECER – O verbo “esquecer” pode ser construído: a) com objeto direto: esqueci
a data do seu aniversário; b) com objeto indireto regido pela preposição “de”: esqueci-me de
pagar a conta: c) sem pronome reflexivo, mas com o objeto introduzido pela preposição “de”:
esqueceu de pagar a conta (também poderia ser: esqueceu-se de pagar a conta ou esqueceu
o pagamento da conta); d) esquecer-se que, sem a preposição “de”: esqueceu-se que devia
pagar a conta.
INFORMAR – Pode ser usado: a) como intransitivo, no sentido de desenvolver-se,
adquirir forma ou configuração: aquela criança informou bem cedo; b) como transitivo direto, no
sentido de opinar, dar parecer sobre: informar um processo; c) transitivo direto e indireto, com o
sentido de prestar informação, dar notícia: informei-o de tudo ou informei-lhe tudo; d)
pronominal, quando significa inteirar-se, tomar conhecimento: informe-se na secretaria; ele se
informou de tudo.
INTERESSAR – Admite todas as regências: a) não interessa (intransitivo); b) não o
interessa a venda do carro, ou não lhe interessa a venda do carro (transitivo direto ou indireto,
no sentido de ser do interesse, dizer respeito, importar); c) ao invés de interessá-la, a leitura lhe
dava sono (transitivo direto, no sentido de captar a atenção); o ferimento interessou o pulmão
direito (no sentido de alcançar, ofender, ferir); d) o governo está interessado em que os
partidos apóiem a proposta (objeto indireto introduzido pela preposição “em”, no sentido de “ter
interesse”).
LEMBRAR – Assim como “esquecer” (ver acima), pode ter as mesmas construções:
lembro-me do acontecimento; lembra-me o acontecimento; lembra-me do acontecimento. Na
linguagem coloquial brasileira usa-se “lembrar de” (como se usa “esquecer de”): lembro da
minha infância, lembro de você. É construção discutida pelos puristas, mas consagrada pela
linguagem comum; portanto, deve ser aceita.
3.87. Vírgula
A palavra “vírgula” vem do latim e significa varinha, pequeno traço ou linha (virga =
ramo, vara; vireo = estar verde; viridis = verde etc.).
A vírgula é facultativa:
a) no caso de posposição do sujeito ao verbo: não resultará em condenação a
sentença destes autos;
b) quando há intercalação ou inversão entre os termos da oração, com uma só
palavra ou com poucas palavras: displicentemente o réu segurava o queixo
com as mãos – o réu segurava displicentemente o queixo com as mãos
(ambos os exemplos dispensam a vírgula);
c) quando há intercalação com vírgula optativa, ou se usam ambas as vírgulas,
ou não se usa nenhuma delas: o réu, displicentemente, segurava o queixo –
o réu displicentemente segurava o queixo (errado: o réu, displicentemente
segurava o queixo, ou o réu displicentemente, segurava o queixo);
d) deve-se evitar o uso excessivo de vírgulas, para que o discurso não fique
truncado. Assim, não se deve escrever “Espero que vocês, hoje, cheguem
mais cedo”, mas sim: “espero que vocês hoje cheguem mais cedo”, ou
“espero que vocês cheguem mais cedo hoje”;
e) advogados costumam escrever: “Junta, também, cópia da inicial...; requer,
ainda, que as publicações, referentes a este recurso, sejam feitas, no Diário
Oficial, em nome do signatário da presente”. Todas essas vírgulas poderiam
ser eliminadas, sem prejuízo para o texto, que aliás ficaria mais claro: Junta
também cópia da inicial... requer ainda que as publicações referentes a este
recurso sejam feitas em nome do signatário (não precisa dizer “no Diário
Oficial”, o que é óbvio).
Embora algumas pessoas resistam, não há erro nem impropriedade no uso da vírgula
antes da conjunção coordenativa aditiva “e”. Pode-se escrever: “o filho foi reprovado outra vez,
e os pais resolveram tira-lo da escola”. É correto esse emprego da vírgula, seguindo-se a
conjunção “e”, porque no exemplo os sujeitos das orações são diversos (o filho foi reprovado -
os pais resolveram tirá-lo da escola). Se as duas orações tiverem o mesmo sujeito, não se
usa a vírgula: “a testemunha entrou e foi inquirida pelo juiz”.
Essa é a lição dos mestres (José Maria da Costa, “Manual de Redação Profissional”;
Eduardo Martins, “Manual de Redação e Estilo”; Celso Cunha e Lindley Cintra, “Nova
Gramática do Português Contemporâneo”).
Já Machado de Assis não segue rigorosamente essa regra, como vemos no
antológico “Caso da Vara”: “Sinhá Rita tinha quarenta anos na certidão de batismo, e vinte e
sete nos olhos” – “Ordenou às pequenas que trabalhassem, e esperou” – “Teve pena da
negrinha, e resolveu apadrinhá-la” - “ouviu um rumor de gente na sala, e perguntou se o
vinham prender” – “mas no dia seguinte lá iria ver o homem, e teimar de novo” – “repreendeu o
afilhado por ter vindo incomodar ‘pessoas estranhas’, e em seguida afirmou que o castigaria” –
“descanse, e explique-se”. Pela regra enunciada, esses casos dispensariam a vírgula, pois o
sujeito de ambas as orações é o mesmo.
Então, na dúvida, aqui vai uma sugestão: se a frase for longa usa-se vírgula antes do
“e”, para a clareza do texto. Se a frase for curta, é dispensável a vírgula: “este não deu por ele
e ia andando” – “desconhecia as ruas, andava e desandava” (Machado de Assis).
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TELLES, Carlos Queiroz. Manual do Cara-de-pau ou É fácil falar difícil. Ed. Best Seller, 1991.
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