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JOHN PIPER Um homem chamado Jesus Cristo Tradugdo Maria Emilia de Oliveira e/ Seeing and savoring Jesus Christ edigio publicada pela Crossway Booxs Editora do grupo] uma divisio da Good News Publishers ZONDERVAN Wheaton, Illinois 60187, tus HarperCouns Edigao publicada de acordo com a Good News Publishers ©2001, John Piper e/ Titulo do original Vida Filiada a . CAMARA Brasiuiira Do Livro | Todos os direitos em lingua portuguesa reservados por ASSOCIAGAO BRASILEIRA Eprtora Vipa bs Eprromes Cnistéos Rua Jilio de Castilhos, 280, Belenzinho ‘AssociacAo NacionaL | ©? 03059-000 Sio Paulo, SP pe Livrarias | Tele: Oxx 11 6618 7000 Faxe 0 xx 11 6618 7050 www.editoravida.com.br . Assoctagao NACIONAL DE Livaarias EvANGELICAS PROIBIDA A REPRODUGAO POR QUAISQUER MEICS, SALVO EM BREVES CITAQOES, COM INDICACAO DA FONTE. “Todas as citagées biblicas foram extrafdas da Nova Versdo Intemacional (Nv), ©2001, publicada por Edizora Vida, salvo indicagio em contrario. Coordenagio editorial: Vera Villar Eigio: Noemi Lucilia Lopes Soares Ferreira Revisfio: Josemar de Souza Pinto Capa: Marcelo Moscheta Diagramagio: Efanet Design Dados Internacionais de Catalogagéo na Publicagao (cir) (Camara Brasileira do Livro, sr, Brasil) Piper, John, 1946 ‘Umbhomem chamado Jesus Cristo / Jon Pipers tradugo Maria Emilia de Oliveira —Sio Paulo: Editora Vida, 2005, ‘Titulo original: Seeing and savoring Jesus Christ. 36N85-7367-855-0 1, Glériade Deus 2. Jesus Cristo - Pessoae missio L.Titulo. 48338 op 2328 Indices para catélogo sistemtico: 1. Jesus Cristo : Gléria de Deus : Divindadee humanidade : Cristologia 232.8 2.Jesus Cristo: Pessoa e misso : Divindacle e humanidade : Crstologia 232.8 A meméria de CS. Lewis e Clyde Kilby, que me ensinaram que sempre existe algo mais para ver naquilo que eu vejo. Sumario Agradeciment03 oc. Prefacio Como podemos estar certos a respeito de Jesus? 1, Vendo e provando a gléria de Deus O objetivo supremo de Jesus Cristo 2, Jesus € a gloria de Deus .sescsscscssssssseeeesesssesssssensee A divindade de Jesus Cristo 3. O Lefo e o Cordeiro ....... A exceléncia de Jesus Cristo 4. A alegria indestrutivel A alegria de Jesus Cristo 5. As ondas e os ventos ainda conhecem a sua VOZ sss B O poder de Jesus Cristo 6. Alguém maior que Salomao esté aqui A sabedoria de Jesus Cristo 7. A gloriosa pobreza da ma reputagdo A calinia contra Jesus Cristo 2 8. Os incomparaveis sofrimentOS .....cccseeesssecsseees A angistia de Jesus Cristo 9. A gloria de redimir pecadores, sem destruir Satands .... 68 O sacrificio redentor de Jesus Cristo 10. A riqueza encarnada da compaixfo de Deus ..wesee 74 As misericérdias de Jesus Cristo 11. O lado austero. A severidade de Jesus Cristo 12. Vida invencivel A ressurreigéo de Jesus Cristo 13. A gloriosa manifestagao do nosso grande Deus e Salvador A segunda vinda de Jesus Cristo COnclUsio vesssssreerseseresenssnenees = severe ++ 103 Andando com Deus por meio de Jesus Cristo Em busca da alegria ...ssscsssssssesesecssesecssesesnecssssecssesenunessseess 105 Seis verdades biblicas Notas {indice de referéncias bfblicas v.ssssscssssusssenseesnseesneteee LiL Indice remissivo Agradecimentos Devo a Jesus Cristo o privilégio de ter escrito este livro. Ele morreu em meu lugar; o justo pelo injusto. Deus tornou pecado aquele que nao conheceu pecado, para que, em Jesus Cristo, eu, que sou pecador, pudesse ser considerado justo. Ele curou a ce- gueira de meu coragao, concedeu-me fé e levou-me ao arrepen- dimento. Por seu Espirito, ele tornou-se vivo em meu coragéo mediante a fé e, aos poucos, esta incutindo seu cardter em mi- nha personalidade obstinada. E mais: Jesus Cristo criou 0 mun- do, inclusive a mim, e mantém este mundo em funcionamento pela manifestagdo do seu poder. Cada expirar ou inspirar, cada batida de meu coragdo, cada momento em que vejo e ougo algu- ma coisa, cada pensamento que me ocorte, tudo isso eu devo a misericérdia constante e ao poder criativo de Jesus. Todos os outros agradecimentos sao secundarios e dependem exclusiva- mente dele. Um agradecimento especial a Bob Putnam, cuja iniciativa me incentivou a escrever dez capitulos deste livro, em forma de artigos, publicados no The Standard. Meus agradecimentos a Justin ‘Taylor, que os leu com extremo cuidado e apresentou sugestdes valiosas; a Ted Griffin, que gentilmente os encaminhou para se- rem impressos na Crossway; a Carol Steinbach, que elaborou os fndices; e ainda a Noél, que, a meu lado, também tem visto e provado o Senhor Jesus. Sou muito feliz porque, juntos, nds o podemos ver e, acima de tudo, porque vocé ser4 capaz de ver neste livro aquilo que n&o sou capaz de ver. Eu me encanto com cada frase deste livro. Estou rodeado de pessoas carinhosas e talentosas. Oro para que estes breves capitulos se transformem em jane- las panordmicas, para que o leitor possa ver a perfeigdo de Jesus Cristo. Todas as pessoas que trabalharam neste projeto estéo tam- bém orando neste sentido. Que Deus conceda a vocé, leitor, a graga de ver Jesus Cristo como ele é realmente e a alegria de prova-lo com todo o deleite de sua alma. Prefacio Como podemos estar certos a respeito de Jesus? Na metade do século passado, o escritor britanico C. S. Lewis apresentou uma Tesposta chocantemente correta: Um homem que foi simplesmente um homem e disse as coisas que Jesus disse ndo poderia ser considerado um grande mestre da moral. Ou ele foi um lunatico — do mesmo nivel do homem que disse ser um ovo poché — ou foi o Diabo do Inferno. Vocé pode considerd-lo tolo, pode cuspir nele e maté-lo como se fosse um deménio; ou prostrar-se a seus pés e chamé-lo Senhor e Deus. Mas nao podemos vir com essas idéias tolas e complacen- tes de que ele foi um eminente mestre humano. Ele nao deixou brecha para isso. Ele no teve essa intengio.! Em outras palavras, Jesus jamais seré domesticado. Mas as pessoas ainda tentam domestic4-lo. Parece haver algo nesse ho- mem que se adapta a cada pessoa. Entao, nés escolhemos uma de suas caracterfsticas que seja capaz de mostrar que ele esta do nosso lado. Todo mundo sabe que é muito bom ter a companhia de Jesus, mas nao a companhia do Jesus original, ndo-domestica- do, nao-adaptado. Apenas o Jesus revisado que se encaixa em nossa religiio, plataforma politica ou estilo de vida. Quando eu cursava a universidade na Alemanha, na década de 1970, fiz a critica liter4ria de um livro chamado Jesus fiir Atheisten’. Vocé nao precisa conhecer alemao para traduzi-lo. Foi uma “leitura” marxista da vida de Jesus. De acordo com aquele livro, a ess€ncia dos ensinamentos de Jesus nao passou de um apelo para uma aco radical contra o regime da época. Foi um apelo para a derradeira devog&o ao “reino” — a introdugdo da nova sociedade (marxismo). HA um fato que me causa estranheza: dentre as pessoas que nao aceitam Jesus como seu Senhor e Deus, quase ninguém fala mal dele. O mesmo se aplica & cruz: € bonito usé-la como jéia, mas ninguém deseja morrer numa cruz. As tnicas cruzes que as pessoas desejam so as cruzes domesticadas. Faz sentido, portan- to, imaginar que um homem que, ao longo da vida, planejou morrer em uma cruz seria visto como uma pessoa perigosa; nin- guém lhe daria crédito. Ser4 que podemos conhecer Jesus como ele realmente foi — e &? Como podemos conhecer uma pessoa que viveu na terra dois mil anos atrés — alguém que afirmou ter ressuscitado dos mor- tos com vida indestrutivel e vive até hoje? Algumas pessoas dizem que isso nao é possivel. O verdadeiro Jesus est4 sepulta- do na hist6ria, elas dizem, e nado temos acesso a ele. Outras nao sfo tAo céticas. Acreditam nos registros biblicos da vida de Je- sus e acham que seus intérpretes primitivos —- como 0 apéstolo Paulo, por exemplo — so mais dignos de confianga que os cri- ticos da atualidade. Mas como podemos ter certeza de que a descrig&o biblica a tespeito de Jesus é verdadeira? Ha dois caminhos para aqueles que buscam um solo firme sob os pés da fé. Um € 0 caminho da pesquisa histérica e meticulosa para comprovar a autenticidade dos registros histéricos. Eu segui esse caminho durante meus anos de estudo no seminério, na universidade e como professor de fa- culdade. Apesar de todos os desafios A minha fé naquela época, nunca duvidei de que existem bons motivos para confiarmos nos registros que o Novo Testamento traz acerca de Jesus. Hoje exis- tem muitos livros persuasivos — eruditos ou populares — que sustentam essa confianga.> Agora, porém, sou pastor, e nao professor de faculdade. Conti- nuo a dar valor ao caminho da pesquisa histérica feita pelos estu- diosos. Na verdade, quase sempre sou favoravel a ela. No entanto, hoje tenho mais consciéncia de que a grande maioria dos habi- tantes deste planeta jamais ter4 o tempo ou as ferramentas ne- cessarias para rastrear todas as evidéncias que comprovam os registros histéricos do Novo Testamento. Se Jesus é 0 Filho de Deus, se ele morreu por nossos pecados ¢ ressuscitou dentre os mortos, e se Deus desejou para seu povo, dois mil anos atrés, uma fé bem fundamentada, entdo deve haver outro caminho para co- nhecermos o verdadeiro Jesus — um caminho diferente da pesquisa histérica, acad€mica e rigorosa. Existe outro caminho. £ 0 caminho que estou seguindo neste livro. Comega com a convicg4o de que a verdade divina pode ser automaticamente legitimada. Alids, seria muito estranho se Deus se tivesse revelado em seu Filho Jesus Cristo e inspirado 0 regis- tro dessa revelagao na Biblia, sem ter proporcionado um meio para que as pessoas comuns o conhecessem. Em palavras mais simples, o caminho comum para conhecermos 0 verdadeiro Je- sus € este: Jesus, conforme é revelado na Biblia, traz consigo uma gléria — uma beleza espiritual incomparével — que pode ser vista como uma verdade que por si s6 € evidenciada. E como ver o sol e saber que ele é luz, e nao trevas, ou provar o mel ¢ saber que ele é doce, e nao amargo. Nao existe nenhuma longa cadeia de motivos para passarmos das premissas 4s conclusdes. Existe uma percep¢ao direta de que a pessoa de Jesus é verdadei- ra e que sua gléria é a gloria de Deus. O apéstolo Paulo descreveu o caminho para conhecermos a Jesus em 2Corintios 4.4-6: O deus desta era cegou 0 entendimento dos descrentes, para que nao vejam a luz do evangelho da gloria de Cristo, que é a imagem de Deus [...]. Pois Deus, que disse: “Das trevas resplandega a luz”, cle mesmo brilhou em nossos coragées, para iluminagdo do conhe- cimento da gloria de Deus na face de Cristo (grifos do autor). Observe que Paulo fala da iluminagao de Deus em nossos co- ragdes (como ocorreu na obra da criag&o) para compreendermos o “conhecimento da gléria de Deus na face de Cristo”. Ele esté falando de pessoas que nunca viram o Jesus histérico, Como essas pessoas poderiam conhecé-lo ¢ saber que ele existiu? O que elas “véem” € a descrigdo verbal de Jesus no evangelho, isto é, na pregagao apostélica de Cristo. Essa descrigdo, diz Paulo, acompa- nhada do brilho de Deus “em nossos coragdes”, nos mostra o que ela realmente € — “a gloria de Deus na face de Cristo” ou “a gloria de Cristo, que é a imagem de Deus”. Vocé pode observar que existem duas coisas que tornam esse caminho possfvel. Uma é a realidade da gléria de Jesus Cristo brilhando em sua descrigdo biblica. A outra é a obra de Deus para fazer os coragdes cegos enxergarem sua gloria. Isso € muito diferente de Deus “nos dizer” que a Biblia é verdadeira. Ao con- trario, € Deus nos capacitando para enxergar © que existe real- mente na Biblia. Trata-se de uma diferenga muito importante. Se Deus tivesse sussurrado em nosso ouvido que o Jesus da Biblia é verdadeiro, esse sussurro teria autoridade final e tudo depen- deria dele. Mas esse ndo é 0 caminho que vejo na Biblia, nem o caminho que eu sigo. O préprio Jesus e sua representagao pictd- rica divinamente inspirada na Bfblia tém a autoridade final. O efeito pratico desse caminho € este: Eu no lhe pego que ore por um sussurro especial de Deus para que vocé decida se Jesus € real. Eu lhe pego que olhe para o Jesus da Biblia. Olhe para ele, Nao feche os olhos esperando uma palavra de confirma- 40. Mantenha os olhos abertos e veja o retrato de Jesus descrito na Bfblia em toda a sua plenitude. Se vocé acredita em Jesus Cristo como Salvador e Deus, é porque vé nele uma gléria divina e maravilhosa que simplesmente é 0 que é — verdadeira. 4 As vezes, esse caminho é chamado “testemunho do Espirito Santo”. Os antigos catecismos fazem esta afirmagaa: “O Espiri- to de Deus, que testifica com as Escrituras e por meio delas no coragéo do homem, é suficientemente capaz de persuadi-lo de que a Biblia é a Palavra de Deus”.* Observe que o Espfrito per- suade “com as Escrituras e por meio delas”. Ele nao marginaliza as Escrituras, nem substitui as revelagOes particulares acerca das Escrituras. Ele remove a cegueira de hostilidade e rebelio e, por conseguinte, abre os olhos de nosso coragao para enxergarmos 0 brilho evidente da divina beleza de Cristo. Portanto, ao escrever este livro, meu objetivo foi exibir 0 retrato biblico de Jesus. Nao debati esse fato do ponto de vista histérico. Outras pessoas paderiam ter feito isso melhor do que eu, e aplaudo o trabalho delas.> Tentei ser fiel ao que a Béblia diz acerca de Jesus Cristo. Apesar de saber que, comparado as Escrituras, este livro € imperfeito, espero que a leitura de seus treze capitulos seja 0 mesmo que ver um diamante por meio de treze facetas diferentes. A Biblia é a Gnica descrigdo autorizada do diamante de Jesus Cristo. Espero que, depois de ler este livro, vocé passe a ler a Biblia. Foi por isso que recheei estes curtos capitulos com trechos das Escrituras. Espero também que este livro seja Gitil tanto a crentes como a no-crentes, oro para que cle seja utilizado por Deus para despertd-los, a fim de que vejam a grandeza e a gléria de Jesus Cristo perpetuadas por ele. E oro para que este livro “adoce” a visdio que os crentes tém da exceléncia de Cristo. S6 assim o seu titulo se tornaré uma realidade.® Quando ve- mos Jesus como ele realmente é, temos condigées de prov-lo, isto é, de nos regozijarmos nele da mesma maneira que nos ale- gramos quando vemos algo verdadeiro, lindo e prazeroso. Este € 0 meu objetivo, porque duas coisas decorrem dessa experiéncia com Jesus Cristo: ele é honrado, e nés temos liberdade para percorrer alegremente o estreito caminho do amor. Cristo é plenamente glorificado em nés quando nos regozijamos nele. E quando nos regozijamos nele, somos crucificados para 0 mundo. Desta ma- neira, no momento em que vemos e provamos o Senhor Jesus, os teflexos de sua presenga no mundo se multiplicam. O apéstolo Paulo disse: “E todos nés, que com a face descoberta contempla- mos a gléria do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo transformados com gloria cada vez maior, a qual vem do Senhor, que € 0 Espirito” (2Co 3.18; grifos do autor). Contemplar é ser transformado. Ver Cristo salva e santifica. J que tudo isso, conforme Paulo diz, “vem do [...] Espfrito”, incluf oragdes no fim de cada capitulo. A obra do Espirito em nossa vida é essencial. Jesus disse: “Se vocés, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que est nos céus dard 0 Espirito Santo a quem o pedir!” (Le 11.13). Jun- to-me aos leitores sinceros para suplicar doses maiores ¢ mais abundantes da obra do Espfrito em nossa vida. Oro para que, quando olharmos para Jesus, ele nos conceda o privilégio de ver e provar a “gloria de Deus na face de Cristo”. Eu o convido a participar comigo desta busca, para encon- trarmos juntos a alegria bem fundamentada, duradoura e que gera amor. Tudo est4 em jogo. Nada é mais importante na vida que ver Jesus como ele realmente é e, acima de tudo, provar © que vemos, Os céus declaram a gl6ria de Deus... Saumos 19.1 Pois Deus, que disse: “Das trevas resplandeca a luz”, ele mesmo brilhou em nossos coragées, para iluminagdo do conhecimento da gloria de Deus na face de Cristo. 2CorINTIOS 4.6 Vendo e provando a gloria de Deus O objetivo supremo de Jesus Cristo © Universo criado por Deus é todo envolto em gléria. O mais profundo anscio do coragéo humano ¢ o mais profundo significado do céu e da terra estéo resumidos nesta expressdo: a gloria de Deus. O Universo foi feito para proclamar essa gloria, € nés fomos feitos para vé-la e prova-la. Nada mais pode ser compa- rado a isso. E, porque temos trocado a gléria de Deus por outras coisas (Rm 1.23), o mundo esta tao desordenado e enfermo. “Os céus declaram a gloria de Deus...” (SI 19.1). E por isso que todo o Universo existe. Ele é todo gloria. A sonda espacial Hubble nos envia imagens infravermelhas de longinquas galé- xias, distantes talvez 12 bilhGes de anos luz da Terra (12 bilhdes vezes 9,6 trilhdes de quilémetros). Até mesmo dentro de nossa Via-Lactea, existem estrelas grandes demais para serem descri- tas, como, por exemplo, a Eta Carinae, cujo brilho é cinco mi- Ihdes de vezes mais intenso que o do Sol. As vezes, as pessoas se assustam diante dessa imensidao quan- do comparada A aparente insignificancia do homem. Isso nos tor- 19 na infinitamente pequenos. Porém, o significado dessa grandeza nao diz respeito a nés. Diz respeito a Deus. “Os céus declaram a gloria de Deus”, diz a Biblia. O motivo para “desperdigar” um espaco to grande no Universo para abrigar seres humanos tao fnfimos é um assunto de dominio de nosso Criador, nao nosso. “Ergam os olhos e olhem para as alturas. Quem criou tudo isso? Aquele que poe em marcha cada estrela do seu exército celestial, e a todas chama pelo nome. T4o grande é o seu poder e tao imensa a sua forga, que nenhuma delas deixa de comparecer!” (Is 40.26). Oanscio mais profundo do corago humano é conhecer e apre- ciar a gloria de Deus. Fomos feitos com essa finalidade. Diz 0 Senhor Deus: “... De longe tragam os meus filhos, e dos confins da terra as minhas filhas [...] a quem criei para minha gloria...” (Is 43.6,7; grifo do autor). Para vé-la, para prové-la e para procla- mé-la — € por isso que existimos. As insondaveis e incalcul4veis extensdes do Universo criado por Deus nao passam de uma ale- goria acerca das inesgotdveis “riquezas de sua gléria” (Rm 9.23). O olho fisico deve dizer ao olho espiritual: “Nao a este, mas ao Criador deste, é 0 desejo de tua alma”. Paulo disse: “... e nos gloriamos na esperanga da gléria de Deus” (Rm 5.2). Ou, mais precisamente, ele disse que Deus nos “preparou de antemao para gloria” (Rm 9.23). E por isso que fomos criados — para que Deus pudesse “tornar conhecidas as riquezas de sua gléria aos vasos de sua misericérdia” (Rm 9.23). Cada coragéo humano anseia por isso, Mas nds reprimimos e desprezamos “o conhecimento de Deus” (Rm 1.28). Por conse- guinte, toda a criag&o est4 em desordem. O exemplo mais visivel disto na Bfblia € a desordem de nossa vida sexual. Paulo diz que trocar a gléria de Deus por outras coisas € a principal causa da desordem homossexual (e heterossexual) de nossos relacionamen- tos. “.., Até suas mulheres trocaram suas relagGes sexuais naturais por outras, contrarias 4 natureza. [...] os homens também abando- naram as relagGes naturais com as mulheres ¢ se inflamaram de 20 paixdo uns pelos outros” (Rm 1.26,27). Se trocarmos a gléria de Deus por coisas banais, ele nos abandonaré a uma vida de depra- vagdo — que espelhar4, em nossa miséria, a derradeira traigao, A questo principal é esta: Fomos criados para conhecer e valorizar a gloria de Deus acima de todas as coisas; e quando trocamos esse tesouro por imagens, tudo fica em desordem. O sol da gléria de Deus foi feito para brilhar no centro do sistema solar de nossa alma. E quando ele brilha, todos os planetas de nossa vida giram corretamente em torno de sua érbita. Mas quando o sol muda de lugar, todas as outras coisas se desorganizam. A cura da alma comega quando a gléria de Deus volta a ocupar o seu lugar no centro, cujo resplendor atrai tudo para si. Todos nés necessitamos da gléria de Deus, nao da nossa prépria gloria. Ninguém vai ao Grand Canyon para aumentar a auto-esti- ma. Por que vamos, entao? Porque, quando contemplamos algo maravilhoso, existe uma cura maior para a alma do que quando contemplamos a nds mesmos. Na verdade, o que poderia ser mais tidiculo neste imenso e glorioso Universo do que um ser humano, vivendo numa particula chamada Terra e em pé diante de um espelho tentando encontrar significado em sua imagem ali refleti- da? Que lastima saber que este é 0 evangelho do mundo moderno! Mas esse nao é 0 evangelho cristao. Em meio As trevas da in- significante autopreocupagio brilhou “a luz do evangelho da gloria de Cristo, que é a imagem de Deus” (2Co 4.4; grifo do autor). O evangelho cristao diz respeito a “gloria de Cristo”, nao a minha gloria. E quando, de certa forma, diz respeito a mim, nao é porque fui considerado importante por Deus, mas porque, por sua mise- ticérdia, ele me faz sentir feliz por consider4-lo importante pelo resto de minha vida. Qual foi a maior demonstrag&o de amor que Jesus deu em telag&o a nés? Qual foi o ponto culminante, o ponto sublime do evangelho? Redengao? Perdao? Justificagéo? Reconciliagdo? Santificagao? Adogao? Sera que todas essas maravilhas nao sig- nificam que existe algo maior? Algo final? Algo que Jesus pediu 21 que o Pai nos concedesse? — “Pai, quero que os que me deste estejam comigo onde eu estou e vejam a minha gloria, a gloria que me deste...” (Jo 17.24; grifo do autor). O evangelho cristéo é o “evangelho da gléria de Cristo” por- que seu objetivo final € que possamos ver, provar e mostrar a gloria de Cristo, que nada mais é do que a gléria de Deus. “O Filho € 0 resplendor da gloria de Deus e a expresso exata do seu set..” (Hb 1.3). “Ele é a imagem do Deus invisfvel...” (Cl 1.15). Quando a luz do evangelho brilha em nossos coragées, ela é a “jluminagao do conhecimento da gloria de Deus na face de Cris- to” (2Co 4.6). E quando “nos gloriamos na esperanga da gléria de Deus” (Rm 5.2), essa esperanca é “a bendita esperanga: a glorio- sa manifestagao de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2.13; grifo do autor). A gléria de Cristo é a gloria de Deus. (Ver 0 capitulo dois.) Em certo sentido, Cristo afastou-se da gléria de Deus quando veio ao mundo: “E agora, Pai, glorifica-me junto a ti, coma gloria que eu tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo 17.5; grifo do autor). Mas, por outro lado, Cristo manifestou a gloria de Deus em sua vinda ao mundo: “Aquele que € a Palavra tornou-se car- ne e viveu entre nés. Vimos a sua glévia, gléria como do Unigénito vindo do Pai, cheio de graga e de verdade” (Jo 1.14; grifo do au- tor). Por conseguinte, no evangelho, vemos e provamos a “gloria de Deus na face de Cristo” (2Co 4.6). E essa “visdo” é a cura para nossa vida desordenada. “E todos nés, que com a face descoberta contemplamos a gloria do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo transformados com gléria cada vez maior...” (2Co 3.18; grifos do autor). UMA ORACAO Pai de gloria, este é 0 clamor do nosso coragdo: Queremos ser transformados com gloria cada vez maior até que, na res- surreigdo, no ressoar da tiltima trombeta, estejamos completa- mente amoldados a imagem de teu Filho, Jesus Cristo, nosso 22 Senhor. Enquanto aguardamos esse momento, desejamos cres- cer na graca e no conhecimento de nosso Senhor, principal- mente no conhecimento de sua gloria. Queremos vé-la de maneira tao clara quanto vemos a luz do Sol, e provd-la até o ponto de desfrutarmos do mais puro prazer. Deus misericor- dioso, inclina nossos coragées para a tua Palavra e as maravi- thas de tua gloria. Afasta-nos de nosso apego a coisas banais. Abrte os olhos de nosso coragdo para vermos, a cada dia, o que o Universo criado por ti estd nos dizendo a respeito de tua gléria. Tlumina nossa mente para vermos a gloria de teu Filho no evangelho. Cremos que tu és-o Deus todo-glorioso, e nao existe ninguém que se assemelhe a ti. Aumenta-nos a fé. Per- doa-nos por néo concentrarmos nossa afeigdo em ti e pela aten- ¢do indevida que damos a coisas menos importantes. Tem misericérdia de nds, por amor de Cristo, e incute em nds o teu grande designio de mostrarmos a gléria de tua graca. Em nome de Jesus, oramos, Amém. 23 “... Eu lhes afirmo que antes de Abrado nascer, Eu Sou. JoAo 8.58 No principio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus... JoAo LL Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade. COLOSSENSES 2.9 Jesus é a gléria de Deus A divindade de Jesus Cristo Nao é para que nos tornemos importantes que Cristo existe. Antes, nés € que existimos para que ele seja importante, e para que nos alegremos com isso. O objetivo deste livro é entender que as glérias de Cristo sao um fim, nao um meio. O objetivo da gloria de Cristo nao é nos tornar ricos ou saudaveis. Cristo é glo- rioso para que, na riqueza ou na pobreza, na satide ou na doenga, possamos nos alegrar nele. A primeira e extraordindria gloria que sustenta todas as ou- tras € a existéncia eterna de Cristo. Se meditarmos nessa afirma- cao, conforme € nosso dever, a fragil embarcagao de nossa alma adquiriré grande estabilidade. A existéncia absoluta é, talvez, o maior de todos os mistérios. Reflita sobre 0 caréter absoluto da realidade. Deve ter existido algo que nunca foi formado. O estu- do de eras remotas e longinquas nos leva a um ponto em que nada existia. Alguém teve a honra de ser 0 primeiro, o que sem- pre existiu. Ele nunca veio a ser, nunca se desenvolveu. Ele sim- plesmente era. A quem pertence essa gléria absoluta e singular? 25 A tesposta € Cristo, a pessoa que 0 mundo conhece como Je- sus de Nazaré. O apéstolo Joao, que escreveu o tltimo livro da Biblia, rece- beu a revelagdo decisiva. Ele cita as palavras: “Eu sou o Alfa e o Omega”, diz o Senhor Deus, “o que é, 0 que era e 0 que ha de vir, 0 Todo-poderoso” (Ap 1.8). Nao é Cristo quem diz isso. Eo Deus Todo-Poderoso, Ele diz ser o “Alfa” e o “Omega” — a pri- meira e a Ultima letras do alfabeto grego. No alfabeto, nao se pode dizer qualquer coisa (ou nada) antes do alfa. Nao existe nenhum “pré-alfa” no alfabeto. Também nao se pode dizer qual- quer coisa (ou nada) depois do 6mega. Nao existe nenhum “pés- Omega” no alfabeto. © mesmo ocorre com Deus e a realidade. Nao existe nenhum “pré-Deus” e nenhum “pés-Deus”. Ele esta absolutamente pre- sente, quer em tempos remotos, quer em tempos futuros. Ele é a Realidade absoluta. Ele tem a honra de ser o primeiro, o que sempre existiu. A ele pertence essa gléria singular. Este € 0 significado essencial de seu nome no Antigo Testa- mento: Yahweh (ou Jeov4), formado a partir do verbo “ser”. Quan- do Moisés quis saber o nome de Deus, o Senhor lhe disse: “... EU SOU O QUE SOU. F isto que vocé dir4 aos israelitas: EU SOU me enviou a vocés” (Ex 3.14; grifos do autor). Esse “Eu Sou” € explicado em Isafas como uma Realidade absoluta e eterna — passada e futura. “‘Vocés sao minhas testemunhas’, declara o SENHOR [...] ‘para que vocés saibam e creiam em mim e enten- dam que eu sou Deus. Antes de mim nenhum deus se formou, nem haverd algum depois de mim” (Is 43.10; grifos do autor). Ser “Eu Sou” € ser absolutamente o primeiro e o dltimo. Nada “an- tes”, nada “depois”. Simplesmente “Eu Sou”. Deus torna isso explicito em Isafas 44.6: “Assim diz o SENHOR, o tei de Israel, 0 seu redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu sou 0 primeiro e eu sou o tiltimo; além de mim nado ha Deus” (grifos do autor). E ele diz novamente em Isaias 48.12: “Escute-me, 6 Jacé, Israel, a quem chamei: Eu sou sempre o mesmo; eu sou o primeiro 26 e eu sou 0 tiltimo” (grifos do autor). Este é€ 0 seu nome: Yahweh — aquele que é absoluto, eterno e invencfvel. Ele possui a gloria exclusiva e singular de sempre ter sido, quando nada existia. E nunca haverd nada que dure mais que ele. E isto que significa ser Deus. E 0 que isso tem a ver com Cristo, a quem conhecemos como Jesus de Nazaré? Tudo. Préximo ao fim da revelag&o, 0 apédstolo Joao citou Je- sus Cristo: “Eis que venho em breve! [...] Eu sow o Alfa eo Omega, 0 Primeiro e 0 Ultimo, o Principio e o Fim [...]. Eu, Jesus, enviei o meu anjo para dar a vocés este testemunho concernente as igre- jas...” (Ap 22.12,13,16; grifo do autor). E Cristo quem esté falan- do, nao Deus, o Pai. Ora, dois néo podem ser “Alfa e Omega”, a menos que sejam um. Dois ndo podem ser absolutamente “o pri- meiro e 0 tiltimo”, a menos que sejam um. Mesmo assim, Cristo (que chama a si mesmo de Jesus) reivindica para ele a mesma honra e gloria pertencentes a Deus, 0 Todo-Poderoso (ver tam- bém Ap 1.17,18; 2.8). Cristo assumiu para si o nome exclusivamente glorioso de Deus: “Eu Sou”. “Respondeu Jesus: ‘Eu lhes afirmo que antes de Abraao nascer, Eu Sou!” (Jo 8.58; grifo do autor). E Jesus diz a seus discfpulos, perto do fim de sua vida: “Estou lhes dizen- do antes que acontega, a fim de que, quando acontecer, vocés creiam que Eu Sou” (Jo 13.19; grifo do autor — v. Jo 8.24). Nao existe nada maior que um homem possa dizer a respeito de si mesmo. Ou isso é verdade, ou é blasfémia. Ou Cristo foi Deus, ou nao o foi. Joao soube discernir: “No principio era aquele que é a Pala- vra. Ele estava com Deus, e era Deus [...]. Aquele que é a Palavra tornou-se carne [...]. Vimos a sua gl6ria, gloria como do Unigénito vindo do Pai...” (1.1,14; grifo do autor). Jesus Cristo, a “Palavra”, foi “Unigénito” — n&o foi feito em determinada época, mas € eterno. Duas Pessoas representando um s6 Deus, nao dois Deuses — 0 “Filho” Unigénito vindo do “Pai”, uma divindade essencial. 27 Este é 0 grande mistério, como poderfamos prever. Mas é 0 que Deus revelou acerca de si mesmo. O apéstolo Paulo também conheceu a gloria exclusiva per- tencente a Cristo. Ele é o “Cristo, que é Deus acima de todos, bendito para sempre! Amém” (Rm 9.5). Todavia, “embora sen- do Deus, [ele] nao considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo” (Fp 2.6,7; grifos do autor). Por conseguinte, “em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (C1 2.9; grifo do autor — v. 1.19). E nés, os cristios, ndo estamos aguardando a chegada de um simples homem, mas “a gloriosa manifestagao de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2.13; grifos do autor — v. também 2Pe 1.1). E por isso que 0 escritor de Hebreus diz, com intrepidez, que todos os anjos adoram a Cristo. Cristo nado é 0 chefe dos anjos que adora a Deus. Ele é adorado por todos os anjos como Deus. “E ainda, quando Deus introduz o Primogénito no mundo, diz: ‘Todos os anjos de Deus 0 adorem’” (Hb 1.6). Porque ele é 0 Criador de tudo o que existe, e é o préprio Deus: “Mas a respei- to do Filho, diz: ‘O teu trono, 6 Deus, subsiste para todo o sem- pre [...]. No principio, Senhor, firmaste os fundamentos da terra...” (Hb 1.8,10). Portanto, o Pai testifica a divindade do Filho. Ele “é 0 resplendor da gloria de Deus e a expressaio exata do seu ser, sustentando todas as coisas por sua palavra podero- sa” (Hb 1.3). Jesus Cristo é 0 Criador do Universo. Jesus Cristo é 0 Alfa eo Omega, 0 Primeiro ¢ 0 Ultimo. Jesus Cristo nunca teve comeco. Ele € a Realidade absoluta. Ele possui a honra inigualavel e a gléria singular de ser o primeiro, 0 que sempre existiu. Ele nunca veio a ser. Ele é o Unigénito eternamente. O Pai deleita-se eter- namente no “resplendor da gloria de Deus e a expressiio exata do seu ser” (Hb 1.3), na Pessoa de seu Filho. Ver e provar essa gloria € 0 objetivo de nossa salvagio. “Pai, quero que os que me deste estejam comigo onde eu estou e vejam 28 aminha gloria, a gloria que me deste...” (Jo 17.24; grifo do autor). Regozijar-se nestas palavras para sempre € 0 objetivo de nosso ser que foi criado e de nosso ser que foi redimido. UMA ORACAO Pai Eterno, tu nunca tiveste comego. Jamais terds fim. Eso Alfaeo Omega. Cremos nisso, porque o revelaste a nds. Nos- so coragéo se alegra com gratiddo porque abriste nossos olhos para verem e conhecerem que Jesus Cristo é 0 teu Filho eterno e divino, teu Filho Unigénito, e que tu, 6 Pai, e ele, teu Filho, sdo um sé Deus. Trememos ao colocar essas verdades gloriosas em nossos ldbios com receio de ofender-te com palavras desonrosas e inadequadas. Mas precisamos proferi-las porque precisamos lowvar-te. O siléncio nos encheria de vergonha, por- que até mesmo as pedras clamariam. Deves ser louvado pelo que és no mundo que criaste. E devemos agradecer-te porque nos concedeste o privilégio de provar e ver a gloria de Jesus Cristo, teu Filho. Oh, queremos conhecé-lo! Sim, Pai, ansia- mos por conhecé-lo. Apaga de nossa mente quaisquer pensa- mentos indignos a respeito de Cristo. Sacia nossa alma com o Espirito de Cristo e toda a sua grandeza, Aumenta nossa ca- pacidade de nos alegrar nele por tudo o que tu és para nds. Todas as vezes que a carne e o sangue forem impotentes, reve- la-nos 0 Cristo e concentra nossa atengdo e afeto na verdade e beleza de teu glorioso Filho. E concede-nos que, na riqueza ou pobreza, na satide ou doenca, possamos ser transformados por ele e nos tornarmos um eco de sua auspiciosa presenca no mundo. Em nome de Jesus, oramos. Amém. 29 O Ledo e 0 Cordeiro A exceléncia de Jesus Cristo O ledo é admiravel por sua forga, ferocidade e aparéncia de rei. O cordeiro € admiravel por sua mansidao ¢ por fornecer 1a para nossas roupas, com a humildade de um servo. O mais admiravel de tudo, porém, é um cordeiro semelhante a um ledo e um leo seme- Ihante a um cordeiro. O que torna Cristo glorioso, conforme Jonathan Edwards comentou ha mais de 250 anos, é “um conjunto admiravel de caracterfsticas excelentes e diversificadas”.! Por exemplo, admiramos Cristo por sua transcendéncia, mas 0 admiramos mais ainda porque a transcendéncia de sua grandeza se mistura com submisso a Deus. Maravilhamo-nos nele porque sua justiga inflexivel é temperada com misericérdia. Sua majesta- de é adogada com meiguice. Apesar de igualar-se a Deus, ele tem uma profunda reveréncia por Deus. Apesar de ser digno de tudo o que € bom, ele foi paciente para softer 0 que é mau. Seu dominio soberano sobre o mundo foi revestido de um espfrito de obedién- cia e submissao. Ele confundiu os orgulhosos escribas com sua sabedoria, mas foi simples a ponto de ser amado pelas criangas. 3L Ele acalmou a tempestade com uma 86 palavra, mas néo destruiu com um raio os samaritanos, nem fugiu do martirio da cruz. A gloria de Cristo nao € facil de ser compreendida. E um con- junto de qualidades extremamente diversificadas em uma sé pessoa. Vemos isso no Novo Testamento, no livro de Apocalipse: “... Eis que 0 Ledo da tribo de Judé, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos” (5.5; grifo do autor). Eis o Cristo triunfante, semelhante a um ledo, pronto para abrir o livro da histéria. Mas 0 que lemos no versfculo seguinte? “Depois vi um Cordei- 10, que parecia ter estado morto, em pé, no centro do trono, cer- cado pelos quatro seres viventes e pelos ancifos. Ele tinha sete chifres e sete olhos, que so os sete espfritos de Deus enviados a toda a terra” (v. 6; grifo do autor). Portanto, o Leao € um Cordei- to — um animal fraco, inofensivo, humilde, facil de ser captura- do, que fornece la para nossas roupas e € morto para nos servit de alimento. Cristo € um Ledo semelhante a um cordeiro. O Leo de Juda venceu porque se dispés a representar o papel de cordeiro. Ele entrou em Jerusalém no Domingo de Ramos como um rei a caminho do trono, e saiu de Jerusalém na Sexta-feira Santa como um cordeiro a caminho do matadouro. Expulsou os ladrdes do Templo como um ledo devorando sua presa. E, no fim da semana, entregou seu majestoso pescogo & faca, ¢ o Ledo de Juda foi abatido como um cordeiro sacrificial. Mas que tipo de cordeiro € esse? Apocalipse 5.6 diz que o “Cordeiro, que parecia ter estado morto, em pé [...] tinha sete chifres”. Observe duas coisas. Primeiro, o Cordeiro esta “em pé”. Ele nao est cafdo no chao e mergulhado em sangue como esteve antes. Sim, ele foi morto. Mas agora esté em pé — em pé no centro do trono. Em segundo lugar, o Cordeiro tem sete chifres. O chifre é simbolo de forga e poder ao longo de todo 0 livro de Apocalipse (12.3; 13.1; 17.3,12), bem como no Antigo Testamento (Dt 33.17; SI 18.2; 112.9). E o ntimero sete significa abundancia e plenitude. 32 Portanto, esse nao é um cordeiro comum. Ele ressuscitou dentre os mortos e é totalmente poderoso em sua forga multiplicada por sete. Ele é, de fato, um Cordeiro semelhante a um ledo. Vemos isso com grande temor em Apocalipse 6.16, quando os homens gritam 4s montanhas e as rochas: “Caiam sobre nés e escondam-nos [...] da ira do Cordeiro!”. E vemos também em Apocalipse 17.14: “Guerrearao contra 0 Cordeiro, mas 0 Cordei- To os vencer4, pois € o Senhor dos senhores e 0 Rei dos reis...”. Portanto, Cristo é um Ledo semelhante a um cordeiro e um Cordeiro semelhante a um ledo. Esta é a sua gloria: “um conjun- to admiravel de caracterfsticas excelentes e diversificadas”. Esse glorioso conjunto brilha com todo o seu esplendor porque se harmoniza perfeitamente com nosso cansago e desejo de gran- deza. Jesus dis sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocés 0 meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso ¢ humilde de cora- Gao...” (Mt 11.28,29). A mansidao e humildade desse Ledo se- melhante a um cordeiro aliviam nosso cansago. E nés 0 amamos por isso. Se ele apenas recrutasse de modo idéntico 4 Marinha, que exige forcga, estariamos completamente perdidos. Mas sozinha essa qualidade de mansidao nao seria gloriosa. A mansidao e humildade do Leo semelhante a um cordeiro tornam- se brilhantes ao lado da autoridade ilimitada e eterna do Cordei- ro semelhante a um ledo. Sé isso se encaixa em nosso desejo de grandeza. Sim, estamos fracos, cansados e sobrecarregados. Mas, pelo menos de tempos em tempos, arde em cada corag&o 0 sonho de que nossa vida represente algo grandioso. Para esse sonho, Jesus disse: “Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto, vao e fagam discfpulos de todas as nagdes [...]. E eu estarei sempre com vocés, até o fim dos tempos” (Mt 28.18-20). O Cordeiro semelhante a um ledo nos exorta a buscarmos co- ragem em sua autoridade absoluta sobre toda a realidade. E, em toda a sua autoridade, ele nos lembra que estar4 conosco até o fim dos tempos. E disto que necessitamos — um campedo, um : “Venham a mim, todos os que estéo cansados e 33 lider invencivel. Também a nés, simples mortais, nao é facil com- preender, Somos dignos de piedade, mas temos paixdes arreba- tadoras. Somos fracos, mas sonhamos realizar maravilhas. Nossa vida é transitéria, mas a eternidade esta escrita em nosso cora- ¢ao. A gléria de Cristo brilha com todo o seu esplendor porque o conjunto de suas caracteristicas excelentes e diversificadas se harmoniza perfeitamente com nossa complexidade. Certa vez, esse Lefio semelhante a um cordeiro sofreu opres- sao e afligdo. Ele foi levado ao matadouro. Como uma ovelha que permanece em siléncio diante de seus tosquiadores, cle nao abriu a sua boca (Is 53.7), Mas no dia final nao sera assim. O Ledo se- melhante a um cordeiro se transformaraé em Cordeiro semelhante a um ledo e, com a serenidade de um rei, tomara seu lugar a beira do lago de fogo, onde seus inimigos impenitentes sero ator- mentados “com enxofte ardente na presenga dos santos anjos e do Cordeiro [...] para todo o sempre” (Ap 14.10,11). UMA ORACAO Deus Todo-Poderoso e compassivo, nés exultamos quando refletimos em teu poderoso e misericordioso Filho, nosso Se- nhor, Jesus Cristo. Regoxijamo-nos na forga do seu poder semelhante ao de um ledo e na ternura de sua mansiddo seme- lhante & de um cordeiro. Somos fortalecidos pelo incompardvel conjunto de suas qualidades excelentes, o que nos dd a certeza de que nao existe ninguém como ele, e que ele nao é um simples homem como tantos outros. Concede-nos, em nossa atitude arrogante de indiferenga, a béngdo de tremermos diante do Ledo de Judd e de nos humilharmos sob sua santidade arreba- tadora. E concede-nos, em nossa fragilidade e medo, a béngdo de adquirirmos a coragem do Cordeiro semelhante a um ledo. Oh, como necessitamos de Cristo! Abre-nos os olhos para que possamos ver a plenitude de suas qualidades excelentes. Elimi- na as imagens falsas e distorcidas de teu Filho que enfraquecem nossos momentos de adoragdo e prejudicam nossa obediéncia. 34 Que 0 poder do Ledo e 0 amor do Cordeiro tornem nossa fé em Cristo inabaldvel. Afasta de nés sonhos insignificantes, aven- turas timidas e planos vacilantes. Incentiva-nos. Fortalece-nos. Que possamos amar com ardor e humildade. Que possamos compartilhar com outras pessoas a confianga do Leéio de Judd por meio da qual o teu Filho se dispds a morrer como um Cordeiro e ressuscitar com juibilo eternamente. Concede-nos também que possamos ver a gléria de Cristo e que tu sejas honrado por intermédio dele. Em nome de Jesus, oramos. Amém. 35 “\. Deus, 0 teu Deus, escolheu-te dentre os teus companheiros, ungindo-te com 6leo de alegria”. Heprevs 1.9 “Muito bem, servo bom e fiel! [...] Venha e participe da alegria do seu senhor!” Mateus 25.21 A alegria indestrutivel A adlegria de Jesus Cristo Se vocé for resgatado por um salva-vidas das Aguas turbulentas do Oceano Atlantico, nao vai querer saber se ele se sente ou nado triste. Quando estiver abragando sua famflia na praia, nao vai se preocupar com a satide mental daquele que o salvou de um afoga- mento. Mas com a salvago que nos é concedida por Jesus, as coi- sas sdo bem diferentes. Jesus ndo nos salva para nossa familia, mas para ele mesmo. E se ele estiver entristecido, nossa salvagéo nado nos trard alegria. Nao sera para nés uma grande salvagiio. O préprio Jesus — e tudo o que Deus representa para nds por meio dele — é nossa grande recompensa, e ponto final, “Eu sou o pao da vida...” [...] “... Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (Jo 6.35; 7.37). A salvag&o néo significa apenas perdao de peca- dos, mas, acima de tudo, comunh4o com Jesus (1Co 1.9). O per- dao tira todos os empecilhos do caminho para que isso possa acontecer. Se essa comunhao nao for plenamente prazerosa, néo havera grande salvagio. Se Cristo estiver triste, ou até mesmo indiferente, a eternidade nao passara de um longo, longo suspiro. 37 Mas a gléria e a graca de Jesus nos mostram que ele é, ¢ sem- pre sera, uma alegria indestrutfvel. Eu digo gloria de Jesus porque a tristeza nao € gloriosa. E digo graga de Jesus porque a melhor coisa que ele tem para nos dar é a sua alegria. “Tenho lhes dito estas palavras para que a minha alegria esteja em vocés e a alegria de vocés seja completa” (Jo 15.11 — v. também 17.13; grifo do autor). Jesus nao seria totalmente misericordioso se simplesmen- te aumentasse minha alegria até o seu ponto mAximo e, depois, deixasse de conservar dentro de mim essa alegria. Minha capaci- dade de me manter alegre é muito limitada. Assim, além de se oferecer para ser 0 objeto divino de minha alegria, Cristo derra- ma sua propria alegria em meu ser, para que eu possa alegrar-me nele com a verdadeira alegria de Deus. Isto é gléria, e isto é graga. Nao € glorioso ser triste. E Cristo nunca foi triste. Desde a eternidade, ele tem sido o espelho da infinita jovialidade de Deus. A Sabedoria de Deus proferiu estas palavras em Provérbios 8.30: “... eu estava ao seu lado, e era o seu arquiteto; dia a dia eu era © seu prazer e me alegrava continuamente com a sua presenga”. O Cristo eterno, a alegria de Deus e igualmente autor da cria- Gao, estava sempre se alegrando na presenga de Deus. Essa afir- magio se repete duas vezes no Novo Testamento. Em Hebreus 1.8,9, Deus diz ao Filho, no aos anjos, estas pa- lavras maravilhosas: “O teu trono, 6 Deus, subsiste para todo o sempre. [...]. Amas a justica e odeias a iniqitidade; por isso Deus, © teu Deus, escolheu-te dentre os teus companheiros, ungindo- te com 6leo de alegria” (grifo do autor). Jesus Cristo é 0 ser mais feliz do Universo. Sua alegria é maior que a alegria de todos os anjos do céu. Ele espelha perfeitamente o jubilo infinito, santo e incontido de seu Pai. Outra vez, em Atos 2.25-31, Pedro interpreta o salmo 16 para referir-se a Cristo: “‘Eu sempre via o Senhor diante de mim. Por- que ele esté A minha direita, nao serei abalado. Por isso o meu coragao esta alegre e a minha lingua exulta [...] porque tu nao me 38

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