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INTRODUÇÃO
Sabe-se que os direitos humanos, após sua consolidação no século XVIII, passaram por
transformações no sentido de que novas lutas foram agregando novos direitos ao
conjunto. Se, a princípio, falar de direitos humanos significava tratar apenas de direitos
civis e políticos, hoje tal denominação abarca também direitos sociais, direitos difusos –
como o direito ao meio ambiente – e direitos coletivos – por exemplo, os direitos da
mulher.
Objectivo geral
Objectivos específicos
Falar de direitos humanos hoje é lidar com um assunto cotidiano, cujas implicações
atingem as mais diversas partes do mundo. Reivindicar direitos é a reação mais comum
especialmente quando se sofre algum tipo de opressão. Eis o motivo de surgimento
desses direitos: a proteção da dignidade humana, qualidade moral intrínseca a todos os
homens e mulheres. Tendo se firmado como conceito na modernidade ocidental, os
direitos humanos estavam vinculados, em princípio, a certas características da sociedade
européia dos séculos XVII e XVIII: individualismo, luta pela liberdade de comerciar
por parte da burguesia, a não-intervenção do Estado na economia como consequência da
característica supracitada, a igualdade formal (igualdade ante a lei). O capitalismo, a
economia de mercado, começava a deslanchar. Considerava-se como direitos inerentes
ao ser humano sobretudo o direito à liberdade, à vida e à propriedade, conforme consta
nas sempre citadas Declaração Francesa, de 1789, e Declaração de Independência
Americana, de 1776.
É certo que num primeiro momento os direitos humanos estavam intimamente ligados
às circunstâncias nas quais eles se firmaram. Decorridos mais de dois séculos da sua
consolidação, contudo, entende-se que os direitos humanos nos dias de hoje abrangem
muito mais que os direitos individuais do século XVIII. Como conseqüência da
Revolução Industrial, cujo início a história situa no ano de 1750, o aparecimento de
inúmeras fábricas nos centros urbanos gerou uma massa de proletários que, sendo
altamente explorada em razão do intuito de lucro dos detentores do poder econômico,
passou a lutar através dos séculos por certas garantias no ambiente de trabalho. A
demanda por direitos sociais tem como marco as Revoluções Russa e Mexicana, de
1917, quando pela primeira vez foram incluídos direitos sociais na Constituição de um
Estado – no caso, o México.
Consolidou-se, então, a luta pelos direitos das mulheres, dos indígenas, dos negros, dos
homossexuais, dos idosos, das crianças e adolescentes, dos imigrantes, para citar alguns.
É relevante mencionar que, quando incluídos pela primeira vez em declarações e
constituições estatais, os direitos humanos traziam no seu bojo uma grande força
emancipatória. Neste momento, seja pelo seu mau uso por parte de países dominantes
para manter justamente a situação de dominação (especialmente movidos por motivos
econômicos), seja pela deturpação que tem havido no seu sentido talvez pela sua
banalização, ou ainda pela associação dos direitos humanos individuais – aqueles
considerados de primeira geração – com a imposição das regras do mercado mundial e
da globalização econômica excludente, os direitos humanos correm o risco de perder
seu caráter emancipatório.
Enfim, não é difícil notar que o conceito evolui e muda tal qual a própria humanidade.
Reitera-se: se no século XVIII apenas o mundo moderno ocidental poderia compreender
a noção de direitos humanos, hoje se busca pensar esta idéia da forma mais abrangente
possível para que as diferentes culturas sejam contempladas. Para tanto, há a
necessidade de um fundamento dos direitos humanos que seja passível de ser
encontrado em todas as culturas, uma base geral e abstrata para que sua aplicação
concreta seja possível e desejável em todos os lugares do planeta.
Conceitos bases
Diversidade
Os seres humanos são diversos em suas experiências culturais, são únicos em suas
personalidades e são também diversos em suas formas de perceber o mundo. Seres
humanos apresentam ainda, diversidade biológica. Algumas dessas diversidades
provocam impedimentos de natureza distinta no processo de desenvolvimento das
pessoas (as chamadas de portadoras de necessidades especiais).
A diferença não é uma marca só do sujeito, mas também uma marca que constitui a
própria sociedade. Aliás, ignorar ou relegar para segundo plano os que são diferentes
limita a abrangência da diversidade. Como tal, para compreender que há diversidades de
famílias, culturas, raças, línguas, níveis sócio-económicos, é necessário olhar através do
olhar dos outros, Dayrell (2007). Estamos portanto, perante um termo polissémico
expandido em diferentes campos do conhecimento, o que reitera a complexidade de que
a sua análise se reveste.
Cultura
Para Edward Tylor citado por Laraia (2007: 25), que é considerado o pai da cultura,
define o termo cultura, “como um conjunto complexo, interdependente e interactuante
de conhecimentos, crenças, leis, tradições, artes, costumes e hábitos de um determinado
conjunto de seres humanos constituídos em sociedade.
Deste modo podemos acrescentar que cultura não é algo que existe fora do homem, ela
faz parte do seu íntimo. Se somos o que somos é porque temos contacto com os outros
seres humanos, dentro de uma realidade específica. Mas de referir que tudo isso se
desenvolve apenas na interacção entre os indivíduos.
Assim, defendemos que a questão do fundamento dos direitos humanos continua atual,
contrariando o que propôs Norberto Bobbio. Bobbio expõe quatro razões para sustentar
sua tese.
Em primeiro lugar, alega que a expressão ‘direitos do homem’ é muito vaga, que a
maioria das definições ou é tautológica ou contém termos avaliativos, subjetivos. Não
creio que o problema da definição interfira na questão do seu fundamento. Ora, é
1
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. 8 ed. Rio de Janeiro:
Campus, 1992. p. 24.
2
MELGARÉ, Plínio. Direitos humanos: uma perspectiva contemporânea - para além dos reducionismos
tradicionais. Revista Ajuris, n. 88, dezembro/2002. p. 337
É exatamente a questão do alicerce dos direitos humanos que passa a ser objeto de
discussão quando o que está em debate é a efetividade dos direitos humanos nas mais
diversas culturas. Por isso, apesar de se ter como conceituar direitos humanos, não me
parece que isso coloque de lado a questão da sua pedra angular.
Em segundo lugar, Bobbio defende que os direitos humanos são direitos historicamente
relativos, isto é, que “o elenco dos direitos do homem se modificou, e continua a se
modificar, com a mudança das condições históricas” 3. Para ele, o que é fundamental
numa época histórica em certa civilização não seria em outra. A interpretação de Pereira
e Silva, com a qual concordo e que responde a essa questão, enfoca o “caráter aberto do
discurso humanitário, de modo a afastar a admissão ao retrocesso”. Queremos dizer com
isso que novos direitos são agregados aos antigos, mas, tendo em consideração que os
direitos se relacionam uns com os outros, complementando-se e delimitando-se entre si,
faz sentido defender que todos têm uma mesma base. Além disso, Pereira e Silva critica
o formalismo legalista dos pensadores positivistas, que insistem no equívoco de
“considerar como direito tudo o que, historicamente, encontrou amparo legal, a exemplo
da escravidão e da tortura”4.
3
BOBBIO, op. cit. p. 18.
4
SILVA, Reinaldo Pereira e. Biodireito: a nova fronteira dos direitos humanos. Revista dos Tribunais, n.
816, outubro/2003, p. 65.
Conclui-se com este estudo sobre o debate entre o relativismo e o universalismo que os
fundamentos teóricos de cada corrente não dão conta de resolver os problemas atuais
dos Direitos Humanos. Entende-se que os Estados que se alinham com as premissas de
ambas, não se sentem constrangidos a garantirem a proteção dos Direitos Humanos,
sendo assim, a legitimidade concebida ao atual paradigma possui caráter meramente
formal, e não real em sua efetiva aplicação. A proposta do método da hermenêutica
diatópica surge, então, como uma diretriz viável para a efetividade dos Direitos
Humanos. Através do diálogo intercultural, os Estados perceberão que nenhuma cultura
é hermética e pode desenvolver-se a partir da relação com outras culturas. Contudo,
mesmo apresentando um ideário interessante para a discussão do tema, não se passa de
um instrumento teórico e a sua legitimidade depende da vontade do Estado, ou seja, é
uma decisão mais de cunho político, não ligado diretamente aos Direitos Humanos em
si. Mesmo assim, sua contribuição para a análise do tema é indiscutível, já que o
primeiro passo para a transformação é idealizar a própria mudança.