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• Os Calvinistas Franceses;
• A “Invasão” Holandesa em Pernambuco.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Entender como se deram os primeiros contatos entre cristãos reforma-
dos e o Catolicismo no Período Colonial do Brasil e sua população.
UNIDADE Os Protestantes no Período Colonial
Introdução
Nesta Unidade, vamos abordar, de forma sucinta, como se deu o encontro dos
primeiros cristãos reformados com os nativos e os cristãos católicos no contexto do
Brasil Colonial, especificamente, os huguenotes franceses e sua intenção de fundar
na região fluminense a “França Antártica”, no século XVI, entre outros contatos
breves, até o século XVIII e, mais adiante, vamos abordar os protestantes holan-
deses em Pernambuco, no século XVII, em contato mais duradouro e marcante,
abordado em nossa historiografia.
Os Calvinistas Franceses
A história da colonização do Brasil é controversa e se lança com o modelo
de feitorias, adotado por Portugal, para comerciar com as nações africanas no
século XV.
Inicialmente, a Coroa portuguesa faz uma concessão para que Fernando de No-
ronha possa explorar comercialmente os “achados” do “novo mundo” no território
pertencente aos lusos, outorgado pelo Tratado de Tordesilhas que, desde 1494,
havia traçado uma linha imaginária dividindo “território e gente” que estivesse den-
tro daquele marco entre os reinos ibéricos.
De acordo com o mesmo autor, até o ano de 1535, a atividade que moveu o
interesse dos portugueses por suas terras no novo mundo foi a atividade extrativista,
com foco no comércio do pau-brasil. Esse trabalho foi facilitado pelo contato com
os índios tupinambás que, segundo Fausto: “À medida que a madeira foi-se esgotan-
do no litoral, os europeus passaram a recorrer aos índios para obtê-la. O trabalho
coletivo, especialmente a derrubada de árvores, era uma tarefa comum à sociedade
tupinambá” (2002, p. 42).
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Figura 01 – Tratado de Tordesilhas
Fonte: Wikimedia Commons
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Deve ficar claro que as disputas nesse contexto extrapolavam a causa religiosa
e atingiam os patamares político e econômico. Em relação ao aspecto religioso, a
Reforma atingiu outros países, entre eles a França, mas, dessa feita, a influência
reformista se dava pelas mãos de Calvino.
Nessa busca por um novo espaço geográfico no qual fosse possível se instalar e
viver a sua fé sem serem perseguidos, os huguenotes franceses, segundo Fausto,
instalaram-se no Brasil em duas ocasiões, entre 1555 e 1560, no Rio de Janeiro, e
de 1612 a 1615, no Maranhão, e depois novamente no Rio de Janeiro, em 1711.
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De acordo com Bicalho, o comandante de navios Nicolas Durand de Villegagnon
chegou à Baía de Guanabara no crepúsculo do ano de 1555.
O problema maior não era apenas uma colônia protestante no mundo ibérico
ultramarino, mas a ameaça ao exclusivo comercial que habitava a prática econômica
exercida pelas nações europeias daquele contexto.
Segundo Bicalho:
Havia muito que embarcações francesas navegavam por estas bandas,
realizando escambo com populações indígenas, embarcando grandes
quantidades de pau-brasil. A expedição de Villegaignon e a criação da
França Antártica, embora possuíssem objetivos muito mais complexos e
duradouros (...) [havia] disputa lusofrancesas pelas riquezas, pelo comércio
e pelo domínio ultramarino. Em outras palavras, (...) as recorrentes
ameaças representadas pelo corso francês, no Atlântico Sul. A abordagem
da dinâmica do corso permite que se compreenda o movimento maior
de disputa europeia por mares e territórios coloniais. O sentimento de
medo dele decorrente, ao influenciar a tessitura do colonialismo moderno,
possibilita a interpretação das marcas e dos significados impressos no Rio
de Janeiro e nos séculos XVI, XVII e XVIII (BICALHO, 2008, p. 29).
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infiéis e, para isso, “as cartas e ordens régias, provisões, e toda sorte de
correspondência oficial, permitem uma apreensão específica da experiên-
cia e do contato com o novo espaço a ser desbravado e ordenado”.
Segundo Fausto:
Um princípio básico de exclusão distinguia determinadas categorias
sociais, pelo menos até uma Carta-lei de 1773. Era o princípio de pureza
de sangue. Impuros eram os cristãos-novos, os negros, mesmo quando
livres, os índios em certa medida e as várias espécies de mestiços. Eles não
podiam ocupar cargos de governo, receber títulos de nobreza, participar
de irmandades de prestigio etc. A Carta-lei de 1773 acabou com a
distinção entre cristãos antigos e novos, o que não quer dizer que daí para
frente o preconceito tenha se extinguido (FAUSTO, 2002, p. 65).
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Os judeus enfrentaram muitos preconceitos; eram os mais ou menos católicos,
chamados de cristãos-novos, judeus ou seus descendentes, e foram obrigados a se
converter ao Cristianismo por decisão da Monarquia lusa (1497).
Mas, em grau de maior desconfiança, estava o europeu que abraçava uma nova
forma de confissão cristã apartada de Roma. Eles sofreriam todo tipo de repudio
da sociedade ibérica; eram os “protestantes ou cristãos reformados”.
Todo cuidado para que a dimensão religiosa e moral dentro do projeto português
de colonização não fosse maculada vinha amparado por normas de instâncias
oficiais do Estado português, direto da metrópole, ou seja, a religião e o Estado
normatizavam suas ações por meio de Leis.
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Mas, voltando à ocupação francesa daquele ano, foi construído, pelos franceses,
um forte no local, chamado de “Forte Coligny”, onde hoje está situado o Aeroporto
Santos Dumond, região central da cidade.
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A “Ivasão” Holandesa em Pernambuco
Os holandeses eram conhecidos parceiros comerciais dos portugueses, e essa
relação está intrinsecamente ligada ao comércio de açúcar aclamado como o “ouro
português” das suas possessões ultramarinas.
Vago o trono, coube um intrincado jogo sucessório que recaiu sobre a Dinas-
tia Filipina, ou seja, um monarca do império espanhol, inimigos viscerais dos
holandeses devido à perseguição religiosa imposta a eles desde o reinado de
Carlos V. A Dinastia Filipina substituiu a Dinastia de Avis e governou Portugal
durante seis décadas.
A Espanha tinha um império imenso e com isso não deu a devida atenção aos
problemas dos portugueses em relação à defesa de seu território. Os holandeses
eram difíceis de serem vencidos, e isso ficou provado, com o tempo de ocupação
que eles conseguiram realizar no território brasileiro.
Segundo Fausto (2002, p. 84), esses conflitos: “Fizeram parte do quadro das
relações internacionais entre os países europeus, revelando a dimensão da luta
pelo controle do açúcar e das fontes de suprimento de escravos”.
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Como era uma crença popular, ela influenciou os povos sob o domínio por-
tuguês, que acreditava ser o povo eleito por Deus para salvar o mundo e deveria
combater os infiéis em seus domínios; apesar de não estar no controle, a cosmovi-
são ibérica se assemelhava e eram reinos católicos em combate contra o diferente.
Alguns historiadores dizem que “a guerra foi uma luta pelo açúcar”. Mas essa
guerra teve início em outras bandas. Os holandeses começaram atacando os
domínios lusos na Costa africana, no ano de 1595, e depois se voltaram para a
Costa brasileira, com o ataque a Salvador, no ano de 1604. Houve um período de
calmaria nessa relação, devido à paz provisória entre Espanha e Holanda, nos anos
de 1609 a 1621.
Foi uma trégua curta, de apenas doze anos; a partir daí, a Holanda criou
uma Companhia de Navegação chamada de “Companhia Holandesa das Índias
Ocidentais”. O alvo da criação dessa Empresa mista, formada por capitais do Estado
e investidores particulares, era o comércio do açúcar produzido nas possessões
lusas da América e, relativamente, descuidado pelo Império espanhol.
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Esse momento tenso foi substituído por um período de relativa paz, que corres-
pondeu ao período do governo do nobre holandês Maurício de Nassau, que com-
preendeu os anos de 1637 a 1644.
Em relação aos artistas trazidos pela missão de Nassau para o país, podemos
destacar alguns personagens que construíram fama posterior e que são nossos
conhecidos até a atualidade, como, por exemplo, o hoje famoso pintor de paisagens
e cenas do cotidiano brasileiro, Franz Post.
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Seu jeito conciliador recebeu, inclusive, elogios dos jesuítas, pois não foi hostil
aos católicos na região sob seu domínio, haja vista que isso não era a norma a ser
praticada contra os povos conquistados, pois, “Representante de uma instituição
originada no espírito militante do Calvinismo, evitou as medidas extremas de
repressão pedidas pelos pastores protestantes, contra o que eles chamavam de
superstições e insolências dos papistas” (MATOS, 2001, p. 259).
Os calvinistas não toleravam as festas da Igreja Católica e seus cultos aos santos;
eram avessos as procissões e outras manifestações da celebração romana.
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A questão aqui, na realidade, vai muito além do espírito de fé que movia as
guerras religiosas na Europa daquele contexto; o que interessava era o lucro com
o comércio e tirar o máximo proveito da concessão de 24 anos para explorar o
comércio local concedido para as Companhias de Comércio.
Nassau foi um governante e devia conciliar interesses; não podia se levar pelas
paixões; porém, no cotidiano, os conflitos nunca deixaram de existir, ou seja, ele
estava rodeado de outros atores nesse jogo intrincado entre Política e Economia
de que a Religião fazia parte; católicos e protestantes não deixaram de lado as
rivalidades durante o período de Governo holandês no nordeste.
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O período de Nassau chegou ao fim no ano de 1644 e, com sua saída, inten-
sificou-se a atuação dos pastores calvinistas. Uma das medidas foi a proibição da
entrada de missionários católicos na região ocupada pelos holandeses; outra ati-
tude dos ocupantes do território foi a proibição dos padres que lá estavam de se
comunicar com o bispo da Bahia. A tão divulgada tolerância religiosa dos tempos
de Nassau estava se esvaindo e o cerco a outras religiões estava se intensificando.
O interessante é que Pedro Poti foi enviado à Holanda, mas seu primo, Antô-
nio Felipe Camarão, foi um dos líderes que resistiram à invasão dos holandeses
em seu território.
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Segundo Pereira:
De acordo com Matos, a revolta que pôs fim ao domínio holandês no Nordeste
teve, para além de motivos político-econômicos, um forte cunho religioso.
Podemos notar essa motivação num escrito da época: “Prostrados aos pés de
Vossa Majestade, tornamos a pedir socorro e remédio com tal brevidade que nos
não obrigue a desesperação, pelo que toca ao culto divino, a buscar em outro
Príncipe católico o que vossa Majestade esperamos” (MATOS, 2001, p. 264).
Reformas e Reformadores
Ocorrido como um desdobramento da Reforma Luterana, o movimento Calvinista foi uma das principais
correntes surgidas da Reforma Protestante. A Suíça, criada após sua separação do Império Romano-
Germânico, em 1499, teve contato com as ideias de Martinho Lutero através da pregação feita pelo
padre Ulrich Zwinglio. Ao propagandear as doutrinas luteranas pela Suíça, Zwinglio desencadeou
uma série de revoltas civis que questionavam as bases do poder vigente. A prática do zwinglianismo
preparou terreno para a doutrina que seria mais tarde criada pelo francês João Calvino. Perseguido
em sua terra natal, João Calvino refugiou-se na Suíça com o intuito de disseminar outra compreensão
sobre as questões de fé levantadas por Martinho Lutero. Segundo Calvino, o princípio da predestinação
absoluta seria o responsável por explicar o destino dos homens na Terra. Tal princípio defendia a ideia
de que, segundo a vontade de Deus, alguns escolhidos teriam direito à salvação eterna. Os sinais
do favor de Deus estariam ligados à condução de uma vida materialmente próspera, ocupada pelo
trabalho e afastada das ostentações materiais. De acordo com alguns estudiosos, como o sociólogo Max
Weber, o elogio feito ao trabalho e à economia fizeram com que grande parte da burguesia europeia
simpatizasse com a doutrina calvinista. Contando com esses princípios, observamos que a doutrina
calvinista se expandiu mais rapidamente que o Luteranismo. Em outras regiões da Europa o calvinismo
ganhou diferentes nomes. Na Escócia, os calvinistas ficaram conhecidos como presbiterianos; na França,
como huguenotes; e na Inglaterra, foram chamados de puritanos.
SOUSA, Rainer Gonçalves. Calvinismo. Brasil Escola. Disponível em: https://goo.gl/YD9Nrr. Acesso em: 20 abr. 2018.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Museu Ricardo Brennand
Visitar o museu Ricardo Brennand On.Line Tour Virtual.
https://goo.gl/rdPzn4
Museu Huguenote Daniel La Touche
Visitar o museu Huguenote Daniel La Touche On.Line Tour Virtual.
https://goo.gl/SBZkaU
Vídeos
Henrique IV, Rei de Navarra – Os Huguenotes
https://youtu.be/5KZZFSj2lGM
Brasil dos Holandeses – Expedições
https://youtu.be/KBjAKZlMBOk
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