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Brasil no mundo
bém se internacionalizou, seja pela
expansão dos investimentos no exte-
rior; pela presença internacional das
organizações e movimentos sociais
e dos atores religiosos (com o Bra-
sil figurando como o segundo maior
Prefácio por Maria Regina Soares de Lima emissor de missionários no mundo);
pelo número crescente de brasilei-
ros vivendo no exterior; pela nova di-
plomacia subnacional, e pelas mais
diversas políticas públicas exporta-
Por suas dimensões continentais, o atravessam os séculos e situam os das para os países do Sul, em parti-
Brasil tende a ser um país mais vol- eventos brasileiros em perspectiva cular América Latina e África. No
tado para dentro. Em vista da grande temporal e espacial. Ao mesmo tem- contexto de consolidação da demo-
extensão territorial, o país apresen- po, processos muitas vezes tratados cracia brasileira, o desafio para a polí-
ta uma relevante diversidade entre na atualidade como constantes são tica externa é ampliar o diálogo com
suas regiões, o que torna o estudo colocados em perspectiva história. É a sociedade civil, desenvolver uma
das diferenças regionais em varia- o caso, por exemplo, das relações co- robusta diplomacia pública, coorde-
das dimensões um atrativo objeto de merciais com os EUA que desde o nar a negociação internacional das
estudo de um país que é um mun- início da década de 1950 têm dimi- inúmeras políticas públicas que hoje
do em si mesmo. O Atlas da Política nuído sistematicamente, acompa- frequentam as agendas da coopera-
Externa Brasileira retira o Brasil de si nhando a diversificação do comércio ção internacional brasileira. Na de-
e o projeta no mundo em um duplo exterior brasileiro. A implicação é mocracia e no contexto da crescente
sentido. Em primeiro lugar, pela es- que a velha oposição entre dois mo- demanda da sociedade civil por con-
colha da cartografia temática como a delos de política externa, alinhamen- sulta e participação, a política exter-
linguagem para representar grafica- to versus diversificação, deixou de na sai do insulamento e passa a fazer
mente as dimensões quantitativas e fazer sentido. parte do rol das políticas públicas.
qualitativas de uma miríade impres-
sionante de dados, tendo como pa- O Brasil é uma potência emergen- O retrato do Brasil no mundo que
râmetro representações imagéticas te? Com riqueza e variedade de ima- emerge desta publicação é o de um
dos mesmos indicadores em diver- gens desfilam nossos ativos materiais país diverso e complexo, uma demo-
sos outros territórios nacionais. Pela e ideativos. São diversos esses recur- cracia de massa, com uma política
centralidade conferida ao espaço ter- sos, mas cada um deles represen- externa diversificada e com todas as
ritorial, a cartografia temática prati- ta um desafio particular não apenas credenciais para ser um modelo para
camente obriga ao uso da perspectiva para a cooperação internacional, os países do Sul nas águas caudalo-
comparada. Ademais, a escolha de mas para a sociedade, a política e a sas de uma economia globalizada e
uma projeção cartográfica especí- economia do país. Não se trata ape- desigual; um ordenamento geopo-
fica, colocando o país no centro do nas de somar nossas capacidades na- lítico estratificado mas com alguns
globo, nos recorda que todas as pro- cionais e compará-las com outros espaços multilaterais; e, particular-
jeções cartográficas são arbitrárias emergentes. Temos alguns ativos mente, uma enorme heterogeneida-
e refletem as preferências subjetivas que, explorados adequadamente, po- de cultural e de valores cujo manejo
de cada pesquisador. Em perspecti- dem nos colocar na linha de frente exige atores internacionais que fa-
va com outras realidades nacionais, o das discussões globais sobre questões çam da tolerância, da equidade e do
Atlas situa o Brasil no centro do pla- como alimentos, água, megadiversi- respeito à diversidade e à plurali-
neta, mas relativiza nossas alegadas dade, mas também riscos inerentes dade o núcleo duro de sua inserção
especificidades nacionais, equívoco à exploração predatória dos recursos internacional.
de se tomar o caso brasileiro como aqui e em outros países, bem como
único. o desafio de consolidar uma agenda Parabéns à equipe do Labmundo do
doméstica e de cooperação interna- IESP-UERJ, coordenada por meu
Seu pioneirismo, além da narrati- cional comprometida com a dimi- colega Carlos R. S. Milani, compos-
va plástica da linguagem dos mapas, nuição das desigualdades, a garantia ta por Enara Muñoz Echart, Rubens
também está refletido naquilo que dos direitos humanos e a participa- de S. Duarte e Magno Klein, por nos
seus idealizadores decidiram mos- ção democrática. brindar com este esplêndido Atlas
trar e comparar. Não se trata de um tão necessário nos turbulentos dias
Atlas convencional de política exter- A pluralidade, a diversidade e a he- de hoje.
na. Os seus cinco capítulos temáti- terogeneidade de atores e agen-
cos dão conta de eventos, processos, das que participam direta ou Maria Regina Soares de Lima é Pes-
dimensões quantitativas e qualita- indiretamente das questões externas quisadora Sênior do Instituto de
tivas que muitas vezes, como no ca- constituem talvez o retrato mais im- Estudos Sociais e Políticos da Uni-
pítulo sobre a formação nacional, pressionante da nova cara do Brasil versidade do Estado do Rio de Janei-
podem abarcar uma centena de anos, no mundo. Acompanhando a uni- ro (IESP-UERJ) e Coordenadora do
mas cuja concisão é obtida pelo uso versalização da política externa, cuja Observatório Político Sul-America-
imaginativo de linhas de tempo que evidência é o aumento expressivo das no (OPSA)
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a V
Trajetória de uma (pelo menos no modo como a política
externa tende a ser compreendida no
parceria
contexto francês).
VI at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
os Estados, são ainda amplamente em função do problema a ser aborda- uma parte dos dados coletados foi tra-
difundidas, e isso apesar das evidentes do nas duas páginas de cada item dos tada, e novas bases de dados permane-
transformações globais. Um dos capítulos e na articulação dos resulta- cem inexploradas para novas pesquisas.
grandes méritos deste Atlas da Política dos gráficos com os textos pode, em al- Portanto, esta importante etapa con-
Externa Brasileira é ter logrado se guns casos, conduzir ao abandono de quistada pela equipe do Labmundo é
demarcar tanto da cartografia clássica algumas pistas ou à produção de docu- também um começo. Já pudemos ob-
quanto da cartografia espetacular. mentos aparentemente simples, mas servar o uso e a apropriação dos mé-
que de fato resultam de muitas tentati- todos gráficos e cartográficos pelos
Na prática, o trabalho, por vezes longo, vas, modificações e substituições. diferentes pesquisadores do Labmun-
consiste em operacionalizar uma série do, a exemplo das diferentes apresenta-
de etapas desde a reflexão sobre as Apesar dessa dificuldade, este Atlas ções durante o IX Encontro da ABCP
noções a serem explicadas, a pesquisa apresenta grande variedade de repre- (Brasília, 4-7 de agosto de 2014). En-
em torno das informações consideradas sentações gráficas, inclusive algumas riquecidas graças à presença de vários
pertinentes, até o tratamento dos que são originais (como as coleções de documentos gráficos originais, essas
dados, para ao final poder representá- curvas logarítmicas e as matrizes orde- demonstrações acabam por reforçar-se
los. Não comentamos no detalhe cada nadas). Esses tipos de representação no plano científico e em termos de co-
uma dessas etapas, mas constatamos gráfica, apesar de muito eficazes, ainda municação. O Labmundo torna-se, as-
que os autores deste Atlas foram são pouco explorados pois os softwa- sim, um polo importante em matéria
ágeis e criativos na identificação, na res atuais não os propõem automati- de uso e difusão do tratamento gráfi-
comparação, crítica e na seleção das camente. Deve-se recorrer inclusive co como “boa prática” da pesquisa, do
fontes adequadas para os argumentos a vários deles para produzir essas re- ensino e da vulgarização científica no
desenvolvidos. Isso confirma que presentações, em alguns casos traba- campo da Ciência Política e das Rela-
uma base sólida de formação em lhar manualmente. Ao mesmo tempo, ções Internacionais.
pesquisa em ciências sociais resulta os autores deste Atlas inspiraram-se,
em bons reflexos para encontrar as como no caso dos diagramas de flu-
fontes e os dados relevantes, tornando xos, em algumas inovações interessan-
secundários os “detalhes” estéticos. tes que emanam da atual explosão dos Marie-Françoise Durand é geógrafa e
dataminings e dataviz. coordenadora do Ateliê de Cartografia
O “exercício gráfico” (la graphique), de Sciences Po.
pensado e desenvolvido por Jacques Portanto, o Atlas da Política Externa
Bertin, apresentava dois componentes Brasileira é o resultado inovador des- Benoît Martin é geógrafo, cartógrafo
essenciais: a exploração dos dados e, a sa série de operações, as quais, ademais do Ateliê de Cartografia de Sciences
seguir, a comunicação fluida desses da- de sua publicação, permitem difun- Po e doutorando no Centre d’Études
dos. Isso significa que o tempo que se dir formas de pensar e de savoir-faire et de Recherches Internationales de
pode passar no tratamento dos dados muito úteis para a pesquisa. Apenas Sciences Po.
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a VII
Lista de siglas
e abreviaturas
ABC – Agência Brasileira de Cooperação CIA – Agência Central de Inteligência dos Estados
ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para Unidos (em inglês: Central Intelligence Agency)
Refugiados CICA – Conselho Indígena Centro-Americano
AIE – Agência Internacional da Energia CID – Cooperação Internacional para o
AIEA – Agência Internacional da Energia Atômica Desenvolvimento
AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (em CIJ – Corte Internacional de Justiça
inglês: Acquired Immune Deficiency Syndrome) CLACSO – Conselho Latino-Americano de Ciências
ALADI – Associação Latino-Americana de Integração Sociais
ALALC – Associação Latino-Americana de Livre Comércio CNI – Confederação Nacional da Indústria
ALBA – Aliança Bolivariana para as Américas CNM – Confederação Nacional dos Municípios
ALCA – Área de Livre Comércio das Américas CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento
ALCSA – Área de Livre Comércio Sul-Americana Científico e Tecnológico
ANA – Agência Nacional de Águas CNT – Confederação Nacional do Transporte
ANCINE – Agência Nacional do Cinema COB – Comitê Olímpico Brasileiro
ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres COBRADI – Cooperação Brasileira para o
AOD – Assistência Oficial para o Desenvolvimento Desenvolvimento Internacional
ASA – Cúpula América do Sul-África COI – Comitê Olímpico Internacional
ASPA – Cúpula América do Sul-Países Árabes COMIGRAR – Conferência Nacional sobre Migrações
BAD – Banco Africano do Desenvolvimento e Refúgio
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento COMINA – Conselho Missionário Nacional
BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Eco- CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento
nômico e Social CONARE – Comitê Nacional para os Refugiados
BRIC – Grupo composto por Brasil, Rússia, Índia e COSIPLAN – Conselho Sul-Americano de Infraestru-
China tura e Planejamento
BRICS – Grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, COP – Conferência das Partes (em inglês: Conference
China e África do Sul of the Parties) da Convenção-Quadro das Nações
C40 – Grupo de Grandes Cidades para a Liderança Unidas sobre Mudança do Clima
Climática CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
CAD – Comitê de Assistência ao Desenvolvimento da CPS/FGV – Centro de Políticas Sociais / Fundação
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Getulio Vargas
Econômico CS/ONU – Conselho de Segurança das Nações Unidas
CAF – Cooperação Andina de Fomento CSN – Comunidade Sul-americana de Nações
CAFTA – Tratado Centro-Americano de Livre CSS – Cooperação Sul-Sul
Comércio (em inglês: Central America Free Trade DES – Direitos Especiais de Saque
Agreement) DFID – Departamento para o Desenvolvimento
CAN – Comunidade Andina Internacional do Reino Unido
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal DH – Direitos Humanos
de Nível Superior DJAI – Declaração Jurada Antecipada de Importação
CARICOM – Comunidade do Caribe DJAS – Declaração Jurada Antecipada de Serviços
CASA – Comunidade Sul-Americana de Nações DNPM – Departamento Nacional de Produção
CBERS – Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres Mineral
CBF – Confederação Brasileira de Futebol EAU – Emirados Árabes Unidos
CDIAC – Centro de Análise de Informações sobre o ECOMOG – Grupo de Monitoramento de Cessar-
Dióxido de Carbono Fogo da Comunidade Econômica dos Estados da
CDS – Conselho de Defesa Sul-Americano África Ocidental
CEED – Centro de Estudos Estratégicos de Defesa ECOSOC – Conselho Econômico e Social das Nações
CELAC – Comunidade dos Estados Latino-America- Unidas
nos e Caribenhos EDUERJ – Editora da Universidade do Estado do Rio
CELADE – Centro Latino-Americano e Caribenho de de Janeiro
Demografia EMBRAER – Empresa Brasileira Aeronáutica S/A
CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa
e Caribe Agropecuária
VIII at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
END – Estratégia Nacional de Defesa LC – Livre Comércio
EPE – Empresa de Pesquisa Energética LNA – Licenciamento Não Automático
EUA – Estados Unidos da América LRF –Lei de Responsabilidade Fiscal
FAO – Organização das Nações Unidas para MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens
Alimentação e Agricultura (em inglês: Food and MAC – Mecanismo de Adaptação Competitiva
Agriculture Organization) MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e
FAPERJ – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado Abastecimento
do Rio de Janeiro MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
FGV – Fundação Getulio Vargas Comércio
FHC – Fernando Henrique Cardoso MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Com-
FIESP – Federação das Indústrias de São Paulo bate à Fome
FIFA – Federação Internacional de Futebol MEC – Ministério da Educação
FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos MERCOSUL – Mercado Comum do Sul
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz MINURSO – Missão das Nações Unidas para o
FIVB – Federação Internacional de Voleibol Referendo no Saara Ocidental
FMI – Fundo Monetário Internacional MINUSTAH – Missão das Nações Unidas para a
FOCAL – Fórum de Cooperação China-América estabilização no Haiti
Latina MMA – Ministério do Meio Ambiente
FOCALAL – Fórum de Cooperação América Latina- MRE – Ministério das Relações Exteriores
Ásia do Leste NAFTA – Tratado Norte-Americano de Livre Comércio
FOCEM – Fundo para a Convergência Estrutural do (em inglês: North American Free Trade Agreement)
Mercosul NOEI – Nova Ordem Econômica Internacional
FUNAG – Fundação Alexandre de Gusmão NSA – Agência de Segurança dos Estados Unidos (em
GATT – Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (em in- inglês: National Security Agency)
glês: General Agreement on Tariffs and Trade) NSP – Grupo de Fornecedores Nucleares (em inglês:
GEF – Fundo Global para o Meio Ambiente (em inglês: Nuclear Suppliers Group)
Global Environment Fund) NYC – Cidade de Nova York (em inglês: New York
GR-RI – Grupo de Reflexão sobre Relações City)
Internacionais OACI – Organização da Aviação Civil Internacional
IBAS – Grupo composto por Índia, Brasil e África do OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvi-
Sul (também chamado de Fórum IBAS) mento Econômico
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística OCMAL – Observatório de Conflitos Minerais da
IBP – Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e América Latina
Biocombustíveis ODM – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
ICCA – Associação Internacional de Congressos e OEA – Organização dos Estados Americanos
Convenções (em inglês: International Congress and OECS – Organização dos Estados do Caribe Orien-
Convention Association) tal (em inglês: Organisation of Eastern Caribbean
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano States)
IED – Investimento Estrangeiro Direto OIM – Organização Internacional para as Migrações
IEP de Paris – Instituto de Estudos Políticos de Paris OIT – Organização Internacional do Trabalho
(em francês: Institut d’Etudes Politiques de Paris - OLCA – Observatório Latino-Americano de Conflitos
Sciences Po) Ambientais (em espanhol: Observatorio Latinoame-
IESP-UERJ – Instituto de Estudos Sociais e Políticos da ricano de Conflictos Ambientales)
Universidade do Estado do Rio de Janeiro OMAL – Observatório de Multinacionais na América
IFAD – Fundo Internacional para o Desenvolvimento Latina
Agrícola (em inglês: International Fund for OMC – Organização Mundial do Comércio
Agricultural Development) OMT – Organização Mundial do Turismo
IIRSA – Iniciativa para a Integração da Infraestrutura ONG – Organização Não Governamental
Regional Sul-Americana ONU – Organização das Nações Unidas
INESC – Instituto de Engenharia de Sistemas e OPEP – Organização dos Países Exportadores de
Computadores Petróleo
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais OSAL – Observatório Social da América Latina do
INFRAERO – Empresa Brasileira de Infraestrutura Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais
Aeroportuária OSCE – Organização para a Segurança e Cooperação
IOF – Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e na Europa
Seguros ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada OTCA – Organização do Tratado de Cooperação
ISARM – Programa de Gestão de Recursos e Aquíferos Amazônica
Internacionais/Transfronteiriços da UNESCO PAA – Programa de Aquisição de Alimentos
IURD – Igreja Universal do Reino de Deus PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
JICA – Agência de Cooperação Internacional do PARLASUL – Parlamento do Mercosul
Japão (em inglês: Japan International Cooperation PARLATINO – Parlamento Latino-Americano
Agency) PCN – Programa Calha Norte
LABMUNDO – Laboratório de Análise Política PDN – Política de Defesa Nacional
Mundial PDVSA – Petróleo Venezuela S/A
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a IX
PEA – População Economicamente Ativa UNICA – União da Indústria de Cana-de-Açúcar
PEB – Política Externa Brasileira UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
PEC-G – Programa de Estudantes-Convênio de UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
Graduação (em inglês: United Nations Children’s Fund)
PEC-PG – Programa de Estudantes-Convênio de UNIDIR – Instituto das Nações Unidas para pesquisa
Pós-Graduação sobre o Desarmamento (em inglês: United Nations
PIB – Produto Interno Bruto Institute for Disarmament Research)
PMA – Programa Mundial de Alimentos UNIFIL – Força Interina das Nações Unidas no Líbano
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios UNILA – Universidade Federal da Integração
do Instituto Brasileiro de Estatística Latino-Americana
PNUD – Programa das Nações Unidas para o UNILAB – Universidade de Integração Internacional
Desenvolvimento da Lusofonia Afro-Brasileira
QUAD – Grupo formado por Estados Unidos, União UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de
Europeia, Canadá e Japão Janeiro
REBRIP – Rede Brasileira pela Integração Regional UNISFA – Força Interina das Nações Unidas em Abyei
REDLAR – Rede Latino-Americana contra as Represas (em inglês, United Nations Interim Security Force
e pelos Índios for Abyei)
RENCTAS – Relatório Nacional sobre o Tráfico da UNMIL – Missão das Nações Unidas na Libéria (em in-
Fauna Silvestre glês, United Nations Mission in Liberia)
SDP – Secretaria de Desenvolvimento de Produção UNMISS – Missão das Nações Unidas na República do
SECEX – Secretaria de Comércio Exterior Sudão do Sul
SEGIB – Secretaria Geral Ibero-Americana UNOCI – Missão das Nações Unidas na Costa do
SEM – Setor Educacional do Mercosul Marfim
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial UNODC – Escritório das Nações Unidas sobre Drogas
SERE – Secretaria de Estado das Relações Exteriores do e Crime (em inglês: United Nations Office on Dru-
Itamaraty gs and Crime)
SESU – Secretaria de Educação Superior do Ministério UNWTO – Organização Mundial do Turismo (em in-
da Educação glês: United Nations World Tourism Organization)
SIPRI – Instituto Internacional de Pesquisas para a Paz URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
de Estocolmo (em inglês: Stockholm International USAID – Agência dos Estados Unidos para o
Peace Research Institute) Desenvolvimento (em inglês: United States Agency
TFDD – Banco de Dados de Disputa de Água Doce for International Development)
Transfronteiriça (em inglês: Transboundary USP – Universidade de São Paulo
Freshwater Dispute Database) ZOPACAS – Zona de Paz e da Cooperação do Atlântico
TIAR – Tratado Interamericano de Assistência Sul
Recíproca
TNP – Tratado de Não Proliferação Nuclear
TPI – Tribunal Penal Internacional
UAB – Universidade Aberta do Brasil
UE – União Europeia
UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFFS – Universidade da Fronteira Sul
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
UNAMAZ – Associação de Universidades Amazônicas
UNASUL – União das Nações Sul-Americanas
UNComtrade – Banco de Dados e Estatísticas sobre
Comércio das Nações Unidas
UNCTAD – Conferência das Nações Unidas sobre Co-
mércio e Desenvolvimento (em inglês: United Na-
tions Conference on Trade and Development)
UNESCO – Organização das Nações Unidas para Edu-
cação, Ciência e Cultura (em inglês: United Nations
Educational, Scientific and Cultural Organization)
UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”
UNFCCC – Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima (em inglês:
United Na-
tions Framework Convention on Climate Change)
UNFICYP – Força das Nações Unidas para Manuten-
ção da Paz no Chipre
UNIAM – Universidade da Integração da Amazônia
X at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
Sumário
Uso da
cartografia
temática
4 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
INTRODUÇÃO
Paraguai 0,40
12 ÷ 4 = 3
Democratizar o conhecimento sobre Colômbia 0,31
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 5
Como interpretar TIPOS DE ESCALA EM GRÁFICOS
Dados usados como base para os gráficos
as imagens?
Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6
País A 9 000 7 000 9 000 11 000 13 000 16 000
País B 10 000 8 000 6 000 9 000 12 000 10 000
País C 10 40 100 140 200 300
12 000
País B
8 000
A cartografia temática é composta por coleta e tratamento dos dados, esco-
técnicas de georreferenciamento e de lhas de projeções, definições semioló- 4 000
transformação de dados em mapas, gicas e estéticas. Todo esse processo
gráficos e matrizes, podendo ser usada deve ser conduzido com o máximo de 0
País C
para a representação de diversos temas rigor, pois impacta diretamente na in- Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6
sultam de extenso trabalho de pesquisa, país “C” não evidenciado pela escala
aritmética. País C
Labmundo, 2014
6 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
INTRODUÇÃO
is
na
entender qual o fenômeno representa-
cio
or
Quantidade absoluta de viagens presidenciais
do e como está sendo apresentado.
op
pr
L
*
los
a*
ey
TA
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lo
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rn
TO
la
C
cu
l
FH
Co
I ta
Lu
Sa
Di
No campo específico da política ex-
cír
m
Am. do
se
terna, o uso de cartografia temática Sul
a
tad
apresenta diversas vantagens. Ao repre-
en
res
Europa
sentarmos uma imagem, o território
rep
es
fica muito mais evidente para o leitor,
ad
África
tid
principalmente em temas que sofrem
an
Qu
influência direta da geografia política. Am. do
Além das fronteiras (que indicam o ter- Norte
ritório dos Estados), podem ser visua- Ásia
lizados os fluxos (econômicos, sociais,
culturais, ambientais). Por exemplo, Am. 468
em uma apresentação sobre migrações, Central
Labmundo, 2014
tem vizualizar e compreender rapida- TOTAL *Oceania não foi visitada no período
mente os principais fluxos migratórios **Viagens de Dilma Rousseff até
mundiais. Portanto, a representação Fonte: Planalto, 2014 dezembro de 2013
cartográfica permite verificar quais são
as principais rotas escolhidas pelos mi-
grantes e como a geografia facilita ou entendimento da mensagem que o selecionar em função do tipo de men-
cria obstáculos (a exemplo de mares e emissor quer transmitir. sagem que o autor da imagem visa a
montanhas) para o fluxo das pessoas. construir. Portanto, visualizar e com-
Finalmente, as fontes usadas para a co- parar os mapas e as matrizes com base
Podemos argumentar no sentido de leta dos dados são muito importantes em dados diferentes também foi um
que imagens podem ser usadas para no processo de confecção de imagens, exercício contínuo no desenvolvimen-
demonstrar números e facilitar a com- como as aqui apresentadas. Algumas to deste Atlas. Por exemplo, em ma-
paração de uma ou mais variáveis, en- dificuldades podem surgir no caminho. téria de energia, utilizamos os dados
tre diversos casos. Por exemplo, ao Os serviços estatísticos dos Estados va- da Central Intelligence Agency dos
comparar a fonte de matriz energéti- riam em qualidade, e no caso brasilei- EUA, porque a fonte mais completa
ca de diversos países, para demonstrar ro a produção de dados e o acesso a além da CIA seria o Banco Mundial.
que a matriz energética brasileira é ma- eles têm-se aperfeiçoado e melhorado Ocorre que o Banco não desagregava
joritariamente limpa, um texto longo desde meados dos anos 1980. Os da- os dados por tipos de fontes de energia,
e com muitos números pode dificul- dos produzidos por organismos inter- incluindo o setor hidroenergético, que
tar o entendimento rápido da com- nacionais (agências do sistema ONU, nos interessava apresentar em separa-
paração que o autor quer comunicar Banco Mundial, OCDE, etc.) e, fenô- do. Fizemos a opção pelos dados da
a seus destinatários. Além disso, o ex- meno cada vez mais importante, por CIA porque eles também são interna-
cesso de informações em um mesmo organizações da sociedade civil e gran- cionalmente considerados de confian-
parágrafo pode tornar a leitura demo- des corporações podem complementar ça, tendo sido usados na produção de
rada, truncada e entediante, eventual- a construção de sentidos sobre a rea- outros Atlas na Europa, nos EUA e na
mente acarretando o desinteresse do lidade do mundo. Os dados, depen- América Latina. É importante esclare-
leitor. Com o uso da imagem (seja por dendo de suas fontes, podem revelar cer que a coleta de dados foi conduzi-
gráficos com círculos, seja por barras realidades nem sempre coincidentes. da ao longo de 2013 e 2014. Padronizar
ou mapas), a comparação fica muito usos e referências também é essencial.
mais evidente. A leitura e a compre- Em muitos casos, torna-se funda- Por exemplo, adotamos como padrão
ensão são imediatas, evitando ruí- mental triangular os dados, sempre o termo “dólares” para indicar dólares
dos na comunicação e facilitando o que possível diversificar as fontes e dos Estados Unidos.
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 7
A escolha da Os mapas nunca são exaustivos ou
completos, nem totalmente objetivos.
projeção
Orientado ao Norte? A Europa no cen-
tro? O Pacífico ou a África reduzidos?
Uma das decisões mais importantes
na concepção de um mapa diz respei-
to à escolha da projeção. Projeções
cartográficas podem ser entendidas
como um instrumento de represen-
tação do globo por meio de um dese-
nho. É um exercício de transformação
de um objeto tridimensional em uma
representação plana, razão pela qual
PROJEÇÃO DESCONTÍNUA DE GOODE as projeções são objeto frequente de
Projeção de Goode sem alterações questões, críticas e debates. As proje-
ções sempre geram distorções, mais ou
menos acentuadas, de partes do terri-
tório do planeta.
8 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
INTRODUÇÃO
não passe “por cima” de territórios im- DIFERENTES REPRESENTAÇÕES E SUAS DISTORÇÕES
portantes, deixando-os ocultos ou po- Projeção de Bertin Projeção de Fuller
luindo a imagem.
Goode
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 9
O mundo político
Canadá
Quirguistão Mongólia
Tajiquistão
Estados Unidos
Afeganistão China
10 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
INTRODUÇÃO
Europa
1- Guernsey 21- Bósnia e Herzegovina
2- Jersey (Reino Unido) 22- Montenegro
3- Andorra 23- Albânia Groelândia Jan Mayen
4- Bélgica 24- Macedônia (Dinamarca)
5- Luxemburgo 25- Kosovo Noruega
6- Holanda 26- Sérvia Suécia
7- Mônaco 27- Åland (Finlândia) Finlândia
Suíça
8- Suiça Estônia
28- Estónia Islândia 27
9- Itália Letônia
29- Letónia Ilha de Man 28
10- Alemanha 30- Lituânia (Reino Unido) 29 Rússia
12 30
11- Liechtenstein Romênia
31- Roménia 6
12- Dinamarca 32- Bulgária Irlanda 34
13- Vaticano 33- Moldávia 4 5 10 Polônia
Reino Unido 1 2 17 Ucrânia
14- San Marino 34- Bielorrússia 11 15 18 Kasaquistão
15- Áustria 35- Chipre França 8 16 19 31 33
16- Eslovênia 36- Chipre do Norte 9 20 21 26 Azerbaijão
3
17- República Checa 7 14 22 25 24
32 Geórgia Uzbequistão
18- Eslováquia Portugal Espanha 13 23
19- Hungria Turquia Turcomenistão
20- Croácia Tunísia Armênia
Açores Grécia 35 36 Síria
Bermudas Ilha da Madeira Malta Líbano
Marrocos Iraque Irã
Palestina
Israel Jordânia Kuwait
Argélia Líbia Bahrein
Cuba Bahamas Rep. Dominicana Saara Egito Catar
Belize Porto Rico Ocidental Arábia EAU
2b Saudita
a1 3c 4d 5e
f6 g
7 10 Mauritânia Mali Omã
Jamaica 89
h j k11 Senegal Níger
Honduras Haiti i l12 Chade Sudão Eritreia Iêmen
20
t 19
s r18 13
m 14
n 15
o Cabo Verde
Nicaragua
Nicarágua p
16 17
q Burkina Djibouti
Gambia
Trinidad Guiné-Bissau
Guiné Bissau Guiné Somália
Guatemala e Tobago Nigéria
Venezuela Gana Sudão Etiópia
Serra Leoa República do Sul
El Salvador Guiana Libéria Centro-Africana
Costa Rica Colômbia Suriname Camarões
Guiana Francesa Togo Uganda
Panamá Bénin
Benin Quênia
Equador Costa
Costa do
do Marfim
Marfin República Ruanda
São Tomé e Príncipe Democrática Burundi
do Congo Comores
Guiné Equatorial Tanzânia Seychelles
Gabão
Brasil Congo
Peru Angola
Zâmbia Moçambique
Rep. de
Bolívia Maurício
Maurícia
Zimbábwe
Malawi
Malaui
Botswana Madagascar
) Namíbia
Chile
Paraguai Suazilândia
Argentina Reunião
Uruguai África do Sul Lesoto
Labmundo, 2014
Ilhas Malvinas
Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul
100 km
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 11
Capítulo 1:
FORMAÇÃO
DO BRASIL
formação do
genas. E foi definido por apresamento,
aculturação, estímulo a rivalidades in-
tertribais e pela difusão de doenças
europeias entre indivíduos sem imu-
Brasil colonial
nidade aos males europeus. A chegada
ao continente não desviou o interesse
europeu pelo caminho das Índias. No
Brasil, além do extrativismo, o proje-
to de colonização iniciou-se só a partir
de 1530. Dividiu-se o território em ca-
pitanias e implantou-se a monocultura
A chegada dos europeus às Améri- levaram à projeção mundial da Europa. de cana-de-açúcar. A mão de obra foi
cas resultou do processo de expansão Os primeiros europeus a aportarem inicialmente de indígenas capturados
marítima e comercial no início da in- nesta região encontraram populações e depois de escravos africanos.
ternacionalização do capitalismo. Fa- indígenas divididas em mais de 2 mil
tores culturais, políticos e econômicos povos e tribos. O contato entre os dois O território era delimitado pelo Trata-
do de Tordesilhas. Sua definição nunca
foi simples, nem levada rigorosamen-
CONTINENTE AMERICANO ÀS VÉSPERAS DA CONQUISTA EUROPEIA te em consideração. A união das cortes
Principais povos indígenas e áreas culturais As cores representam áreas culturais, ibéricas também contribuiu para o es-
definidas por etnólogos e arqueólogos
INUITS
que realizaram uma classificação das
praiamento da presença de portugue-
INUIT
S múltiplas sociedades aborígenes. ses pelo território colonial espanhol. O
ALEÚTES
S
HURÕES SE nahuatl na Mesoamérica ou o quechua
UE
-NU
CHEYENNES São o produto de composições entre reinos, como França e Inglaterra. Ho-
SHOSHONE indivíduos sedentários e nômades,
NAVAJOS
COMANCHES,
CHEROKEES agricultores e guerreiros, cada grupo landeses ocuparam o Nordeste por
América do Norte
APACHES
NATCHES conservando alguns de seus longo período, criando um sistema
Ártico particularismos.
Sub-ártico Não são, porém, mundos fechados; político e econômico de duradouro
NÁUATLES ao contrário, as áreas culturais são
Costa noroeste MAIAS
OTOMIS espaços de circulação, por terra e por
Planalto mar.
Grande bacia ARUAQUES EXPORTAÇÕES COLONIAIS
S CARAÍBAS
Califórnia CHIBCHA em milhões de libras esterlinas, 1500-1822
AROS
JI V
Sudoeste ARUAQUES
ÉCHUAS
300 Açúcar
Grandes planícies QU
Nordeste TUPIS TUPIS 170 Ouro e diamantes
Sudeste 15 Couros
AIMARAS TUPIS
Mesoamérica 15 Pau-brasil e outras madeiras
S
Mesoamérica
A NI
12 Tabaco
AR
Protestante na Europa
1651
1529 Salvador
Eventos domésticos
Tratado de Saragoça
Golpes e mudanças de regime 1630-1654
1530
Início da ocupação
Eventos internacionais Formação das capitanias hereditárias holandesa no Nordeste
Relações internacionais do Brasil
1545 1598
14 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
FORMAÇÃO DO BRASIL
Cristóvão
Colombo, Vasco
1492 (Espanha) da Gama,
1498
(Portugal)
Bartolomeu
Dias, 1488
(Portugal)
Américo
Vespúcio,
1497 (Espanha)
Fernão
s
de Magalhães,
Trata
esilha
do d
Tord
Labmundo, 2014
e S
e
ara
T. d
go
portuguesa pela Igreja Católica (exceto Europa)
ça
Fontes: Barraclough, 1991; Duby, 2003.
impacto. Sua expulsão foi um dos pri- para o avanço da urbanização, da inte- na condução do Brasil independen-
mórdios da formação da nacionalida- riorização e da diversificação das pro- te ajudam a explicar a manutenção da
de brasileira. fissões liberais, além do surgimento de unidade territorial e o processo de in-
uma camada social média. Com a mi- dependência relativamente pacífico.
O Brasil colonial teve sua inserção in- neração, deslocou-se o eixo econômico
ternacional baseada na dependên- e político, contribuindo para a transfe-
cia direta de sua metrópole e indireta rência da sede política de Salvador para VEJA TAMBÉM:
da Inglaterra, com produção econô- o Rio de Janeiro. A invasão de Portu- Brasil Império p. 16
mica marcada pela monocultura de gal por Napoleão Bonaparte deu fim Diversidade cultural p. 24
exportação (gêneros agrícolas, princi- ao período colonial. A vinda da família Integração na América do Sul p. 86
palmente a produção de cana-de-açú- real, a ascensão do Brasil a Reino Uni- Relações Norte-Sul p. 100
car). A descoberta de ouro contribuiu do e a presença de um de seus membros
1750
Portugal e Espanha 1789
1680
assinam Tratado de Madri Revolução Francesa
Fundação da Colônia do Sacramento
1648 1755
Esquadra portuguesa, armada 1681
Terremoto em Lisboa destrói
no Rio de Janeiro e com índios Chega a um milhão o número
sede do Império Português
brasileiros, reconquista de escravos trazidos de Angola
1759
Angola dos holandeses 1687 Companhia de Jesus é expulsa
1657 Fundação dos Sete Povos das Missões do Brasil pelo Marquês de Pombal
Guerra entre Portugal e Holanda 1763
1694
por disputas ultramarinas. Transferência da capital de Salvador
Descobertas as primeiras
Ao assinar Tratado de Paz (1661), para o Rio de Janeiro
1651
1810
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 15
Da sede do Com a chegada da Corte, o Brasil pas-
sou a ser centro do Império português,
Império colonial
apesar de cristalizar uma relação sub-
missa à Inglaterra, como visto, em
1808, na abertura dos portos às nações
amigas. Nem a independência alterou
ao Brasil imperial
o caráter desigual e hierárquico das re-
lações entre Brasil e Inglaterra, haja
vista que a primeira dívida externa do
Brasil independente, a fim de pagar
compensações à antiga metrópole, foi
contraída junto à coroa britânica.
GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA, 1864-1870
O Brasil independente contrastava
BOLÍVIA* com o restante da América Latina: era
Corumbá
a única monarquia entre as repúblicas
Coxim da região. Esse fato, somado à unifor-
Albuquerque
midade das elites e à estabilidade polí-
Forte Coimbra tica e social do Brasil Império, criou no
imaginário político doméstico da épo-
Miranda ca a crença de um país civilizado em
da
efini meio a repúblicas caudilhescas. Nas re-
ão d Nioaque
t e i ra n guerra
Fron poca da lações regionais, sobressaía a rivalidade
àé
com a Argentina e o esforço por man-
Laguna
Dourados ter a região da bacia do Prata de modo
Rio
Humaitá
n
Curupaiti
Pa
R io
Tuiutí
vida política do novo país, fruto da ri-
validade com Buenos Aires.
Corrientes Fronteiras atuais
Riachuelo São Borja As intervenções brasileiras na região e a
Jataí Itaqui Principais batalhas expansão econômica do Paraguai alte-
raram a balança de poder regional e re-
ARGENTINA Uruguaiana Máxima extensão
do controle paraguaio sultaram no maior conflito armado da
durante a guerra história da América do Sul, envolven-
Avanço das tropas do Brasil, Argentina, Uruguai e Para-
á
ran
Morte de S. Lopes
e fim da guerra ra, além de contribuir indiretamente
Fontes: Albuquerque et al., 1977; Goes Filho, 1999; Montevidéu * A Bolívia não para a abolição do regime escravocrata.
Wehling e Wehling, 2002; Gurnak et al., 2010. participou da guerra As fronteiras dos países também foram
1850
16 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
FORMAÇÃO DO BRASIL
reordenadas: o Paraguai, por exemplo, como Ministro das Relações Exterio- EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
perdeu cerca de 40% de seu território. res. O Barão participou diretamente Total de cada década em porcentagem do total, entre
1821 e 1890
dos acordos que garantiram a sobe- Café
Mais da metade das fronteiras brasilei- rania brasileira sobre os territórios do
50
ras foi definida ao longo do século XIX. Acre, de Palmas (SC) e do Amapá.
Fazendo uso do uti possidetis, o Brasil
realizou várias negociações fronteiriças A extensão e a unidade do território
com os vizinhos. A região Sul foi a de brasileiro também foram conseguidas Açúcar
30
maior complexidade, em função dos à custa da repressão de movimentos in- Borracha
receios dos vizinhos e da extensa fron- ternos separatistas, tais como a Confe- Algodão
teira em litígio. Acordos internacionais deração do Equador, a Cabanagem, a 10
Couros e pele
sucederam-se a partir da segunda me- Revolução Farroupilha, a República
Labmundo, 2014
tade do século XIX, porém também Juliana e a Inconfidência Mineira. Fumo
savam a garantir a soberania nacional Na economia, produtos como café, Fonte: Almeida, 2001.
sobre o território. Em geral, primou o açúcar, borracha e algodão destina-
uso pelo governo brasileiro da via di- ram-se à exportação. No caso do café, a
plomática na solução das controvérsias tecnologia empregada evoluiu vagaro- e 1883, aportaram às terras brasileiras
territoriais. samente, e ao final do século novas téc- cerca de 540 mil migrantes, dos quais
nicas aumentaram a produtividade das 220 mil portugueses, 96 mil italianos,
A consolidação das fronteiras seria fazendas e uma nova forma de mão de 70 mil alemães e 15 mil espanhóis.
completada, no começo do século XX, obra passou a ser empregada: o escravo
graças à liderança do Barão do Rio africano foi paulatinamente substituí- O mercado consumidor internacional
Branco, antes e durante o seu mandato do pelo migrante europeu. Entre 1819 do café brasileiro se expandia à medi-
da que novos centros urbanos se for-
mavam e que ascendiam novas classes
FRONTEIRAS BRASILEIRAS NA HISTÓRIA médias nos EUA e na Europa. Na vi-
Venezuela 1817 Algumas disputas fronteiriças
rada para o século XX, o café seria o
Inglaterra França
1859 1904 mais importante produto da pauta
1900
Colômbia Tratado de de exportação e os EUA o seu maior
1907 Madrid,1750
Madri, 1750 consumidor.
Peru Tratado de Santo
1851 Ildefonso, 1777 Nas vésperas da República, o Brasil ti-
Tratado de nha pouco mais de 14 milhões de habi-
Badajóz, 1801
tantes, já então bastante miscigenados
494)
Bolívia América
América Disputas perdidas
Áreas ainda
1867 e 1903 em disputa Janeiro, com 500 mil habitantes, o
Portuguesa
Por tuguesa
. To r
Áreas ainda
em disputa
país era pouco integrado econômica e
territorialmente.
I. da Trindade
Paraguai
1872 250 km Inglaterra
Argentina 1895 VEJA TAMBÉM:
1895
*as datas indicam o momento Integração na América do Sul p. 86
em que os dois Estados acordaram
Labmundo, 2014
Uruguai
fronteira em comum na região indicada Argentina p. 88
1851 Governança global p. 108
Cooperação Sul-Sul p. 112
Fontes: Goes Filho, 1999; Gurnak et al., 2010; Albuquerque et al., 1977.
1861 1889
1850 1867-1869
Questão Christie 1876 Proclamação
Aprovação entre Brasil Brasil e Peru rompem
relações D. Pedro II da República
da Lei Euzébio de Queirós e Grã-Bretanha é o primeiro monarca
e da Lei de Terras a visitar os EUA
1863-1865 1871
1853 Brasil e Grã-Bretanha 1884
Lei do Ventre Livre 1889
EUA pressionam rompem relações Início
para ter direito EUA, Argentina e Uruguai
da Conferência reconhecem o novo regime
à livre-circulação 1864
de Berlim
ao rio Amazonas Tropas brasileiras republicano brasileiro
1854
invadem o Uruguai I Conferencia Internacional
1879-1883 Americana, em Washington
Brasil Intervém Guerra do Pacífico,
no Uruguai Guerra Paraguai entre Peru e Bolívia
1850
1900
1859
Prússia proíbe 1866 contra o Chile, 1888
emigração O rio Amazonas é aberto em que o Brasil Abolição da escravatura
para o Brasil à navegação internacional permanece neutro
Deodoro F. Peixoto P. de Moraes C. Sales
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 17
A República e a RELAÇÕES COMERCIAIS
Comércio brasileiro, entre 1901 e 2010 (em milhões
de dólares)*
hegemonia dos
100 000
10 000
100
01 920 930 940 950 960 970 980 990 000 010
19 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2
* Foi adotada a escala logarítimica
Labmundo, 2014
01 11 21 31 41 51 61 71 81 /2 0
19 19 19 19 19 19 19 19 19 991 20
pelos interesses econômicos dos cafei- dunidense – ao lado de ingleses, por- Exportação do Brasil para os EUA
1
cultores ligados à exportação. As rela- tugueses, italianos e franceses – aos Importação dos EUA pelo Brasil
ções do Brasil com os Estados Unidos militares republicanos sob a liderança Fonte: MIDC, 2008.
passariam, ao longo do século XX, a de Floriano Peixoto em 1893 e o Trata-
constituir-se no elemento sistêmico do de Cooperação assinado com a Ar-
mais relevante da PEB. gentina em 1896 são exemplos dessa
aproximação. XX pode ser explicado à luz dos em-
bates entre esses dois posicionamentos.
PACTO DO RIO Na transição para o século XX, as rela- Durante os primeiros trinta anos do
Participação no TIAR, entre 1947 e 2014
ções econômicas e políticas entre e Bra- século XX, o Brasil manteve sua posi-
sil e EUA passaram a ser fundamentais ção de país alinhado com os interesses
na definição das prioridades e orienta- dos EUA, procurando tirar benefícios
ções estratégicas da PEB, provocando, das condições de segurança continen-
inclusive, o desenvolvimento de visões tal garantidas na América Latina pelo
1 000 km diferenciadas da diplomacia brasilei- prestígio internacional da nova potên-
ra. Dois posicionamentos podem ser cia. Foi assim que a autonomia relativa
Membros originários considerados marcos interpretativos nos marcos de uma “aliança não escri-
Estados que aderiram
ao longo do tempo*
desenvolvidos no seio do Itamaraty so- ta” com os Estados Unidos (expressão
Estados que se retiraram** bre as relações Brasil-EUA: o da alian- de Bradford Burns, forjada em 1966)
*Datas de adesão: Nicarágua (1948),
ça com os EUA e o de uma diplomacia e o fortalecimento doméstico da PEB,
Equador (1949), Trinidad e
Tobago (1967) e Bahamas (1982).
universalista e diversificada (comér- sob a liderança do Barão do Rio Bran-
cio com a Europa ocidental e orien- co (1902-1912), garantiram ao Brasil
Labmundo, 2014
18 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
FORMAÇÃO DO BRASIL
184
Guatemala
período também serviram para minar a Vargas. Os
o projeto de construção de uma lide- EUA procura- Nicarágua
rança regional da Argentina. Em 1905, ram envolver o Costa Rica
Rio de Janeiro e Washington concor- Brasil em seu sis-
daram em elevar à categoria de embai- tema de poder a
xada suas respectivas representações fim de neutralizar a influên-
diplomáticas, e os EUA mantiveram o cia alemã. Recorde-se que a Ale-
Brasil
mesmo embaixador no Rio de Janeiro manha, em 1930, era responsável por
(Edwin Morgan) entre 1912 e 1933, fato 25% das importações brasileiras, ligei-
que contribuiu para a aproximação ramente acima dos EUA. A coopera-
entre os dois países. Em 1914, o em- ção também se deu nos campos militar
baixador Cardoso de Oliveira, repre- (sobretudo no que diz respeito à mo- Paraguai 500 km
sentante brasileiro no México, atuou dernização dos aeroportos no Nordes-
nesse país como mediador dos interes- te do Brasil) e industrial (por exemplo,
Labmundo, 2014
Uruguai
ses norte-americanos. no setor do aço, com o financiamen-
to da construção da usina de Volta
No entanto, a grande depressão de Redonda), muito embora as Forças Ar- Fonte: White, 2013
1929, a instabilidade na Europa e a in- madas estivessem divididas: Marinha
satisfação dos países da América Latina com o Reino Unido e o Exército en-
com a política dos EUA para a região, tre Alemanha e EUA. O “jogo duplo” Magalhães, primeiro embaixador nos
entre outros fatores, levaram a algumas de Vargas entre a Alemanha e os EUA EUA e depois chanceler, chegou a afir-
mudanças na postura dos EUA para a (1935-1941), conhecido como a estraté- mar “o que é bom para os EUA é bom
América Latina a partir de 1930. Apesar gia política da equidistância pragmá- para o Brasil”. Em outros momentos
das promessas retóricas de cooperação tica, associou claramente a PEB aos (Política Externa Independente, Prag-
econômica de Franklin D. Roosevelt, desafios do desenvolvimento nacional matismo Responsável e Ecumênico), a
o conteúdo real da política dos Estados e a colocou, ao final de 1945, sob nítida PEB rompeu com a tradicional conti-
Unidos não foi alterado, e a liderança área de influência norte-americana. O nuidade, ousou sair da sombra do he-
norte-americana continuou a fundar- equilíbrio entre opção preferencial pe- gemon do Norte e pensar de modo
se na Doutrina Monroe. O discurso los EUA e diversificação das parcerias autônomo e soberano suas estratégias
da cooperação ajudou, porém, os EUA é considerado uma variável explicativa de inserção internacional.
a consolidarem sua esfera de influên- da PEB ao longo do século XX.
cia hemisférica em um momento-cha-
ve do século XX: a Segunda Guerra Em alguns momentos a PEB pendeu VEJA TAMBÉM:
Mundial e a ordem da Guerra Fria. O fortemente para a associação ou o ali- Segurança e defesa p. 46
Brasil se manteve neutro no confli- nhamento quase automático com os Novas Coalizões p. 106
to até 1942, quando se alinhou com EUA (governo Dutra, primeiros anos Governança global p. 108
os Estados Unidos. Esse alinhamen- do regime autoritário, intervenção mi- Cooperação Sul-Sul p. 112
to foi facilitado por concessões feitas litar na República Dominicana). Juraci
1930
Hermes da Fonseca Venceslau Brás D. Moreira Epitácio Pessoa Artur Bernardes Washington Luís
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 19
Desenvolvimento POPULAÇÃO BRASILEIRA
Evolução da participação da população urbana,
e industrialização
entre 1940 e 2010 (em %)
90
80 No Brasil
70
60
50
No mundo
40
Entre 1930 e 1980 foram definidas im- consumidor do principal produto bra-
30
portantes estratégias econômicas que sileiro de exportação: o café. Getúlio
influenciaram o crescimento econômi- Vargas, salvo no Estado Novo, buscou 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
co e industrial do Brasil no século XX, criar um governo de compromisso que Fontes: ONU, 2013a e IBGE, 2013a.
Labmundo, 2014
projeto governamental com efeitos du- Antes da década de 1930 já existiam in-
radouros. O ano de 1930 marcou a as- dústrias no Brasil, geralmente vincula- 0
censão à presidência da República de das ao capital excedente da economia 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
um governo menos comprometido cafeeira. No entanto, o projeto de in- Fonte: ONU, 2013a.
com a oligarquia rural, que estava no dustrialização iniciado em 1930 e con-
poder há mais de 30 anos. Essa mu- tinuado, em menor ou maior grau,
dança política foi acompanhada dos pelos governos sucessores foi crucial e industrialização foram baseados no
efeitos da crise internacional de 1929, ficou conhecido como “modelo de in- “tripé econômico”, formado pelo capi-
que significou a retração do mercado dustrialização por substituição de im- tal público, capital privado domésti-
portações”. Apesar do que o termo co e capital privado internacional, que
pode indicar, o objetivo não era a redu- variaram em intensidade e importân-
EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA ção imediata dos fluxos de importação. cia ao longo do tempo. Assim, houve
% do total do PIB brasileiro, entre 1945 e 1995 Em um primeiro momento, as impor- deslocamento do centro dinâmico da
tações eram incentivadas, para que a economia brasileira do setor externo
capacidade produtiva da economia para o doméstico. Enquanto país agro-
20 brasileira fosse aumentada. O plano de exportador, a maior parte das riquezas,
desenvolvimento previa etapas de in- dos empregos e da renda era associada
dustrialização, abrangendo a indústria à produção para o mercado externo. O
15
de base, bem como a de bens duráveis desenvolvimento industrial brasileiro
e não duráveis. Desse modo, a pro- alterou a dinâmica econômica do país,
Labmundo, 2014
10
dução nacional iria, progressivamen- baseando-se a partir de então no mer-
1950 1960 1970 1980 1990
Fontes: IBGE, 2013a; Sítio web Ipeadata, 2013 e
te, agregando valor aos seus produtos. cado consumidor interno. Contribu-
Bonelli et al., 2013. Os investimentos que permitiram a íram para isso diversos fatores sociais,
1958
1960
Assinatura do TIAR
(Alemanha) Lançada a
1948
Operação Pan-
II Guerra Mundial Criação da Cepal Americana
Gov. prov. Vargas Gov. const. Vargas Estado Novo Dutra Vargas Juscelino Kubitschek
1940 1950
20 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
FORMAÇÃO DO BRASIL
Labmundo, 2014
damento externo. Além disso, esse mo-
delo de desenvolvimento se mostrou 1000 km
incapaz de superar mazelas como a dis- Fonte: Declaração de Belgrado dos Países não Alinhados, 1961
paridade econômica entre as regiões, a
desigualdade social, a pobreza e outros
desequilíbrios. Pelo contrário, o forte a superpotência estadunidense era en- menores (por exemplo, a proposta da
crescimento econômico foi acompa- tendida como meio de garantir retor- NOEI). Devido ao alto endividamen-
nhado pelo aprofundamento da con- nos difusos em outras áreas. As elites to externo, resultado de um modelo
centração de renda. políticas brasileiras não tenderam a de industrialização muito dependen-
questionar o pertencimento ao blo- te de liquidez externa, o Brasil enfren-
O Brasil entrou mais fortemente na co capitalista, mas também interpreta- tou desequilíbrios macroeconômicos,
área de influência dos EUA, juntou- vam o Brasil como um país periférico, o que resultou na exaustão do mode-
se ao esforço de guerra dos Aliados e com necessidade de crescimento e de- lo nos moldes pensados em 1930. Con-
fez parte do bloco ocidental no âmbito senvolvimento. Nesse sentido, algu- sequentemente, a busca de autonomia
da Guerra Fria. Esse alinhamento foi mas iniciativas brasileiras revelavam na política externa também sofreu um
poucas vezes automático ou ideológi- certo grau de autonomia, ao defender grande revés no final do século XX.
co, mas buscava barganhar vantagens maior equidade e justiça no cenário
econômicas ou políticas. Embora a lo- internacional e ao buscar maior di-
calização geográfica restringisse a auto- versificação de parceiros, inclusive no VEJA TAMBÉM:
nomia do Brasil, pois a América do Sul mundo comunista. Esse pragmatismo Multinacionais brasileiras p. 70
era entendida como área de influência da diplomacia brasileira era mais evi- Relações Norte-Sul p. 100
dos EUA, a política externa foi usada dente em momentos em que a capaci- Parque industrial p. 30
como um instrumento do projeto de dade econômica interna aumentava e Logística p. 32
desenvolvimento. A aproximação com em que as restrições sistêmicas eram
1972
1964 1982
I Plano Nacional de Desenvolvimento
Golpe Civil-Militar Guerra das Malvinas
1964 Pragmatismo Responsável Brasil declara moratória
1961 1974 1985
Programa de Ação 1978
Participação Econômica do Governo Proposta da Nova Apoio à criação do
como observador Ordem Econômica Tratado de Cooperação
Grupo de Contadora
da Conferência Internacional Amazônica
1965 1986
do Movimento dos Acordo do MEC com a USAID Reconhecimento do 1979
governo comunista Criação do
Não Alinhados Rompimento de relações Acordo Tripartite Grupo do Rio
diplomáticas com Cuba de Pequim (Questão Itaipu-Corpus)
Política Externa 1975 Fundação da ZOPACAS
Independente Reconhecimento da independência
1968 1989
1960
1990
1970 1980
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 21
Globalização A política externa de Collor promo-
veu a aproximação com os EUA (visto
e nova ordem
como aliado necessário para as refor-
mas econômicas internas) e a adoção
do modelo econômico neoliberal base-
ado na abertura comercial e na inserção
competitiva no mercado internacional
(“modernização pela internacionaliza-
ção”). Procurando melhorar sua ima-
gem e credibilidade (importantes para
renegociar a dívida externa), o Brasil
começou a aderir aos regimes interna-
cionais, assinando importantes decla-
O fim do regime militar e a consequen- externa (suspensão do pagamento dos rações e tratados no campo comercial,
te redemocratização do país não impli- juros em 1987, seguida de pressões co- ambiental (no contexto da Rio-92)
caram, de início, mudanças profundas merciais dos EUA) e sucessivos progra- e de não proliferação nuclear. Nes-
na política externa. Manteve-se o foco mas de estabilização macroeconômica se contexto, o Itamaraty perdeu força
na promoção do desenvolvimento (Plano Cruzado em 1986, Plano Bres- em proveito da diplomacia presiden-
nacional, e o Itamaraty permaneceu ser em 1987 e Plano Verão em 1989). cial, que se consolidou com os gover-
como formulador central da política No âmbito latino-americano, houve nos de Fernando Henrique Cardoso
externa, embora tenham emergido no- maior aproximação com a vizinha Ar- (FHC) e, depois, com Luiz Inácio Lula
vos atores com presença destacada nas gentina (iniciando processo de integra- da Silva. Começaram a ter maior par-
agendas internacionais. Preocupado ção que levaria, anos depois, à criação ticipação outros atores, em um primei-
principalmente com o âmbito interno, do Mercosul) e se restabeleceram as ro momento o setor empresarial, mas
o governo Sarney se caracterizou por relações diplomáticas com o Estado também organizações sociais, entida-
uma forte instabilidade econômica, cubano. Desse modo, e em compara- des subnacionais, academia, etc. Cres-
com alta taxa de inflação (que quadru- ção com as décadas anteriores, tendeu ceu a pressão pela formulação de uma
plicou entre 1985 e 1988), baixo cres- a ganhar peso relativo a dimensão re- PEB mais plural e, em alguns casos,
cimento econômico, crise da dívida gional da PEB. mais democrática. No âmbito regional,
a assinatura do Tratado de Assunção,
em 1991, levou à constituição do Mer-
COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO cosul, processo de integração regional
Exportação, em 1990 Importação, em 1990 em bilhões de dólares que contribuiu para consolidar a aber-
tura econômica, mas também para que
seus integrantes (sobretudo o Brasil)
10,460 4,731 1,005 ganhassem peso e poder de negociação
Ásia Oriente Ásia
Médio Oriente
Médio
internacional.
África África
Europa Europa Com o impeachment de Collor, o Go-
Saldo comercial (em bilhões
de dólares) verno Itamar Franco deu continuida-
EUA -2 0 2 4 6 de à agenda externa de liberalização
EUA Europa
econômica, desenvolvimento e maior
EUA
Ásia
autonomia. Teve dois importantes
África chancelares (FHC em 1992-1993 e Cel-
so Amorim em 1993-1994), que busca-
Labmundo,2014
América do Sul
América
do Sul América
do Sul
Oriente Médio ram participar na definição de regimes
1000 km
déficit superávit internacionais (por exemplo, a agen-
Fonte: MDIC, 2008 da de desenvolvimento ou de direitos
1997
1992 1995
22 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
FORMAÇÃO DO BRASIL
humanos da ONU) e nas sucessivas No contexto de crescente interdepen- de ação coletiva a fim de garantir os
conferências durante a década de 1990. dência derivada da globalização e de interesses brasileiros. No âmbito re-
O Brasil passou a insistir na reforma grande instabilidade econômica glo- gional, a consolidação do Mercosul
do Conselho de Segurança (exigindo bal (crises mexicana, asiática e russa, com o Protocolo de Ouro Preto (em
um assento permanente) e a atuar nas que afetaram a economia brasileira), o 1994) e o início do processo de cons-
operações de paz da ONU. No âmbi- governo de FHC deu ênfase às refor- trução da Comunidade Sul-America-
to multilateral aprofundou a integra- mas liberalizantes por meio da política na de Nações (CASA) contribuíram
ção regional sul-americana, a fim de de estabilização macroeconômica, da para promover a liderança brasileira na
se contrapor à Área de Livre Comércio abertura e liberalização das regras de América do Sul. A lusofonia ganhou
das Américas (ALCA). Em 1994, o go- comércio, da privatização e responsa- nova dimensão política e multilateral
verno brasileiro implementou o Plano bilidade fiscal. Também intensificou a com a criação da Comunidade de Pa-
Real, visando a aumentar a credibilida- participação brasileira nos foros sobre íses de Língua Portuguesa (CPLP) em
de econômica e política, a controlar as a nova ordem internacional do Pós- 1996. Como característica dos diversos
altas taxas de inflação e a melhorar os Guerra Fria. Nos debates da Terceira governos da redemocratização, a aspi-
indicadores, bem como a imagem ex- Via, FHC enfatizou a crença na coope- ração de fazer do Brasil um ator glo-
terna do país. ração e nos mecanismos multilaterais bal foi constante na PEB. Para atingir
essa meta, o Brasil democrático vem
tentando equilibrar, com ênfases dis-
IMPORTAÇÕES E EXPORTAÇÕES tintas em cada governo, a busca de cre-
Evolução do comércio internacional brasileiro por origem e destino, entre 1980 e 2006 (em bilhões de dibilidade internacional e a construção
dólares)
de autonomia (mantendo flexibilida-
Importações 22,7 Exportações
31,6
de, maior liberdade e diversificação de
20,9 parceiros) no campo da PEB.
TOP 10 - INVESTIMENTOS
ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL
Europa
3,5 31,0 em milhões de dólares, em 1980 e 1990
América do Sul EUA
16,0 Alemanha
3,5 Suíça
Libéria
24,8
Ásia Japão
Kuaite
1,6 14,4 20,8 Itália
França
Europa Panamá Ano: 1980
Antilhas H.
4,1 Estados 8,2 5,4 50 250 500
Unidos Estados 7,4 Canadá
Alemanha
Unidos EUA
América Japão
2,7 do Sul 3,5 França
Reino Unido
Labmundo, 2014
Ásia Luxemburgo
Liechtenstein
Cayman Ano: 1990
2,0 5,8 Ilhas Virgens
50 250 500
1,1
África 1,1 Fonte: Banco Central do Brasil, 2013
África
7,8
Oriente
Médio VEJA TAMBÉM:
Oriente 3,1 Ameaças globais e transnacionais p. 48
1,0
Médio
Labmundo,2014
1997
2001
Crise Financeira asiática
Aprovado protocolo de Quioto Atentados terroristas aos EUA
Início da Rodada Doha da OMC
I Fórum Social Mundial, em Porto Alegre
1998
Implementação do Tribunal
Penal Internacional 2002
Adesão ao Tratado de Inicia a circulação do Euro
Não Proliferação Nuclear Formação da Organização do Tratado
de Cooperação Amazônica
1999
Formação do G20 financeiro Brasil assina Protocolo de Quioto
1997
2004
1999 2002
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 23
Diversidade significativo, em especial em compara-
ção com outros países da América do
cultural e
Sul e da Europa, a história da migração
para o Brasil é fundamental para com-
preender seu atual panorama social e
as dinâmicas internacionais em que o
pluralismo étnico
país está inserido.
TRÁFICO NEGREIRO
Rotas usadas pelos traficantes, séc. XV-XIX
do Golfo da
Cultura do café
Guiné
Belém
bia
Cultura do açúcar gâm
São Luís ene
Fortaleza Natal da S
Recife
Principais zonas
de revoltas co
cis
Salvador
Salvador
n
iné
do Golfo da Gu
Fra
.
R. S
Povoamento de escravos
africanos (até 1850)
de
Be
Porto
ng
Belo Seguro
ue
Horizonte
la
de
Rotas do comércio negreiro Ca
Vitória bin
da
séc. XV ao XVII São Paulo
Rio de
Janeiro de
Lu and
ao séc. XVIII a
de
de
Lu
ao séc. XIX an
Za
da-
nz
r uel
a
Labmundo, 2014
500 km
2011
subsídios ao algodão
Criação da Cúpula América do Sul-Países Árabes
pelos EUA
Criação do Parlasul
Início do escândalo do mensalão
Luiz Inácio Lula da Silva Luiz Inácio Lula da Silva
2007
24 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
FORMAÇÃO DO BRASIL
africanos explica parte das diferenças unidade cultural (oriundos no geral da MIGRANTES PARA O BRASIL
Europeus e asiáticos vindos entre 1819 e 1939
culturais presentes no país ainda hoje. região de Angola) e guardavam maior
Nacionalidade 1819-1883 1884-1940
Em sua maioria, os grupos que vi- diferença em relação aos grupos chega-
nham ao Rio e ao Recife tinham maior dos a Salvador. Essas distinções resul-
taram em particularidades na herança Italianos
religiosa e linguística que marcam o Portugueses
ESCRAVOS PARA O BRASIL Brasil atual. Espanhóis
Quantidade de escravos por destino,
entre 1500 e 1850 Japoneses
Esse processo histórico tem efeitos na
Alemanha
diplomacia brasileira contemporânea.
Russos
Total mundial O governo Lula declarou que a socie-
dade brasileira tem uma dívida his- Áustriacos
tórica com a África, o que justificaria Turcos
medidas como o perdão de dívidas, o Poloneses
apoio a projetos de cooperação para o Franceses
desenvolvimento e o estabelecimen- Ingleses
to de uma universidade no Brasil para Iugoslavos
contribuir com a formação de jovens Sírios
africanos, a Universidade da Integra-
Suíços
ção Internacional da Lusofonia Afro-
-Brasileira (Unilab). O fim do tráfico Quantidade de indivíduos
1.000.000
negreiro e a paulatina supressão da es-
Brasil
cravidão alteraram o perfil da mão de
Labmundo, 2014
obra no Brasil. Do final do século XIX 100.000
50.000
ao início do século XX, migraram cen- 10.000
tenas de asiáticos e europeus, muitos Fonte: Alvim, 1998.
em busca de trabalho em plantações
de café. Estima-se em 4,3 milhões o
número de europeus emigrados para o transatlântica entre culturas. Descen-
Brasil entre os anos de 1815 e 1930. dentes e migrantes podem desenvolver
Sudeste laços com seus países de origem, parti-
(Rio e São Paulo)
A assimilação de grupos tão diversos, cipar de ações coletivas locais e manter
não sem conflitos, contribuiu para a vínculos com suas famílias e comuni-
formação cultural do Brasil e da iden- dades (via remessas, entre outros).
tidade nacional. A configuração atual
1550 1650 1750 1850 da sociedade resultante desses fluxos Após essa breve introdução histórica,
100.00 influencia o processo de internacio- nos capítulos seguintes serão trabalha-
nalização do país. O Brasil é a maior dos temas contemporâneos da inser-
colônia de descendentes de japoneses ção internacional do país, seus atores e
75.000 fora do Japão, uma das maiores de li- agendas mais relevantes.
Mortos
na travessia
baneses fora do Líbano e de impor-
Embarcados
Atores religiosos p. 74
apresenta-se o país como a maior na- Redes sociais e integração regional p. 96
ção negra fora da África e uma ponte
Fonte: Eltis et al., 1998.
2012
Conferência da ONU Rio +20
Criação da Aliança do Pacifico 2015
Balanço dos ODM na ONU
2013
Escândalo NSA
Agravamento da crise síria
Jornada Mundial da Juventude
Senador boliviano asilado na embaixada
brasileira em La Paz foge para o Brasil
2016
2014 Jogos Olímpicos
Copa do Mundo FIFA no Rio de Janeiro
Criação do Banco dos BRICS
2011
2019
2015
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 25
Capítulo 2:
BRASIL,
POTÊNCIA
EMERGENTE?
celeiro do mundo?
tingente de terras aráveis ainda não
exploradas. Esses dois dados, associa-
dos a políticas governamentais de in-
centivo ao setor (apoio à pesquisa,
abertura de novos mercados, etc.), dei-
xam vislumbrar grande potencial para
o agronegócio no Brasil.
Tabaco**
Cana-de-açúcar
Safra 2014/15*
Safra 2020/21*
Etanol**
Safra 2010/11
49%
47%
44%
Aves
33%
31%
32%
30%
30%
28%
Milho
Carne
11%
12%
11%
12%
10%
10%
*projeção suína
Labmundo, 2014
Labmundo, 2014
Na exportação *dados preliminares
Carne Soja Grão Carne Bovina Carne Suína Milho
de Frango Na produção **posição em 2009
Fonte: MAPA, 2011. Fonte: MAPA, 2010.
MERCADOS DO AGRONEGÓCIO
Destino das exportações do agronegócio brasileiro, em 2011
UE Rússia
Japão
Coreia do Sul EUA
China Irã
Argélia
Taiwan Egito EAU
Hong Kong
Arábia
Saudita
Tailândia Venezuela
Malásia
Indonésia
Total das
totais acima de 1 bilhão de dólares. exportações 98,9 256,0
Valores para a União Europeia brasileiras
Argentina
apresentados consolidados. Participação do
20 10 5 1 agronegócio
Fonte: Instituto de Economia Agrícola, 2012 1000 km
28 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?
Labmundo, 2014
população apresentaria tendência mais
estável quando comparado ao mode-
lo chinês de desenvolvimento econô- Fonte: IBGE, 2010a.
mico. O país deve expandir a demanda
por produtos em cuja produção o Bra-
sil tem avançado, como é o caso do mi- Recentemente, o governo brasileiro todas as terras cultiváveis. No caso do
lho, da soja e das carnes bovina, suína adicionou o novo desafio de expor- Brasil, levando em consideração os de-
e de frango. tar o modelo agropecuário brasileiro safios mencionados, o país poderá rea-
para outros países, com destaque para lizar o epíteto criado na Era Vargas de
O setor é estratégico para o país, muito Moçambique, nos projetos conheci- “celeiro do mundo” e contribuir para
embora ainda deva confirmar sua ca- dos como Pró-Savana e Pró-Alimentos. abastecer de alimentos uma popula-
pacidade de expansão com baixos im- Além disso, o setor possui investimen- ção mundial estimada em 9 bilhões em
pactos sociais e ambientais, bem como, tos em vários países vizinhos com pa- 2050, com maior renda e com padrões
ao mesmo tempo, ser capaz de enfren- pel relevante na produção de grãos e de consumo mais elevados que os atu-
tar a resistência à abertura de novos gado, em especial no Paraguai e na Bo- ais. Segundo previsões da FAO publi-
mercados, em especial da União Euro- lívia. Também nesses países, o setor é cadas em 2014, até meados do século
peia e dos EUA. acusado de criação de latifúndios e de XXI, a produção de grãos precisará au-
grilagem de terras. A presença do mo- mentar pela metade, e a de carne, do-
delo agroexportador brasileiro em pa- brar. Tais metas são ambiciosas em um
COMPLEXO SOJA íses em cooperação com o Brasil com mundo com limitações para expandir
Dados entre 1983 e 2012
estímulo do governo federal tem fei- suas terras aráveis, resolver o proble-
to com que várias entidades da socie- ma de abastecimento de água, enfren-
Produção (mil toneladas) dade civil apontem a exportação das tar a crise ecológica e garantir o direito
x4,6 contradições e falhas do modelo bra- à alimentação. Nesse cenário, o Brasil
66.383
sileiro para países com quadro ainda apresenta potencial importante para
14.533 mais grave de concentração de terra e responder aos desafios colocados à co-
importância da agricultura familiar. munidade internacional, podendo re-
forçar sua importância no mercado
Área plantada (mil ha) x3
Apesar de não existir uma real inte- internacional de alimentos.
8.412
25.042 gração entre as cadeias produtivas do
agronegócio da região, a América Lati-
na já é considerada a maior exportado- VEJA TAMBÉM:
Produtividade (kg/ha)
x1,5 ra (em termos líquidos) de alimentos Logística p. 32
1.728
do mundo. Segundo relatório do BID
Labmundo, 2014
2.651
Multinacionais brasileiras p. 70
de 2014, a região fornece cerca de 11% Organizações e movimentos sociais p. 72
1983/84 1999/00 2011/12 do valor da produção mundial de ali- Energia e infraestrutura p. 92
Fonte: CONAB, 2014. mentos, mas possui cerca de 24% de
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 29
Parque industriais no total do comércio exte-
rior, mas poderia ser classificado como
industrial
desindustrialização? Não existe con-
senso sobre o tema na academia, mas
caso o conceito de desindustrialização
seja entendido como perda de partici-
pação da indústria na economia de um
país, os anos 1970 do “Milagre Brasi-
leiro” também apresentaram essa ca-
racterística, segundo dados do Banco
Mundial. Por outro lado, nas décadas
de 1980 e de 1990, que foram palco de
diversas crises e de retração na econo-
O desenvolvimento por meio da in- que seriam importantes para facilitar o mia nacional, a produção industrial
dustrialização sempre foi um dos crescimento de suas vendas internacio- aumentou sua participação no total do
maiores objetivos dos governantes bra- nais. Todavia, há políticos e membros PIB.
sileiros desde os anos 1930. O governo da academia que argumentam que
brasileiro promoveu uma série de po- o setor industrial, apesar de publica-
PARTICIPAÇÃO DA INDÚSTRIA
líticas desenvolvimentistas, investin- mente demandar medidas de orienta-
NAS ECONOMIAS NACIONAIS
do em infraestrutura e em tecnologia. ção liberal para o governo, também se Ao longo da década, entre 1970 e 2010 (em %)
Também ofereceu incentivos fiscais a beneficiaria de certa proteção do Esta- -10 0 10
indústrias que se instalassem em terri- do (via política cambial, tarifária, con- Sem dados
disponíveis
tório nacional e garantiu tarifas alfan- cessão de linhas de crédito especiais ou de 1970 a 1979 Perda Ganho
INDUSTRIALIZAÇÃO NO MUNDO
Evolução do valor bruto agregado, entre 2001 e 2011 (em trilhões de dólares, preços correntes)
Labmundo, 2014
Brasil ( ) em relação os países ricos e China Brasil ( ) em relação aos países emergentes
3 China
0,5
EUA Índia
Rússia
2,5
0,4 1000 km
0,2 Turquia
1 Alemanha
Argentina
R. Unido
Áf. do Sul
Labmundo, 2014
França 0
2001 2006 2011 2001 2006 2011 1000 km
Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2013 Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2013
30 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?
CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL
Distribuição da indústria por tipo e por unidade federativa, em 2013
Be De
Au Q ns Be Tê m
to Co Eq fa uím nã xt ai
Al m u rm ic bi il e In si
im m M ip o da fo M nd
ob bu et am ac a e m s ca Ce r ov O mapa representa a quantidade total de indústrias
en ilís st al en êu et e lça lul m el ús
tíc tic íve ur tic ál fu do os át ei tri
ia gi to ico m ic ra as por unidade federativa, em bilhões de reais.
a is a s a s o s e a
DF
R. Centro-oeste
MS
MT
GO
PA
R. Norte
AM
Outros
SE
600km
R. Nordeste
PE
BA
Outros
R$ 50 bilhões
R$ 25 bilhões
SC R$10 bilhões
R$ 1 bilhão
R. Sul
PR
RS
RJ R$ 25 bilhões
R$10 bilhões
MG R$ 1 bilhão
Labmundo, 2014
SP
Apesar do receio econômico e político exemplo, a produção de aviões pela Como a maior parte dos investimen-
de uma possível desindustrialização, a Embraer. Grande parte das indústrias tos tem participação estatal, defendem
perda de participação da indústria no brasileiras são montadoras, importan- que os recursos (que são escassos) de-
total do PIB é uma tendência verifi- do as peças de maior tecnologia ao in- veriam ser concentrados em nichos
cada em diversos países das Américas, vés de desenvolver essa tecnologia em industriais mais competitivos, prete-
da África e da Europa. A exceção a essa território nacional. Por esse motivo, rindo algumas áreas menos eficientes.
tendência, além da China, são alguns embora não seja consenso, há uma
países africanos e asiáticos, que inicia- crescente demanda por parte dos eco- A produção industrial brasileira é con-
ram o seu processo de industrialização nomistas de planos que promovam a centrada em regiões mais dinâmi-
recentemente. Em termos absolutos, especialização do parque industrial e, cas do território nacional, agravando
fica evidente que o Brasil continua au- em alguns casos, de exigência de com- as disparidades econômicas espaciais.
mentando sua capacidade industrial. ponente nacional na cadeia produtiva. Apesar de alguns esforços do governo
O valor agregado da sua indústria é su- federal e de alguns estados, a indústria
perior à maioria dos países emergentes se concentra nas regiões Sul e Sudes-
e também comparável a países euro- PERDA DE PARTICIPAÇÃO INDUSTRIAL te, devido à proximidade do mercado
peus. Alguns setores se destacam nessa Evolução da participação da indústria no PIB, consumidor de maior poder aquisitivo
entre 1975 e 2010
produção, como a indústria de máqui- (inclusive do Mercosul) e à existência
nas e equipamentos elétricos, a farma- de infraestrutura de melhor qualidade.
cêutica e a automobilística. 20%
Multinacionais brasileiras p. 70
produção de ponta. Apenas 10% do 10% Energia e infraestrutura p. 92
valor agregado industrial é relativo a 1980 1990 2000
Fontes: IBGE, 2013a; Sítio web do Ipeadata, 2013;
2010
Relações Norte-Sul p. 100
componentes de alta tecnologia - por Bonelli et al., 2013.
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 31
Logística e TRANSPORTES NO BRASIL
Rodovias, em 2013
desafios ao
desenvolvimento Rodovias
Rodovias
privatizadas
300 km
Um país que busca projeção interna- aos interesses estrangeiros, a organiza-
cional deve ter capacidades materiais e ção espacial do território que veio a ser Fontes: Ministério dos Transportes, 2014; ANTT, 2012
saber usá-las racionalmente. Por exem- do Brasil era muito semelhante a um
plo, a produção de minérios ou de bens arquipélago econômico: as regiões do Ferrovias, em 2013
manufaturados é um indicador impor- território pouco se comunicavam en-
tante para a economia de um Estado, tre si, pois a relação política e econômi-
mas a capacidade de escoar essa produ- ca mais importante era com a Europa.
ção (para a exportação ou para o mer- Com isso, os nichos dinâmicos da eco-
cado interno) repercute diretamente nomia se ligavam ao litoral, para escoar
na competitividade e na qualidade dos a produção, mas permaneciam desarti-
serviços. Uma infraestrutura de trans- culados. Essa lógica de inserção na eco-
portes, de telecomunicações (telefonia nomia mundial não foi subitamente
e internet) e de energia, por exemplo, alterada, mesmo com a independência,
pode trazer maior facilidade de gerir a o que contribuiu para a perpetuação
burocracia estatal, criar condições para das heranças dessa organização física
novos empreendimentos econômicos, de estradas e de portos que favorecia
promover a integração regional e ga- quase exclusivamente a exportação de 300 km
rantir o controle de todas as regiões do bens primários. Fonte: Ministério dos Transportes, 2014
volvimento das potências europeias. peso da ferrovia foi causada por uma 1,4
midor para os seus produtos. Cabia interiorização dirigida pelo Estado Fonte: Sítio web da Infraero, 2012
às colônias, por sua vez, exportar seus teve seu começo com Getúlio Vargas,
produtos primários. Como resultado na década de 1930, mas teve seu ápi- Portos, em 2013 (valor da carga transportada,
dessa economia colonial subordinada ce na década de 1950, com o Plano de em bilhões de dólares)
Metas no governo de Juscelino Kubits-
chek. Havia o entendimento de que
TRANSPORTE DE CARGAS NO BRASIL era necessário aumentar massivamente
Distribuição por meio de transporte, em 2013
60% a rede de transporte em um curto perí-
odo de tempo. Em comparação com a
50%
ferrovia, o modelo rodoviário poderia
40% cumprir o objetivo de ligar as regiões
30%
brasileiras entre si em pouco tempo,
propiciando uma industrialização rá- 63,8
23,9
20%
pida, para atingir os níveis industriais 3,8
10% dos países europeus. Nesse sentido, a
Portos que
Labmundo, 2014
transportam
bém passou por um cálculo que bus- menos de 1 bi.
io
r io
io
o
io
re
ár
ár
ár
á
Aé
vi
vi
av
do
300 km
ro
to
u
r
Du
Aq
Ro
Fe
Fonte: CNT, 2013. tarifas alfandegárias protecionistas, a Fonte: Sítio web AliceWeb do MDIC, 2013
32 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?
Reino
420 Unido
1028 França
137 Egito
0 25 50 75 100
367 Turquia
Labmundo, 2014
199 Irã Sem dados
disponíveis
1000 km
Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2014
826 Austrália
372 México
Labmundo, 2014
10 VEJA TAMBÉM:
Privatizadas Privatizadas
14.786 km 28.692 km Multinacionais brasileiras p. 70
Labmundo, 2014
Labmundo, 2014
Projetos de integração p. 82
as
as
as
s
to
rto
i
vi
vi
ov
r
do
ro
Po
po
Energia e infraestrutura p. 92
dr
r
Ro
Fe
ro
Hi
Total Total
Ae
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 33
Matriz energética CONSUMO TOTAL DE ENERGIA
Por setor, em 2012
Indústria
e meio ambiente
Transporte
Residencial
Alimentos
Setor energético
Papel e celulose
Agropecuário
Comercial
Cerâmica
Área pública
Têxtil
Labmundo, 2014
Outros
10% 20% 30%
60
40
Labmundo, 2014
20
Brasil Turquia Índia China México França Rússia EUA Alemanha Reino Unido África do Sul
Hidroeletricidade Combustíveis fósseis Nuclear Outras fontes (solar, geotérmica, eólica, etc.)
Fonte: CIA, 2013
34 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?
Países
Coreia Reino Unido Baixos
do Sul 173 478
528
Japão EUA
436 888
Jamaica
Índia 327 Trinidad e
174 Tobago
157 Nigéria
138
Produção de
cana-de-açúcar
em 2012 (milhões
Exportação de etanol de toneladas)
Labmundo, 2014
pelo Brasil
entre 2010 e 2012 0,3 2 10 100
(milhões de dólares) Sem dados 1000 km
disponíveis
Fontes: FAO, 2012; SECEX, 2011
e ambiental, mas gera muito menos a comercialização e o uso dos bio- PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR
Quantidade e variação da safra por estados
emissões de gases nocivos à atmosfera. combustíveis envolvem uma série de
É importante lembrar que todas as for- debates sobre a real sustentabilidade
mas de energia causam algum impacto associada a seu uso. Porém, o gover-
(ambiental, social) negativo. O funda- no brasileiro afirma oficialmente que
mental estaria na busca de equilíbrios a produção, principalmente de cana,
entre os ganhos e as perdas geradas. não causaria desmatamento na Ama-
zônia, apesar de pesquisadores mais
De acordo com a AIE, o Brasil ganha críticos afirmarem que a produção de
destaque na produção de biocombus- biocombustíveis poderia levar os pro- Aumento
tíveis. Juntamente com os EUA, será dutores a plantar alimentos no interior da produção
responsável por mais da metade da do Brasil ou na Amazônia, deixando as entre 1998 e 2012
- 63 %
oferta de biocombustíveis até 2040. A terras destinadas à produção de com- 300 km
Labmundo, 2014
Sem dados 10.000
terraba, da mandioca, da batata, entre veis e na hidroeletricidade pode ga- disponíveis
outras fontes. Já o biodiesel pode ser rantir ao Brasil autossuficiência em *A produção no período
em Santa Catarina é igual
definido como um combustível reno- consumo. Porém, com a descoberta Fonte: UNICA, 2013 a zero
VEJA TAMBÉM:
3.206 Multinacionais brasileiras p. 70
1.539 Projetos de integração p. 82
Labmundo, 2014
vital e estratégico
mostrando que também nesse cam-
po as relações de poder se associam às
de distribuição desigual dos recursos.
Muitos países têm forte dependência
de água externa, importando mais da
metade do consumo interno (é o caso
da Bolívia, do Paraguai e do Uruguai
na América Latina). Nesse cenário, o
Brasil é uma potência hídrica, pelas
grandes reservas de água subterrânea
DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA NO MUNDO que possui (quase 13% de toda a água
Disponibilidade per capita de água potável, em milhares de metros cúbicos, em 2013 doce do planeta), pelas chuvas abun-
dantes em grande parte do território e
por ser um dos principais exportado-
res mundiais (o quarto, atrás de EUA,
China e Índia) do que se conhece
como “água virtual” ou pegada hídrica,
ao exportar produtos que demandam
533
70
muita água para sua produção, como
50 carne (produzir um quilo requer 15,5
30 mil litros), arroz (3 mil litros por quilo)
10 ou café (140 litros por xícara). Segun-
Labmundo, 2014
0
Sem dados do a Unesco, o Brasil exportaria indi-
1000 km
disponíveis retamente cerca de 112 trilhões de litros
de água doce por ano por meio de suas
Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2013.
commodities. Em contexto de grande
escassez global, os recursos hídricos co-
locam o Brasil em lugar de destaque,
O estabelecimento da Década Inter- melhor gestão, uma exploração mais mas também exigem do Estado políti-
nacional da Água (2005-2015) pelas sustentável e um acesso mais igualitá- cas públicas responsáveis, interna e ex-
Nações Unidas revela a importância rio aos recursos hídricos. ternamente. Ao mesmo tempo em que
política e estratégica desse recurso. A o uso da água é fundamental na produ-
água é vital para a sobrevivência dos Dadas as características transnacionais ção de commodities (e para as exporta-
organismos vivos, para garantir níveis de grande parte das bacias – 19 paí- ções), é inegável sua relevância para a
de vida dígnos, para a economia e para ses dependem da bacia fluvial do Da- soberania alimentar e a sustentabilida-
o funcionamento dos ecossistemas. núbio, 13 do Congo, 11 do Nilo e 9 do de ambiental.
São muitos os campos direta ou indi- Amazonas, entre eles o Brasil –, trata-
retamente vinculados à água (saúde, se de um campo que gera importantes O consumo excessivo e descontrola-
saneamento, meio ambiente, diversi- conflitos, mas também interessantes do de água, acima da capacidade de re-
dade biológica, prevenção de desastres potencialidades e experiências de co- posição, prejudica muitas das grandes
ecológicos, agricultura e alimentação, operação. O Brasil, pelas suas caracte- bacias internacionais em todos os con-
contaminação, energia), sendo neces- rísticas e capacidades diplomáticas de tinentes, com grande impacto no nor-
sária uma ação coordenada para uma negociação em organismos multilate- te da África e no Oriente Médio. Nos
rais, poderia desempenhar um papel Estados Unidos e na Europa, princi-
muito relevante nessa agenda. pais consumidores mundiais de água
HIDROGRAFIA E FRONTEIRAS
Principais bacias hidrográficas brasileiras, em 2014
PRINCIPAIS BACIAS HIDROGRÁFICAS TRANSFRONTEIRIÇAS
Distribuição no mundo, em 2014
Atlântico
(Norte)
Atlântico
Amazônia (Nordeste)
Tocantins
São
Francisco
Atlântico
(Leste)
Paraná
Bacia internacional
com tratado
Uruguai Outras bacias
Atlântico
Labmundo, 2014
Labmundo, 2014
1000 km
Fontes: ANA, 2010; Sítio web da ISARM, 2014. Fonte: Oregon State University, 2014
36 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?
50
40
30
20
1000 km
10
Quantidade em
Labmundo, 2014
milhões de litros:
no
l
ia
ria
l
ra
ár
ba
Ru
st
cu
In
Japão: 20,9
ro
Labmundo, 2014
Sem dados
disponíveis poluição de uma quantidade de água. Se um país apresenta Valores mínimos:
déficit, significa que ele compra mais do que exporta produtos China: -53,6
que poluam a água. Caso o país apresente superávit, ele
em setores não agrícolas, a urbaniza- vende mais água poluída.
Rússia: -26,7
Índia: -16,5
ção e a industrialização crescentes têm Fonte: Water Footprint Network, 2014
forte impacto negativo. Isso sem con-
tar as consequências das mudanças
climáticas e da poluição, que causam A água representa uma dimensão es- saneamento básico provocam 2 mi-
importante declínio da quantidade sencial da segurança humana. No en- lhões de mortes por ano, mais do que
de água em regiões áridas e semiári- tanto, apesar de importantes avanços, os conflitos armados, além de produzir
das (Nordeste brasileiro), impactando um bilhão de pessoas ainda não têm fome e desnutrição, colocando em ris-
as colheitas, a alimentação e a pobre- acesso a abastecimento de água sufi- co a segurança alimentar. Isso sem es-
za. Vários estudos e encontros interna- ciente. Vivemos com o uso ineficien- quecer as inundações, que causam 15%
cionais têm denunciado o aumento de te, a poluição da água ou abuso das das mortes por desastres naturais. A
pessoas que vivem e dependem de ba- reservas subterrâneas. As doenças as- água limpa é vital para a sobrevivência
cias exploradas abusivamente. sociadas à falta de água potável e humana e do planeta, e sua proteção
faz parte dos Objetivos de Desenvol-
vimento Sustentável da Conferência
ACESSO À ÁGUA POTÁVEL E CONDIÇÕES SANITÁRIAS Rio+20.
Pessoas com abastecimento inadequado de água e de esgoto, entre 1991 e 2010 (em %)
1991 2000 2010 O mundo tem água suficiente para ga-
rantir segurança hídrica para todas as
sociedades. O desafio principal é a dis-
tribuição, que exige uma responsabi-
lidade coletiva e atuação articulada
entre os diversos atores estatais, priva-
dos e associativos para garantir o acesso
15 de forma sustentável a esse recurso. A
Labmundo, 2014
VEJA TAMBÉM:
600 km 600 km 600 km
0 0 0 Minério e indústria extrativa p. 38
Labmundo, 2014
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 37
Minério e indústria De volta à formação geológica do ter-
ritório brasileiro, além dos escudos,
extrativa
também são encontradas bacias sedi-
mentares, continentais ou marítimas.
Com grande esforço e investimen-
to público a partir da década de 1930,
o Brasil passou a ser um importan-
te produtor de hidrocarbonetos. Ape-
sar disso, grande parte do gás natural
consumido no país é importado, prin-
cipalmente da Bolívia. As principais
Recursos minerais são fatores mate- como o nióbio. A produção brasileira INDÚSTRIA EXTRATIVA
riais clássicos da potência estatal. Tam- de nióbio se concentra em duas jazi- Produção das principais unidades federativas,
em 2013
bém são estratégicos para as economias das (uma em Minas Gerais e outra em M H M
ca idro m ine
m ine rb - et ra
nacionais no mundo todo. Os paí- Goiás), que representam aproximada- et ra
ál is
ico
on
et
ál is
ico n Ca
r
s ão vã
ses com minérios importantes têm mente 75% da produção mundial desse s os o
R. Sul
A autossuficiência em energia e maté- reservas mundiais. O nióbio é muito SC
R. Centro-oeste
do-o mais livre para agir internacio- que contêm nióbio geralmente são uti- MS
nalmente. No caso de países que sejam lizadas na construção civil, em veículos
grandes exportadores de produtos es- automotores, em aeronaves, em veícu- GO
R. Nordeste
desses materiais pode, em última me- e do quase monopólio brasileiro, o SE
dida, influenciar a capacidade e o cus- preço internacional dele é considerado
RN
to do projeto de desenvolvimento de baixo. Esse fato gera a revolta de mui-
outros Estados, que se tornam sensí- tos especialistas, mas também há os BA
veis às decisões políticas do exporta- que afirmam que o aumento do preço
dor. Como demonstrou a Organização internacional somente iria incentivar a
R. Norte
AP
dos Países Exportadores de Petróleo produção de metais concorrentes, pois
PA
(OPEP), na década de 1970, a concen- o nióbio pode ser substituído por ou-
tração de um produto essencial para o tros metais. SP
desenvolvimento nas mãos de poucos
países pode se tornar um meio de obter
R. Sudeste
ES
conquistas políticas. EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
Em bilhões de dólares por ano, entre RJ
2007 e 2012
O Brasil está em uma situação con-
MG
fortável em relação às reservas mine- %
rais. Devido à sua posição na Pangeia e + 33
5,2
R$ 50 bilhões * Somente os valores
às intensas mudanças morfológicas ao Minério R$ 25 bilhões acima de 30 milhões de
reais são representados.
longo das eras geológicas, a estrutura de Ferro
+ 191
,1 R$10 bilhões
30 000,0 %
Labmundo,2014
nês, cassiterita, bauxita e outros metais, Fonte: Sítio web AliceWeb do MDIC, 2013 2012 Fonte: IBGE, 2013b.
38 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?
Labmundo, 2014
a extração dos poços situados na região
do pré-sal. Apesar de ser considerado 1000 km 1000 km
de difícil prospecção (pois se situa em Fonte: Sítio web AliceWeb do MDIC, 2013 14,9 5,5 2,9 0,8
Labmundo, 2014
Flúor
Urânio Calcário
A exploração econômica dos recursos Zinco
Fósforo
Sal
minerais também apresenta riscos eco- 600 km 600 km 600 km
lógicos e potenciais efeitos de degrada- Fontes: IBGE, 2013b; IBP, 2013; Ross, 1996; e DNPM, 2003
ção ambiental. A Serra do Navio, no
Amapá, é um exemplo notável de ma-
lefícios que a atividade extrativa pode
causar. O local, que era conhecido PRINCIPAIS PRODUTORES E DETENTORES DE RESERVAS DE PETRÓLEO
Produção, em 2013 (em milhões de barris/dia) Reservas, em 2013 (em bilhões de toneladas)
pela produção de manganês, foi aban- 10 8 6 4 2
Arábia
10 20 30 40
donado, pois a empresa que explora- 1° Saudita 2°
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 39
Riqueza genética genética, mas também de proteção das
espécies nativas (e do conhecimento
e biodiversidade
coletivo a respeito de seu uso).
15
Espécies de plantas vasculares
Brasil 56.215
Colômbia 51.220
China 32.220 5
Labmundo, 2014
Labmundo, 2014
Indonésia 29.375
México 26.071
1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012
40 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?
Labmundo, 2014
eucaliptos
biológica. caju
1000 km carnaúba
Tucano-toco
Megadiversos Afins, que se organizou Índia 68
Jibóia
como mecanismo de consulta e coo- Outros 1.347
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 41
População 44 milhões de habitantes), seguido de
Minas Gerais (20 milhões) e Rio de
e diversidade
Janeiro (16 milhões). No outro extre-
mo, o Norte tem uma densidade de
4,12 hab/km2, sendo Roraima o estado
menos povoado, com apenas 500.000
habitantes. Também cresce a concen-
tração urbana, cuja população repre-
senta 84,9% do total. Essa urbanização
relaciona-se, entre outros, com o sur-
gimento de megacidades como São
Paulo (com mais de 23 milhões de ha-
bitantes, é a 7ª cidade mais populosa
Com uma população que supera os distribuição geográfica dessa popula- do mundo) ou Rio de Janeiro (com
200 milhões de habitantes, segundo o ção é bastante desigual. Há uma forte 13,6 milhões).
IBGE, o Brasil é o 5º país mais popu- concentração no sudeste, onde a den-
loso do mundo. Com uma densidade sidade atinge 87 hab/km2: São Paulo Em relação à composição dessa popu-
relativamente baixa (22,4 hab/km2), a é o Estado mais populoso (com quase lação, a melhoria da expectativa média
de vida (de 69,8 anos em 2000 para
74,8 em 2013) e a queda da taxa de fe-
DEMOGRAFIA BRASILEIRA cundidade (de 2,4 filhos por mulher
Densidade demográfica, em 2010 População urbana, em 2010 (em milhões de pessoas)
40 Nova Délhi
444
(Índia)
100 14 32,94 mi
50 8
10 2 Xangai (China)
28,40 mi
0 0 11,27 mi
Mumbai (Índia)
300 km 300 km 26,56 mi
1,37 mi
Cidade do
México (México)
População rural, em 2010 (em milhões de pessoas) População rural, em 2010 (em %) 24,58 mi
5 15 25 35 4,3 mi
MA
PI
PA 2,86 mi Nova York (EUA)
23,57 mi
BA
AC São Paulo
SE 2,88 mi (Brasil)
RO 23,17 mi
AL 12,34 mi Dacca
CE (Bangladesh)
4 PB 22,91 mi
2 RR
RN Pequim (China)
1
TO 22,63 mi
0,5 AM
0 PE 2,33 mi
MT
ES Karashi
SC Paquistão)
RS 0,34 mi
20,19 mi
300 km MG
PR Calcutá (Índia)
MS 18,71 mi
AP 1,67 mi
GO
SP Manila (Filipinas)
DF 16,28 mi
1,06 mi
População por gênero e faixa etária, RJ
em 2010 (em milhões de pessoas) > 80
75 a 79 4,51 mi Los Angeles
70 a 74
65 a 69 (EUA)
15,69 mi
60 a 64
55 a 59 Buenos Aires
50 a 54
45 a 49 1,54 mi (Argentina)
40 a 44 15,52 mi
35 a 39 Rio de Janeiro
30 a 34 4,05 mi
25 a 29 (Brasil)
20 a 24 13,62 mi
15 a 19 5,10 mi
10 a 14
Labmundo, 2014
Labmundo, 2014
5a9
1a4 *Para os dados de 2050,
<1 foram consideradas
8 6 4 2 2 4 6 8 2,95 mi as projeções médias feitas
Homens Mulheres pela ONU
Fonte: IBGE, 2010b. Fonte: ONU, 2013a
42 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?
80,3
A população brasileira ainda sofre com
Quantidade de indivíduos
vários problemas associados às desi-
gualdades sociais (tais como acesso à
Labmundo, 2014
10 milhões
educação, trabalho digno e saúde) e
às várias formas de discriminação, que 1 milhão
aos poucos vão sendo enfrentados. A Fonte: CPS/FGV, 2014.
distribuição das classes sociais está mu-
dando, com uma importante amplia-
ção da classe C, que ganhou, em uma No entanto, essa nova classe C en- um escasso nível de satisfação cidadã
década, quase 30 milhões de pesso- frenta desafios, como o alto nível de com a saúde (só 44% dos brasileiros
as oriundas da classe D. Segundo da- endividamento e problemas no aces- se declararam satisfeitos), a educação
dos da Fundação Getulio Vargas, a so a serviços básicos, mostrando os (53,7%) ou a segurança (40%). Reivin-
classe C representaria 52% da popula- limites de uma concepção da cidada- dicações de ampliação de direitos ocu-
ção, diante de 28% pertencente à clas- nia baseada só no nível de renda e de param as ruas a partir de junho de 2013,
se baixa. consumo. Dados do PNUD mostram com demandas de melhorias no trans-
porte, na habitação (7% da popula-
ção urbana mora em assentamentos
IMIGRANTES NO BRASIL precários, colocando em risco o direi-
Quantidade total de imigrantes vivendo no Brasil, em 2010 (em milhares de pessoas) to à moradia), na saúde (há apenas 1,7
médicos por cada 1000 habitantes, si-
tuação agravada nas áreas rurais) e na
s
se
s educação (apesar dos avanços na ma-
e
Japoneses
mã
melhorar a qualidade).
Po
Co
rea
nos
ó is
nh
pa
VEJA TAMBÉM:
Es
s
no
s l
ia
Bolivianos
Chileno
Paraguaios
Pobreza e desigualdade p. 44
os
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 43
Pobreza e tendo na reconfiguração da paisagem
do desenvolvimento mundial, com
desigualdade
políticas que unem crescimento eco-
nômico e desenvolvimento humano
(que inclui a educação, a saúde, a ren-
da e o emprego).
Alemanha
continua sendo um problema global, *Nem todos os países estão representados; Israel
Canadá
Bélgica Noruega
Estados
especialmente para essas regiões, agra- IDH e Índice de Gini disponíveis para 135 Geórgia Unidos Suécia
Argentina
vado nos últimos tempos pelo impac- países exibidos.
Costa Rica Uruguai Nova Zelândia
to da crise financeira e do aumento do Chile Malásia Espanha
Finlândia
Áustria
Panamá
preço dos alimentos: 850 milhões de Equador Qatar Grécia Eslovénia
Luxemburgo
Estónia Polônia
pessoas ainda sofrem de nutrição insu- Venezuela
República Dominicana
Lituânia Hungria Quirguistão
ficiente, o que demonstra os limites de 0,8 Jamaica
Rússia Letônia Croácia
um mercado dominado pelas diretri- México
China Roménia
Bielorrússia
Bulgária
Colômbia
zes do agronegócio em detrimento da Bolívia Brasil Irã Albânia
Bósnia
Sérvia
Peru
soberania alimentar. Nas outras áreas
Ucrânia
Paraguai Jordânia
contempladas pelos ODM (educação, Honduras
Cazaquistão
Arménia
El Salvador
saúde, igualdade de gênero, etc.), tam- Micronésia
Turquia Azerbaijão
Egito
bém houve melhorias, mas ainda in- Srilanca
Tunísia
Filipinas Síria Moldávia
Tajiquistão
suficientes, mostrando que os avanços Tailândia
Gabão Palestina Indonésia
África do Sul
foram afetados pela crise e se distribu- 0,6 Namíbia Mongólia Vietnã
Iraque
Nicarágua
IDH
referências internacionais, sendo um América do Sul Oceania África População dos Estados, 2007
(em milhões de habitantes)
dos focos centrais da cooperação Sul– América do Norte Europa Ásia
250
Labmundo, 2014
44 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?
Sem dados
5 disponíveis
1000 km 250 km
3
Fonte: PNUD, 2013a. Fonte: PNUD, 2013b.
1000 km 250 km
Evolução da pobreza, em milhares de pessoas
Fonte: PNUD, 2013a. Fonte: PNUD, 2013b.
40
30 O índice varia de 0 a 1
0,23 0,32 0,39 0,46 0,80
Sem dados
20 disponíveis
Labmundo, 2014
10
1000 km 250 km
20 3
04
20 5
20 6
20 7
20 8
20 9
20 0
11
0
0
0
0
0
0
1
20
20
20
dução da pobreza e nos programas de Fonte: PNUD, 2013a. Fonte: PNUD, 2013b
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 45
Segurança golpes de 1930 e 1937 e do golpe que
instaurou a ditadura em 1964. Mes-
e política
mo assim, devido a condições inter-
nas e externas, consolidou-se no Brasil
a imagem de um país pacífico, que uti-
liza sobretudo a diplomacia como es-
de defesa
tratégia de negociação internacional e
resolução dos conflitos. Principalmen-
te após o golpe de 1964, desenvolveu-
se uma concepção segundo a qual as
Forças Armadas responderiam a pro-
blemas internos e não externos. A or-
BRASIL NAS MISSÕES DE PAZ DA ONU dem da Guerra Fria acrescentou a esse
Contingente de brasileiros no total das missões de paz, em julho de 2013 marco interpretativo condicionantes
Haiti externos, relativos à ameaça comunista
MINUSTAH 1408
e à segurança no continente america-
Líbano 260
UNIFIL
UNIFIL
UNFICYP
no. O externo e o interno convergiam
Sudão do Sul 14 MINUSTAH
MINURSO
em um movimento associado, graças
UNMISS
à doutrina da Guerra Fria elaborada
UNISFA
Saara Ocidental 10
MINURSO no meio estratégico dos EUA. A defe-
Costa do Marfim 7 sa como política nacional renasceu no
UNOCI Efetivo total
Brasil de modo mais relevante somen-
Efetivo brasileiro UNMIL
Libéria
UNMIL 4 UNOCI
UNMISS
te no período de redemocratização do
10 585
Abiey* Estado.
UNISFA 4 1000
Labmundo, 2014
Chipre
UNFICYP 1 1
*Cidade disputada na fronteira
do Sudão com Sudão do Sul 1000 km Ao final do século XX e início do XXI,
algumas mudanças ocorreram no cam-
Fontes: ONU, 2013b; Sítio web da ONU – Manutenção da Paz, 2014
po político e institucional da defe-
sa nacional. Com a transição política
na década de 1980 que pôs fim ao re-
A política de defesa diz respeito à pro- potenciais ou manifestas. O diagnós- gime militar e permitiu o desenho da
teção da soberania e à integridade ter- tico sobre as ameaças também consta nova Constituição em 1988, e, sobre-
ritorial, mas também à projeção dos dos mesmos documentos oficiais. tudo, com a criação do Ministério da
interesses nacionais no campo da segu- Defesa em 1999, a função das Forças
rança regional e coletiva. No caso do Defender a soberania no plano inter- Armadas foi alterada: ganharam aten-
Brasil, como indica o quadro apresen- nacional implica, quando necessário, o ção os temas internacionais e regionais
tando os principais documentos ofi- uso de aparato bélico e, para tanto, re- e se intensificou a projeção do Bra-
ciais, a defesa nacional é definida como sulta na aposta atual de investir em tec- sil em missões de paz. Se o Brasil aspi-
o conjunto de medidas e ações do Esta- nologias mais inovadoras e modernizar rasse a postos de coordenação política
do, com ênfase no campo militar, para recursos humanos. No Brasil, há um no plano sistêmico, deveria demons-
a proteção do território, da soberania longo histórico de atuação dos milita- trar compromisso com a estabilidade
e dos interesses nacionais contra ame- res na vida política, a exemplo da pro- regional e internacional. O Brasil pas-
aças preponderantemente externas, clamação da República em 1889, dos sou a mobilizar mais recursos (huma-
nos, financeiros e políticos) no seio das
operações de paz das Nações Unidas.
PRINCIPAIS PAÍSES EXPORTADORES DE ARMAS Desde então, houve constante aumen-
Valores absolutos em bilhões de dólares e valores per capita, em 2012
to orçamentário reservado ao campo
da defesa no Brasil. Isso pode ser ob-
8,760
8
servado, por exemplo, no gráfico de or-
8,003
disponíveis 1000 km
1 nologia militar.
0,5
Suíça
Uzbequistão
Noruega
África do Sul
Polônia
Romênia
Chile
Cingapura
Austrália
Nova Zelândia
Finlândia
Bielorrússia
Turquia
Brasil
Líbia
46 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?
Labmundo, 2014
Estimular a integração da América do Sul e preparar
as Forças Armadas para agirem em missões da ONU
Forças Armadas e uma nova compre- ações humanitárias organizadas e ge- Entraves e dificuldades na política
ensão do sistema internacional, exi- ridas pelas Nações Unidas. As Missões de desenvolvimento industrial mili-
gindo do Brasil uma ação diferente no de Paz da ONU são inclusive defendi- tar nacional e regional, baixa inserção
preparo de suas Forças Armadas. Por das na END do Brasil. Ou seja, uma no mercado militar mundial, sucatea-
exemplo, a PDN apresenta um siste- das funções de nossas Forças Armadas mento da tropa e dos recursos milita-
ma internacional permeado por ‘novas passou a ser participar e liderar essas res (armas, aviões, navios, artilharia e
ameaças’, como o narcotráfico, o terro- ações da ONU como meio de inten- demais itens), baixo interesse do setor
rismo, os crimes cibernéticos a biopi- sificar a participação brasileira no pla- público e congressual (“assunto de De-
rataria e outros. no internacional, contribuindo para o fesa não dá voto”) são somente alguns
aumento da influência do Brasil exter- dos problemas que o Brasil precisa en-
A partir daí, as Forças Armadas assu- namente. A defesa mudou de estatuto frentar se quiser se tornar um ator re-
mem novo papel, voltado ao plano político no século XXI e passou a dia- levante nesse setor. É evidente que há
externo. Cada vez mais também é de- logar mais fortemente com a PEB de sinais de modernização, a exemplo
fendida a utilização de militares em potência emergente. do submarino nuclear (parceria com
a França) e dos caças suecos. Como
construir em termos ideacionais e ma-
BRASIL E ORÇAMENTOS MILITARES teriais um Brasil potência se os temas
Evolução em bilhões de dólares, entre 1988 e 2012
de defesa não ocuparem espaço impor-
Entre os países ricos e China Entre os países emergentes
tante no debate público? Somente soft
700
50 power seria capaz de garantir estabili-
Desmantelamento
da URSS
EUA Redemocratização
e crises monetárias Índia dade política regional, poder de deci-
600 são e dissuasão no plano internacional?
Tudo indica que o discurso oficial em
40
matéria de defesa esteja mudando no
500
Brasil Brasil. O Ministro da Defesa até fins
de 2014, Embaixador Celso Amorim,
400
30 reconheceu que o Brasil precisa ter for-
11 de setembro ça e capacidade dissuasória e que, por-
de 2001 tanto, não seria possível conceber uma
300 realidade de Brasil potência sem consi-
20
derar seriamente a defesa nacional.
Turquia
200
China
10 México
VEJA TAMBÉM:
100 Rússia Ameaças globais p. 48
Labmundo, 2014
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 47
Ameaças globais e Desenvolvimento (1992), a cons-
cientização ecológica aumentou, mas
e transnacionais
também se ampliou o leque de crises
produzidas pela ação humana sobre
a natureza. O aumento do nível dos
mares pode comprometer territorial-
mente alguns Estados. Outros tipos de
ameaças ambientais dizem respeito à
escassez de recursos (água, terra arável,
por exemplo) e ao incremento do nú-
mero de refugiados ambientais.
tuíam a principal ameaça à soberania mas que atravessam as fronteiras na- Brasil
dos Estados e às suas sociedades nacio- cionais e produzem impacto no médio Índia
nais. As metáforas mais citadas sobre e longo prazos. Desde a Conferência Japão
os atores das relações internacionais gi- de Estocolmo sobre Meio Ambiente Fonte: Symantec, 2014.
ravam em torno do soldado e do diplo- Humano (1972) até a Conferência do
mata: um para fazer a guerra e o outro Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente
Top 10 de origem de ataques via Bot*, em 2013
(em % do total mundial)
5 15 25
CIBERSEGURANÇA EUA
Combate a crimes cibernéticos, em 2013
China
Itália
Taiwan
Brasil
Japão
Hungria
Alemanha
Crimes combatidos por Espanha
instituições militares
Canadá
Labmundo, 2014
Labmundo, 2014
48 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?
1 bi
0,5 bi
0,25 bi
40,3
6
11
6
Labmundo, 2014
1
China
0
1000 km
Sem dados
Fonte: Banco Mundial, 2009. disponíveis
Índia
(petróleo, gás, ouro, diamante, ferro, de CO2, as diferentes formas de pira-
etc.), mas também os recursos naturais taria, as invasões virtuais (via internet),
que passaram a ganhar valor agrega- as doenças e os tráficos transnacio-
do graças à própria evolução das fron- nais. O alargamento do sentido e do
teiras da “economia verde” (recursos conceito de segurança é acompanha-
Brasil biogenéticos, florestas, mares). A bio- do pela necessidade de pensar-se tan-
pirataria e a obtenção de certificados to a dimensão objetiva (tamanho dos
de propriedade intelectual (como no exércitos inimigos, número de ogivas
caso do arroz basmati pela Ricetec, do nucleares de que dispõe o inimigo)
África do Sul cupuaçu pela empresa japonesa Asahi quanto a dimensão subjetiva da ame-
Food) são exemplos típicos dessas “no- aça, ou seja, a percepção da ameaça e
vas” ameaças aos interesses e potenciais dos riscos existentes pela sociedade e
ganhos econômicos dos Estados. pelos tomadores de decisão.
México É claro que os agentes das ameaças Outro desafio importante colocado
transnacionais são cada vez mais di- ao Estado brasileiro diz respeito à di-
versificados, muito frequentemente mensão doméstica da segurança: as
ligados ao mercado e ao mundo das ameaças podem ter origem dentro do
EUA
corporações, cujas ações podem gerar próprio território nacional. Nesse caso,
impacto muito negativo sobre o meio podem ocorrer inclusive comporta-
ambiente. No entanto, também po- mentos abusivos de controle do Estado
dem ser grupos e indivíduos vincula- sobre a sociedade, chegando a configu-
Japão
dos a diferentes formas de terrorismo e, rar, em alguns casos, claras violações
por motivações totalmente distintas, a dos direitos humanos. Uma política de
ONG e movimentos sociais libertários segurança, ao almejar o controle total
Itália que militam contra o controle não de- dos riscos e das ameaças, pode incor-
mocrático do Estado sobre a ação dos rer em abusos e violações de direitos. A
indivíduos. O caso de Edward Snow- política de defesa do Estado nacional
França den revela essa dimensão do risco as- deve equacionar as tensões potenciais
sociado aos atos praticados por um resultantes do imperativo de seguran-
indivíduo, mais precisamente um an- ça e do respeito às liberdades individu-
Reino Unido tigo funcionário da CIA. ais e aos direitos humanos. Esse é um
dilema da ação doméstica e externa do
Essa multiplicação de agentes faz com Estado. A resposta institucional à ame-
que o conceito de segurança se torne aça terrorista adotada em alguns países
Alemanha
cada vez mais abrangente: de seguran- ocidentais (por exemplo, no caso da
ça nacional (conceito de triste lem- Lei Patriota nos Estados Unidos) ilus-
brança na América do Sul durante as tra perfeitamente essas tensões e não
ditaduras militares) à segurança regio- deveria servir de modelo de política
Rússia
nal, de segurança coletiva à segurança pública de segurança ao Brasil.
humana. Os debates sobre tais concei-
tos estão longe de produzir consenso,
mas convergem no sentido de que são VEJA TAMBÉM:
os próprios agentes estatais que geram
Labmundo, 2014
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 49
Cultura como a rede de Institutos Culturais e Cen-
tros de Estudos Brasileiros no exte-
soft power
rior, bem como repassar os recursos
necessários às atividades de divulgação
cultural. No âmbito multilateral, am-
bos os ministérios são fundamentais
na atuação brasileira junto à Unesco.
No plano dos estados e dos municí-
pios, algumas secretarias podem ter pa-
pel mais destacado no campo cultural
(como nos casos de São Paulo, Rio de
Janeiro e Bahia).
CINEMA NACIONAL E ESTRANGEIRO NO BRASIL
Público entre 2009 e 2012, Títulos lançados entre 2009 e 2012 Renda (em milhões de reais) São exemplos de iniciativas organi-
em milhões de expectadores zadas pelo Brasil o festival de cinema
lusófono, o concurso Itamaraty de
curta-metragem, as mostras de cine-
419,4 EUA 4 179,1 ma brasileiro (o Itamaraty em coorde-
nação com a Embrafilme), o Ano do
Brasil 660,5
Brasil na França em 2005, os apoios à
72,4
capoeira na América Latina, a promo-
ção da cultura no seio da CPLP, mos-
4,7 França 51,6 tras de artes plásticas, a edição das
revistas Cultura Brasileña e Brasil Cul-
6,9
Reino 72,9 tura (respectivamente, pelas embaixa-
Unido
das em Madri e Buenos Aires), etc. A
política cultural brasileira no exterior
1,1 Argentina 11,8
Labmundo, 2014
é abundante em projetos, muito em-
bora peque por escassez de recursos e
2,4 Espanha 26,8 excessiva fragmentação das iniciativas.
100 200 300 400 500
A diplomacia cultural seria, assim, ins-
Fonte: Ancine, 2013.
trumento da inserção externa do Brasil,
devendo contribuir para consolidar a
identidade nacional, reforçar a aproxi-
A noção de soft power, o poder brando identidades e podem fazer da diploma- mação dos povos em torno de um pa-
dos Estados, pode ser definida como a cia cultural uma ferramenta de comu- trimônio comum e evitar, ao mesmo
capacidade de atrair ou seduzir indiví- nicação e de política externa. No caso tempo, que as programações culturais
duos e grupos para o lado que se este- do Brasil, literatura, música popu- sejam meras ferramentas de trabalho.
ja defendendo sem o uso da coerção. lar brasileira, bossa nova, samba, car- A diplomacia cultural deve constituir
No caso da política externa, trata-se de naval, novelas, esportes (o futebol, em prioridade política e, consequente-
convencer outros países a querer o que particular), capoeira e jiu-jitsu brasi- mente, receber recursos, financeiros e
o seu próprio país está buscando, sem leiro, cinema ou ainda a organização humanos, que sejam condizentes com
a necessidade de ordenar ou coagir por de eventos culturais, entre outros, fa- a sua função.
meios militares ou econômicos. A bar- zem parte do conjunto de vetores e ins-
ganha e a negociação são elementos trumentos culturais que projetam uma É evidente que o uso diplomático da
constitutivos do poder brando, consi- imagem sobre o Brasil no plano inter- cultura parte de visões oficiais sobre
derado a outra face do hard power. Se- nacional. Algumas dessas imagens po- a identidade de uma sociedade nacio-
riam três as suas principais fontes: a dem se converter em clichês. nal. A diplomacia cultural reflete o uso
cultura (que pode ser atraente e exercer específico da relação cultural para fins
fascínio sobre indivíduos e sociedades O Itamaraty e o Ministério da Cultu- de natureza não somente cultural, mas
de outros países), os valores políticos ra são, no âmbito federal, os principais também político, comercial ou econô-
(democracia, direitos humanos, boa promotores da diplomacia cultural mico. Ademais, tende a existir uma re-
vizinhança, justiça social, etc.) e a di- brasileira. O Ministério da Cultura lação muito estreita entre a diplomacia
plomacia (desde que considerada legí- atua por meio de sua Diretoria de Re- e a alta cultura, ainda que de manei-
tima e portadora de alguma forma de lações Internacionais. A Diretoria e o ra implícita e tácita. Nesse processo, o
respeitabilidade e autoridade moral). Departamento Cultural do Itamara- que o Estado brasileiro procura proje-
ty trabalham juntos na divulgação in- tar, em última instância, são seus va-
Dessas três fontes, a cultura talvez seja ternacional da cultura brasileira e da lores, interpretados por aqueles que
a mais descentralizada e com grande língua portuguesa. Além disso, o Ita- concebem e implementam as políticas.
capilaridade nas sociedades. Ademais, maraty negocia acordos, desempenha É claro que a existência de um regime
suas fontes e capacidades de produ- atividades de organização e estabele- democrático e a variável doméstica as-
ção se encontram em vários agen- ce contatos com vistas à realização de sociada à coalizão político-partidária
tes, no mercado, na sociedade e nas eventos culturais. Ainda é da com- no poder influenciam o processo de-
próprias políticas públicas. Os Esta- petência do Departamento Cultural cisório sobre que tipo de cultura e de
dos projetam no plano externo suas do Itamaraty acompanhar e orientar identidade cultural promover no plano
50 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?
DIPLOMACIA CULTURAL BRASILEIRA NO MUNDO É por isso que deve fazer parte da di-
Manifestações culturais com apoio do Itamaraty, em 2013 plomacia cultural brasileira não apenas
combater esses clichês, mas sobretu-
do disseminar fatos históricos e fenô-
menos culturais desconhecidos pelo
público ou pouco acessíveis no exte-
rior. Durante o Ano do Brasil na Fran-
ça, por exemplo, foram organizados
seminários e exposições sobre a heran-
ça africana no Brasil, tecnologias de
Total de eventos
ponta ligadas à aviação, diversidade
Centros Culturais cultural, arte modernista, ballet con-
Brasileiros
1000 km 6 3 Quantidade
temporâneo, políticas públicas e inser-
1 de eventos ção internacional.
Manifestações culturais por tipo de evento com apoio do Itamaraty, em 2013 Finalmente, não se pode esquecer que
Música Cinema os meios de comunicação e a mídia
têm uma posição importante como
instrumentos de influência global. A
radiodifusão internacional, durante a
Guerra Fria, havia se tornado parte in-
tegrante da agenda de política externa
1000 km 1000 km dos EUA. O controle sobre as ondas
Literatura Gastronomia de rádio, por exemplo, foi objeto de
intensa disputa Leste-Oeste.
Quantidade
1000 km
de eventos: 1000 km outros conteúdos mais recentes de pa-
4 3 2 1 íses do Sul, como nos casos da Telesur
Fonte: Itamaraty, 2013c. e da indústria de televisão no forma-
to de telenovela que se espalhou para a
maioria dos países da América Latina
internacional. Além disso, dependen- os estereótipos frequentemente asso- e da África (PALOP), bem como nos
do naturalmente do peso político de ciados à identidade do país – muitos continentes asiático e europeu.
um Estado, de sua importância histó- dos quais, de natureza sexista e discri-
rica global e regional, esses valores po- minatória, veiculam imagens de um
dem ter maior ou menor capacidade país de praias, mulheres lindas, liber- VEJA TAMBÉM:
de influência e irradiação. dade sexual, samba e carnaval. É bem Pluralismo étnico p. 24
verdade que, quando diplomacia cul- População e diversidade p. 42
Por meio da diplomacia cultural, o go- tural e interesses de mercado se com- Futebol e esportes p. 52
verno brasileiro procura difundir valo- binam, essas distinções entre valores Religião p. 56
res culturais que coloquem em xeque e estereótipos se tornam menos claras.
LUTAS E CULTURA
Grupos brasileiros de capoeira no exterior, em 2013 Academias brasileiras de jiu-jitsu no exterior, em 2013
Labmundo, 2014
Quantidade
Quantidade
de academias
de grupos
211
124
30
46 1
18 1000 km 1000 km
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 51
País do futebol, BRASIL NAS OLIMPÍADAS
Evolução da posição brasileira no ranking, entre
1984 e 2012
vôlei e talentos
Olimpíadas
*Los Angeles
Barcelona
Londres
Pequim
Sydney
Atlanta
Atenas
1984
1988
1992
1996
2000
2004
2008
2012
Seul
individuais 19
24 25 25
16
23 22
52
Desde a segunda metade do século XX, internacional, muitos jogadores des-
o Brasil tem sido reconhecido pelo seu pontam e são lembrados com carinho 1
8
1
6
2
3
3
15
0
12
5
10
3
15
3
17
desempenho esportivo, devido, prin- na memória de torcedores dos clubes
cipalmente, à seleção masculina de fu- de diversos países. Essa imagem posi-
Parolimpíadas
tebol. Os cinco títulos mundiais, as tiva pode gerar capacidades imateriais 9 8
seleções de 1970 e de 1982, assim como para o país, por facilitar as interações
14
alguns craques, podem ser citados para entre as pessoas e entre as instituições.
explicar essa imagem brasileira no ex- O esporte pode, portanto, ser usado
terior. E isso apesar da recente derro- como um instrumento da política ex- 24 25 24
Labmundo, 2014
Futebol 7
árabes, asiáticos, europeus e america- imagem positiva. É o caso de Marta Total de medalhas
nos. Ainda que o futebol brasileiro te- Vieira da Silva, eleita por cinco vezes a Basquete 6 Medalhas de ouro
nha perdido a hegemonia no cenário melhor jogadora pela FIFA; de Ayrton Fonte: Sítio web da COI, 2013.
123
Cidades olímpicas
52 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?
Labmundo, 2014
30
10
1
*O círculo verde lar, foi eleito sede dos Jogos Olímpicos
representa a quantidade
1000 km
de jogadores estrangeiros de 2016. Além de ganhar visibilidade,
Fonte: Sítio web da FIFA, 2013. que jogam no Brasil. o Brasil espera que esses eventos es-
portivos impulsionem a economia do
país, em termos de investimentos, mas
Senna, no automobilismo; de Gustavo o Brasil frequentemente tem desem- também nos setores do turismo, do co-
Kuerten, no tênis; de Oscar Schmidt, penho inferior nos Jogos Olímpicos mércio, entre outros. Apesar dessa ex-
no basquete; de Anderson Silva e de em relação a países com menor de- pectativa, grande parte da população
José Aldo, nas lutas marciais; de Gil- mografia e com economias menos se mostrou insatisfeita com os resul-
berto Amaury de Godoy Filho (Giba), dinâmicas (Hungria, Coreia do Nor- tados parciais desses investimentos e
no vôlei; etc. Todavia, o futebol ten- te, Cazaquistão, Cuba, Jamaica, etc.). aproveitou a visibilidade desses gran-
de a concentrar grande parte da aten- Cabe ressaltar, também, que o Bra- des eventos para ir às ruas a fim de pro-
ção dos brasileiros e dos investimentos. sil não conquistou nenhuma meda- testar e contestar quais seriam os reais
Essa preferência popular pelo futebol, lha nos Jogos Olímpicos de Inverno, benefícios que a população terá com a
associada à falta de eficiência política dos quais participa, tradicionalmente, realização dessas competições no país.
das federações e de vários níveis do go- com delegação reduzida, e isso apesar Entre as principais reclamações estão
verno, explicam em parte a ausência da desvantagem geográfica. a falta de investimentos em educação,
de investimentos mais significativos mobilidade e saúde (diante dos expres-
em outros esportes. O esporte é, mui- O Brasil depende de resultados prin- sivos gastos com novos estádios de fu-
tas vezes, visto pela população caren- cipalmente em esportes individuais, tebol) e remoções em grande escala de
te como um recurso para conquistar como natação, vela, judô e atletismo, comunidades (obras de infraestrutura).
estabilidade econômica. Consequen- para garantir uma posição melhor no
temente, o Brasil vive de talentos indi- quadro de medalhas nos Jogos Olím-
viduais que conseguem driblar a falta picos. Os esportes brasileiros que mais VÔLEI BRASILEIRO
Medalhas no World Grand Prix /FIVB (feminino),
de investimentos, de infraestrutura e contribuíram com medalhas foram o em 2014
de apoio aos atletas nacionais. judô e a vela, que somente são supera- 16
dos pelo vôlei (se considerarmos as mo- 14 Total de medalhas
12
Esse fator pode ser usado para expli- dalidades de vôlei de quadra e de areia 10
Medalhas de ouro
car por que o Brasil não é uma po- na mesma categoria). Em curva ascen- 8
tência olímpica. Apesar de números dente desde a geração que conquistou 6
demográficos e econômicos expressi- a prata olímpica em 1984 (masculino), 4
2
vos, esses resultados não conseguem o esporte de quadra tem dado grandes
ser traduzidos em um melhor desem- títulos ao Brasil, tanto no masculino
ia
ha
ia
ia
ba
Ho a
A
a
il
l
in
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nd
EU
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Itá
an
Cu
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Sé
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Al
6
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a
Equador 4
Ho 2
Espa
nha duplas brasileiras.
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an
Itá
Peru
Cu
lô
Br
Rú
Sé
la
China
Fr
Po
Bolívia Outro expoente do esporte brasilei- Fonte: Sítio web da FIVB, 2013.
Ang
ro são os resultados obtidos nas Pa-
Paraguai o la
raolimpíadas. Apesar da falta de um
apoio mais substancial e de visibilida- VEJA TAMBÉM:
Quantidade
Chile
Uruguai de jogadores de, os atletas paraolímpicos brasilei- Turismo p. 54
ros apresentam resultados animadores,
Labmundo, 2014
Argentina Religião p. 56
1 2 4 o que coloca o país entre os 10 pri- Cooperação p. 110
500 km meiros no quadro de medalha. Mui- Cooperação em educação p. 114
Fontes: Sítio web da CBF, 2013; e da FIFA, 2013. to disso se deve, também, ao nadador
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 53
Turismo e do Turismo, desde os anos 2000, a
quantidade de turistas estrangeiros no
imagem nacional
país oscila entre 5 e 6 milhões de in-
divíduos. Com esses valores, o país re-
cebe menos turistas que locais como
Catalunha, Tunísia e Vietnã.
tado como possível ferramenta de Apesar disso, o Brasil está inserido nos 10
Labmundo, 2014
5
para países em desenvolvimento e fa- neira periférica. A recepção de turistas gastos de estrangeiros no Brasil
cilitador do intercâmbio entre cultu- estrangeiros é relativamente modesta 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012
ras e empoderamento de comunidades e teve na última década um aumento Fonte: Ministério do Turismo, 2013a.
locais. tímido. Segundo dados do Ministério
TURISMO MUNDIAL
Chegada de turistas estrangeiros, em 2012 (em milhares de indivíduos) Total de turistas internacionais, entre
1950 e 2020 (em milhões)
1800
1600
1400
1000
800
Maiores destinos
200
1. França 83,0 25
2. EUA 67,0 83 1950 1980 2000 2020*
3. China 57,7 57
4. Espanha 57,7 35
5. Itália 46,4 22 *previsão
1000 km ... 5
38. Brasil 5,7
Receitas do turismo internacional, em 2012 (em bilhões de dólares) Receita cambial, entre 1999 e 2012
(em bilhões de dólares)
Maiores receptores
1.042
1.075
1. EUA 126,2
445
475
472
474
525
633
680
745
860
944
855
930
2. Espanha 56,0
2000 2004 2008 2012
3. França 53,7
Labmundo, 2014
4. China 50,0
5. Macau 43,7
1000 km ...
35. Brasil 6,7
30 10 5 1 0
Fontes: UNWTO, 2013; Ministério do Turismo, 2013b.
54 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?
Labmundo, 2014
reciprocidade em que se exigem vistos
daqueles países que possuem a mes-
ma obrigação para brasileiros. Desse Fonte: Ministério do Turismo, 2013a.
modo, turistas americanos enfrentam
um trâmite maior para vir ao Brasil, o
que reduz o fluxo de um dos princi- elevados gastos no exterior. O turis- Segundo dados da Euromonitor In-
pais polos emissores de turistas. Des- mo realizado por estrangeiros no Brasil, ternational, a ida de turistas brasileiros
se modo, um americano em busca de porém, contribui para algumas maze- para o exterior apresentou aumento
uma viagem de praia pode encontrar las do país, como a prostituição (sobre- exponencial na última década. Esse fe-
no Caribe, e não no Brasil, um desti- tudo infantil), a descaracterização dos nômeno se reflete no grande aumen-
no com melhor infraestrutura turística, hábitos de comunidades tradicionais, to dos gastos dos turistas brasileiros
menor tempo de deslocamento, me- e serve de justificativa para investimen- no exterior, que, associado a uma es-
nos burocracia e preços equivalentes. tos públicos preferencialmente nas áre- tagnação dos gastos de turistas estran-
as nobres dos municípios brasileiros. geiros no Brasil, fez com que a conta
Além disso, as políticas de promoção turismo do país apresentasse déficit
do Brasil no exterior são marcadas pelo As recentes transformações econômi- crescente. Recentes medidas tomadas
baixo interesse em atrair grupos asi- cas e sociais têm feito do país uma re- pelo governo brasileiro, como o au-
áticos, em especial chineses, que são gião mais para emissão de turistas do mento de impostos sobre transações
uma força emergente no setor e têm que de recepção. O setor é bastante de- em cartão de crédito no exterior e o au-
pendente do mercado doméstico. E mento do IOF, têm buscado contro-
no exterior, os brasileiros se destacam lar esse aumento do consumo além das
TURISTAS BRASILEIROS pelo seu poder de consumo em cidades fronteiras.
Viagens domésticas (em milhões de viagens)
como Paris e Nova York. O turismo
2005 138,71 doméstico no Brasil tem apresentado Os destinos preferidos por brasilei-
2006 147,10
altas taxas de crescimento, acompa- ros no exterior estão concentrados
nhando a inserção de largas parcelas em poucas regiões, principalmente na
2007 156,00 da população em um novo padrão de América do Norte, na Europa Ociden-
2008 165,43 consumo. Em pesquisa realizada no tal e no Cone Sul. Por sua vez, EUA
2009
final de 2013 pelo Ministério do Tu- e Argentina são, respectivamente, os
175,44
rismo, a quantidade de pessoas que dois principais destinos dos turistas
pretendiam viajar pelo Brasil (72,7%) brasileiros no exterior. Entre as cida-
Total estimado de viagens brasileiras ao exterior
(em milhões de viagens) foi três vezes maior do que os que dese- des, destacam-se Nova York e Miami,
8,3
11 javam um destino no exterior (24,7%). Paris e Roma, assim como Buenos Ai-
7,5
2,2
Dos que miravam o turismo domésti- res e Santiago do Chile.
co, mais da metade (53,7%) escolheu
Labmundo, 2014
França
Canadá 35,1
Japão 27,9
Austrália 27,6
Itália 26,4
Fonte: UNWTO, 2013.
Maiores destinos:
VEJA TAMBÉM:
1. Estados Unidos
2. Argentina Globalização e nova ordem p. 22
1.017
Labmundo, 2014
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 55
Pluralismo BRASILEIROS NA FÉ
Evolução da religião entre os brasileiros, entre 1870
e 2010
religioso
Total de praticantes,
em milhões de fiéis
123,4
42,4
3,8
Católicos
Labmundo, 2014
Candomblé
e Umbanda
mo do número de ateus nas estatísticas caracterizado pela tendência ligeira-
mais recentes, o âmbito espiritual ain- mente ascendente no número de in-
70
90
40
60
80
20 0
10
0
18
19
19
18
19
20
da é fundamental para compreender as divíduos que se afirmam e consideram Fonte: IBGE, 2013a.
dinâmicas sociais no país. religiosos.
O Brasil é historicamente de maioria No caso do Brasil, a religião católica Participação de fiéis em relação ao total da
população, em 2010
católica, identidade em relativo declí- tem passado por relativo declínio. Os 64,6 %
nio em especial pela maior presença grupos de fiéis católicos têm uma das
de grupos religiosos evangélicos e neo- médias de idade mais elevadas. Os pa-
pentecostais. O país é hoje a maior co- pados recentes promoveram políticas
munidade nacional católica do mundo, que pouco incentivam a participação
mas ainda assim com peso modesto na dos fiéis nas comunidades religiosas,
alta cúpula do Vaticano. Por exemplo, principalmente quando o catolicismo 22,2 %
o país passou a ter seu primeiro santo é comparado a outras denominações.
nascido no Brasil somente em 2007, o Os católicos também seriam o grupo 8%
2,9 %
2% 0,3 %
paulista Frei Galvão. A Igreja católica que menos contribui financeiramente
mantém seu grupo de fiéis, cada vez para sua instituição. Tais aspectos, as- Labmundo, 2014
os
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Ou
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Es
Ca
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m
Ev
Se
e parece estar buscando reforçar a pre- tes de religiões evangélicas, são marca Fonte: IBGE, 2013a.
sença de jovens em suas maiores co-
munidades. Com essa perspectiva que
se poderia interpretar a visita do Papa CRISTIANISMO
Francisco ao Brasil (sua primeira via- Maiores comunidades católicas % da popopulação nacional % da população católica mundial
gem fora da Itália após sua eleição) e França 40.510.000 98,4 13,9
Itália 35.270.000 99,9
1910
12,1
a edição de um dos mais importantes Brasil 21.430.000 95,6 7,4
eventos católicos, a Jornada Mundial Espanha 20.350.000 99,9 7,0
neiro, em 2013. Maiores comunidades católicas % da popopulação nacional % da população católica mundial
Brasil 126.750.000 65,0 11,7
8,9
Filipinas 75.570.000 81,0 7,0
nidades católicas do mundo eram no Estados Unidos 75.380.000 24,3 7,0
geral de países europeus, a tendên- Itália 49.170.000 81,2 4,6
cia atual é de redução da importância Maiores comunidades protestantes % da popopulação nacional % da população protestante mundial
do âmbito religioso nos países desen- Estados Unidos 159.850.000 51,4 20,0
volvidos. Isso afeta o perfil do grupo Nigéria 59.680.000
2010
37,7 7,5
de fiéis da Igreja católica, aumentan-
Labmundo, 2014
56 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?
O 1º Papa a sair da Itália Permaneceu somente Viajou mais Mesma média de viagens Fez sua primeira
em mais de um século 33 dias no cargo, de 1.167.000 km de J. Paulo II se comparados viagem fora da
Labmundo, 2014
e o 1º a viajar de avião. sem realizar viagens os períodos em que Itália para o Brasil
Ficou conhecido fora da Itália tinham a mesma idade
como “Papa Peregrino”
Viagens pastorais de Papas ao Brasil
Fonte: Vaticano, 2014. 300 km
Labmundo, 2014
50.000 *Somente representados
bém o caráter missionário de muitos gionais, como o candomblé na Bahia 10.000 valores maiores a
5.000
desses grupos que colocam o país en- ou a macumba no Rio de Janeiro. No 1.000
1000 indivíduos.
tre os principais emissores do mundo caso do candomblé praticado na Bahia, Fonte: IBGE, 2010b.
de religiosos. as yalorixás e os babalorixás são figuras
reconhecidas internacionalmente, que
Esse grupo religioso possui uma di- servem de ponte espiritual e cultural sociais. O âmbito religioso não pode
nâmica demográfica bastante particu- entre o Brasil e a África. ser ignorado pela política externa, em-
lar: em específico, as igrejas evangélicas bora possa produzir contradições no
(como Assembleia do Reino de Deus, A importância da dimensão regional é futuro. O Estado brasileiro é constitu-
Universal, ou Igreja do Evangelho evidente em algumas religiões pratica- cionalmente laico, mas é inegável a in-
Quadrangular) têm a maior propor- das por grupos da Amazônia, do Piauí fluência de alguns grupos religiosos na
ção de fiéis com renda per capita in- e do Maranhão, onde além do sincre- política doméstica (em especial, em te-
ferior a um salário mínimo (63,7% do tismo católico e africano estão associa- mas relativos à liberdade da prática re-
total) e são predominantemente ur- dos elementos da cultura indígena. A ligiosa, ao diálogo entre as religiões e
banas, onde alcançam 13,9% do total umbanda, nascida no Rio de Janeiro à tolerância, ao ensino público da reli-
da população (em comparação com no início do século XX, é um exemplo gião, aborto e casamento homossexu-
12,2% dos que se identificam com essa dessa complexidade e riqueza, por- al). Seria possível imaginar que os mais
vertente no total do país). A disper- quanto reúne elementos da cultura diversos atores religiosos passem a in-
são de evangélicos pelo território bra- indígena, africana e católica, associa- fluenciar a política externa brasileira,
sileiro não é uniforme, havendo uma das a doutrinas do Espiritismo fran- por exemplo, em matéria de direitos
concentração na região Sudeste, em es- cês. Os filhos de santo do candomblé humanos, na defesa de valores morais
pecial nas capitais e nas regiões metro- estão presentes essencialmente nas ci- no âmbito multilateral ou na busca
politanas de Rio de Janeiro, São Paulo dades de São Paulo, Rio de Janeiro e por maior liberdade de atuação religio-
e Belo Horizonte, Goiânia e litoral da no recôncavo baiano. Os praticantes sa de brasileiros no exterior?
região sul (em especial Paraná e Santa da umbanda têm presença maior no
Catarina). centro-sul do país, com destaque para
Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Gran- VEJA TAMBÉM:
Entre os espíritas e os praticantes de re- de do Sul. Diversidade cultural p. 24
ligiões de matriz africana (por exemplo, Itamaraty p. 60
umbanda e candomblé), podem ser O Brasil possui uma experiência re- Atores religiosos p. 74
lembradas algumas dinâmicas interna- ligiosa variada e dinâmica, recortan- Cooperação Sul-Sul: África p. 116
cionais relevantes, tanto na sua origem do distintos grupos culturais e classes
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 57
Capítulo 3:
ATORES
E AGENDAS
e diplomacia
cracia do Estado brasileiro. Burocracia
implica rigor no processo seletivo, re-
gras com base no mérito para a pro-
moção de seus quadros, formação e
pública
treinamento contínuos ao longo da
carreira, mas também normas hierár-
quicas que ordenam o aprendizado e
a socialização de seus agentes, criando
assim as bases sociais e culturais para o
reconhecimento mútuo no âmbito da
organização. O Instituto Rio Branco,
De acordo com a Constituição de 1988, participação nas negociações comer- fundado em 1945, é uma peça central
a política externa é da competência do ciais, econômicas, técnicas e culturais nessa arquitetura, uma vez que sele-
Presidente da República, que a dele- com governos e entidades estrangei- ciona e capacita os diplomatas brasilei-
ga ao Ministério das Relações Exterio- ras, a concepção e articulação dos pro- ros, definindo critérios para progressão
res. As áreas principais de atuação do gramas de cooperação internacional, funcional na carreira a partir do nível
Itamaraty são a implementação das es- bem como a coordenação ou o apoio de terceiro secretário.
tratégias da política internacional se- a delegações, comitivas e representa-
gundo as diretrizes do Presidente, a ções brasileiras em agências e orga- A tradição da burocracia diplomáti-
condução das relações diplomáticas nismos internacionais e multilaterais. ca também tendeu, ao longo da Repú-
e a prestação de serviços consulares, a O Itamaraty e o corpo diplomático blica, a privilegiar alguns indivíduos
(sobretudo homens) oriundos de de-
terminadas famílias e classes sociais,
DIPLOMACIA PÚBLICA NA INTERNET em detrimento de uma representação
Facebook e as páginas oficiais dos ministérios, em 2014
Usuários que curtiram página oficial, em milhão de usuários Usuários falando sobre, em milhares mais plural e condizente com a reali-
EUA EUA dade social e demográfica nacional. A
Índia Rússia competência na condução das rela-
França França
Reino Reino ções exteriores e na negociação dos
Unido Unido
Brasil Brasil interesses nacionais, reconhecida in-
Japão Índia ternacionalmente, construiu-se quase
Rússia Argentina exclusivamente com base na represen-
Argentina Japão
Espanha Espanha
tação das elites sociais, econômicas
África
do Sul
África
do Sul
e culturais. Essa realidade começou
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 5 10 15 20 25 30 a mudar lentamente com a redemo-
*Os Ministérios das Relações Exteriores da Turquia e da China não têm canais oficiais no Facebook
Fonte: Páginas oficiais dos ministérios no Facebook.
cratização do Estado e graças à pres-
são social e política, principalmente a
YouTube e os canais oficiais dos ministérios, em 2014 partir de 2002, quando foi lançada a
Inscritos, em milhares de usuários Vídeos, em milhares Visualizações, em milhões Bolsa Prêmio de Vocação para a Diplo-
Índia Índia Índia
EUA França França
macia com a finalidade de proporcio-
Japão Brasil Brasil nar maior igualdade de oportunidades
Brasil Japão Japão de acesso à carreira de diplomata e de
Reino
Unido EUA EUA acentuar a diversidade étnica nos qua-
Rússia
França
Turquia Turquia
dros do Itamaraty.
Rússia Rússia
Turquia Espanha Espanha
Argentina Argentina Argentina No plano internacional, foi nesse mo-
Espanha Reino
Unido
Reino
Unido mento que o Brasil se dotou de uma
África
do Sul
África
do Sul
África
do Sul
verdadeira diplomacia mundial, com
5 10 15 20 0,5 1 1,5 2 0,5 1,5 2
numerosas representações (embaixa-
*O Ministério das Relações Exteriores da China não tem canais oficiais no YouTube
**O Ministério das Relações Exteriores da Índia tem mais de um canal oficial no YouTube das, consulados e escritórios), contan-
Fonte: Canais oficiais dos ministérios no YouTube. do, em 2014, com 896 diplomatas no
Twitter e as contas oficiais dos ministérios, em 2014 exterior (526 na Secretaria de Estado
Seguindo, em milhão de usuários Tweets, em milhares em Brasília), 448 oficiais de chance-
EUA EUA
Reino
laria no exterior (305 na SERE) e 344
França
Reino
Unido
França
assistentes de chancelaria no exterior
Unido
Turquia Rússia (209 na SERE).
Índia Brasil
Japão
Brasil
Índia
No plano doméstico, a redemocrati-
Turquia
Argentina Japão
zação trouxe ao Itamaraty o desafio
Rússia Argentina de construir, paulatinamente, uma
Labmundo, 2014
60 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS
REPRESENTAÇÕES DIPLOMÁTICAS
Localização das representações diplomáticas brasileiras, e quantidade de funcionários e diplomatas** nas 35 principais representações, em 2014
Missões em organismos 60
multilaterais
Escritórios e outras 50
representações
40
*O Brasil não reconhece os seguintes países: Abecásia; R. Turca do
Chipre do Norte; Ossétia do Sul; R. Árabe Sahauri Democrática (Saara
Ocidental); Somalilândia; Transdniéstria; e Taiwan. 30
20
10
Labmundo, 2014
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Fonte: Dados oficiais obtidos do Itamaraty por meio da Lei de Acesso de Informação (Lei 12.527/2011)
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VEJA TAMBÉM:
Co
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 61
Diplomacia dimensões continentais, como o Bra-
sil, isso era especialmente proble-
presidencial
mático, pois os meios de transporte
existentes na época não permitiam que
viagens presidenciais a outros países
fossem curtas. As viagens eram demo-
radas, aumentando o tempo em que o
chefe de Estado deveria ser substituí-
do pelo vice-presidente ou outras au-
toridades. Em alguns casos, a ausência
desses líderes tornava o ambiente do-
méstico propício para manobras polí-
ticas, muitas vezes golpistas. Quando
Visitas recíprocas entre chefes de Estado prestígio em receber esses representan- renunciou Jânio Quadros, o Vice-Pre-
e chefes de governo não são uma novi- tes, o diálogo direto entre chefes de sidente João Goulart encontrava-se em
dade no cenário político internacional. governo tende a facilitar e acelerar ne- visita oficial à China e, em um primei-
Desde a formação do Estado Nacio- gociações em diversos âmbitos, do po- ro momento, foi impedido de voltar
nal nos moldes de Westphalia, as tro- lítico ao comercial. ao país para assumir a presidência.
cas de visitas entre monarcas europeus
eram comuns e tratadas como grandes As viagens dessas autoridades políti- Os avanços tecnológicos ao longo dos
eventos da nobreza. O Brasil aderiu a cas serviam para acelerar negociações, séculos XX e XXI tornaram as viagens
essa prática desde a época do Império, estreitar relações políticas entre pa- mais céleres e baratas, criando a opor-
como as viagens de D. Pedro II à Europa, íses e fazer uma diplomacia de pres- tunidade de chefes de Estado e de go-
América do Norte e África podem com- tígio. Todavia, essa prática também verno viajarem mais frequentemente
provar. Visitas de altas autoridades na- causava desafios no âmbito domésti- e sem deixar seus postos por períodos
cionais são, geralmente, usadas para co, pois acarretava a ausência desses demorados. Se, no início do século XX,
estreitar relações comerciais e políti- líderes de seus respectivos postos. No uma viagem entre a capital (Rio de Ja-
cas entre países. Além de um evidente início do século XX e em um país de neiro) e a Europa levava semanas por
1000 km 1000 km
Itamar Franco (outubro de 1992 a janeiro de 1995) Fernando Henrique Cardoso (janeiro de 1995 a janeiro de 2003)
1000 km 1000 km
Luiz Inácio Lula da Silva (janeiro de 2003 a janeiro de 2011) Dilma Rousseff (período analisado de janeiro de 2011 a janeiro de 2015)
3
Labmundo, 2015
1
0,25
1000 km 1000 km
Fonte: Planalto, 2014; Itamaraty, 2013b. *Foram consideradas todas as viagens da presidência da República, sejam elas de caráter bilateral ou multilateral
62 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS
Labmundo, 2014
Constituição Federal, promulgada em
1988, reiterou que caberia exclusiva- 1000 km
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at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 63
Congresso, POLÍTICA EXTERNA E
HORIZONTALIDADE
Competência internacional no Poder Executivo,
ministérios
segundo a Constituição de 1988 e leis
complementares
Com competência
56,4%
e agências
Sem competência
43,6%
Foram analisados todos os
gabinetes dos ministros e
secretarias executivas, bem
como as secretarias de Estado
da estrutura básica do poder
executivo federal, tanto da
presidência da República
quanto dos ministérios
Labmundo, 2014
Voltados a firmar acordos de
16,2% cooperação técnica internacional
Labmundo, 2014
2003
2007
1968
1973
1978
1983
1988
1993
1998
Municípios na faixa
car) no sistema internacional. Esse fe-
or
de fronteira
oN
64 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS
escolas de países vizinhos, envolven- Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher
do em especial o intercâmbio de pro-
fessores. O ensino superior também é
Convenção contra Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes
uma área de forte atuação da diploma-
cia educacional brasileira. Durante os
Convenção sobre os Direitos das Crianças
dois mandatos do Presidente Lula, o
Ministério da Educação fundou qua-
Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional
tro universidades que têm como uma Período entre conclusão do acordo
e assinatura ou adesão pelo Brasil
de suas propostas promover a presen-
ça no Brasil de professores e estudan- Período entre a assinatura e a ratificação Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da
Criança relativo ao envolvimento de crianças em
tes estrangeiros: a UNIAM, a UFFS, a conflitos armados
Unilab e a UNILA. O Ministério da
Integração Nacional também atua em Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da
temas internacionais, por exemplo, no Outro ator fundamental da PEB é o Criança relativo à venda de crianças, à prostituição
infantil e à pornografia infantil
que se refere às cidades-gêmeas brasi- Congresso Nacional. Suas atribuições
leiras e à faixa de fronteira. As cidades- presvistas na Costituição de 1988 são
gêmeas brasileiras são aquelas cortadas a ratificação de tratados, convenções Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e
outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
pela linha de fronteira com integração e atos internacionais, a fiscalização Degradantes
urbana com países vizinhos e onde há das políticas governamentais por
elevado potencial de integração econô- meio de suas comissões (por exemplo, Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas
mica e cultural. Em 2014, a pedido do a Comissão de Relações Exteriores com Deficiência
Labmundo, 2014
Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da
Criança relativos aos procedimentos de comunicação
área de saúde e comercialização de me- é possível perceber que, em alguns
dicamentos. Priorizando países em de- momentos, as votações são disputadas
senvolvimento, a instituição contribui e há necessidade de negociações entre Fontes: ONU, 2014a; ONU 2014b.
para a formação das posições brasilei- o Legislativo e o Executivo para a
ras em saúde no sistema internacio- aprovação de algumas proposições,
nal e reforça laços com outros países como no caso do ingresso da do sistema político brasileiro e do
do Sul. A Fiocruz é um elo essencial do Venezuela no Mercosul (final de 2009). relativo baixo nível de interesse dos
que passou a ser conhecido como “di- Além disso, cabe ao Senado aprovar os representantes em tema de política
plomacia da saúde”. O mesmo padrão chefes de missões diplomáticas e ser externa, existe outra possibilidade
de internacionalização pode ser obser- consultado em operações externas de de interferência do Congresso no
vado no caso da Embrapa. natureza financeira. Apesar do perfil momento da aprovação do orçamento
anual da União. A “diplomacia
parlamentar” também é fenômeno
POLÍTICA EXTERNA EM EDUCAÇÃO crescente. O Congresso desenvolve
Atuação internacional do Ministério da Educação, 2014
relações com outros parlamentos nacionais,
assim como organizações internacionais
representativas dessas instituições (por
exemplo, o Parlamento do Mercosul).
Universidade da Dentro desse quadro também se inserem
Universidade
Integração Amazônica
da Integração a visita de autoridades estrangeiras e a
da Lusofonia presença de delegações parlamentares
Afro-brasileira
no exterior em uma ampla gama de
eventos, no geral acompanhando as
delegações do Poder Executivo.
*O programa Escolas Interculturais de
250 km
Fronteira tem planos de ampliação para
Colômbia, Peru, Guiana e Guiana Universidade da
Integração Programa Escolas de Fronteira:
Francesa.
O governo declara a participação de 17 Latino-americana
VEJA TAMBÉM:
Escolas no exterior
unidades de ensino no Brasil, mas só Diplomacia presidencial p. 62
indica a cidade de 14 dessas escolas. Escolas no Brasil
Labmundo, 2014
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 65
Ação internacional internacionais. Na América Latina,
a Argentina aprovou, em 1994, uma
dos estados
emenda à constituição que permitiu
que atores subnacionais se relacionas-
sem com outros atores estrangeiros no
que dissesse respeito aos seus respecti-
vos interesses. No Brasil, não existe ne-
nhum dispositivo constitucional que
permita expressamente a atuação in-
ternacional das unidades subnacionais.
Pelo contrário, as competências rela-
cionadas aos assuntos internacionais
são divididas entre as casas do Con-
Segundo a Constituição Federal bra- internacionalmente, buscando seus gresso e, principalmente, mantidas
sileira, a condução da PEB é de com- próprios interesses, com certa autono- pelo Executivo. Apesar disso, a ação de
petência exclusiva do Presidente da mia do governo federal. atores subnacionais torna-se cada vez
República. Ao longo de mais de um mais frequente no Brasil, à revelia de
século, essa competência foi delega- Um exemplo desses atores subnacio- um marco jurídico-normativo para tal.
da ao MRE. Entretanto, ao final do nais que, progressivamente, incluem
século XX e início do século XXI, o temas e relações internacionais em Não é raro que os estados brasilei-
insulamento do Itamaraty foi gradu- sua agenda são os estados brasileiros. ros, como unidades federativas, atuem
almente diminuindo, o que permi- A ação internacional das unidades fe- internacionalmente, buscando em-
tiu que atores subnacionais também derativas subnacionais não é novidade préstimos ou celebrando acordos de
agissem internacionalmente. Contri- em alguns países. Desde 1874, na Su- cooperação. Como exemplo recen-
buíram para esse fenômeno a redemo- íça, há dispositivo constitucional que te disso, podemos citar a escolha do
cratização do Brasil, a partir dos anos permite que os cantões atuem inter- Rio de Janeiro como cidade sede para
1980, e a globalização. Com os avan- nacionalmente. A constituição alemã os Jogos Olímpicos de 2016. Evidente-
ços tecnológicos e com a internaciona- de 1949 também confere aos landers mente, a cidade do Rio de Janeiro par-
lização da economia, ficou muito mais certo grau de liberdade para relacio- ticipou decisivamente da candidatura,
fácil para os atores subnacionais atuar nar-se com outros atores políticos mas somente com um forte compro-
metimento do governo estadual flu-
minense e da União o projeto ganhou
EXPORTAÇÃO DAS UNIDADES FEDERATIVAS força para vencer fortes candidaturas
Por destinos em bilhões de dólares, em 2013 concorrentes, como Chicago, Tóquio
e Madri. Como o estado do Rio de Ja-
l)
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E.
EU
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M
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na da capital fluminense, foi necessá-
rio que o governo estatal se engajasse
Demais da internacionalmente, a fim de garantir
R. Norte
acordos de investimento em obras, co-
BA operação em programas de mobilidade
urbana e desenvolvimento de parques
Demais da
R. Nordeste
esportivos, entre outros exemplos.
66 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS
Labmundo, 2014
1000
quais havia arrecadado os impostos. 300 km 250 300 km
Em um país democrático, a liberda- Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2013.
de para que as unidades federativas se
relacionem internacionalmente pode
ser vista como algo benéfico. Ao des- Os estados tendem a se relacionar com diversidade em sua pauta comercial
centralizar a ação internacional do país, quem lhes parece mais oportuno polí- também tenderiam a concentrar suas
os estados conseguem promover ações tica, social e economicamente. É na- relações internacionais. Por fim, as
que atendam necessidades específi- tural que as unidades federativas que escolhas também passam por uma
cas de determinada região ou popula- fazem fronteira com outros países te- dimensão política. Cada unidade fe-
ção. Esse modelo descentralizado pode nham relações mais intensas com os derativa tem preferências políticas di-
causar um impacto positivo também vizinhos. Do mesmo modo, se exis- ferentes, um reflexo das preferências
na transparência do aparato burocráti- te parcela significativa de imigrantes e das trajetórias dos diversos partidos
co, pois a população fica mais próxima de determinado país vivendo em uma que estão no governo. Uma unidade
dos governos estaduais e pode cobrar região, é de se esperar que haja rela- federativa pode usar suas ações para-
resultados sobre os projetos desenvol- ções mais fortes entre o estado e os pa- diplomáticas como ferramenta de uma
vidos. Todavia, esse modelo descentra- íses de origem de seus residentes. É o “diplomacia do desafio” a fim de testar
lizado também pode causar problemas caso, por exemplo, da comunidade ja- e divulgar alternativas de inserção in-
na coerência da ação internacional do ponesa em São Paulo, das comunida- ternacional à política externa do gover-
Estado. No caso brasileiro, há um es- des de origem africana no Nordeste e no federal.
forço por parte do governo federal das comunidades germânica e italia-
para que exista um discurso estratégico na nos estados do Sul do Brasil. As re-
e coerente no campo da PEB. Quan- lações internacionais de uma unidade VEJA TAMBÉM:
do aumenta a quantidade de atores es- federativa também são pautadas pe- Brasil Império p. 16
tatais que agem internacionalmente, a los padrões econômicos daquele esta- Nova ordem p. 22
política externa tende a ser mais plural, do, dependendo do que e com quem Ação internacional das cidades p. 68
porém pode produzir resultados me- comercializam. Nesse sentido, é possí- América do Sul p. 84
nos coerentes. vel dizer que as regiões que têm menos
Região Metropolitana
do Rio de Janeiro
Baía de Sepetiba
5 km
Oceano Atlântico
Número de famílias Moradores ameaçados Pontos de Instalações Estradas Metrô Bus Rapid
Labmundo, 2014
.
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 67
Ação internacional DIPLOMACIA MUNICIPAL BRASILEIRA
Quantidade de municípios no Brasil
das cidades
por milhares de habitantes, em 2011
acima
de 500
de 300
a 500
de 100
a 300
de 50
a 100
de 25
a 50
de 15
a 25
de 5
a 15
menos
O cenário político internacional não ensejavam participação de outros ato- de 5
é mais monopolizado pelos Estados, res (como meio ambiente, direitos hu- 500 1000 1500 2000
Fonte: Confederação Nacional dos Municípios, 2014.
mas também é composto por atores manos, combate à fome e a doenças,
subnacionais, entre eles os municí- etc.). Além disso, tem se reforçado o
pios, que agem nesse espaço, alterando entendimento de que muitos dos pro-
Busca de ações internacionais pelos municípios,
padrões e modos de ação das relações blemas mundiais são coletivos, o que
Labmundo, 2014
em 2011
internacionais. A globalização con- demanda uma resposta articulada. Um
tribuiu para esse fenômeno, no sen- exemplo disso é o grupo C40, que re- 3000
tido de que criou mecanismos que presenta um grupo de cidades que per-
reduziram a noção de espaço-tem- cebem o aquecimento global como um 2000
1000 km
Cidades membros
porcentagem de municípios uruguaios
*C40 é uma rede de megacidades que tem o compromisso de
combater o aquecimento global. que atuam em projetos de cooperação
Fonte: Sítio web do C40, 2014. descentralizada, apesar de existir um
68 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS
Labmundo, 2014
funcionários para tratar de
governos municipais que queiram se relações internacionais
Cidades que atuam
lançar na diplomacia descentralizada. internacionalmente
Fonte: Confederação Nacional dos Municípios, 2014.
Como foi ressaltado no item anterior,
sobre a ação internacional dos estados,
não há no Brasil lei que regulamente governo federal, como segurança, de- estava começando a implementar esse
a diplomacia descentralizada e, con- fesa, etc. Em geral, as atividades de di- sistema na cidade francesa. Esse acor-
sequentemente, como os municípios plomacia descentralizada em que os do foi tão bem recebido que a prefeitu-
que se relacionam internacionalmente municípios brasileiros se envolvem ra do Rio de Janeiro, em conjunto com
devem agir. É uma consequência natu- versam sobre cooperação técnica ou o governo estadual fluminense, seguiu
ral da descentralização uma tendência temas que não seriam resolvidos pela a estratégia da cidade gaúcha e foi até
maior à pluralidade e a uma possível ação exclusiva do governo federal. Paris para estudar o sistema de bicicle-
perda na unidade do discurso. Ape- tas públicas, também implementado
sar disso, a ação internacional das ci- Além desses temas, cabe ressaltar que em alguns bairros cariocas.
dades não tem prejudicado a coerência muitas cidades usam a diplomacia des-
do discurso diplomático oficial do go- centralizada para atrair turistas inter-
verno federal. As cidades tendem a res- nacionais e para fazer acordos culturais PARADIPLOMACIA NAS AMÉRICAS
peitar uma hierarquia política, antes com outras cidades ou países. O Rio Municípios na América Latina que participam
da diplomacia descentralizada, em 2011 (em %)
de atuar internacionalmente, buscan- de Janeiro, por exemplo, foi a primei-
90
do evitar setores da competência do ra cidade da América Latina a adotar,
em 2014, domínio próprio na inter-
net (.rio). Além disso, os municípios 70
ACORDOS DE IRMANAMENTO agem de acordo com suas raízes his-
Total de acordos com municípios brasileiros, tóricas, sociais e políticas. Isso é per- 50
em 2011 10 20 30 40 50
ceptível nos acordos de irmanamento
França entre cidades, em que as cidades fazem
acordos culturais, projetos de coope- 30
Portugal
ração técnica, programas de capacita-
Itália ção, entre outros. A maior quantidade 10
de acordos entre cidades irmãs ocorre
Labmundo, 2014
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Alemanha
dos muitos exemplos que pode ser ci- Fonte: Confederação Nacional dos Municípios, 2014.
Holanda
tado de frutos da diplomacia descen-
tralizada das cidades é a adoção de
Bélgica corredores expressos de ônibus em VEJA TAMBÉM:
Porto Alegre. Atualmente, esse sistema Relações com os EUA p. 18
Reino
é muito comum nas cidades brasileiras
Labmundo, 2014
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 69
Principais Para a economia e para a política bra-
sileiras, interessa que as empresas na-
multinacionais
cionais se internacionalizem. Em uma
economia globalizada, faz-se impor-
tante que as empresas brasileiras con-
tribuam para a inserção do país na
brasileiras
economia global. A internacionaliza-
ção do capital privado nacional pode
significar o seu fortalecimento, gerar
prestígio ao Brasil, produzir empregos
e propiciar acordos comerciais. Esse
fenômeno pode abrir caminho para
acordos de facilitação de comércio,
Se considerarmos a política externa porte. Devido ao seu tamanho, mo- cria mercado consumidor para pro-
como uma política pública, definiti- vimentam grandes fluxos de capital e dutos brasileiros, assim como permi-
vamente a atuação das empresas deve geram muito empregos. Essas carac- te acordos de cooperação técnica. Ao
ser considerada como uma de suas va- terísticas são importantes para enten- atuarem em outros países, as empresas
riáveis centrais. Toda política externa, der o motivo pelo qual os responsáveis também buscam absorver novas tecno-
e a PEB não seria distinta, tem uma políticos brasileiros costumam criar logias, adaptar-se a novas realidades e,
economia política que a fundamenta. condições políticas favoráveis para o com isso, obter um ganho de experti-
Em primeiro lugar, apesar das empre- crescimento dessas empresas. Quan- se por meio da troca de conhecimentos
sas não serem as responsáveis primárias do essas elas apresentam um aumen- técnicos com outros países, culturas e
pela condução da política externa, não to na produção, é provável que o PIB tecnologias.
há dúvida de que os tomadores de de- nacional e a geração de empregos tam-
cisão do governo brasileiro levam em bém sejam afetados. Além disso, os di- Como será aprofundado no capítulo 5,
conta os interesses do setor privado ao retores dessas empresas costumam ter há uma relação complementar, mas
formular as diretrizes da política ex- acesso aos principais tomadores de de- por vezes contraditória, entre a inter-
terna. Em segundo lugar, as empresas, cisão da política brasileira, por meios nacionalização das empresas brasileiras
ao atuarem em países desenvolvidos informais ou a convite das instituições. e a política de cooperação internacio-
e em desenvolvimento, também afe- Muitos políticos e altos diretores das nal para o desenvolvimento do Bra-
tam a imagem do Brasil no exterior, de empresas brasileiras se conhecem pes- sil. A política de cooperação brasileira
modo positivo ou negativo. soalmente, frequentaram os mesmos pode contribuir para a internacionali-
bancos escolares, foram colegas em zação das empresas brasileiras, pois cria
As grandes empresas brasileiras são cursos na universidade, vão aos mes- uma porta de entrada em outros países.
muito influentes, não apenas interna- mos eventos sociais, etc. Isso faz com Muitas vezes, as empresas nacionais
cionalmente, mas também no plano que exista um canal informal de comu- se instalam em outros países, aprovei-
da política doméstica (financiamento nicação entre a iniciativa privada e po- tando o canal de diálogo criado pela
de campanha eleitoral, lobbies junto líticos de alto nível, permitindo que as diplomacia brasileira no âmbito da co-
ao Congresso e às Assambleias Legisla- empresas expressem suas vontades e fa- operação. O governo brasileiro tam-
tivas, projetos de responsabilidade so- çam solicitações, influenciando, ainda bém se beneficia da ação das empresas,
cial). Em geral, as empresas nacionais que por meios informais, a formulação sendo elas responsáveis pela execução
que têm maior capacidade de ação in- das políticas públicas do Brasil, entre de muitos projetos de infraestrutura no
ternacional são também as de maior elas a política externa. exterior e financiadoras de projetos de
Petrobras
Vale
Embrapa
Odebrecht
Labmundo, 2014
Andrade Gutierrez
1000 km
70 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS
Labmundo, 2014
Bradesco
mas de controle governamental, BRQ IT Services
*O índice considera a relação entre o doméstico e o internacional em três domínios: quantidade de ativos, volume de
também é uma das mais atuantes receitas e quantidade de funcionários.
internacionalmente. Além de ser Fonte: Fundação Dom Cabral, 2013.
competitiva no meio petrolífero, a
empresa desenvolveu tecnologia de
extração em águas profundas, que a bandeira brasileira como detalhe da de prospecção. Por esse motivo, o mo-
favorece na competição com outras alça do calçado. vimento dos Atingidos pela Vale, exis-
empresas do ramo. Esse é um dos tente no Brasil, tornou-se muito forte
motivos pelos quais a Petrobras é muito A internacionalização das empresas, também em Moçambique.
presente em alguns países costeiros, apesar de criar grandes oportunida-
como Angola. Fora do âmbito extrativo, des para o Brasil, também cria desa- A ação internacional das empresas é
também é marcante a existência de fios e produz contradições. A ação um fenômeno estrategicamente apoia-
conglomerados de empresas brasileiras de algumas empresas (principalmen- do pelo governo, mas não produz
que abrem fábricas e lojas em outros te no âmbito extrativo) causa impac- apenas impactos positivos. Portan-
países. A empresa Vulcabras-Azaleia tos e pode ser considerada predatória to, deve ser vista também como um
é um exemplo disso, sendo que por parte da sociedade do país em que desafio à imagem nacional. O Brasil
uma de suas marcas é responsável atua. Apesar de as empresas não se- busca mostrar-se como um país que
por patrocinar clubes de futebol na rem representantes do governo bra- pratica a diplomacia da solidariedade,
Argentina, além da seleção brasileira sileiro ou do país como um todo, as preocupado com modelos de desen-
de vôlei. A Havaianas, marca da críticas dirigidas a elas também refle- volvimento justos e equitativos. Ain-
Alpargatas S.A., obteve grande sucesso tem na imagem que o país tem no ex- da não é claro se e como a ação das
no mercado internacional de sandálias terior. Denúncias de desrespeito às leis empresas brasileiras pode ser inseri-
e tem como característica marcante a trabalhistas, por exemplo, podem ser da nesse discurso. Como as empresas
verificadas nas obras das empreiteiras não estão limitadas em sua ação inter-
brasileiras no exterior, dificultando a nacional por um marco regulatório ou
EMPRESAS BRASILEIRAS NO MUNDO credibilidade do discurso oficial bra- ético, tudo leva a crer que suas postu-
Quantidade de empresas por ramo, em 2014
14
sileiro preocupado com um desenvol- ras se assemelhem às de outras empre-
12
vimento mais justo e equitativo. Na sas globalizadas, no marco do sistema
10 América do Sul, a ação da Petrobras na internacional cuja economia política é
8 Bolívia e da Odebrecht no Equa- o próprio capitalismo.
6 dor (ambas com financiamento
4 por par te do BNDES) foi critica-
2 da pela opinião pública e pelo governo VEJA TAMBÉM:
de ambos os países. A ação da Vale no Relações com os EUA p. 18
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Desenvolvimento e industrialização p. 20
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Ci on
e movimentos
nacionalização e um amplo leque de
dinâmicas de cooperação e formas
de expressar o conflito social. Alguns,
mais centralizados, operam princi-
sociais
palmente por coalizões estratégicas e
mobilizando expertises setoriais; em
outros, mais policêntricos, primam os
laços de afinidade e a tradução de ex-
periências vividas no cotidiano na for-
mação de opinião, demandas, agendas
e formas de ação.
Há algumas décadas assiste-se a uma recentemente, os diferentes protestos
crescente complexidade da política pelo mundo forjaram uma geopolíti- Pensando em tipologias, alguns ato-
transnacional e do ativismo além-fron- ca global das redes. Nesse novo cená- res sociais, mais próximos ao Itamaraty,
teiras. A emergência e a rearticula- rio, são cada vez mais numerosos os aos governos e às instituições, buscam
ção de atores sociais atuando, muitas movimentos sociais que geraram alian- influenciar a regulação de governos e
vezes concomitantemente, em dife- ças, agendas e campos de atuação di- dos regimes de informação, maior par-
rentes escalas (do local ao global, pas- versos, bem como variadas formas de ticipação na decisão de questões im-
sando pelo nacional e regional) são incidência política, muitas das quais portantes para o futuro do país ou a
hoje uma realidade. Redefinem-se as impactam, direta ou indiretamente, reforma de políticas. Outros, mais
solidariedades transnacionais. Os mo- nas políticas externas dos Estados. orientados à ruptura do que ao diálo-
vimentos anti/alterglobalização, as go, e normalmente com menor pro-
organizações transnacionais de advo- O caso brasileiro é paradigmático. Com ximidade das instâncias decisórias da
cacy, o movimento zapatista ou, mais uma sociedade civil ativa, ramificada diplomacia brasileira, incidem na po-
lítica externa de maneira mais exógena
e indireta, com ações que visibilizam
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NA ONU contradições da atuação externa bra-
Quantidade de Organizações Não Governamentais com status consultivo na ONU, entre 1946 e 2012
sileira. O gráfico sobre a evolução da
23 ONG brasileiras tiveram status consultivo na ONU, entre 1946 e 2012 participação das organizações não go-
3 637 ONG tiveram status consultivo na ONU, no total, entre 1946 e 2012 vernamentais brasileiras com status
consultivo na ONU e o mapa sobre o
300 Fórum Social Mundial assinalam dois
padrões distintos dentro de uma diver-
sidade ainda maior de atores e formas
de internacionalização das organiza-
200
ções e dos movimentos sociais.
51
56
61
66
71
76
81
86
91
96
01
06
12
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
20
20
Mundial
1000 km
Regional impacto na configuração das agendas.
*Não estão representados todos
Temático
os FSM temáticos No entanto, é essencial também a cria-
Fonte: Sítio web do Fórum Social Mundial, 2014. ção de vínculos com a cidadania e os
72 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a
ATORES E AGENDAS
Agronegócio p. 28 0,4
Labmundo, 2014
at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a 73
Atores religiosos Unidos. No ano de 2010, estimavam-
se em 34 mil o número de cristãos
brasileiros que partiram em missão re-
ligiosa para o exterior, um aumento de
70% em comparação com os valores do
ano 2000. Com o declínio da Europa
e a estagnação dos Estados Unidos, au-
menta a importância dos países do Sul
no total de cristãos no mundo, em es-
pecial na África e na Ásia. Nitidamen-
te a nova fronteira de expansão para o
cristianismo está hoje nos países em
desenvolvimento.
RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA
Internacionalização desde os anos 1950
Em estudo de 2013, o total de missio-
nários católicos brasileiros no exterior
Reafricanização
IORUBALÂNDIA para aquele ano teria sido de 1829, sen-
do as mulheres mais de 80% do total.
Influência na abertura de terreiros
em países da América do Sul Os destinos mais comuns seriam Áfri-
ca, América do Sul e Europa. A Igreja
católica estimula esse movimento por
meio do Conselho Missionário Na-
cional (Comina) e do Centro Cultural
Missionário, em Brasília, que realizam
Rio de Janeiro
500 km
cursos de capacitação para atuação
Fronteiras que são portas
de entrada para além-fronteiras. Os grupos evangéli-
ARGENTINA a influência religiosa:
cos também têm experiência missio-
Labmundo, 2014
Rio Grande Uruguaiana / Paso de los Libres
do Sul
Santana do Livramento / Riviera
nária de grande impacto nas relações
URUGUAI internacionais. Mais de 70 deles evan-
Fontes: Banaggia, 2008; Melo, 2008; Bem, 2012. gelizam fora do Brasil. Sua presença no
exterior associa práticas de evangeliza-
ção de estrangeiros e assistência a brasi-
Os movimentos religiosos brasileiros Grupos missionários estrangeiros atu- leiros, contando com uma grande rede
desenvolvem-se por meio de redes di- am há décadas no Brasil, como alguns midiática de rádios, canais de televisão,
nâmicas de interações internacionais grupos evangélicos norte-americanos. livros e jornais. A IURD, em especial,
que vão muito além dos laços hie- Missionários presbiterianos agem no realiza ações humanitárias no exterior,
rárquicos com suas sedes no exterior Brasil desde o século XIX, e mesmo principalmente na África, onde distri-
(como ocorre com o Vaticano para os antes houve experiências isoladas de bui alimentos e preservativos no com-
católicos). No caso das religiões cristãs, protestantes, como os calvinistas fran- bate à AIDS. Países africanos de língua
participam ativamente de movimen- ceses que ocuparam o Maranhão e o portuguesa vivem um fenômeno re-
tos missionários e também buscam Rio de Janeiro ainda no século XVI cente de conversão religiosa de parcela
evangelizar além-fronteiras e ganhar ou os holandeses na costa do Nordes- de sua população de práticas católi-
novos adeptos, gerando desafios e con- te no século XVII. Ainda assim, um fe- cas para cultos evangélicos. Em maio
tradições para a política externa. Se nômeno religioso dos mais influentes de 2013, o governo angolano baniu a
as doutrinas espirituais contemporâ- no panorama global é o missionaris- maioria das igrejas evangélicas brasi-
neas são eminentemente universalis- mo realizado por brasileiros. Trata-se leiras de atuarem no país. Foram acu-
tas (qualquer um poderia fazer parte de um fenômeno que tradicionalmen- sadas de ser um “negócio” e praticar
de qualquer religião), as práticas reli- te fora empreendido por católicos, mas “propaganda enganosa”. A única reco-
giosas têm relações particulares com que vem sendo superado em volume nhecida pelo Estado foi a IURD, que
identidades étnicas e nacionais, clas- por grupos evangélicos. O Brasil é hoje funciona sob fiscalização de vários
ses sociais e outros elementos, como o segundo maior emissor de missioná- ministérios. Ela tinha em Angola 230
idade, sexo e contexto rural ou urba- rios do mundo, só atrás dos Estados templos e aproximadamente 500 mil
no. Portanto, características demográ-
ficas atuam decisivamente não só no
perfil do grupo dos fiéis, mas também MISSIONARISMO
nas estratégias de atuação de seus líde- Principais países de origem, em 2010 Principais países de destino, em 2010
res na manutenção da comunidade e Estados Unidos 127.000 Estados Unidos 32.400
na atração de novos seguidores. Assim,
Brasil 20.000
deve-se considerar que uma parte dos Brasil 34.000
de suas comunidades, mas esse proces- Itália 20000 África do Sul 12.000
74 at l a s d a p o l í t i c a e x t e r n a b r a s i