1. Desenhar uma balança, ou algo que indique oposição.
Colocar meu nome no quadro e
dizer que vou contar para eles alguns fatos sobre mim. Aproveitar essa deixa para falar sobre o quanto pode ser ideológico apresentar primeiro a informação negativa ou primeiro a informação positiva e partir para os tais fatos: a. Negativos: i. Eu não sei grego. ii. Eu não tenho a mesma espontaneidade do professor Márcio. iii. Eu não faço piadas pornográficas. b. Positivos: i. Eu sei inglês e uma frase em francês: "Je ne sais pas", que significa "eu não sei". Sei também dizer "bom dia" em japonês, "Ohayô" ii. Eu escrevi um livro, e tenho um blog no qual escrevo, apesar de estar meio desatualizado. iii. Eu não faço piadas pornográficas. 2. Esse mesmo um e único fato da troca de professores poderia, assim, ser interpretado de duas formas diferentes. É aqui que a gente retoma o que o professor Márcio explicou na última aula: Aristóteles, discípulo de Platão, aprendeu muito do que o mestre dele ensinava, porém, em relação a alguns temas, tinha uma visão bastante diferente. 3. Por exemplo, enquanto Platão acreditava que tudo tinha origem no "mundo das ideias", Aristóteles acreditava que a origem de tudo era o nosso "mundo sensorial". O homem, assim, perceberia a necessidade de alguma coisa, usaria seu conhecimento para desenvolver tal coisa e apenas nesse momento surgia o conceito de tal coisa. Por exemplo, se para Platão a ideia de cadeira vem do mundo das ideias, onde o artesão a busca, para Aristóteles a cadeira surgiu a partir da necessidade humana de se sentar confortavelmente a um nível mais alto que o do chão, para se alimentar, por exemplo. 4. Essa oposição é uma espécie de oposição entre o pensamento teocêntrico e o antropocêntrico.
TÓPICO 2: AULA SOBRE A POÉTICA, DE ARISTÓTELES
Conceitos fundamentais: 1 . Fábula (mito, ações), catarse (temor e piedade, pena, no público), verossimilhança (não imita o real, mas representa algo, (interna e externa), necessidade (1.tudo concatenado e 2.só o estritamente necessário e 3. Não um após, mas por causa do outro), busca da essência (não o todo, mas o essencial, o que me ensina sobre o modelo real, o que não se perde nas minúcias e multiplicidades do acontecimento real, caso da escrita da história; assim, literatura está mais próxima da filosofia do que da história); 2 . O mito (fábula, ação) como a parte mais importante da tragédia (em outras palavras, o caráter é elevado, por natureza, contrário às comédias; os personagens são míticos, sua queda depende não de seu caráter ou de jogos psicológicos que criam personagens complexos, mas das ações que os levam a consumar o que estava preestabelecido, embora haja a participação dos homens em seu infortúnio, pela falha trágica que depende de uma hybris, fraqueza: no caso de Édipo, ele é colérico, desconfiado, impetuoso, sem deixar de ser um bom Rei, amigo, astuto, inteligente, decifrador do enigma da esfinge, e tentar fugir a seu destino por amor aos pais, etc. Mas ele não sabe do que realiza, ele não tem consciência, o que o diferencia daquele personagem que aprende com seus erros, etc. Ele aceita seu destino, ao final, e será perdoado depois, em Édipo em Colono, pelos deuses, mas sua queda depende de suas ações, portanto, e é isso que provoca temor e piedade: temor por poder acontecer a um de nós, e piedade por ele ser eminentemente bom; 3. “O critério do verossímil, que merecera a crítica de Platão por ser apenas ilusão de verdade (chafurda na lama, imagem, abaixo do mundo das coisas e do senso comum), torna-se, com Aristóteles, o princípio que garante a autonomia da arte mimética”. Ou seja, ela não depende de “imitar” um referencial externo e ser julgado de acordo com a utilidade desse referencial (mesa, governo de cidades, coragem), mas precisa ter coerência interna; 4: Mímesis: para Aristóteles, a obra de arte tem estrutura e forma própria, é uma representação da essência dos homens e de suas ações e dos conceitos, que visam a essência dessas coisas, com o que se aprende, ao se reconhecer, “isso é aquilo”, não por ser igual, idêntico e manipulável, como queria Platão, mas por ser construído de modo a explicitar o que é a sua parte essencial; p. ex, não tudo o que acontece a um homem, mas só aquilo que explicita, expressa, expõe o que ele pensa e sente, não tudo. E não precisa mesmo ter acontecido, antes precisa ser verossímil (ser possível e plausível) e necessário (encadeamento lógico e nunca acidental) para falar de algo. Isso é, em outras palavras, um formalismo, suas partes devem ser coerentes. 5 . E é um bom formalismo, A)pois não se fecha sobre a obra como se nada existisse além dela, antes exige que toque a essência de algo (1) para alguém, que a assiste(2); B), pois não é uma camisa de força que cobra das peças sempre a mesma coisa, ou seja, não é normativa, mas sobretudo descritiva, bastando lembrar que ela está vincada em Édipo Rei; a forma diz algo sobre o mundo, está inserida nele e é vista sob esse prisma; tem que gerar conhecimento, há objetivos claros (produção da catarse); Agora, vamos ao texto, pois até aqui são as conseqüências para a teoria literária contemporânea: Jaime Bruna: 1 . p. 19-21: Epopéia, tragédia, comédia, lírica (ditirambos, citarística) são imitações, mas imitam: a . por meios diferentes: ritmo, canto (linguagem) e metro (harmonia, etc), pintura, etc b . por objetos diferentes (homens melhores (epopéia e trag.), piores (comédia) e iguais a nós; c . de modos diversos: narrativa (quer com um personagem, como Homero, quer em primeira pessoa: mas sempre narrativa) seja deixando as personagens imitadas tudo fazer, agindo. - não basta escrever em versos para ser poeta, o objeto vale mais; ex. da medicina; 2 . p. 21-22: Por quê poesia, ou arte? A . Imitar é congênito no homem, trazendo os primeiros conhecimentos, dando prazer, mesmo daquilo que não gostaria de ver na realidade; B . Aprender é sumamente agradável não só aos filósofos; a vista das imagens provoca prazer pois quem a contempla aprende e identifica os originais: “esse é fulano”; C. se não o viu antes, não será como representação (de alguém ou algo), senão pela execução, ou pelo colorido, ou por alguma causa semelhante. Alexandre: aqui tem algo fundamental, pois a aprendizagem pode vir tanto da representação de algo externo (verossimilhança externa, alguém ou algo), que, veremos depois, não precisa ser idêntico, mas antes aspirar à essência das coisas e pessoas, mas também pelo estilo, pela forma, em suas palavras, pela execução, pelas cores, ou o colorido do estilo, aqui já pensando na verossimilhança interna, das partes que se relacional e trazem algum sentido, expressam uma emoção, sem se fiarem necessariamente nalgum referente externo: a autonomia da obra de arte, que é relativa sempre, embora definitiva para qualquer conceito de arte, tem suas bases epistemológicas aqui. - Ésquilo: de um para dois atores, menos coro, diálogo como primazia; três atores e cenário, Sófocles; tetrâmetro trocaico (longa e breve) se torna jâmbico (breve e longa); 3. p. 23-24: Comédia, tragédia e poesia épica Comicidade como defeito ou feiúra sem dor ou destruição; exemplo é a máscara cômica; pouco se sabe a respeito das transformações por que passou a comédia, diferente da tragédia, por não ter gozado de estima desde o começo. Demorou para o arconte ceder um coro (oficial, portanto) para a comédia; eram voluntários; Poesia épica e tragédia: imitação metrificada de seres superiores; aquela em metro uniforme, narrativa e extensa; a tragédia não passa de uma revolução solar; todas as partes da poesia épica estão na tragédia, que tem partes que a outra não tem, como canto e espetáculo; 4. p. 24-25: O que é a tragédia e quais as suas partes constituintes, e o mais importante A . A tragédia é a representação (1) de uma ação (2) grave (3), de alguma extensão (4) e completa (5), em linguagem exornada (6) cada parte com o seu atavio adequado, com atores agindo, não narrando (7), a qual, inspirando pena e temor, opera a catarse própria dessas emoções(8). Alexandre: Como lembra Rosenfeld, e o coro, que é um elemento narrativo, onde vai parar? Desprezado por Aristóteles nessa definição. Também o fato das tragédias serem escritas para uma classe aristocrática, com seus valores e dúvidas, disputa entre homens e deuses e entre a lei dos homens e a lei dos deuses, isso fica de lado. B. Partes da tragédia Fábula (mito, ações), caracteres, falas (elocução), idéias (pensamento), espetáculo e canto (melopéia – canto coral). Objeto: fábula, caracteres e idéias; Meios são fala e canto; modo é o espetáculo; Fábula é a reunião das ações; caráter é a moral (boa ou ruim), as qualidades, das pessoas em ação; idéias são os pensamentos, a lógica que vai na cabeça dos personagens; as falas são a maneira como expressam as idéias e o caráter em uma dada situação; C. p. 26-7: O mais importante é a fábula, as ações, pois a tragédia não é a imitação de homens, mas de ações e da vida; não agem para imitar caracteres, mas assumem caracteres para efetuar as ações; Segundo o caráter, as pessoas são tais ou tais, mas é segundo as ações que são felizes ou infelizes; as ações e a fábula são a finalidade da tragédia, e em tudo a finalidade é o que mais importa; os meios de fascinação das tragédias são partes da fábula, as peripécias e os reconhecimentos (e a catástrofe, também): EU: a tragédia depende de uma mudança de estado, de afortunado para desafortunado, um destino, e isso não depende do caráter, mas da ação; não é o desenho psicológico que importa, nesse momento; Depois vem os caracteres: caráter é aquilo que mostra a escolha numa situação dúbia: aceitação ou recusa – por isso, não há caráter nas palavras quando não se decide nada. Depois as idéias, capacidade de exprimir aquilo contido na ação: discursos da política e retórica; Daí vem a fala, a interpretação por meio de palavras; O canto é o maior dos ornamentos. O espetáculo, embora fascinante, é o menos artístico e mais alheio à Poética; pois o efeito subsiste sem a representação ou atores, doutro que o contra-regras é mais importante que o autor. D. p. 26-7: tragédia é a imitação de uma ação acabada e inteira, de alguma extensão. Inteira: começo, meio e fim. (...) O belo reside na extensão e na ordem. Unidade: não ter apenas um herói, pois a uma pessoa ocorrem coisas sem unidade (ex.: come, bebe, fica alegre, triste, etc); se se suprimir algo da tragédia, a unidade será transtornada. Tempo suficiente para as ações, umas após as outras, conforme a vero e Nec, dar o transe da feliz à infeliz, ou vice-versa. E. p. 28. Daí verossimilhança, não o que aconteceu, mas o que podia acontecer, possíveis da verossimilhança (provável) e da necessidade (lógica); F. p. 28: poesia e história: o que poderia acontecer x o que aconteceu; a poesia enuncia verdades gerais, esta relata fatos particulares; Poesia é mais filosófica que a história, portanto; Enunciar verdades gerais é dizer que tipo de coisas um indivíduo de natureza tal vem a dizer ou fazer verossímil e necessariamente; As pessoas não precisam ter existido, podem ser fictícias; e os mitos podem ser alterados, desde que não percam sua natureza; Poeta é mais um fabulador do que um versificador; e procura causar temor e pena, e isso se consegue melhor se as ações estão encadeadas, tem um sentido; não apenas como episódios isolados, um depois do outro, mas um por causa do outro; G.: Mitos complexos: peripécia (viravolta das ações em sentido contrário: mensageiro do Édipo) e reconhecimento (mudança do desconhecimento ao conhecimento) O mais belo reconhecimento é o que ocorre junto com a peripécia, como no Édipo, pois aí surge terror e piedade, e a tragédia é imitação de ações que despertam tais sentimentos. H.: terceira parte do mito é o patético (Pathos, piedade, dó, compaixão, tristeza, etc, e a catástrofe); ação que produz destruição ou sofrimento, como mortes em cena, dores cruciantes, ferimentos e ocorrências desse gênero. I.: partes em que se divide a tragédia (quebra o itinerário que vem seguindo): prólogo (parte completa, antes de entrar o coro), episódio (parte completa entre dois corais), êxodo (parte completa, depois da qual não vem coro), coral – dividido em párodo e estásimo. Não tão relevante para nós, apenas para mostrar que já é uma forma quase fixa; p. 32: J.: O herói trágico: não honesto que vão de felizes a infortunados (provoca indignação), nem os sem-valor que vão do infortúnio à felicidade (não provoca nem simpatia, nem pena, nem temor), nem o perverso indo da felicidade ao infortúnio (simpatia ok, mas não pena ou temor); é preciso que haja infortúnio não merecido (pena) e com alguém semelhante a nós (temor); resta o herói em situação intermediária, que não se distingue pela virtude ou justiça (ou seja, não é perfeito), nem cai no infortúnio em conseqüência de vício e maldade, senão de algum erro, figurando entre aqueles que desfrutam grande prestígio e prosperidade; p. ex., Édipo.