Pelo trecho anterior, percebemos que Manoel não acredita que os elementos
merecedores de atenção literária (e mais especificamente poética) tenham que levar a algum
lugar ou guardar algum sentido especial, oculto. No mesmo poema, que trata de enumerar
exemplos daquilo que é “matéria de poesia”, aparecem “o homem que possui um pente”,
“uma árvore”, “terreno de 10x20”, “chevrolé gosmento”.
Segundo Santos (2013), para além do conjunto temático, “a poesia de Manoel de
Barros destaca-se, fundamentalmente, por duas grandes características que a demarcam
estética e estilisticamente e que a colocam em movimento: a grande força imagética e a
presença constante da reflexão acerca do ser e do fazer da própria poesia”. É por meio do
jogo de imagens (e de palavras antitéticas) que o poeta fala sobre o que é ser artista, o que é
fazer poesia.
Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria.
BARROS, Manoel. Livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.