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ESTABELECENDO UM DIÁLOGO

SOBRE RISCOS DE
CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE


Catalogado pela bliblioteca da OMS

Estabelecendo um diálogo sobre riscos de campos eletromagnéticos.

1.Campos Eletromagnéticos efeitos adversos 2.Risco 3.Avaliação de riscos - métodos 4.Gerenciamento


de risco - métodos 5.Comunicação 6.Exposição a riscos ambientais 7. Orientações

ISBN 92 4 154571 2 (NLM/LC Classificação: Qt34)

"This work was originally published by the World Health Organization in English as Establishing a Dialogue on Risks from
Electromagnetic Fields, in 2002. This Portuguese translation was arranged by the Electrical Energy Research Center
(CEPEL), Brazil, who are responsible for the accuracy of the translation. In case of any discrepancies, the original language
will govern. The WHO EMF Project would like to thank Dr Hamilton Moss Souza, Dr Hortêncio Borges and Dr Tarcísio
Cunha for this translation."
“Este trabalho foi originalmente publicado em Inglês pela Organização Mundial de Saúde, como Estabelecendo um
Diálogo Sobre Riscos de Campos Eletromagnéticos, em 2002. Esta tradução para o Português foi provedenciada pelo
Centro de Pesquisas em Energia Elétrica (CEPEL), Brasil, que é responsável pela acurácia da tradução. No caso de
quaisquer discrepâncias, a linguagem original prevalecerá. O Projeto CEM da OMS gostaria de agradecer ao Dr. Hamilton
Moss de Souza, ao Dr. Hortêncio Borges e ao Dr. Tarcísio Cunha por esta tradução."

© Organização Mundial de Saúde 2002


Todos direitos reservados. Publicações da Organização Mundial de Saúde podem ser obtidas no setor de Marketing e
Disseminação, Organização Mundial de Saúde, 20 Avenida Appia, 1211 Genebra 27, Suíça (tel: +41 22 791 2476; fax:
+41 22 791 4857; email: bookorders@who.int). Pedidos de permissão para reproduzir ou traduzir publicações da OMS
seja para venda ou para distribuição não comercial devem ser enviados para Publicações, no endereço acima (fax: +41
22 791 4806; email: permissions@who.int).
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contém uma coletânea de artigos de um grupo internacional de especialistas e não necessariamente representa as
decisões da Organização Mundial De Saúde.
Desenhado por rsdesigns.com. Datilografado e impresso na Suíça.
ESTABELECENDO UM DIÁLOGO
SOBRE RISCOS DE
CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

RADIAÇÃO E SAÚDE AMBIENTAL


DEPARTAMENTO DE PROTEÇÃO DO AMBIENTE HUMANO
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE
GENEBRA - SUIÇA
2002
VERSÃO BRASILEIRA
TRADUÇÃO:
HORTENCIO A. BORGES
Professor Associado - Departamento de Física PUC-Rio - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

REVISÃO:
HAMILTON MOSS DE SOUZA Pesquisador CEPEL- Centro de Pesquisa de Energia Elétrica
TARCÍSIO CUNHA Consultor M S - Ministério da Saúde

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA:
BRUNO MONTEZANO
RICARDO DUTRA

AGRADECIMENTOS
A OMS agradece a todos os indivíduos que contribuíram para este manual, que foi iniciado por duas conferências:
Risk Perception, Risk Communication and its Application to Electromagnetic Field Exposure, organizada pela
OMS e pela International Commission for Non-Ionizing Radiation Protection (ICNIRP), em Viena, Austria
(1997); e Electromagnetic Fields Risk Perception and Communication, organizada pela OMS em Otawa, Canadá,
(1998). Encontros de Grupos de Trabalho foram realizadas para finalizar a publicação em Genebra (1999, 2001) e
em Nova Iorque (2000).

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS SÃO DEVIDOS AOS QUE ESBOÇARAM AS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES PARA ESTE DOCUMENTO
+ Dr Patricia Bonner, Environmental Protection Agency,Washington,DC,USA
+ Professor Ray Kemp, Galson Sciences Ltd.,Oakham,United Kingdom
+ Dr Leeka Kheifets, WHO, Geneva, Switzerland
+ Dr Christopher Portier, National Institute of Environmental Health Sciences, North Carolina, USA
+ Dr Michael Repacholi, WHO ,Geneva, Switzerland
+ Dr Jack Sahl, J. Sahl & Associates, Claremont, California, USA
+ Dr Emilie van Deventer, WHO, Geneva, Switzerland
+ Dr Evi Vogel, Bavarian Ministry for Regional Development and Environmental Affairs, Munich,
Germany and WHO, Geneva, Switzerland
ESTAMOS AINDA EM DÉBITO COM AS SEGUINTES PESSOAS PELOS SEUS VALIOSOS COMENTÁRIOS
+ Dr William H. Bailey, Exponent Health Group, New York, New York, USA
+ Dr Ulf Bergqvist, University of Linköping, Linköping, Sweden (†)
+ Dr Caron Chess, Rutgers University, New Brunswick, New Jersey, USA
+ Mr Michael Dolan, Federation of the Electronics Industry, London, United Kingdom
+ Dr Marilyn Fingerhut, WHO, Geneva, Switzerland
+ Mr Matt Gillen, National Institute of Occupational Safety and Health,Washington, DC, USA
+ Dr Gordon Hester, Electric Power Research Institute, Palo Alto, California, USA
+ Ms Shaiela Kandel, Ministry of the Environment, Israel
+ Dr Holger Kastenholz, Centre for Technology Assessment, Stuttgart, Germany
+ Dr Alastair McKinlay, National Radiological Protection Board, UK
+ Dr Tom McManus, Department of Public Enterprise, Dublin, Ireland
+ Dr Vlasta Mercier, Swiss Federal Office of Public Health, Bern, Switzerland
+ Mr Holger Schütz, Research Centre Jülich, Germany
+ Dr Daniel Wartenberg, Rutgers University, New Brunswick, New Jersey, USA
+ Dr Mary Wolfe, National Institute of Environmental Health Sciences, North Carolina, USA
O financiamento foi gentilmente oferecido pela OMS, Departamento de Proteção do Ambiente Humano, pelo
Ministério da Saúde da Áustria, pelo Ministério do Meio Ambiente da Alemanha, Conservação da Natureza e
Segurança Nuclear, pelo Ministério para o Desenvolvimento Regional e Assuntos Ambientais da Bavária na
Alemanha, e pelo Instituto Nacional das Ciências de Saúde Ambiental dos EUA.

CRÉDITOS DAS FOTOS


. Agência France Presse (p.52, última) . Getty Images (p.26) . Narda Safety Test Solutions GmbH
(p.52, topo) . Photospin (pp. vi,viii, xii, 8, 10, 50) . Photodisc (pp.2, 18, 58) . UK National Radiological
Protection Board (pp.2, 4, 6, 22)
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ii
PREFÁCIO vii

1
CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS E SAÚDE PÚBLICA 1
A EVIDÊNCIA ATUAL
O que acontece quando alguém é exposto a campos eletromagnéticos? 3
Efeitos biológicos e efeitos sobre a saúde 4
Conclusões das Pesquisas científicas 5

2
COMUNICAÇÃO DE RISCO EM CEM 9
LIDANDO COM A PERCEPÇÃO PÚBLICA
Determinantes múltiplos da questão do risco em CEM 11
Como o risco é percebido? 15
A necessidade da comunicação de risco 19
Gerenciando a comunicação de risco em CEM 23

????
QUANDO COMUNICAR 24
COM QUEM COMUNICAR 29
O QUE COMUNICAR 33
COMO COMUNICAR 43

3
DIRETRIZES E POLÍTICAS RELATIVAS À EXPOSIÇÃO 51
A SITUAÇÃO ATUAL
Quem decide sobre as diretrizes? 51
Em que se baseiam as diretrizes? 51
Por que se aplica um fator de redução maior para as diretrizes de exposição ao público? 53
Abordagens preventivas e o Princípio da Precaução 55
Abordagens científicas e abordagens preventivas para CEM 55
O que está fazendo a Organização Mundial de Saúde? 57

GLOSSÁRIO 60
LEITURA COMPLEMENTAR 64
PREFÁCIO

A preocupação pública com os possíveis efeitos boas aptidões para comunicação e o


sobre a saúde dos campos eletromagnéticos julgamento adequado nas áreas de
(CEM) levou à preparação desse manual. Os gerência e regulamentação. Isso será
riscos potenciais da exposição aos CEM sempre verdade em qualquer
devidos a instalações como linhas de contexto, seja local, regional ou
transmissão e estações radio-base de telefonia mesmo nacional ou global.
celular móvel representam um difícil conjunto
de desafios para os tomadores de decisão. Os PORQUE UM DIÁLOGO?
desafios incluem determinar se existe ameaça Muitos governos e organizações
na exposição aos CEM e qual o impacto privadas aprenderam uma lição
potencial sobre a saúde, isto é, avaliação de fundamental, embora por vezes
risco; reconhecer as razões que levam à dolorosa: a de que é perigoso assumir
preocupação por parte do público, isto é, que as comunidades afetadas não
percepção de risco; e implementar políticas desejam, ou que são incapazes de dar
que protejam a saúde pública e respondam às contribuições significativas às
preocupações do público, isto é, gerência de decisões sobre o assentamento de
risco. Responder a esses desafios requer o novas instalações geradoras de CEM,
envolvimento de indivíduos ou organizações ou de aprovar novas tecnologias
com o conjunto correto de competências, antes do seu uso. É, portanto, crucial
combinando a expertise científica relevante, estabelecer um diálogo entre todos os

vii
ESTABELECENDO UM DIÁLOGO SOBRE RISCOS DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

indivíduos e grupos afetados pelas questões entendidos e da ampliação da confiança via


relacionadas. Os ingredientes para um um melhor diálogo. O diálogo com a
diálogo eficaz incluem a consulta entre os comunidade quando implementado com
envolvidos, a aceitação da incerteza sucesso ajuda a estabelecer um processo de
científica, a consideração de alternativas, e tomada de decisões que seja aberto,
um processo de tomada de decisões justo e consistente, justo, e previsível. Pode ainda
transparente. A falha em concretizar esses ajudar a atingir a aprovação de novas
passos pode resultar na perda de confiança e instalações dentro de prazos aceitáveis, ao
na tomada de decisão incorreta, bem como mesmo tempo em que protege a saúde e a
em atrasos de projetos e custos aumentados. segurança da comunidade.

Espera-se que muitos outros agentes


públicos, grupos privados e organizações
não-governamentais também considerem
QUEM PRECISA DESSE MANUAL? tais informações úteis. Esse guia pode
Esse manual é dirigido a apoiar tomadores ajudar o público em geral em sua
de decisão que têm de enfrentar uma interação com agências governamentais
combinação de controvérsia pública, que regulam a saúde ambiental, e com
incerteza científica, e a necessidade de empresas cujas instalações possam ser
operar instalações existentes e/ou a objeto de preocupação. Referências e
obrigação de definir a localização de novas sugestões para leituras complementares
instalações de maneira adequada. Sua meta são dadas, ao final do documento, para o
é melhorar o processo de tomada de leitor desejoso de informações mais
decisões através da redução de mal- aprofundadas.

viii
CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS E SAÚDE PÚBLICA
A EVIDÊNCIA ATUAL

Campos eletromagnéticos (CEM) ocorrem na


natureza e sempre estiveram presentes na Terra.
Entretanto, durante o século vinte, a exposição
ambiental a fontes de CEM criadas pelo homem
aumentaram consistentemente devido à demanda
1
eletrodomésticos e computadores, e
campos de altas-freqüências ou de
radiofreqüências, para os quais as fontes
principais são radares, instalações de
emissoras de rádio e televisão, telefones
por energia elétrica, tecnologias sem-fio em móveis e suas estações rádio-base,
permanente evolução tecnológica e mudanças em aquecedores de indução e dispositivos
práticas profissionais e comportamento social. anti-roubo.
Todos estão expostos a uma mistura complexa de
Ao contrário da radiação ionizante (tais
campos elétricos e magnéticos em muitas
como raios gama emitidos por
freqüências diferentes, em casa ou no trabalho.
materiais radioativos, raios cósmicos e
Efeitos potenciais de CEM gerados pelo homem raios-X) que ocupa a parte superior do
sobre a saúde têm sido tópicos de interesse espectro eletromagnético, os CEM são
científico desde o final do século dezenove, e têm demasiado fracos para quebrar as
recebido atenção especial ao longo dos últimos ligações que mantêm as moléculas
trinta anos. CEM podem ser divididos, de maneira ligadas em células e, portanto, não
geral, entre campos elétricos e magnéticos podem produzir ionização. É por essa
estáticos e de baixas-freqüências, onde as fontes razão que CEM são chamados de
comuns incluem linhas de transmissão, aparelhos 'radiações não-ionizantes' (RNI).

1
FIGURE 1. THE ELECTROMAGNETIC SPECTRUM
ESTABELECENDO UM DIÁLOGO SOBRE RISCOS DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

A figura 1 mostra a posição relativa das RNI no campos são parcialmente absorvidos e
espectro eletromagnético mais amplo. penetram apenas em uma pequena
Radiações infravermelhas, ultravioletas, e profundidade no tecido.
ionizantes não serão mais consideradas neste
Campos elétricos de baixas-freqüências
manual.
influenciam a distribuição de cargas
elétricas na superfície dos tecidos
condutores e causam um fluxo de corrente
O QUE ACONTECE QUANDO ALGUÉM É EXPOSTO
elétrica no corpo (Fig. 2A). Campos
A CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS?
magnéticos de baixas-freqüências induzem
Correntes elétricas existem naturalmente no correntes circulantes dentro do corpo
corpo humano e são partes essenciais das humano (Fig. 2B). A intensidade dessas
funções corporais normais. Todos os nervos correntes induzidas depende da
enviam sinais via a transmissão de impulsos intensidade do campo magnético externo e
elétricos. A maioria das reações bioquímicas, do comprimento do percurso através do
desde aquelas associadas com a digestão até as qual a corrente flui. Quando
envolvidas com a atividade cerebral, envolve suficientemente intensas essas correntes
processos elétricos. podem causar o estímulo de nervos e
músculos.
Os efeitos da exposição externa do corpo
humano e de suas células aos CEM Em radiofreqüências (RF), os campos
dependem principalmente de sua freqüência penetram somente uma pequena distância
e de sua magnitude ou intensidade. A dentro do corpo. A energia desses campos
freqüência simplesmente descreve o número é absorvida e transformada em movimento
de oscilações ou ciclos por segundo. A baixas das moléculas. A fricção entre moléculas em
freqüências, CEM atravessam o corpo movimento rápido resulta em um aumento
enquanto que em radiofreqüências os da temperatura. Esse efeito é usado em

3
ESTABELECENDO UM DIÁLOGO SOBRE RISCOS DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

aplicações domésticas como o aquecimento de quais as pessoas estão normalmente expostas


comida em fornos de micro-ondas, e em nosso ambiente são muito inferiores aos
industriais, como na soldagem de plásticos ou necessários para a produção de um
aquecimento de metais. Os níveis de RF aos aquecimento significativo.

EFEITOS BIOLÓGICOS E
EFEITOS SOBRE A SAÚDE
Efeitos biológicos são respostas mensuráveis
de organismos ou células a um estímulo ou a
uma mudança no ambiente. Tais respostas,
como um ritmo cardíaco aumentado após
beber café ou ter dificuldade para dormir
numa sala abafada, não são necessariamente
danosas à saúde. Reações a mudanças no
ambiente são parte normal da vida. No
entanto, o corpo pode não possuir
mecanismos de compensação adequados para
mitigar todas as mudanças ou pressões
ambientais. A exposição ambiental
prolongada, mesmo que não muito intensa,
pode constituir uma ameaça se dela resultar
fadiga. Em seres humanos um efeito adverso
à saúde resulta de um efeito biológico que
cause um agravo detectável na saúde ou bem-
estar dos indivíduos expostos.

4
ESTABELECENDO UM DIÁLOGO SOBRE RISCOS DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

A observância dos limites de exposição relacionados com a carcinogenicidade de


recomendados nas regulamentações campos elétricos e magnéticos estáticos e de
nacionais e internacionais ajuda a controlar freqüências extremamente baixas (ELF).
os riscos das exposições a CEM que possam Usando a classificação padrão da IARC que
ser prejudiciais à saúde humana. O debate pondera as evidências humanas, animais e de
atual está centrado em saber se a exposição laboratório, campos magnéticos ELF foram
durante longos períodos em níveis abaixo classificados como possivelmente
dos limites de exposição pode causar efeitos carcinogênicos para humanos com base em
adversos à saúde ou influenciar o bem-estar estudos epidemiológicos de leucemia infantil.
das pessoas. Um exemplo de um bem-conhecido agente,
classificado na mesma categoria é o café, que
pode aumentar o risco de câncer renal, ao
CONCLUSÕES DAS PESQUISAS CIENTÍFICAS mesmo tempo em que protege contra câncer
CAMPOS DE BAIXAS-FREQÜÊNCIAS intestinal. “Possivelmente carcinogênico para
O conhecimento científico a respeito dos humanos” é uma classificação usada para
efeitos sobre a saúde devido à presença de denotar um agente para o qual existe
CEM é substancial e baseado em um grande evidência limitada de carcinogenicidade em
número de estudos epidemiológicos, em humanos e menos que suficiente evidência de
animais e in vitro. Muitos resultados para a carcinogenicidade em animais de laboratório.
saúde, desde imperfeições reprodutivas a Evidências para todos os outros tipos de
doenças cardiovasculares e câncer em crianças e adultos bem como
neurodegenerativas foram examinados, mas a outros tipos de exposição (isto é, campos
evidência mais consistente até a atualidade estáticos e campos elétricos ELF), foram
refere-se à leucemia infantil. Em 2001, um consideradas inadequadas para a mesma
grupo de trabalho integrado por peritos, classificação devido a informações científicas
constituído pela IARC (International Agency insuficientes ou inconsistentes. Embora a
for Research on Cancer) da OMS reviu estudos classificação de campos magnéticos ELF como

5
ESTABELECENDO UM DIÁLOGO SOBRE RISCOS DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

possivelmente carcinogênicos para humanos efeitos adversos à saúde. Diversos estudos


tenha sido estabelecida pela IARC, continua epidemiológicos recentes com usuários de
sendo possível que haja outras explicações para telefones móveis não encontraram evidência
a associação observada entre exposição a convincente de um aumento no risco de câncer
campos magnéticos ELF e a leucemia infantil. do cérebro. No entanto, a tecnologia ainda é
muito recente para que seja possível
desconsiderar efeitos de longo prazo.
CAMPOS DE ALTAS FREQÜÊNCIAS Aparelhos móveis e estações rádio-base
Com relação a campos de radiofreqüências, o apresentam situações de exposição bastante
balanço das evidências até o momento sugere distintas. A exposição à RF é muitas vezes mais
que a exposição a campos RF de baixas elevada para os usuários de telefones móveis
intensidades (tais como aqueles emitidos por do que para os moradores próximos a estações
telefones móveis e por suas estações radio- radio-base de telefonia celular. Fora os sinais
base) não causa efeitos adversos à saúde. infreqüentes usados para manter os links com
Alguns cientistas têm relatado efeitos menores estações próximas, os aparelhos portáteis
relacionados ao uso de telefones móveis, transmitem energia RF apenas durante a
incluindo mudanças na atividade cerebral, nos duração das chamadas. Por outro lado,
tempos de reação, e nos padrões de sono. Na estações radio-base estão continuamente
medida em que esses efeitos têm sido transmitindo sinais, enquanto os níveis aos
confirmados, eles parecem cair dentro das quais o público está exposto são extremamente
faixas normais das variações humanas. baixos, mesmo para quem mora perto.

No presente os esforços de pesquisa estão Dado o amplo uso da tecnologia, o grau de


concentrados em saber se a exposição de longo incerteza científica e os níveis de apreensão
prazo, a RF de baixa intensidade, mesmo em pública, estudos científicos rigorosos e
níveis baixos demais para causar uma elevação comunicação clara com o público são
significativa de temperatura, pode levar a necessários.

7
COMUNICAÇÃO DE RISCO DE CEM
LIDANDO COM A PERCEPÇÃO PÚBLICA

A tecnologia moderna oferece ferramentas


poderosas para estimular uma ampla gama de
benefícios à sociedade, além do desenvolvimento
econômico. No entanto, o progresso tecnológico
em seu sentido mais amplo tem sido sempre
2
interpretados por parte de um público
cada vez mais reticente.

Em todas as partes do mundo alguns


integrantes do público em geral têm
associado a ameaças e riscos, tanto os percebidos manifestado a preocupação de que a
quanto os reais. As aplicações industriais, exposição a CEM devidos a fontes
comerciais e domésticas de CEM não são como linhas de transmissão de alta
exceções. No início do século vinte as pessoas se voltagem, radares, telefones móveis e
preocupavam com a possibilidade de efeitos suas estações radio-base, poderia
sobre a saúde causados por lâmpadas levar a conseqüências adversas à
incandescentes e de campos emanados pelos fios saúde, especialmente em crianças.
nos postes conectando o sistema telefônico. Como resultado, a construção de
Nenhum efeito adverso à saúde foi identificado, e novas linhas de transmissão e redes
essas tecnologias foram gradualmente sendo de telefonia móvel tem encontrado
aceitas como parte integrante da vida normal. considerável oposição em alguns
Entender e ajustar-se a novas tecnologias países. A preocupação pública com
depende em parte de como a nova tecnologia é novas tecnologias freqüentemente
apresentada e como seus riscos e benefícios são resulta da falta de familiaridade e de

9
ESTABELECENDO UM DIÁLOGO SOBRE RISCOS DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

um senso de perigo proveniente de forças que DEFININDO RISCO


ele não pode aferir. Para tentar compreender a percepção de risco
do público, é importante distinguir uma
A história recente tem mostrado que a falta ameaça à saúde (health hazard) de um risco à
de conhecimento sobre as conseqüências à saúde (health risk). Uma ameaça pode ser um
saúde dos avanços tecnológicos pode não objeto ou conjunto de circunstâncias que
ser a única razão para a oposição social às podem potencialmente trazer dano à saúde
inovações. A desconsideração por de uma pessoa. Um risco é a probabilidade de
diferenças em percepção de risco que não que uma pessoa sofrerá um dano devido a
são adequadamente refletidas na uma ameaça em particular.
comunicação por parte dos cientistas,
AMEAÇA E RISCO
governos, indústria e o público, também
+ Dirigir um automóvel é uma ameaça potencial de
tem parcela de culpa. É por esta razão que a
dano. Dirigir um carro em alta velocidade
percepção de risco e a comunicação de risco apresenta um risco. Maior a velocidade, maior o
são aspecto principal da questão dos CEM. risco associado com dirigir.
+ Toda atividade tem um risco associado. Pode-se
Essa seção pretende fornecer a governos, reduzir o risco evitando determinadas atividades,
indústria e integrantes do público um mas não se pode eliminá-lo inteiramente. No
referencial para estabelecer e manter mundo real não existe risco zero.

comunicação efetiva sobre CEM e riscos à


saúde associados. DETERMINANTES MÚLTIPLOS DA
QUESTÃO DO RISCO DE CEM
Os cientistas avaliam risco à saúde
ponderando e estimando criticamente toda a
evidência científica de forma a desenvolver
uma avaliação de risco robusta (ver quadro,
mais à frente). O público pode realizar sua

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FIGURE 3. EVALUATING, INTERPRETING AND
REGULATING RISKS ASSOCIATED WITH EMF
ESTABELECENDO UM DIÁLOGO SOBRE RISCOS DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

própria avaliação de risco via um processo Os fatores que moldam a percepção de risco
inteiramente distinto, com freqüência não dos indivíduos incluem valores básicos sociais
baseada em informação quantificável. Em e pessoais (por exemplo, tradições, costumes)
última análise, esse risco percebido pode bem como a experiência anterior com projetos
atingir um grau de importância tão grande tecnológicos (tipo represas, usinas elétricas).
quanto à de um risco mensurável, na Esses fatores podem explicar preocupações
determinação de um investimento comercial locais, tendências ou inclinações possíveis, ou
ou de uma política governamental. agendas implícitas ou pressuposições.
FUNDAMENTOS DE AVALIAÇÃO DE RISCO Bastante atenção dedicada às dimensões
Avaliação de risco é um processo organizado usado sociais de qualquer projeto permite aos
para descrever e estimar a possibilidade de efeitos formuladores e gerenciadores de políticas
adversos à saúde, decorrentes da exposição tomar decisões fundamentadas como parte de
ambiental a um agente. um programa abrangente de gerenciamento
de risco. Como resultante, o gerenciamento de
1. Os quatro passos do processo são: risco deve levar em conta tanto o risco medido
Identificação da ameaça: a identificação de um quanto o risco percebido para que seja eficaz.
agente ou exposição potencialmente danosos (por
Figura 3.
exemplo, uma determinada substância ou fonte de
energia).
2. Avaliação de resposta à dose: a estimativa da
A identificação de problemas e a avaliação
relação entre dose ou exposição ao agente ou científica de risco desses problemas são
situação e a incidência e/ou gravidade de um efeito. passos-chave na definição de um programa
3. Avaliação da exposição: a avaliação da extensão de gerenciamento de risco bem sucedido.
da exposição ou a exposição potencial em situações Para responder àquela avaliação, um tal
reais. programa deve incorporar ações e
4. Caracterização do risco: a síntese e sumário das estratégias, por exemplo, encontrar opções,
informações sobre uma situação potencialmente
tomar decisões, implementar essas
danosa em uma forma útil aos tomadores de decisão
decisões, e avaliar o processo. Esses
e envolvidos.

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ESTABELECENDO UM DIÁLOGO SOBRE RISCOS DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS
OPÇÕES DE GERENCIAMENTO DE RISCO
DECISÃO DE NÃO TOMAR AÇÃO FORMAL é uma resposta INSTRUÇÕES NORMATIVAS são passos formais
apropriada em casos nos quais o risco é considerado tomados por governos para limitar ambas a
muito pequeno, ou a evidência é insuficiente para dar ocorrência e as conseqüências de eventos com risco
sustentação a ações formais. Essa resposta é potencial. Padrões com limites podem ser impostos
freqüentemente combinada com o monitoramento dos com métodos para exibir conformidades ou podem
resultados de pesquisas e medições, e das decisões definir objetivos a alcançar sem necessariamente
sendo implementadas por normatizadores, configurarem prescrições.
reguladores, etc.
LIMITAR A EXPOSIÇÃO ou banir as fontes de exposição
PROGRAMAS DE COMUNICAÇÃO podem ser usados para são opções a serem usadas quando o grau de
ajudar as pessoas a compreender as questões, certeza do dano é elevado. O grau de certeza e a
envolverem-se no processo e realizar suas próprias severidade do dano são dois fatores importantes para
escolhas. decidir o tipo de ação a ser tomada.

PESQUISA preenche os hiatos em nosso conhecimento, OPÇÕES TÉCNICAS devem ser usadas para reduzir o
ajuda a identificar problemas, e permite uma melhor risco (ou o risco percebido). Essas podem incluir a
avaliação de risco no futuro. consideração de enterrar linhas de transmissão, ou
compartilhar torres de estações radio-base de
ABORDAGENS PREVENTIVAS são políticas e ações que telefonia móvel.
indivíduos, organizações e governos tomam para
minimizar ou evitar riscos potenciais ou impactos MITIGAÇÃO envolve realizar mudanças físicas no
futuros à saúde e ao ambiente. Essas podem incluir sistema para reduzir a exposição e, em última
auto-regulação voluntária para evitar ou reduzir análise, o risco. Mitigação pode significar redesenhar
exposições, se facilmente alcançáveis. o sistema, instalar blindagens ou introduzir
equipamentos de proteção.

COMPENSAÇÃO é algumas vezes oferecida em


resposta a exposições mais elevadas em uma
localidade ou ambiente de trabalho. As pessoas
podem dispor-se a aceitar algo em troca de admitir
uma exposição mais elevada.

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ESTABELECENDO UM DIÁLOGO SOBRE RISCOS DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

componentes não são independentes, nem não pensam assim. Inerente na aceitabilidade
ocorrem em uma ordem pré-determinada. da decisão pessoal de correr riscos está a
Ao contrário, cada elemento é guiado pela habilidade de exercer controle sobre os
urgência da necessidade de uma tomada de mesmos.
decisão, e da disponibilidade de informação
e recursos. Embora exista um leque de No entanto, há situações nas quais os
opções de gerenciamento de riscos (ver indivíduos podem sentir que não têm
tabela a seguir), a ênfase deste manual é controle. Isto é especialmente verdadeiro
colocada na segunda opção, nominalmente, quando se trata da exposição a CEM nos
programas de comunicação. quais os campos são invisíveis, o risco não é
facilmente quantificável, e o grau de
exposição está além do controle imediato.
COMO O RISCO É PERCEBIDO? Isso é ainda mais exacerbado quando os
Muitos fatores influenciam a decisão de uma indivíduos não percebem qualquer
pessoa em aceitar ou rejeitar um risco. As benefício direto da exposição. Neste
pessoas percebem risco como desprezível, contexto, a resposta do público irá
aceitável, tolerável, ou inaceitável, em depender da percepção daquele risco
comparação com benefícios percebidos. Essas baseada em fatores externos. Estes incluem
percepções dependem de fatores pessoais e de a informação científica disponível, dos
fatores externos bem como da natureza do meios de comunicação e de outras formas
risco. Fatores pessoais incluem idade, sexo, e de disseminação de informação, da situação
níveis cultural ou educacional. Algumas econômica do indivíduo e da comunidade,
pessoas, por exemplo, consideram os riscos de movimentos de opinião, e da estrutura
associados com tomar drogas compradas nas do processo regulatório e da tomada de
ruas, aceitáveis. Muitas outras, por outro lado, decisões políticas na comunidade. Figura 4.

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FIGURE 4. FACTORS AFFECTING PERCEPTION OF ENVIRONMENTAL RISKS
ESTABELECENDO UM DIÁLOGO SOBRE RISCOS DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

A natureza do risco também pode levar a base de telefonia móvel, especialmente


percepções distintas. Quanto maior o aquelas próximas às suas residências,
número de fatores que se somam para a escolas, ou espaços de lazer, elas tendem a
percepção pública de risco, tanto maior o perceber o risco derivado das instalações
potencial de preocupações. Várias geradoras de CEM como elevado.
pesquisas têm revelado que os seguintes + EXPOSIÇÃO VOLUNTÁRIA VS. INVOLUNTÁRIA.
pares de características de uma situação As pessoas se sentem menos em situação
geralmente afetam a percepção de risco. de risco quando a escolha é delas. Aqueles
que não usam telefones móveis podem
perceber como elevado o risco decorrente
+ TECNOLOGIA FAMILIAR VS. NÃO-FAMILIAR. A dos campos RF relativamente baixos
familiaridade com uma dada tecnologia ou emitidos pelas estações radio-base. No
situação ajuda a reduzir o nível do risco entanto, os usuários de telefones móveis
percebido. Este cresce quando a tecnologia tendem a perceber como baixo o risco
ou a situação, tal como CEM, é nova, não- decorrente dos muito mais intensos
familiar ou de difícil compreensão. A campos RF emitidos pelos aparelhos que
percepção a respeito do nível de risco pode eles voluntariamente escolheram.
ser significativamente aumentada se + CONSEQÜÊNCIAS TEMÍVEIS VS. NÃO TEMÍVEIS.
houver uma compreensão científica Algumas doenças e condições de saúde,
incompleta a respeito dos efeitos potenciais como câncer, dores crônicas e severas ou
sobre a saúde, decorrentes de uma incapacitação física, são mais temidas do
particular situação ou tecnologia. que outras. Assim, mesmo uma pequena
+ CONTROLE PESSOAL VS. AUSÊNCIA DE possibilidade de câncer, especialmente em
CONTROLE SOBRE UMA SITUAÇÃO. Se as crianças, decorrente de um fator de risco
pessoas não tiveram voz sobre a instalação tal como exposição a CEM recebe atenção
de linhas de transmissão e estações radio- pública significativa.

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ESTABELECENDO UM DIÁLOGO SOBRE RISCOS DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

+ BENEFÍCIOS DIRETOS VS. INDIRETOS. Se as construção de fontes de CEM que, em sua


pessoas estão expostas a campos RF opinião, podem afetar a saúde de seus
devidos a estações radio-base de telefonia integrantes. Querem ter algum controle e ser
móvel, mas não possuem um telefone parte do processo de tomada de decisões. A
móvel, ou se estão expostas a campos menos que um sistema eficaz de informação
elétricos e magnéticos devidos a uma e comunicação pública entre: cientistas,
linha de transmissão de alta voltagem governos, a indústria e o público, seja
que não abastece a sua comunidade, elas estabelecido, as novas tecnologias CEM serão
podem não perceber qualquer benefício vistas com desconfiança e temidas.
direto daquela instalação e estão menos
propensas a aceitar o risco associado.
+ EXPOSIÇÃO JUSTA VS. INJUSTA. Questões de A NECESSIDADE DA COMUNICAÇÃO DE RISCO
justiça social podem ser levantadas Hoje em dia, a comunicação com o público a
devido à exposição injusta a CEM. Por respeito de riscos ambientais derivados de
exemplo, se instalações são implantadas tecnologias têm papel importante. De acordo
em assentamentos pobres por causa de com o National Research Council dos EUA, a
razões econômicas (como o preço mais comunicação de risco “é um processo
baixo da terra), a comunidade estará interativo de troca de informação e opinião
injustamente sendo exposta aos riscos entre indivíduos, grupos e instituições.
potenciais. Envolve múltiplas mensagens a respeito da
natureza do risco e outras mensagens, não
Reduzir o risco percebido envolve o estritamente a respeito de riscos, que
confronto com os fatores associados ao expressam preocupações, opiniões, ou reações
risco pessoal. As comunidades sentem que a mensagens de risco ou a arranjos legais ou
têm o direito de conhecer o que está sendo institucionais envolvendo gerenciamento de
proposto e planejado com respeito à risco”. A comunicação de risco não é,

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FIGURE 5. CHANNELS OF COMMUNICATION
ESTABELECENDO UM DIÁLOGO SOBRE RISCOS DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

portanto, apenas uma apresentação do evidência científica com clareza; as


cálculo científico do risco, mas também um agências governamentais devem informar
fórum para a discussão a respeito de ao público sobre regulamentações de
questões mais amplas, relativas a segurança e medidas políticas; e os
preocupações éticas e morais. cidadãos envolvidos devem decidir em
qual medida estão dispostos a aceitar
Questões ambientais que envolvem esses riscos. Nesse processo, é importante
incerteza com respeito a riscos à saúde que as comunicações entre esses
exigem decisões qualificadas. Para este interessados sejam feitas com clareza e
fim, os cientistas devem comunicar a eficácia (Figura 5).

21
GERENCIANDO A COMUNICAÇÃO DE RISCO DE CEM
À medida que o público vai se tornando mais as pessoas estão prontas para agir e são
informado a respeito de questões ambientais capazes de se envolver. Indivíduos,
ligadas à saúde, concorrentemente surge uma organizações comunitárias e
sensação de queda de confiança em agentes organizações não-governamentais,
públicos, peritos técnicos e científicos, e gerentes estão preparados para intervir com
industriais, especialmente dos grandes ações de forma a direcionar decisões ou
empreendimentos privados e públicos. Além interromper atividades, caso sejam
disso, muitos segmentos do público acreditam excluídos do processo decisório. Tal
que o ritmo das mudanças científicas e tendência social tem resultado em
tecnológicas é demasiadamente rápido para que aumento da necessidade para uma
os governos o consigam acompanhar. Some-se efetiva comunicação entre todos os
ainda que, em sociedades politicamente abertas, interessados.

Uma abordagem bem sucedida para


o planejamento e avaliação da
comunicação de risco deve
considerar todos os aspectos e todas
as partes envolvidas. Essa seção
oferece uma introdução à
comunicação em questões de risco
em CEM através de um processo de
quatro etapas, descrito nas páginas
seguintes.

23
QUANDO COMUNICAR

QUESTÕES-CHAVE importante antecipar as necessidades: saber


+ Quando se deve entrar em um diálogo? o que compartilhar e quando compartilhar.
+ Há tempo suficiente para um planejamento?
+ É possível mapear, com rapidez, quem e o que Estabelecer um diálogo o mais cedo
influencia as opiniões da comunidade? possível gera diversos benefícios.
+ Em que momento se incluem os interessados? Primeiramente, o público vê o
Quando se planeja o processo, define as
comunicador como agindo de uma
metas e desenha as opções? Quando são
maneira responsável e demonstrando
tomadas as decisões?
preocupação com a questão. Evitar
Com freqüência verifica-se uma significativa demoras em fornecer informações e
ansiedade pública com relação a certas fontes discussões também ajuda a desfazer
de CEM, tais como linhas de transmissão e controvérsias, e reduz a probabilidade de
estações radio-base de telefonia móvel. Essa ter que retificar informações e
ansiedade pode levar a fortes objeções à entendimentos equivocados. Deve-se levar
localização dessas instalações. Quando a em conta sugestões dos interessados, e
oposição da comunidade se intensifica, isso usar o que for aprendido para aperfeiçoar
se deve, com freqüência, ao processo de o planejamento e a implementação da
comunicação não ter sido iniciado cedo o comunicação. Dar início à comunicação de
suficiente para que se pudesse contar com a risco prova que se deseja e tenta construir
compreensão e confiança públicas. uma relação com os interessados e isso,
por si só, pode ser quase tão importante
A comunicação bem sucedida a respeito de quanto o que é comunicado.
um projeto requer planejamento e talento. É

24
QUANDO COMUNICAR

O processo de comunicação passa por GERENCIANDO UMA QUESTÃO DE SENSÍVEL


diversos estágios. No começo do diálogo há DEPENDÊNCIA DO TEMPO
uma necessidade de fornecer informação e
As questões de saúde pública e de saúde
conhecimento. Isso elevará a consciência, e
ambiental têm uma dinâmica própria; elas
por vezes a preocupação, por parte dos
evoluem com o tempo. O ciclo de vida de
diferentes interessados. Nesse estágio, será
uma questão ilustra como a pressão social
importante continuar a comunicação, através
sobre os tomadores de decisão se desenvolve
de um diálogo aberto, com todas as partes
com o tempo (Figura 6). Durante os estágios
envolvidas, antes de definir as políticas.
iniciais do ciclo, quando o problema ainda
Quando se trata de planejar um novo projeto,
está dormente ou apenas emergindo, a
por exemplo, construir uma nova linha de
pressão pública está em seu mínimo.
transmissão ou instalar uma nova estação
Enquanto o problema possa ainda não
radio-base de telefonia celular móvel, a
figurar em uma agenda de pesquisas, existe
indústria deve iniciar imediata comunicação
tempo de sobra para pesquisar e analisar
com as autoridades regionais e locais, bem
riscos potenciais. Quando o problema
como com os interessados (proprietários de
explode na consciência do público, com
terras, cidadãos envolvidos, grupos
freqüência é trazido ao primeiro plano por
ambientalistas).
algum evento motivador (por exemplo, a
atenção da mídia, intervenção ativista
organizada, Internet, ou palavras passadas de
boca em boca), é importante agir, na forma

25
FIGURE 6. THE RISK PERCEPTION LIFE CYCLE
(adapted fromEvaluating Response Options
, Judy Larkin,
Proceedings of the International Seminar on EMF Risk Perception and Communication, WHO 1999)
QUANDO COMUNICAR

de comunicação com o público. À medida que for introduzida, melhor capacitados estarão
o problema atinge proporção de crise, uma os tomadores de decisão para evitar que a
decisão deve ser tomada, porém uma questão atinja o nível de uma crise. É, de fato,
conclusão apressada pode deixar todos os muito mais fácil ajudar as pessoas a formar
lados insatisfeitos. À medida que o problema opiniões do que mudar as opiniões. Uma vez
começa a diminuir em importância na estabelecida uma crise, é cada vez mais difícil
agenda do público, deve-se permitir algum conduzir uma comunicação de risco eficaz e
tempo para realizar uma avaliação dos obter resultados bem sucedidos do processo
desdobramentos da questão e das decisões de tomada de decisão, uma vez que há menos
tomadas. A transição entre as diferentes fases tempo para levar em conta opções e para
dentro do ciclo de vida de uma questão envolver os interessados no diálogo. Uma vez
depende dos níveis de consciência e de que os tópicos que podem gerar controvérsia
pressão dos diversos interessados (Figura 6). se tornam ainda mais críticos em períodos de
Quanto mais cedo a informação equilibrada eleições e de outros eventos políticos, é

FORÇAS DOMINANTES DO CICLO DE VIDA


+ Falta de confiança
+ Percepção de um “vilão” na história (p.ex. indústria)
+ Desinformação
+ Crença em que a maioria trata a minoria “injustamente”
+ Cobertura da imprensa
+ Intervenção de grupos de ativistas e de outros grupos de interesse altamente motivados
+ Dinâmica emocional do público

27
QUANDO COMUNICAR

aconselhável preparar estratégias e ter opções vida pode ser dada pela publicação atualizada
disponíveis para uma ação. de resultados científicos. Da mesma forma
que os organismos científicos internacionais
têm de responder publicamente às recentes
descobertas científicas de uma maneira
imparcial, os tomadores de decisão podem
ADAPTANDO-SE A UM PROCESSO DINÂMICO provar aos interessados que as suas
Durante o ciclo de vida de uma questão, a preocupações são levadas a sério, adotando a
estratégia de comunicação necessitará ser mesma estratégia. De fato, acompanhamento
ajustada aos grupos ou aos indivíduos de risco é uma componente-chave para
envolvidos de maneira ad-hoc, e poderá garantir o adequado gerenciamento de risco,
tomar uma variedade de formas, para ser o na medida em que a informação permanente
mais eficaz possível. Os meios de é essencial para monitorar e fornecer a
comunicação e as ações devem ser realimentação ao processo de gerenciamento
apropriadamente modificados, à medida que de risco em andamento.
novas informações se tornem disponíveis.
Uma oportunidade de influenciar o ciclo de

28
COM QUEM COMUNICAR-SE

QUESTÕES-CHAVE IDENTIFICANDO OS INTERESSADOS


+ Quais são os maiores interessados nessa questão? É crucial que se tenha um bom entendimento
+ O que é conhecido a respeito dos interesses, do “campo de jogo” e, em particular, dos
receios, preocupações, atitudes e motivações dos
“jogadores-chave”, ou os interessados na
potenciais atingidos?
questão CEM. Dependendo da situação em
+ Que autoridades são responsáveis pela
determinação e implementação das políticas?
particular, a comunicação pode necessitar
+ Existem organizações com as quais se pode considerar diversos, se não todos, os
formam parceiras efetivas? participantes (Figura 7). Cada um desses
+ Quem pode fornecer aconselhamento ou grupos necessita ser incluído no processo de
expertise científica? comunicação e se tornará, por sua vez, o
instigador ou o recipiente da comunicação. Os
Desenvolver uma comunicação eficaz sobre
papéis de alguns desses interessados-chave
risco depende de identificar os principais
são discutidos abaixo.
envolvidos na questão, aqueles que tem o
maior interesse ou que podem ter maior
A comunidade científica é um participante
atuação com relação ao desenvolvimento da
importante na medida em que provê
compreensão e do consenso, entre os atores
informação técnica, e é, portanto,
relevantes.
percebido como independente e apolítica.
Os cientistas podem ajudar o público a
Identificar esses interessados e reconhecer
entender dos benefícios e riscos de CEM, e
seu papel freqüentemente requer
ajudar os reguladores a avaliar as opções de
investimento substancial em tempo e
gerenciamento de risco e estimar as
energia. Falhas na realização desse
conseqüências das diferentes decisões. Eles
investimento podem comprometer a
têm o importante papel de explicar a
eficácia da mensagem.

29
FIGURE 7. THE KEY STAKEHOLDERS IN THE EMF ISSUE
COM QUEM COMUNICAR-SE

informação científica disponível de uma proativa e positiva do gerenciamento de


maneira que ajude o público a entender o risco e têm enfatizado uma comunicação
que é conhecido, onde mais informação é aberta da informação ao público. Não
necessária, quais são as maiores fontes de obstante, a motivação do lucro costuma
incerteza, e quando se espera que fazer com que este mantenha desconfiança
informação de melhor qualidade seja com relação às suas mensagens.
disponibilizada. Nesse papel, eles também
podem tentar antecipar bem como definir Funcionários de governo nos níveis
limites nas expectativas futuras. nacional, regional e local têm
responsabilidades sociais, tanto quanto
A indústria - por exemplo, as companhias econômicas. Devido ao fato de que eles
de eletricidade e os fabricantes e os atuam em um ambiente político, o público
provedores de sistemas de em geral nem sempre confia neles. Em
telecomunicações - é um participante- particular, os reguladores desempenham
chave e é freqüentemente vista como um papel crucial, na medida em que
produtora de risco tanto quanto provedora elaboram padrões e diretrizes. Para
de serviços. A desregulamentação dessas cumprir essa finalidade, eles necessitam
indústrias em muitos países aumentou o de informações completas e detalhadas
número de companhias (e, em alguns dos principais interessados para que
casos, o numero de fontes de CEM, à possam decidir sobre as medidas políticas
medida que as companhias disputam a referentes à proteção contra exposição a
cobertura). Em alguns países, integrantes CEM. Eles devem considerar todas as
da indústria, especialmente fornecedores novas evidências científicas que tenham
do setor elétrico, assumiram uma postura solidez, o que sugeriria a necessidade de

31
COM QUEM COMUNICAR-SE

rever as medidas existentes relativas à maioria das sociedades democráticas. A


exposição, sendo ao mesmo tempo cobertura da mídia - jornais, rádio,
sensíveis às demandas e às restrições televisão e agora a Internet tem enorme
sociais. impacto na maneira como um risco
ambiental é percebido e, em última
O público em geral, atualmente melhor análise, sobre o sucesso do processo de
educado e melhor informado sobre tomada de decisões. A mídia pode ser uma
questões relacionadas à tecnologia do que ferramenta eficaz para aumentar a
jamais no passado, pode ser o principal consciência do problema, para propagar a
determinante do sucesso ou do fracasso informação através de mensagens claras, e
de um projeto tecnológico proposto. Isto é para aumentar a participação individual.
especialmente verdade em sociedades No entanto, pode ser igualmente eficaz em
democráticas e altamente disseminar informações incorretas, dessa
industrializadas. O sentimento público forma reduzindo a confiança e o apoio ao
com freqüência se faz ouvir através de processo decisório. Isto é especialmente
associações altamente ativas, ou por meio verdade com relação à Internet, uma vez
de outros grupos de interesse que que não há controle de qualidade. O
geralmente dispõem de bom acesso à profissionalismo da apresentação não
mídia. necessariamente reflete a qualidade do
conteúdo. Os indivíduos devem decidir
A mídia desempenha um papel por conta própria quando confiar em uma
fundamental na comunicação de massa, fonte particular, o que nem sempre é uma
na política e na tomada de decisões na decisão simples para um leigo.

32
O QUE COMUNICAR

QUESTÕES-CHAVE A estratégia e a racionalização desejadas


+ Possuem os envolvidos acesso a informações dependerão da audiência. O público
suficientes e imparciais sobre a tecnologia? também ditará quais questões podem ser
+ A mensagem é inteligível ou contém grande esperadas. Para convencer a audiência,
quantidade de informação complexa? argumentos apropriados e críveis que
+ As mensagens de todos os elementos-chave
apelem não apenas à razão, mas também à
foram recebidas? Isto é há meios efetivos de
emoção e às ligações sociais devem ser
obter retorno?
incluídos. Diferentes tipos de argumentos
Identificação das preocupações do público e são descritos na Figura 8.
de problemas potenciais é crítica para as
abordagens estratégicas e proativas. Uma vez COMUNICANDO A CIÊNCIA
que os interessados tomam consciência de
uma questão, eles irão levantar questões Os cientistas comunicam os resultados
baseadas nas suas percepções e avaliações do técnicos decorrentes das pesquisas através
risco. Portanto, a disseminação da de publicações com diferentes valores
informação deve ser feita de uma maneira científicos (as melhores sendo as que adotam
sensível a essas noções preconcebidas, de revisão por pares), de artigos de revisão
outra forma os tomadores de decisão se técnica e por avaliações de risco. Por meio
arriscam a ofender e a alienar os desse processo, os resultados da investigação
interessados. científica podem ser incorporados ao
desenvolvimento e implementação das

33
O QUE COMUNICAR

políticas de regulamentação e comunicação), ou contém erros.


normatização. O monitoramento contínuo
e a revisão dos achados técnicos são + SIMPLIFICANDO A MENSAGEM
importantes para garantir que quaisquer Peritos técnicos enfrentam o desafio de
incertezas residuais são abordadas e fornecer informação que seja
minimizadas a médio ou longo prazo, e compreensível pelo grande público. Isso
para dar segurança ao público. significa simplificar a mensagem. Caso
contrário, a mídia assumirá esse papel
No entanto, embora a informação com o risco de introduzir equívocos na
científica tenha provado ser valiosa para informação. Isto é especialmente verdade
o processo de tomada de decisões a no caso de EMF, na medida em que a
respeito de saúde pública, ela não é à maioria das pessoas tem uma idéia difusa
prova de erros. As contribuições dos a respeito de eletromagnetismo,
cientistas podem falhar por diversas percebendo estas ondas invisíveis e
razões. Por exemplo, a informação pervasivas como potencialmente
disponível pode estar sendo apresentada agressivas.
em uma forma que não seja útil aos
tomadores de decisão (seja porque é + EXPLICANDO A INCERTEZA CIENTÍFICA
demasiado complexa, ou Quando se trata de avaliação de risco, a
demasiadamente simplificada) e leve a informação disponível para tomada de
conclusões ou decisões incorretas decisão é baseada no conhecimento
(possivelmente devido a incertezas científico. No entanto, avaliação científica
inerentes aos dados ou a problemas na de respostas biológicas à exposição

35
O QUE COMUNICAR

ambiental raramente leva a conclusões a saúde de CEM como uma declaração da


unânimes. Estudos epidemiológicos são existência de riscos reais.
propensos a tendências, e a validade das
extrapolações para humanos tomadas a + APRESENTANDO TODAS AS EVIDÊNCIAS
partir de estudos com animais é O público, a maioria das vezes, irá basear
freqüentemente questionável. O “peso da seus preconceitos em resultados científicos
evidência” determina o grau no qual os
ALGUMAS REGRAS BÁSICAS PARA A
resultados disponíveis apóiam ou refutam
POPULARIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES TÉCNICAS
uma dada hipótese. Para estimativas de
+ Determine e classifique as mensagens-chave que
riscos baixos em áreas complexas você deseja divulgar, i.e., defina suas metas de
envolvendo ciência e sociedade, não há informação.
um estudo que possa proporcionar uma + Certifique-se de que você entende as necessidades
resposta definitiva. Os pontos fortes e de informação de sua audiência.
fracos de cada estudo devem ser + Explique os conceitos em linguagem simples e, se
necessário, classifique o vocabulário técnico usado
avaliados e os resultados de cada estudo
em comunicados à impressa enviados por peritos,
interpretados na medida em que alteram e.g., a classificação da IARC dos carcinogênicos
o “peso da evidência”. A incerteza é, potenciais em diferentes categorias dependentes da
portanto, inerente ao processo e deve ser evidência científica (“é carcinogênico”,
parte integrante do planejamento de “provavelmente carcinogênico”, e “possivelmente
qualquer ação de gerenciamento ou de carcinogênico”).
+ Evite a simplificação em excesso, o que pode lhe
comunicação de risco. De fato, o público
fazer parecer mal informado ou escondendo a
freqüentemente interpreta incertezas no verdade.
conhecimento científico dos efeitos sobre + Reconheça que está simplificando e forneça as
referências que dão sustentação aos seus
documentos.

36
O QUE COMUNICAR

divulgados que tenham mostrado uma que suas necessidades de informação não
associação possível com um efeito sobre estão sendo satisfeitas. O entendimento
a saúde. É importante que os cientistas das motivações dos interessados ajudará a
apresente toda a evidência disponível ajustar a mensagem. Por exemplo, um
quando da disseminação da informação morador encarando a possibilidade da
científica, ainda que a pesquisa mostre construção de uma linha de transmissão
resultados opostos. Apenas assim os de eletricidade nas proximidades, pode
cientistas podem ser vistos como ficar preocupado com ma imprevista
verdadeiramente independentes. O queda no valor de sua propriedade, ou
raciocínio científico pode sempre ser com o impacto paisagístico, ou ainda com
usado para argumentar contra um o dano ambiental, enquanto um potencial
determinado resultado. comprador de imóveis residenciais na
vizinhança da linha está mais preocupado
+ ENTENDENDO A AUDIÊNCIA com a saúde.
É importante discernir que tipo de
informação o público quer e enfrentar + DISTORCENDO A INFORMAÇÃO CIENTÍFICA
de cabeça erguida, reconhecendo Ciência é uma ferramenta importante que
quando necessário, que a ciência é conquistou sua credibilidade por ser
incompleta. Restringir a comunicação previsível. No entanto, sua utilidade
àquelas questões dotadas de certeza depende da qualidade dos dados, a qual
científica, está relacionada com a qualidade e a
pode deixar o público e às vezes os que credibilidade dos cientistas. É importante
definem políticas, com o sentimento de verificar o conhecimento e a integridade

37
O QUE COMUNICAR

dos assim-chamados “peritos”, os quais DICAS PARA MONTAR ESTRATÉGIAS


podem parecer sólidos e soar extremamente EFICAZES DE COMUNICAÇÃO DE RISCO
convincentes, mas sustentam visões não + Promova pesquisas para responder a estas questões:
. Quais são as fontes de informação?
ortodoxas as quais a mídia pode sentir-se
. Quais são os jornais e revistas chave?
justificada em divulgar “no interesse do . Quais são as páginas de Internet relevantes?
equilíbrio”. De fato, dar peso a essas visões . Existem outras questões similares das quais você pode
não ortodoxas pode influenciar de maneira aprender algo?
. Quem pode explicar a pesquisa científica para a
população leiga?
+ Torne-se disponível em ambas as modalidades formal e
COLOCANDO O RISCO DE CEM EM PERSPECTIVA informal para melhorar a comunicação. Encontros privados
podem destruir a confiança se o acesso não for
Mesmo que a atual evidência científica não balanceado dentre todos os interessados.
indique que os riscos de CEM à saúde sejam + Reconheça a incerteza, descreva o porque de sua
altos, o público permanece preocupado com as existência e coloque-a no contexto do que já é conhecido.

instalações que produzem CEM. Esta + Reconheça que a habilidade em comunicação de risco é
importante para todos os níveis da organização de tomada
discrepância em pontos de vista é baseada de decisão, desde a inspeção até a gerência do projeto.
principalmente em abordagens diferenciadas + Evite conflitos desnecessários, mas entenda que uma
às questões de risco, por parte dos peritos e do decisão pessoal ou política é por natureza uma dicotomia;
por exemplo, uma pessoa decidirá comprar ou não
público em geral. Por um lado, os peritos terão
comprar uma casa perto de uma linha de transmissão de
de avaliar a evidência científica a respeito do eletricidade.
risco (avaliação de risco) usando critérios + Reconheça que mesmo se você comunicar bem, você
objetivos e bem definidos. Seus achados serão pode não atingir um acordo.

então usados para elaborar respostas em forma + Lembre-se que na maioria das sociedades, embora possa
levar tempo, as comunidades em última análise é que
de decisões e de ações via políticas públicas. decidem o que venha a ser um risco aceitável, e não as
agências governamentais ou as corporações.

38
O QUE COMUNICAR

Por outro lado, o público em geral avalia o na tabela abaixo. Quantificar riscos é de
riso envolvido por tecnologias geradoras de utilidade limitada na comunicação com o
CEM a nível individual (percepção de risco). público em geral, o qual pode não possuir o
As diferenças em abordagem são detalhadas necessário conhecimento técnico.

DIFERENÇAS NA AVALIAÇÃO DE RISCO POR DIFERENTES ATORES


AVALIAÇÃO POR PERITOS AVALIAÇÃO POR LEIGOS
(AVALIAÇÃO DE RISCO) (PERCEPÇÃO DE RISCO)
+ Abordagem científica à quantificação do risco + Abordagem intuitiva à quantificação do risco
+ Usa conceitos probabilísticos (lida com médias, + Usa informação local, derivada de situações
distribuições, etc.) específicas, ou baseada em “ouvir-dizer”
+ Depende da informação técnica transmitida por + Depende da informação de múltiplos canais (mídia,
meio de canais bem definidos (estudos científicos) considerações gerais e impressões)
+ Produto de equipes científicas + Processo individual
+ Importância dada a fatos científicos + Importância das emoções e das percepções
+ Focalizada nos benefícios versus custo da subjetivas
tecnologia + Focalizada na segurança
+ Busca validar a informação + Busca lidar com circunstâncias e preferências
individuais

39
O QUE COMUNICAR

COMPARAÇÃO: UMA FERRAMENTA PARA A COMUNICAÇÃO


Comparação de risco deve ser usada para incrementar a conscientização e ser educacional, de uma maneira neutra.
É uma ferramenta avançada que requer planejamento cuidadoso e experiência. Embora uma comparação coloque
os fatos em um contexto compreensível, deve-se ter cautela para não usá-la com o propósito de conquistar
aceitação ou confiança. O uso inapropriado da comparação de risco pode reduzir a eficácia da sua comunicação, ou
mesmo afetar a sua credibilidade, ao curto prazo.

NOTA: Nunca compare exposição voluntária (como fumar ou dirigir) com exposição involuntária. Para uma mãe com
três filhos que tem de morar próximo a uma estação radio-base de telefonia móvel, o risco a que ela está submetida
não é voluntário. Se você fizesse a comparação entre a exposição dela a CEM e a escolha dela de dirigir em uma
estrada a 140 km/h, poderia estar ofendendo-a

+ Leve em conta as características sociais e culturais da audiência e torne a sua comparação relevante em termos
do que é conhecido dela
+ Não use comparações em situações nas quais a confiança é baixa
+ Certifique-se de que suas comparações não trivializam as questões ou receios das pessoas
+ Não use comparações para convencer uma pessoa da correção de uma posição
+ Tenha em mente que uma comparação de dados de exposição é menos emocional do que uma comparação dos
riscos
+ Lembre-se de que a maneira na qual você apresenta seus dados pode afetar a forma como você é percebido
+ Use um pré-teste para avaliar se as comparações que planeja usar causam a resposta que espera provocar
+ Reconheça que a comparação em si não resolve a questão
+ Reconheça que, se sua comparação cria mais questões do que responde, você necessita encontrar outro
exemplo.
+ Esteja preparado para que outros utilizem comparações ou dramatizações

EXEMPLO: para ilustrar o nível de potência de uma fonte de emissão de CEM,


+ Mostre dados de emissividade antes e depois de uma instalação semelhante ter entrado em operação
+ Compare com os limites recomendados, mas reconheça que as preocupações do público pode se referir a níveis
bem abaixo dos das normas
normas..

40
O QUE COMUNICAR

Ao servir-se de informação quantitativa, esta As agências reguladoras têm a


poderá ser mais útil quando comparada com responsabilidade de preparar e disseminar a
quantidades prontamente compreensíveis. informação relativa às medidas políticas
Isto foi aplicado com sucesso para explicar o implementadas a nível local e nacional. A
risco associado com viajar em aviões, por nível local, é importante que as autoridades
meio da comparação com atividades tenham ao menos um mínimo de
familiares como dirigir, ou para explicar o conhecimento sobre CEM para responder a
risco da exposição à radiação decorrente de perguntas do público ou estar pronta para
raios-x de diagnóstico médico, quando direcionar as requisições para as fontes de
comparado com a radiação naturalmente informação apropriadas. No nível nacional, a
presente no ambiente. Entretanto, deve-se disseminação tem sido implementada muito
ter cuidado ao usar comparações de risco eficazmente em diversos países por meio de
(vide tabela acima). É realmente importante folhetos-resumo da OMS ou de outros
quantificar diferentes riscos à saúde dentro panfletos simples, geralmente disponíveis na
de um quadro de comparações, Internet.
particularmente para definir agendas de
políticas e prioridades de pesquisa. Ao discutirem-se medidas políticas com o
público, o comunicador deve estar pronto a
explicar o que as normas sobre limites de
exposição cobrem (por exemplo,
EXPLICANDO AS MEDIDAS POLÍTICAS
freqüências, fatores de redução,...) e como
O tipo de medida que um governo adota
estes foram estabelecidos, isto é quais fatos
envia uma mensagem firme a respeito da
científicos foram usados, que hipóteses
posição dos reguladores vis-à-vis os riscos
foram feitas, quais recursos
associados com a questão de saúde dos CEM.
administrativos são necessários para

41
O QUE COMUNICAR

implementá-los, e que mecanismos previsões para a atualização das normas, à


existem para assegurar a observância por medida que a pesquisa científica avança.
parte dos fabricantes de produtos (por De fato, tomadores de decisão com
exemplo, telefones móveis) ou prestadores freqüência se baseiam em resultados
de serviços (por exemplo, preliminares ou insuficientes, e suas
telecomunicações ou eletricidade). É decisões devem ser revistas tão logo uma
também de interesse dar conhecimento ao nova avaliação seja completada.
público se existem procedimentos ou

EXPLICANDO LIMITES DE EXPOSIÇÃO AO PÚBLICO


Usar limites de exposição a CEM como um argumento formal das políticas requer um bom entendimento científico por
parte do tomador de decisões e do comunicador. É importante enfatizar para o público que:

+ A determinação dos níveis de campo em uma certa localidade é um elemento chave que irá determinar se existe,
ou não, um risco

Se possível, é útil mostrar dados de mapeamento de campos em sítios selecionados e compará-los com cálculos
numéricos e com normas de exposição aceitas.

+ A intensidade do campo depende da distância à fonte de CEM, e normalmente decresce rapidamente ao nos
afastarmos dela.

Para garantir a segurança, cercas, barreiras ou outras medidas de proteção são usadas em algumas instalações,
de forma a impedir o acesso a áreas nas quais os limites de exposição podem ser excedidos.

+ Freqüentemente, mas não em todos os padrões, os limites de exposição são mais baixos para o público em
geral do que para os trabalhadores.

42
COMO COMUNICAR

QUESTÕES-CHAVE ESTABELECENDO O TOM


+ Que tipo de ferramenta de participação você Ao lidar com uma questão emotiva como o
escolhe para dirigir-se à sua audiência? risco potencial para a saúde devido a EMF,
+ Onde, quando e sob quais circunstâncias a uma dos atributos de comunicação mais
discussão se desenvolve? importantes é a habilidade em construir e
+ Qual o tom predominante? sustentar uma relação de confiança com as
+ Como, formalmente, a situação é dirigida? demais partes envolvidas no processo. Para
tal, será necessário criar uma atmosfera não-
ameaçadora e dar o tom para uma
abordagem sincera, respeitável e construtiva
A comunicação de risco eficaz se apóia não à solução das questões. Tal comportamento
apenas no conteúdo da mensagem, mas deve, idealmente, ser abraçado por todos os
também no contexto. Em outras palavras, o atores.
modo como algo é dito é tão importante
quanto o que é dito. Os diferentes atores + COMO TRABALHAR PERANTE UMA
receberão informações em diferentes DESCONFIANÇA
estágios da questão. Essas virão de um amplo
leque de fontes com diferentes perspectivas. Em grande medida, comunidades com
Essa diversidade influenciará a maneira preocupações sobre exposição involuntária a
como os atores perceberão os riscos e o que CEM tendem a desconfiar de visões e fontes
eles gostariam de ver acontecer. oficiais de informação. Um esforço

43
COMO COMUNICAR

considerável pode, então, ser necessário CONSTRUINDO ATITUDES


para encorajar os atores a suspender aquela EFICAZES DE COMUNICAÇÃO
desconfiança. Como admitido no Relatório INSPIRE CONFIANÇA
Phillips para o governo do Reino Unido a + Seja competente
respeito da crise da BSE, “para estabelecer + Seja calmo e respeitoso
credibilidade é necessário gerar confiança + Seja honesto e aberto
Confiança só pode ser gerada por abertura + Mostre seu lado humano, dê atenção pessoal

Abertura requer o reconhecimento da + Use linguagem clara, e evite soar ou ser


condescendente
incerteza, onde ela existir”.
+ Explique as conseqüências das hipóteses usadas
+ Demonstre seus valores próprios
Tomadores de decisão necessitam
assegurar que todos os indivíduos SEJA ATENCIOSO
envolvidos na comunicação com o público + Escolha suas palavras com cuidado
estejam atualizados com os + Fique atento às emoções, suas e da audiência
desenvolvimentos no debate e preparados + Seja um ouvinte atento
para discutir, em lugar de descartar, os + Preste atenção à linguagem de corpo
receios do público.
MANTENHA UM DIÁLOGO ABERTO
+ Busque a opinião de todos
Alguns dos componentes necessários da
+ Partilhe a informação
comunicação sob condições de
+ Forneça os meios para a comunicação freqüente,
desconfiança são: e.g. publicação de resultados na Web, junto com
a oportunidade para receber comentários
+ Reconheça a falta de confiança
+ Reconheça a existência de incerteza,

44
COMO COMUNICAR
onde ela existir importante estruturar um processo que
+ Sublinhe o que há de diferente desta vez envolva os atores de uma maneira
(por exemplo, revelação de informações, significativa, e que busque facilitar o seu
envolvimento mais cedo dos atores, envolvimento durante o tratamento da
metas e atribuição de papéis claros, etc.) questão. O processo usualmente consistirá
+ Pergunte o que ajudaria a dissipar de três partes: planejamento,
desconfianças implementação e avaliação.
+ Seja paciente conquistar confiança O primeiro estágio é crucial, porque
exige tempo estimular o interesse e a participação do
+ Nunca realize um encontro fechado público pode ser contra-producente caso o
+ Admita, quando você honestamente não comunicador não esteja completamente
souber a resposta para uma questão preparado para esta participação, com suas
+ Seja responsabilizável, em maneiras que questões e preocupações. No segundo
os demais atores valorizem estágio, quando é o momento de engajar o
público, o comunicador terá de escolher o
ambiente no qual irão discutir a questão. A
SELECIONANDO FERRAMENTAS E TÉCNICAS escolha irá depender do tipo, número e
Os membros de uma comunidade na qual se interesse dos participantes.
propõe à construção de uma nova instalação
reivindicarão ser parte do processo de No último estágio, será importante avaliar
tomada de decisão. Para esse fim, é resultados do processo, tomar ações de

45
COMO COMUNICAR

acompanhamento, providenciar a Pode ser útil contar com integrantes de


documentação do que foi dito, e de quais organizações da comunidade local, de
acordos foram alcançados, e compartilhar forma a aproveitar as redes existentes e
esses sumários com os participantes. ampliar a credibilidade, mas deve-se ter
certeza de que o indivíduo é qualificado, e
Perguntas individuais devem ser tratadas definir suas atribuições, responsabilidades
em uma base ad-hoc através de, por e limitações, desde o começo. É
exemplo, telefone ou e-mail. A importante identificar o grupo de atores
comunicação com grupos de atores requer que representa a oposição e determinar
mais planejamento. Para um pequeno quais são suas demandas específicas. Em
grupo de interessados, pode ser factível questões mais complexas pode ser possível
envolvê-los em sessões destinadas a usar comitês consultivos para construir
modificar aspectos indesejáveis do consenso para decisões específicas sobre o
projeto. Deve-se encorajar a criatividade, projeto, de forma a encorajar a
mas sempre manter clareza quanto aos negociação, criar estrutura, e focalizar na
limites para as mudanças e como as solução de problemas que forem
sugestões serão usadas para influenciar a identificados. Técnicas de criação de
decisão final. Os proponentes terão visão consenso incluem o processo Delphi,
clara a respeito da amplitude de manobra “nominal group process”, ou “public value
disponível. assessment” (ver Glossário).

46
COMO COMUNICAR
PASSOS PARA ENGAJAR OS ATORES
1. PLANEJAMENTO 2. IMPLEMENTAÇÃO
+ Desenhe o programa: defina ou antecipe o papel do + Implemente o programa de envolvimento dos atores: use as
público e de outros atores e ajuste o programa de ferramentas e técnicas apropriadas à comunidade e à
forma a destacar o envolvimento dos interessados. questão.
+ Busque comentários a respeito do plano do programa: + Forneça a informação que satisfaça as necessidades dos
teste seu programa interna e externamente para interessados: determine o que eles desejam saber agora e
assegurar-se de que funciona como desejado. antecipe o que eles necessitarão saber no futuro. Desenvolva
+ Prepare a implementação: obtenha os recursos uma lista de problemas, questões e necessidades, com
necessários, escolha e treine seu pessoal, desenvolva respostas para cada um. Dedique-se, sempre que possível, a
planos de contingência, avalie seus pontos fortes e preocupações específicas de diferentes indivíduos ou grupos.
fracos, explique o programa internamente, encontre e + Coopere com outras organizações: coordene as mensagens,
trabalhe com parceiros apropriados da comunidade, ao mesmo tempo em que abertamente aceite quaisquer
desenvolva um plano de comunicações, e prepare os diferenças. Mensagens mal redigidas confundem e criam
materiais mais críticos. desconfiança.
+ Esteja preparado para lidar com solicitações de + Obtenha a ajuda de outros que desfrutam de credibilidade por
informação e de participação à medida que surjam. parte da comunidade: grupos de residentes locais (por
+ Coordene dentro da sua organização: mesmo exemplo, pesquisadores, médicos) que têm credibilidade
pequenas inconsistências dão a impressão de podem ser úteis para os de fora, mas não substituem a
confusão interna e incompetência. O objetivo deve ser abordagem franca e o envolvimento extensivo da
o de evitar enviar mensagens conflitantes. Faça tudo o comunidade.
que puder para manter sua equipe durante todo o 3. AVALIAÇÃO
processo: ela se tornará mais capacitada e terá maior + Use o feedback dos interessados para uma contínua
confiança por parte da comunidade, ao longo do avaliação: à medida que você implementa o programa, ouça
tempo. cuidadosamente ao que os demais estão lhe dizendo, e dê
seguimento com ações.
+ Avalie o sucesso do programa: se os atores não o estiverem
informalmente informando como o seu processo está
funcionando e o que poderia melhorá-lo, peça formalmente
seu aconselhamento através de um questionário ou de outra
maneira. Volte a perguntar-lhes ao final do processo de modo
que as idéias deles possam ajudá-lo a desenhar e
implementar os próximos passos.

47
COMO COMUNICAR
Para um grupo grande de atores, pode-se sobre as preocupações e preferências. Pode
fazer circular folhas contendo itens em também ser útil conduzir sondagens,
múltipla escolha para obter informação questionários ou pesquisas de opinião, via

EXEMPLOS DE ALTERNATIVAS
+ TÉCNICAS DE ENGAJAMENTO PASSIVAS
+ Material impresso (folhetos informativos, brochuras, relatórios)
+ Sites e listas da Web
+ Anúncios na imprensa, inserções ou artigos contribuídos
+ Notas à imprensa
+ Entrevistas a rádios ou televisões

TÉCNICAS DE ENGAJAMENTO ATIVAS


+ Converse com as pessoas a respeito do processo
. Realize “open houses” por exemplo, com posters
. Realize diálogos interativos via TV ou rádio
. Use as redes de terceiros (faça apresentações breves em encontros de grupos comunitários)
. Disponibilize uma linha direta de contato com sua equipe de informações
. Providencie visitas a projetos similares bem sucedidos
. Patrocine sondagens via telefone, Internet ou correio
. Responda a questões individuais
+ Realize pequenos encontros
. Sessões com interessados
. Grupos focalizados
. Conselhos de cidadãos
+ Realize grandes encontros
. Audiências públicas
. Encontros profissionalmente arranjados

48
COMO COMUNICAR

correio eletrônico e Internet, para obter da formas mais passivas (unidirecional) de


população uma amostragem a respeito das engajamento podem ser o modo mais
atitudes com relação a um projeto apropriado para começar. Se a questão
específico. Pesquisas de opinião via Internet estiver em um estágio de crise, é preferível
darão informações úteis, mas não escolher uma forma de diálogo mais ativa,
representam uma amostragem que vá rapidamente definir e ajudar a
estatisticamente válida. Apenas de parte do resolver o problema percebido. Os
grupo que acessa a Internet. Um modo interessados se envolverão em graus
muito mais eficiente de realizar pesquisas de variados. Alguns ficarão quietos durante o
opinião, embora muito mais dispendioso, é decorrer de um encontro, enquanto outros
usar uma organização de pesquisas ou um serão bastante barulhentos. Alguns virão a
profissional da área. apenas um encontro, enquanto outros, a
todos. Alguns poderão escolher comunicar-
Há muitas maneiras de fomentar a troca de se por troca de correspondência escrita ou
informação. Diferentes métodos serão colocando informações na Internet. Cada
apropriados para os diferentes atores, em nível de participação é valioso e requer
diferentes ocasiões. Se estes forem resposta apropriada.
engajados em um estágio inicial do projeto,

49
DIRETRIZES E POLÍTICAS RELATIVAS À EXPOSIÇÃO A CEM
A SITUAÇÃO ATUAL

QUEM DECIDE SOBRE AS DIRETRIZES?


Países definem suas próprias normas nacionais
relativas à exposição a campos eletromagnéticos.
No entanto, a maioria das normas nacionais são
baseadas nas diretrizes estabelecidas pela
3
radiações não-ionizantes na faixa de 0
até 300GHz. São baseadas em revisões
abrangentes de toda a literatura
submetida ao processo de revisão por
pares. Limites de exposição são
Comissão Internacional para a Proteção contra baseados nos efeitos relacionados à
Radiação Não-Ionizante (International exposição intensa de curta duração, em
Commission on Non-Ionizing Radiation lugar de exposição de longa duração,
Protection - ICNIRP). Esta organização não- porque a informação científica
governamental, formalmente reconhecida pela disponível a respeito dos efeitos de
OMS (WHO), avalia resultados científicos de longo prazo e de baixa intensidade de
todas as partes do mundo. ICNIRP produz exposição a CEM, é considerada
diretrizes recomendando limites de exposição, as insuficiente para estabelecer limites
quais são periodicamente revistas e atualizadas quantitativos.
quando necessário.
Partindo dos efeitos da exposição
EM QUE SE BASEIAM AS DIRETRIZES?
intensa de curta duração, as
As diretrizes da ICNIRP desenvolvidas para a diretrizes internacionais usam o nível
exposição a CEM cobrem as freqüências de de exposição aproximado, ou limiar,

51
DIRETRIZES E POLÍTICAS RELATIVAS À EXPOSIÇÃO A CEM: A SITUAÇÃO ATUAL

que potencialmente levaria a efeitos saúde variáveis que, em muitos casos, não
biológicos adversos. Para levar em conta as estão alertas para sua exposição aos CEM.
incertezas científicas, esse limiar é ainda Além disso, os trabalhadores estão expostos
mais reduzido quando da derivação de apenas durante o dia de trabalho
limites para a exposição humana. Por (geralmente 8 horas por dia) enquanto o
exemplo, ICNIRP usa um fator de redução público em geral pode estar exposto a até 24
de 10 para derivar limites ocupacionais para horas por dia. Essas são as considerações
trabalhadores e um fator de cerca de 50 para básicas que levam às restrições de exposição
chegar aos limites de exposição do público mais rigorosas para esses do que para a
em geral. Os limites variam com a população ocupacionalmente exposta
freqüência, e são, portanto, diferentes para (Figura 9).
campos de baixas freqüências como linhas
de transmissão, e de altas freqüências como
DIRETRIZES DE EXPOSIÇÃO ATUAIS
telefones móveis (Figura 9).
+ Em geral, as normas para campos
eletromagnéticos de baixas freqüências são
POR QUE SE APLICA UM FATOR DE REDUÇÃO
determinadas para evitar efeitos adversos à
MAIOR PARA AS DIRETRIZES DE
saúde devido a correntes elétricas induzidas
EXPOSIÇÃO DO PÚBLICO EM GERAL?
dentro do corpo, enquanto normas para campos
A população submetida à exposição de radiofreqüências previnem efeitos à saúde
ocupacional consiste de trabalhadores causados por aquecimento localizado, ou no
adultos que estão conscientes dos campos corpo inteiro

eletromagnéticos e de seus efeitos. Os


+ Níveis máximos de exposição diária estão
tipicamente abaixo dos limites das diretrizes
trabalhadores são treinados para ter
+ Diretrizes de exposição não têm a intenção de
consciência do risco potencial e para tomar proteger contra a interferência eletromagnética
as medidas de precaução adequadas. Em (EMI) em dispositivos eletromédicos. Novas
contraste, o público em geral consiste de normas industriais estão sendo desenvolvidas
indivíduos de todas as idades e de graus de para evitar tal interferência

53
FIGURE 10. RANGE OF ACTIONS UNDER UNCERTAINTY
(adapted from
The precautionary principle and EMF: implementation and evaluation
,
Kheifets L. et al.,
Journal of Risk Research
4(2), 113-125, 2001).
DIRETRIZES E POLÍTICAS RELATIVAS À EXPOSIÇÃO A CEM: A SITUAÇÃO ATUAL

ABORDAGENS PREVENTIVAS E há suficiente evidência científica (mas não


O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO necessariamente prova absoluta) de que a
falta de ação pode implicar em dano, e
Em todo o mundo ha um movimento
quando a ação pode ser justificada com
crescente, dentro e fora de governos, em
base em julgamentos razoáveis de custo-
favor da adoção de “abordagens preventivas”
benefício”. Tem havido muitas
para o gerenciamento de riscos à saúde em
interpretações e aplicações diferentes do
face da incerteza científica. O leque de ações
princípio da precaução. Em 2000, a
tomadas depende da severidade do dano e do
Comissão Européia definiu diversas regras
grau de incerteza em torno da questão.
para a aplicação deste princípio (ver tabela
Quando o dano associado a um risco é
abaixo), incluindo análises de custo-
pequeno e sua ocorrência incerta, faz sentido
benefício.
tomarem-se poucas medidas, se tanto. Por
outro lado, se o dano potencial é grande e
existe pouca incerteza quanto a sua
ocorrência, ações significativas, como um
banimento, devem ser implementadas
ABORDAGENS COM BASE CIENTÍFICA E
(Figura 10).
PREVENTIVAS PARA CEM

O Princípio da precaução é usualmente As avaliações dos fatores de risco com base


aplicado quando existe um elevado grau de científica advindas da exposição a CEM
incerteza científica e existe uma formam parte da avaliação de risco e são
necessidade de agir com relação a um risco parte essencial de uma resposta de política
potencialmente sério sem esperar pelos pública apropriada. As recomendações das
resultados de mais pesquisas científicas. diretrizes da ICNIRP seguem revisões
Foi definido no Tratado de Maastricht científicas rigorosas de artigos científicos
como “a tomada de ação prudente quando publicados relevantes, incluindo aqueles nos

55
DIRETRIZES E POLÍTICAS RELATIVAS À EXPOSIÇÃO A CEM: A SITUAÇÃO ATUAL

O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO com a qual CEM interagem com as pessoas.


COMISSÃO EUROPÉIA (2000)
Quando uma ação é considerada necessária, as Abordagens preventivas, tais como o
medidas baseadas no princípio da precaução devem Princípio da Precaução, lidam com
ser: incertezas adicionais com respeito a
+ proporcionais ao nível de proteção escolhido,
efeitos adversos à saúde possíveis, mas
+ não-discriminatórias na sua aplicação,
+ consistentes com medidas similares já tomadas,
não provados. Tais políticas de
+ baseadas em um exame dos potenciais benefícios gerenciamento de risco fornecem uma
e custos da ação ou da sua falta (incluindo, oportunidade para que sejam tomadas
quando apropriado e factível, uma análise medidas incrementais relativas a questões
econômica custo/benefício), emergentes. Estas devem incluir
+ sujeita a revisão
revisão,, em luz de novos dados
considerações de custo-benefício e devem
científicos, e
+ capaz de atribuir responsabilidades pela produção
ser vistas como uma adição a, e não como
da evidência científica necessária para uma uma substituição de abordagens com base
avaliação de risco mais abrangente. científica, para auxiliar os tomadores de
decisão no desenvolvimento de políticas
campos da medicina, epidemiologia, biologia públicas.
e dosimetria. Julgamentos com base
científica a respeito dos níveis de exposição No contexto da questão de CEM, alguns
que irão prevenir efeitos adversos à saúde governos nacionais e locais têm adotado
identificados são então realizados. Aqui, “abstenção por prudência” (prudent
exercita-se cautela tanto com respeito à avoidance) uma variante do princípio da
magnitude dos fatores de redução (baseados precaução, como opção política. Foi
nas incertezas nos dados científicos e em aplicada inicialmente para campos ELF e é
possíveis diferenças na suscetibilidade de descrita como utilizando medidas simples,
certos grupos) e com relação às hipóteses facilmente atingíveis, de custo baixo a
conservadoras feitas a respeito da eficiência moderado (prudente) para reduzir a

56
DIRETRIZES E POLÍTICAS RELATIVAS À EXPOSIÇÃO A CEM: A SITUAÇÃO ATUAL

exposição individual ou pública a CEM, a consciência de que isso mina a


mesmo na ausência de certeza de que credibilidade da ciência e dos limites de
essas medidas reduzem o risco. exposição.

O reconhecimento explícito de que um


risco pode não existir é um elemento-
chave nas abordagens preventivas. Se a
comunidade científica concluir que não há
O QUE ESTÁ FAZENDO
A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE?
risco proveniente da exposição a CEM ou
de que a possibilidade de risco é muito Em resposta à crescente preocupação pública
especulativa, então a resposta apropriada sobre possíveis efeitos adversos da exposição
à preocupação pública deverá ser um a um número e variedade crescentes de
programa educacional eficiente. Caso se fontes CEM, a Organização Mundial de
estabeleça a existência de um risco, será Saúde (OMS / WHO) lançou o Projeto
então apropriado apoiar-se na Internacional CEM (International EMF
comunidade científica para recomendar Project), em 1996. Todas as avaliações de
medidas de proteção específicas usando risco à saúde estarão completadas em 2006.
critérios bem estabelecidos de
gerenciamento de risco / avaliação de risco Tal projeto reúne todo o conhecimento
à saúde pública. Se grandes incertezas atual e as fontes disponíveis de agências-
permanecerem então são necessárias mais chave, internacionais e nacionais, e de
pesquisas. instituições científicas de maneira a avaliar
efeitos à saúde e ambientais da exposição a
Se as autoridades reguladoras reagirem à campos elétricos e magnéticos estáticos e
pressão do público introduzindo limites de dependentes do tempo na freqüência 0-
precaução que se somem aos limites com 300GHz. O Projeto foi desenhado para
base científica já existente, elas devem ter seguir uma progressão lógica de atividades

57
PRINCIPAIS OBJETIVOS
PROJETO INTERNACIONAL CEM DA OMS
1. Fornecer uma resposta internacional coordenada para as
preocupações com possíveis efeitos à saúde da exposição
a CEM,

2. Avaliar a literatura científica e gerar relatórios de status sobre


esses efeitos,

3. Identificar hiatos no conhecimento que necessitem de mais pesquisas


para permitir melhores avaliações de risco,

4. Encorajar programas de pesquisa focalizados e de alta qualidade,

5. Incorporar os resultados das pesquisas nas monografias "Guia dos Critérios de Saúde
Ambiental" da OMS (WHO´s Enviromental Health Criteria Guide), nas quais avaliações
de risco à saúde formais devido à exposição a CEM serão feitas,

6. Facilitar o desenvolvimento de padrões internacionalmente aceitos para a exposição a


CEM,

7. Fornecer informação sobre o gerenciamento de programas de proteção de CEM para


autoridades nacionais e outras, incluindo monografias sobre percepção de risco de
CEM, comunicação e gerenciamento, e

8. Fornecer aconselhamento a autoridades nacionais e outras sobre efeitos à saúde e


ambientais de CEM e quaisquer medidas ou ações de proteção necessárias.
DIRETRIZES E POLÍTICAS RELATIVAS À EXPOSIÇÃO A CEM: A SITUAÇÃO ATUAL

e para produzir uma série de resultados de internacionais, mais de 50 autoridades


forma a permitir que avaliações nacionais, e 7 centros colaboradores sobre
aperfeiçoadas de risco sejam realizadas e a proteção contra radiação não-ionizante de
identificar quaisquer impactos ambientais destacadas agências governamentais.
da exposição a CEM.
Maiores detalhes sobre o Projeto CEM e
resultados obtidos até o momento estão
O Projeto é administrado na sede da OMS disponíveis na homepage:
em Genebra, uma vez que ela é o único http://www.who.int/emf/.
órgão da Organização das Nações Unidas
com um mandato claro para investigar
efeitos de agravo à saúde devido à
exposição de pessoas à radiação não-
ionizante. A OMS colabora com 8 agências EMF

59
GLOSSÁRIO

ABSORÇÃO Na propagação de ondas de rádio, atenuação de ANÁLISE DE CUSTO-BENEFÍCIO Método das


uma onda de rádio devido à dissipação de sua energia, isto é, ciências econômicas para avaliar os custos e
conversão de sua energia em nova forma, como calor. benefícios de atingir padrões alternativos com
ABORDAGEM PREVENTIVA Usada para gerência de risco a diferentes níveis de proteção à saúde.
saúde diante da incerteza científica, alto risco potencial e ASSOCIAÇÃO Em epidemiologia, uma conexão
controvérsia pública. Diversas políticas diferentes promovendo estabelecida na base de cálculo estatístico no
a precaução foram desenvolvidas para tratar das sentido de que, em indivíduos exibindo um certo
preocupações sobre a questão da saúde pública, ocupacional quadro clínico, certos fatores ambientais
e ambiental. aparecem mais freqüentemente do que em
AGÊNCIA INTERNACIONAL PARA PESQUISA SOBRE CÂNCER (IARC) indivíduos que não exibem aquele quadro. A
Do inglês “International Agency for Research on Cancer”. existência de uma associação não constitui prova
Agência especializada da OMS, sua missão é coordenar e de uma ligação causal, mas pode muito bem
conduzir pesquisa sobre causas de câncer humano, justificar novas pesquisas.
mecanismos carcinogênicos, e desenvolver estratégias AVALIAÇÃO DE RISCO Processo formal usado para
científicas de controle. descrever e estimar a probabilidade de ocorrência
AGUDO De conseqüência imediata, de curto prazo. de efeitos adversos à saúde, decorrentes de
ALARA Do inglês “As Low As Reasonably Acheivable” (tão exposição ambiental a um agente. Os quatro
baixo quanto possível dentro do razoável), usado para passos são: identificação da ameaça, avaliação
minimizar riscos, levando em conta diferentes fatores tais dose-resposta, avaliação da exposição, e
como custo, benefícios ou fatores de factibilidade. É caracterização do risco.
apropriado apenas quando se considera um risco estocástico CAMPO ELÉTRICO Região associada com a
e se assume que não haja valor limiar. Originalmente usado distribuição de forças elétricas atuando sob
em radiação ionizante. cargas elétricas.
AMEAÇA Uma fonte ou situação de possibilidade de dano ou
prejuízo.

60
GLOSSÁRIO

CAMPO MAGNÉTICO Região associada com forças atuando CRISE Ponto crucial ou decisivo quando conflitos atingem
sobre partículas ferromagnéticas ou sobre cargas elétricas seus pontos de maior tensão; um ponto de retorno. No
em movimento. “Ciclo de Vida da Questão”, o estágio da crise é quando os
CAMPOS ESTÁTICOS Campos elétricos ou magnéticos sem participantes exigem uma ação imediata, isto é, quando o
variação no tempo, isto é, 0 Hz. diálogo cessa e o processo estabelecido não funciona
CARCINOGÊNICO Uma substância ou agente que causa mais.
câncer. DOSIMETRIA Técnica para determinar a quantidade de
CEM Abreviatura para campos eletromagnéticos ou energia eletromagnética absorvida pelo corpo ou seus
campos elétricos e magnéticos. tecidos.
CICLO DE VIDA Acompanhamento de um projeto ou EFEITO Mudança no estado ou dinâmica de um sistema,
preocupação pública através do tempo em todos os causado pela ação de um agente.
estágios de seu desenvolvimento e evolução. EFEITO DE LONGO PRAZO Efeito biológico que se manifesta
COMISSÃO INTERNACIONAL PARA PROTEÇÃO CONTRA apenas um longo tempo após a exposição.
RADIAÇÃO NÃO-IONIZANTE (ICNIRP) Do inglês “International EFEITOS DE CURTO PRAZO Efeitos biológicos que ocorrem
Comission for Non-Ionizing Radiation Protection”. É uma durante ou logo depois da exposição.
organização científica internacional independente cujos EFEITOS TÉRMICOS Efeitos biológicos causados por
objetivos são direcionar e alertar sobre as ameaças à aquecimento.
saúde derivadas das exposições a radiações não EMISSÃO Geralmente emissões são substâncias
ionizantes, Ela está formalmente relacionada com a OMS, descarregadas no ar; neste manual, emissões são ondas
a Organização Mundial do Trabalho e a Comissão das eletromagnéticas irradiadas por uma fonte (por exemplo,
Comunidades Européias. linhas de força ou antenas).
COMPATIBILIDADE ELETROMAGNÉTICA Propriedade que um ENVOLVIDO Em inglês foi usado o termo “stakeholder” para
aparato elétrico ou eletrônico possui para funcionar indicar pessoa ou grupo que tem interesse nos resultados
satisfatoriamente no seu ambiente eletromagnético sem de uma política ou decisão, ou procura neles influenciar.
introduzir nesse ambiente sinais de interferência EPIDEMIOLOGIA Estudo de doença e saúde em populações
inaceitáveis. humanas e dos fatores que nelas influem.
COMUNICAÇÃO DO RISCO Processo interativo de ESTAÇÃO RÁDIO-BASE (telefonia móvel) Consiste em
intercâmbio de informações e opiniões entre indivíduos, antenas emissoras de radiação eletromagnética de
grupos e instituições. Envolve múltiplas mensagens sobre a radiofreqüência, sua estrutura de sustentação (torre), a
natureza do risco e outras mensagens, não estritamente cabine de equipamentos e o cabeamento.
sobre risco, que expressam preocupações, opiniões, ou EXPOSIÇÃO Concentração, quantidade ou intensidade de
reações às mensagens de risco, ou ainda sobre os arranjos um agente particular que atinge um sistema alvo.
legais e institucionais para a gerência do risco.

61
ESTABELECENDO UM DIÁLOGO SOBRE RISCOS DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL Toda exposição a CEM LIMITE DE EXPOSIÇÃO Valores máximos de parâmetros
experimentada por indivíduos no curso do exercício de seu específicos relacionados com intensidade de campos
trabalho. eletromagnéticos para os quais se aceita que as pessoas
EXPOSIÇÃO PÚBLICA Toda a exposição a CEM possam ser expostas. Faz-se uma diferenciação entre
experimentada por membros do público em geral, restrições básicas e níveis de referência.
excluindo-se exposição ocupacional e exposição durante MICROONDAS Campo eletromagnético com comprimento
procedimentos médicos. de onda suficientemente curto para o qual pode-se fazer
FATOR DE REDUÇÃO Constante redutora ou “fator de uso prático de guias de onda e técnicas de cavidade
segurança” aplicado aos valores dos limites de exposição, associadas, na sua transmissão e recepção. O termo é
de modo a incorporar as incertezas dos dados. empregado para significar radiação ou campo nas
FISCALIZAÇÃO DO RISCO Procedimento de vigilância e freqüências entre 300 MHz e 300 GHz.
resposta para o processo de gerência de risco em NÍVEIS DE REFERÊNCIA Valores para a intensidade dos
andamento, com sistemas de acompanhamento campos elétrico e magnético que são deduzidos a partir
coletando dados ao longo do tempo sobre os fatores de de restrições básicas e que servem para estabelecer se
risco e sobre os resultados para a saúde. tais restrições básicas estão sendo satisfeitas. Medir as
FREQÜÊNCIA Número de ondas completas ou ciclos por quantidades que atendem as restrições básicas não é
segundo que passa em um dado ponto. A unidade é hertz simples; ao passo que intensidades de campos elétricos e
(1 Hz = 1 ciclo por segundo). magnéticos são facilmente medidas.
FREQÜÊNCIA EXTREMAMENTE BAIXA Do inglês “Extremely NOMINAL GROUP PROCESS Técnica de moderação em
Low Frequency” ELF. São as freqüências acima de zero, e dinâmica de grupo útil para estabelecer metas e identificar
abaixo de 300 Hz. problemas; o grupo responde individualmente a uma
FREQÜÊNCIA INTERMEDIÁRIA (IF) Do inglês “Intermediate questão de valor ou conflito, escrevendo todas as
frequency”. Campos eletromagnéticos na faixa de respostas em uma lista; cada participante lê uma resposta
freqüência entre 300 Hz e 10 MHz. até que todas as respostas (incluindo as duplicadas
GERÊNCIA DE RISCO Processo de identificação, avaliação, indicadas por uma marca) sejam visivelmente listadas;
seleção e implementação de ações para redução do risco segue discussão para esclarecimento ou para debate em
à saúde humana e aos ecossistemas. profundidade; se a meta é uma lista priorizada, o
INCERTEZA Conhecimento imperfeito sobre o estado de moderador pede a todos que individualmente e em
um sistema sob consideração. silêncio assinalem os três mais importantes (ou outro
INSTRUÇÃO NORMATIVA Em inglês “regulation” é um número previamente combinado) dentre os constantes na
conjunto legal de regras, que usualmente regula uma lei. lista e então repete o processo de registro das respostas;
LIMIAR ou NÍVEL LIMIAR Valor mínimo do parâmetro de o moderador então leva o grupo para uma discussão que
exposição que permite a observação da primeira resulta numa lista de prioridades e pode produzir um
ocorrência de um efeito. plano de ação para implementar aqueles itens.

62
GLOSSÁRIO

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS) É uma interessados que respondam um questionário sobre a
agência da Organização das Nações Unidas com mandato questão; distribuir suas respostas aos especialistas;
para agir como autoridade diretora e coordenadora em repetir o processo até que os especialistas tenham
trabalhos internacionais sobre saúde, promovendo suficiente confiança para tomar decisões ou propor
cooperação técnica, assistindo governos no recomendações que eles acreditem que a comunidade
fortalecimento de serviços de saúde, e trabalhando em aceitará.
busca de prevenção e controle de doenças epidêmicas, PROPORCIONALIDADE O que for feito para proteger contra
endêmicas e outras. o risco de um agente ou circunstância tem que ser
PERCEPÇÃO DE RISCO Modo com que um indivíduo ou aproximadamente o mesmo que foi feito para outros
grupo percebe e valoriza certo risco. Um particular risco agentes ou circunstâncias de preocupação similar.
ou ameaça pode ter significado diferente dependendo do PRUDENT AVOIDANCE “Abstenção por Prudência” é uma
indivíduo ou contexto. medida preventiva que pode ser adotada para reduzir
PESO DA EVIDÊNCIA Considerações envolvidas na exposição pública a custo pequeno ou moderado; aqui o
avaliação e interpretação de informação científica termo prudente se refere a desembolso.
publicada. Incluem a qualidade dos métodos, a PUBLIC VALUE ASSESSMENT “Avaliação pelo valor público”.
capacidade de um estudo de detectar efeitos adversos, Entendendo como a comunidade atribui valores às coisas.
consistência dos resultados ao longo dos estudos, e RADIAÇÃO NÃO IONIZANTE (RNI) Ondas eletromagnéticas
plausibilidade biológica das relações causa e efeito. cujos fótons tem energia muito fraca para quebrar a
PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO Princípio pelo qual se tomam fronteira do átomo.
medidas para limitar certa atividade ou exposição, RÁDIOFREQÜÊNCIA (RF) Qualquer freqüência na qual a
mesmo que não tenha sido completamente estabelecido radiação eletromagnética é útil para telecomunicações.
que a atividade ou exposição constitua ameaça à saúde. Aqui, radiofreqüência se refere à faixa de freqüência que
PROCESSO DELPHI Método para estabelecer consenso, vai de 10 MHz a 300 GHz.
apresentado em duas variações. A primeira inclui os RELAÇÃO DOSE-RESPOSTA Relação entre exposição,
seguintes passos: identificar indivíduos de reconhecido caracterizada pela intensidade e duração, e a incidência
domínio da questão e pedir a eles que identifiquem e/ou severidade do efeito adverso.
outros; repetir até que fique claro quem as pessoas RESTRIÇÕES BÁSICAS Limites de exposição baseados em
acham que são os especialistas; então, elaborar critérios de saúde relacionados a certos fenômenos
predições de cada um deles, divulgar os resultados e eletromagnéticos que, se excedidos, podem provocar
pedir que refaçam suas predições; finalmente, repetir o agravos ao corpo humano. Para campos estáticos estes
processo até que os membros não queiram mais fazer limites são as intensidades dos campos elétricos e
modificações. A segunda variação inclui: montar um magnéticos, para campos oscilantes até por volta de 10
painel de especialistas, mas pedir aos interessados que MHz, é a corrente elétrica induzida no corpo, ao passo
apontem os que eles mais confiam; pedir aos que para campos oscilantes acima dos aproximadamente

63
ESTABELECENDO UM DIÁLOGO SOBRE RISCOS DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

100 kHz, é a conversão em energia térmica que os SAÚDE PÚBLICA A ciência e prática de proteger e melhorar
campos eletromagnéticos produzem no corpo. Entre 100 a saúde de uma comunidade, seja por medicina
kHz e 10 MHz ambos são importantes, tanto a corrente preventiva, educação para a saúde, controle de doenças
induzida quanto o calor provocado. notificáveis, aplicação de medidas sanitárias, e
REVISÃO POR PARES Avaliação da acuidade ou validade de monitoramento de ameaças ambientais.
dados técnicos, observações, e interpretação por SPECIFIC ABSORTION RATE (SAR) Taxa de absorção
especialistas qualificados. específica. Taxa de absorção da energia pelos tecidos do
RISCO É a probabilidade de um resultado específico corpo, medida em watt por quilograma (W/kg); SAR é a
ocorrer, geralmente adverso, dado um particular conjunto medida dosimétrica que foi largamente adotada para
de circunstâncias. freqüências acima de aproximadamente 100 kHz.
SAÚDE Estado de completo bem-estar físico, mental e TELEFONIA MÓVEL Meio de comunicação onde ao menos
social e não meramente a ausência de doença ou um dos usuários possui um telefone móvel para se
enfermidade. comunicar via estação de rádio-base com outro usuário
em um telefone fixo ou móvel.

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LEITURAS ADICIONAIS

Flynn,J. (Ed.) (2001): Risk, media and stigma:understanding public challenges to modern science and technology. London:
Earthscan.
.
Gutteling, J.M., Wiegman, O. (1996): Exploring risk communication. Dordrecht: Kluwer.

International Agency for Research on Cancer (2002): Non-Ionizing Radiation, Part 1: Static and Extremely Low-Frequency (ELF)
Electric and Magnetic Fields.Monograph Volume 80, Lyon, France

Kammen,D.M., Hassenzahl,D.M. (1999): Should we risk it? Princeton, NJ: Princeton University Press.

Lundgren,R.E., McMakin,A.H. (1998): Risk communication: A handbook for communicating environmental, safety & health
risks. Battelle Press.

National Research Council (1989): Improving risk communication.Washington,DC: National Academy Press.

National Research Council (1994):Science and judgment in risk assessment.Washington,DC: National Academy Press.
Phillips Report for the UK Government on the BSE crisis (2000),Volume 1, Findings & Conclusions, Chapter 14,
http://www.bse.org.uk/pdf/index.htm

Presidential/Congressional Commission on Risk Assessment and Risk Management (1997): Final report,Vol. 1: Framework for
environmental health risk assessment.Washington,DC.

Presidential/Congressional Commission on Risk Assessment and Risk Management (1997): Final report,Vol.2: Risk
assessment
and risk management in regulatory decision-making.Washington,DC.

Rodericks, J.V. (1992): Calculated risks. Cambridge,MA:Cambridge University Press.

65
LEITURAS ADICIONAIS

US EPA (1989): Risk Assessment Guidance for Superfund (RAGS).Volume 1, Human Health Evaluation Manual,Part A.
http://www.epa.gov/superfund/programs/risk/ragsa/index.htm

US EPA (1989): Risk Assessment Guidance for Superfund (RAGS).Volume 1, Human Health Evaluation Manual,Part C.
http://www.epa.gov/superfund/programs/risk/ragsc/index.htm

US EPA (2000):Social Aspects of Siting Hazardous Waste


http://www.epa.gov/epaoswer/hazwaste/tsds/site/k00005.pdf

Wilkins,L.(Ed.) (1991):Risky business:communicating issues of science,risk,and public policy.New York,NY:Greenwood Press.

Windahl, S., Signitzer, B., and Olson, J.T.2000.Using Communication Theory: An Introduction to Planned Communication.
SAGE,London.

Yosie,T.F.,Herbst,T.D.(1998):Using Stakeholder Processes in Environmental Decision making.


http://www.riskworld.com/Nreports/1998/STAKEHOLD/HTML/nr98aa01.htm

PERCEPÇÃO DE RISCO, COMUNICAÇÃO DE RISCO E


GERENCIAMENTO DE RISCO APLICÁVEIS A CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS
EMF Risk Perception and Communication, 1999. Proceedings from the International Seminar on EMF Risk Perception and
Communication, Ottawa, Ontario, Canada.M.H.Repacholi and A.M.Muc, Editors,World Health Organization,Geneva,
Switzerland.

Risk Perception, Risk Communication and its Application to EMF Exposure, 1998. Proceedings from the International
Seminar on EMF Risk Perception and Communication, Vienna, Austria.R. Matthes, J. H.Bernhardt,M.H.Repacholi, Editors,
International Commission on Non-Ionizing Radiation Protection.
http://www.icnirp.org/

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ESTABELECENDO UM DIÁLOGO SOBRE RISCOS DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS

CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS E SAÚDE


The World Health Organization International EMF Project
http://www.who.int/emf

The International Commission on Non-Ionizing Radiation Protection (ICNIRP)


http://www.icnirp.org

The National Radiological Protection Board (NRPB) of the United Kingdom


http://www.nrpb.org

The NIEHS special RAPID program on electromagnetic fields


http://www.niehs.nih.gov/emfrapid

COMUNICAÇÃO E GERENCIAMENTOP DE RISCO


The annotated bibliography on risk communication of the National Cancer Institute of the United States
http://dccps.nci.nih.gov/DECC/riskcommbib/

The Department of Health of the United Kingdom on:Communicating About Risks to Health:Pointers to Good Practice
http://www.doh.gov.uk/pointers.htm

The annotated guide on literature about risk assessment, risk management and risk communication of the Research Center
Jüelich/Germany
http://www.fz-juelich.de/mut/rc/inhalt.html

The US Environmental Protection Agency on risk assessment and policy options


http://www.epa.gov/ORD/spc

A description of current national guidelines can be found on the WHO web page at
http://www.who.int/docstore/peh-emf/EMFStandards/who-0102/Worldmap5.htm

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