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ede aco de Cato o Pabiso (inure doe, Se Bra) octal polis sro Bad emerson Er Pal Ce "dene: Tam 18 “ior eee | 1. Capito 2 Demorrcia3. 0 Bao “Tbemimo soca soe Tae Emi, 1983 TG ab AA. \ on Indices par catiogo stent |. Nebel: Beans 330122 EDITORA PAZ E TERRA SA Ru do Titel, 177 01213 sto Palo — SP Tas @Inmane ‘Ras Die Fenera n= 17 — Lo Pate RO-050 — Rodeo "en 2398946 mara 1998 Imre nl /Printed inact |_VAOF RS. INDICE Apresentaglo, 7 1 ‘Balango do neoliberalismo, 9 Perry Anderson Comentarists Francisco de Oliveira, Jost Paulo Netto, Emir Sader 1 ‘crise €0 futuro do capitalsmo, 39 Goran Therbors Comentarits: Pierre Salama, Las Fernandes 1 {A sociedade civil depois do dlivio neoliberal, 63 “Atlio Bord Comentarists: Kiva Maidan, Joos Ricardo Ramalho, Lue A, Machalo v ‘A trama do neotberaismo ‘Mercado, erseeexclusio social, 139 m A SOCIEDADE CIVIL DEPOIS DO DILUVIO NEOLIBERAL © presente trabalho consta de quatro partes. Na primeira se cexploram significado da democraca ¢ da cidadaniae sua on vulsionada relagSo com as estuturas de dominagio ineretes 4s sociedadescapitalisas. Na sogunda se forncoem antecedents $0- bre o impacto da recessio e dos ajutes de inspiragio liberal so- bre as condigées de vida das classes e camadae populares na ‘América Latina. Na teresa, se formulam algumas apreciagies ‘acerca da validez empiicae consisténcia ligia de algumas das proposts centais da ortodoxia neoliberal. Na quart, finalmente, ‘se fazem algumas reflexdes sobre o tipo de sociedade civil esul- tare do dilivio neoliberal Cidadania e questtio democrética na América Latina Uma concepedo “mminimalista” da democracia A incompleta¢ rlativamentsprecria democratizaso dos regimes politicos latino-americanos veio acompanhada de uma reabertura do debate sobre 0 significado atval da democracia, Poucas vezes poderia um tema como este ter sido mais opartino fem um continente que — como mais de uma vez hava recordado ‘Agustin Cueva — em sous quase dois séeulos de vida inde. 8 ‘pendente nfo conhecea uma nica revolupio burguesa que tives- fe culminado na instauragio de um regime democritic estvel, louve algumas revolugdes bunguesas, & cero: no México em 19101917, na Guatemala em 1944, na Bolivia em 1952, ¢ até no ‘Basil a partir de 1964. Mas nenhuma delas conclu suas “sets pendentes”, etabelecendo um regime democritco: su preoct ‘paso, ao contro, foi consolidaro funcionamento do modo de rodupto capitalists, nfo intoduzir a demooracia burguesa. Sua ‘meta ¢ seu objetivo era o capitalismo, nfo a democracia.O molde uloitisio do capitalismo latino-americano tx ralzes mui profun- as, que derivam de nosso passado colonial eda modalidade racio- Em todo caso, por volta do comepo dos anos 80, a América [Latina pareciadisposta a tentar organiza, uma vez mais, sua vida ‘pblica em consondncia com os preceitos democriticos. Essa ten- ‘ééncia foi reforgada pelo fato de que, desde meados dos anos 70, ‘9 impulso democritico comopou a ser sentido com uma fore sem precedentes na histéia da humanidade. Nunca como entio ‘houve tants nagdes que se eategaram & empresa de transformar seu regime politico segundo as rogras do jogo democritca, I= pressonado com esses acontocimentos, alguns terices, como Sa ‘muel Huntington, tinbam acreditado verneles a manifestayto de tum tipo de “teresa onda democrtica”™? Como produto tanto desta vaga democritia como daquilo que Norberto Bobbio cha- mara de “as durasréplicas da histéria” — e que inci tanto © enomenal fracas do sociaismo stalinicta,sofido pela URSS © pelos paises do Leste europeu, como a completa inoperincia das formulas social-democratastradicionas para “superar” ao capi- ‘alismo —, um segmento importante da esquerdalatino-america- nna aderiu a uma eoncepeto ingenuamente otimista © “facilista” da democraca, que repousa em dois supstos: a 0 carter supos- famente linear e imreversvel dos progressos democriticos, algo «qu, por exzmplo, um coaservadorhicido e realista como Hun- fingion se nega temminantemente a admit b) a ereng, tori ‘mente exréneae historcamente fala, de que a democracia 6 wn projet que se esgota apenas na “normalizagSo” das istiuigSes “4 r politcas, A empresa dramitica de instaurar a democracia se re~ (x28 crag © & instnucionalizgto apenas de uma ordem poii- 2 isto 6, um setema de regras do jogo que faz abstrapdo de seus ‘ontoides tices eda natureza profunda dos antagonismos socials ‘que apenas coloca problemas de governabiidade ¢eficdcia ad Ininistativa* Assombra comprovar como algo que parees & pri reira vista tho simples © razoivel segundo estes autores tena podide despertar ao longo da histia pistes tio transbordants, ‘roduzido fsistincias to encamigadas e provorado nos mais di- ‘ersos pos de sociodades revolugées € contrarevoluptes, sa areotas guoras civis, prolongadas lutas reivndcaivas selva- ‘gens represides, Tord sido tudo por causa de um, simples ‘mal-entendido ou ser que a implantago da democracia¢ a coagi- Topo de um determinado resultado da lta de classes e, coma, ‘sth muito longe de ser um simples trimite administrative? Atendo- ‘nos & expeignciahistrica brasileira, podelamos dizer que foi mi- tssimo mais simples conseguir a aboigso da esravidoe produit queda doimpeéro do que alcangar a democracia barguesa, E certo que a imagem que proetam hoje os que defendem cesta concepgio “minimalist” da democracia — lamentavelmen- te dfundida também mo ecio de muita forgas de inspraso socia- lista — pouco tem a-ver com que nos legaram algumas das rmaiores cabogas da tora politica, desde Platio até Marx. Sem ‘isposigo de iniciar um tabalho exzgético que permita opor a8 imagens clssicas da democraia com suas verses contempori- ‘nes, parece-nos apropriado recordar aqui vsko que um s8brio fe atento abservador dessas questées — referimo-nos a Alexis de ‘Tooqueville, 2 quem ninguém pode acusar de “inelinagSes es- quentistas” —, popularizada em seu clssico estado ¢ que 0 levou a independentizado da base mate~ tial. Deste modo se poderia pregaro liberalismo e o democrats- mo de um Estado euja cidadania, no enanto,nio transcendia © lniverso das classes proprietrias, ou que fazia daquela uma ‘questo abstrata ¢inconsequente. As luas populares que obriga- ram a democratizacio dos Estados capitalists vameram com e$- sas premissas. Depois da Primeira Guewra Mundial, da Revolucio Russa e da Grande DepressSo, o Exiado burputs j4 36 poderia reclamar para si o titulo de “democrtico” & condiefo de que repousasse sobre uma base de massas, algo inconcebivel — € inadmissivel — na toriaconvencional. Essa “neccesidade bist rica” precipitaria uma importante reformulagao do liberalismo, ‘dando assim nascimento ao liberalismo democritico ¢& instivel tentatva de reconeliar capitalism com democracia.* 'E precisamente como produto do peso que seguem tendo essas premissas de riz lockeana que grande parte das contibui- 8es recentes produzidas no interior desea tradi doutrindia tem um inconfundivel sabor de “fantasia”, Di-se por suposto, n por exemplo, que nas democraciaslatino-americanas hi cidados tao que ivera gue ver alé que pono e em que proposio ¢ ‘certo om cada pais) ou se formulam juzos absratos sobre “a ‘emocracia” e seus problemas, que pariem do suposte, quase ‘nunca explicitado, de que esta funciona na Argentina, no Brasil ‘ou no Chile nem se fle no Haiti, na Guatemala ou em Honduras crite mesmo modo que o faz nos paises escandinavos. Nio & ‘ama mera casualidade que ternos crucinis para o esto das de- Imocracias eapitalistas no mundo deseavolvido — tais como ac- Countabilty ow governamental responsiveness, por exemplo— ‘aregam de tradugdo literal em lingua castelhana e em portugues. que, até muito recentemente, eram palavras desnecessrias: 8 cexperiénciapritica dos poves ibero-americanos nfo susitava a ‘ecessidade de ear 0 conceito* ‘Uma reformulacao integral A ierupgdo dae massas no Estado captalistatomou ineviti- ‘ela reformulasdo da quostio democritica. A raz dist, a tad ‘ional concepslo “garantsta”e exclusivista que havia predoni= tado aié a Primeira Guerra Mandial — com sus forte marca formalista —revelou todas suas insufcibncizs. Ito ndo sgnfica- va, naturalmente, que os velos prineipis coificados pelo cons- titucionalismo liberal burgués dos séculos XVIII e XIX tvessem ‘perdido seu valor, transformando-se da noite para o dia em des- Dreziveis “formalidades”. No entanto, em curioso casamento — (que ni seria altima vez que se verficara na hstéria —, tanto ‘Peaquerda dogmatica como a dieitareacionéria corporativista ‘competiram para ver quem combatia com mais afinco a heranga (a tadigfo liberal. Coube @ Rosa Luxemburgo a honra de haver ‘sido quem, com singular agudeza,reconheceu que aqueas liber- ade, direitos e garantas individuals apostofadas por sua supos- ‘wcondigio de “burguesas” seguiam sendo condigBes necessarias “ainda que nfo sficientes — para a consrupso de uma demo- ‘cracia scialista. Sua clara opeorevolucioniia nfo a fez sucum- bir diante da tentagio — que tanto estragos havia feito na es- aquerda — de desqualificar a democracia Durguesa por ser n exclusivamente “foal”? vader da erica socialise is i ‘Sonsntnias de um regime cujos predicaosiguaiarsas © de- ‘ocrloos so incongruent com sus pemissas pict cl. Sous e atorirascontina sendo ainda hee ioftivel Vso se nlo & desoladoro panorama de nostas democracias, mac dove precaramente de pé sobre sociedaes earuturaents i Jasas, que condenam daramente mlhaes de pessoas raging. Tidade eo desamparo, Claro qu, segundo 0 iinerso topo por Rosa Luxemburg, ¢ vital compreender que o arguments da emocracia soil no tom mada a vor com a codon que esta sofeu em mos do slinismo © seu sels. Na valgus ‘rcudomancsta se procediasumattamente a canelar ests lio Ades “formais”alegando sea carter iredtvelments bums, como se 0 habeas corps, iberdade de expresso edo associa 0 ou 0 jority rue fossem antagGnicos cm aoa ea peal ‘politica das clases populares! Ou ser qe, tal como core ‘ment se havin perguniado Norberto Bobbi, ume assemble do ‘opertiosclege seus epreseaanes pelo voto qualified de sus ‘mombres ou apelando para in principio tocrtico?™ Rosa Lx ‘emburg, ao cotriio,certadamcate manta que a democra cin socialists engin a mais rotunda raticago ¢ exensodesss Iierdades — fomais a6 na aparéacia — medians democra ayo “substntiva” da brie, da escola da fans enfin, do onjnto da sociodade> “Todo © autor colo pelo menos dois problemas qu, dan sun eavergad, apenas tos limitarcmos a councar Pri 1, att que pono a pena democratizagao do Estado apitaisa¢ ‘paz de superar ohio ente a igualdade “celestial” que rosa: sna o regime pllicoe x desigualiade “mnaeal” que prod. 2m ncesetnene le trp de poy Evo {uso proeto de um capitalsmo democriico topes aqui com tticlorinsoperives, de natreza estutural. Ringuén pode ‘demerser os enormes avangos registrados poc agele dee 8 Primeiza Quera Mundial, nem minimizar a menses do Et co eyesiao de bem-estar desde os ans 30 Impulsonadss pe ins ltas populares, as democracis burguesas tiveram gue ino dui uma aii de refommas que cbetvamente beetciaram io ” classes subordinadas, No entanto, éimpossivel negar que esses ‘desenvolvimentostropegaram com os limites inflexiveis do des- potiamo do capital no terreno decisivo da produsdo. O impulso ‘efonmista se deteve dante das porta das fabricas e dos bancos. ‘Pis bem, é soluciondvel a contradigo entre democratiza- io politi e autocraciaecondmica? Paece que nfo; pelo menos, ‘BiG hi casos hstricos que possbilitem respostasafirmativas. O| fque tom havido slo “compromissos” que eavalgam sobre essa ‘ontradigo e stensam seus arpectos mais desestabilizantes: no é futro 0 significado que tem a democracia burguesa e o Estado ‘Keynesiano de bem-esta Mas sendo assim surge imediatamente a segunda questo: é possivel eoncebero trnsto de uma demo~ ‘rain capitalista a uma democraciasocialsta ou “pés-capitals- {2° como um deslizamento gradual e sem rapuras entre dois pé- os’ de um mesmo cixa? A passagem de uma a outa 6 simplesmente uma questo acumlativa ou implica uma reform Tago qulitativa? A resposta em ambos os casos é negativa, © a txperiencia historia ensina que o possvel wnsto de uma demo- Craca capitalista « outa de Spo tocalista — ou, pelo menos “ps-capitalsta” — ¢ impensivel sem recoloca,simultaneamen te, 0 tema da mutapo radical na extrtura da sociedade, algo que fe inscreve certamente na sociologa das revolugées. Em conse- (giéncia, 96 se podera falar do aprofundamento da democracia ‘lepos de ter formulado alguma hipétese verosimil sobre a est bilidade a longo prazo da sociedade capitalists; e para conjecturar sobre os iinririos de um eventual tinsito para slguma forma de emocracia “pée-capitalista” se requereria similarmente poder tesbogar algumas hipéteses em tomo dos fatores que precipitem a ‘decomposigdo do capitalismo contemporaneo. ‘Em sintese: 08 problemae objetivos e coneretos que acos- sam amarcha da democracia na America Latina transcendem ar- plamente aqucles referidos & exclusiva mecinica do regime pol fico, Essas quests afo muito importante. Ninguém nega que ‘uma boa Constituigo ¢ melhor que uma rum; ou que um legis lagdo exclarecida & melhor do que uma que no; ou que um ‘bom sistema de partidos e um bom regime ceitoral sio preferi- ‘eis ao faccionasmo, & anarquia partis ea sistemas vciados 1s de rpresatpo plea Mas pemanecer enero em una oncsto “pallet a ancrca obscure masa oo ‘sta cm um ive fst tm quo om oes endéca com os rosso is © Conon gus cones ost sci. A pov do qu domocncl ns ods tt ‘Soci um sno “plies spines Sada Pel ito de uc o qe ttn oi Somocic ma Grea ‘lsu ns esd ne Mes cup ou nace {aio sua com a chezaa ta meee nso Const aliens saa msm nb aa me {eal hin Jods a glo pores aa pot ava thai eda forma de chs ed ose do poe pa te. Seo emoya So slo XX dann potas see 1 tigen nema es es i pte vars tm spon prc it te ia ple Domo mode» mot "Peton oe ‘isos nou Go “done pone ps tat Scnagii eps dB Magan eee at ‘que. esee cimulo de novos direitos entitlement, assim come ‘concepeio expansia paricipativa da democracia que Hui dele, so tendencialment incompativeis com a sociedad capitals” PPortanto, o desafio que enfrentam as sociedadeslatino-ame- ‘icanas vai muito além de astegurar a restaurapdo de formas pol ‘cas compatives com os princpios fundamentais do regime de- ‘mocrtic, Além disso — uma tare js por si — tio extenuante ‘como o trabalho de Sisifo — of novos govemas devem também demonstrar que a democracia é uma ferramenta eficaz para pa rantir a transformagio social e a construglo de uma “boa socie~ dade”. A agenda da democracia na América Latina nfo poderia estar mais sobrecaregada exiema pobreza, docngas, analfabe- tismo, desemprego, decadéncia regional e urbana, narcotifco, ‘Pode um Estado democritico vrar at costa diane a fenomenal “vida social” que este continente vem acumulando desde ten- pos imemoriais?| % ¥ | “Ajustes neoliberals”, pobreza e cidadania democritica A diciizagio do clima ieogin patco do Oxide roUx® consigo um duplo movimento:.por um lado, ‘Tis tuperccioss clio do meteao,fechando os los prt SS ulin cautions gow sou fclonamen automo har ‘Gaproduido no pasado at desembocar ma Grande Depes- To 029 —e usolvendo-o piodsnmente de sus cals. fut. ua sci manag do Tstado como casino’ 3¢ ‘Blur as dspasc e fortinin qos de Weems mane, ale- {aromas roodaes ‘NS precisamens uma casual- ‘Ege Gus’ cra ao Bota taba comoyado a aumentar quando Sr Betadoncapialts da América Lain iniiaram uma ova ops democratzador Sob ests ctcnstncas,o age das posi Sher wcatbenis que configuram o Consenso de Washingoncon- ‘enc Boma te eau € pro combat nose oem cepa sg di, nos danas ces : ‘ices Gules peor minimancnte fmiazada om ait {Bra cconfmice das sociedad capialisas, ea do centro como “i perferia, sabe muito bet qu esa foomuago€ insustentivel {it da evidecia emplrin, Recordemossimplesmentsoseguin: teins decada de 60 a8 cconomiasIaino-americanasdaqele mo- tment flminaas 2g0r por oes, reser a at Tul de 5.7% ena deca Seguin, apesar dos problemas desi ‘tne da en do plo a ocr nos pass instil. Tone foam a 36% Nov nooconserndores anos 80, quando as pallens cndoca prevaletram guns som rsstncns, at Ue eescimento fl de apenas 139% gue se uansforma.em negalva ‘a0 levar-se em conta o crescimento da populago.* O caminho oliver pam Princo Mndo, pram, nfo 6 seo um ‘io, habilnente mando pla lam e ages que aan {eden a hogemoni no tema capitalist imemacional. Os fe- Salads dese police podem er vitos com toda nid 0 eas0 tos Estados Unidos, onde a ortodoxia neoliberal de Reagan ope- toute milagre defer com que em poucos aos a maior econo- ‘mia do mundo se transformant de principal eredor do planeta em n tories Yo min, per tpt eee pea ae as ag oom te cristina ode een ne sr Sn rcs oc Sposa or roti eect cert me ate eee eas eee Sesame te nee ai ses das classes dominantes ¢ renunciando a graus importantes de soberania nacional diante da superpoténcia imperial, a grande teeta ama dans Secor ares gee AE Tbe sal apa eee eee eipeaaaane are ies ae oe heres een een ees Soe Tea a eer = ene ee otc eas te mere oe Ses tore eens Ss ee ec Ee iceracmanc eyes ele Soimae ane haere eae Singstar ee cr aint cemtlas etear 3 Stee dee tees meee Sm et oe Beek de Some ils fens em SSeS rey eee raes te Sip Seat meee melo foe St oamtareeane Ee ema a stains cate ome ace PRT Sa oreo ie eon Scene Stier Romne Sn Eeaycoraaree re ae een Sonam ene ss Sas Sea er Gn ere eo, Sephari eee cn n r bertura indiscriminadas dos mercados © 26 privatizagSes me- ‘iante as quais oe capitalists se apropriaram das empresas eta- ‘ise dos srvigos piblicos mais rentives. ‘Como resultado de tudo isso, os capitalists locais © seus sbcios metropolitanos obtiveram virias vantagens: primeio, re- {orgaram de maneiraconsiderivel seu predominio econémico, dazindo draicamente o contole piblica dos recursos naconais fe ficltando a atuagio do setorprivado, Segundo, algo muito im- ‘portant para o grande capital nanceizo interacional e do qual fe fala muito poaco: garantiam (polo menos até agora) 0 paga- mento da divida extema, destinando para esse efito recursos © propriedades de carter pblico antes “intociveis; ercio, mo- Alifcaram a seu favor, o de mansra decisva, a corelapo de for- ‘8 ent mercado ¢ 0 Fstado, condicionando desse médo 0s [raus de lberdade que pudesse ter algum futuro govermo anima- do por uma vocagdo reformista ou transformadora. Dante desse ‘panorama ndo hé divide: faves a tarefa mais rgente com que ‘dm que se enffentar os pases da America Latina uma Vez esg0- 4ad0 0 dikivio neoliberal seria reconstrugio do Estado. A crusada "privatisia”” ‘A fasio da crise fecal com o discurso autoinciminatério ‘do Estado que propagam os porta-vozes do neoliberalismo levou diversos governos da repito a adotar polticas tio selvagens ‘quanto imprudentes — e, em alguns case, altamente coruptas ° re desmantelamento de agéacias e empresas estatais ou pa- Frestatas, cujos resultados, em termos da proviso de bens pibli- os, slo at agora francaments negativos. A "morte pica” do Estado constitu uma assombrosa novidade, dado que coloca em relovo a pendular reversfo nos anos 60 ¢ 70, © que teve como ‘onseqlncia oreforgamento do Estado em quase tds os paises de rego, Uma reviso sumiria da literatura da época demonstra ‘ave o Estado se hava trnsformado em um componente central o famoso “trio” dominante — junto com as burguesas “inte- riores” o capital monopolist transnational — nos Estados bu- {ocritico-sutoitrios ¢ as ditaduras militares de novo ipo que, ~ naqueles anos, dominaram na regiso®” Apesar de que seu poderio ‘io podia ser equiparado 20 que caractetizava o “sécio princi- pal” dessa alianga, capital wansnacional, a pujanga das estat ris estas, a diversidade de empresas de diferente tipo que pos: suia € adminisuava e © enorme volume de suas operapées ‘Szeram do Estado um agente ccondmico e politica de primeira fordem. Além disso, este nlo s6 podia ditr cet condigdes is ‘borguesis locas mas, em alguns casos, pide negociar com 0 capitalsmo metropolitano desde uma posigo que Ihe permitia — ‘como no Brasil, no México, em parte na Venemiela — introduzir estrtas regulapSes em seus negéciose, inclusive, dtar leis dena dos paises industrializados tinha como méia37,5%, excluindo em ‘eros os casos as conttibuiges por conceit de seguidade social." ‘Mas o excmplo mais elogiente & dado pea andi das cifas do posto dreto em rela 20 PIB: enquanto que o nivel médio para ‘os aise da OCDE girava cm tomo de 4% do PB, chegava esassa- mente a 5% no México; 2 4% no Brasil e na Colbmbia; a 3% na ‘Argentina, no Chile, na Costa Rica, no Unaguai eno Equador, 2% ‘no Paraguai, no Peru ena Guatemala ea 1% a Bolivia, Esses Estar dos capitalists, que foram suficintemente fortes” para desmante- Tar suas empresne pica, amputar suas agéncias adminisraiva, rivatizar todo tipo de sevig, desir sndicas eortarselvage- Icnte orsamentos piblicese pasts socias, agarecem como sur- preendenfemente débes na hora de oranizar um regime mibutrio Iminimamenteeqlitaivee qv obigue os capitalists a pagar impos- {os em una proporsio apoximada & que prevalece nos pase avan- sgadose, até certo ponte, nos do Sudeste sitio. T | Por out lado, nossa estrutura impositiva é alamente re- ressva ¢ injusta: enguanto que nos palsesindustilizadoe o> Jmpostos diretos que gravam 0 capital, os lucas eas manifees ‘es do riquezarepresentam dois terpos da receita tributiria, na ‘América Latin consttuem algo como um texpo, Em conseqdén- disso, 0 grosso da receita fiscal provém de impostos ao consu- 9, a0 aba e ao comércio, Ist & de imposes aplendos aoe fetores nfo proprietrios de capital. Se as. autoridadesestvessem Aispostas a produzir uma reforma fundamental da lepislagso ti- butiria, essa praves distorges podesiam ser suprimidas em um prazo relativamente breve. Enguanto iso, a incapacdade do Es- {ado para derrtar 0 “veto contibutivo” dos grandes capitalists « para controlar a fenomenal taxa de evasio esonega¢soimposi- tiva despojao$ distinto 6rgos do Estado de qualquer possiil- dade de intervie ficazmente na conjuntura, Na Argentina, oS 1e- ‘cursos genuinos captados pela via impositiva parecem incapazes {de elovar 0 teto baixo em que se encontram atualmente,e a ini ‘aidade da extratura tribtirn chega a tas niveis de perversto aque selagao entre o total de impostos pages (dreos e indietoa >= a renda pessoal dos 20% de menoresingressos da populago conomicamentsativa é mais elevada que a média nacional su- peror inclusive em relaplo aos 10% mais ricos do pals! Enquanto fe em 1986 o dec! inferior destinava 29,30% da renda familiar 0 pagamento de impostos eo decilseguine detinava 27.30%, @ ‘métia nacional dedicava para esses fins 26]0% e 0 deol superior, © dos mais ios, canalizava nessa dio 27% de sua rena, Desafor- tunadamente, uma situael0 como a desea ests longe de ser uma snomali, mas se reprodz em quase todos os pss da regio 'E evidente que uma estrtara desse tipo ¢insustentive, & Juz das exigtocias da Stca politica e sua preocuparo pela justi- também 0 € do ponto de vita dos imperativas de racionalida- fe macroscondmies que demand o processo de austecaptalista sualmeato em curso. E por isso que © complemento necessrio do processo de reeonstrugso do Estado de bem-estar a reaisa- (#0 de um novo “pacto fiscal” que termine com as aberrantes Inighidades conidesno regime tributiro. Nesse sentido sera pre- ciao levarem conta que, pelo menos no caso argentine, alo ape- ‘as strata de um novo acordo entre classes e stores socais mas entre a¢ diversi insinciae do Estado: 0 govemo nacional, os _govemos estaduais e provincas¢,finalmeate, os municipios. Se essa tarfa nfo for encarada urgentoment, qualquer tentative de inrodusir uma certa ordem racional na vida econémicaestécon- ena 20 fracasso." ‘A crise do Estado de bem-estar, inclusive nas formas in- completas que assumiu na perferia, ¢ um assunto que est fora de Aiscussfo, Mas aincepacidade do neolibralimo de oferecer uma, ‘espostasatsfatéria, om termos econdmicos, sociaise politicos, é jgualmenteevidente. © que no momento esté muito menos claro, ‘nos parece que este é um dos grandes desaios com que tropega ‘a esquerda na América Latina, & como e com que substitu" A ‘usdo de que os recursos que, de forma equivocada (segundo seus criicos neoliberis),assignava o Estado keynesiano seriam distrbuidos melhor © a menor custo pelo mercado se dissipou ‘completamente om seguida ao fracasso da experéncia neoliberal nos Estados Unidos e no Reino Unido, A fedtomenal crise do sis- tema de saide nos Estados Unidos revela, em um eenirio privile~ som iado como muito pouces, as insuperivois dificuldades que tem 0 ‘mereado para garantr uma cobertira adequada,eficientee barta de um bem piblico to prioritrio como a sade. No em vio os paises que melhor siram da erise dos anos 80 foram aqueles que ‘0 abstiveram de apicar as recomendagdes dos fundamentalists «do Consenso de Washington O neoliberalismo ¢ a organizagtio do ‘ro, democracia algo mais do qu isto. ‘Uma sociedad com a que descrevemes, onde se dbiitou sus inte exremos a intprago sociale a0 dnolvram 08 apes Socins a trama de solidanedade prexistente, também uma ‘ociedae onde a adicionais extras do represcatagSo cae ‘dos intresses populares se acham em cise Paros indica a . 1s poresbem come sua eficécia reivindicativa e sua credibiidade social slo erodias pelas tendéaciasiracionais do eapitalismo neoliberal, que dest precisamente as arenas nas quai tanto une ‘como outros devem descavolver sus inicatvar.O eevaziamento ‘a politica, crescentements convertida em um assunto "mass mie- Jidtico” ©'no qual a televsio subtite a égore, convert os pat ‘dos em simples carimbos privados de qualquer eapacidade ‘convocaplo € de mobilizagio; © a “fexiilzaes0™ laboral ¢ a rogressiva informalizao dos metcados de trabalho det pela ‘lz os proprios fandamentos da apo sindical. O que rea, e0-_ tio? Resta a estratégia predieta que o neoiberaliamo impés ae classes populares: 0 “‘salve-se quem puder”, abdicando qualquer pietensfo solidiria, qualquer esfrgo coletivo de organizagio © representagto. Fa pulverzasSo do mercado transferida para a arena politica e para as negociagSes entre operiros © pats, conde 0 poderio dos monopélioséincomensuravelmente maior do ‘que amisiade de débeis atores que, desorganizadamente¢ eiraegoista, tratam de excontrar ma “sohigso individual” para (0s rigores da exploraslo.classista, Essa estraégia individualist passa pola reainiae a submissdo as duas ( aneriormenteina- ‘xitiveis)condipSes de explorago incorporadas aos projetos de “flexibilizgo” labora; ou pela mendiidade; ou pela eximinali- dade ¢ 0 natcotifco. Nao hé outas escapatras. Podem sirir, ‘casionalmente © mais como violent e interminaveis erupgies, formas de resposta coletiva que quase invaravelmente consti ‘mcm expresses aberrantes como o racism, a xenofebia, 0 “novo trbalismo” ou os fundamentalismos de diferente tipo, En- ‘quanto a politica dos tarocapitalsmos lberais se canverto em tum fat “tlevisivo”, o proesto social eos movimentas de massa adquirem caracersticas francamente reacionérias © tremenda- mente amearadoras. Nesse marco, como é muito evident, se evaporam quase por completo a figura do cidade da democra- cia, eas perspecdivas de uma cidadania participative eautogover- nada e de um capitalism democritce, pelo menos na periferia, ‘© tomam cada vez mais problemiticas. E certo que até agora os nascontes regimes democriticas sobreviveram is durissimas condigées imposias pela crise cond 108 mica, pelos sjustes establizadores ¢ elas recomposiges econé- ‘micas esocias posta em pritia para enfenti-la. Parcce-nas im- pportnte chamar a alengSo sobre este tema. Quando se fala d= “juste” se costama pensar em poliieas de curt praz, concebi- das para comigit momentincos desequiirios nas contas piblicas ‘ou em algumas vardveis macrozcondmicas. Quand esssspolt- ‘as duram mais de dez anos, perdem esse carter e se convertem ‘em projtos muita vezesincoerentese sempre fortemente corri- ‘massas, rupura do tecido socal e desagregapdo dos mecanismos Ge integragio,capitulagto da soberania nacional, degradagio da politica ete, Tudo isto & algo que vai muito além de um simples “ejste”. E 6 mais lamentvel ¢ que, na experitncia de nosso ‘continent, o taste da ditadura& democracia se realizou man- ‘endo no essencil ar mesmas politcas econémicas que 0s rgi- mes dtstoraisimplantaram a sangue efogo. A tarefa de recons- {tugto social que tomos pela frente ¢imenss ‘Em todo cato, da capacidade de fesisténcia demonstra pe las wovas democrais latino-americanasresultou uma alentadora surpresa, sobretuda se so comparadas com situagdes similares ‘que, em um passado nfo rita dstane, produziram o colapso dos governs cvis, De fo, conjunturas marcadas por deseootro- les hiperinflacionivios, fortes tendénciasrecessivas elu eises de balanga de pagamentor foram quase invariavelments o prelidio do intervencionismo militar. Essas stuagdes, nturalmente, po- {enciavam o ativismo dos stores populares, que desse modo ul- tiapassavam as frgeis estraturas de intermediagdo daquclas de- ‘mocraciae, precipitando seu colapso. Os casos de Joo Goulart fem 1964 ¢ Arturo lia em 1966, n0 Brasil ena Argentina, io ‘outs fantas mostras do que estamos dizzndo. No caso chileno, tee flores também desempenharam um papel muito importan- ‘te, agravado pela natareza do projcto socalistacolocado em pric tica pelo govern de Salvador Allende. 'No entanto, seria insensatp pensar que as tremendas tenses ‘que se acham Submetidas as democracias latino-americanas po- 109 dram prolongar-se indefinidamente. Uma vez rompida 2 se- ‘gnciacissica que da crise econdmica temninava no golpe mili- tar, & possvel pensar em outras alterativas diferentes, mas 140 por isso menos ameagadoras, De fo, o problema jé no seria © petigo de uma nova itervengo das forgas armadas — supérfua, dado que hoje os encarregados de aplicar as poiticas impostas pelo grande capital financeiro intemacional sto govemos elctar pelo voto popular —, mas o erscentedéfcit de lgitmidade que ‘se derivaria da incapacidede dos regimes democriticos para me- Thorar as condigées de existéacia das grandes maiorias nacionas «demonstra que a democraca também significa uma diferenga, er matéria de bem-estar. (© perigo reside entdo no progresivo esvaziamento de con- ‘ids e propésitos, como resultado do qual a democraca latino americana fearia convertida em uma monstruosacarianura de i ‘mesma, em uma casca seea euja magestuosidade simbslica seria insuficiente para ocalta seu vazio, Uma democraca “minimalis- 1a” nfo tem condigdes de fazer fate os grandes dézafiose sos ives problemas sociais gerados pelo funcionamento do capita Tismo latinosamericano. A. democraca se convertria em uma, pura forma, ¢ a vida social regresaria a uma situagdo "quase- hhobbesiana”, em que a desigual privatzago da violencia eo de- sesperado “Salve-se quem pur”, ao qual se veriam empurrados (0s indefesos cidadios agredidos pelo eapitalismo selvagem, da- riam lugar atodotipo de comportamentos aberrant. Este pano- rama ja évisivel, com desigual intensidade, em varias das novas ‘democrcias de nosso continente, O aumento da violéacia e da ‘riminalidade, a decomposisao social ea anomia, a crise e fag ‘mentagio dos partidos politicos, 2 prepotéacia burocritica do [Execativo, a capitulo do Congress, a passvidade da Justis, ‘a corrup¢o do aparato estaale da sociedad civil, a ineficcin do Estado, o isolamento da classe politica, a impunidade para ot _randes criminosos © “mio dura” para os poquenos delingen- tes, last but not least, o ressentimentoe a frustag das massas constitem a sindrome dessa perigosa decadéncia institucional de ‘uma democraciaredurida a uma fia gramdtica do poder, expur- ‘ada de seus conteideséicos, no ¥ (0 azul presidente do Bras, Femando Hensique Cardoso, si tetzou hi alguns anos o desafios qu devia enfentar as democra- ‘as latno-americana, ao advertir que exitiaem nossissociedades 0 sminent da desgulite sci en conve de ques reforms ‘Eevn dose patie eds ma sible ede pei (fo ce suean uvrd Constiscto nem Esa Ge dee eps ‘Bd ocho ofa du pola demerit ‘Trata-se precsamente dist, De “eliminaro cheiro de farsa 4a potion democritca’”, cheiro penetrnte © que inunda com ‘seus vapores toda a dilatada geografialatino-americana, Sisto persist, o fituro da democracia nesta parte do planeta nfo pode er muito alentador, tomando verosimeis as sombrias predigSes toerea do inexorivel retomo do péndalo histrico para o éampo 4a ditadara. Nio comparilbo em nada esse pessimismo, mas & preciso estar consciente dos viscos que correm nossas democra- ‘as, As demandar geraas na sociedade civil se mulipliar, le- “Yando em conta a injustigas, a8 privagdese os soffimentos pro- ‘Yoraos ante pela crise capitalita como pelaspoltcas de juste, a recomposigio global que the sucederam, © que origina wit ‘yerdadeiroaluvito de revindicagSes que o meteado nem deseja em pode, ainda que quisesse — resolver. Por outro lado, 0 ‘rotestosocilencoatra na democracia um cima tolerant © com- Drecnsivo que favlita sun propagapio. Mas a prépria crise © 0 ‘modelo de ajuste neoliberal que impulsiona as renovadas exigén- Cas das classes ecamadae subaltemas vtimas “privilegiadas” do ‘apitalismo selvagem reduzem notoriamente as capacidades esta- tais para produzi as poliicas necessiras para se contrapor ou ‘compensat 0s efeitos desinegradores da crise. Isto di lugar a tama alarmante scumulaglo de contradiges © de antagonismos ‘soca, incentivada por uma insttucionalidade democriica que favorece o protesto social dos “de baixo”, enguanto as classes

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