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Pediatria – aula 11/06/2014 – Prof.

Ronaldo

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO EM PEDIATRIA:

A ITU em pediatria é algo muito comum nos primeiros A principal via de acesso para as bactérias é através da via
anos de vida da criança (principalmente em lactentes, pré- ascendente (uretra → bexiga → ureteres → rim →
escolares e escolares e, especialmente no sexo feminino). infecção urinária generalizada).
DEFINIÇÃO: ETIOLOGIA:
A infecção do trato urinário (ITU) é um termo geral que As principais bactérias envolvidas são as enterobactérias
indica invasão do sistema urinário, previamente estéril, (gram negativas), e, dentre as gram (-), a grande
por bactérias, fungos ou vírus. responsável por mais de 90% dos casos, é a Escherichia
coli
Predomínio na raça branca e no gênero feminino.
GRAM (-) – Escherichia coli – é o microrganismo
Pico: 3 a 5 anos
ENTÉRICOS mais comum (90%).
Podendo ocorrer aumento dos surtos em adolescentes, – Serratia, Klebsiella, Enterobacter,
sexualmente ativos e gestantes Acinetobacter, Proteus,
Pseudomonas – a Klebsiella é o
INTRODUÇÃO: agente mais importante no período
neo-natal.
 Durante o primeiro ano de vida é devido
principalmente a malformações congênitas, GRAM (+) – Staphylococcus aureus – via
especialmente válvula de uretra posterior (não há hematogênica e ascendente
esvaziamento vesical total) – obs.: RN, lactentes = – Staphylococcus epidermidis –
sempre pensar em malformações congênitas infecções hospitalares e após
 A partir deste período, durante toda a infância e cateterização
principalmente na fase pré-escolar, as meninas são – Staphylococcus saprophyticus –
mais acometidas por ITU (10-20x mais do que os frequente em adolescente do sexo
meninos) → isso ocorre porque a uretra das meninas feminino
é mais curta e também por conta da maior FUNGOS Ex.: imudeprimidos (pacientes em
proximidade do ânus com o vestíbulo vaginal e uretra tratamento com corticosteroides) –
Candida albicans
Prevalência: VÍRUS Cistite hemorrágica determinada pelo
Idade Meninas Meninos Adenovirus (esse quadro embora pareça
< 1 ano 6,5% 3,3% assustador, não tem maior repercussão)
1-2 anos 8,1% 1,9%
QUADRO CLÍNICO:
Meninos não circuncidados: prevalência de 10-20x
maior que em meninos circuncidados. RECÉM-NASCIDOS
– Sinais e sintomas inespecíficos
Nas meninas, o quadro é mais acentuado, e, nos meninos
– Atenção: sintomas sistêmicos precoces
quanto à questão da circuncisão, estes terão menos
– Hipotermia ou hipertermia (é mais comum que o RN
infecção urinária do que aqueles não circuncidados,
faça hipotermia)
contudo isso não quer dizer que a postectomia deve ser
– Icterícia
realizada em todas as crianças (na cultura dos judeus isso
– Sintomas gastrintestinais, recusa alimentar,
é algo comum, contudo, aqui, isso não é feito a menos que
náuseas, regurgitações, vômitos, diarreia
se tenha alguma indicação, como por exemplo nos casos
– Alterações neurológicas: choro persistente,
de fimose).
irritabilidade, hipoatividade, convulsões
VIAS DE INFECÇÃO: – ALTO RISCO DE UROSEPSE

Existem três rotas potenciais para os microrganismos:


LACTENTES
1. Difusão linfática  Podem passar despercebidos
2. Hematogênica  Alteração aspecto e odor da urina
3. Ascendente - responsável por 95% das ITUs  Choro correlacionado a micção, alteração do
número ou volume das micções
 Anorexia
 Febre de etiologia obscura
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Nessa idade eles ainda não irão referir os sintomas e que dará o diagnóstico). Os outros exames geralmente
também não manifestam um quadro específico de disúria. são realizados em casos de ITUs de repetição.
Às vezes a mãe pode relatar que a urina mudou de cor, ou
então ela pode perceber uma fáscie de sofrimento da Urocultura: padrão ouro é a punção suprapúbica.
criança ao fazer xixi (contudo, nem todas as mães irão Complicações são raras. 2% dos casos. Geralmente
notar tais características). hematúria macro/microscópica
Contraindicações: íleo paralítico, dermatite no local da
PRÉ-ESCOLAR punção, coagulopatias e abdome agudo.
 Febre
Obrigatória coleta da urina antes da introdução do
 Enurese
antimicrobiano!
 Disúria
 Polaciúria IMAGEM:
A criança com 2-5 anos com ITU pode começar a fazer xixi
Os objetivos do estudo de Imagem em um paciente com
na cama, ou então sentir dor ao urinar, ou ainda urinar
(ITU) são três:
demais. Nesses casos o diagnóstico é mais fácil, uma vez
que é mais sugestivo.  Descobrir a presença de qualquer anormalidade
MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO: CUIDADOS urológica
 Identificar pacientes nos quais a lesão renal crônica
 Coleta - cuidados de higiene e a cicatriz resultaram de uma ITU prévia não
 Preservação diagnosticada ou/e não tratada adequadamente
 Transporte de amostra de urina ao laboratório são  Auxiliar no Diagnóstico de Pielonefrite Aguda
essenciais para o diagnóstico e tratamento da ITU
Ex.: foi feito o diagnóstico de ITU, o tratamento, e, a
Existem muitos resultados falso (+) em decorrência da criança melhorou; em seguida, faz-se necessário
falta de cuidado e de higiene na coleta. Os cuidados com investigar o porquê da infecção. Antigamente admitia-se
a coleta e a preservação devem ser explicados à mãe (uma que como as ITUs eram mais frequentes em meninas, não
vez que o laboratório não faz isso). Quanto menor o era necessário que se fizesse a investigação do primeiro
tempo decorrido entre a coleta e o momento do exame, surto quando este ocorresse em meninas, porém,
mais fiel será o resultado. Deve estar no laboratório em, atualmente são investigados todos os pacientes já a partir
no máximo, 2 horas. do primeiro quadro de ITU (USG de vias urinárias,
uretrocistografia miccional)
Saco coletor apenas para triagem! Deve ser trocado a
cada 20 minutos, com nova higienização. LACTENTES
Nessas crianças torna-se importante excluir:
-Alto índice de contaminação
obstruções, refluxo vésico ureteral. E confirmar se
Meninas até 88%
os rins são normais.
Meninos febris até 95%
– Ultra-sonografia do trato urinário (pedir
Meninos com fimose até 99%
sempre)
Falso positivo
– Uretrocistografia Miccional
MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO: – RX simples abdominal
– Cintilografia com DMSA (ácido
1. Anamnese dimercaptossucinico)
2. Exame físico Obs.: a USG do trato urinário e a uretrocistografia
3. Laboratorial: EAS (elementos anormais e miccional sempre devem ser realizadas, visto que não
sedimentos), urocultura podemos deixar passar um quadro de má-formação
4. Imagem: rx, USG, uretrografia miccional, renal. A cintilografia pode ser realizada nos casos em
cintilografia com DMSA (ácido dimercaptosúrico), que for necessária a avaliação do rim, de cicatrizes
urografia excretora renais.
Obs.: geralmente são solicitados inicialmente os seguintes CRIANÇAS ENTRE 1-5 ANOS
exames: parcial de urina e urocultura (a urocultura Após a comprovação da ITU através Urocultura
sempre deve ser solicitada, uma vez que o parcial de urina positiva, obtém-se:
pode não ajudar no diagnóstico – o parcial de urina pode
– Ultrassonografia do trato Urinário
mostrar a presença de sangue e bactérias na urina,
– Uretrocistografia Miccional
contudo, em algumas situações as bactérias podem estar
presentes na urina sem que isso seja sugestivo de uma
ITU, assim como a presença de leucócitos também pode CRIANÇAS > 5 ANOS
não indicar uma ITU. A urocultura é necessária uma vez Crianças nessa faixa etária terão menores chances
que precisamos tentar identificar a bactéria e isso sim é de após uma infecção urinária de desenvolverem
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Comprometimento do Tecido Renal, portanto,
necessitarão unicamente de uma
Ultrassonografia do Trato Urinário na avaliação
inicial.
Aqui os exames são mais restritos, uma vez que já
sabemos que essa criança não tem, por exemplo, uma
válvula de uretra posterior.

TRATAMENTO:
Medidas gerais:

 Ingestão individualizada de líquidos


o Pacientes com distúrbios do padrão miccional -
Hiperatividade do Detrusor - podem piorar
quando ingerem líquidos em abundância;
 Orientação familiar: apenas 20-30% das crianças
terão um único surto (mas mesmo assim são passíveis
de investigação);
 Ritmo urinário adequado;
 Ritmo intestinal adequado;
 Medidas higiênicas em meninas: vigilância quanto às
vulvovaginites (porta de entrada para quadros de
infecção urinária)

Escolha de antibiótico na ITU – Diretriz AAP 2016


- Escolha do tratamento inicial é sempre empírica
- Oral ou intravenoso é igualmente eficaz, exceto se a
criança tiver dificuldade na absorção do medicamento.
- Escolha do antibiótico deve se basear no padrão da
sensibilidade antimicrobiana
- Suspeita da sepse, alterações clínicas que
comprometam absorção de medicamento = tratamento
IV
- Duração do tratamento: sempre 7-14 dias (melhor
optar por 14 dias no mínimo)

Tratamento parenteral: pensar primeiro nos gram


negativos

Oral

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