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1º Questão.

O procedimento a ser adotado pelo juiz é o da mutatio libelli. A mutatio libelli é providência peculiar ao
processo penal, a qual possibilita que sejam alcançados pela acusação fatos novos apurados no decorrer
da instrução processual.

Enquanto na emendatio a definição jurídica refere-se unicamente à classificação dada ao fato,


aqui, na mutatio libelli, a nova definição será do próprio fato. Não se altera simplesmente a
capitulação feita na inicial, mas a própria imputação do fato (OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de,
2005, p. 479)1.

É regra comum ao direito processual penal e civil a necessidade de correspondência entre o pedido
formulado pela parte e a tutela jurisdicional concedida. Trata-se do princípio da correlação ou da
congruência. No âmbito do processo criminal, referido princípio atua como garantidor do direito de
defesa do acusado, informando que:

o fato imputado ao réu na peça inicial acusatória deve guardar perfeita correspondência com o
fato reconhecido pelo juiz na sentença, sob pena de grave violação aos princípios do
contraditório e da ampla defesa (NUCCI, 2005, p. 638)2.

No caso em tela o MP denunciou Jonas por crime de roubo em concurso de agentes e narrou de fato o
roubo, contudo no curso da instrução penal sobrevém prova de que, na realidade, não houve violência ou
grave ameaça na conduta do agente, ficando, contudo assente a subtração da coisa alheia. Ou seja surgiu
um fato novo não narrado na inicial acusatória. Esse fato configura crime de furto e não de roubo. Logo
sem aditamento da denúncia, como preceitua o art. 384 do Código de Processo Penal, o Juiz não poderá
proferir condenação pelo furto, que não foi pedida, e muito menos quanto ao roubo que não ocorreu.
Se o juiz proferir a condenação pelo crime de furto, em desrespeito ao disposto no art. 384 do CPP,
anula-se o processo, ab initio, com relação ao delito pelo qual o réu foi condenado, por não ter sido
respeitado o princípio da correlação. Se a denúncia não for aditada deverá o Juiz absolver o acusado do
crime de roubo. Por fim, o MP poderá ofertar nova denúncia pelo crime provado na instrução penal.

“A sentença destoa da acusação, na medida em que profere condenação por fato não imputado
na denúncia, e destarte, de rigor a o reconhecimento da nulidade por violação ao princípio da
correlação entre a acusação e a sentença. É firme na doutrina e jurisprudência que o réu
defende-se dos fatos narrados na denúncia. Se durante a instrução a prova aponta para a prática
de conduta delituosa diversa da indicada na denúncia deve o juiz proceder na forma do artigo
384 e parágrafo único do Código de Processo Penal” (TRF 3ª R. - 1ª T. AP
2001.61.04.001387-4. DJe 16.02.2009).

“A mutatio libelli conseqüencializa a nulidade da sentença, sendo, como é, direito do réu


conhecer a nova definição jurídica do fato imputado na acusatória inicial e dela defender-se.3.
Ordem concedida.” (STJ. HC11671/MS. DJe 19/02/2001).

3.Encerrada a instrução criminal, concluindo-se que as condutas dos recorrentes subsumem-se


à modalidade culposa do tipo penal e ausente a descrição de circunstância elementar, atinente
ao elemento subjetivo do injusto da denúncia, imperativa a observância da regra inserta no art.
384, caput, do CPP, ainda que a nova modalidade de delito comine pena inferior, baixando-se
os autos ao MP para aditar a inicial, sob pena de violação ao princípio da ampla defesa e
contraditório.5.Recurso parcialmente provido para anular a sentença condenatória e julgar
extinta a punibilidade dos recorrentes. (STJ. REsp: 1388440. DJe 17/03/2015).

1
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey.
2
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. 4. ed. São Paulo: Editora
RTVEIRA.
3º Questão.
No caso em análise houve um grotesco vício na citação. A exigência da citação tem por fundamento as
garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa (CF, art. 5, LV). O primeiro requisito para
que o acusado possa se defender é saber que está sendo processado. Além disso, a CADH, em seu art. 8,
2;b , prevê o direito de o acusado ser comunicado prévia e pormenorizadamente da acusação contra ele
formulada. No regime do CPP, a ausência de citação é causa de nulidade absoluta no processo (CPP, art.
564, III); já a inobservância das formalidades da citação causará nulidade relativa do ato (CPP, art. 564,
IV). Contudo, não se pode aceitar que o vício de citação possa acarretar apenas uma nulidade relativa.
Como destaca Espínola Filho3, “considera-se perfeitamente equivalente à falta de citação, notificação ou
intimação, a feita por forma diversa da prevista na lei.” Na situação apresentada a citação do acusado
ocorreu em total desconformidade com o art. 360 do CPP, que determina que se o réu estiver preso, será
pessoalmente citado. A citação por hora certa só é cabível quando o réu, procurado para ser citado
pessoalmente, se ocultar para obstaculizar a citação. Trata-se de modalidade de citação ficta, mas que,
diferentemente da citação por edital, em que o acusado efetivamente não tem ciência de que está sendo
processado, no caso de citação com hora certa, o acusado sabe ou, no mínimo, suspeita que existe um
processo contra ele e se oculta para impedir a persecução penal.
Pedro estava preso, não estava se escondendo. Não tinha ciência sobre esta citação. A citação é ato
formal, cuja subsistência depende da perfeição dos requisitos estabelecidos para a sua execução, é
premissa para o exercício e para a eficácia dos princípios constitucionais da ampla defesa e do
contraditório, e requisito necessário para que se tenha um devido processo legal.
Auri Lopes Junior4 afirma que “as formas processuais representam tão somente um instrumento para a
correta aplicação do direito; sendo assim, a desobediência às formalidades estabelecidas pelo legislador
deve conduzir ao reconhecimento da invalidade do ato quando a própria finalidade do ato pela qual a
forma foi instituída estiver comprometida pelo vício.” Em resumo a citação realizada pelo oficial de
justiça é nula (art 563 do CPP) vez que a própria finalidade do ato, que é garantir que o acusado possa se
defender é saber que está sendo processado, pela qual a forma foi instituída no art. 360 do CPP, está
comprometida pelo vício.

Jurisprudência:
EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. PROCESSUAL PENAL. NULIDADES. RÉU NÃO
ENCONTRADO POR ERRO NO MANDADO. CITAÇÃO EDITALÍCIA. FALTA DE
INTIMAÇÃO DE DEFENSOR PÚBLICO PARA SESSÃO DE JULGAMENTO.
NULIDADE. ORDEM CONCEDIDA. I - A nulidade que vicia a citação pessoal do
acusado, impedindo-lhe o exercício da autodefesa e de constituir defensor de sua livre
escolha causa prejuízo evidente. II - Tal vício pode ser alegado a qualquer tempo, por
tratar-se de nulidade absoluta. III - É imprescindível a intimação pessoal do defensor público
para sessão de julgamento, por força do disposto em lei. Precedentes da Corte. IV - Ordem
concedida para anular o processo a partir da citação. (STF. HC 92569, DJe 24-04-2008).

APELAÇÃO CRIMINAL - FURTO QUALIFICADO - JULGAMENTO DA AÇÃO PENAL


COM CONDENAÇÃO - AUSÊNCIA DE CITAÇÃO PESSOAL DA RÉ -VIOLAÇÃO
AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA - NULIDADE DO
FEITO DECLARADA DE OFÍCIO. 01. Demonstrado que a apelante foi julgada e condenada
sem ser citada validamente para responder à ação penal, impõe-se reconhecer a nulidade
absoluta do processo por ofensa aos princípios constitucionais da ampla defesa e do
contraditório. (TJMG. APR 10702085393925001, DJe 10-01-2014).

3
FILHO, Eduardo Espínola. Código de processo penal brasileiro anotado/; atualizado por José
Geraldo da Silva e Wilson Lavorenti.Campinas, Bookseller, 2000.
4

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