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Primeira orelha

Quiçá, como dizia Foucault, pensar não consola nem torna feliz, mas enquanto risco,
conscientemente assumido e continuamente retomado, de expor-se ao desequilíbrio, de
entrar em perda (desconhecer-se a si mesmo e desconhecer também o mundo), pensar
desafia qualquer lógica de efetividade, de acumulação ou de lucro – e nesse sentido, nos
tempos capitais que nos calha viver, pensar é um ato de resistência.
Perdedoras (anti)heroicas, a arte e a filosofia não asseguram nada, não podem. O que as
caracteriza é uma promessa (sempre diferida) de felicidade, que não têm intenções ou
possibilidades de cumprir. Tomado nesse sentido, o seu singular modo de jogar pode
atravessar indistintamente qualquer forma de experiência. Apenas exige de nós que
estejamos permanentemente abertos, de forma irrestrita e total, às mais diversas figuras
da desilusão e do desengano (em relação ao que somos e ao que esperamos ser, às
nossas certezas sobre a história e às nossas expectativas sobre o futuro, às nossas
intuições e ao nosso saber).

Segunda orelha

Argentino de nascimento, português por adopção, residente no Brasil, apátrida por


convicção, Eduardo Pellejero é doutor em filosofia contemporânea pela Universidade de
Lisboa e professor de Estética Filosófica na Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. É autor de Deleuze y la redefinición de la filosofia (México: Jitanjáfora, 2006), A
postulação da realidade (Lisboa: Vendaval, 2009), Mil cenários (Natal: Edufrn, 2014) e
O que vi - Diário de um espectador comum (em processo de edição).

Quarta capa

As formas espúrias da consciência que o presente livro coloca sobre o pano excedem
todo o cálculo, toda a proporção, e implicam uma reconciliação com a (ausência de)
razão de ser da arte. Atos de coragem, de lucidez e de beleza sobrepõem-se nas suas
páginas, nomes de perdedores célebres e de jogadores lendários. Apostas desrazoáveis,
que não esperam nada, que se limitam a afirmar o jogo em que andamos e que, inclusive
sob as suas formas mais radicais, mais desesperadas, mais generosas, não conhecem
outra forma de compromisso que o da esquecida tradição da reserva crítica – logo, de
um pensamento sem imagens, isto é, de um pensamento que não levanta imagens de um
mundo por vir, que se limita a interromper, a perturbar, a colocar em questão. A sua
leitura promete ao leitor apenas uma vitória imanente (ao custo, claro, de perder o
tempo).

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