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No geral a lavra subterrânea requer teores mais altos que da lavra a céu aberto por causa dos
custos maiores requeridos para a lavra em subsolo, porque a mineralização tende a se concentrar em
zonas planares e não se estender em concentrações ricas o suficiente ao longo da zona para ser
extraída e processada economicamente. Portanto a quantidade de minério em mina subterrânea
tende a ser consideravelmente menor que em superfície, mas tem teores significativamente maiores.
Como resultado de requisitos regulatórios crescentes, a lavra subterrânea se torna mais
atrativa como investimento para companhias de mineração por causa de impacto na superfície
menor e maior facilidade de permitir operação em subsolo por causa do custo menor de recuperação
da área.
Paiva (2016) lembra que a lavra subterrânea apresenta maior complexidade de
desenvolvimento e maior quantidade de operações unitárias, além das questões de segurança. Autor
realça os indicadores de desempenho nessa modalidade (disponibilidade, rendimento,
produtividade). Alerta dos desafios para que sistemas computadorizados embarcados se tornem
parte da estratégia operacional. Mostra dados de indicadores de produtividade e confiabilidade da
utilização de perfuratriz tipo jumbo em mina brasileira, em desenvolvimento e em produção.
Bogdanovic et al. (2012) destacam a eficiência na produção, custo de escavação, perda de minério e
diluição (contaminação do minério pela introdução de material estéril).
Nesse indicador, o material de teor subeconômico interiormente localizado no bloco de
minério compõe a diluição planejada e é função da seletividade do método de lavra e da
complexidade do corpo de minério. A diluição não planejada se refere ao material estéril que se
encontra fora dos limites do corpo de minério originado a partir do desmonte excessivo,
sobreescavação (overbreak), e instabilidade estrutural do maciço (Dominy et al 1997, Scoble e
Moss 1994).
Villaescusa (1998) cita ainda mais um tipo de diluição denominada diluição geológica, que
se refere a material estéril incluído no corpo de minério ou a massa de minério excluída da
delineação do corpo de minério. Esse tipo de diluição está relacionado às fases de exploração e é
função da malha de amostragem utilizada.
Para Xie et al. (2017, citados por Ranijh et al, 2017), o limite teórico de profundidade para
os métodos de lavra subterrânea tradicionais seria 6.000m, a partir dos quais se tornarão obsoletos.
Portela (2016) pondera que o desenvolvimento para subsolo é geralmente mais complexo e caro.
Requer planejamento cuidadoso e projeto de acessos, segurança e estabilidade. Razões econômicas
e tecnológicas fazem o desenvolvimento ocorrer paralelamente à extração. No método de câmaras e
pilares, o desenvolvimento se assemelha muito às aberturas de lavra, porém com maior custo.
2. Histórico
As civilizações, com o tempo, sentiram necessidade de extração de minerais, escavando
túneis e galerias. Minerações que exemplificam o trabalho do homem antigo, datam de 4.000 (aC),
onde o homem de Neardental extraiu a hematita (Hartman, 1987). O ouro extraído pelos egípcios,
provavelmente era de Coptos, entre o Nilo e o Mar Vermelho. O primeiro livro sobre mineração foi
escrito por Agricolae, G., em 1556 (Carnero e Fujimura, 1995).
Os espanhóis descobriram ouro no primeiro dia em que chegaram à América. O ouro surgiu
no centro de Minas Gerais no final do século XVII. As civilizações adquiriram, com o tempo, um
caráter sedentário e agrícola, surgindo a necessidade de extração de minerais, escavando túneis e
galerias.
A mineração subterrânea, embora muito rara, também é praticada no Brasil desde o período
colonial (mais de 300 anos em Minas Gerais). Por exigir tecnologia bem mais complexa, só se
recorria à perfuração de galerias no seio das montanhas quando um filão muito rico não podia ser
explorado a céu aberto. Os métodos desse período eram extremamente rudimentares e altamente
intensivos em mão-de-obra, principalmente o braço do escravo (Atlas Copco, 1989).
Início do século XIX – quadro desolador: minas, frequentemente inundadas ou soterradas,
eram abandonadas. Germinal: contexto da mineração subterrânea de carvão na Inglaterra no século
XVIII.
Inovações simples introduziram modificações significativas: emprego da pólvora, utilização
generalizada da energia hidráulica, amalgamação por mercúrio, ventilação, transporte e redução do
minério.
Meados do século XIX – primeiros empreendimentos de mineração, com aplicação de
tecnologias apropriadas ao aproveitamento racional do depósito mineral, maquinário de lavra e
beneficiamento mineral (Atlas Copco, 1989).
Considerada a mina mais antiga em lavra, quando foi abandonada, a Mina de Morro Velho,
em Nova Lima (MG), era também a maior funcionando no Brasil, com 2.453 m de profundidade. A
Mina da Passagem, Mariana (MG), tornou-se famosa por ter sido a sede da primeira empresa de
mineração do Brasil, em 1819. Hoje mantém a memória dos tempos de produtividade.
Em 1824, foi desenvolvido o concreto, produzido por material calcário que veio a se
chamar cimento Portland logrando grande efeito na construção de túneis como elemento de suporte.
Em 1910, em Nova York, a empresa Allentown, da Pensilvania, apresentou o “cement gun”,
equipamento pneumático para o transporte de uma mistura de cimento e areia, recebendo, no
terminal de projeção, a água. Este “spray” de argamassa foi registrado em 1912 com o nome de
“gunite”. Estes elementos são considerados precursores do concreto projetado (Carnero e Fujimura,
1995).
No início da primeira década deste século tivemos o fechamento das minas subterrâneas de
ouro Mina Velha e Mina Grande, da AngloGold Ashanti, antiga Mineração Morro Velho e antes
St.John Del Rey Mining, em Nova Lima/MG, que operavam desde 1834 (havendo referências de
operações no local desde 1725). A St.John Del Rey Mining foi fundada em 1830, adquiriu as minas
de Bicalho, Raposos, Faria e Cuiabá (todas no entorno de Nova Lima). A mineração subterrânea de
ouro do século XIX foi bastante expressiva em Minas Gerais, alavancada pelo capital inglês (Gongo
Soco, Passagem, Cuiabá, Pitangui, São Bento, Cata Branca e Pari, dentre outras). Lamas (citado por
Figueiredo, 2014) descreve a geologia desses corpos de minério.
De acordo com Heider (2017), pode-se afirmar que, se o boom das cotações de ouro
ocorrido na 1ª década do século XXI (entre 2004 e 2012) tivesse surgido de 2 a 3 anos antes, o
complexo das minas de ouro da AngloGold em Nova Lima poderia ter tido uma sobrevida útil.
Todas essas minas foram uma importante escola de mineração para a lavra subterrânea, com grande
contribuição da Escola de Minas de Ouro Preto (EMOP). Com novas tecnologias e novos estudos
de viabilidade, muitas dessas minas foram reativadas (Cuiabá, São Bento, Pitangui, Jacobina, etc)
dezenas de anos depois. Interessante lembrar que a St.John Del Rey Mining detinha uma imensa
quantidade de terras no entorno da região Sul de Belo Horizonte (MG), com vastas reservas de ferro
que não tinham interesse econômico e acabaram posteriormente encampadas pelas mineradoras que
viriam a formar a Hanna Mining/MBR/CAEMI.
Também citamos outras minas subterrâneas que foram paralisadas: Boquira/BA (chumbo,
zinco), Mundo/MG (ouro), Fortaleza de Minas/MG (níquel), Prometálica/MT (chumbo, zinco),
algumas com potencial futuro de reativação. Na Região Sul, diversas minas de menor porte de
fluorita e chumbo (PR e SC) também foram exauridas e, no Rio Grande do Norte (RN), diversas
minas de tungstênio. Novos métodos de prospecção geofísica podem estimular novas pesquisas
nestas minas e identificar alvos promissores.
A lavra subterrânea apresenta menos impactos ambientais, maior seletividade e menor relação
estéril/minério. No quesito ambiental, além do menor impacto visual, a disposição de estéril e
rejeito em subsolo elimina os custos e a necessidade de áreas em superfície.
De acordo com Bakhtavar et al. (2007), a lavra de superfície é geralmente considerada mais
vantajosa do que no subsolo em recuperação, controle de qualidade, economia, flexibilidade,
segurança e ambientes de trabalho. Se a geometria do depósito muda muito ao longo da direção do
corpo de minério, especialmente se a mudança ocorre no final do depósito, o índice de separação
será muito grande, quando todo o depósito é extraído em lavra a céu aberto. Nesse caso, é mais
adequado que o depósito sela lavrado pelo método combinado, isto é, a parte da extremidade do
corpo de minério deve ser extraída em subsolo com o aumento dos preços dos metais e a redução
dos custos de exploração mineira subterrânea.
A extração de minério a grandes profundidades (acima de 850 m) tende a se intensificar cada
vez mais, devido primeiramente aos poucos recursos minerais situados próximos a superfície e
também as maiores restrições ambientais impostas à lavra a céu aberto.
A crescente mecanização e automação tendem a reduzir os custos inerentes à lavra em subsolo.
Segundo Robbins (2000), a mecanização da lavra subterrânea, particularmente a mecanização dos
processos de escavação, é um objetivo que pode resultar em reduções de custo significativas e
níveis maiores de lucratividade para minas subterrâneas.
Os referenciais mais importantes para a lavra subterrânea são encontrados em países como
Suécia, Finlândia, Canadá, Chile, África do Sul e Austrália. Os países citados concentram o maior
número de minas, universidades, instituições de pesquisa e fornecedores de equipamentos,
conhecimentos, enfim, relativos ao contexto mais avançado da mineração subterrânea, sendo
acompanhados pelos demais, inclusive o Brasil.
A Suécia tem alta tecnologia, por exemplo. A África do Sul é o país com as minas mais
profundas do mundo e com abundantes reservas de ouro, carvão e platina. Na mineração de rocha
mole, a Alemanha é uma referência importante por suas minas de carvão e sal e como fornecedora
de equipamentos móveis. A Inglaterra também deve ser destacada, uma vez que formou a maior
parte da mão-de-obra especializada. Os Estados Unidos da América apresentam grande
desenvolvimento, em particular na mineração de carvão (Germani, 2003).
No Brasil há vários depósitos conhecidos nos quais não há, ainda, explotação mineral. É
interessante notar, também, que a maior parte das atuais operações de lavra é em depósitos
descobertos há mais de trinta anos. O perfil do setor mineral brasileiro é composto por 95% de
pequenas e médias minerações.
Há que se ressaltar que o cálculo exato do número de empreendimentos de pequeno porte é uma
empreitada complexa, decorrente da existência de um grande número de empresas que produzem na
informalidade, além da frequente ocorrência de paralisações das atividades, que distorcem as
estatísticas.
5. Acessos principais
Escavação incorpora a decisão de dimensão, forma, localização e orientação de tais
estruturas no estágio de planejamento. Essas decisões são dependentes altamente da intensidade de
tensões (locais e regionais) e da qualidade do maciço rochoso (Kharagpur, 2015). A realização de
escavações necessárias para a preparação da lavra (e do transporte do minério fragmentado) se
denomina desenvolvimento mineiro e se divide em alguns tipos.
Desenvolvimento Linear
Poços (verticais, inclinados) – escavação com abertura para superfície, eixo retilíneo -
Shaft;
• Rampas - escavação com abertura para superfície, de eixo curvilíneo – ramp, incline,
decline;
• Túneis - escavação com abertura para superfície, de eixo retilíneo, horizontal – tunnel
(ádito, quando para fins de ventilação, conforme Maia, 1980);
Galerias – escavações “internas”
• Horizontais (cabeceira - drift, travessa - crosscut)
• Inclinadas, verticais (subidas- raises, descidas - winzes, chaminés, passagens de minério-
ore passes, de estéril, de pessoal- manways, de enchimento);
Desenvolvimento em Volume
• Alargamentos ou Realces (Stopes) – vazios resultantes da extração do minério;
• Câmaras para utilidades diversas (silos, casa de máquinas, refeitórios, áreas de oficinas,
britagem e outras) – (rooms)
A figura 2 mostra a abertura principal de uma mina subterrânea.
6. Custos x impactos
É notória a importância da mineração para o país e em particular para o Estado de Minas
Gerais, onde se iniciou há mais de dois séculos esta atividade econômica básica para o
desenvolvimento da sociedade.
Minérios que contêm ouro, chumbo, zinco, prata, cobre, ferro, níquel, molibdênio, calcário,
manganês, evaporitos, rochas ornamentais, gemas e o carvão são exemplos de lavra em todo o
mundo com a utilização de escavações subterrâneas (poços, túneis, rampas, galerias).
A lavra subterrânea normalmente tem um menor impacto ambiental que os trabalhos em
superfície. A produção de bens minerais mostra, para os anos futuros, a perspectiva de se vir a
processar, cada vez em maior escala, através de lavra subterrânea, em razão: da progressiva
exaustão das reservas facilmente acessíveis à explotação a céu aberto; da preservação do meio
ambiente, impondo cada vez mais restrições à lavra a céu aberto, embora, sabidamente não seja a
indústria extrativa mineral a atividade econômica mais agressora do meio ambiente (Silveira, 2000).
Se, então, aceitarmos que a tendência natural, com o decorrer dos anos, é o aumento relativo
das minas lavradas em subsolo, veremos a importância a ser dada à questão do impacto da lavra
subterrânea. Em contrapartida, o aumento do conhecimento acerca das características mecânicas e
do comportamento dos maciços rochosos face às escavações neles realizadas muito terá a contribuir
para a maior segurança dos trabalhos.