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5. © ATO CRIADOR * Por Marcel Duchamp A escolhe de um enseio de Marcel Duchamp para se incur neste ivr reflete a impordncta continea da. sua obra fem relogdo, & arte contempordnea. Em. seu artigo. sobre Duchamp om The New Yoner (0 de fevereiro. de 1963), Carvin "Fortting eke Willm de Kooning: “Duchonp € tr ‘movimento artistico feto por um sinice homem, mas wm mor: ‘mento para cada peso, aberio a todo Munda” Consideremos dois importantes fatores, os dois pélos da criacio artstica: de um lado o artista, do = _Trabathe 2 Onvegte de a (be Ara am Bown, Teas, abe tar” St Peete 1 outro, 0 piblicu que miais tarde se transforma na pos teridade, Aparentemente, 0 artista funciona como um ser meditnico que, de um labirinto situado além do tempo do espaco, procura caminhar até uma clareira. Ao darmos a0 artista os atributos de um médium, temos de negar-the um estado de consciéncia no plano estético sobre o que esti fazendo, ou por que 0 esté fazendo. Todas as decisSes relativas & exccugho arte tica do seu trabalho permanecem no dominio da pura Intuigio e nto podem ser objetivadas numa auto-ansli- se, falada ou eserita, ou mesmo pensada TTS. Blot escreve em seu ensaio sobre Tradition cand Individual Talents: “Quanto mais perteito 0 artis ta, mais completamente separados estario nele 0 ho~ mem que sofre ea mente que cria; e mais perfeitamen- te a mente assimilard ¢ expressard as paixdes que so © seu material”. Milhdes de artistas criam; somente alguns poucos milhares sio discutidos ou actitos pelo piibico € muito ‘menos ainda sio os consagrados pela posteridade, Em iltima anilise, o artista pode proclamar de todos os telhados que é'um génio; terd de esperar pelo, veredieto do piblco para que a sua declaracio assu- ‘ma um valor social ¢ para que, finalmente, & posteri- dade o inclua entre as figuras primordiais da Histéri da Atte, Sei que esta atirmacéo no contard com a aprova- ‘edo de muitos artistas que recusam este papel medie nico que insistem na yalidade da sua conscientizagio fem relacio a arte criadora — contudo, a Histéria da Ate tem persistentemente decidido sobre as virtudes de ums obra de arte através de consideragées comple- famente divoreiadas’das explicagées racionalizadas do artista ‘Se 0 artista, como ser humano, repleto das melho- res intengBes para consigo mesmo e para com o mundo inteiro, néo desempenha papel algum no julgamento do préprio trabalho, como poderé ser descrito 0 fend- ‘meno que conduz 0 piiblico a reagir criticamente a obra de arte? Em outras palavras, como se processa esta reagio? zy Este fendmeno ¢ comparivel a uma transferéncia do artista para o pablico, sob a forma de uma osmose estética, processada através da matéria inerte, tais como a tinta, © piano, o mérmore. Antes de prosseguir, gostaria de esclarecer 0 que entendo pela palavra “arte” — sem, certamente, tentar uma definigéo. © que quero dizer 6 que a arte’ pode ser ruim, boa ou indiferente, mas, seja qual for 0 adjetivo em- pregado, devemos chamé-la de arte, ¢ arte ruim, ainda assim, € arte, da mesma forma que a emogio ruim 6 ainda emogio. Por conseguinte, quando eu me referir a0 ‘“eoefi- ciente artistico”, deverd ficar entendido que nlio me fefiro somente i grande arte, mas que estou tentando descrever 0 mecanismo subjetivo que produz a arte em estado bruto — a Pétar brut — ruim, boa ou indife- rente, No ato criador, o artista passa da intengto 2 rea- lizagdo, através de uma cadeia de reagées totalmente subjetivas. Sua Iuta pela realizagio € uma série de cesforgos, sofrimentos, satistagdes, recusas, decisdes que também nao podem © ndo devem ser totalmente cons- ientes, pelo menos no plano estético. resultado deste conflto é uma diferenga entre @ intengdo ¢ a sua realizagdo, uma diferenca de que o artista nfo tem conscigncia, Por conseguinte, na cedcia de reagdes que acom- panham o ato criador falta um elo. Esta falha que representa a inabilidade do artista em expressar inte- gralmente a sua intencio; esta diferenga entre 0 que Quis realizar e 0 que na verdade realizou é 0 “‘coefi- ciente artistico” pessoal contido na sua obra de arte Em outras palavras, 0 “coeficiente artistico” pes- soal € como que uma relasio aritmética entre 0 que ermanece inexpresso embora intencionado, © 0 que & expresso nio-intencionalmente. ‘A fim de evitar um mal-entendido, devemos lem- brar que este “coeficiente artistico” 6 uma expresso pessoal da arte 2 état brut, ainda num estado bruto ue precisa ser “refinado” pelo publico como o agticar 3 puro extraido do melado; 0 indice deste coefiiente ho tem influéncialguma sobre tal veedicto. © ato Griador toma outro aspecto quando o espectador expe- Fimenta o fenémeno da transmataci; pela transfor fmagio da matériainete numa obra de ete, uma trane Substanciado real processou-e, 0 papel do plblco €'0 de determinar qual o peso da obra de arte na blanca esttica Resumindo, 0 ato criador nfo é executado pelo artista sozinho; 0 piblico estabelece 0 contato entre ‘obra de arte ¢ 0 mundo exterior, deifrando e inter~ pretando suas qualidades inrinsecas e, desta forma, Acreseenta sua contribuigdo 0 ato eriador. Iso tore nics ainds mais Gbvio quando a posteridade dé 0 seu ‘eredicto finale, As vezes,reabilitnaristas esquecidos, ” 6. © POBLICO DE ARTE E 0 CRITICO* Por Henry Geldzahler Henry Geldaahter € um dos principais porre-voces da van auarda"hovesorglna ‘e.tem sempre estado estetamente ‘Suoctado aoe virios movimentos ploncvon. Seus comentdros ‘hrangem ‘odo 0 cenirio artiticn, da: Pintrg aoe itmes. de Andy Warhol. Weave ergo, te disete 0 deme do pabiog “dc erie contemporinea «08 problemas que 0 crkico tem de nfremer Geldeahler nasceu ma Bégica em 1935 e estdow na Unt. versidade de Yale, na Sorbonne, na Escola do Louwre, €-na Harvard! Graduate School of Fine. Ars, onde durante dois ‘anor fol Professor Assistente.” € Curador’ Associado do Depar- dee viendo de The Haion Resin. XVI, m1, primar 7%

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