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Osmar Hélio Alves Araújo

EDUCAÇÃO BRASILEIRA
CONTEMPORÂNEA

1º Edição
2017.1

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Sumário

Palavra do Professor autor


Sobre o autor
Ambientação à disciplina
Trocando ideias com os autores
Problematizando

UNIDADE DE ESTUDO 1: ALGUMAS DEFINIÇÕES CLÁSSICAS DE EDUCAÇÃO


O que é Educação?
Educação escolar e seus desdobramentos;
Por uma educação contemporânea cidadã.

UNIDADE DE ESTUDO 2: A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NA CONTEMPORANEIDADE:


TENSÕES, CONTRADIÇÕES E ‘NOVAS’ PERSPECTIVAS
Introdução
Uma breve contextualização;
A escola no tempo presente: desafios e perspectivas;
A organização escolar, em uma perspectiva histórica, versus a sociedade contemporânea.

UNIDADE DE ESTUDO 3: A ESCOLA NA CONTEMPORANEIDADE: OUTROS TIPOS DE


CORPOS E SUBJETIVIDADES
A escola em tempo de turbulência
Novos tempos, novas escolas;

Explicando melhor com a pesquisa


Leitura Obrigatória
Pesquisando com a Internet
Saiba mais
Vendo com os olhos de ver
Revisando
Autoavaliação
Bibliografia
Bibliografia Web
Vídeos

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Palavra do Professor autor

Olá estudantes,

Entre tantas perguntas em aberto e cada vez mais difíceis de


responder, em função de sua crescente especificidade e da
dificuldade de imaginar alternativas para o nosso futuro, uma
certeza é quase óbvia e poderia servir aqui como ponto de partida: a
escola está em crise. Por quê? (SIBILIA, 2012, p. 13).

A epígrafe escolhida para este texto visa indicar que nesta disciplina
estudaremos sobre a educação brasileira no contexto contemporâneo, assim como
discutiremos sobre o que é educação; educação escolar e seus desdobramentos e
vamos argumentar a favor de uma educação contemporânea cidadã.

Destacaremos, também, a escola no tempo presente: desafios e


perspectivas e a organização escolar, em uma perspectiva histórica, versus a
sociedade contemporânea, o que certamente contribuirá para você conferir e
revisar algumas concepções em relação à escola, aos processos de ensino e
aprendizagem, entre outros.

Realçamos, a priori, que a educação na contemporaneidade carece de


novos olhares e reflexões, haja vista sua importância para a transformação da
sociedade. E mais, em tempos de discurso sobre a qualidade da educação, é
necessária uma análise crítica e reflexiva acerca do modelo escolar vigente, pois
percebe-se que a mesma continua arraigada no seu modelo de ascensão, que data
do período da chamada Revolução Industrial.

Deste modo, propiciar a você desenvolvimento pessoal e profissional,


mediante uma reflexão acerca do modelo escolar vigente é o nosso horizonte, haja
vista que a sociedade contemporânea, com suas tecnologias, tem impulsionado o
homem a não mais seguir modelos adestradores. Portanto, a escola precisa
repensar os corpos e subjetividades dos sujeitos (estudantes) para que consiga se
adequar a realidade e voltar a ser atrativa para esses.

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Por fim, caro estudante, busque trocar experiências com seus pares
acerca da educação nos dias hodiernos, buscando aproximá-la, cada vez mais,
de uma prática transformadora a partir do estudo realizado.

O autor!

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Sobre o autor

Osmar Hélio Alves Araújo, doutorando em Educação


pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mestre em
Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC);
graduando em Pedagogia; graduado em Letras;
especialista em Supervisão e Orientação Educacional pela
Universidade Cidade de São Paulo (UNICID). Atualmente
integra os Grupos de Pesquisas do CNPq: Formação Docente, História e
Política Educacional da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Educação,
Trabalho e Formação de Professores (GEPET) na Universidade Regional do
Cariri (URCA). Está vinculado à Universidade Regional do Cariri (URCA) como
professor temporário. É membro da Associação Nacional de Política e
Administração da Educação (ANPAE) e da Associação Nacional pela
Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE). Pesquisa e escreve
sobre os seguintes temas: Didática e Pedagogia, trabalho docente e práticas
pedagógicas, formação de professores, organização e gestão da escola.

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Ambientação à disciplina

Seja bem- vindo!

A disciplina Educação Brasileira Contemporânea apresenta reflexões


e questionamentos sobre a educação na contemporaneidade, diante dos
feitiços tecnológicos do século XXI e da sociedade globalizada, buscar focar na
compreensão das incertezas postas pelo contexto atual, que, sem dúvida, é um
cenário em plena transformação. Nesta perspectiva, compreende-se que a
relação, à incompatibilidade, entre os corpos e subjetividades contemporâneos
com a escola, que mesmo inserida num cenário constantemente arrebatado
por transformações, pouco se modificou, é permeado por desafios e tensões,
por isso, é nosso desejo que você aproveite este material para conhecer um
pouco mais sobre a Educação Brasileira nos dias hodiernos.

Atualmente se pararmos para pensar iremos perceber que os tempos


mudaram e consequentemente as exigências educacionais. Utilizar
ferramentas ultrapassadas não supre mais as necessidades no cenário
educacional, pois os estudantes estão cada vez mais conectados e
autônomos e as formas de ensinar e aprender já não são do mesmo modo
como antigamente. Diante desse cenário educacional a escola deve adotar
um perfil inovador de ensino não unicamente ao uso de novas tecnologias,
mas inovar com outros recursos que venha vencer todos os desafios que a
educação moderna impõe.

Desejamos sucesso na realização desta disciplina que, sem dúvida,


promoverá a especialização dos seus conhecimentos e apresenta-se como
uma oportunidade para você construir novos conhecimentos.

Bons Estudos!

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Trocando ideias com os autores

Propomos a leitura da obra Educação brasileira


contemporânea: organização e funcionamento. O
autor aborda assuntos como: Educação Brasileira.
Ensaios. Organização. Funcionamento. Escola.
Formulação de objetivos. Planejamento curricular.
Reforma de ensino. Ensino profissionalizante. Estrutura
do ensino superior. Modelos estrangeiros. Reforma
universitária. Custos do ensino universitário. Elaboração
de provas objetivas.

GARCIA, Walter E. (ORG.). Educação brasileira contemporânea:


organização e funcionamento. 3. ed. São Paulo: Mc Graw-Hell, 1978. 277 p.

Propomos também a obra A Educação Brasileira no


contexto histórico. O autor tem como objetivo a
ordenação cronológica de alguns fatos educacionais e
elementos das teorias pedagógicas de cada período
histórico, apresentando-os de modo didático,
acompanhado de leituras complementares. O propósito
da obra é o de informar o aluno de modo simples e
sequencial sobre um pouco da história da educação de
cada período, sem a ambição de apresentar uma
reflexão crítica sobre o modo como a história da educação tem sido escrita no
Brasil.

FRANCISCO FILHO, Geraldo. A educação brasileira no contexto histórico.


2. ed. Campinas: Alínea, 2004.

Guia de Estudo:
Após a leitura das obras, escolha uma e realize a resenha crítica e disponibilize
na sala virtual.

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Problematizando

Neste momento, visando aguçar o senso crítico em relação à


educação na contemporaneidade, discutiremos a partir de um estudo de
caso. Este estudo tem por finalidade levá-lo/a apre(e)nder algo novo,
aprofundar e refletir sobre os conhecimentos adquiridos.

Imaginemos a seguinte situação: uma acadêmica que chamarei aqui de


Maria, me contou que em seu curso de licenciatura em pedagogia, conheceu
uma professora muito dedicada e especialista em assuntos sobre o
construtivismo, suas aulas era recheadas de orientações, incentivos,
sugestões e muita criatividade. Maria, que já ensinava, teve de preparar e
experienciar, numa sala com quarenta estudantes, em um bairro popular, uma
experiência com o construtivismo. Para organizar sua aula, colocou os
estudantes em pequenos grupos e foi trabalhando os conteúdos, não demorou
muito para perceber um grande avanço na aprendizagem com seus
educandos, tirou fotografias e, a seguir, voltou a sua aula normal, no estilo
tradicional. Na universidade, compartilhou a experiência com os colegas,
mostrando as fotografias e narrou o ocorrido, a professora quando tomou
conhecimento dos fatos gostou muito e recomendou aos outros colegas a
proposta. Segundo a professora universitária, a aula construtivista é ideal, faz
muito a diferença no exercício docente. Os demais estudantes que não tinham
uma experiência com este tipo de ensino entenderam de imediato e apostaram
no exemplo de Maria e a metodologia que tinha utilizado e parabenizaram-na
depois da aula: A partir desse relato a professora levantou o seguinte
questionamento com a turma: Será que conseguiremos mudar as escolas
brasileiras com tais práticas universitárias de formação dos professores?.

Guia de Estudo:
Baseado no texto acima que tema/ ideia central o autor nos convida a refletir
neste texto? Após sua reflexão faça seus comentários e disponibilize na sala
virtual.

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ALGUMAS DEFINIÇÕES
CLÁSSICAS DE
EDUCAÇÃO

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Conhecimentos

Compreender o conceito de Educação na visão de vários autores e o contexto


educacional contemporâneo.

Habilidades

Identificar a definição de educação e reconhecer os princípios norteados


pela Lei 9.394/96.

Atitudes

Buscar a melhoria da qualidade da educação e da adequação da escola aos novos


desafios e demandas postas pela sociedade contemporânea.

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O que é Educação?

É na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a


educação como processo permanente. Mulheres e homens se
tornam educáveis na medida em que se reconheceram
inacabados. Não foi educação que fez mulheres e homens
educáveis, mas a consciência de sua inconclusão é que gerou
sua educabilidade. (FREIRE, 2002, p.34).

Para iniciar nossa disciplina precisamos entender:

O que é
educação? Qual
deve ser o objetivo
da educação?

Figura 1. Elaborada pelo autor

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Para compreendermos o contexto educacional contemporâneo, faz-se
necessário reportarmo-nos a algumas definições clássicas acerca da
educação, entretanto, conscientes que as definições de educação são
múltiplas e variadas. São inúmeros os autores que se empenham ao seu
estudo. Todavia, a priori, a epígrafe de Freire é favorável aos
questionamentos presentes neste corpo teórico. Vamos conferir?

De acordo com Libâneo (2010, p. 81), “[...] a educação compreende o


conjunto dos processos formativos que ocorrem no meio social, sejam eles
intencionais ou não-intencionais, sistematizados ou não, institucionalizados ou
não”. Para Dewey (1979, p.83) “A educação não é a preparação para a vida, é a
própria vida [...]”. O autor assinala ainda que: “A educação é uma constante
reconstrução ou reorganização da nossa experiência, isto é, esclarece e aumenta
o sentido da experiência e, ao mesmo tempo, nossa aptidão para dirigirmos o
curso das experiências subsequentes”.

É oportuno, ainda, acoplar as contribuições de Franco (2012) ao definir a


educação em uma perspectiva dialógica, emancipatória, ou seja, a autora define
educação como um processo no qual o homem é sujeito participante, atuante, um
processo que vai além da mera transmissão de informação. Em uma mesma linha
de raciocínio a autora realça que a educação deve ter como objetivo o pleno
desenvolvimento do pensar, agir e transformar.

As contribuições da autora nos remetem ao pensamento de Sócrates,


pois, segundo Franco (2012, p. 86), “A educação socrática comporta a ideia de
um processo de aprendizagem concreto, através do qual o aprendiz forja o seu
próprio pensamento, constrói e fundamenta suas próprias convicções por meio
de interações verbais com o educador”. No rastro do exposto, assinala-se aqui
que é por meio da educação que se forma cidadãos críticos, reflexivos e
conscientes de seus direitos e deveres.

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Logo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), no Item
1 do seu Artigo 26, enfatiza que:

Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será


gratuita, pelo menos nos graus elementares e
fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A
instrução técnico- profissional será acessível a todos, bem
como a instrução superior, está baseada no mérito.

Nesta perspectiva, pretende-se aqui sublinhar que “Todo o ser


humano tem direito à instrução”, ou seja, ao acesso democrático do ensino,
pois a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
- UNESCO – a partir da Conferência Mundial de Jomtien, Tailândia, nos dias
5 e 9 de março de 1990, anunciou a “Declaração Mundial sobre a Educação
para Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem”. A
referida declaração surge com o intuito de suplantar o quadro lastimoso de
acentuadas taxas de analfabetismo, evasão escolar, assim como inúmeras
dificuldades que mostram os obstáculos para o acesso ao ensino básico.
Diante do exposto, fica patente que a educação é, hoje, considerada como
direito de todo o cidadão.

Guia de Estudo:
Para você ampliar seus conhecimentos, sugerimos que leia na íntegra a
Declaração de Jomtien.
Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf

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Educação escolar e seus desdobramentos

Compreende-se que a educação escolar está permanentemente


ligada ao crescimento contemporâneo, haja vista que atua nos campos
social, econômico e político, entre outros, e ocorre em uma escola permeada
por constantes transformações, a qual também busca dar respostas às
situações sociais, culturais e do mercado de trabalho. Logo, entende-se aqui
que a escola não é uma instituição neutra, ao contrário, imbricada as
ideologias em voga na sociedade e no Estado. Nesta perspectiva, Freire
(2002) explica que é impossível a neutralidade da educação, pois, para que
a neutralidade vigorasse na educação seria necessário não existir ideias
dissonantes entre os homens, no que tange aos modos de vida, aos estilos
políticos e valores a serem ensinados.

Faz-se oportuno, a este nível da discussão, sublinhar que a


educação escolar, no Brasil, é pautada nos seguintes princípios norteada
pela Lei 9.394/96 no artigo 3:

Art. 3º O ensino será ministrado com base


nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o


pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII - valorização do profissional da educação escolar;
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da
legislação dos sistemas de ensino;
IX - garantia de padrão de qualidade;
X - valorização da experiência extraescolar;
XI - vinculação entre educação escolar o trabalho e as práticas.
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Um aspecto que precisa de destaque é o fato que inúmeros princípios
que norteiam a LDB 9.394/96 denominam a escola como arena de formação
de sujeitos membros de uma sociedade plural e rica em miscigenação. Assim
como valorizam e apregoam a democratização do ensino, assegurando,
inclusive, por lei, a igualdade de condições para o acesso, permanência,
gratuidade, gestão democrática e garantia do padrão de qualidade para todos
(BRASIL, 1997). Cabe ressaltar que a educação escolar, como dever da
família e do Estado, é assegurada no artigo 205 da Constituição Federal de
1988. Segundo a supracitada lei a educação deve assegurar aos educandos
o desenvolvimento intelectual e social, tornando-os conscientes de seu papel,
enquanto cidadão, e também os preparando para o mundo do trabalho.

Convém frisar que a LDB 9.394/96 nomeia, além da escola, como


responsável pelo processo formativo, outras instituições, pois a respeito da
educação, a mesma explicita que:

Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem


na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de
ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade
civil e nas manifestações culturais.

A LDB 9.394/96, no referido artigo em seus incisos 1º e 2º, explicita,


de fato, a educação escolar como incumbência da escola, por isso, assegura
que ela deve ser vivenciada em arenas próprias, ligadas ao mundo do
trabalho, assim como ao contexto social. A referida lei assinala que:

§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve,


predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias.
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à
prática social.

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Outro ditame constitucional que também assegura e trata do direito à
educação, trata-se do Estatuto da Criança e Adolescente - ECA (1990), pois
em seu Capítulo IV, diz que:

Art. 53 - A criança e o adolescente têm o direito à educação,


visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para
o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho.

Compreende-se que diante das demandas e das vertiginosas


transformações colocadas pela sociedade contemporânea, o papel
historicamente posto à escola vem modificando-se no decurso dos últimos
tempos e trazendo para as escolas novas demandas e desafios. Diante do
exposto, percebe-se que a educação escolar vem reclamando novos olhares,
práticas e uma formação mais imbricada as demandas do mercado de
trabalho, o que exige, por consequência, a necessidade de se rever e
investigar alguns conceitos, posturas e práticas cimentadas no chão das
escolas brasileiras. Entretanto, conscientes que ainda há um longo caminho a
ser percorrido e construído, haja vista que há um distanciamento entre o dito e
o vivido no cerne das escolas, ou seja, os ditames constitucionais significam
um primeiro passo na concretização da universalização da educação, no
entanto, a sua efetivação, de fato, significa um longo caminho a ser percorrido.

Por fim, considerando o contexto contemporâneo, baseado por


vertiginosas transformações, percebe-se que as instituições Família e Escola
estão imersas em uma arena demarcada por novos desafios e demandas
sociais, políticas, educativas, entre outras, as quais trazem à tona temas
emergentes, como: aspecto socioambiental e tecnológico, combate ao
racismo, e outros.

Para que você tenha maiores esclarecimentos sugerimos que você leia na
íntegra a LDB 9.394/96 e a ECA:
Leis e Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96). Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm

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ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm

Por uma educação contemporânea e cidadã

É oportuno iniciar com apoio nas contribuições de Freire (2002) ao


expressar que uma das principais contribuições da educação aos discentes é
ajudá-los a tornarem-se contemporâneos de seu tempo. Logo, é necessária a
suplantação de todo e qualquer saudosismo diante da educação dos séculos
passados, pois esta postura pouco contribui para o diálogo da educação com
as necessidades dos sujeitos ditos contemporâneos. A priori, compreende-se
que uma educação contemporânea cidadã reúne um conjunto de
conhecimentos sistematizados e coadunados às práticas sociais, ou seja,
uma educação que está intrinsecamente ligada à vida cotidiana dos discentes,
por isso articula os saberes escolares aos costumes, crenças e valores por
meio da construção de um currículo interdisciplinar.

Neste corpo teórico, acatam-se as contribuições de Gadotti (2009) ao


explicar que a trajetória da educação cidadã emerge da gestão democrática,
todavia, para o referido autor, a cidadania está intrinsecamente ligada à
consciência de direitos e deveres e o exercício da democracia, isto é, não
existe cidadania sem democracia. Gadotti (2009) entende que a cidadania
abarca o espírito de coletividade, pertencimento, engajamento. Entretanto,
essa participação efetiva só é possível se a ambiência escolar utiliza
instrumentos que fomentam a participação da comunidade escolar, assim
como pauta-se em suas necessidades e realidade.

Nesta perspectiva, cabe dar relevo que a educação, de modo


integrado a cidadania democrática, emerge, a princípio, como prática de
educação popular, constituindo-se como instrumento de mobilização,
organização e formação de uma cultura cidadã e, portanto, como elemento
necessário na formação de sujeitos históricos, engajados na luta pela

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concretização dos seus direitos sociais e culturais, entre outros.

Em relação à educação popular, as contribuições de Paulo Freire


realçam-se por comprometerem-se com a dimensão social e política e,
sobretudo, por seus ideais pedagógicos terem um forte componente ético de
respeito ao estudante. Para o referido autor (2002, p.66):

O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um


imperativo ético e não um favor que podemos ou não
conceber uns aos outros. (...) O professor que desrespeita a
curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua
inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua
sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que
o minimiza, que manda que “ele se ponha em seu lugar” (...)
transgride os princípios fundamentais éticos de nossa
experiência enquanto educador.

Com esteio nas contribuições do autor, cabe, contudo, salientar que a


organização de uma escola cidadã, abalizada em uma gestão democrática,
representa um desafio aos gestores, professores, estudantes e comunidade
escolar, em geral. No entanto, a concretização deste processo de
readequação do papel da escola às necessidades de uma nova educação
exige, sem dúvida, acreditarmos na pujança (eficácia) da escola de hoje.
Cônscios, portanto, que a busca pela melhoria da qualidade da educação e da
adequação da escola aos novos desafios e demandas postas pela sociedade
contemporânea exige, entre outros elementos, reconstruir, repensar e rever a
organização do trabalho pedagógico. Buscando, por consequência, superar os
conflitos, eliminar as relações competitivas e autoritárias, assim como o
reconstruir das relações de poder vivenciadas no interior da escola. No rastro
do exposto, Veiga (2003, p.15) entra no debate ao advertir que:

O ponto que nos interessa reforçar é que a escola não tem


mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo na ótica
do poder centralizador que dita as normas e exerce o
controle técnico burocrático. A luta da escola é para a
descentralização em busca de sua autonomia e qualidade.

As contribuições da autora fazem suscitar a consciência que não é

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mais possível uma gestão escolar dominadora, centralizadora no âmago das
escolas brasileiras, embora por muito tempo esse tenha sido o modelo de
gestão vivenciada no contexto escolar por meio de práticas autoritárias,
conservadoras, centralizadoras e de controle. Pois, quando se busca construir
uma escola cidadã faz-se necessário analisar, a princípio, como as relações
se estabelecem em seu interior.

É importante destacar que quando se trata das relações no interior do


contexto escolar, faz-se necessário ressaltar que um processo de
aprendizagem satisfatório exige, antes de tudo, uma relação amistosa entre a
Escola e a Família, pois a integração da aprendizagem dos discentes com as
suas reais necessidades e meio social reclama uma prática educativa em
parceria com a família. Nesta perspectiva, é essencial que as práticas
pedagógicas construídas no chão das escolas brasileiras dialoguem com as
crenças, costumes e valores, entre outros, que permeiam o cotidiano da
população discente, isto é, vislumbra-se aqui uma escola cidadã na
contemporaneidade que se constrói à medida que supera posicionamentos
hierárquicos e autoritários, envolve todos os sujeitos, que a compõem, no
processo educativo, pautando-se, portanto, no diálogo, no respeito e no
acolhimento às diferenças.

Como é possível perceber, faz-se necessário na contemporaneidade a


construção de uma escola cidadã cuja tessitura seja o diálogo, a partir do qual
todos os que nela estejam inseridos sejam convidados a participarem e
transformarem o mundo. Esta perspectiva dialógica, que deve ser
característica de uma escola cidadã, desafia, portanto, os gestores e
professores a construírem uma relação robusta e fincada no pluralismo de
ideias, na democracia e que, acima de tudo, respeita e valoriza a trajetória
pessoal e profissional de todos os envolvidos, ou seja, que mire o contexto
escolar por uma ótica de oportunidades e crescimento mútuo.

Nesta proposta, o movimento de entrelaçamento entre a Escola e a


Comunidade contribui para o fortalecimento das relações e parcerias, o que

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não descaracteriza a função elementar da escola de ensinar, mas sim
reconhece que a escola só pode concretizar, de fato, seu papel à medida que
compartilha seus compromissos e realidade com a família e a comunidade. É
cediço, entretanto, que muitas vezes a presença da família na escola
resume- se a presença em festividades e reuniões pedagógicas, todavia, faz-
se necessário criar outros espaços e momentos pedagógicos que assegurem
a efetiva participação da família na construção cotidiana da escola.
Entretanto, se a escola precisa pensar em mecanismos que, de fato,
contribuam para que a família se sinta parte desta instituição, as famílias
também precisam estar conscientes do seu papel nessa relação, o qual é
muito mais do que a simples presença, é a necessária participação na
construção da escola.

Prezado (a) estudante, conheça um exemplo de uma escola cidadã.


Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=pG1DGaMfpTw

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A EDUCAÇÃO BRASILEIRA
NA CONTEMPORANEIDADE:
TENSÕES CONTRADIÇÕES E
‘NOVAS’ PERSPECTIVAS

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Conhecimentos

Compreender a organização escolar, em uma perspectiva histórica versus a


sociedade contemporânea bem como, os desafios e as perspectivas da escola.

Habilidades
Identificar os desafios, perspectivas e as relações entre Escola, Família e
Comunidade no contexto contemporâneo.

Atitudes
Desenvolver um espírito crítico em relação a organização escolar, os desafios e
perspectivas no âmbito educacional.

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Introdução

Passamos parte de nossas vidas na escola, desde a Educação Básica


até à Universidade. Logo, a partir deste processo a que somos submetidos,
vamos, paulatinamente, construindo nossa maneira de pensar e intervir no
mundo. Os professores, sem dúvida, assumem um papel crucial em nossas
vidas, decisões e maneira de entender e de se relacionar com o mundo, pois a
eles é confiado o papel de orientar e direcionar nossa caminhada de formação.

Nesta perspectiva, o processo educacional vivenciado por cada um de


nós define muitas de nossas escolhas, atitudes e maneira de entender e intervir
no mundo, por isso, queremos sublinhar a importância dos conteúdos das
aulas e seus objetivos pedagógicos para que a nossa formação se forje de
maneira consciente e transformadora, ou seja, almejamos oferecer uma
formação a você desprovida da reprodução mecânica de ideias, sem treinos e
decoreba, ao contrário, os conteúdos aqui tratados visam oportunizar lhe a
possibilidade de interagir com o que está sendo apreendido, assim como
questionar e confrontar com o seu cotidiano.

Uma breve contextualização!

Para darmos início aos estudos desta unidade, vamos imaginar e


conhecer uma escola sem grades, muros e sem violência no cerne de uma das
favelas do Brasil. Para isso, assista à reportagem “Escola transforma relação
em diálogo”, exibida por uma emissora de televisão brasileira, que compartilha

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a experiência de uma instituição escolar que conseguiu construir um contexto
harmonioso e amistoso abalizado nas relações firmadas com a comunidade.

Tenha acesso à reportagem acessando o link:


http://mais.uol.com.br/view/s70pk4i6az2h/serie-escola-transforma-relacao-com-
dialogo-04028C193666C8A13326

Aproveite para registrar os aspectos relevantes e as dúvidas que emergirem


na sala virtual.

A escola no tempo presente: desafios e perspectivas

Considera-se que no contexto contemporâneo, as escolas têm


empreendido esforços visando delinear a identidade e construir sua autonomia
a partir de um contexto cuja tessitura seja a democracia e a participação efetiva
dos seus sujeitos. Logo, percebe-se que a referida preocupação é um reflexo
do desenvolvimento histórico da educação no Brasil, abalizada, na década de
1990, pela democratização do ensino.

Em linhas gerais, podemos assinalar que o governo federal, ao


democratizar o acesso à Educação Básica, deixou evidente o compromisso de
assegurar e garantir aos cidadãos brasileiros, independente de suas condições
sociais, econômicas, culturais ou religiosas, o acesso à instrução fundamental,
conforme preconizou a Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura - UNESCO – a partir da Conferência Mundial de Jomtien,
quando anunciou a “Declaração Mundial sobre a Educação para Todos:
satisfação das necessidades básicas de aprendizagem”. Deste modo, entende-
se que, em face desse processo de democratização, a escola assumiu um
lugar de destaque diante das demandas históricas e locais. Logo, foi
necessário reconstruir alguns conceitos, assim como reestabelecer uma
relação harmoniosa com seu público, em especial com a comunidade na qual
estava inserida.
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Neste sentido, é bastante oportuno tratar dos significados atribuídos à
educação, à gestão democrática e cidadania, assim como enfatizar como as
relações entre Escola, Família e Comunidade se constroem no contexto
contemporâneo. Em síntese, percebe-se que o Brasil, no decurso das primeiras
décadas do século XXI, apresenta um avanço significativo no que concerne ao
número de matrículas em todas as etapas da Educação Básica. Entretanto,
quando o assunto é a qualidade do ensino, infelizmente, não se percebe o
mesmo crescimento, pois, a qualidade da educação brasileira tem ocupado o
âmago dos debates no cenário contemporâneo, assim como tem se
apresentado como mais um desafio a ser superado.

Nesse sentido, Veiga (2003) assinala que a escola de qualidade tem o


compromisso de combater, entre outros problemas, a repetência e a evasão
escolar, e, em contrapartida, assegurar o desempenho producente dos
discentes. A referida autora dá relevo que qualidade não significa
necessariamente o acesso global de todos à escola, mas sim a permanência,
de modo satisfatório, de todos que nela ingressam.

De forma concisa, portanto, é legítimo asseverar que, em face da busca


pela qualidade do ensino, as novas demandas e desafios fazem suscitar a
necessidade de se redefinir as funções historicamente postas para a escola, ou
seja, o contexto contemporâneo vem impulsionando e exigindo da escola
novos caminhos, modos de entender, ensinar e fazer educação. Logo, faz-se
necessário a reconstrução de ‘velhos’ conceitos, assim como a sedimentação
de novas práticas, cuja tessitura seja o diálogo entre a escola e os sujeitos nela
inseridos. Defende-se, nessa linha, que diante da necessidade da reconstrução
crítica da escola, acrescida das novas demandas sociais e legais imbricadas
aos direitos humanos, a relação entre Escola, Família e Comunidade precisa
ser mais coesa, robusta e coerente com o contexto social no qual todos estão
inseridos.

30
Entretanto, abordar a relação Escola, Família e Comunidade, implica
necessariamente na necessidade de se revisitar e reconstruir diariamente
concepções e conceitos coadunados à educação, gestão e cidadania, pois, de
certo modo, estes são os pilares que a estruturam. Sobre a educação,
compreende-se, que é um processo que faz emergir o desenvolvimento
humano, o que exige, como postula Freire, (2002), a consciência do
inacabamento, pois não nascemos prontos e acabados, somos, ao contrário,
seres inconclusos e transformamo-nos por meio da educação (CORTELLA,
1998). É de se destacar, ainda, decorrente dessa assertiva, que o homem
aprende o tempo todo, em contextos escolares e não escolares, ou seja, a
escola não é o único e exclusivo contexto de formação. Por essa linha de
entendimento, realça-se que, considerando que a educação ocorre em
diferentes espaços, torna-se necessário um processo educacional que
assegure ao homem desenvolver suas capacidades humanas de modo a
intervir em todas as esferas da sociedade, ou seja, que ao homem seja
oferecida uma educação que vá além das necessidades básicas e inerentes à
sobrevivência humana. Veiga entende que:

A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de seu


projeto educativo, uma vez que necessita organizar o seu
trabalho pedagógico com base em seus estudantes. Nesta
perspectiva é fundamental que ela assuma suas
responsabilidades, sem esperar que as esferas administrativas
superiores tomem essa iniciativa, mas que lhe deem as
condições necessárias para levá-la adiante. Para tanto, é
importante que se fortaleçam as relações entre escola e
sistema de ensino. (2003, p.12).

É de se destacar, ainda, com arrimo nas contribuições da autora, que a


escola ao construir seu projeto pedagógico tomando como pano de fundo a
realidade escolar, emerge um elemento importante, hoje, nas escolas
brasileiras, que é a gestão democrática. Sobre a gestão democrática, Veiga
explica que é:

Um princípio consagrado pela Constituição vigente, que


abrange as dimensões pedagógica, administrativa e financeira.
Ela exige uma ruptura histórica na prática administrativa da
escola, com o enfrentamento das questões de exclusão e
reprovação e da não-permanência do aluno na sala de aula, o
que vem provocando a marginalização das classes populares.
31
Esse compromisso implica a construção coletiva de um projeto
político-pedagógico ligado à educação das classes populares.
(2003, p.17-18).

De modo geral, as escolas brasileiras, a partir da Lei de Diretrizes e


Bases da Educação Nacional, LDB nº 9.394/96, tem buscado pautar suas
ações em uma perspectiva crítica e emancipadora, assim como incorporado,
em sua organização, a gestão democrática. Pois, a supracitada lei, em seus
incisos I, II e VI do Artigo 12 da LDB nº 9.394/96, aponta que:

Art. 12º Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e


as dos seus sistemas de ensino, terão a incumbência de:
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de
integração da sociedade com a escola (...).

Sobre a gestão democrática, no Artigo 14 da LDB nº 9.394/96 está


explícito que:

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática


do ensino público na educação básica, de acordo com as suas
peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto
pedagógico da escola;
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares
ou equivalentes.

32
Verifica-se que, em ambos os artigos da LDB nº 9.394/96, a efetiva
participação da comunidade escolar, seu envolvimento e integração com a escola
são pilares constitutivos de uma gestão democrática, pois um contexto escolar
democrático só pode, de fato, ser consolidado por meio do diálogo, da sinergia
pedagógica, ou seja, em uma perspectiva dialógica e compartilhada. Culmina-se,
então, com a compreensão que se faz necessário compreender os elementos que
compõem uma gestão democrática, como condição essencial para o entendimento
da função e da dinâmica escolar.

É de se destacar, ainda, que Veiga (2002) explica que a gestão


democrática exige o repensar cotidianamente as relações de poder da escola e,
mormente, sua socialização. Pois, segundo a mesma autora, a socialização do
poder permite a ação da participação coletiva, que suplanta o individualismo, a
exploração, e faz emergir a reciprocidade, a solidariedade, entre outros
elementos na ambiência escolar. Entretanto, Apple e Beane (1997, p. 20)
advertem que:

As escolas democráticas, como a própria democracia, não


surgem por acaso. Resultam de tentativas explícitas de
professores (as) colocarem em prática os acordos e
oportunidades que darão vida à democracia (...). Esses acordos
e oportunidades envolvem duas linhas de trabalho. Uma é criar
estruturas e processos democráticos por meio dos quais a vida
escolar se realize. A outra é criar um currículo que ofereça
experiências democráticas aos jovens.

Por fim, compreende-se que uma escola democrática reclama pilares


sólidos que se norteiem a partir da prática social, assim como que estejam
comprometidos em solucionar os problemas que obstaculizam a concretização
de uma educação de qualidade, de tal modo como intrinsecamente coadunados
aos interesses dos cidadãos e cidadãs. Nesta perspectiva, em relação à gestão
democrática, conclui-se que não é um processo fácil de ser construído, pois não
abarca apenas a gestão em si, mas emerge de uma educação democrática que
envolve todos os sujeitos nas decisões e ações, sejam elas administrativas ou
pedagógicas, que, no espaço, se materializam.

33
Prezado aluno, vamos aprender um pouco mais sobre a Gestão Democrática?
Então, acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=f0J4eVJ2uTA

A organização escolar, em uma perspectiva histórica,


versus a sociedade contemporânea.

Antes de iniciarmos esse tópico leia o trecho abaixo, de 1922, que traz os ideais
disciplinares da instituição escolar da época.

Recomendações Disciplinares

Em classe a disciplina deve ser severa:

- Os estudantes devem manter silêncio absoluto;

- Não poderá estar em pé mais de um estudante;

- A distribuição do material deverá ser rápida e sem desordem;

- Sempre que se retirar da sala, a turma a deixará na mais perfeita ordem.

No recreio, a disciplina é ainda necessária para que ele se torne agradável


aos estudantes bem comportados:
- Os estudantes devem participar de conversas e diversões que não
produzam grande alarido.
Ao findar os trabalhos do dia, cada classe seguirá em fila e em pleno
silêncio até a escada de saída (...).
Texto adaptado do livro Indisciplina na Escola de Julio Groppa Aquino
(1996, p.42).

34
Para pensar!

Você, enquanto estudante, já vivenciou momentos no contexto escolar como as


situações apresentadas no texto?

Em sua opinião, faz sentido a escola adotar este tipo de postura disciplinar em
face dos estudantes na contemporaneidade?

Com arrimo no trecho do texto apresentado acima, vamos, a priori,


enfatizar a organização do espaço escolar, construído historicamente, assim como
enfatizar a necessidade da sua reorganização em face das demandas e desafios
da sociedade contemporânea, tudo isso visando suplantar o modelo disciplinar da
Idade Moderna que ainda nos dias hodiernos influencia a Educação no Brasil.

É cediço que o modelo de escola que temos hoje é produto das


transformações históricas e sociais vivenciadas no Brasil no decurso dos últimos
séculos. Vale por em destaque que a organização disciplinar por meio do controle,
como forma de vigiar e controlar o comportamento dos discentes influenciou,
significativamente, o desenvolvimento e o modo como as escolas, enquanto
instituições formativas atuaram (atuam) por muito tempo no cenário brasileiro.
Sobre esta temática, Aquino (2007) nos ajuda compreender assinalando que se
trata de um modelo educacional raro na história da humanidade, o qual estava
voltado para a racionalização e normatização do espaço, do tempo e dos corpos
dos indivíduos.

Percebe-se, contudo, que os instrumentos de vigilância, punição e controle


foram e são elementos intervenientes na organização do espaço e do tempo
escolar, pois este modelo pautava-se em um modelo de estudante ideal e que
pouco considerava os elementos que levava o estudante a apresentar um bom
comportamento. Ainda para Aquino (2007), “a disciplina dedica-se ao
assujeitamento dos corpos dos indivíduos nas instituições”. Para exemplificar, veja
abaixo um trecho de um texto, de 1922, apresentado por Aquino e intitulado
“Recomendações Disciplinares”:

35
Não há crenças refratárias à disciplina, mas somente estudantes
não disciplinados. A disciplina é um fator essencial do
aproveitamento dos estudantes e indispensável ao homem
civilizado. Mantém a disciplina, mais do que o rigor, a força moral
do mestre e o seu cuidado em trazer constantemente as crianças
interessadas em algum assunto útil.
Os estudantes devem se apresentar na escola minutos antes das
10 horas, conservando-se em ordem no corredor da entrada, para
daí descerem ao pátio onde entoarão o cântico.
Formados dois a dois dirigir-se-ão depois às suas classes
acompanhadas das respectivas professoras, que exigirão que se
conservem em silêncio e entrem nas salas com calma, sem
deslocar as carteiras.
Deverão andar sempre sem arrastar os pés, convindo que o façam
em terça, evitando assim o balançar dos braços e movimentos
desordenados do corpo. (...). (1996, p.42).

Percebe-se, com base nas contribuições do autor, que os instrumentos de


correções disciplinares visavam controlar e ordenar o corpo e a fala. O silêncio,
entretanto, devia ser absoluto dentro e fora do contexto da sala de aula, assim
como os movimentos corporais deveriam ser contidos e examinados
minuciosamente nos diferentes tempos e espaços da escola. A proposta do
sistema escolar era, portanto, manter os corpos infantis controlados e sob a ordem
da instituição. Baseado no modelo da prisão e/ou das indústrias, a ideia era que
cada corpo fosse tratado como uma máquina. Dispostos a desenvolverem um
projeto bastante desafiador e exaustivo, as escolas recorreram ao recurso
disciplinador que consistia em colocar os indivíduos num espaço delimitado por
paredes, ou seja, a estrutura física do espaço escolar era cuidadosamente restrita.

A causa de tal realidade obedecia a mais científica e industrial intenção da


escola: habituar os estudantes a permanecerem tranquilos e não instruí-los para o
desenvolvimento intelectual/cognitivo. Como uma espécie de adestramento, as
crianças deveriam permanecer sentadas durante períodos estabelecidos pelos
seus superiores. Manter crianças estáticas por longas horas não foi uma tarefa
nada animadora, portanto a proposta inicial da escola foi se modificando a partir
da inserção de novos ideais e movimentos na sociedade, como a Reforma
Protestante e o Iluminismo.

36
Face ao exposto, compreende-se a organização do espaço escolar como
um “quartel”, no qual o professor assumia a posição de sujeito superior
hierárquico, e mantinha uma relação com os estudantes abalizada nos termos
obediência e subordinação. Ilustra esta ideia as contribuições de Aquino (1996,
p.43), pois segundo o autor: “O professor não era só aquele que sabia mais, mas
que podia mais, porque estava mais próximo da lei, afiliado a ela”. Nota-se
claramente que a disciplina era imposta, na época, por meio do castigo, medo,
coação e subserviência, principalmente à figura do professor. Logo, a prática de
permanecer parado e quieto na cadeira escolar tornou-se, por muito tempo,
necessária, pois, assim, acreditava ser possível possibilitar o bom funcionamento
da escola, assim como assim era possível ensinar a criança a controlar os seus
impulsos e afetos.

Pois bem, lançando mão de toda essa discussão histórica sobre a


organização do espaço escolar e partindo do princípio que o espaço escolar
abarca uma dimensão democrática, compreende-se que se faz necessário e
urgente repensar o modo de organização do espaço escolar no contexto
contemporâneo, pois, como explicita Libâneo (2010, p. 80), “a educação nunca
pode ser a mesma em todas as épocas e lugares devido a seu caráter socialmente
determinado”.

É preciso reconhecer, com base na discussão empreendida e nas


contribuições de autores, como Sibilia (2012), Aquino (1996), entre outros, que a
escola na contemporaneidade está em crise por seu modelo não se ensamblar
com os jovens do século XXI, todavia, estaria se tornando uma máquina antiquada
e, portanto, incompatível com os corpos e subjetividade das crianças nos dias
hodiernos, pois o modelo de escola implantado no Brasil, há décadas, e que
parece ainda em voga em muitos territórios brasileiros, não corresponde com a
demanda do mundo moderno. Com o surgimento da televisão, ao longo do tempo
das TIC’S, o professor deve incluir tais tecnologias no contexto escolar fazendo,
portanto, com que essa realidade do cotidiano dos jovens esteja presente no
processo de ensino e, por consequência, diminuindo um abismo que há, muitas
vezes, entre o mundo social e as salas de aula.

37
Entretanto, faz-se oportuno enfatizar que muitos professores não detêm o
conhecimento necessário acerca das tecnologias e acabam não utilizando tais
recursos e, por vezes, a escola até proibe a entrada dessas tecnologias em sala
de aula, como é o caso do celular, da internet. Em contrapartida, muitas outras
escolas percebem a necessidade da junção entre o escolar e o contexto midiático
e estão a buscar soluções para o fato. O fato é que, por fim, há fatores
econômicos e políticos que justificam esse distanciamento entre o mundo real e a
sala de aula, ou seja, as mudanças do mundo afetaram diretamente os corpos e
as subjetividades, logo se faz necessário a construção de uma escola compatível
com os sujeitos, ditos contemporâneos.

38
39
40
A Escola na
Contemporaneidade:
outros tipos de corpos e
subjetividades

3
Conhecimentos

Compreender sobre a instituição escolar e o contexto contemporâneo abalizado


pelo dinamismo tecnológico, consumo exacerbado, marketing, publicidade e pela
conectividade e interatividade em tempo real.

Habilidades

Identificar o surgimento das dificuldades e as facilidades com a utilização dos


aparelhos tecnológicos no contexto educacional contemporâneo.

Atitudes

Posicionar-se criticamente na integração da educação e tecnologia


desenvolvendo projetos educativos, uma escola inovadora.

41
42
A Escola em tempo de turbulência

[...] a escola seria, então, uma máquina antiquada. Tanto


seus componentes quanto seus modos de funcionamento já
não entram facilmente em sintonia com os jovens do
século XXI. (SIBILIA, 2012, p. 13, grifos nossos).

Turbulência é a palavra escolhida aqui para descrever toda a


movimentação ocorrida ao longo da história e transformada em crise. Crise
esta que já vem adquirindo novos moldes e, portanto, nova consistência,
pois Deleuze, filósofo francês, em 1990, já detectava a implantação de um
novo regime ("novo monstro") que seria baseado nas tecnologias
eletrônicas e digitais e com um capitalismo mais dinâmico, influenciado por
fluxos e interconexões cada vez mais globais. Ressalta-se que neste novo
contexto há também uma exaltação da empresa como instituição-modelo,
ou seja, o espírito empresarial se apossa de outros elementos da
sociedade, bem como da escola, corpos e subjetividades.

Este espírito pode ser visto como uma expressão da racionalidade


capitalista que traz consigo o culto do desempenho individual ou culto a
performance. Essa nova cultura vem imbuída de um exercício constante
pela busca da excelência, via ideologia da autossuperação, onde o sujeito,
antes avaliado pela normatividade da lógica disciplinar, agora é mensurado
por parâmetros mais atuais e de natureza mercadológica.

Sibilia (2012) explica que a sociedade atual solicita novos padrões a


partir do discurso do empreendedorismo neoliberal e que a escola tradicional,
arraigada em uma perspectiva uniformizadora, homogeneizadora e
normalizadora, não estaria apta a produzir tais sujeitos condizentes com
esses novos credos. Inclusive, tais princípios poderiam abortar "em seus
estudantes a incubação dessas habilidades tão valorizadas na atualidade"
(SIBILIA, 2012, p.46).

43
Entretanto, compreende-se que essas mutações na modernidade se
iniciaram nos últimos dois séculos e tiveram o ambiente doméstico, via
família nuclear burguesa, como lócus disseminador de modelagens de
corpos e subjetividades específicas para o dado momento. Assim como as
famílias, as escolas também foram espaços fortes de confinamento,
disciplina e introspecção. O sujeito moderno era mais "interiorizado". Porém,
esse modelo estaria ultrapassado frente às velozes mudanças do século XXI,
pois "são outros os corpos e as subjetividades que se tornaram necessários"
(SIBILIA, 2012, p. 47).

Por isso, novos modos de ser e estar no mundo começam a ficar


cada vez mais visíveis na contemporaneidade. Há uma substituição da
introspecção pelo convite à exposição. É o colapso da subjetividade
interiorizada. Isso altera o circuito de formação para o mercado de trabalho.
Hoje o mercado quer determinadas habilidades que tornaram outras, antes
necessárias, puramente ultrapassadas. A contemporaneidade "busca
características antes combatidas, como originalidade associada à certa
espontaneidade inventiva, além da capacidade de mudar com rapidez, “(...) a
livre iniciativa, a motivação, o perfil empreendedor e a vocação proativa"
(SIBILIA, 2012, p.48). Essas características possibilitam a movimentação dos
mercados através de um indivíduo conquistador (termo de Alain Ehreberg),
capaz de incontáveis superações em busca da excelência. Este mesmo
sujeito quer expor seu "ideal de felicidade" e, na atualidade, não há
obstáculos para inibi-lo. Ou seja, o "eixo interior" incentivado durante os dois
séculos anteriores é substituído pelo o que o psicanalista brasileiro, Benilton
Bezerra, chama de "subjetividade exteriormente centrada", que não quer
experimentar conflitos internos, nem a dimensão privada.

Tal realidade interfere diretamente na forma como nos relacionamos


com as pessoas e com o mundo. Sobretudo, porque as personalidades
deixam de ser introdirigidas e um tanto quanto misteriosas, e passam a ser
alterdirigidas (pessoas reagem em conformidade com as outras pessoas
visando à aprovação e à popularidade no seu meio cultural e social), portanto,
construídas através do olhar do outro. Daí a necessidade de exposição

44
interativa, bem como o uso dos dispositivos eletrônicos como artefatos que
desempenham um papel vital nessa metamorfose. De acordo com Sibilia
(2012) esta seria uma forma dos sujeitos contemporâneos conseguirem
permanecer "à altura das novas coações socioculturais, gerando maneiras
inéditas de ser e estar no mundo" (SIBILIA, 2012, p.51).

Diante da possibilidade do ineditismo, não apenas as novas


gerações, mas todos se encantam e são atraídos pela aparelhagem
eletrônica. Este novo ambiente é antagônico aos moldes escolares, por isso,
gera-se um choque entre corpos e subjetividades contemporâneos e a
escola. O filósofo francês Deleuze afirma, de maneira voraz, que não há
solução para a escola, bem como para outras instituições disciplinares.
Entretanto, Sibilia (2012) explica que até pouco tempo a escola, em tempos
áureos, se sustentava de forma ortopédica com base em valores que eram
internalizados de maneira tão veemente que as normas eram respeitadas
não apenas pelos estudantes, mas por pais, professores, ou seja, o
cumprimento de normas, leis, regras não era apenas produto da vigilância e
da possibilidade de punições. Isso ocorria porque "era assim que a máquina
funcionava e assim devia ser" (SIBILIA, 2012, p.54).

Todavia, na conjuntura atual, essa configuração interiorizada vai


sendo ostensivamente substituída por corpos e subjetividades, cada vez
mais, clarificados, onde assumir uma postura introspectiva e reprimir-se
seria, de acordo com Charles Taylor, uma espécie de limitação às
realizações individuais. O modelo anterior submetia os indivíduos aos seus
padrões e havia uma intensa oposição entre o público e o privado, enquanto
agora, sujeitar-se a tais imposições morais, sociais significaria um
conformismo diante da possibilidade de experimentar a era da autenticidade.

Fica claro que a contemporaneidade, traz junto ao século XXI, novos


valores que despontam em todo o cenário social, inclusive no âmbito escolar.
O grande desafio está em perceber que é possível refletir sobre novas
possíveis bases para o solo tão fluído dessa nova realidade que vivemos.

45
Novos tempos, novas escolas

[...] a escola contemporânea não deve apenas respeitar as


diferenças, ela deve, também, fazer aparecer e registrar
diferenças entre os estudantes (CHARLOT, 2008, p.27).

Sujeita às transformações da sociedade, cada vez mais, a escola se


insere e se deixa inserir pelo circuito tecnológico. Um bom exemplo disso
surge nos projetos de natureza computacional para a educação. "Equipar os
colégios e seus habitantes com tecnologia de ponta parece ser o primeiro
passo para tentar vedar essa brecha" (SIBILIA, 2012, p.181). Ainda que difícil
e oneroso, organizar as escolas estruturalmente parece ainda ser menos
desafiador que outros obstáculos. Entretanto, Sibilia (2012, p. 182) assinala
que: "É evidente que essas adaptações também são necessárias e até
promissoras, mas seria ingênuo acreditar que solucionarão por si só os
complicados problemas".

Desde a primeira década do século XXI que computadores, internet,


smartphones e redes sociais mostram seu poder de modo intenso e
marcante. Os frutos da entrada dessa aparelhagem tecnológica no contexto
escolar são incertos, pois não se sabe ainda quais os frutos serão colhidos,
haja vista que são dois universos incompatíveis, portanto, talvez, como
preconiza Sibilia (2012, p. 183), "terminem de se fundir ou, então, entrarem
em colapso".

Faz-se interessante pontuar sobre a dificuldade de se gerir um


projeto que envolve tecnologia, assim como a criação de materiais didáticos
e a organização de formações para os professores de modo a integrá-los ao
contexto midiático. A grande questão é pensar sobre o que concerne ao
pedagógico e tentar integrar educação e tecnologia para que se desenvolva,
então, um projeto educativo, uma escola inovadora.

Pensar em tornar concreta essa escola contemporânea exige que se


reflita sobre o risco de que toda essa tecnologia e seus aparelhos se tornem

46
um novo e poderoso agente de dispersão ou de fuga do confinamento
implantado pelas escolas ao longo dos tempos. Ou seja, sabendo que
os recursos tecnológicos, bem como a internet, já se assentaram dentro do
universo escolar, é preciso formar ideias e estipular ações concretas que
envolvam os professores e sua conexão entre ensino e esta aparelhagem.
No entanto, em muitas instituições o acesso à internet é restrito e algumas
redes são controladas pelos professores ou outros profissionais da escola.
Esta é uma prática de caráter de controle, o que nos motiva a pensar que
ainda são muitas as inseguranças da escola para que ainda faça uso deste
recurso, talvez por isso a estrutura de sala de aula permanece fiel ao
esquema tradicional.

Parece ser necessário prender-se a determinadas práticas, ainda que


ultrapassadas, já que lidar com as tecnologias e com a internet ainda é um
tanto quanto movediço. Nesta perspectiva, percebe-se que as escolas se
entrincheiram como podem para se protegerem das investidas tecnológicas
que invadem o seu interior. É difícil transformar-se, sobretudo no cenário que
vem se construindo onde, como diz Sibilia: "já não será preciso derrubar
paredes, pular cercas ou escapulir por entre grades (...), pois os antigos
poderes de confinamento estarão desativados pelas ondas sem fios que os
atravessarão" (2012, p.190). Deste modo, entende-se que é necessário criar
estratégias para que se incitem os estudantes a se apropriar da quantidade
significativa de conhecimento disponível na contemporaneidade, não
somente em livros impressos, mas também na rede, através desses recursos
da tecnologia.

É de se destacar, ainda, que a escola na contemporaneidade, por


sua vez, também tem trabalhado para atender aos interesses da lógica
capitalista, preparando os sujeitos para atender ao consumo exagerado e
transformando o verdadeiro sentido das aprendizagens em mercadoria. Logo,
os estudantes compreendem, de modo, equivocado o sentido da escola, pois
os estudantes, na sua grande maioria, não compreendem porque devem
frequentar a escola, assim como não se adéquam ao que é proposto e, por
consequência, são rotulados de preguiçosos e que não querem nada. Como

47
diz Sibilia (2012, p. 65):

Também por isso não admira que agora, quando as


novidades das últimas décadas substituíram em boa medida
os estilos de vidas precedentes, a sala de aula escolar tenha
se convertido em algo terrivelmente “chato”, e a obrigação de
frequentá-la implique uma espécie de calvário cotidiano para
os dinâmicos jovens contemporâneos.

Charlot (2013, p. 278) comunga do mesmo pensamento alertando


que: “A sociedade, os pais, os professores devem aliviar a pressão hoje
exercida sobre os jovens, desapertar os parafusos de uma máquina escolar
que, atualmente, machuca por demais os estudantes, inclusive os “bons”.”.
Nessa perspectiva, não é por acaso que Alarcão advoga que:

Diante das rápidas convulsões sociais, a escola precisa


abandonar os seus modelos mais ou menos estáticos e
posicionar-se dinamicamente, aproveitando as sinergias
oriundas das interações com a sociedade e com as outras
instituições e fomentando, em seu seio, interações
interpessoais. (2001, p. 15).

Nesta perspectiva, a educação nessa lógica excludente, antagônica e


contraditória não consegue atender seus reais objetivos, os quais seriam de
promover aprendizagens significativas e coadunadas as reais necessidades
dos discentes. Diante deste quadro lastimoso, os discentes muitas vezes
abandonam a escola e a estes é negado o princípio da educabilidade.
Consequentemente, a negação do princípio da cidadania para uma
emancipação social e cultural. No rastro do exposto, Libâneo entra no debate
enfatizando que:

Cumpre, também, reconhecer a crescente dificuldade de se


chegar a um consenso sobre as funções da educação em
geral, da escola em particular e das formas pedagógicas e
metodológicas que lhe cabem, frente às características do
mundo atual. (2002, p. 20).

Por isso, conclui-se que a escola trata-se de um projeto bastante


audacioso, haja vista que na atualidade seu modelo está engessado, pois foi

48
idealizado em outrora e, portanto, passa a ser questionado. Pois, a
contemporaneidade traz consigo inúmeras indefinições e, por isso, elementos
os quais a escola organizava sem tantos percalços, atendendo suficientemente
ao projeto de modernidade/industrialização, tornaram-se também indefinidos.
As perspectivas espaço temporais, bem como o papel das, até então, mega
instituições da sociedade, por exemplo, tornam incerta a necessidade da
escola enquanto instrumento indispensável nos novos tempos.

49
Explicando melhor com a pesquisa

Para uma melhor compreensão acerca dos assuntos discutidos nesta


disciplina, sugerimos a leitura: Parar de transformar crianças e
adolescentes em alunos do professor Doutor Rui Canário. Ele enfatiza
alguns problemas da escola contemporânea e logo adverte que o atual
contexto da escola é sombrio, assim como aponta que seu futuro é incerto,
haja vista que está a atuar em uma arena de areias movediças.

Propomos também a leitura do artigo O professor na sociedade


Contemporânea: um trabalhador da contradição do professor. O autor
doutor Bernard Charlot apresenta uma interessante discussão sobre o
professor diante das demandas e desafios do contexto contemporâneo,
realçando as novas pressões sociais, responsabilidades e contextos nos
quais o professor é levado a atuar. Aborda, ainda, as dificuldades
encontradas pelos “novos estudantes”, assim como as tensões e
contradições que permeiam o contexto das escolas brasileiras.

Indicamos ainda a leitura “O dualismo perverso da escola pública


brasileira: escola do conhecimento para os ricos, escola do
acolhimento social para os pobres” do professor doutor José Carlos
Libâneo. O autor, pautado nas categorias: políticas para a escola pública;
declínio da escola pública; conferência mundial sobre educação para Todos
de Jomtien; educação e pobreza; escola dualista, realça que a luta
constante na contemporaneidade por escolas públicas gratuitas e de
qualidade é bandeira de muitos educadores brasileiros. O autor sublinha
ainda, entre outros elementos, a universalização do acesso e da
permanência, o ensino e a educação de qualidade, o atendimento às
diferenças sociais e culturais, e a formação para a cidadania crítica.

50
Guia de Estudo:
Após a leitura, escolha um texto e sintetize-o realizando um resumo e
disponibilize na sala virtual para compartilhar com seus colegas.

51
Leitura Obrigatória

Caro estudante, a seguir, visando contribuir para a


ampliação dos seus conhecimentos, propomos que
você leia a obra organizada pela professora
doutora Isabel Alarcão, Escola reflexiva e nova
racionalidade. Ela apresenta uma abordagem
conceitual e prática da Escola Reflexiva e
consequentemente, do professor reflexivo. A obra
propõe uma escola inovadora, dinâmica e moderna.
Na referida escola as discussões apontam a necessidade que as relações
interpessoais sejam respeitadas e consideradas como parte constitutiva dos
processos de ensino e aprendizagem.

ALARCÃO, Isabel (ORG.). Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre:


Artmed, 2001.

52
Pesquisando na Internet

Prezado/a estudante, com o objetivo didático e a fim de buscar


outras visões sobre a educação brasileira na contemporaneidade, você é
convidado a realizar na Internet investigações a partir da seguinte
indagação: Até que ponto a escola, frente à arena contemporânea,
estaria apta a dialogar com atitudes formativas condizentes com
esses novos tempos, credos e subjetividades?

Guia de Estudo: Após sua pesquisa, disponibilize na sala virtual e


compartilhe com seus colegas.

53
Saiba mais

Sugerimos a você, estudante, a leitura das entrevistas com a


professora doutora Paula Sibilia, antropóloga e pesquisadora da
Universidade Federal Fluminense (UFF). Nesta entrevista, a professora
doutora Paula Sibilia enfatiza as transformações da subjetividade
contemporânea, assim como os fatores, tensões e contradições envolvidas
na crise que afeta a escola, a qual persiste, segundo ela, em um modelo
antiquado frente aos novos modos de ser e estar no mundo.

Entrevista 01: Tempo de mudanças

Entrevista 02: Escola: que caminho deve ser seguido?

Guia de Estudo:
Após a leitura das entrevistas, faça seus comentários sobre as
transformações e os fatores que afetam a escola e disponibilize na sala
virtual.

54
Vendo com os olhos de ver

Prezado aluno, assista ao vídeo: A escola e a sociedade em rede,


Conferência em CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,
Cultura e Ação Comunitária, com a professora doutora Paula Sibilia.

Guia de Estudo: Após assistir ao vídeo, faça seus comentários sobre o que
você achou mais relevante e disponibilize na sala virtual e compartilhe com
seus colegas.

55
Revisando

O sucesso da disciplina é determinado também a partir das


aprendizagens apreendidas e retomadas das ideias apresentadas em cada
unidade de estudo, isto é, retomar as questões que norteam as reflexões,
assim como a apresentação das ideias consumatórias são elementos
essenciais para a construção de novas práticas docentes.

Na primeira unidade de estudo estudamos diferentes definições


clássicas acerca da educação, entretanto, conscientes que as definições de
educação são múltiplas e variadas, pois são inúmeros os autores que se
empenham ao seu estudo. Em seguida, tratamos da escola face ao
crescimento contemporâneo, as constantes transformações visando
compreender o contexto no qual a escola encontra-se, hoje, inserida. E, por
último, discutimos sobre a necessidade de uma educação contemporânea
cidadã.

Na segunda unidade de estudo tratamos dos desafios, demandas,


tensões e perspectivas que perpassam o contexto escolar nos dias
hodiernos, assim como foi alvo das novas discussões a organização escolar,
em uma perspectiva histórica, versus a sociedade contemporânea com seus
avanços e transformações. Tudo isso, visando levar você, a perceber que a
escola pode e precisa ser transformada.

Na terceira unidade de estudo, focamos a crise que já vem


adquirindo novos moldes e, portanto, nova consistência, haja vista as
tecnologias eletrônicas e digitais e o capitalismo, cada vez, mais dinâmico e
influenciado por fluxos e interconexões, cada vez, mais globais. No que
segue, realçamos que as transformações da sociedade, cada vez mais,
invadem a escola, entre elas, as transformações tecnológicas, pois, como
discutimos, no século XXI, os computadores, internet, smartphones e redes
sociais tem mostrado seu poder de modo intenso e marcante e, por isso, logo
adentram toda a sociedade.

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Autoavaliação

Trabalhando-se no sentido do “ainda não”, do “vir a ser”, e com a


certeza de que não existem modelos de estruturas escolares perfeitos na
educação básica, mas vislumbrando mudanças sob a ótica do possível, vale a
pena pensarmos:

 O que há de ‘velho’ no contexto escolar diante destes novos tempos?


 Em face de tempos de incertezas e rápidas transformações, que
educação e que escolas construirmos?
 Somente as escolas são suficientes para a construção de uma nova
sociedade?
 Inserir as tecnologias no contexto escolar, sem antes existir um
investimento na formação docente, resolveria os entraves entre a escola
e o contexto midiático?

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Bibliografia

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