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gos de reisus. Os infos seo procssads de acordo com aI, -nsamento-Culrx Lida, ndo se responsabiiza por eventuais mudancas ocomidas nos endereos ou eleeonios cts nest ist, Dados Internaciomis de Catalogacio na Publicacto (CIP) (Camara Brasilia do Livro, SE, Brasil) Mois, Masud A teratura pomtuguesa / Massiud Mois; ~ Sto Paulo: Cutis, 2008. 06-7865 cnp-869.09 Indices para catélogo sstematico 1. Literatura portuguesa: Historia criica 869.09 © primeiro numero a esquerda india edo, ou reediao, desta obra. A primeira dezena A direita indies o ano em que esa edo, ou reedigt, fi pubiad. lio Ano 37-18 IAAT AD 4 waa Diretos reservados audqueidas com excasividade pola EDITORA PENSAMENTO.CULTRIX ETDA. Rus Dr. Mario Vieente, 368 — 04270.000 — Sao Paso, SP Fone: 2066.9000 — Fax: 2066-9008 E-mail persamento@eulirix.com br ‘Meméria de Décio Darcie V BARROCO (1580-1756) PRELIMINARES Quando, em 1578, D. Sebastido desaparece em ‘Aledcer Quibir, era chegado © fim meloncelico das grandezas arduamente conquistadas a part da tomada de Ceuta (1415), gracas & abertura do caminho maritimo para 2 fndias (1498), & ‘Jescaberta do Brasil (1500), € a outros cometimentos semelhantes. Indo para a regtncia 0 Cardeal D. Henrique, tio do malogrado durante dois anos se de- ten a magna questdo sucessoria, até que, em 1580, Filipe da Espanha, her mais préximo da Coroa, anexa Portugal seus dominios F 00 longo de 60 «até 1640, dominou o Espanol. No mesmo ano de 1580, falece na miséria ve ondrio cantor das pris perdidas eo intitivo que pressentira a Dens situagao de inconsciéncia coletiva — Luis Vaz de Cambes: dois acontecimentos tragicamente simultaneos, a marcar o crepusculo de wim ‘mundo e a aurora de >. Termina a Renascenga em Portugal e principia a extensa €P0oS do Barto- co, que se espraiara pelo século XVII, atingindo os meados do século XVIIL TExtenso mas nao intenso Tapso de tempo: na fileira de uma turbuléncia ge~ provocada pelo senhorio castelnano pelo movimento eurePSt das idéias vo da Reforma e da Contra-Reforma, a cultura portuguesa balsa detom, se, hiberna, envergonhada ou ensimesmada, a remoer pensamenios de re- mo, algumas vezes traduzides em acdo, coerente ou nao 109 A LITERATURA PORTUGUESA. De duvidosa et ‘ologia, © vocabulo “barroco” de : lesignava originalment a ely deforma irregular, ou, de acordo coma filosofa escolistion, esquema mnemonico que servia para faclitar ; a memorizaga chamades silogismos da segunda figura. Com o tempo, pasa rf ser . 4 significar ‘odo sinal de mau gosto, e, por fim, a cultura propria do século XVI e princi tura propris T ; O movimento barroco, iniciado na Es} lurante o teinado filipino, é de instavel contorno, por co : . responder Profunda transformacao cultural, cujas rafzes constituem aind: ro ee lemica. Quem nele procure apenas 0 aspect cs no Renascimento algumas le suas formas embriona oa ionarias, destacadament & ea al XVI, quando j se percebem as plpitacdes da disedin interna SRE tansormar-se em Barroco,enfebada no chamaclo Maneirismo, a sop : Pela tensio entre as correntes estéticase ideolbgicas que eon sera eee pelo acumulo de metaforas, anuiteses, trocadilhos, « lo real e do irreal. Lembre-se, 3 ‘ 0 = apenas como exempl as ; plo, © soneto camo- mein Plo verso “Amor ¢ fogo que arde sem se ver", em que ja a ener eua barrocos no jogo dos paradoxos que levam aos con a ey daquela tendencia estética a nda no tocante as suas ori is origens em Portugal, ¢ k athens! ‘ n , € preciso levar em conta 0 Gate a 5 Francisco Rodrigues Lobo (Leiria, 15732-tio Tejo, 24 Se novembro de 1621): no so servi de nexo ene o magiatrocamoniano } tendo de permeio © Maneirismo, como também colaborou sane spanha e introduzido em Portugal ratio, facilmente encontrara "Ogos dg conte cscs ssmpre paring, a cone emp Todas vais do an srr me, © OAqain nto cane € ge auc sano nd 220 éticos, em que a premissa menor é (conclusto) A designava julgamentos universaisafirmat negates. O carter hipttco dese tipo de slogime reside no sg £00, pat shin een so 2a spa apt to a, gue gy ‘a ‘era facil chegar & mesma conclusao. Com isso, d a PSMECESSATIO € Cor ido. Por dar margers Sees se transforma e se de ots combine ge sgismo imperfeito ou falso. a sarroco * Il dlivulgagao da estética barroca com as suas idéias acerca da arte literaria e do dialogo, estampadas em Corte na Aldeia (1619), a exemplo do passo em que se formula, porventura pela primeira vez em Portugal, 0 conceito de agudeza, ne- vrilgico na compreensao da literatura 20 longo dos séculos XVII e XVI “Os ditos agudos consistem em mudar o sentido a uma palavra para dizer outra coisa, ou em mudar alguma letra ou acento & palavra para lhe dar outro sentido, ou em um som e graca com que nas mesmas coisas muda a tengo do que as diz’. E, como nao podia deixar de ser, o Barroco sofreu mudancas em solo por- gues, ja por causa de tais antecedentes, jd porque a novidade espanhola cor- respondia a uma forma de perturbagao da serenidade classica, que so uns ;poucos letrados aceitaram em bloco, e foram os menos talentosos. A linha tra- dicional, engrossada pelo magistério poético de Camdes, funcionava como arreira contra a invaséo das aguas vizinhas, acabou dando um toque de identidade especial a0 Barroco portugues. No entender de alguns estudiosos, 0 Barroco tornou-se a arte da Contra- ma, visto as catacteristicas basicas do movimento estético servirem aos signios doutrinarios e pedagogicos da Igreja na luta anti-reformista. A Con- tra-Reforma teria absorvido @ estética barroca, fazendo dela uma espécie de cestratégia da sua acao catequizadora; de onde o carster pragmatico assumiclo pelas expressoes da arte literaria barroca, particularmente as em prosa, Por tutro lado, a fustio de propositos e tendencias nem sempre coerentes explica 1s maltiplas facetas apresentadas pelo Barroco. Posto isso, pergunta-se: quais as caracteristicas fundamentais da estetica coca? Primeito que tudo, corresponde a tentativa de fundir, numa unidade 1osa de simbolizar a suma perfeicdo, as duas linhas de forga que cond ziram o pensamento europeu ao longo do século XVI: 0 Barroco procurou jar numa sintese ut6pica a visdo do mundo medieval, de base teocéntri- pag, terrena, antropocentrica. No ca, € a ideologia clissica, renascent .ma entre orientag6es tdo opostas ¢ & primeira vista mutuamente repul- jpunha-se todo o empeno em conciliar 0 claro e 0 escuro, a matéria ¢ 0 espiti- ‘luz ea sombra, visando a anular, pela unificacao, a dualidade do ser hu- A LITERATURA PORTUGUESA Esse embate entre os dois pélos, de resultado sempre negativo, pois a anti aa reo 0 cabo, radica no problema do conhecimento da rea- eae se que conhecer ¢ identificarse com, assimilar 0 objeto a0 spon ae dicotomia barroca (corpo e alma, luz e sombra, ea eoreni ae modos de conhecimento. Primeito, consistria na des. eee Da estado de espirito que induziria a pensar-se num deli- , em que se procurava saber 0 como das coisas. Conhecer seria crever, como se observa nestes pouco: -xtratdos do “I io descrever, poucos versos : ‘ ‘Lampadario de “Lampada soberana, Dignissima do templo da Diana. Mas se nel Vossa luz sua esfera, ‘Com tal excesso brilha, Brilha t2o sem exemplo, Que fora mais estranha maravilha ‘Alampada que o templo; Que fora o templo emulagao do polo De Diana por si, por vos de Apolo” Visto 0 proceso dese: ritivo implicar a utilizaga lizagao de metaforas ¢ i para Eee 6s sentidos (a chamada sinestesia),e a poesia se exprimir ae do wr meio de metaforas ei ; pera wetaforas € imagens, resulta que essa tendéncia se manifesta no- em poesia. E recebe 0 nome de Gi : oo Songorismo, por ser © poeta espa- ‘Gongora seu principal tepresentante. Os seus adeptos pro ee cum var ram de bom tom 0 Fa iS ease de neologismos, hipérbatos, trocadilhos, dubie as demais figuras de sintax ' eee ate guras de sintaxe que tornam o estilo pesado, tortuoso Os m Boman: iodo pressupunha a analise dos objetos no encalgo de Ihes = esséncia, ou melhor, saber 0 que sdo, chegar aos conceitos = , 108 ue ae as tanto, utilizam-se da inteligencia e da Razdo, sem fete a s Ao cas plistco que resulta da desricto gongoriea, pds aordem rgica, discursiva, propria de quem procura estabelecer silogis- BARROC mos a espeito da vida e das coisas. Trata-se, pois, duma corrente express ac, mma de tudo em prosa, de vez que a logicidade (entenda-se: a l6gica formal ‘nao constitui atributo inerente & poesia. Recebeu a denominacao de Conceptis- smo, €0 seu representante tipico foi Quevedo. Sirva de ilustragao este fragmen- to do “Sermao da Sexagésima”, de Antonio Vieira: Para um homem se ver a si mesmo sto necessirias tres coisas: olhos, espelho € Juz. Se tem espelho e &cego, nao se pode ver por falta de olbos se tem espelho ¢ clhos, e €de noite, nlo se pode ver por falta de luz. Logo ha mister Iuz, ha mister espelho, ¢ ha mister olhos” Convém que se entenda, porém, que Gongorismo e Conceptismo const ‘ue tendéncias interinfluentes e contemporaneas, inclusive num mesmo ¢S- a pot vezes 0 processo critor: ao mesmo tempo que Gongorismo conceptual, © Conceptismo langa mao dos recursos figurados de linguagem aque fazem o apanagio da poesia gongérica. Em muitos c3s0s, torna-se mesmo 4 estabelecer distincdo nitida entre os dois procedimentos. "Ambos os “ismos” obedecem a uma concepedo pragmatica de arte: o pri do as sinestesias, procura criar um clima de ludismo verbal ‘com o objetivo de entreter; o Gongorismo nao raras vezes se prope como eS peticul para o gozo das sentidos; forma inferior, diseutvel ou requintada, de pragmatism, nio ha divida que esta longe da “torre de marfim’ simbolist: fo gongoricos parecer pressupor sempre aexistencia dum auditorio= forma ddo a0 menos de seus pares ~ ao qual necessariamente suas obras deveriam dirigir-se Poesia e prazer hidico se confundem no Gongorismo, a0 passo que 0 Con- ceptismo serve-se da dialética e serve como dialétca, uma vez que organiza logicamente as ideias com o fito de convencer ¢ ensinar. Compreende-st & lianga do Bartoco e da Contra-Reforma, quando atentamos para 0 fato de que 6 processo conceptista se prestava plenamente aos objetivos ecuménicas, tvangelizadorese pedagogicos daquele movimento clerical Nao € para menos que seestabeleceram vinculos entre o Barroco ¢ojesutismo: a Companhia de Jesus, nascida no Conecflio de Trento (1545-1563), organizava-se como uma verdadeira milicia, armada poderosamente dum corpo de doutrina, por sua ‘yez informada pela retérica escolastica, ou seja, conceptista, ‘A LITERATURA PORTUGUESA Por outro lado, cumpre atentar para o fato de o Barroco ter comecado nas artes plésticas, A pintuta, a escultura e a arquitetura traduzem, mais a primeira que as outras, a busca de conciliacao que vai no interior do Barroco. © belo- feio,a linha torta, o excesso de pormenor, o desenho que foge do ponderado, do “razoavel”, 0 jogo do claro-escuro em que a sombra ocupa lugar preponde- rante, so, a par de outras novidades formais, meios de exprimir a procura da sintese das tendéncias opostas no homem € na cultura, Desse angulo, é das €pocas mais vibrantes no terreno das artes plisticas, embora ndo o seja para Portugal, onde poucas vezes alcancaram maior nivel, relativamente aos demais paises curopeus, incluindo a Espanha, onde a arte barroca atingiu graus de primeira grandeza Enquanto literatura, 0 Bartoco europeu implica um complexo problema, que extravasa dos deste livro, Atenhamo-nos ao caso portugués. Do Angulo literatio, o Barroco em Portugal nao apresenta o brilho do século ante- rior: sera preciso aguardar o advento do Romantismo para a Literatura Port- guesa sair da depressio. Na quadra seiscentista, encontramos figuras de relevante porte, mas o todo, ou esta impregnado de preocupacdes limitada- to €, doutrinarias, filosoficas ou de feigdo mistica, ow com- posto de escritores isolados. Falta a época uma “atmosfera” comum, tao dispersos esto os intelectuais, guiados por clichés, ou padroes estéticos de alambicamento ¢ de forgado sen- tido literario. Falta a época a conexao entre os homens de letras, guiados por cliches ou padroes estéticas de alambicamento, de forcado sentido literatio, € apenas aproximados por coincidéncia, as mais das vezes de precitio poder aglutinador, embora as academias 4 primeira foi a Academia dos Singulares (fundada em Lisboa, em 1628), e uma «das mais importantes, a Academia dos Generosos (fundada em 1647 por D. An- \onio Alvares da Cunha), procurassem sanar essa falta, Somente ultrapassa 0 ramerrao uma que outra figura, esainda assim, nao raro presa a compromissos politicos ou religiosos, a significar a existencia de ligagdes pouco literarias, Nao obstante, a doutrina do Barroco suscitou, em Portugal, um amplo tra- 2 vols., 1718, 1721), num total de 934 paginas, fruto de 30 prelegdes feitas ao longo de seis anos, na Academia dos Andnimos de Lisboa, fundada em 1714, e ainda em atividade depois de 1728. — parkoco © 1S PADRE ANTONIO VIEIRA (© Padre Antonio Vieira € a mais alta personalidade, humana e cultural, dessa época, a que a sua estatura invulgar deu nivel e serviu de simbolo perfeito. Nele se encontram reunidas, em estranho compésito, as linhas de forga que norteiam 0 complexo quadro do Barroco portugues. Nasceui em Lisboa, a 6 de fevereito de 1608. os seis anos, € trazido para © Brasil. Ingressa no colégio jesuitico da Bahia. Em 1623, entra na Companhia de Jesus, ordenando-se em 1634. Em pouco tempo, granjeia fama de orador clogiente e culto, sobretudo ao ocupar-se da guerra contra os holandeses, Li berto Portugal do jugo espanhol, a 12 de dezembro de 1640, segue para a Me- tropole com a delegacdo que vai hipotecar lealdade ao novo tei, D. Jodo IV. Seu talento oratorio atinge entto o apogeu. Ganha prestigio junto a Corte, de que resulta ser enviado em missio diplomatica a Haia, Paris e Roma, mas sem al- cangar éxito. Em 1652, esta no Maranhao em trabalho de catequese e conver= sao dos indigenas, ao mesmo tempo que denuncia os desmandos de colonos ¢ administradores, provocando-os a ponto de se rebelarem. Em consequéncia disso, retorna a Metrpole, em 1661. D. Jodo havia morri- do cinco anos antes. Por acreditar em sua ressurreicao e vaticinar para Portugal o ‘Quinto Império, no qual o poder temporal caberia 20 tei portugues, ¢ 0 espiritu- al, a0 Papa, ¢ acusado de heresia pela Inquisicdo. Oito anos decorrem, ao fim dos quais o internam numa casa jesuitica e lhe cassam o diteito de pregat: Posto em liberdade, segue para Roma, onde alcanga que © processo condenatério seja re- visto, ¢ toma-se conhecido como orador do salao da Rainha Cristina, da Suécia. Em 1675, de volta. Lisboa, o desalento dele se apodera, ao sentir infrutife- ras todas as tentativas para anular o tratamento excessivamente rigoroso dado Inquisigao aos cristaos-novos. Em 1681, regressa definitivamente ao Bra- sil, e no recolhimento entrega-se a faina de ultimar a redagao e publicacao dos sermoes e de outras obras em preparo. Morre a 18 de julho de 1697, na Baia. Assistido por inquebrantvel dinamismo, Padre Vieira pensou todas as questoes candentes em seu tempo e procurou agir praticamente para Thes dar rumo compativel com aquilo que julgava correto, numa linha de coeréncia por si s6 explica a vastidao da sua obra e da sua aco mental e politica Neste segundo aspecto, destaca-se a campanha em favor dos escravos, dos in= nas e, por fim, dos judeus, barbara e desumanamente torturads pela [n= 116 ALITERATURA PoRTt UPSA quisicao, Ealto o merito que Ihe advém dessa luta travada acima das limitagdes sacerdotais e pondo a humana condicao antes de qualquer verdade pragmatica cou dogmatica. Tudo isso The valeu fortes ¢ fatais dissabores, mas tornou-o a estrela de primeira grandeza do Barroco luso-brasileiro. Contudo, a critica e a historiografia literarias interessa a obra escrita, e nao a atuacdo politica, apesar de intimamente associadas. Escreveu, além de mais de quinhentas cartas, algumas delas em torno de importantes questdes (como as enderecadas ao Marques de Nisa, representante portugues na Franca, a res- ppeito dos judeus), obras de profecia: Historia do Futuro (1718), Esperangas de Portugal (1856-1857) e Clavis Prophetarum (escrita em latim, ficou incompleta « inédita), em que, na linha do sebastianismo,? vaticina para Portugal o desti- no de Quinto Império, ja previsto na Biblia, no Livro de Daniel. E um ingre- diente desconcertante, mas necessério para compreender 0 carater do Padre Vieira, se bem que, literariamente, tena interesse inferior ao dos Sermoes (15 vols., 13 publicados entre 1679 ¢ 1690, e 2 entre 1710 e 1718), nos quais concentrou o melhor do seu talento e saber. Para bem se compreender os sermodes do Padre Vieira, € preciso ter em mente as caracteristicas fundamentais do movimento barroco. De contomno dilematico, contraditério, feito de antiteses e oposicoes, instavel como o pro- prio ondular das ideias no esforgo de orientar e persuadir, os sermées vieiria- nos correspondem & preocupacao de anular a dicotomia radical existente no ser humano, formado que € de corpo ¢ alma, Entenda-se, todavia, que o sin- gular orador jesulta era barroco mas nao gongorico, porquanto propugnava pela dialética conceptista e insurgia-se contra 0s excessos gongéricos. No “Prologo do Autor”, que abre os Sermdes, declara-o franca e brilhantemente "Se gostas de afetacao e pompa de palavras,¢ do estilo que chamam culo, nto leias. Quando este estilo mais florescia, nasceram as primes verduras do me (que perdoaras quando as encontfares), mas valeu-me tanto sempre a clateza, que * As trovas do sapateito Bandarra,“profeta" falecdo em 1545, ao mesmo tempo que impreca- vam contra a cotrupcao que minava.a sociedade coeva, obscuramente prediziam para Portugal 4 conquista de Marrocos e 0 Quinto Império, Com a morte de D. Sebastio em AMtica ea espe- e sn volta, as predigoes entraram a ser tidas na conta de “ikuminadss’: havia nascdo 0 Inito do sebastianismo, em que se misturavam a crenga hebraica no retorno do Messias eres «vos len do mago Merl, ss aaceatiiaaltliaa narnoco ® MT 6 porque me entendiam comecei a ser ouvido; € 0 comecaram também a s {que reconheceram o seu engano, ¢ mal se entendiam a si mesmos.” E 0 Sermao da Sexagésima, no qual o orador descreve as razdes pelas quais| se apartou “do mais seguido e ordindrio” e que “por isso se poe em primeiro lugar, como prologo dos demais”, serve perfeitamente de exemplo, modelo € confirmacio dessas idéias. Espécie de profissio de fé da oratéria conceptista, rele o pregador examina as condig6es indispensaveis para que faca fruto a pa- lavra de Deus. © processo empregado e defendido ¢ 0 conceptista, mas a lin- guagem procura solugdes classicas, como equilibrio, justeza, verdade e clateza. ‘No entanto, de um lado, ataca os gongoricos “Vemos sair da boca daquele homem, assim naqueles trajos, uma voz maui afeta- dda e muito polida, ¢ logo comecar com muito desgarro, a qué? A motivar desve- los, a acreditar empenhos, a requisitar finezas, a lisonjear precipicios, a brilhar auroras, a derreter crstais, a desmaiarjasmins, a toucar primaveras,¢ outras mil indignidades destas* ,de outro, utiliza uma que outra de suas afetagoes, além de recriminar a ten- dencia conceptista para o retorcido e a agudeza do pensamento: “Ah pregado- rest os de ea, achar-vos-ei com mais paco; os de la, com mais pasos”. Barroco, conceptista e nao gongérico, o Padre Vieira parte sempre de um {ato real, observado ou de flagrante presenca (veja-se 0 Sermao pelo Bom-Suces- so das Armas de Portugal Contra as de Holanda) para, de pronto, galvanizar 0 ouvinte, chamando-o ao dever de pensar e de reagir. Processo de eletrizagao para despertar as consciencias, de imediato o pregador liga o presente vivo a0 texto evangélico, a procurar analogias e correspondéncias. Cria-se, desse modo, uma forma de parentesco alegérico entre ambos. A impressao que deve causar o peso da Escritura (logo posta em Tinguagem corrente para 0 facil en- tendimento dos espectadores), faz-se acompanhar das consequiéncias psicol6- gicas de o problema ser colocado de modo claro, direto, 1égico, contundente. E 0 orador desfia-o, num jogo dialético que nao cessa e nao baixa de tom, cenredando 05 ouvintes, mas atingindo o objetivo: impressioné-los, traumati- zivlos, para levé-los a acao evidenciadora de virtudes. A tensa dialética, com ‘nar paradoxos, ambigtidades, sentidos ocultos, mistérios, ingredien= ——~— M18 © A LITERATURA PORTUGUESA tes sobrenaturais, leva as conclusdes implicitas nas premissas. Tendo sempre tivos morais, como declara no “Prologo do Autor", o Padre Vieira procura convencer para ensinar € orientar, excitando os fiéis no entendimento das mensagens evangélicas que pretende transmitir. Examinando as idéias feitas cou dogmaticas diante do auditorio, enfrenta dificuldades incriveis de racioci- rio, que o poderiam levar a becos sem safda; no entanto, vence-as com brilho € lucidez, atingindo o seu alvo com invulgar eloqaencia ¢ forca de persvasio. Estamos em face da parenética conceptista, em que o racionalismo se casa ‘com umn forma de idealismo clogmatico, representado pelos textos evangélicos, € que cumpre fazer vivos aos assistentes, Tudo isso confere ao orador o papel de “iluminado”, convicto das idéias que prega, usando processos insinuantes para.as divulgar, num ardor que nao esmorece, numa estrutura silogistica que convence ‘o mais arguto espectador, A linguagem, de recorte classico, apoia-o eficazmente, gracas a um vocabulério seleto e a uma sintaxe riquissima, aliada ao poder de revelar insuspeitadas conotagdes légicas ou afetivas no interior das palavras, Faz-se claro e profundo ao mesmo tempo, e convincente, exploran- do suas especiais qualidades de tribuno e de escritor. Por esta razao, o Padre Vieira tornou-se verdadeiro modelo de purismo de linguagem e fonte de co- nhecimento dum conjunto de expressbes que pos em uso, adaptou ou fixou pela primeira vez, Representa, assim, 0 melhor do Barroco portugueés, época em que a prosa dava amplos e consistentes sinais de maturidade. Os sermoes vieirianos seguem a est tra classica tripartite: intréito (ow exordio), em que 0 orador declara o plano a utilizar na andlise do tema em pau- 1; desenvolvimento (ou argumento), em que se apresentam os prds e 0s contras cem, Uma que outra vez, o Padre Vieira entra ex-abrupto no assunto, como no Sermao da Primeira Dominga do Advento, pregado na Capela Real, em 1650: “Dou principio a este sermao sem prinefpio, porque ja disse Quintiiano que as sgrandes acoes nao hao mister exordio: elas por si mesmas, ou supoem a atencio ow a conciliamn” de fazer a peroracao, como € 0 caso do Sermao da Primeira Sexta-Feira dda Quaresma, pregaclo na Capela Real, em 1651. -Mas este meu Sermao hoje sera a primeira oracio evangelica, que, co as leis da retorica, acabard sem peroraco.” Quando, no fim da vida, o Padre Vieira se dispos a ordenar os sermoes para publicacto, teve de tedigit a maior parte deles, porquanto s6 alguns haviam sido publicados, em folhas volantes, a0 passo que doutros 56 existiam breves ia deserwelvendo confor- apontamentos, que 0 senso improvisador do jesui ime as circunstancias do momento. Considerando ainda que a oratéria pressu- ‘poe a presenea fisica do orador, cam todo o aparato que the ¢ inerente (estatura, ‘vestimenta, voz, gesto, postura, entonacao, etc), 0 texto dos sermoes 56 corres- ponde precariamente ao que foi dito ¢ a0 modo empregado para o dizer De um lado, constituem redacao posterior aos eventos, efetuada no recolhi- mento claustral;e de outro, mesmo as pecas porventura publicadas contempo- raneamente ao fato tesultam numa espécie de pettificacdo: a orat6ria, como 0 teatro, reside menos no texto, que na acio exercida na tribuna, piilpito, ou pal- |.O fato de o Padre Vieira apenas se ampatar num roteiro para a elaboracto de suas pecas 0 diz claramente; doutra forma, o sermao sairia falso e artificial, como, até certo ponto 0 é, por ter sido redigido depois da sua elocucao. Os principais sermaes, alem dos ja citados, referem-se as questoes sociais {que discutiu: a questao dos escravos (sermoes da série “Rost Mistica": n# XIV, 1. Vi n® XX, vol. Vij n® XVII, vol. VD; a questo da reacao contra o invasor des (ermao de Santo Antonio, vol. VIIL, também chamado Sermao dos Peixes); a questio dos indigenas (Sermao da Primeira Dominga da Quaresma, Sermao da Quinta Dominga da Quaresma). ‘© Padre Antonio Vieira, apesar de tudo, permaneceu insulado, Se outros pre- adores de nomeada houve (e houve-os, em Portugal no Brasil, como Antonio ide Sa, Eustbio de Matos), nenhum dos que Ihe aproveitaram a licao foi capaz de iparar-se com ele no talento, nos transes da vida, na atuacio em favor dos des- rotegidos e na relevancia da obra: é, com toda a justica, a figura mais exponen- cial do Barroco portugues. E também do Barroco brasileiro, sem favor nenhum. D. FRANCISCO MANUEL DE MELO De origem nobre, como indica o dom que Ihe antecede o nome, ligado as casas reais de Espanha e Portugal, nasceu em Lisboa, a 23 de novembro de 1608) ‘A LITERATURA PORTUGUESA Vida agitadissima e aventuresca: depois dos estudos sob a orientagao dos jesu- as, entra no servico militar e vai combater os turcos; de volta, é armado cava- leiro e freqienta a Corte madrilenha, ao mesmo tempo que se bate na Coruna, em Malaga e na Flandres (1639). Liberto Portugal a 1 de dezembro de 1640, € preso e levado a Madrid, mas nao somente se exime de qualquer culpa como alcanca ser nomeado para misses diplomaticas na Inglaterra e na Holanda. Em 1644, por motivos ainda ignotados, esta preso na Torre de Belém. Onze anos dura o processo, findos os quais € desterrado para o Brasil (Bahia), onde fica de 1655 a 1658, De regresso a Lisboa, torna-se figura central da Academia dos Generosos, ¢, reabilitado moralmente, ¢ enviado em missao diploi 0 estrangeiro, Ao regressar, consegue nomear-se deputado, mas falece a 13 de outubro de 1666, em Lisboa ‘A sua obra literaria segue-Ihe de perto a vida acidentada de espadachim e homem mundano, uma espécie de vasto e multimodo depoimento de suas andangas de varia fortuna, bem como de sua larga e viva cultura aristocritica € jesuitica, Sua abundante producdo, jamais interrompida, mesmo quando o infortinio o langa na prisio e no dest ro baiano, abrange espécies € generos varios: a poesia, a historiografia, 0 teatro, a polémica, a biografia, a literatura moralista, a epistolografia, nas duas linguas ibéricas. A poesia de D. Francisco Manuel de Melo esta reunida nas Obras Métricas 665), divididas em quatro partes, “Pantheon. A la Inmortalidad Del Nombre -gundas Trés Musas do Melodino”, “EI Tereer Coro de Las Musas del Melodino”, das quais $6 a terceira escrita em vernaculo. Esta, subdividida em “Tuba de Caliope”, “Sanfonha de Euterpe” ¢ "Viola de Te teressa-nos mais de perto: nela ecoam vozes poéticas qui- nhentistas, Camoes a frente, ao mesmo tempo que reflete viva adequagio mentalidade barroca Dotado duma sensibilidade inquieta, saltiante, D. Francisco Manuel de Melo entrega-se, em poesia, a euforia no jogo das imagens, que progtessiva- mente vai cedendo ao gosto do Conceptismo, Seu talento parece coartado pe- las imposigdes barrocas: poucas vezes conseguiu romper as conveniéncias € produzir obra onde pulsasse uma vivida experiéncia das coisas e dos homens. Assim fez em alguns sonetos e églogas, apesar da tendéncia para o tebusca- mento vocabular e conceptual. mt A historiografia nao era o forte de D. Francisco Manuel de Melo, po: o talento, acultura e a existencia aventuresca. Escreveu a biografia de D, lsio II (publicada em 1944), o Técito Portugués - Vida e Morte, Dito eF ELRei D. Jodo IV (publicada em 1940, pela Academia Brasileira de Letras), mas a sua obra historiografica mais importante sto as Epandforas de Varia His {ria Portuguesa (1660), divididas em cinco partes: a “Epandfora Politica’, que narra os acontecimentos relacionados com o motim de Evora, de 1637; a “Epanafora Tragica”, que trata do naufragio da armada de D. Manuel de Mene- ses, ocorrido em 1627, e no qual foi dos poucos que conseguiram salvar-se; a Epanafora Amorosa” € a mais sugestiva de todas, do ponto de vista literario: num estilo brilhante, D. Francisco Manuel de Melo conta-nos a lenda acerca traduzida para os idiomas frances e inglés; a “Epandfora Belica” relata dois combates navais havidos entre a frota espanhola e a holandesa no Canal da Mancha, em 1639, dos quais D. Francisco Manuel de Melo fot espect “Epansfora Triunfante”, que nos comunica os sucessos determinados pela res- tauragdo de Pernambuco, em 1654. Para o teatro, D. Francisco Manuel de Melo escreveu em castelhano varias pecas que se perderam, ¢ 0 Auto do Fidalgo Aprendiz (que se publicou apenso as Segundas Trés Musas, em 1665). Composta certamente antes de 1646, a peca combina a influéncia do teatro popular vicentino com a comédia greco-latina, sna e espanhola. Quer-se crer que haja inspirado a Moliere o Le bourgeois homme. Uma graca nova ¢ a movimentagao incessante dos protagonistas, criando ardis, enganos e quiproqués, conferem interesse & peca, sobretudo quando nos lembramos da escassez de teatro durante 0 século XVI. ‘Todavia, € na epistolografia ¢ nos escritos morais que D. Francisco Manuel de Melo atinge © maximo de inventividade. Escreveu cerca de vinte mil cartas, jor parte delas na prisio, de cuja experiencia sto registro fiel. Dois anos antes ‘le morrer, em 1664, publicaram-se em Roma as suas Cartas Familiares, de cara ter confessional e documental, mas o escritor fala menos de si do que das gentes acontecimentos contemporaneos, mantendo sempre compreensivel reserva. Redigindo-as com evident 0 literario, submeteu-as a tigoroso poli- ‘mento estilistico, sem, contudo, desfazer o ar de angtista ironica em que se encontrava quando preso, visivel no tom sentencioso, conceptista ¢ vagamen ditties 122 © A LITERATURA PORTUGUESA te filosofante. © aspecto moralista, amparado no emprego duma linguagem «que mescla expressdes populares, arcatsmos e neologismos, explica o interesse dessa epistolografia como retrato duma singular int contraditoro, "Nessa mesma ordem de idéias situa-se a Carta de Guia de Casados (1651), ‘uma espécie de manual do casamento, escrito com graca, humor evivacidade, ao surpreender os meandros tortuosos das relacdes matrimoniais, por alguém que, paradoxalmente, morreu tos colog mncia e dum século iro. Aqui também a sua prosa ganha acen- c vals, gragas @ importincia conferida aos modismos populares e as ‘sentengas" e conceitos carregados dum filosofismo ligeiro, sorridente e prag- matico, como de resto também jé fizera em Feira de Anexins (publicada em 1875), Nao obstante haverem transcorrido mais de trezentos anos, a Carta de Gala de Casados encerra muita atualidade: com rara argricia, © moralista sur- preendeu na sociedade do tempo facetas ainda hoje vivas em matéria de casamento. lentica atmosfera moralista repassa os Apolagos Dialogais (1721), em nii- mero de quatro: “Reldgios Falantes . € “Hospital das Letras”. Aqui esta Manuel de Melo, pela feliz unio de seus invulgares dotes de percuciente e sa- ico observador das gentes do Seiscentismo, com um estilo vivo, gracioso, oresco e comunicativo. Dos Apologs, onde perpassam reminiseencas da logo com Justo Lipsio (1547-1606), humanista belga, Boc- (1556-1613), italiano, ¢ Francisco de Quevedo (1580-1645), espanhol, D, Francisco Manuel de Melo passa em revista, elogiosamente, a : barroca. : A polémica, que também cultivou (A Aula Politica, Curia Manifesto de Portugal, 1647), embora ostente as suas peculiares qualidades de escritor polimérfico, constitui aspecto menos relevante. PADRE MANUEL BERNARDES Nasceui em Lisboa, a 20 de agosto de 164. Aos trinta anos, abraga a Congre- gacilo do Oratorio de S, Filipe Néti, imergindo no silencio claustral até o fim markoco * 12 dos seus dias, entregue & meditacio e a compor a sua obra de moralista, louqueceu dois anos antes de falecer, a 17 de agosto de 1710. ‘A sua existéncia, apenas assinalada por duas datas, ¢ a sua obra apdem-se diametralmente as do Padre Antonio Vieira. Infenso a vida ativa € a0 atrito so- -0 por natureza, € as obras que legou, refle- +a um contemplativo em tem nitidamente essa condicao. Dotado de inquebrantavel fé religiosa, que 0 recolhimento conventual estimulava e nuttia, escreveu as suas obras com 0s olhos voltados para o plano transcendente, embora nao esquecesse de 0s diri- gir igualmente para 0s seus semelhantes, dentro e fora dos mosteiros. Por isso, ao comuunicar-se com o leitor, no ala pedagégico de guid-lo na es- trada que levaria a bem-aventuranca, nao esquece jamais de molhar a pena ‘com a ungida contemplacao ¢ sm que se compraz. Quer ensinar 0 ho- mem a encontrar Deus pelo culto das virtudes morais mais auténticas nele, precisamente as que Ihe conferem a marca de criatura humana, ‘Sua numerosa obra, em que se espelham relevantes qualidades de escritor pensador cristao, construiu-a com esse tinico destino: Nova Floresta (5 1706, 1708, 1711, 1726, 1728), Pao Partido em Pequeninos (1694), Luz e Calor (1696), Fxercicios Espirituais (1707), Ultimos Fins do Homem (1726), Armas da Castidade (1737), Sermdes e Praticas (2 vols., 1711), Estimulo pratico para seguir co bem e fugir do mal (1730). A Nova Floresta € a sua obra mais conhecida, entre outras razdes porque ‘ras. Ao mestno tempo, la o escritor atingiu o apice de suas faculdades sinala a realizacao plena do seu processo: 05 tépicos de que trata estao dis- postos em ordem alfabética: Alma Racional, Amizade, Amor Divino, Apetites, ‘Armas, Astiicia, Avareza, etc., por vezes reunindo num sé tépico matérias jum; Alegria. Tristeza; Anos. Idade. Tempo; ete. Conscio do poder insinuativo e transformador das palavras, como bom con- ita que era, o Padre Manuel Bernardes procura atingir 0: maximo de efeito om o minimo de recursos: baixa até o leitor, conta-Ihe um “caso”, um “exemn- plo’, de origem religiosa, ou biblica, historica ou mesmo popular, ¢ dele extra lacoes que julga fundamentais para a formacto moral do verdadeito crista, Para consegui-lo, despoja a linguagem de tudo quanto The parece super omo quem procurasse um andamento e um tom préximos da fala con= ‘massem perder dignidade, alturae brilho. Utilizando rico voeabulatio axe direta, clara, classica, em que raramente despontam hipérbatos 124 © A LiTeRATURA PORTUGUESA ¢ semelhantes recut es recursos barrocos, simplifica a doutrina a fim de que o leitor : lala. Ajuda-o, nessa tarefa de falar ae a ingenuidade crédula com que atribuia foros de verdade a meras ae ic¢0es. Por outro lado, certas notacoes “realistas” denunciam um sa rdote interessado na vida exterior, embora por vias indiretas, como Pel i ee fluencia e clareza da linguagem, em que nao é estranho o influxo i ae € latino, pela elegancia, espontaneidade, preciso e casticismo tbal, o Padre Manuel Bernardes tornou-se um auténtico modelo da ria seiscentista. Pelo e: es realizou um anseio geral no tempo, ¢ pela re- so claustral, um ideal de vida contemporaneo, qual seja, a ascese de tipo | um ideal de vida x itemporaineo, qual seja, CAVALEIRO DE OLIVEIRA Dessa forma assinava suas obras Francisco Xavier de Oliveira, uma das fi humans eltersrias mais curiosas do tempo, quer pela aventurosa vide que levou, quer pela obra em que caldeou os produtos de uma vria « compas : ae dos homens ¢ do mundo. Nascido em Lisboa, a 21 de ar + Fecebeu esmerada educacio. Encaminhando-se para o emprego publi- fos o tempo em estrone; casas, mas logo perde a mulher, Sian

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