RESUMO O presente artigo visa discutir os aspectos Ètico e bioÈticos, que envolvem a pr·tica
cotidiana do PsicÛlogo da Sa˙de na assistÍncia ‡ populaÁ„o. Enfatizando os conflitos e
polÍmicas que os modelos vigentes de sa˙de, e os avanÁos das CiÍncias da Sa˙de tÍm trazido para nossas pr·ticas cotidianas, como a dicotomizaÁ„o da pessoa enferma, a (ainda) predomin‚ncia do olhar por sobre a doenÁa e n„o sobre a pessoa doente, e as intrincadas relaÁıes entre a proposta de uma pr·tica transdisciplianar e humanizada, e os modelos centrados na cura, prÛprios do paradigma biomÈdico que vigorou, e ainda vigora, em muitos paÌses, no que se refere aos pressupostos de atenÁ„o ‡ sa˙de. Palavras Chave: …tica, bioÈtica, psicologia da Sa˙de, psicologia hospitalar. RESUMEN El presente artÌculo expone una discusiÛn sobre los aspectos Èticos y bioÈticos que envuelven la pr·ctica del psicÛlogo de la salud en la atenciÛn a la poblaciÛn. Enfatiza los conflictos y las polÈmicas en los modelos de salud vigentes, y las complicaciones que tienen los avances en las ciencias de la salud en las pr·cticas cotidianas, como por ejemplo la dicotomizaciÛn de la persona enferma; el sesgo de mirar la enfermedad y no a quien la padece, y las complejas y difÌciles relaciones que surgen de una propuesta de pr·ctica transdisciplinar y humanizada frente a los modelos propios del paradigma biomÈdico que a˙n se mantiene como fuente de referencia para la atenciÛn en salud. Palabras clave: Ètica, bioÈtica, psicologÌa de la salud, psicologÌa hospitalaria. * Correo electrÛnico: riws@terra.com.br 12 HELOISA BENEVIDES DE C. CHIATTONE Y RICARDO WERNER SEBASTIANI Univ. Psychol. Bogotá (Colombia) 1 (2): 11-19, julio-diciembre de 2002 Refletir sobre a Ètica em sa˙de e especificamente sobre os preceitos Èticos em Psicologia da Sa˙de È tarefa audaciosa, intrigante, mas intensamente desafiante. Principalmente porque essa reflex„o pressupıe posicionamentos ou questionamentos - muitas vezes polÍmicos, sobre os fundamentos teÛricos que norteiam a pr·tica do PsicÛlogo no campo maior da Sa˙de. Apesar de v·rios estudos apontarem questıes fundamentais concernentes ‡ pr·tica, ensino e pesquisa do PsicÛlogo que atua em instituiÁıes de sa˙de (Angerami et al.,1984, 1988, 1992, 1994, 1996, 1998, 2000, 2001 a, 2001 b, 2002; Amorim, 1984; Lamosa, 1987; Lamosa et al., 1990, 1994; Calil, 1987, 1995; Chiattone e Sebastiani, 1991; Neder, 1991; Campos, 1992; Leit„o, 1993; Mello Fº, 1992; SÛlon, 1992; Muylaert, 1995; Giannotti, 1996; Marcelli, 1998; Crepaldi, 1999; Stoudemire, 2000, entre outros), muitas questıes ainda permanecem pouco esclarecidas, gerando falsas ou pseudo-concepÁıes, dificultando a atuaÁ„o do PsicÛlogo, o ensino da pr·tica nos Hospitais e em outros de atenÁ„o global ‡ sa˙de, a inserÁ„o do profissional nas equipes, a realizaÁ„o de pesquisas e, mais grave, a consideraÁ„o real da especialidade. … importante ressaltar, no entanto, que a cada ano, a Psicologia da Sa˙de recebe mais adeptos, que procuram cursos, encontros, simpÛsios e congressos. Sendo identificado por pesquisas desenvolvidas por Grau (2000), como sendo o campo de especialidade em psicologia que mais tem crescido na AmÈrica Latina nos ˙ltimos 20 anos. Para Giannotti (1996), ìo trabalho do PsicÛlogo no contexto das instituiÁıes mÈdicas e hospitalares, pode-se dizer, vem delineando uma nova especialidade em Psicologia, que n„o È inovadora em sua concepÁ„o filosÛfica, mas que vem sendo abordada de forma mais sistem·tica, nos tempos atuais, no ‚mbito da investigaÁ„o cientÌficaî(14). Entretanto, ainda s„o evidentes as lacunas teÛricas que refletem dificuldades na tarefa profissional di·ria do PsicÛlogo nas instituiÁıes de sa˙de e tambÈm no interrelacionamento com outros membros das equipes. Para Sebastiani e Fongaro (1996), ìdurante muito tempo, a Psicologia Hospitalar/Sa˙de utilizou-se, e ainda utiliza, de recursos tÈcnicos e metodolÛgicos ëemprestadosí das mais diversas ·reas do saber psicolÛgico. Esse fato, de certa forma, a enquadra numa pr·tica que n„o pertence sÛ ao ramo da clÌnica, mas tambÈm da organizacional, social e educacional; enfim, uma pr·tica, que n„o obstante a seu viÈs aparentemente clÌnico ódada a sua realidade acontecer nos hospitais, ambulatÛrios, centros de sa˙de, etc.ó, tem-se mostrado voltada a questıes ligadas ‡ qualidade e dignidade de vida, onde o momentum em que tais temas s„o abordados È o da doenÁa e/ou internaÁ„o hospitalarî, e/ou o de uma atuaÁ„o interdisciplinar de atenÁ„o ‡ sa˙de humana, onde a tarefa do PsicÛlogo da Sa˙de se estende para muito alÈm do que tradicionalmente entende-se por pr·ticas clÌnicas em psicologia, sobretudo, se considerarmos a forte influÍncia do modelo clinicalista desenvolvido atravÈs da psicoterapia desenvolvida em consultÛrios. øMas o que È Psicologia da Sa˙de? øEstamos diante de uma subespecialidade da Psicologia ClÌnica ou da Psicologia Social? øComo reproduzir os fundamentos da Psicologia ClÌnica nas instituiÁıes de sa˙de? øQual È o papel do PsicÛlogo no Hospital, ou em programas de atenÁ„o ‡ sa˙de? øQuais s„o seus objetivos? øQuais s„o os limites de sua pr·tica? øE como se d· essa pr·tica? øAonde est· inserida a Psicologia Hospitalar e da Sa˙de no contexto maior da sa˙de? øComo diferenciar linhas e abordagens t„o distintas em pr·tica t„o especÌfica? … fato que um cientista pode investigar diretamente o problema que enfrenta. Conta para tal, naturalmente, com a existÍncia de doutrinas cientÌficas j· existentes e aceitas, e hipÛteses que podem ser investigadas, comprovadas ou negadas. Em Psicologia da Sa˙de, o pesquisador vÍ-se em posiÁ„o difÌcil. ëFaz-seí Psicologia da Sa˙de de formas diversificadas nas diferentes instituiÁıes de sa˙de, partindo-se de par‚metros e objetivos diversos. Acresce-se o fato de que esta pluralidade È tambÈm inerente ‡ Psicologia de uma forma geral. … consenso que a Psicologia ainda encontra-se em est·gio prÈ-paradigm·tico, onde seus membros n„o conseguem estabelecer uma conciliaÁ„o sobre questıes teÛricas e metodolÛgicas, unificando as v·rias posiÁıes. Nessa medida, o conhecimento, em Psicologia, permanece especializado e cada grupo adere ‡ sua prÛpria orientaÁ„o. Segundo Lupo (1995),ìa Psicologia È, da forma como se nos apresenta hoje, uma ciÍncia multiparadigm·tica. Os v·rios arraiais teÛricos estabeleceram- se com suas linguagens particulares, suas problem·ticas especÌficas, suas maneiras prÛprias de teorizar, seus mÈtodos, seus conceitos, suas comunidades. A coexistÍncia desses paradigmas alternativos implica a dificuldade de di·logo. N„o h· como traduzir o conhecimento desenvolvido dentro de uma matriz disciplinar para uma outra matriz; n„o h· correspondÍncia nos mÈtodos de acesso ao objeto; n„o h· nem mesmo concord‚ncia ao que È este objetoî(5). Nessa medida, parece-nos correto afirmar que a posse de conhecimento verdadeiro sobre um projeto especÌfico e delimitado num Hospital, por exemplo, apon- …TICA E BIO…TICA EM PSICOLOGIA DA SA⁄DE 13 Univ. Psychol. Bogotá (Colombia) 1 (2): 11-19, julio-diciembre de 2002 taria a utilizaÁ„o de metodologia adequada e produÁ„o de conhecimentos pertinentes medidos pela conformidade ou incongruÍncia diante dos princÌpios da teoria. ìMuitos dos que est„o nas escolas, nas instituiÁıes de sa˙de e nos locais de trabalho orientam assim a sua pr·- tica, ciosos do seu lugar, da sua teoria. Acreditam que esta lhes dÍ a chave para desvendar a essÍncia, ou a verdadeira natureza dos fenÙmenos que se pıem a examinar (...)î (Bezerra Jr, 1992, p.10). Contini (2000) ressalta: … importante acrescentar que a produÁ„o da psicologia, atÈ por forÁa da sua constituiÁ„o enquanto CiÍncia, restringe-se ‡ busca de desvendar os fenÙmenos psicolÛgicos, produzindo conhecimento e teorias psicolÛgicas; mas nas intervenÁıes em situaÁ„o real, esses mesmos fenÙmenos psicolÛgicos est„o interagindo com outras variantes que s„o analisadas por outras ·reas do conhecimento, ou por equipes interdisciplinares. Dessa forma, È fundamental adquirir aprendizagens, no perÌodo de FormaÁ„o, que possam instrumentalizar o aluno a desenvolver aÁıes conjuntas com outros profissionais. Como afirmam Bastos e Achart (appud Contini 2000): a natureza complexa dos fenÙmenos que demandam a intervenÁ„o do psicÛlogo, nos diversos domÌnios do seu campo de atuaÁ„o, aliada ‡s concepÁıes emergentes que procuram ver o fenÙmeno psicolÛgico nas suas interaÁıes, conduz ‡ necessidade de integraÁ„o de m˙ltiplas perspectivas profissionais. Dessa forma, o trabalho junto a outros profissionais torna-se um imperativo para que o enfrentamento do problema seja congruente com as m˙ltiplas facetas que ele assume. Existe um imenso campo a ser explorado pelo trabalho do psicÛlogo da sa˙de dentro da equipe multiprofissional nos programas de EducaÁ„o e AtenÁ„o ‡ Sa˙de, voltados ‡ capacitaÁ„o e o aprimoramento dos profissionais de sa˙de, pois dentro das suas diferentes habilidades como psicÛlogo, a capacitaÁ„o para o lide com grupos tr·s ferramentas para o trabalho relacionado ‡s mudanÁas de comportamento, alÈm do conhecimento mais aprofundado sobre personalidade, auto estima, desenvolvimento humano, entre outros. Todas s„o contribuiÁıes importantes dentro das propostas de ìsoma transdisciplinarî para aÁıes em sa˙de. Segundo Westphal (2001): Como a adoÁ„o de um novo paradigma (de sa˙de) orienta para o desenvolvimento de novas competÍncias teÛrico-pr·ticas e difus„o das mesmas, as atividades de ensino de atualizaÁ„o, graduaÁ„o e pÛsgraduaÁ„o lato e estrito senso foram tendo seus perfis alterados para que o profissional de sa˙de fosse preparado para executar tarefas tradicionais, de car·ter tÈcnico , ao mesmo tempo que pudesse perceber o que È trabalhar em Sa˙de P˙blica hoje. O grande desafio da nova pr·tica, a intersetorialidade e a interdisciplinaridade, exige profissionais aptos ao di·logo tÈcnico e leigo, com os mais variados setores. Professores e alunos devem se habilitar a desempenhar esta atividade e outras tambÈm, antes n„o requeridas, como a atuaÁ„o polÌtica junto a grupos populacionais, institucionais e Ûrg„o de administraÁ„o p˙blica (2). Ent„o, a tentativa de demarcaÁ„o se o conhecimento da Psicologia da Sa˙de È critic·vel, refut·vel sobre a realidade do psiquismo humano parece coerente com o movimento óintensoó de se conhecer essa realidade ou de adentrar a essa nova ·rea da Psicologia. Mas o leitor pode estar se perguntando o que isso tem a ver com Ètica. O que estamos tentando demonstrar refere-se ao compromisso Ètico entre o conhecimento da Psicologia da Sa˙de e a verdade, pois n„o se trata, acreditamos, de discutir ciÍncia e pseudo-ciÍncia, ciÍncia e vis„o de mundo. Trata-se da tentativa de desvendar a realidade da atuaÁ„o do PsicÛlogo no contexto maior das demandas em sa˙de, sem a prerrogativa de se alcanÁar a verdade absoluta, mas sem prescindir, a seu lado, da idÈia em si - regulativa, do ideal que orienta a pr·tica e que, principalmente, d· sentido a essa pr·tica. E esse ideal, em nossa opini„o, converge para o estudo do Homem em sua totalidade. Assim, da busca pelo conhecimento de si mesmo, elaboraÁ„o de uma Psicologia separada de suas raÌzes filosÛficas e investida no rigor cientÌfico, ao desenvolvimento de novas ciÍncias psicolÛgicas, considerando-se a diversidade dos campos de investigaÁ„o e dos mÈtodos, a ocorrÍncia de profundas mudanÁas parecem evidentes. Como salientamos em artigo anterior, È fato que desde os primÛrdios da historiografia do Homem, a partir do momento em que esse inicia o processo de procura da compreens„o de si nas diferentes esferas teÛrico filosÛficas, pode-se notar uma pluralidade de correntes de pensamento que tentam determinar uma definiÁ„o completa para o fenÙmeno Homem. Desde os seus primÛrdios, o Homem buscou o conhecimento dos elementos e dos fatos a seu redor. Convivendo com os fenÙmenos da natureza, internos e externos a ele, observava e observava-se na busca de explicaÁıes - caracterÌstica fundamental do espÌrito cientÌfico. Entretanto, buscando nos confins da HistÛria, evidenciam-se os primeiros grandes pensadores e, a partir daÌ, o inÌcio do subfracionamento do Homem pelo Homem, enquanto objeto de estudo.