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PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

FUNDAMENTOS DE FÍSICA MODERNA E


CONTEMPORÂNEA

MÓDULO – 6

Autora: Patrícia Camargo Magalhães


Revisão atualizada segundo o novo acordo ortográfico: Profª. Ms. Camila Menezes

Coordenação Pedagógica
INSTITUTO PROMINAS

APOSTILA RECONHECIDA E AUTORIZADA NA FORMA DO CONVÊNIO


FIRMADO ENTRE UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
E O INSTITUTO PROMINAS.

Impressão
e
Editoração
2

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 3

CAPÍTULO 1 – RADIAÇÃO DO CORPO NEGRO................................................................................. 5

CAPÍTULO 2 - QUANTIZAÇÃO DA CARGA, ENERGIA .................................................................... 18

CAPÍTULO 3: PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DA MATÉRIA .................................................... 36

CAPÍTULO 4: O MODELO DO ÁTOMO .............................................................................................. 47

CAPÍTULO 5: INTRODUÇÃO À MECÂNICA QUÂNTICA .................................................................. 64

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 71

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INTRODUÇÃO

A física moderna representa o início da revolução ocorrida no séc. XX. Essa


revolução se dá em dois grandes eixos, dando origem a mecânica quântica e a
relatividade. Nesta apostila, vamos nos concentrar no primeiro eixo, a evolução do
entendimento da matéria e seu comportamento.

A física moderna nesse sentido, é uma história recheada de prêmios nôbeis,


como Planck, Einstein, De Broglie, Bohr, Thomson, Heisenberg, Schrödinger, e
muitos outros que deram uma contribuição significativa, seja experimental ou teórica,
para a mudança de um entendimento clássico da física para o quântico. Essa
transformação durou quase um século e podemos chamá-la de uma mudança no
paradigma, uma vez que essa mudança não é só uma nova teoria que serve para
descrever o comportamento de objetos microscópios, ela é uma mudança na
maneira de pensar os objetos físicos, no conceito da massa, das forças e de
simetrias fundamentais da natureza.

A teoria da relatividade de Einstein complementa esse caráter de mudança


total de paradigma, uma vez que a ideia da existência de meio, no qual os
fenômenos aconteciam, o Éter, dá lugar ao vácuo e a comprovação de que em
sistemas com velocidades próximas da luz, podemos observar a contração do
espaço e a dilatação do tempo. Algo realmente surpreendente para o início do
século XX.

Desta maneira, esta apostila se foca na transição desses conceitos,


aprendemos na escola a pensar de maneira clássica, como Newton, e agora
precisamos desconstruir esses conceitos para entender como funciona o mundo do
muito pequeno. Se fizermos as mesmas perguntas que Planck e Einstein fizeram no
final do século XIX, talvez nossas respostas sejam conservadoras, mas ao final
desta apostila, o estudante será capaz de compreender os problemas da física
clássica e os respectivos conceitos e interpretações que compõem a teoria
contemporânea da mecânica quântica.

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Este texto está organizado de forma a rever a transição da antiga para a nova
física. Não está em ordem cronológica, pois este trabalho não se propõem a fazer
uma descrição em linha histórica, assim, nesta apostila não há uma linearidade
temporal entre os conceitos e desenvolvimentos dos capítulos, eles são
apresentados em uma ordem na qual o leitor possa compreender e relacionar os
conceitos de maneira lógica.

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CAPÍTULO 1 – RADIAÇÃO DO CORPO NEGRO

1.1- Radiação do corpo negro

O processo histórico de estudo da radiação do corpo negro iniciou-se em


análises empíricas da luz solar e o subsequente nascimento da espectroscopia,
utilizando o prisma recém descoberto por Newton. O primeiro espectroscópio foi
inventado por Joseph Von Fraunhofer e constituía uma luneta ocular acoplada com
um prisma. Esse aparato foi aperfeiçoado por Gustav Robert Kirchhoff e Robert
Bunsen, na segunda metade do século XIX, e a partir desse, em 1959, detectaram
que cada elemento químico poderia ser caracterizado por um espectro próprio. Em
um segundo trabalho, no mesmo ano, Kirchhoff propôs o que seria conhecido como
a “lei de Kirchhoff”: Para raios espectrais de igual comprimento de onda, a uma
mesma temperatura, a razão do poder de emissão para a capacidade de absorção
é a mesma para todos os corpos, independente da sua natureza.

P1 λ P
= 2λ , (1.1)
a1λ a2λ

sendo Pλ o poder emissivo (energia irradiada no comprimento de onda l por

unidade de tempo) e a λ o poder absorvente. Essa relação evidencia o surgimento

do primeiro absoluto na natureza.

Kirchhoff introduziu o conceito de corpo negro, como sendo o corpo ideal, cuja
superfície absorve toda a radiação que incide sobre ele, visível ou não. Seu
coeficiente de transmissão e reflexão é nulo e o coeficiente de absorção é um,
a λ = 1 . Daí a analogia com objetos pretos, pois sendo toda a radiação incidente

absorvida, não é possível identificar uma cor (a cor dos objetos é fruto da radiação
refletida nele) e, portanto, o objeto será preto representando a ausência de cor. O
conceito de corpo negro é ideal, segundo a lei de Kirchhoff (1.1), se ele absorve toda
a radiação, ele será um emissor ideal. O único corpo que se aproxima de ser
perfeitamente negro é o sol, mas, embora possamos considerar que ele absorve

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toda a radiação nele incidente, seu espectro de emissão não é contínuo, como se
espera de um corpo negro.

O fato da radiação do corpo negro aparentar ser um absoluto da natureza


instigou muito cientistas da época, entre eles Max Planck, que em sua autobiografia
fala o seguinte a respeito do tema:

(...) a radiação, em todas suas propriedades, incluindo sua distribuição


espectral de energia, não depende da natureza dos corpos, mas somente e
exclusivamente da temperatura. Portanto, a assim chamada distribuição
normal de energia espectral representa algo absoluto, e uma vez que eu
sempre considerei a procura por absoluto como o principal objetivo de toda
a atividade científica, eu ansiosamente me pus a trabalhar.

Os estudos de Planck e de tantos outros passaram a ser mais efetivos após


Kirchhoff mostrar que a emissão de radiação de um corpo negro é equivalente a
radiação emitida por uma cavidade de paredes adiatérmicas (impermeável a
radiação térmica) e temperatura T. E, portanto, o estudo do corpo negro podia se
restringir a estudar a emissão de radiação de tal cavidade.

A distribuição espectral da radiação de um corpo negro é quantificada pela


função R T (ν ) (radiância espectral), definida de tal forma que R T (ν )dν seja a energia
emitida por unidade de tempo e área (de uma superfície) em um intervalo de
frequência dν para uma temperatura definida T. A primeira medida experimental de
RT (ν ) foi feita em 1865, por John Tyndall. Mas, foi em 1879, que Josef Stefan
deduziu, empiricamente, dos resultados dos experimentos de Tyndall que a
4
emissão do fio de platina aquecido era proporcional a T (em Kelvin). De outro
ponto de vista, em 1884, Ludwig Boltzmann, usando considerações termodinâmicas
e eletromagnética no estudo da radiação da cavidade, encontrou que a densidade
4
de energia dessa cavidade, assim como o fluxo emitido, seria proporcional a T e o
fluxo de radiação dessa cavidade deveria ser igual à radiação total RT (ν ) ,
consolidando a observação empírica de Stefan

RT (ν ) = σT 4 . (1.2)

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Essa relação é conhecida hoje como a lei de Stefan-Boltzman, para σ a


constante de Stefan que somente foi calculada quando o problema do corpo negro
foi totalmente solucionado por Planck.

Wilhelm Wien, em 1984, foi o primeiro físico a fornecer uma tentativa de


análise teórica a partir da termodinâmica e das considerações de Boltzman. Ele
propôs uma função de distribuição espectral para a radiação do corpo negro, em
que, conhecido o espectro de emissão do corpo, seria possível obter RT (ν ) . Wien
notou, em seus estudos, que a mudança da temperatura altera a distribuição dos
comprimentos de onda de maneira constante em uma relação conhecida hoje como
a lei de deslocamento de Wien

ν max
λmax T = = const. . (1.3)
T

Ambas as deduções, de Boltzman e Wien, provocaram um grande empenho


de parte da comunidade científica para encontrar a descrição do fluxo de emissão de
radiação do corpo negro, tido como um problema em aberto da física, no final do
século XIX.

1.2 - Modelo clássico para a radiação do corpo negro

Antes de seguir com os avanços no estudo da radiação do corpo negro,


façamos uma pausa para relembrar a formulação do teorema da equipartição da
energia. Em 1845, J.J. Waterston escreveu um artigo para a Royal (que seria
recusado pelo argumento de ser descabido) sobre: “A física dos meios que são
compostos de muitas moléculas livres e elásticas num estado de movimento”. A
conclusão principal foi que “num meio misto a velocidade quadrática média é
inversamente proporcional ao peso específico das moléculas”. Em 1860, Maxwell
formula a primeira versão do princípio de equipartição da energia, na qual dois
conjuntos de partículas distribuem suas velocidades e suas energias cinéticas.
Boltzmann generalizou o teorema, em 1868, para todos os tipos de partículas que
tivessem números inteiros de graus de liberdade. Ao final do século XIX, a ideia da

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equipartição da energia pairava no ar e foi finalmente formulada como: a energia


total contida num sistema composto por um grande número de partículas
individuais, seria igualmente compartilhada, em média, por todas as partículas que
se movimentam e colidem randomicamente trocando energias. Para um sistema de
moléculas de um gás em equilíbrio térmico a uma temperatura T, o princípio da
equipartição da energia, proposto por Boltzmann, afirma que a energia cinética
1 − 23
média de uma molécula por grau de liberdade é kT , sendo k = 1,38 × 10 a
2
constante de Boltzmann. Detalhes da conta podem ser encontrados em livros de
mecânica estatística.

Em 1900, Lord Rayleigh se propôs a resolver o problema da radiação do


corpo negro usando a teoria da equipartição de energia. Rayleigh, que em seguida
foi corrigido e aprimorado por J. Jeans, partiu da suposição que dentro da cavidade
as ondas eletromagnéticas seriam ondas estacionárias com frequências fixas
determinadas pelo tamanho da cavidade, ou seja, a radiação dentro da cavidade
seria uma sobreposição de ondas estacionárias possíveis com nós sobre a
superfície metálica (borda da cavidade), como mostra a figura 1.1. O campo elétrico
para ondas estacionárias possuem uma estrutura de oscilação senoidal no
 
comprimento e no tempo, E x = E 0 sen  2 π x  sen (2 πνt ) (para a componente x, que se
 λx 

repete nas demais) assim, o campo é sempre nulo nas superfícies da cavidade.
Usando argumentos geométricos, é possível calcular o número dos diferentes
modos de ondas estacionárias possíveis de existir na cavidade, no intervalo de
frequência de ν a ν + dν , por unidade de volume (devido às duas possíveis
polarizações da radiação o número deve ser multiplicado por dois ao final da conta).

8πa 3 2
N (ν )dν = ν dν . (1.4)
c3

Sendo a o tamanho da aresta da cavidade e c a velocidade da luz.

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Figura 1.1: Ondas estacionárias no interior de uma cavidade metálica1

Segundo a teoria clássica da equipartição de energia, cada modo de vibração


1
tem a mesma energia cinética média quando está em equilíbrio térmico: kT . No
2
entanto, é preciso considerar que cada onda estacionária que oscila senoidalmente
possui uma energia total que é o dobro da sua energia cinética média (propriedade
dos movimentos harmônicos simples com um único grau de liberdade). Assim, a
energia total média de cada modo vibrante é kT . O número de ondas estacionárias
multiplicado pela sua energia média total no intervalo de frequência considerado, por
unidade de volume, fornece a densidade de energia ρT (ν ) (energia média por
unidade de volume no intervalo de ν a ν + dν ). Usando as considerações clássicas
acima, chegamos à fórmula de Rayleigh-Jeans para a radiação do corpo negro:

8πν 2 kT
ρT (ν )dν = dν . (1.5)
c3

1
Figura modificada de R. Eisberg “Fundamentals of Modern Physics”, John Wiley&Sons Inc., 1963.

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Ao comparar a curva teórica com os dados experimentais, como mostra a


figura 1.2, podemos observar que para valores baixos de frequência, o
comportamento da curva teórica é condizente com os dados experimentais, o que
indica que neste limite a teoria consegue descrever o fenômeno. No entanto, para
altas frequências, observa-se uma grande discrepância entre a curva teórica e os
dados. Enquanto o experimento mostra que a densidade de energia é sempre finita
2
e tende a zero para altas frequências, a equação (1.5) cresce com e tende ao
infinito. Essa discrepância ficou conhecida como a “catástrofe do ultravioleta”, pois a
teoria clássica não conseguia justificar o comportamento experimental nesta região
de frequência. Estava em aberto um problema cuja solução significou uma mudança
do paradigma da física clássica.

Figura 1.2: A comparação da previsão de Rayleigh e Jeans para a radiação de corpo


negro com os dados experimentais em função do comprimento de onda. Evidência da
catástrofe do ultravioleta.

1.3 A teoria da radiação do corpo negro de Planck

Max Planck estudou a fundo o problema da radiação do corpo negro usando


as teorias da termodinâmica clássica, mas não o fez na perspectiva do princípio da
equipartição da energia. Planck se fixou na entropia do sistema, ele reformulou a
segunda lei da termodinâmica, na qual a entropia de um sistema tende sempre a

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aumentar e, no limite, pode permanecer constante para o caso de uma cavidade


adiatérmica. A partir da sua formulação da segunda lei da termodinâmica, Planck
encontrou um análogo a lei de Wien, que, no entanto, não valia para pequenos
valores de frequências:
2
∂ S const
=
∂2 U U . (1.6)

Para S a entropia do sistema e U a energia interna.

O cenário do problema do corpo negro, no início do século XIX, indicava que


a cada faixa de comprimento de onda em que se trabalhasse, o fenômeno era regido
por equações diferentes. Foi então, em 19 de outubro, de 1900, que Planck
apresentou um artigo à Sociedade Alemã de Física, no qual propunha uma solução
matemática ao problema da radiação do corpo negro baseada na interpolação dos
dados experimentais e as soluções válidas em determinadas regiões sem, a
princípio, nenhuma justificativa teórica consistente. Em sua autobiografia, Planck
revela:

Mas, Ainda que a formulação da radiação estivesse perfeita e


irrefutavelmente correta, teria sido, afinal de contas, apenas uma fórmula de
interpolação descoberta por um feliz acaso de raciocínio e isso nos teria
deixado relativamente satisfeitos. Em consequência, a partir do dia da
descoberta, dispus-me a dar-lhe interpretação física, o que me levou a
examinar as relações entre entropia e probabilidade, segundo os conceitos
de Boltzmann. Após algumas semanas do mais intenso trabalho que já
realizei na vida, as coisas começaram a clarear e visões inesperadas
revelaram-se a distância.

Os cálculos desenvolvidos por Planck são de uma complexidade que não


cabe neste texto, no entanto, podemos fazer uma leitura de sua ideia partindo da
função de distribuição de Boltzmann que se aplica ao caso da radiação do corpo
negro.
ε
e kT
P (ε ) = , (1.7)
kT

sendo P (ε ) a probabilidade de encontrar um dado ente (uma onda


estacionária) com uma energia ε , quando o número de estados de energia para o

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ente independe de ε . O valor médio das energias na cavidade é dado em função da


distribuição de Boltzmann (1.7 ) como sendo

∫ εP(ε )dε
ε= −∞

. (1.8)
∫ P(ε )dε
0

Se resolvermos essas integrais, sendo o denominador igual a um (dado que a


probabilidade de encontrar um estado com qualquer energia é um), recaímos sobre
o princípio de equipartição da energia: ε = kT , como mostra a figura 1.3.

Figura 1.3: Em cima temos o gráfico da distribuição de Boltzmann P (ε ) , e embaixo

o gráfico de εP (ε ) , cuja área sob a curva nos dá o valor de ε .

O salto qualitativo de Planck foi descobrir que poderia deslocar a posição do


valor médio de ε no gráfico da figura 1.3 se considerasse a energia como uma
variável discreta e não contínua como até então. Assim, definiu que a energia
assumiria valores discretos uniformemente distribuídos (espaçados) de tal forma que
os valores possíveis de energia pudessem ser

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ε = 0, ∆ε,2 ∆ε,3∆ε,... . (1.9)

Analisando esse efeito no cálculo da área sobre a curva de (1.3) (o próprio


ε ), quando o intervalo de energia ∆ε considerado for pequeno ( ∆ε << kT ), a energia

média encontrada será da ordem de kT ( ε ≈ kT ). Por outro lado, se o intervalo for

da ordem de kT ( ∆ε ≈ kT ), uma parte considerável de P (ε ) não irá contribuir, uma

vez que o primeiro intervalo é zero, e o valor médio será menor que kT ( ε < kT ).

Indo ao extremo, no limite em que o intervalo é muito grande ( ∆ε >> kT ), o valor

médio se aproxima de zero ( ε ≈ 0 ). Comparando esse comportamento com o que é


observado experimentalmente (ver figura 1.2) para o espectro de energia do corpo

negro, para baixas frequências temos que ε ≈ kT e para altas frequências ε ≈ 0 ,

Planck constatou então que precisava que ∆ε fosse uma função crescente com a
frequência. Dessa forma, Planck supôs que esse intervalo fosse diretamente

proporcional a frequência ∆ε ∝ ν ou como ele mesmo definiu

∆ε = hν . (1.10)

Para h = 6,6310 −34 joules, constante que foi definida com o ajuste da função
densidade de energia aos dados experimentais e é conhecida hoje como a
constante de Planck.

A fórmula de Planck para a energia média da radiação foi obtida substituindo


as integrais em (1.8) por somatórias e ε = nhν , temos
− nhν
∞ ∞
nhν
∑ ∑ nαe
kT
− nα
e
n =0 kT
ε= − nhν
= kT n =0

, (1.11)

∑ kT e
1 kT

n =0
e − nα

n =0

nh
α=
sendo kT . Para facilitar, a partir de agora vamos omitir os limites das
somatórias que serão sempre de zero a infinito. Planck percebeu que a relação
(1.11) também aparece no desenvolvimento de uma função logarítmica.

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d
d
−α (∑ e −nα )
∑ nαα − nα

−α (ln ∑ e −nα ) = dα = . (1.12)


dα ∑ e −nα ∑e − nα

Comparando as equações (1.12 ) e (1.11), podemos escrever a energia


média como sendo:

d d
ε = kT ( − α

(ln ∑ e −nα )) = − hν

(ln ∑ e −nα ) . (1.13)

Abrindo a somatória de (1.13) temos que


∑e − nα
= 1+ e + e + e + e −4 α + e −5α + ...
−α −2 α −3 α
, na qual podemos identificar uma
correspondência com a expansão do elemento (1 − x )−1 quando x << 1
(1 − x ) = 1+ x + x + x + ... para o caso de x = e − α . Assim, a equação (1.13) pode ser
−1 2 3

reescrita como:
d hν hν e − α hν
ε = − hν

(ln(1 - e -α ) -1 ) = -α -1
(1 - e )
(1 - e -α -2 −α
) e =
1- e -α
= hν . (1.14)
kT
e −1
O que é finalmente a equação de Planck para a energia média, muito
diferente da energia clássica kT. A densidade de energia da radiação do corpo
negro, definida da mesma forma que a equação (1.5) passa a ser
2
8πν hν
ρT (ν )dν = 3 dν . (1.15)
c hν
e kT − 1
A figura 1.4 mostra a concordância entre a previsão dada pela equação (1.5)
e os dados experimentais. Na figura, o gráfico é em função do comprimento de
c
λ=
onda, mas, como a relação entre a frequência e o comprimento de onda é νa
c
transição de uma descrição para outra é simplesmente ρ T ( λ ) = ρ T (ν ) .
λ2

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Figura 1.4: Comparação entre as diferentes propostas para a densidade de energia


do corpo negro em função do comprimento de onda.

Assim, o “truque matemático” de Planck se consagrou por finalmente resolver


o problema da descrição do espectro de radiação do corpo negro. Podemos voltar
às primeiras discussões qualitativas a respeito do comportamento do espectro. O
gráfico da figura 1.5 representa a radiação espectral de um corpo negro para três
valores de temperatura. A partir dessa figura, podemos observar que os picos (o
máximo da curva) de radiação emitida variam para as diferentes temperaturas de
forma linear, e quanto maior a temperatura, maior a frequência. A potência desta
radiação é dada pela área embaixo da curva, dessa forma, podemos observar em
1.5 que a potência cresce com a frequência, para uma temperatura fixa, e a potência
total irradiada pelo corpo negro cresce abruptamente com a temperatura. Esse foi o
resultado observado empiricamente por Stefan e calculado explicitamente por
Boltzman, dando origem a lei de Stefan-Boltzman, equação (1.2). Com a equação de
Planck foi possível calcular o valor da constante de Stefan:
σ = 5,67 × 10 −8 W / m 2 − 0 K 4 . O deslocamento do espectro que observamos em 1.5
é a visualização da lei do deslocamento de Wien equação (1.3).

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Figura 1. 5: A radiação espectral de um corpo negro em função do comprimento de


onda da radiação, para 3 valores de T.

1.4 O quantum de ação de Planck

Em artigos que sucederam a publicação de 19 de outubro, Planck buscou dar


interpretação física ao que chamou de um simples “truque matemático”. No ano
seguinte, então, Planck formulou sua teoria admitindo que a entropia do corpo negro
estivesse sempre em equilíbrio, apresentando a constante h como um “quantum de
ação”, pois h tem dimensão de ação, que é energia multiplicada pelo tempo,
baseado na ideia do princípio da mínima ação (ação tem o significado que
aprendemos na mecânica, princípio de Lagrange).

A contribuição de Planck, a lei de distribuição de energia de um corpo negro,


foi muito mais importante e transformadora do que o próprio Planck poderia supor. A
sua interpretação do comportamento do “ente” que oscila em uma energia que é
sempre múltiplo inteiro de hν pode ser estendida a todos os sistemas físicos com um
grau de liberdade que oscilam de forma harmônica no tempo (função do tipo seno),
como molas e pêndulos. Ao contrário da física clássica em que a distribuição de
energia é contínua e o sistema pode adquirir qualquer energia entre zero e infinito, o
novo postulado de Planck limitava esses sistemas a múltiplos inteiros de hν , criando

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o que chamamos de níveis de energia quantizados pelo número quântico n. É


importante ressaltar que Planck formulou que apenas a partícula oscilante era
quantizada.

Esse cenário abriu precedente para um novo campo de estudo, no qual De


Broglie buscou compreender o significado e o comportamento do quantum de ação
de Planck, Einstein passou a reformular a eletrodinâmica e a estatística segundo
essa nova visão do comportamento da radiação, o que culminou na formulação de
sua teoria corpuscular da luz, como veremos nos capítulos seguintes. Estava aberto
o caminho para a mudança do paradigma da física clássica para a mecânica
quântica. Avesso as interpretações que se desdobravam de sua teoria, Planck
tentou a todo custo “encaixar” a constante h na física clássica. Sem sucesso, Planck
ficou desolado com sua própria contribuição a ciência, ele não esperava que a sua
teoria pudesse contradizer qualquer parte da teoria clássica, como ele mesmo
escreveu em uma carta a R. W. Wood em 1931:

Em poucas palavras posso caracterizar todo o procedimento como um ato


de desespero, desde que, por natureza, eu sou sossegado e contrário a
aventuras duvidosas. Contudo, eu já tinha lutado por seis anos (desde
1894) com o problema do equilíbrio entre radiação e matéria sem ter
alcançado nenhum resultado positivo. Eu estava ciente que este problema
era de importância fundamental pra a física, e eu reconhecia a fórmula que
descrevia a distribuição de energia no espectro normal (corpo negro);
portanto, uma interpretação teórica tinha de ser fornecida a todo custo,
qualquer que fosse o preço, por mais alo que ele fosse.

O que, finalmente, convenceu Planck do significado mais profundo de sua


hipótese quântica foi a reformulação da terceira lei da termodinâmica e a introdução
do conceito estatístico da entropia. Planck foi agraciado com o prêmio Nobel, em
1918, como reconhecimento da sua contribuição para o desenvolvimento da
mecânica quântica.

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18

CAPÍTULO 2 - QUANTIZAÇÃO DA CARGA, ENERGIA

Neste capítulo vamos abordar os primeiros elementos experimentais e


teóricos que dialogando, primeiro a quantização da carga, em seguida da energia.
Esse segundo é consagrado com dois prêmios Nôbeis a Einstein, em 1921, e a
Milikam, em 1927. Nesses processos, é possível compreender os experimentos,
suas hipóteses, análise e consequente refutação da teoria clássica.

2.1- Quantização da carga elétrica

A primeira ideia de discretização da matéria surgiu na Grécia com Demócrito,


em 450 a.C.. Mas, foi a partir da hipótese de Avogadro, proposta em 1811, a de que
todos os gases a uma mesma temperatura possuem os mesmos números de
moléculas por unidade de volume, que possibilitou um avanço significativo na
descrição dos fenômenos químicos e impulsionou, no final do século XIX, a teoria
cinética dos gases. No início do século XX, portanto, já havia um consenso na
comunidade científica que a matéria era quantizada, ou seja, composta por
fragmentos menores como moléculas e átomos. Nesse sentido, não foi um grande
espanto, para os físicos do início do século XX, que a carga elétrica também fosse
quantizada, o que ocorreu após o experimento de Milikam, como veremos a seguir.

2.2 Descoberta do elétron

O primeiro a propor uma estimativa da ordem das cargas elétricas no interior


dos átomos foi Michael Faraday, que estudando a condução de eletricidade em
líquidos, em 1833, formulou a lei da eletrólise ou a lei de Faraday para a eletrólise.

F = Nae (2.1)

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19

Faraday chegou a essa expressão após perceber que ao passar uma corrente
contínua em soluções carregadas, elas se decompunham e depositavam-se nos
eletrodos. A quantidade de material depositado obedecia a relação de 1 átomo-g
para cada quantidade F de eletricidade (F = 96500 C), sendo 1 átomo-g a massa
que contém um número de átomos equivalente ao número de Avogadro N a .

Em 1874, Stoney fez a primeira estimativa do valor da carga elementar, a qual


denominou elétron, usando uma estimativa para o número de Avogadro, a partir da
teoria cinética dos gases, obteve e = 10−20 C . A primeira experiência de medida direta
da carga do elétron foi realizada por Townsend, em 1897, e foi aprimorada por
Milikam.

Paralelamente a essa linha de experimentação, Pieter Zeeman estudava a luz


emitida pelos átomos sobre o efeito de campos magnéticos usando um
espectroscópio. Os espectroscópios decompõem a luz emitida pelo material em
linha com frequência bem definida, as linhas espectrais (ver raio X seção 2.6), essa
técnica, como descreveremos adiante com mais detalhe, foi fundamental para
estudar as propriedades do átomo de hidrogênio e a subsequente teoria de Bohr
para o átomo.

A teoria clássica até então, atribuía à intensidade de radiação emitida pelo


átomo o movimento de oscilação, pelo qual as cargas no seu interior eram
submetidas. Portanto, segundo a teoria clássica, as linhas espectrais deveriam ser
modificadas na presença do campo magnético, uma vez que ele provocaria uma
mudança na oscilação inicial no átomo. Zeeman notou que a mesma linha se
transformava em três linhas com uma frequência muito próxima uma da outra e
espaçadas de um mesmo intervalo (esse fenômeno é explicado na teoria quântica e
conhecido como efeito Zeeman). A distância entre essas linhas está associada à
razão carga/massa (q/m) da partícula oscilante. Ao medir a distância entre as linhas
espectrais do átomo com a aplicação de um campo magnético, Zeeman obteve
q / m = 1,61011 C/Kg e estudando a polarização das linhas constatou que as partículas
emissoras de radiação possuíam carga negativa.

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2.3 Experimento de Milikan

Experimento famoso, pois a partir de um modelo simplificado, foi capaz de


medir a carga do elétron. Usando um aparato experimental que podemos reproduzir
em laboratório didático, como mostra a figura 2.1, Milikan borrifa gotas de óleo
dentro de um capacitor de placas paralelas. O método empregado neste burrifador é
tal que a gota de óleo ao sair dele adquiri carga elétrica. E, portanto, ao aplicarmos
um campo elétrico E sobre o capacitor, a bolha sofrerá efeito da força elétrica
( Fe = qn E ) no sentido contrário a ação da força gravitacional ( Fp = mg ), dado que a

bolha tem carga negativa. Além dessas duas forças, age sobre o corpo da bolha a
força de empuxo ( F = ρgvl ) que vamos desprezar e a força viscosa ( Fv = bv ),

devido ao atrito da bolha com o ar. Sendo b o coeficiente de viscosidade definido


pela lei de Stokes como sendo b = 6πηa para a o raio da gota e η o coeficiente de
viscosidade do fluido (ar). Dessa forma, ligando e desligando o campo elétrico no
capacitor temos duas equações de movimento para a bolha, são elas
respectivamente:

dv
mg − bvd = m , (2.2)
dt

dv
qn E − mg − bvs = m , (2.3)
dt
A partir dessas equações de movimento é possível calcular as respectivas
dv
velocidades terminais (quando = 0 ) de subida e decida da bolha:
dt

mg
vd = , (2.4)
b
(q n E − mg )
vs = . (2.5)
b
Combinando as equações (2.4) e (2.5) podemos eliminar b e obtemos uma
expressão para a carga da bolha

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mg
qn = (v s + vd ) (2.6)
Evd

No experimento de Milikan, as velocidades terminais de subida e decida eram


calculadas medindo o tempo que a bolha demorava a percorrer um mesmo espaço L
L
conhecido. Dessa forma, v s = e
Ts

L
vd = . Durante o processo de subida e decida, a gota “adquiri” mais carga
Td
elétrica, portanto, em medidas sucessivas das velocidades terminais, elas serão
diferentes, pois, como mostra a relação (2.5) ela depende da carga. O aumento da
carga da bolha pode ser calculado através da diferença entre os tempos de subida:

mg 1 1
q' n − qn = (v' s +v s ) = mg Td  ' −  (2.7)
Ev d E  Ts Ts 

E, foi usando a relação (2.7) para várias medidas de um mesma bolha


(Milikan chegou a ficar diversas horas calculando o tempo de decida e subida de
uma mesma bolha), que Milikan constatou que a diferença entre as cargas era
−19
sempre um múltiplo inteiro do valor e = 1,591 × 10 C . E, então, a carga era sempre
qn = ne
o demonstra novamente a quantização da carga elétrica. Com medidas
−19
mais precisas, o valor foi corrigido para e = 1,6021 × 10 C , o que Milikam atribuiu a

um erro no coeficiente de viscosidade η . Depois de corrigido, com os mesmos


dados do seu experimento de 20 anos
antes, Milikan conseguiu reproduzir o
mesmo valor e = 1,6021 × 10 −19 C para a
carga do elétron.

Figura 2.1: Aparato experimental similar ao


2
utilizado por Milikan

2
figura modificada de WWW.deltate.com.br.

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2.2- Propriedade corpuscular da Radiação

Nesta seção, vamos estudar processos nos quais ocorrem espalhamento,


absorção ou produção de radiação pela matéria, são eles: efeito fotoelétrico, efeito
Compton, produção e aniquilação de pares e bremsstralung. Nesses processos,
veremos que diferente do comportamento ondulatório, conhecido na propagação da
radiação, na interação com a matéria, ela se comporta como uma partícula.

2.4 Efeito fotoelétrico

O Efeito Fotoelétrico é a denominação usada para a emissão de elétrons


provocada por ação de radiação (luz), especialmente, a radiação ultravioleta. A
primeira observação desse fenômeno foi feita por Heinrich Hertz, em 1886 e 1887,
enquanto realizava as experiências que vieram a confirmar a existência de ondas
eletromagnéticas e, a teoria de Maxwell sobre a propagação da luz. Durante as
experiências, Hertz percebeu um curioso fato de que a luz ultravioleta facilitava a
descarga elétrica entre dois eletrodos; isto decorre do fato da luz ultravioleta
provocar a emissão de elétrons da superfície do catodo.

Em 1900, usando um aparo experimental descrito na figura 2.2, Lenard


comprova que a radiação faz o metal emitir elétrons. Nesse experimento, a luz
atinge o catodo C e provoca emissão de elétrons. O número de elétrons que atingem
o ânodo A é medido pela corrente no amperímetro sendo que o ânodo pode ficar
positivo ou negativo em relação ao catodo, a fim de atrair ou repelir elétrons.

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Figura .2.2 – Esquema do aparelho utilizado para investigar o efeito fotoelétrico.

Estudos detalhados do efeito fotoelétrico levaram a teoria ondulatória da


radiação eletromagnética a ser contestada, pois as características desse efeito não
podiam ser, satisfatoriamente, explicados pela teoria clássica.

O quadro abaixo mostra as características esperadas segundo a teoria


clássica e as observadas experimentalmente do fotoelétrico.

Teoria Clássica (Ondulatório) Efeito fotoelétrico

♦ Não existe limite para a energia ♦ Existe energia cinética máxima igual
cinética máxima dos elétrons; a eV0;
♦ Energia cinética dos elétrons ♦ Energia cinética independe da
dependeria da intensidade da luz intensidade da luz;
incidente;
♦ Ocorre instantaneamente, não
♦ Existiria um tempo de absorção de existe tempo mínimo para absorção
energia pelo elétron; de energia;
♦ Ocorreria independente da ♦ Depende da frequência de radiação
frequência da luz. incidente, pois existe frequência de
corte, onde abaixo dela não ocorre
o efeito fotoelétrico.

Segundo a teoria clássica, o aumento da intensidade da luz estaria ligado a


um consequente aumento da energia cinética do elétron emitido. No entanto, como

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mostra a figura 2.3, essa relação não foi observada no experimento de Lenard. A
figura 2.3 mostra a corrente (portanto, o número de elétrons detectados) em função
de V para dois valores da intensidade da luz incidente sobre o catodo. Quando V for
negativo, os elétrons são repelidos pelo ânodo e somente os elétrons que tenham as
energias cinéticas iniciais maiores que |eV| podem atingir o ânodo. Ainda, se V for
menor que –V0, nenhum elétrons consegue chegar ao ânodo. O potencial V0 é
chamado de potencial de corte.

Figura. 2.3: Corrente fotoelétrica i pela voltagem V, para dois valores da intensidade da luz.

Em 1905, Einstein usou o efeito fotoelétrico para generalizar a proposta de


Planck para radiação do corpo negro e propôs a nova teoria corpuscular da luz,
segundo a qual a energia radiante é uma composição de minúsculos pacotes de
energia, ou seja, é quantizada em pacotes concentrados chamados de fótons. O
trabalho de Einstein sobre o efeito fotoelétrico lhe rendeu o Prêmio Nobel, em 1921.

Segundo a teoria corpuscular da luz, o campo eletromagnético é composto de


fótons de energia E = hν . Elétrons presos na superfície do metal possuem uma
energia eφ , em que φ é a função trabalho do metal, associada a energia de ligação
do elétron no material. Se a luz que incide sobre o metal possuir uma frequência ν
tal que hν > eφ ,então, é possível arrancar fotoelétrons do metal. A energia
excedente é convertida em energia cinética do elétron. Desse modo, a equação
fotoelétrica é dada por:

1
hν = mv 2 + eφ . (2.8)
2

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Isolando-se a energia cinética do elétron na equação (2.8), nota-se que ela


depende linearmente da frequência da radiação incidente. Portanto, se fizermos um
gráfico da energia cinética do elétron em função da frequência, obteremos a sua

energia de ligação ( eφ ) como coeficiente linear e a constante de Planck (h) como


coeficiente angular. Quando o elétron é submetido, há um potencial de freiamento,
como mostramos na figura 2.4, podemos escrever a energia cinética do elétron mais
Ee = eV0
veloz como sendo , para V0 o potencial de corte, ou seja, aquele potencial

a partir do qual a corrente fotoelétrica cai a zero. Assim, podemos escrever a


equação energia da forma:

h
V0 = ν−φ . (2.9)
e

Em 1914, Millikan verificou, em uma experiência que lhe rendeu o Prêmio


Nobel, de 1923, que o potencial de corte não depende da intensidade da luz
incidente, e que ele está associado a uma frequência de corte, abaixo da qual o
efeito fotoelétrico deixa de ocorrer, como mostra a figura 2.4, provando a equação
(2.9). Milikam também calculou o valor da constante h a partir do mesmo
experimento e chegou ao mesmo valor obtido por Planck. A frequência (ou
comprimento de onde) de corte para que o efeito fotoelétrico seja observado, νt (ou

λt ), são obtidos fazendo o potencial de corte nulo ( v0 = 0 )

hc
φ = hνt = . (2.10)
λt

Figura.2.4: Dados obtidos por Millikan para o potencial freador V0, em função da frequência,
13
no efeito fotoelétrico, para νL=43,9.10 Hz.

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26

A teoria corpuscular de Einstein introduz a comunidade científica a


quantização da energia. Todo quantum de luz, o fóton, possui uma energia
proporcional a frequência de oscilação: E = hν . É preciso tomar cuidado com a
distinção entre a energia de um fóton e de um conjunto de fótons, que teriam uma
energia E = nhν sendo n o número de fótons. A teoria de Einstein deu um passo
muito importante na mudança do paradigma da teoria clássica para a teoria
quântica. No entanto, o reconhecimento da sua contribuição à mecânica quântica,
veio muitos anos após sua publicação. Planck, em discurso de indicação de
Einstein para membro da Academia Prussianas de Ciências diria o seguinte a
respeito da teoria corpuscular de Einstein:

(...) em resumo, podemos dizer que dificilmente haverá um grande


problema, dos quais a física moderna é tão rica, ao qual Einstein não tenha
dado uma importante contribuição. Que ele tenha algumas vezes errado o
alvo em suas especulações, como por exemplo em sua hipótese sobre os
quantum de luz (fótons), não pode ser realmente colocado contra ele, pois é
impossível introduzir ideias fundamentalmente novas, mesmo nas ciências
mais exatas, sem ocasionalmente correr um risco.

2.5 Efeito Compton

Em 1927, o Físico alemão Arthur H. Compton foi agraciado com o prêmio


Nobel devido a seus experimentos com raio X e γ , em 1923. Nesses experimentos,
ele observou o espalhamento elástico de fótons por elétrons livres, denominado
Efeito Compton, o qual constituía em mais uma evidência de que a luz interagia com
a matéria como uma partícula e não como uma onda, confirmando de forma
definitiva a teoria corpuscular de Einstein.

Em seu experimento, Compton fez incidir um feixe de raio X (será introduzido


na seção seguinte) sobre um alvo material, e mediu a intensidade dos raios X
espalhados em função do comprimento de onda para diferentes ângulos de
espalhamento. Os resultados obtidos por Compton, para o grafite como alvo, estão
dispostos na figura 2.5. A partir deles, Compton observou que, embora a radiação

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incidente tenha sempre o mesmo comprimento de onda, λ , os raios espalhados


possuem uma distribuição em um intervalo de comprimentos de onda, com dois
picos, o primeiro é de mesmo valor ao comprimento incidente e o segundo em λ' .
Esse deslocamento é definido como deslocamento Compton δλ = λ' − λ , e é diferente
para cada ângulo de espalhamento. A teoria clássica não podia explicar esse
comportamento, segundo ela os elétrons vibrariam na mesma frequência da
radiação incidente e irradiaria na mesma frequência. Compton, por sua vez,
apropriou-se da teoria corpuscular de Einstein para explicar o fenômeno observado.
E, então, cada quantum de luz do feixe de radiação incidente irá colidir
elasticamente com um elétron do material, como esquematizado na figura 2.5. A
analogia de Compton foi com o tratamento clássico dado a dois corpúsculos que
colidem, como duas bolas de bilhar

Figura 2.5: espalhamento elástico Compton de forma esquemática.

Dessa forma, supondo que o fóton incide no material com momento pν , se


choca com o elétron, que se encontra inicialmente em repouso, e este adquire
pe
momento e energia E e , resultando em um fóton de momento final p'ν .

Considerando uma colisão elástica, temos conservação de energia e momento


linear, portanto, com base no esquema da figura 2.5, é possível obter as equações:

pν = p'ν cosθ + pecosφE = hν (2.11)

p'ν sinθ = pe sinφ (2.12)

m0 c 2 + hν = hνν'+ e (2.13)

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28

sendo θ e φ os ângulos de espalhamento do fóton e do elétron,

respectivamente, m0 é a massa de re Patrícia Camargo Magalhães pouso de

elétron e Ee é a energia relativística, uma vez que os fótons sempre se

movimentam em velocidades relativísticas ( v ≈ c ), que pode ser obtida a partir da


Equação

Ee = (p c
2 2
+ m02 c 4 ) . (2.14)

A expressão para o momento linear do fóton é obtida igualando a equação da


energia relativística (2.14) à energia do fóton E = hν . Dado que a massa de repouso
do fóton é zero, seu momento linear é:

h
pν = . (2.15)
λ
Dessa forma, juntando as relações (2.11-2.15), podemos obter uma equação
para a energia do fóton remanescente em função do ângulo de espalhamento ( θ ):


hνν= , (2.16)

1+ (1 − cosθ )
m0c 2
esta equação é equivalente à obtida por Compton :

h
λ' − λ = (1 − cosθ ) . (2.17)
m0c
Assim, segundo a equação (2.16), ao colocarmos o detector de elétrons
fazendo um determinado ângulo θ com o eixo de incidência do fóton, obteríamos
um pico de contagens numa determinada energia hνν .
137
Um espectro típico do Cs, obtido por um detector de cristal cintilador pode
ser visto na figura 2.6. O pico com energia máxima, correspondente a energia dos
fótons incidentes e é causado pelo efeito fotoelétrico que ocorre no detector, quando
toda a energia do fóton é transmitida ao elétron (fotopico).

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29

Figura 2.6: Gráfico do número de contagens por energia do fóton, obtido para uma fonte de
137
Cs.

Na figura 2.6, o pico com energia máxima, corresponde à energia dos fótons
incidentes ( hν ), é causado pelo efeito fotoelétrico que ocorre no detector, quando
toda a energia do fóton é transmitida ao elétron. A queda do número de contagens é
a chamada borda Compton, correspondente à energia máxima na qual o elétron
pode ser espalhado. Neste caso θ ≈ 180o e φ ≈ 0o . Para energias mais baixas temos
um contínuo, pois, em função dos ângulos de espalhamento, podemos obter todas
essas energias. O pico menor que se sobrepõe a este contínuo, é causado pelo
efeito Compton que ocorre fora do detector (pico de retroespalhamento). Superposto
ao espectro de espalhamento temos uma radiação de fundo, que é inevitável, mas
pode ser medida e posteriormente subtraída do espectro.

Até agora, vimos que a luz pode interagir com a matéria de duas formas
distintas: fotoelétrico e Compton, dependendo da energia do fóton incidente e do
material. Mas, existe também uma terceira forma: a produção de pares. A Produção
de Pares são predominantes em raios γ de altíssimas energias com absorvedores de
grandes números atômicos, ocorrem quando o fóton tem energia suficiente para se
desintegrar em um par elétron-pósitron.

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30

Figura 2.7: Regiões em que predominam as 3 formas possíveis de interação da


radiação γ com a matéria. Em função da energia e do número atômico Z do material.

A análise de Compton expõem um cenário no estudo da interação da


radiação com a matéria, no qual é necessário supor que o fóton seja uma partícula
pontual, quantizada. No entanto, a interpretação ondulatória da radiação ainda é
necessária para explicar os fenômenos de interferência e difração. A constatação do
comportamento dual partícula-onda da radiação, causou muito estranhamento na
comunidade científica da época. Até ser formulada formalmente por De Broglie como
uma característica de todas as partículas quânticas.

2.6 Raio X

Após a descoberta dos raios X, quase que acidentalmente por Wilhelm


Konrad Röentgen, em 1985, despertou imediatamente o interesse de outros
cientistas por essa radiação. As duas seções que antecederam esta foram
consequência dessa descoberta.

Esses raios, inicialmente considerados misteriosos3 por Röentgen e por isso a


denominação do nome de Raios X, trouxe grandes aplicações em várias áreas. Os

3 Detalhes desta história podem ser consultada nas referências [2] e [3].

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31

raios X são utilizados, na área médica, em radiografias de ossos e outros órgãos,


devido ao seu alto poder penetrante. São utilizados também em tratamentos de
câncer, por radioterapia. São usados na detecção de falhas estruturais em materiais
como aço, concreto, entre outros. Atualmente, todas as propriedades do Raio X, que
são muitas, são compreendidas. O Raio X é uma radiação eletromagnética de
comprimento de onda entre ~10-1m e ~10-7m. É uma radiação muito penetrante,
pouco ionizante e que pode atravessar, sem absorção apreciável, meios materiais
com espessura bastante grande. Não difere essencialmente de um raio gama,
distinguindo-se os dois tipos de radiação, na maioria dos casos, pela respectiva
origem.

Em seguida, vamos discutir algumas das características fundamentais dos


Raios X.

i) Emissão de raios X

Raios X podem ser produzidos quando elétrons são acelerados em direção a


um alvo metálico. O choque do feixe elétrons (que sai do catodo com energia da
ordem de 30 000 eV) com o ânodo (alvo) produz dois tipos de raios X. Um deles
constitui o espectro contínuo, ou bremsstrahlung em alemão, e resulta da
desaceleração do elétron durante a penetração no ânodo. O outro tipo é o raio X
característico do material do ânodo. Assim, cada espectro de raios X é a
superposição de um espectro contínuo e de uma série de linhas espectrais
características do ânodo, conforme ilustrado na figura 2.8.

Figura 2.8: espectro de emissão de raios X

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32

A radiação bremsstrahlung tem origem em uma partícula carregada em alta


velocidade se aproximando do núcleo de um átomo, sendo desacelerada neste
processo e tendo sua trajetória desviada. A diferença de energia entre o estado final
e inicial da partícula é liberada na forma de raios X a uma taxa R dada por:

1 2 q2a 2
R= (2.18)
4πε 0 3 c 3

onde q é a carga da partícula, a é a aceleração da mesma e c é a velocidade


da luz. A emissão de energia pela carga é máxima na direção perpendicular e nula
na direção do vetor aceleração. A energia do raio X emitido é dada por:

hc
E RX = Ei − E f = (2.19)
λ

onde Ei e Ef são, respectivamente, as energias cinéticas inicial e final da


partícula e λ é o comprimento de onda do raio X emitido. Como se pode observar a
partir da equação (2.18), a energia do raio X emitido por assumir uma série contínua
de valores, desde zero (sem colisão nem emissão) até Ei (partícula totalmente
freada). Assim, o espectro de emissão devido à radiação bremsstrahlung é contínuo,
com um valor mínimo para o comprimento de onda emitido (hc/Ei).

O raio X característico é produzido por um mecanismo quântico4 dado pela


interação de elétrons incidentes com elétrons das camadas internas dos átomos que
constituem o material do ânodo tubo. Se a energia cinética do elétron incidente for
maior que a energia de ionização da camada na qual se encontra o outro elétron, o
incidente transfere energia para o elétron do átomo e este é arremessado para fora,
deixando um espaço vazio na camada em que se encontrava. Em seguida, um
elétron pertencente a uma camada superior decai para ocupar o espaço deixado
pelo elétron arremessado. Como as camadas interiores possuem menor energia, ao
decair o elétron emite um fóton de raio X com energia equivalente à diferença de
energia entre as camadas inicial e final desse elétron. Sendo os níveis de energia de

4 Essa característica já preestabelece o modelo atómico de Bohr, para detalhes leia o


capítulo 3.

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33

um átomo quantizados5 as energias dos fótons emitidos também são, formando


assim um espectro de linhas (discreto). As linhas são denominadas da forma Yζ em

que Y significa a camada onde ocorre a ionização e ξ corresponde ao número de


camadas saltadas pelo elétron que decai (α=1, β=2, γ=3,..). Como os níveis de
energia de cada linha dependem do número atômico Z do elemento e são tabeladas,
é possível identificar os elementos químicos presentes no objeto bombardeado
através da análise do espectro de raios X.

ii) Difração de Raio X

A incidência de raios X em um material, com uma determinada estrutura


cristalina, produz interferências coerentes que geram, nos raios transmitidos, picos
de intensidade. A existência e localização desses picos dependem, em essência, da
geometria do material que é atravessado pelo feixe. Picos são devidos a diferenças
de caminho óptico iguais a números inteiros de comprimento de onda da radiação
incidente. Numa estrutura que tem planos cristalinos bem definidos, essa condição
é satisfeita para todo ângulo tal que:

θi= θr = θ
, (2.20)

2d ⋅ senθ = nλ , (2.21)

em que λ é o comprimento de onda da radiação incidente, θ i e θ r os

ângulos de incidência e de reflexão respectivamente, n é a ordem de reflexão e d o


espaçamento interplanar (figura 2.9). A equação (2.21) é conhecida como Lei de
Bragg. O máximo de difração ocorre para n =1 e a energia do feixe incidente que
satisfaz a Lei de Bragg é dada por:

hc
E= . (2.22)
2dsenθ

5 A quantização dos níveis de energia , condição fundamental para explicar o espectro


característico dos átomos, será abordado do capítulo 3.

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Figura 2.9: esq. estrutura de cristais de NaCl, na qual d é a distância interplanar; dir.
esquema do espalhamento em planos cristalográficos de espaçamento d.

iii) Fluorescência

A fluorescência é o fenômeno no qual um átomo emite um fóton após ter sido


ionizado por um bombardeamento de raios-X. Outros fenômenos como a emissão
de elétrons também podem ocorrer nesse processo, no entanto, não serão
detalhados.

Ao bombardear os átomos com fótons muito energéticos, os elétrons das


camadas mais internas são arrancados, resultando em um íon positivo, uma
vacância, esse é o efeito fotoelétrico, como já descrevemos anteriormente. A
vacância ocorre, geralmente, na camada K (correspondente ao número quântico
n=0), assim, os elétrons das camadas mais externas começam a decair para essas
vacâncias e o excesso de energia é liberado pelo átomo em forma de fótons de raio
X de segunda ordem. A energia desses fótons é necessariamente menor do que a
dos fótons incidentes. A probabilidade do decaimento por emissão de raios X é
determinada pelo rendimento da fluorescência, que está associado ao número

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atômico do elemento bombardeado e à camada onde ocorre à vacância. Nesta


experiência foram bombardeados átomos cujo número atômico varia de Z = 23 até
30, portanto as linhas K α e K β dominam o espectro de fluorescência, como pode

ser visto na figura 2.10.

Figura 2.10: Rendimento de fluorescência

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36

CAPÍTULO 3: PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DA


MATÉRIA

3.1 Postulado de De Broglie

A partir da contribuição de Planck, foi constatado que a radiação, ondas


eletromagnéticas eram quantizadas. Em seguida, com a teoria corpuscular, Einstein
propôs que a radiação se comportava como uma partícula, como no efeito
fotoelétrico em que um fóton colide elasticamente com o elétron como se fossem
bolas de bilhar. Instigado pela na ideia da dualidade onda partícula constatada na
energia eletromagnética, Louis De Broglie propôs, em 1924, na sua tese de
doutorando, em Paris, que a dualidade onda partícula é um comportamento
extensível a toda matéria presente na natureza e não só a energia eletromagnética.
Assim, todos os corpúsculos ou partículas poderiam se comportar como onda e
todas as ondas conhecidas, como o som, poderiam se comportar como partículas.
Como o próprio De Broglie apresenta em seu livro:

Depois da primeira guerra mundial, pensei muito a respeito da teoria dos


quantum e do dualismo onda partícula (...) Foi então que tive uma súbita
inspiração. O dualismo onda partícula de Einstein era um fenômeno
absolutamente geral, que se estendia a toda a natureza.

Foi Einstein o primeiro a reconhecer a genialidade da proposta de De Broglie


e a chamar atenção de outros cientistas para ela, no entanto, a falta de evidências
experimentais descreditaram a importância da sua proposta. Cinco anos mais tarde,
De Broglie ganhou o Prêmio Nobel em física, pois suas previsões foram confirmadas
com muita precisão por diversas experiências.

A ideia apresentada por De Broglie foi de que a matéria, assim como a


radiação, possui uma energia total E dada em função da frequência ν da onda que
descreve seu movimento,

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E = hν . (3.1)

O momento do sistema p é dado em função do comprimento de onda λ , da


onda que descreve o movimento como:

h
p= . (3.2)
λ

Com a equação (3.2), De Broglie conseguia calcular o comprimento de onda


de um corpo material se movendo com um momento conhecido p , o que passou a
ser chamado de comprimento de onda de De Broglie : λ = h / p . Assim, por exemplo,
é possível calcular o comprimento de onda de De Broglie para um bola de tênis com
uma velocidade de 30 m/s. Supondo a massa da bola 0,1Kg, temos:

h h 6,6 × 10 −34 J.s


λ= = = = 2,210 −34 m = 2,210 −24 Å ,
p mv 0,1 × 30 Kg.m / s
o que é um comprimento de onda muito pequeno. Essa característica explica
a dificuldade de observar esse fenômeno por meio de experimentos óticos, pois
segundo a ótica geométrica, os efeitos ondulatórios podem ser observados no limite
em que λ / a ≈ 1 , sendo a o tamanho da fenda ou lente ótica. Nessa situação, o
ângulo de difração é dado por senθ ≈ θ ≈ λ / a e os efeitos ondulatórios da luz ou de
qualquer objeto material se tornam evidentes. Dessa forma, no caso da bola de
tênis, para que a razão λ / a atenda o requisito de ser mensurável do ponto de vista
da ótica geométrica temos que a ≈ 2,2 × 10 −24 Å o que é impossível do pondo de vista
operacional. Mas, para massas centenas de vezes menor, a relação se inverte e os
comprimentos de onda aumentam. A ferramenta experimental de menor espessura
utilizada por De Broglie para estudar o comportamento ondulatório da matéria foi a
distância interplanar de átomos em um metal, nesse caso a ≈ 1 Å. Usando um
aparelho com dimensão característica de a = 1 Å, foi possível observar aspectos
ondulatórios do elétron, obtendo um comprimento de onda de De Broglie em
λ = 1,2 Å.

Em 1926, Elsasser mostrou que a natureza ondulatória da luz poderia ser


observada de maneira análoga ao raio X, fazendo incidir um feixe de elétrons em
sólidos cristalinos que difratam os elétrons e criando picos de espalhamento em

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ângulos bem definidos, da mesma maneira que vimos na difração de raio X no


capítulo 2. Essa hipótese foi confirmada experimentalmente por Davisson e Germer
e depois por G. P. Thomson6 usando um arranjo experimental totalmente diferente,
no qual o elétron é acelerado por uma diferença de potencial V e emerge em um
monocristal de níquel com uma energia eV. O detector mede a intensidade do
espalhamento para vários ângulos θ. Na análise experimental, foi identificado um
máximo de corrente para θ = 50o a uma tensão de 54 V, como mostra a figura 3.1.

Figura 3.1: Corrente eletrônica em função do ângulo do detector para uma energia
cinética fixa em 54 eV.

A existência do pico mostrado na figura 3.1 mostra que o postulado de De


Broglie estava correto, uma vez que essa estrutura de máximos só pode ser
explicada como uma interferência construtiva de ondas eletrônicas espalhadas. O
fenômeno descrito acima é exatamente análogo a reflexão de Bragg no
espalhamento de raios X. Dessa forma, usando a lei de Bragg7 ( nλ = 2dsenφ ), é
possível calcular o comprimento da onda espalhada, o que foi feito para o
experimento descrito acima, com d e φ definidos na figura 3.1. O cálculo explícito do
comprimento da onda do elétron pela lei de Bragg é exatamente idêntico ao valor
encontrado, usando-se o postulado de De Broglie, o que confirma, agora de maneira
quantitativa o postulado de De Broglie.

6 O filho de J. J. Thomson que descobriu o elétron.


7 A lei de Bragg foi apresentada no estudo dos raios X na seção 2.6.

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Utilizando um arranjo experimental diferente, em 1927, Thomson mostrou


detalhadamente o postulado de De Broglie fazendo um feixe de elétrons altamente
energizados incidir sobre filmes finos e observando e analisando as figuras de
difração dos elétrons. Em 1937, Thomson ganharia o Prêmio Nobel, conjuntamente
com Davisson, por obterem experimentalmente a difração do elétron.

O experimento, canônico que demonstra visualmente a dualidade onda


partícula é o chamado experimento das duas fendas. Nesse experimento, como
mostra a figura 3.2, se faz incidir um feixe de elétrons sob uma superfície com duas
fendas. O que se observa é uma figura de interferência entre duas ondas, o que
evidencia o caráter ondulatório do elétron.

Figura 3.2: Imagem da interferência de elétrons na experiência das duas fendas8.

A partir de então, estava estabelecida a dualidade partícula onda que se


estende para toda a matéria e a radiação. É importante perceber, no entanto, que
essa dualidade nunca se expressa simultaneamente, ou o ente é partícula ou é
onda, tudo depende da forma como ele é observado. Do ponto de vista da ótica
física, toda matéria é onda. A constante de Planck regula a relação de De Broglie,
sendo ela muito pequena quando comparável a elementos macroscópicos, define
que o comprimento de onda desses corpos deve ser muito pequeno (como vimos na

8
Figura modificada de M. Le Bellac, “Quantum Physics”, Cambridge University Press,
2006.

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caso da bola de tênis) e por isso não podem ser observados. No capítulo anterior,
vimos que a interação da radiação com a matéria se dá de forma corpuscular e não
ondulatória, e então, podemos perceber que mesmo para partículas microscópicas a
interação se dá preferencialmente na forma de partículas. Assim, também podemos
notar outra leitura do princípio da dualidade, quando está interagindo em uma
localização espacial ele o faz como partícula, e quando ele está se movendo, age
como onda, se propaga pelo espaço e, portanto, não é localizável em pontos
definidos.

A física clássica não possuía explicação para esse comportamento dual,


ainda pairava no ar alguma explicação teórica contundente que unificasse as duas
descrições, ondulatória e corpuscular, que apresentava a matéria e a radiação.

3.2 Princípio da Complementaridade de Bohr

Neste contexto de transição de paradigmas (da física clássica para a física


quântica), Niels Bohr apresentou o que ele mesmo definiu como sendo um princípio,
no qual os modelos corpusculares e ondulatórios devem ser complementares. Para
Bohr, a medida de um anularia a possibilidade da medida do outro, no entanto,
segundo ele, isso não deveria ser entendido como se a radiação, ou a matéria,
fossem apenas onda ou apenas partícula. Bohr clamava por um modelo mais geral
que unificasse as duas descrições ondulatória e corpuscular. É uma interpretação
probabilística da “função que descreve a trajetória” que unifica os modelos. Mas
como poderia ser esse modelo? A resposta a essa questão viria muitos anos após
as indagações e problematizações de Bohr, que teve um papel fundamental na
concepção e definição da estrutura atômica, como veremos no próximo capítulo, na
construção da velha e nova mecânica quântica. Suas discussões com Heisenberg
ficaram famosas e estão em livros de literatura9 e peças de Teatro10. Muitos outros
físicos importantes como Pauli, Dirac fizeram parte da chamada convenção de

9 W. Heisenberg, A parte e o todo, contraponto, 1996.


10 Copenhagen, peça de Michael Frayn

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41

Copenhagen, que foi responsável por grandes avanços na definição do novo


paradigma da mecânica quântica.

A resposta ao questionamento de Bohr viria após o estabelecimento


da mecânica quântica de Schrödinger, em um modelo apresentado por Max Born.
Born se espelhou na resposta que Einstein deu quando tentou responder a mesma
questão no caso da radiação.

Na teoria corpuscular de Einstein (capítulo 2) a intensidade da radiação é


dada por I = Nh ν , (3.4)

em que N é o número médio de fótons por unidade de tempo que atravessam


uma área perpendicular a direção de propagação dos fótons. O que introduz um
caráter probabilístico, similar a teoria cinética dos gases de Maxwell. Na teoria
clássica a intensidade da onda eletromagnética é dada em função do valor médio do

vetor de Poynting: ε 2 . Einstein propôs que ε 2 poderia ser interpretado como uma
medida do número médio de fótons por unidade de volume na descrição ondulatória,
igualando a expressão ondulatória e corpuscular, tem-se:

1 2
I= ε = Nh ν . (3.5)
µ0 c

O que fica claro de (3.5) é que uma vez que ε 2 é proporcional a N, representa
uma medida probabilística da densidade de fótons.

Baseado no que fez Einstein para a radiação, Max Born, por volta de 1930,
propôs uma unificação para a dualidade partícula onda na matéria. Para tal, é
importante introduzir um objeto crucial, a descrição dos fenômenos quânticos, uma
função que representa a função de onda de De Broglie, é a função de onda ψ . Essa
função é sempre uma função do espaço, do tempo e da frequência de oscilação da
onda ν . Em analogia a onda eletromagnética ela pode possuir a mesma estrutura
senoidal

x 
ψ ( x,t ) = Asen2π  − νt  . (3.6)
λ 

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O que é idêntico ao campo elétrico ( ε ) de uma onda eletromagnética

unidimensional (como vimos no exemplo do capítulo 2). Nesse caso o ψ tem o


2

mesmo papel que ε 2 , será uma medida da probabilidade de encontrar uma partícula
por unidade de volume em um dado ponto do espaço-tempo (x,t) . Born ganharia o
Prêmio Nobel de física, em 1954, por essa interpretação probabilística da função de
onda. Dessa forma, ψ obedece a todas as características de uma onda, então deve
sempre satisfazer a equação geral de uma onda que é dada pela equação
diferencial

∂ 2ψ 1 ∂ 2ψ
= , (3.7)
∂x 2 ν 2 ∂t 2

e o princípio da sobreposição é sempre válido: ψ1 + ψ 2 = ψ , o que está de


acordo com as experiências em que se observaram figuras de interferência
construtivas e destrutivas no espalhamento de elétrons (por exemplo), um fato
impossível de ser compreendido pela física clássica.

É muito importante ressaltar que a probabilidade, a ferramenta essencial


utilizada por Einstein e Born, introduz uma não localidade da partícula, ela tem
sempre uma probabilidade associada a sua posição no espaço-tempo, não é
portanto, uma equação determinística. Até agora a probabilidade apareceu como
uma consequência ou até mesmo um artifício para unificar as descrições
corpuscular e ondulatória da radiação e da matéria, mas, em 1927, Bohr e
Heisenberg demonstram a função essencial que a probabilidade possui nessa união.

Antes disso, porém, vamos discutir de que maneira a dualidade partícula onda
se manifesta na função de onda ψ ( x, t ) . A ideia é que da mesma forma como o
campo eletromagnético ( ε ) representa a energia da radiação e é uma onda
associada a um fóton, a função de onda ψ ( x, t ) está associada a uma partícula
material. Assim, se pensarmos na velocidade de ambas as parte, a velocidade de
propagação da onda deve ser igual a velocidade (deslocamento cinético) da
partícula. A velocidade de propagação de uma onda ( v p ), segundo a teoria canônica

de ondulatória é dada por:

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v p = λν . (3.8)

Usando as expressões de De Broglie (3.1) e (3.2), podemos escrever (3.8)


como:

hE E
v p = λν = = , (3.9)
ph p

na qual sabemos definir a energia E e o momento p do ponto de vista da


partícula. Supondo que essa partícula só esteja sujeita a sua própria energia
mv 2 p= m v
cinética, sem ação de outros campos e forças, temos que E = e e a
2
equação (3.9) fica:

E  mv 2  v
v p = =  (mv ) = . (3.10)
p  2  2

Analisando o que diz a equação (3.10), a velocidade da onda seria metade da


velocidade da partícula, o que vai de encontro ao que afirmamos acima. Mas, ao
contrário do que possa parecer, isso não é uma contradição, apenas elucida a
estrutura que a função de onda deve ter. Na realidade, a função de onda ψ ( x, t ) não
é composta apenas por uma onda, mas sim por várias ondas com diferentes
frequências, que se somam construtivamente em uma região finita do espaço, para
um dado t, em torno da partícula e se somam destrutivamente no resto do espaço
(essa configuração muda com o tempo, o que representa a propagação da partícula
pelo espaço) como ilustra a figura 3.3. O pacote formado por todas essas ondas
compõem ψ ( x, t ) que, como um grupo, se move na mesma velocidade que a
partícula.

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Figura 3.3: Pacotes de onda, (a) o pacote é finito para representar a partícula e (b) é
localizado no espaço com diferentes compressões11.

A velocidade de grupo de várias ondas juntas é dada, segundo a teoria



ondulatória clássica, por V g = , em que dν = dE / h , k ≡ 1 / λ = p / h e dk = dp / h . O
dk
que define a velocidade de grupo como:

dE mvdv
Vg = = =v. (3.11)
dp mdv

E, portanto, provamos que a velocidade do pacote de ondas ψ ( x, t ) é igual a


velocidade da partícula cujo o movimento ela descreve.

3.3 Princípio da Incerteza de Heisenberg

Na mecânica clássica dada a condição inicial de um sistema, podemos evoluí-


lo no tempo e o movimento futuro fica determinado de forma exata, o que chamamos
de determinismo da física clássica. Mas, o mesmo fenômeno não acontece na
mecânica quântica. O princípio da incerteza de Heisenberg é enunciado de tal forma

11
Figuras modificadas de (a) A.C. Phillips, “ Introduction to Quantum Mechanics”, John
Wiley&Sons Inc., 2003 e (b) S. Ivanov, “Theoretical and Quantum Mechanics-Fundamentals for
Chemists”, Springer, 2006.

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a evidenciar esse fenômeno, segundo ele, quando fazemos uma medida sobre um
objeto e você consegue determinar a componente x do momento ( px ) com uma

incerteza ∆p , você não pode, ao mesmo tempo, saber a posição x com mais
h/2
precisão do que ∆x = , em que h = h / 2 π . Como decorrência, o produto das
∆p
incertezas tem que ser maior do que h / 2 e portanto o princípio da incerteza é dado
por:

h
∆x∆p ≥ . (3.12)
2

O princípio da incerteza fala sobre o produto das incertezas em uma medida


simultânea de x e p e não sobre cada uma delas. Portanto, segundo ele, se você
medir um deles com uma precisão infinita, ou seja, determinar a posição (ou o
momento) de um evento, a incerteza associada ao momento (ou a posição) tem que
ser infinita ( ∆x = 0; ∆p = ∞ ) para satisfazer (3.12). Uma ideia mais geral por detrás
desse princípio é que não é possível fazer uma experiência, o das duas fendas, por
exemplo, em que consiga determinar qual das alternativas (no exemplo, as fendas)
foi escolhida pela partícula sem que com isso destrua o experimento (no exemplo, a
figura de interferência). Em uma experiência mental, Heisenberg estabelece que um
gato seja posto vivo no interior de uma caixa que é posteriormente vedada. Supondo
também que a alimentação ocorre de maneira em que não se abra a caixa, a única
forma de descobrir se o gato esta vivo ou morto depois de um tempo é abrindo a
caixa, mas, dessa maneira, o experimento seria destruído. Dessa forma, Heisenberg
tomou como impossível definir com precisão infinita as duas variáveis e afirmou
explicitamente que caso isso fosse em algum momento possível, a mecânica
quântica iria colapsar. Diversos experimentalistas trabalharam para mostrar que
Heisenberg estava errado, mas nunca lograram e a mecânica quântica continua
válida até hoje.

Existe uma segunda formulação do princípio da incerteza, que não foi


formulada inicialmente por Heisenberg, mas é costumeiramente apresentada como
tal. Ela diz respeito à medida da energia E de um sistema e o intervalo de tempo em

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que ocorre a emissão de tal energia, ou de outra maneira, o tempo em que ocorre a
própria medida. E, então,

h
∆E∆t ≥ , (3.13)
2

em que ∆E é a incerteza na definição da energia e ∆t o intervalo de tempo no


qual o sistema muda.

O princípio da incerteza não define a mecânica quântica, podemos descrever


sistemas e calcular observáveis sem usá-lo. Mas, ele é interessante, pois evidencia
uma qualidade fundamental na mecânica quântica, a de que os fenômenos não
podem ser descritos de forma determinista e sim por meio de grandezas
probabilísticas.

Se por um lado a interpretação probabilística foi o grande salto da mecânica


quântica moderna, em oposição a velha mecânica quântica que veremos no capítulo
seguinte, ela não foi bem aceita logo de início. Einstein, por exemplo, foi um crítico
ferrenho a ideia de que a posição da partícula poderia ser apenas definida de
maneira probabilística. Em uma frase famosa, em ocasião de uma carta que enviou
a Max Born, Einstein disse: “Deus não joga dados com o universo”, ele acreditava
que a natureza era única e, isso, segundo ele, ia de encontro a uma descrição
probabilística. No entanto, anos mais tarde, Einstein acabou por se convencer após
o comprovado sucesso e imenso potencial que a teoria quântica demonstrou ao
prever e explicar diversos fenômenos físicos.

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47

CAPÍTULO 4: O MODELO DO ÁTOMO

Voltando um pouco para o final do século XIX, o espectro de emissão atômico


era observado experimentalmente, mas não havia um modelo de átomo que
pudesse justificar tal comportamento. Assim, como vimos no desenvolvimento do
raio X, no capítulo 2, o final do século XIX foi muito frutífero do ponto de visa de
experiências para entender o comportamento da matéria, das estruturas físicas para
além do que os olhos podiam enxergar, novas teorias estavam surgindo e ao final,
no início do século XX foi consolidado o que chamamos de antiga mecânica
quântica composta pelas teorias de Einstein e Planck. A nova mecânica quântica
viria só depois com a contribuição de Bohr e Heisenberg. Neste capítulo vamos
analisar essa transição e entender o modelo de Bohr para o átomo da forma como o
concebemos hoje.

4.1 Espectro atômico

A espectroscopia é, até hoje, uma técnica muito importante na física para


estudar a composição de elementos químicos de substâncias e compostos. O
espectro de emissão dos elementos e compostos químicos é dividido em três
categorias: contínuo, em bandas e em linhas. O primeiro ocorre na emissão de
radiação de sólidos incandescente, já o segundo, é formado por vários grupos de
linhas muito próximas que se assemelham a bandas contínuas, quando vistas em
espectroscópio de baixa resolução, a ocorrência desse tipo de espectro é observada
quando pequenos sólidos são submetidos a chamas ou descargas elétricas. E, por
fim, o espectro de linhas são características da radiação emitida por átomos
isolados. Tanto o espectro de bandas, como o de linhas, não possuiam explicação
na física clássica, até o início do século XX, foi a partir das teorias de Planck e
Einstein, na qual a energia da radiação era quantizada, que o espectro de linhas na
emissão de radiação passou a fazer algum sentido, embora a justificativa da razão
de cada uma delas só tenha sido entendida após o modelo atômico de Bohr .

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48

Ao final do século XIX, com o desenvolvimento de espectroscópios eficientes,


era possível medir com bastante precisão os comprimentos de onda de cada linha
do espectro. Buscando uma justificativa teórica, os cientistas passaram a buscar e
interpretar regularidades no espectro. Foi então que, em 1885, Balmer propôs uma
fórmula empírica capaz de prever as nove primeiras linhas do espectro do
hidrogênio, que ficou conhecida como a série de Balmer

n2
λ = 3646 2 Å. (4.1)
n −4

Em que n é um número inteiro associado a cada linha do espectro e n=3 para


Hα e assim por diante, como mostra a figura 4.1. Balmer foi seguido por muitos
outros cientistas que identificaram diferentes séries, também para o hidrogênio, em
diferentes regiões de comprimento de onda, como mostra a tabela 4.1.

Figura 4.1: Linhas espectrais do hidrogênio12.

Rydberg, em 1890, estudou a fundo as séries do Hidrogênio e propôs que os


comprimentos de onda de cada série fossem escritos em função do comprimento de
1
onda recíproco k = λ e a série de Balmer, segundo Rydberg passaria a ser:

 1 1 
k = RH  2 − 2  Å − 1 n = 3,4,... (4.2)
2 n 

12
Figura modificada de S. Ivanov, “Theoretical and Quantum Mechanics-Fundamentals for
Chemists”, Springer, 2006.

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Para RH = 1,096776 × 107 m −1 , a constante de Rydberg para o hidrogênio.

Buscando uma fórmula geral que unificasse todas as séries, Rydberg e,


independentemente, Ritz, propuseram a expressão geral que vale para todos os
elementos, conhecida como a fórmula de Rydberg-Ritz:

 1 1
k = R 2 − 2  , n>m . (4.3)
m n 

Sendo a constante de Rydberg ligeiramente diferente para cada elemento


(variação máxima é 0,05%).

Nomes Faixas de λ Fórmula da


série

Lyman Ultravioleta 1 1 n=2,3,4...


k = RH  2 − 2
1 n

Balmer Ultravioleta e  1 1 n=3,4,5,...


k = RH  2 − 2
visível 2 n

Paschen Infravermelh 1 1 n=4,5,6,...


k = RH  2 − 2
o 3 n

Brackett Infravermelh  1 1 n=5,6,7,...


k = RH  2 − 2
o 4 n

Pfund Infravermelh 1 1 n=6,7,8,...


k = RH  2 − 2
o 5 n

Tabela 4.1: As várias séries obtidas a partir da análise das linhas espectrais
do hidrogênio.

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4.2 O pudim de Thomson

O avanço da espectroscopia não era correspondido, em contra partida, a um


modelo de estrutura do átomo que pudesse descrever os fenômenos observados
experimentalmente. O modelo vigente, a partir de 1910, era o pudim de Thomson,
figura 4.2, em que elétrons eram uniformemente distribuídos em uma esfera
carregada positivamente de forma a manter o átomo neutro. Thomson buscava, a
partir do seu modelo, configurações estáveis cujos modos normais de vibração
correspondessem às frequências observadas na emissão. Um grande problema que
esse modelo apresentava, além de não encontrar nenhuma configuração que
descrevesse as linhas espectrais observadas, é que a força eletrostática não é
suficiente para manter um sistema em equilíbrio e, portanto, as cargas deveriam
estar em movimento. No entanto, como sabemos, toda carga em movimento emite
radiação, o que não era observado no átomo.

O modelo de Thomson foi definitivamente abandonado, em 1911, quando


Rutherford mostrou que a carga positiva do átomo estava toda concentrada no
centro, formando um núcleo, analisando o espalhamento de partículas α por
diferentes átomos.

4.3 O modelo do átomo de Rutherford

Rutherford, um antigo aluno de Thomson, investigava a radioatividade natural


dos elementos quando descobriu que o urânio emitia dois tipos diferentes de
partículas, denominadas α e β. Buscando analisar o comportamento dessas
partículas, em um experimento célebre, Rutherford deixou uma amostra radioativa
se desintegrar emitindo partículas α em uma câmera de vácuo e, em seguida,
submeteu o conteúdo da câmera a uma descarga elétrica. As linhas observadas
correspondiam ao hélio. Então, Rutherford percebeu que essa partícula α, uma
partícula carregada positivamente e com metade da massa do próton, poderia

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51

funcionar como uma sonda no interior de outros átomos, e iniciou uma série de
experimentos nessa direção.

(a)

(b)

Figura 4.2: (a) O modelo do Pudim de Thomson13 e (b) O espalhamento de uma partícula α
por um átomo de Thomson14.

O experimento consistia em colimar um feixe de partículas α emitidas de uma


fonte radioativa e fazê-la incidir sobre um alvo metálico. Ao atravessar o átomo, a
partícula α sente a força colombiana das cargas positivas e negativas, o que provoca
uma mudança na sua trajetória. Uma forma de medir essa divergência é contar o
número de partículas α que emerge do átomo com um ângulo de deflexão θ (N(θ)).
No modelo de Thomson, como a carga positiva está espalhada por todo o volume do
átomo de raio r 10−10 m, a força colombiana de repulsão não é tão intensa e a força
de atração do elétron é ainda menor, uma vez que a partícula α é da ordem da
massa do próton. Portanto, como mostra a figura 4.2, no modelo de Thomson é
esperado que o ângulo de espalhamento θ seja pequeno. De fato, podemos

13
Figura modificada de M. Le Bellac, “Quantum Physics”, Cambridge University Press, 2006.
14
Figura modificada de R. Eisberg, “Fundamentals of Modern Physics”, John Wiley&Sons Inc, 1963.

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52

calcular, usando o modelo de Thomson, a deflexão máxima que a partícula sofre ao


passar pelo átomo, ela será θ ≤ 10−4 rad.

Na experiência realizada por Rutherford em seu laboratório, com ajuda de


Geiger e Marsden, foi medido que 99% das partículas α foram espalhadas em
ângulos menores do que 3°. No entanto, surpreendentemente, uma fração da ordem
de 10 das partículas α foram espalhadas com ângulo maior que 90°, sendo
−4

algumas delas espalhadas com um ângulo de 180°. Mesmo sendo pequena essa
fração, ela é absolutamente incompatível com o modelo de Thomson. Como o
próprio Rutherford declarou: “Foi a coisa mais incrível que aconteceu em toda a
minha vida. Era tão incrível quanto se você disparasse um projétil de 15 polegadas
contra um pedaço de papel e o projétil ricocheteasse de volta.” Esse foi mesmo o fim
do modelo de Thomson.

O modelo proposto por Rutherford considerava que deveria existir um núcleo


no átomo que concentrasse toda a carga positiva do átomo em uma região pequena
do átomo, isso justificaria uma interação de repulsão mais forte com a partícula α. Ao
supor que o núcleo se comportava como uma partícula pontual no centro da esfera,
e que a quantidade de carga no núcleo era tão maior que α, então, não haveria
recuo do núcleo ao interagir com α, Rutherford calculou a distribuição angular
esperada para a partícula α após a colisão. Ainda, foi considerado que a partícula α
não iria penetrar dentro do núcleo e dado que v / c ≈ 1 / 20 o cálculo pode ser não
relativístico. As previsões foram comprovadas por experiências feitas por Geiger e
Marsden, mas mostraram que as hipóteses assumidas não são exatamente verdade
quando a partícula α é espalhada por átomos muito leves.

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53

Figura 4.3: O esquema da trajetória hiperbólica de α , segundo o espalhamento de


Rutherford, com todas as variáveis que a definem15.

Dessa forma, o espalhamento da partícula α por átomos pode ser reduzido ao


espalhamento elástico de α e o núcleo, como mostra a figura 4.3, ao ilustrar o
espalhamento Rutherford. A figura 4.3 mostra uma partícula de massa m e carga ze
espalhada por um núcleo fixo na origem do centro de coordenadas com carga Ze
(Z>>z). A interação coulombiana no início e muito depois é desprezível devido a
distância entre as partículas, o que justifica a trajetória retilínea e uniforme (v
constante) antes da interação e depois da interação (ver figura 4.3) e, ainda, por
conservação de energia, a energia cinética inicial é igual a final e as velocidades
também v=v’. No início, a partícula α está a uma distância b da linha paralela a sua
trajetória que passa na origem. B é definido como o parâmetro de impacto e é uma
variável importante no problema, pois quando b=0 teremos o choque frontal. A

15
Figura modificada de R. Eisberg, “Física Quântica- Átomos, sólidos, Núcleos e Partículas” , John
Wiley&Sons Inc, 1974.

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54

posição durante a interação é descrita pelas coordenadas polares r e o ângulo de


espalhamento θ mede a mudança da trajetória inicial à final e por geometria temos
θ = π −ϕ .

Aplicando a segunda lei de Newton na força coulombiana repulsiva (não


faremos em detalhes aqui, pois envolve equações diferenciais) chegamos a equação
da hipérbole para a trajetória de α

1 1 D
= senϕ + 2 ( cosϕ − 1 ) . (4.4)
r b 2b

Sendo D a distância de máxima aproximação de α ao núcleo, que pode ser


calculada considerando a situação em que b=0. Nessa situação, toda energia
cinética da partícula é freada pelo potencial coulombiano e a partícula pára a uma
distância D do núcleo e volta pelo mesmo caminho que incidiu, e o ângulo de
espalhamento é θ= 180 °

1 zZe 2
D= 2 . (4.5)
4πε0 mv 2

Voltando a (4.4), o ângulo de espalhamento pode ser definido em função do


parâmetro de impacto (usando θ = π − ϕ ) como:

 θ  2b
cotg   = . (4.6)
2 D

A partir da teoria estatística, é possível calcular o número de partículas


α que são espalhadas em uma região angular entre Θ e Θ + d Θ , sendo Θ o ângulo
de espalhamento total (a soma de todos as deflexões de cada átomo) que a
partícula α sofre ao atravessar toda a folha
2 2
 1   zZe 2  Iρρ2πsenΘen
N(Θ(Θ) =    
2 
. (4.7)
 2mv  sen (Θ / 2 )
4
 4πε0 

Em que I é o número de partículas α que incidem do alvo de espessura τ cm,


3
contendo ρ núcleos por cm . A equação 4.7 foi de grande importância, pois além
de ser confirmada por experiências feitas por Geiger e Marsden, o número Z não era
conhecido para a maioria dos átomos e, então, a equação 4.7 passou a ser usada

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também para determiná–lo. Só assim, descobriu-se que Z era igual ao número


atômico químico dos átomos.

A fórmula de Rutherford é, geralmente, expressa em termos da seção de



choque diferencial , definida de tal forma que o número de partículas α
dΩ
espalhadas em Θ dentro de um ângulo sólido dσ é dada por


dN(ΘN= IndΩ , (4.8)
dΩ

Então, a seção de choque diferencial é dada usando (4.7) e (4.8) como:


2 2
dσ  1   zZe 2  1
=   
2 
. (4.9)
dΩ  4πε0   2mv  sen (Θ / 2 )
4

4.3.1 O tamanho do núcleo

O fato de as confirmações previstas por Rutherford terem se concretizado nas


experiências de Geiger e Marsden, não significavam que a hipótese de que o núcleo
era uma partícula pontual estava correta, muito pelo contrário, Rutherford sabia que
isso era uma aproximação grosseira. Da eletrostática sabemos que a força
coulombiana de uma distribuição esférica de cargas é a mesma que uma carga
pontual para um ponto externo a esfera e dentro de uma esfera carregada a força
cresce linearmente com o raio. A partir da equação (4.5), tendo o conhecimento de Z
para o alvo, ele poderia determinar a distância de maior aproximação D, que seria, a
princípio, um limite superior para o raio do núcleo. Foi então que Rutherford
percebeu que se pudesse fazer α incidir com mais energia, a distância D diminuiria e
poderia entrar no núcleo. No entanto, não era possível aumentar a energia de α, o
que ele fez, então, foi diminuir a distância D usando alvos mais leves, como o
alumínio. Nesse caso, Rutherford comparou, para um ângulo fixo, a razão do
número de partículas espalhadas detectadas experimentalmente e a previsão teórica
em função de rD , a distância de máxima aproximação dada pela equação 4.5, como
mostra a figura 4.4.

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Figura 4.4: Resultado obtido por Rutherford usando o alvo de alumínio (para um ângulo
fixo)16 .

O valor de rD , a partir do qual a previsão teórica pára de concordar com as

observações experimentais, pode ser considerado o tamanho do núcleo (a distância


do centro da esfera até as sua superfície). Assim, para o caso do alumínio,
Rutherford estimou o raio do seu núcleo em 1 × 10−14 m.

4.4 O modelo do átomo de Bohr

Niels Bohr, um físico dinamarquês, em 1913, publicou, no formato de


postulados, uma teoria para o átomo de Hidrogênio que uniria as teorias de Planck,
Einstein e modelo de Rutherford para o átomo. Bohr trabalhou no laboratório de
Rutherford na época que Geiger e Marsden analisavam os resultados do
experimento que comprovavam o modelo de Rutherford. O modelo de Rutherford, no
entanto, não dizia nada a respeito do elétron, apenas que a carga positiva estava
contida no núcleo. Bohr formulou a hipótese de que o elétron no átomo de
hidrogênio girava em torno desse núcleo, em um movimento resultante da força de
atração coulumbiana. Em analogia ao sistema solar, a trajetória do elétron seria

16
Figura modificada de R. Eisberg, “Física Quântica- Átomos, sólidos, Núcleos e Partículas” , John
Wiley&Sons Inc, 1974.

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circular ou elíptica, a qual Bohr supôs circular por facilidade e, então, a força
coulumbiana deve ser igual a força centrípeta que o elétron “sente” para uma
trajetória de raio r e velocidade v

kZe 2 mv 2
F= = . (4.10)
r2 r

Como descrevemos anteriormente, classicamente, o movimento de cargas é


associado a emissão de uma radiação (pois carga em movimento significa campo
v
elétrico e assim por diante) com uma frequência dada por ν = . Mas, da equação
2πr
kZe 2
(4.10), temos que a velocidade do elétron é dada por v 2 = e, portanto, a
mr
frequência é definida como:
1/ 2 1/ 2
 kZe 2  1  kZe2  1
ν =   =  2  . (4.11)
 mr  2πr  4π m  r3/ 2

A partir de (4.11), podemos ver que quanto mais o elétron perde energia por
radiação, o raio da sua órbita diminuiria e a frequência da radiação emitida passa a
ser cada vez maior, até o limite em que o elétron colapsaria no núcleo. O tempo de
vida do elétron, estimado pela física clássica, é de microssegundos. Mas, essa
emissão contínua de radiação nunca foi observada. Bohr, em seus dois primeiros
postulados, contornou esse problema propondo de forma revolucionária que o
elétron se move em uma trajetória circular SEM irradiar energia, o que ele chamou
de um estado estacionário.

Figura 4.5: figura esquemática do modelo


17
de Bohr para o átomo .

17
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O segundo postulado foi de que os átomos apenas irradiariam energia


quando o elétron sofresse uma transição de um estado estacionário para outro e a
energia associada a essa transição seria dada pela energia Planck dos estados
iniciais e finais de cada estado estacionário

hν = Ei − E f . (4.12)

A esse segundo postulado está associada a ideia, representada


esquematicamente na figura 4.6, que a transição de dois estados significa emissão
de um fóton de energia hν .

Se a órbita do elétron é estável, significa que o momento angular orbital do


elétron ( L = mvr ) é uma constante. Bohr descreveu então a quantização do
momento angular do elétron como uma consequência de seus dois primeiros
postulados

L = mvr = nh , para n=1,2,3.... . (4.13)

Dessa forma, podemos definir o raio orbital, sendo v dado pela equação
(4.10) temos
1/ 2
nh nh  rm 
r = =   , em que temos que elevar ao quadrado para
mv m  kze² 

n 2 h 2  rm 
recuperar a dependência em r dentro da raiz: r 2 =   e, por fim, o raio
m 2  kze² 
orbital de Bohr é

n2h 2 n 2 a0
rn = = . (4.14)
mkze² Z

h2
Sendo a0 o raio de Bohr definido como a0 = = 0,549 Å, a0 é também
mke 2
o raio do átomo de hidrogênio em que Z=1 e n=1. O que podemos ver em (4.14) é
que as órbitas dos estados estacionários dos elétrons também são quantizadas pelo
número quântico n e decrescem com o número atômico Z.

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A energia total do elétron é definida pela soma da energia cinética ( mv 2 / 2 ) e


potencial ( − kze² / r ) , no entanto, pela equação (4.10) podemos reescrever a energia
mv 2 kZe 2
cinética como = e a energia total do estado é dada por:
2 2r

kZe 2 kZe 2 − kZe 2 − kZe 2  mkZe 2  − mk 2 Z 2 e 4


En = − = =  2 2  = ,
2rn rn 2rn 2 n h  2n 2 h 2

Z2
En = − E0 para n= 1, 2, 3, .... (4.15)
n2

mk 2 e 4
onde E 0 = = 13,6 e V é a energia do estado fundamental do átomo de
2h 2
hidrogênio. E, então, a energia desses estados estacionários também é quantizada
pelo mesmo número quântico n. Se voltarmos ao segundo postulado de Bohr,
 1 1 
equação (4.12), temos hν = Eni − Enf = − E0 Z 2  2 − 2  , e a energia irradiada em
n 
 i nf 
uma transição de estados é definida pela frequência

E0 Z 2  1 
ν=  2 − 12  . (4.16)
h n 
 f ni 

O número quântico n define a ordem dos estados estacionários, assim, n=1 é


estado fundamental, n=2 o primeiro estado excitando, n=3 o segundo estado
excitado e assim por diante até infinito.

18
Figura 4.6: Modelo da transição de estados do elétron dentro do átomo .

18
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60

Segundo o modelo de Bohr, a transição entre linhas ou estados significa uma


emissão ou absorção de fótons, como mostra a figura 4.6. Quando a primeira
situação ocorre, isso significa que o elétron ganha energia o suficiente para “pular”
para o próximo nível, já o segundo, ocorre qunado o elétron decai para seu estado
inicial.

A partir da equação (4.16), fazendo ν = c / λ , obtemos uma expressão análoga


à obtida por Rydberg (4.2) para as séries das linhas do espectro de emissão dos
átomos. Comparando as duas expressões (4.2 e 4.16), podemos identificar que a
constante empírica obtida por Rydberg é dada teoricamente por Bohr como
E0 mk 2 e 4
R= = . Usando os valores das constantes conhecidas na época, Bohr
hc 4πc h 3
chegou a um valor muito próximo ao obtido por Rydberg e sugeriu que a igualdade
entre elas fosse usada para aprimorar o valor das próprias constantes, o que foi feito
anos mais tarde.

De acordo com o modelo de Bohr, ilustrado na figura 4.5, a energia


quantizadas permitidas para o átomo de hidrogênio são definidas pela equação
(4.15) com Z=1

− E0
En = , (4.17),
n2

com a qual podemos graficar os diferentes níveis de energia, do fundamental,


quando n=0 até a energia zero quando n é infinito, como mostra a figura 4.7. Esse
diagrama é chamado de diagrama de níveis de energia.

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Figura 4.7: Um diagrama de níveis com as transições de cada série representada


para o átomo de hidrogênio19.

Na figura 4.7, mostramos a relação entre as linhas das séries obtidas pela
análise espectroscópica e os níveis de energia de Bohr. A energia para arrancar um
elétron do átomo de hidrogênio é 13,6 eV, o que chamamos de energia de ionização
ou energia de ligação do elétron.

19
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62

4.4.1 Princípio da correspondência

Em 1923, Bohr enunciou seu último postulado, o princípio da


correspondência, no qual definia que as previsões da física quântica, para qualquer
sistema físico, devem corresponder as previsões da física clássica no limite em que
os números quânticos se tornam muito grandes. A motivação desse princípio está
no limite clássico da energia de radiação, como mostramos no capítulo 1, o espectro
de radiação do corpo negro tende a KT no limite de baixas frequências.

4.5 Crítica à “velha” mecânica quântica

O modelo de Bohr foi recebido, em um primeiro momento, com muito espanto


pela comunidade científica internacional. A ideia parecia muito ousada para contas
tão simples. De fato, o modelo de Bohr era simplificado, de tal forma, que ele apenas
de adequava perfeitamente aos resultados experimentais do hidrogênio. Por outro
lado, ele foi fundamental ao introduzir a ideia da quantização da energia em todos os
níveis e explicar a espectroscopia atômica. A sua suposição de que não há recuo do
núcleo do átomo com a interação com o elétron, foi em seguida corrigida pela
mM
utilização da massa reduzida µ = , para M a massa do núcleo. Uma segunda
m+M
aproximação do modelo de Bohr foi ainda proposta por Sommerfeld, usando órbitas
elípticas e grandezas relativísticas buscou descrever a estrutura fina do espectro de
hidrogênio.

O modelo de Bohr foi confirmado posteriormente por experimentos de raio-X e


por um experimento célebre, que provou a quantização da energia de Bohr, o
experimento de Franck-Hertz. A consagração da teoria de Bohr era então inegável,
no entanto, ela ainda não possuía uma justificativa lógica causal, dessa maneira,
“Por que nas teorias de Bohr ainda eram válidas teorias clássicas da mecânica, mas
não as da eletrodinâmica clássica?”, essa era uma pergunta ainda sem resposta.

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A todo esse conjunto de fenômenos e teorias que começa com Planck, passa
por Einstein e termina com Bohr, chamamos de antiga mecânica quântica. Só com
ela, já foi possível descrever diversos fenômenos inexplicáveis até então, como o
calor específico dos sólidos, a definição de novos elementos e compostos, entre
outros. No entanto, essa teoria quântica apresenta limitações, entre elas vale
destacar que ela se limita a descrever sistemas periódicos, o que representa um
número muito pequeno de problemas de interesse científico. Ela é apenas aplicável
a hidogenóides (sistemas que se assimilam ao hidrogênio) e, portanto, de todos os
elementos conhecidos na época, apenas os elementos alcalinos poderiam ser
tratados usando o modelo de Bohr. E, o que para o próprio Bohr foi motivo de
intensa dedicação e discussão, era a falta de uma base filosófica coerente. Bohr ,
em suas discussões com Heisenberg, Dirac, Pauli e tantos outros, sempre
enfatizava que a leitura da natureza estava presente em seu modelo, mas faltava um
coerência fundamental.

Em 1925, de maneiras diferentes e independente, Schrödinger e Heisenberg,


desenvolveram um modelo quântico que sustentava uma base filosófica e física para
a física quântica, sendo em contra partida a teoria de Bohr, um desenvolvimento
matemático complexo e mais avançado. Em seguida, Heisenberg constatou a
equivalência entre as duas propostas. A “disputa” entre o mentor intelectual, da
então proposta mecânica quântica, foi motivo de estudo para diversos
epistemólogos. Schrödinger acabou levando a melhor na história e, hoje,
aprendemos e aplicamos a equação de Schrödinger para resolver problemas
quânticos, como veremos no próximo capítulo.

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CAPÍTULO 5: INTRODUÇÃO À MECÂNICA QUÂNTICA

Mostramos de maneira qualitativa, no capítulo 3, que a função de onda ψ(x,t)


é responsável por unificar a descrição ondulatória e corpuscular. Introduzida por De
Broglie, essa ideia foi formalizada por Schrödinger, em 1926, através da sua célebre
equação de onda. Meses antes da formulação de Schrödinger, Heisenberg tinha
proposto uma teoria para explicar os fenômenos atômicos, usando apenas
grandezas mensuráveis. Essa teoria não parecia se assimilar muito à equação de
Schrödinger, uma vez que todas as variáveis dinâmicas eram representadas por
matrizes. No entanto, o próprio Schrödinger mostrou que existia uma equivalência
entre as duas teorias, partindo de uma era possível chegar à outra e vice-versa.
Ambas as teorias deram início ao que chamamos de Mecânica Quântica.

A mecânica quântica de Schrödinger não é aplicável a muitos problemas


concretos na física, pois é preciso que o sistema seja “ideal”. Podemos pensar em
uma analogia à mecânica clássica quando consideramos sistemas sem atrito,
viscosidade e a energia do sistema é conservada. No entanto, em sistemas que
fogem desse grupo, podemos fazer previsões qualitativas importantes usando
apenas o princípio da incerteza. A matemática envolvida no desenvolvimento de
Heisenberg é mais complicada do que a proposta por Schrödinger, embora a
segunda também envolva cálculos demasiadamente avançados para o escopo desta
apostila, de forma que vamos apenas apresentar a equação de Schrödinger e
discutir seu significado.

5.1 Equação de Schrödinger

A equação de onda que rege o movimento de partículas massivas como o


elétron, foi proposta então por Schrödinger, em 1925. Em analogia a equação da
onda clássica, a equação de Schrödinger relaciona derivadas temporais e espaciais
da função de onda. A equação proposta é não relativística e, portanto, só pode ser

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aplicado a sistemas não relativísticos. Uma equação relativística só foi introduzida


três anos depois por Dirac, em 1928.

Para construir sua equação, Schrödinger partiu da solução conhecida,


a onda eletromagnética que representava a propagação de fótons. Assim, o campo
eletromagnético ε satisfaz a equação da onda clássica

∂2 ε 1 ∂2 ε
= . (5.1)
∂x 2 c2 ∂t 2

Como vimos anteriormente, a onda eletromagnética é dada como um função


do tipo seno ou cosseno, supondo ε = ε0cos(kx − ωt ) , em que k = 1 / λ e ω = 2πν e as

respectivas derivadas segundas são dada por:

∂2ε
= −ω2 ε0cos(kx − ωt ) = −ω2 ε , (5.2)
∂t 2

∂2ε
= −k 2 ε0cos(kx − ωt) = −k 2 ε . (5.3)
∂x 2

A solução da equação (5.1) implica que

ω2
k2 = e ω = kc , (5.4)
c2

se substituirmos nas equações de De Broglie para o momento e a energia,


encontraremos que E = pc , que é exatamente a energia de um fóton. Schrödinger se
fixou nessa proporção entre a frequência e o número de onda, e buscou determiná-
la no caso de uma onda de matéria. Nesse caso, partindo de traz pra frente, a
energia de uma partícula é dada pela energia cinética da partícula e o potencial ao
p2
qual ela está sujeita: E = +V
2m ,

aplicando o postulado de De Broglie temos:

h2 k²
hν = hω = +V . (5.5)
2m

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Comparando as equações (5.4) e (5.5), vemos que enquanto na primeira ω


depende linearmente de k, na segunda não, além do potencial que varia
dependendo do sistema observado. Dessa forma, sabendo que o ω está associado
à derivada temporal, como mostra a equação (5.2) e k está associado à derivada na
posição, Schrödinger notou que sua função de onda precisaria ter uma primeira
derivada no tempo e uma segunda derivada na posição. Ainda, a equação da onda
deveria ser necessariamente linear na função de onda ψ( x,t ) para que o princípio da
sobreposição fosse preservado. E, então, Schrödinger propôs a seguinte equação:

− h2 ∂2ψ(x,t ) ∂ψ( x,t )


2
+Vψ(x,t ) = i h . (5.6)
2m ∂x ∂t

A equação de Schrödinger, dessa forma, depende do potencial V(x,t) que age


sobre o corpo, e portanto, dependo do sistema de forças que atuam a equação (5.6)
pode ser muito complicada de ser resolvida. Resolver a equação de Schrödinger
significa encontrar a função de onda ψ(x,t), que para uma dada configuração do
potencial V satisfaz a relação imposta pela equação (5.6). Podemos perceber que
uma função de onda senoidal ou cossenoidal, como uma onda eletromagnética, não
é solução da equação (5.6), pois, ao diferenciar em uma ordem no tempo, a função
seno passa a ser cosseno e vice-versa (com sinal trocado) e do outro lado da
equação, ao diferenciar em duas ordens na posição a função seno se mantém seno
e o cosseno se mantém cosseno, impedindo que exista igualdade entre ambos os
lados. A função mais simples da equação de Schrödinger, no caso em que o
potencial é uma constante, é a exponencial complexa e i ( kx −ωt ) , que nada mais é do
que a forma exponencial da função de onda harmônica, sendo:

e i ( kx −ωt ) = cos(kx − ωt ) + isen (kx − ωt ) . (5.7)

Vamos mostrar que a função de onda ψ ( x, t ) = Aei ( kx −ωt ) , sendo A uma


constante chamada de constante de normalização, é solução de (5.6), para isso
temos:

∂ψ ( x, t )
= −iωAei ( kx − ωt ) = −iωψ ( x, t ) , (5.8)
∂t

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∂ 2ψ ( x, t )
= (ik ) Aei ( kx − ωt ) = − k 2ψ ( x, t ) . (5.9)
2
2
∂x

Substituindo em (5.6), para o caso em que o potencial é constante V ( x, t ) = V0 ,

obtemos:

− h2
( − k 2 Aei ( kx − ωt ) ) + V0 Aei ( kx − ωt ) = −ih( −iω ) Aei ( kx − ωt ) , (5.10)
2m

em que podemos cortar a constante A e as exponenciais, tal que

h2k 2
+ V0 = hω , (5.11)
2m

é uma equação para a energia da partícula exatamente igual a (5.5) obtida a


partir do postulado de De Broglie. Dessa forma, provamos que a solução
exponencial complexa é solução da equação de Schrödinger. É fundamental notar
que com essa característica a função de onda pode assumir valores complexos, isso
significa que ela não pode ser mensurável diretamente, já que apenas grandezas
reais são mensuráveis diretamente. Essa qualidade da função de onda foge da
convenção clássica em que podemos desenhar e visualizar as trajetórias de objetos.
Agora, podemos desenhar as possíveis trajetórias, se soubermos a função de onda,
mas não podemos medir o valor dessa função em cada posição do espaço-tempo.
Isso está de acordo com o que discutimos no capítulo 3, na ocasião em discutimos o
princípio da incerteza de Heisenberg.

Como vimos no capítulo 3, embora não seja possível medir a posição,


podemos calcular a probabilidade de a partícula estar em um dado estado (posição
espaço-tempo) com uma dada energia
2
P( x, t )dx = ψ * ( x, t )ψ ( x, t )dx = ψ ( x, t ) dx , (5.12)

sendo ψ*(x,t) o complexo conjugado de ψ(x,t). P(x,t) é chamada de função


densidade de probabilidade, por definição de probabilidade a soma sobre todos os
estado possíveis deve ser um

∫ ψ * ( x, t )ψ
−∞
( x, t )dx = 1 . (5.13)

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A equação (5.13) é chamada de condição de normalização, que definia a


constante de normalização A, tal que a condição de probabilidade seja satisfeita.

5.2 Condições que a função de onda deve satisfazer

A forma da função, como vimos, irá depender do potencial V(x,t) que pode
assumir diferentes valores, inclusive ter valores descontínuos, que são resolvidos de
forma separada por região e depois se faz o limite, no qual a função nas
intersecções devem ser idênticas. Dado que a probabilidade de encontrar a partícula
em um dado estado, não pode ser descontínua, afinal é a probabilidade, a função de
onda ψ(x,t), não pode ser descontínua. Mas, segundo a equação de Schrödinger,
temos uma segunda derivada em (5.6), isso significa que a primeira derivada
também deve ser contínua e, portanto, não é possível que existam variações
bruscas no gráfico da função de onda. A última condição imposta à função de onda
é que ela tenda a zero, quando x → ±∞ , de maneira rápida, o suficiente para
preservar a normalização.

5.3 Aplicações da equação de Schrödinger

A equação de Schrödinger se aplica a sistemas simples, como o caso de uma


partícula confinada em um poço quadrado ou infinito, o átomo de hidrogênio, o
oscilados harmônico, uma partícula sujeita a uma fora, do tipo mola. No entanto,
para mais de uma partícula e estados de energia mais altos, a não consideração de
efeitos relativísticos começa a descolar a observação do fenômeno a sua descrição
teórica.

Para desenvolver contas usando a equação de Schrödinger, é necessário um


domínio matemático de solução de equações diferencias de segunda ordem, o que
não cabe desenvolver neste trabalho.

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5.4 A mudança do paradigma Clássico para o Quântico

Recapitulando um pouco a discussão que se iniciou na introdução desta


apostila, as propostas de Schrödinger e Heisenberg estabeleceram um marco
importante na mudança do paradigma clássico para o quântico. Essa transição não
foi suave, como ficou evidente em todo o processo, ela buscou diferentes caminhos
e, até por isso, teve duas formulações distintas. Os conceitos de massa da partícula
são diferentes, na mecânica clássica temos a massa inercial, na quântica temos a
massa de repouso, que seria a massa considerada quando a partícula estivesse
parada. O conceito de trajetória também é radicalmente modificado e o
determinismo da lugar a um mundo de possibilidade pesadas com probabilidades.
Uma lei fundamental da mecânica quântica define: tudo o que não é proibido, é
obrigatório. O que significa que todas as possibilidades de estados e energias que
não são proibidos por lei de conservação ou analiticidade da função, devem ser
considerados como estados possíveis.

A mecânica Quântica avançou muito nos últimos anos e novas teorias foram
sendo desenvolvidas acompanhando o estudo sobre a matéria, na década de 60,
descobriu-se que o núcleo era constituído por partículas ainda menores que os
prótons e nêutrons, os quarks. A figura 5.1 é uma imagem interessante, que
funciona como uma analogia ao desenvolvimento do entendimento da matéria. À
medida em que desenvolvemos a teoria, os experimentos passam a ser mais
sofisticados, e por sua fez conseguimos colidir partículas com energias mais altas e,
então, novas evidências teóricas surgem. A charge representada na figura 5.1, faz
uma alusão ao desenvolvimento da física de partículas, teoria que teve início em
1964, com a descoberta de que os prótons e nêutrons eram formados por elementos
ainda menores, os quarks. Mas, eles, até hoje, os quarks, nunca foram observados
diretamente nos grandes laboratórios, apenas foram observadas outras partículas
que são compostas por eles. A charge é provocativa ao sugerir que com os novos
laboratórios que temos hoje, quase em funcionamento, iríamos jogar uma energia
tão grande sobre as partículas (na figura o canhão) que, então, quem sabe,
poderíamos observar os quarks. Mas, isso é só para mostrar que muita coisa foi

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desenvolvida a partir da mecânica quântica. A mecânica quântica que descrevemos


neste trabalho é apenas a pontinha de uma sucessão de várias teorias quânticas
que descrevem os diferentes estados da matéria na escala abaixo de um Fermi.

Figura 5.1 : Uma charge sobre a evolução dos aceleradores na física de


partículas20.

20
Charge retirada de D. Griffiths, “Introduction to elementary Particles”, John Wiley&Sons Inc.,
1987.

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REFERÊNCIAS

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Verlag, New York, 1982.

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