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INTRODUÇÃO
A par da Mecânica e da Termodinâmica, o Electromagnetismo (incluindo a Óptica) cons-
titui um ramo da Fı́sica Clássica. Desenvolveu-se, como disciplina independente, a partir
do século xviii, embora só tenha ficado estabelecido como corpo coerente de doutrina no
século xix. Fica a dever-se a Maxwell a formulação sintética das leis que regem os fenómenos
electromagnéticos, o que é reconhecido como um dos feitos mais admiráveis da história da
Fı́sica. A este respeito recordem-se as seguintes palavras de Feynman retiradas das suas
famosas Lectures on Physics:
Vista a História do Homem daqui a muito tempo, digamos daqui a dez mil anos, não
restam muitas dúvidas sobre o facto de maior significado no século xix — a descoberta
de Maxwell das leis do Electromagnetismo. A Guerra Civil na América será reduzida
a uma mera questão provinciana comparada com aquela descoberta cientı́fica que data
da mesma década.
Seria fastidioso referir o impacte que o Electromagnetismo teve e continua a ter no desen-
volvimento das sociedades, referindo os inúmeros aspectos onde a sua importância é mani-
festa. Basta, tão-só, mencionar que este ramo da Fı́sica está na base de todo o sistema de
telecomunicações que se tornou de capital importância em todos os sectores da vida moderna.
tantas e tão boas provas tinha dado e continuava a dar. Verificava-se que as equações do
Electromagnetismo Clássico, ou mais precisamente, a equação de propagação de uma onda
electromagnética, ficava invariante perante uma classe de transformações espácio-temporais
conhecidas por transformações de Lorentz. Seria afinal esta simetria que haveria de ser
incorporada nas leis da Mecânica (para além das simetrias de translação e de rotação), dando
origem à Teoria da Relatividade.
Até agora falámos de dois aspectos altamente meritórios do Electromagnetismo Clássico
que tiveram grande repercussão na Fı́sica Moderna. Falemos também daqueles aspectos que,
sendo negativos do ponto de vista do confronto com os factos experimentais, acabariam por
ser cruciais para o desenvolvimento da Fı́sica do nosso século. Assim, o Electromagnetismo
Clássico revelou-se inadequado quando se pretendeu explicar o espectro de um corpo negro.
De facto, a teoria clássica previa intensidades da radiação electromagnética irremediavelmente
crescentes para pequenos comprimentos de onda (o que ficou conhecido por “catástrofe do
ultra-violeta”). Tal débâcle viria a ser resolvida por Planck, que usou o conceito de quantum
— quantidade mı́nima de energia de radiação electromagnética de determinada frequência —,
o que permitiu explicar cabalmente o espectro de radiação do corpo negro. A plausibilidade
de uma tal teoria “quântica” era então, como é evidente, puramente fenomenológica. Numa
outra situação de interacção da radiação com a matéria — o efeito fotoeléctrico — voltaria
a verificar-se a impossibilidade da sua explicação à luz do Electromagnetismo Clássico. Foi
Einstein quem avançou com a explicação do fenómeno, utilizando a mesma ideia de quantum
proposta por Planck, para concluir que, independentemente da intensidade da fonte de luz,
se a sua frequência não fosse igual ou superior a um certo valor que dependia do metal que
se estava a usar na experiência, nunca poderia haver emissão de electrões por parte deste.
O quantum ficava definitivamente a pertencer à linguagem da Fı́sica Moderna, tornando-se
num dos seus mais fecundos conceitos.
Uma outra dificuldade (embora, esta, aparente) com o Electromagnetismo Clássico surgiu
quando, também no inı́cio do século xx, se tornou necessário conceber modelos para a es-
trutura do átomo. J. J. Thomson propôs um modelo engenhoso segundo o qual o átomo
seria uma esfera com uma distribuição uniforme de carga positiva, estando as partı́culas de
carga negativa — os electrões — dispostas em circunferências no seu interior. Os electrões
estariam igualmente espaçados e as circunferências podiam ser mesmo em número superior a
um. Aplicando a Mecânica e a Electrodinâmica Clássica, este modelo era capaz de explicar
algumas riscas dos espectros de emissão dos átomos, podendo mesmo ser considerado a teoria
clássica do átomo.
O modelo revelou-se, porém, totalmente incapaz de explicar os resultados da célebre ex-
periência de Rutherford de dispersão de partı́culas α e β, pelo que teve de ser abandonado.
Mas o modelo atómico de Rutherford e o modelo, mais quantitativo, de Bohr eram absoluta-
mente incompatı́veis com as leis de Maxwell! Os electrões, descrevendo órbitas circulares em
torno do núcleo, perderiam energia, pois radiavam constantemente e acabariam por cair nele.
O grande sucesso do modelo planetário de Bohr na explicação dos espectros dos átomos hidro-
genóides seria um primeiro passo para se encontrar a explicação da estabilidade atómica (não
pondo afinal em causa a lei de Coulomb), no contexto de uma nova mecânica — a Mecânica
Quântica, formulada na década de 20. No final dessa mesma década, Dirac desenvolveu uma
teoria quântica relativista para o electrão. A interacção da luz com a matéria ou, dito de outra
maneira, a interacção da luz com a nuvem electrónica que rodeava os núcleos atómicos, deve-
ria ser tratada no quadro da nova teoria quântica. Essa teoria — a Electrodinâmica Quântica
(em inglês QED, de Quantum Electrodynamics) — começou de facto a ser desenvolvida nos
últimos anos da década de 20 mas os resultados revelaram-se insatisfatórios. Diz Feynman
no seu livro QED — a Estranha Teoria da Luz e da Matéria a respeito desta situação:
4 •
Campo electromagnético
como o trabalho que um agente externo tem de realizar para construir essa distribuição a
partir de uma situação inicial em que as cargas estão infinitamente afastadas. Na sequência
deste estudo, aborda-se o problema das forças em condutores carregados em equilı́brio elec-
trostático.
O Capı́tulo 4 é dedicado ao desenvolvimento em multipolos do potencial escalar. Para
facilitar a abordagem do assunto estuda-se primeiro o dipolo e o quadrupolo linear, focando as
caracterı́sticas do potencial e do campo eléctrico produzidos por estes sistemas. Apresentam-
se alguns exemplos que ilustram a utilidade do desenvolvimento multipolar. Trata-se também
a questão da energia de interacção de uma distribuição de cargas (com ou sem caracterı́sticas
multipolares bem definidas) com um campo externo.
O Capı́tulo 5 é dedicado ao estudo do campo electrostático em meios dieléctricos. A
apresentação é feita com bastante pormenor, pois um formalismo idêntico é aplicado, embora
com algumas modificações, ao estudo dos campos magnéticos em meios magnéticos (Capı́tulo
8). Introduzem-se os conceitos de polarização e de campo deslocamento eléctrico, classificam-
se os dieléctricos e determina-se a energia armazenada no campo electrostático quando há
meios dieléctricos. Consideram-se depois as forças sobre dieléctricos e obtêm-se campos
eléctricos em cavidades no interior de dieléctricos. Por fim, analisam-se as caracterı́sticas
das constantes dieléctricas de substâncias como gases e lı́quidos apolares e polares.
No Capı́tulo 6 estuda-se a equação de Laplace. Apresenta-se o método das imagens e
deduzem-se várias soluções particulares dessa equação em coordenadas cartesianas, cilı́ndricas
e esféricas. Ilustram-se as técnicas apresentadas com vários exemplos com distribuições de car-
gas no vazio,
à superfı́cie de condutores e em dieléctricos.
Os capı́tulos 7 e 8 são dedicados ao magnetismo. No Capı́tulo 7 estuda-se a energia
armazenada no campo magnético e faz-se o desenvolvimento em multipolos do potencial
vector (seguindo, de perto, o procedimento utilizado no Capı́tulo 4). No Capı́tulo 8 trata-se
a questão do magnetismo em meios materiais.
A propagação do campo electromagnético no vazio e em meios materiais é o assunto
abordado no Capı́tulo 9. No que diz respeito aos meios materiais, estuda-se a propagação em
meios dieléctricos e magnéticos e também em meios condutores. Obtêm-se as leis da reflexão
e da refracção e estuda-se ainda a propagação do campo electromagnético em guias de ondas.
O Capı́tulo 10 é dedicado ao Electromagnetismo e à Teoria da Relatividade. No sentido
de facilitar a leitura, faz-se uma breve introdução a aspectos da cinemática e da dinâmica
relativista e ao cálculo tensorial no espaço de Minkowski. Constrói-se o tensor do campo
electromagnético e apresentam-se as equações de Maxwell na sua forma covariante.
Finalmente, o Capı́tulo 11 é uma introdução à teoria clássica da radiação. Apresentam-se
os potenciais retardados e estuda-se a radiação dipolar e quadrupolar eléctrica.
Nos Apêndices apresentam-se os teoremas de Gauss e de Stokes e tratam-se alguns aspectos
do cálculo vectorial, que são de grande utilidade no desenvolvimento do formalismo próprio
das matérias abordadas.
CAPÍTULO 2
EQUAÇÕES DE MAXWELL
Neste capı́tulo faz-se uma revisão das leis básicas da electricidade e do magnetismo,
chegando-se às equações de Maxwell. Recorda-se, no caso da electrostática, a lei de Coulomb e
a lei de Gauss.
No caso do magnetismo revêem-se as leis de Biot-Savart, de Laplace, de Ampère e de Faraday
e Lenz. São apresentados alguns exemplos de movimentos de partı́culas carregadas em cam-
pos eléctricos e magnéticos para ilustrar a força de Lorentz. Por fim, obtêm-se as equações
de propagação no vazio dos potenciais escalar e vector e dos campos eléctrico e de indução
magnética.
F
q '
P
a
É muito útil introduzir o conceito de campo eléctrico, E , que é a força por unidade de
carga. Em P (Figura 2.1) o campo eléctrico é dado por
F 1 q
E= = â. (2.2)
q0 4π²0 a2
No SI o campo eléctrico exprime-se em N C−1 ou, o que é equivalente, em V m−1 .
No caso de um número arbitrário de cargas, aplica-se o princı́pio de sobreposição. De
acordo com este princı́pio, o campo eléctrico resultante em P é a soma vectorial dos cam-
pos criados individualmente por cada carga eléctrica. Se num volume v existir uma dis-
tribuição contı́nua de cargas, descrita por uma densidade ρ(r 0 ), da aplicação do princı́pio de
sobreposição resulta o campo electrostático (ver Figura 2.2)
Z
1 ρ(r 0 ) â
E= dv.
4π²0 v a2
z a P
P '
S v d v d E
r'
r
y
x
Fazemos uma chamada de atenção para a notação que estamos a utilizar e que manteremos
ao longo do livro. Assim, o vector r , cujas componentes cartesianas no sistema de referência
Equações de Maxwell •
9
ortonormado S são (x, y, z), é o vector posicional do ponto P onde se pretende calcular o
campo (ou outra grandeza como, por exemplo, o potencial). O vector r 0 indica, relativamente
à origem do mesmo referencial, a posição do ponto P0 onde se localiza a fonte do campo. As
coordenadas cartesianas desse ponto são (x0 , y 0 , z 0 ). Note-se que (x, y, z) e (x0 , y 0 , z 0 ) são
coordenadas independentes. O vector
a = r − r0 (2.3)
P 2
r P
2
F
r q '
q P
r 1
1
Consideremos agora a Figura 2.3. O trabalho realizado pela força eléctrica que q exerce
sobre q 0 quando esta última se desloca de P1 para P2 é dado por
Z Z
0
WP1 →P2 = F · dl = q E · dl ,
P1 P2 P1 P2
tendo-se utilizado a definição de campo eléctrico para escrever a última igualdade. Como o
campo electrostático é conservativo, o integral na expressão anterior não depende do percurso
entre P1 e P2 . O trabalho WP1 →P2 é simétrico da variação da energia potencial:
O trabalho realizado pela força externa quando a carga se desloca com velocidade de módulo
constante de P1 para P2 é o simétrico de (2.4). Esse trabalho exterior iguala a variação da
energia do sistema, ∆U :
Para se conhecer o potencial num ponto (digamos P2 ), é necessário fixar um valor para o
potencial num outro ponto de referência (digamos P1 ). No caso de distribuições finitas de
carga, a escolha usual corresponde a P1 → ∞ e considera-se aı́ o potencial nulo. O potencial
no ponto P é então Z P
V (r ) = − E · dl. (2.7)
∞
Chama-se a atenção para o facto de esta maneira de fixar o potencial não ser aplicável
quando a distribuição de cargas é infinita (por exemplo, uma linha infinita de carga). Deve
então usar-se uma outra origem para o potencial V (r ).
O facto de o campo electrostático ser conservativo significa que a sua circulação ao longo
de uma trajectória fechada C se anula:
I
E · dl = 0 . (2.8)
C
Da Eq. (2.6) resulta que o campo electrostático se pode escrever como o simétrico do
gradiente do potencial V :
E (r ) = −∇V (r ) . (2.9)
Esta expressão mostra que o potencial V (r ) descreve completamente o campo electrostático,
indicando o sinal negativo na expressão anterior que E aponta no sentido dos potenciais
decrescentes.
Se recordarmos que, qualquer que seja a função escalar V , se tem [ver (B.35)]
∇ × ∇V = 0 ,
imediatamente se conclui que
∇ × E = 0. (2.10)
Esta equação pode também ser obtida a partir de (2.8) por aplicação do teorema de Stokes
(ver Apêndice A).
O potencial criado por uma carga pontual q num ponto situado à distância a desta é
particularmente simples de obter, se no integral (2.7) se considerar um percurso que tenha a
direcção definida pela carga e pelo ponto onde se pretende obter o potencial:
Z ∞
q dr q
V = 2
= . (2.11)
a 4π²0 r 4π²0 a
No caso de uma distribuição de cargas descrita por ρ(r 0 ) contida num volume v (Figura 2.2),
o potencial é dado, de acordo com o princı́pio da sobreposição, por
Z
1 ρ(r 0 ) dv
V = , (2.12)
4π²0 v a
onde [ver (2.3)] a é a distância do ponto (x0 , y 0 , z 0 ) — onde se localiza a carga elementar —
ao ponto (x, y, z) — onde se pretende calcular o potencial. Os pontos do espaço que estão ao
mesmo potencial definem as chamadas superfı́cies equipotenciais.
É também conveniente relembrar a lei de Gauss, a qual desempenha um papel muito
importante quando se pretende calcular o campo electrostático E criado por uma distribuição
de cargas possuindo determinadas simetrias. De acordo com a lei de Gauss, o fluxo do campo
eléctrico E através de uma superfı́cie fechada S que encerra a carga total Q é
I
Q
E · dS = . (2.13)
S ²0
Equações de Maxwell •
11
Usando agora o teorema de Gauss (ver Apêndice A) e atendendo a que a carga total é dada
R
por Q = v ρ(r 0 ) dv, sendo v o volume total delimitado por S, conclui-se que
Z Z
1
∇ · E dv = ρ dv ,
v ²0 v
∇2 V = 0 ,
z
l
Escolhe-se o eixo z coincidente com o eixo do fio, como se mostra na Figura 2.4. Comece-
mos por investigar a configuração das linhas do campo eléctrico E .
Devido à extensão infinita da distribuição e à simetria axial, o campo não pode depender
das coordenadas cilı́ndricas z e φ; igualmente, por se tratar de uma distribuição muito longa
com simetria axial, o campo não tem componente Ez nem Eφ . Assim, o campo eléctrico tem
apenas componente radial, a qual é função de r, isto é, E = E(r)êr .
A determinação de E pode ser feita usando a lei de Gauss (2.13), que se escreve na forma
I Z
1
E · dS = λ d` , (2.16)
S ²0 `
12 •
Campo electromagnético
λ`
2πr`E(r) = ,
²0
de onde se obtém
λ
E= êr . (2.17)
2π²0 r
ρ 4
E(r) 4 π r2 = π r3 , (2.18)
²0 3
tendo-se considerado uma superfı́cie gaussiana esférica, de raio r, concêntrica com a
distribuição de carga; no segundo membro de (2.18) considera-se a carga contida no
interior desta superfı́cie;
Q
E(r) 4 π r2 = ,
²0
dado que agora toda a carga Q está contida no interior da superfı́cie gaussiana de raio
r > R.
Temos, em conclusão:
Q
E = r êr , r ≤ R, (2.19)
4π²0 R3
Q
E = êr , r ≥ R. (2.20)
4π²0 r2
Considere-se a Figura 2.5, que representa um troço de um circuito eléctrico percorrido por
uma corrente estacionária (quer dizer, que não varia no tempo) de intensidade i. A corrente
no circuito cria num ponto P, à distância a do elemento (orientado) de circuito, dl, um campo
de indução magnética, B .
Equações de Maxwell •
13
d l
â a d B
P
A contribuição elementar dB para este campo devida ao troço elementar dl é dada pela lei
de Biot-Savart:
µ0 i dl × â
dB = ,
4π a2
onde µ0 = 4π × 10−7 N/A2 (ou, equivalentemente H/m) é a permeabilidade magnética do
vácuo.
O campo de indução magnética B , no ponto P, obtém-se integrando sobre todo o circuito
fechado: I
µ i dl × â
B= 0 , (2.21)
4π C a2
e exprime-se, no SI, em tesla (T) ou weber por metro quadrado (Wb/m2 ).
Quando se tem uma distribuição extensa de corrente de intensidade i, pode introduzir-se
a densidade de corrente j (expressa em A/m2 no SI) na seguinte forma:
Z
i= j · dS , (2.22)
S
Esta expressão é denominada lei de Laplace. No Exemplo 2.5 consideram-se duas correntes
paralelas e determina-se a força entre elas.
O campo de indução magnética pode ser formalmente obtido a partir de cargas (monopo-
los) magnéticas. Os monopolos magnéticos, embora úteis de um ponto de vista conceptual,
são objectos fictı́cios, no sentido em que nunca foram detectados experimentalmente. As
cargas magnéticas (que designamos por q ∗ ) foram propostas por Dirac e têm a vantagem de
permitir escrever a força magnética de atracção ou de repulsão existente entre elas de uma
forma idêntica à lei de Coulomb (2.1):
1 q∗q0∗
F = â.
4πµ0 a2
O facto de não se observarem monopolos magnéticos significa que os campos de indução
magnética são produzidos por correntes, e as linhas de campo são sempre fechadas. Conse-
quentemente, o fluxo de B através de uma superfı́cie fechada qualquer é sempre nulo:
I
B · dS = 0 . (2.25)
S
Por aplicação do teorema de Gauss (ver Apêndice A) resulta a seguinte equação local para o
campo de indução magnética:
∇ · B = 0. (2.26)
Formalmente, o resultado expresso por (2.26) pode ser obtido directamente a partir da lei
de Biot-Savart. De facto, tomando a divergência de (2.23) tem-se, usando a Eq. (B.43) e
notando que a corrente j é só função das coordenadas (x0 , y 0 , z 0 ) e que o operador ∇ só actua
nas coordenadas (x, y, z),
Z µ ¶
µ0 â
∇·B =− j (r 0 ) · ∇ × dv , (2.27)
4π v a2
sendo o vector a definido por (2.3). Mas, por outro lado, â/a2 pode ser escrito como o
gradiente de uma função escalar:
µ ¶ µ ¶
1 1 r − r0 â
∇ =∇ =− =− 2. (2.28)
a |r − r 0 | |r − r 0 |3 a
B = ∇ × A. (2.29)
Vejamos, então, qual a forma geral do potencial A do qual “deriva” o campo de indução
magnética. A Eq. (2.23) pode ser escrita na forma
Z µ ¶
µ 1
B= 0 ∇ × j (r 0 ) dv ,
4π v a
tendo-se usado (2.28). A expressão (B.40) permite escrever
µ ¶ µ ¶
1 1 1
∇ ×j =∇× j − ∇×j.
a a a
A última parcela é nula, uma vez que o cálculo do rotacional envolve derivadas em ordem a
(x, y, z) e a função vectorial j só depende do conjunto de variáveis (x0 , y 0 , z 0 ). Assim,
Z · Z ¸
µ0 j (r 0 ) µ0 j (r 0 )
B= ∇× dv = ∇ × dv , (2.30)
4π v a 4π v a
onde se usou novamente o facto de o operador nabla, por actuar em funções das coorde-
nadas (x, y, z), poder passar para fora do integral [as variáveis sobre as quais se integra são
(x0 , y 0 , z 0 )]. Comparando (2.30) com (2.29) conclui-se que
Z
µ0 j (r 0 )
A(r ) = dv . (2.31)
4π v a
Se as correntes forem superficiais (κ é a densidade superficial de corrente),
Z
µ κ(r 0 ) dS
A(r ) = 0 . (2.32)
4π S a
Quando a corrente é filamentar tem-se
I
µ i dl
A(r ) = 0 , (2.33)
4π C a
uma vez que a corrente i é a mesma em qualquer ponto do circuito.
A lei de Biot-Savart também permite obter a chamada lei dos circuitos de Ampère. Inte-
grando o campo de indução magnética ao longo de um contorno fechado qualquer e aplicando
o teorema de Stokes, tem-se
I Z
B · dl = ∇ × B · dS . (2.34)
C S
∇ × B = ∇ × (∇ × A) = ∇(∇ · A) − ∇2 A, (2.35)
dado que, na situação que estamos a considerar, o primeiro termo no membro esquerdo de
(2.36) é nulo. O significado fı́sico da equação anterior é claro: as linhas de corrente fecham-se
sobre si próprias. Se atendermos agora, por um lado, à Eq. (2.12) para o potencial escalar V
e à expressão que se obtém para o seu laplaciano [Eq. de Poisson (2.15)], e, por outro lado, à
forma semelhante a (2.12) de cada uma das componentes de A [ver (2.31)], podemos concluir
que cada uma dessas componentes terá de obedecer a equações de Poisson semelhantes a
(2.15). Numa notação compacta,
∇2 A = −µ0 j . (2.38)
Vejamos finalmente o valor da divergência de A a fim de retomarmos (2.35). Aplicando o
operador ∇ a (2.31),
Z · µ ¶¸
µ ∇ · j (r 0 ) 1
∇·A= 0 + j (r 0 ) · ∇ dv .
4π v a a
A primeira parcela do segundo membro é nula porque ∇ não actua nas coordenadas r 0 ; na
segunda parcela pode fazer-se a seguinte substituição
µ ¶ µ ¶ µ ¶ µ ¶
1 1 0 1 0 1
∇ =∇ = −∇ = −∇ , (2.39)
a |r − r 0 | |r − r 0 | a
onde o operador ∇0 actua nas coordenadas r 0 . Integrando por partes, reescreve-se o termo
resultante na seguinte forma:
·Z µ ¶ Z ¸
µ j (r 0 ) ∇0 · j (r 0 )
∇·A=− 0 ∇0 · dv − dv .
4π v a v a
A última parcela é nula atendendo a que estamos a considerar um regime estacionário, pelo
que (2.37) se verifica. Aplicando o teorema de Gauss à primeira parcela,
I
µ0 j (r 0 )
∇·A=− · dS = 0 .
4π S a
A igualdade a zero verifica-se porque as correntes estão limitadas no espaço, o que significa
que j = 0 sobre a superfı́cie S ou então j é tangente à superfı́cie S, sendo, por isso, nulo o
fluxo através de S. Usando este resultado e o expresso por (2.38) na Eq. (2.35), obtém-se
∇ × B = µ0 j , (2.40)
que é a forma local da lei dos circuitos de Ampère. A forma integral desta lei é obtida a
partir de (2.34): I Z
B · dl = µ0 j · dS . (2.41)
C S
O conjunto de Eqs. (2.10), (2.14), (2.26) e (2.40) são as equações de Maxwell no vazio
para o regime estacionário.
É útil escrever essas equações em superfı́cies de descontinuidade:
σ
divS E = n̂ · (E2 − E1 ) = (2.42)
²0
rotS E = 0 (2.43)
divS B = 0 (2.44)
rotS B = n̂ × (B2 − B1 ) = µ0 κ . (2.45)
O versor n̂ é normal à superfı́cie de separação dos meios 1 e 2 e aponta para o lado 2;
E2 , B2 e E1 , B1 são os campos junto à superfı́cie nos meios 2 e 1, respectivamente; σ é a
densidade superficial de carga e κ é a densidade superficial de corrente sobre a superfı́cie de
descontinuidade.
Vamos considerar exemplos de distribuições estacionárias de correntes e obter os campos
de indução magnética resultantes.
Equações de Maxwell •
17
i C 1
d z
S 1
r
h
S 2
Consideremos um fio condutor muito longo de raio a percorrido por uma corrente i
uniformemente distribuı́da (Figura 2.6). A densidade de corrente é
i
j = j êz = êz .
π a2
Vamos procurar a solução para o campo B usando coordenadas cilı́ndricas, atendendo à
simetria axial do problema. Em termos das suas componentes, o campo de indução magnética
escreve-se
B (r, φ, z) = Br (r, φ, z)êr + Bφ (r, φ, z)êφ + Bz (r, φ, z)êz .
Por simetria, B não pode depender de φ nem de z, quer dizer
A Eq. (2.26), quando aplicada ao campo dado por (2.46), permite concluir que
1d C
(rBr ) = 0 ⇒ Br = .
r dr r
Ora, o campo B é uma quantidade fı́sica e portanto nunca poderá tornar-se infinito, de onde
se conclui que a constante C deve ser nula, senão B divergiria na origem.
Poderı́amos ter chegado à mesma conclusão partindo da lei do fluxo (2.25). Considerando
como superfı́cie auxiliar a superfı́cie cilı́ndrica de raio r > a e altura h (bases S1 e S2 e
superfı́cie lateral SL ), coaxial com o tubo de corrente, como se indica na Figura 2.6,
I Z Z Z
B · dS = BL · dS + B1 · dS + B2 · dS
S SL S1 S2
Z
= Br (r) dS = 2 π r h Br (r) = 0 , (2.47)
SL
18 •
Campo electromagnético
e, supondo B (r0
→ ∞) = 0, vem Bz (r) dz = 0, ou seja, Bz (r) = 0.
O campo B é então da forma B = Bφ (r) êφ , sendo a sua expressão obtida recorrendo
de novo à lei dos circuitos de Ampère. Consideremos os caminhos C1 e C2 , indicados na
Figura 2.7, para o cálculo do campo em pontos interiores e pontos exteriores à distribuição,
respectivamente.
i
C 1
C 2
B B
Para r < a
i
Bφ (r) 2 π r = µ0 π r2 ,
π a2
ou seja,
ir
Bφ (r) = µ0 êφ .
2 π a2
Para r > a
B(r) 2 π r = µ0 i ,
de onde resulta
µ0 i
B (r) = êφ . (2.48)
2πr
Estes resultados foram obtidos tendo em conta que, sobre os caminhos escolhidos, o campo
de indução magnética mantém constante a sua grandeza, e B é paralelo em cada ponto à
tangente ao caminho.
Equações de Maxwell •
19
z
a i
C 1
S
h
De modo análogo ao que atrás se discutiu, podemos usar a lei do fluxo, aplicando-a à
superfı́cie cilı́ndrica fechada de raio r e altura h, indicada por S na Figura 2.8. Designando
por S1 e S2 as superfı́cies das bases e por SL a superfı́cie lateral,
I Z Z Z
B · dS = BL · dS + B1 · dS + B2 · dS
S SL S1 S2
Z
= Br (r) dS = 2 π r h Br (r) = 0 ,
SL
uma vez que, sendo B independente de z, a segunda e a terceira parcelas do segundo membro
são simétricas. O resultado do cálculo anterior permite concluir que
Br (r) = 0 .
Consideremos agora a lei dos circuitos de Ampère aplicada ao contorno circular C1 de raio
r > a situado no plano perpendicular ao eixo do solenóide:
I I
B · dl = Bφ (r) r dφ = 2 π r Bφ (r) = 0 ,
C1 C1
onde se fez uso do facto de o campo ser independente de φ e de o fluxo de corrente através
da superfı́cie aberta que se apoia em C1 ser nulo. Pode concluir-se que Bφ = 0 em todo o
espaço, pois o resultado anterior é independente do raio r do contorno escolhido.
O campo B será, em princı́pio, da forma B = Bz (r)êz .
Vejamos agora o campo em pontos interiores, r < a. A equação local (2.40) escreve-se,
neste caso,
∂Bz
− êφ = 0,
∂r
20 •
Campo electromagnético
uma vez que as correntes se distribuem sobre a superfı́cie do solenóide; assim, o campo
no interior tem um valor constante Bz = C; usando exactamente os mesmos argumentos,
concluı́mos que Bz no exterior também tem de ser constante. Pela lei de Biot-Savart o
campo criado num ponto infinitamente afastado do eixo do solenóide (r → ∞) é nulo. Assim,
o campo de indução magnética é nulo em todo o espaço fora do solenóide: Bext → 0. A
expressão de B no interior é obtida usando a Eq. (2.45)
rotS B = êr × (0 − Cêz ) = Cêφ = µ0 κ = µ0 n i êφ , (2.49)
em que n = N/L designa o número de espiras por unidade de comprimento.
Podemos então escrever, para r < a,
B = µ0 n i êz ; (2.50)
e, para r > a,
B=0. (2.51)
i1
i2
e^ z
d e^ f
d l
e^ r
1
2
Vimos na Secção 2.2 como se relaciona o campo de indução magnética com as correntes
que o criam. E se o regime não for estacionário? E se houver dependências temporais nas
densidades de carga e de corrente? Neste caso há, para além de uma dependência espacial,
uma dependência temporal nos campos eléctrico e de indução magnética.
A lei de Faraday, por exemplo, refere-se a situações em que há uma dependência temporal
do fluxo do campo de indução magnética B através de uma superfı́cie aberta S:
Z
φ= B · dS . (2.54)
S
A variação temporal deste fluxo induz uma força electromotriz, Ei , num circuito fechado C
no qual se apoia a superfı́cie aberta S. Em termos quantitativos, essa força electromotriz é
dada por
dφ
Ei = − , (2.55)
dt
equação que exprime a lei de Faraday. O sinal negativo traduz a lei de Lenz, segundo a qual
a corrente induzida no circuito C vai, ela própria, estar na origem de um campo de indução
magnética (campo induzido) cujo fluxo, através de S, tem uma variação temporal que se opõe
à variação de φ. As leis de Faraday e de Lenz são, à semelhança das outras leis que temos
vindo a rever, puramente experimentais, isto é, a sua validade assenta na sua verificação
experimental.
A força electromotriz induzida pode ser escrita como a circulação do campo eléctrico ao
longo do contorno C, pelo que, de (2.54) e (2.55), se obtém
I Z
d
E · dl = − B · dS ,
C dt S
∂B
∇×E =− .
∂t
É esta equação de Maxwell que exprime a fı́sica que está na base do funcionamento de
componentes tão importantes como os geradores e os transformadores. Note-se que, no caso
estático, a equação anterior reduz-se à Eq. (2.10).
No caso não estacionário, também a Eq. (2.40) tem de ser modificada. Calculando a
divergência de ambos os membros desta equação vectorial, verifica-se que o primeiro se anula
22 •
Campo electromagnético
trivialmente.
O segundo membro fica, simplesmente, µ0 ∇ · j , que só se anula no caso estacionário [situação
que corresponde a (2.37)]. Assim, terá de se incluir no segundo membro de (2.40) um novo
termo cuja divergência seja o simétrico de µ0 ∇ · j . Maxwell verificou que esse termo era
²0 µ0 ∂ E /∂t. De facto, se em vez da Eq. (2.40) se considerar
∂E
∇ × B = µ0 j + ²0 µ0 , (2.56)
∂t
· ¸ · ¸
∂∇ · E ∂ρ
µ0 ∇ · j + ²0 = µ0 ∇ · j + = 0.
∂t ∂t
Claro que a Eq. (2.56) poderia ter sido obtida formalmente a partir de (2.31) e de (2.35).
ρ
∇·E = (2.57)
²0
∂B
∇×E = − (2.58)
∂t
∇·B = 0 (2.59)
∂E
∇ × B = µ0 j + ²0 µ0 . (2.60)
∂t
Equações de Maxwell •
23
B · dS = 0 (2.63)
S
I Z µ ¶
∂E
B · dl = µ0 j + ²0 · dS . (2.64)
C S ∂t
Faz-se notar que a equação integral (2.62) é mais geral do que a equação diferencial (2.58), a
qual só é aplicável quando B varia no tempo. Se a superfı́cie S variar no tempo, há ainda uma
variação temporal do fluxo do campo de indução magnética (mesmo que B seja estacionário)
e, neste caso,
é (2.62) que se deve aplicar.
Recorde-se, também, que quando uma carga eléctrica q se desloca, com velocidade v ,
numa região do espaço onde existem campos eléctrico e de indução magnética fica sujeita a
uma força (força de Lorentz), que é dada por
F = q (E + v × B ) . (2.65)
+ E , B
F
P
-
V
Há um filamento F que, depois de aquecido, liberta electrões cuja velocidade, em geral
pequena, se pode aumentar estabelecendo uma diferença de potencial V entre P e F. A
24 •
Campo electromagnético
placa metálica P tem uma pequena abertura que permite colimar o feixe de electrões. Estes
entram a seguir numa região entre duas placas metálicas deflectoras indo, finalmente, embater
num écran fluorescente (a fluorescência do écran permite determinar visualmente o ponto de
impacto).
Na região entre as placas pode estabelecer-se um campo eléctrico, de intensidade E (con-
trolável externamente) que aponta para baixo, e um campo de indução magnética de intensi-
dade B (também controlada externamente) e que aponta para dentro do plano do papel. Sob
a acção do campo eléctrico, o feixe de electrões sofre um desvio na sua trajectória, devido à
força vertical, dirigida para cima, que sobre eles se exerce, passando a descrever uma parábola
(no plano da Figura 2.11). O campo de indução magnética, quando presente, exerce uma
força sobre os electrões que é ainda vertical mas que aponta para baixo. As intensidades E
e B dos campos podem ser escolhidas de modo a que a força resultante que se exerce sobre
cada electrão seja nula (despreza-se a força de interacção mútua entre os electrões do feixe e
a força gravı́tica). Nestas condições a trajectória das partı́culas passa de novo a ser rectilı́nea
[Figuras 2.10 e 2.11)].
y
y
L E E B
x
(a ) (b ) (c )
1 2 e E L2
y= at = . (2.66)
2 2 m v02
j = σE.
h E
v
j
0
y
x B
Sob a acção do campo eléctrico, as cargas negativas (electrões) deslocam-se para a es-
querda do condutor2 . Consideremos que se aplica um campo de indução magnética estático
e uniforme segundo o eixo x. Sob a acção deste campo, os electrões ficam sujeitos à força
magnética Fm = q v × B , que aponta no sentido de −z (note-se que q = −e < 0). Devido a
esta força, as partı́culas de carga negativa são desviadas para baixo, contribuindo para uma
acumulação de cargas deste tipo na face inferior do condutor (plano xy). Concomitantemente,
há uma acumulação de cargas positivas na face superior (plano z = h) do condutor. Estas
acumulações de cargas dão origem a uma diferença de potencial entre as duas faces (diferença
de potencial de Hall), e o correspondente campo eléctrico é vertical, apontando no sentido
de −z. Sob a acção deste campo, que vamos designar por E 0 = −E 0 k̂, as cargas eléctricas
no condutor ficam também sujeitas a uma força vertical, dirigida de baixo para cima, que
2
O efeito de uma corrente de cargas negativas é equivalente, muitas vezes, ao de uma corrente de cargas
positivas deslocando-se em sentido oposto. O efeito Hall, como veremos, permite distinguir as duas situações.
26 •
Campo electromagnético
tende a equilibrar a força magnética. Este é o chamado efeito Hall, descoberto em 1879 pelo
norte-americano Edwin H. Hall. Quando as forças eléctrica e magnética se igualam, tem-se,
da Eq. (2.65),
E0 = v B . (2.68)
O campo eléctrico pode ser medido experimentalmente, de forma indirecta através da
diferença de potencial de Hall, V , pois E 0 = V /h.
Sabemos hoje que, nos metais, a corrente eléctrica é devida aos electrões, pelo que a face
superior do condutor fica a um potencial mais elevado do que a face inferior. Se as cargas
em movimento que estão na origem da corrente eléctrica fossem positivas, ter-se-ia a situação
contrária. De resto, é este o caso em alguns semicondutores e foi justamente o efeito Hall que
permitiu chegar a essa conclusão.
Combinando as expressões (2.68) e (2.67), podemos escrever
E0 1
= , (2.69)
jB nq
tendo-se usado ρ = n q, em que n é o número de cargas por unidade de volume do material
condutor. A razão 1/(n q) é conhecida por coeficiente de Hall e é uma caracterı́stica do
material.
Conhecidos j (a corrente), B (o campo de indução magnética aplicado) e E 0 (através
da diferença de potencial medida), pode conhecer-se a estrutura do material, ou seja, o seu
coeficiente de Hall. Por outro lado, conhecidos j, E 0 e o coeficiente de Hall, a expressão (2.69)
permite conhecer o campo de indução magnética B. É esta, precisamente, a função de uma
“sonda de Hall”, que pode ter dimensões muito reduzidas. Claro que, antes de ser utilizada,
a sonda tem de ser “calibrada” com campos de indução magnética conhecidos, isto é, o seu
coeficiente de Hall tem de ser conhecido.
A equação de Maxwell (2.58) implica a generalização da Eq. (2.9), que relaciona o potencial
escalar com o campo eléctrico no caso estático. Assim, usando (2.29) no segundo membro da
Eq. (2.58), conclui-se que é a quantidade E + ∂ A/∂t (e não apenas o campo eléctrico) que
se pode exprimir como o gradiente de uma função escalar, isto é,
∂A
E = −∇V − , (2.70)
∂t
A a contribuição não conservativa para E . A equação anterior, a par da Eq. (2.29)
sendo − ∂∂t
que aqui reescrevemos,
B = ∇ × A, (2.71)
permitem determinar os campos fı́sicos E e B a partir dos potenciais V e A. Surge aqui
um ponto muito interessante. Constata-se que a escolha destes potenciais não é única, isto
é, há vários conjuntos de pares de potenciais (escalar e vector) que conduzem aos mesmos
campos eléctrico e de indução magnética. Considere-se o par (V, A), a que correspondem
os campos fı́sicos obtidos a partir de (2.70) e de (2.71). Se alterarmos V e A, juntando ao
segundo o gradiente de uma função escalar χ e subtraindo ao primeiro a derivada temporal
dessa mesma função, isto é, se considerarmos os novos potenciais (V 0 , A0 ) que se relacionam
com os anteriores através de
∂χ
V0 =V − (2.72)
∂t
Equações de Maxwell •
27
A0 = A + ∇χ, (2.73)
os campos E 0 e B 0 gerados pelos novos potenciais coincidem com os anteriores:
µ ¶
∂χ ∂A ∂
E 0 = −∇V + ∇ − − ∇χ = E
∂t ∂t ∂t
B 0 = ∇ × (A + ∇χ) = ∇ × A = B .
As Eqs. (2.72) e (2.73) expressam a chamada liberdade de padrão (gauge, em inglês) na
fixação dos potenciais. Esta liberdade é, de resto, uma das caracterı́sticas mais peculiares
da teoria do electromagnetismo e corresponde a uma das mais importantes simetrias que as
modernas teorias das forças fundamentais incorporam. Até se designam habitualmente por
teorias de gauge!
Vejamos quais as equações a que os potenciais electromagnéticos têm de obedecer. A
equação para o potencial V obtém-se aplicando o operador nabla a ambos os membros de
(2.70) e usando a Eq. (2.57):
∂A ρ
−∇2 V − ∇ · = . (2.74)
∂t ²0
Por outro lado, de (2.35) e de (2.60) conclui-se que
1 ∂2A 1 ∂V
∇(∇ · A) − ∇2 A = µ0 j − − 2∇ , (2.75)
c2 ∂t2 c ∂t
tendo-se utilizado (2.70) e onde
1
c2 = (2.76)
²0 µ0
é o quadrado da velocidade da luz (c = 3×108 m/s). À Eq. (2.75) pode ainda dar-se uma
outra forma: µ ¶
1 ∂2A 2 1 ∂V
− ∇ A = µ0 j − ∇ + ∇ · A . (2.77)
c2 ∂t2 c2 ∂t
Usando a liberdade de escolha do padrão, é sempre possı́vel escolher um par (V, A) que
satisfaça a equação
1 ∂V
+ ∇ · A = 0. (2.78)
c2 ∂t
Este é o chamado padrão de Lorentz. Nestas condições [frisamos bem que a condição (2.78)
não introduz nenhuma restrição na determinação dos campos E e B ] as Eqs. (2.74) e (2.77)
ficam desacopladas, passando a escrever-se nas formas
1 ∂2V ρ
∇2 V − 2 2
=− (2.79)
c ∂t ²0
1 ∂2A
∇2 A − = −µ0 j . (2.80)
c2 ∂t2
Há outras escolhas de padrão que também são habituais. Uma delas consiste em considerar
simplesmente ∇ · A = 0 e é denominada gauge de Coulomb, da radiação, ou transversa.
As Eqs. (2.79) e (2.80), obtidas na gauge de Lorentz, reduzem-se, no caso do vazio e na
ausência de fontes (ρ = 0, j = 0), a um par de equações diferenciais homogéneas,
1 ∂2V
∇2 V − =0 (2.81)
c2 ∂t2
28 •
Campo electromagnético
1 ∂2A
∇2 A − = 0, (2.82)
c2 ∂t2
cujas soluções são ondas que se propagam com velocidade c.
Também os campos E e B obedecem a equações de onda semelhantes a estas. Assim,
tomando o rotacional em ambos os membros de (2.58) e usando (2.60) e (B.41), tem-se
∂j ∂2E
∇(∇ · E ) − ∇2 E = −µ0 − µ0 ²0 2 .
∂t ∂t
Finalmente, fazendo uso de (2.57) e de (2.76), obtém-se
1 ∂2E 1 ∂j
∇2 E − 2 2
= ∇ ρ + µ0 , (2.83)
c ∂t ²0 ∂t
que é uma equação não homogénea. De modo análogo, tem-se, para o campo de indução
magnética,
1 ∂2B
∇2 B − 2 = −µ0 ∇ × j . (2.84)
c ∂t2
Na ausência de cargas e de correntes, as Eqs. (2.83) e (2.84) transformam-se em equações
homogéneas do tipo da Eq. (2.82).
Resposta
Para que E seja um campo electrostático tem de se verificar ∇ × E = 0 [cf. Eq. (2.10)].
O rotacional do campo eléctrico em coordenadas cartesianas é (ver Apêndice B):
µ ¶ µ ¶ µ ¶
∂Ez ∂Ey ∂Ex ∂Ez ∂Ey ∂Ex
∇×E = − î + − ĵ + − k̂ .
∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y
Sendo o campo vectorial dado em (2.85) da forma E = Ey (y) ĵ em todo o espaço, o seu
rotacional é nulo e pode, pois, tratar-se de um campo electrostático.
Equações de Maxwell •
29
tendo-se escolhido n̂ = ĵ .
ii) Carga superficial em y = a (escolhendo também n̂ = ĵ ):
µ ¶
k 6k
σ = ²0 ĵ · ĵ − ĵ = −5k .
²0 ²0
Determinar a distribuição de cargas que cria este campo e o potencial eléctrico em todo o
espaço.
Resposta
A distribuição de carga é obtida a partir das expressões (2.14) e (2.42). Como o campo é
dado em coordenadas cilı́ndricas deve utilizar-se a expressão da divergência do campo eléctrico
em coordenadas cilı́ndricas (ver Apêndice B):
1∂ 1 ∂Eφ ∂Ez
∇·E = (r Er ) + + .
r ∂r r ∂φ ∂z
30 •
Campo electromagnético
Na questão proposta, E = Er (r)êr , pelo que a divergência do campo eléctrico é dada por
µ ¶
1d 1d E0 4 4r2
∇·E = (r Er ) = r = E0 ,
r dr r dr a3 a3
donde
r2
ρ = 4²0
E0 (2.86)
a3
na região 0 < r < a. Na região r > a o campo é nulo e ρ = 0.
A distribuição volumétrica de carga localiza-se num cilindro de raio a. A distribuição
superficial de carga sobre a superfı́cie r = a é obtida a partir da divergência superficial do
campo eléctrico dada por
σ = −²0 E0 . (2.87)
É interessante notar que as distribuições de carga (2.86) e (2.87) conduzem a uma carga
total nula para um cilindro de altura arbitrária L. A carga total nesse cilindro é
Z Z
Q= ρ dv + σ dS
e, de (2.86) e (2.87),
a Z
4²0 E0
Q = 2πL r2 r dr − 2πaL²0 E0
a3 0
= 2πaL²0 E0 − 2πaL²0 E0 = 0 .
Vamos agora obter o potencial electrostático, o qual, devido à simetria cilı́ndrica do prob-
lema, só pode depender de r. Para r > a o campo electrostático é nulo, pelo que o potencial
é constante nessa região. Para garantir que V (r → ∞) = 0 e, como o potencial é constante
no exterior, devemos considerar o potencial nulo em r = a. Na região exterior ao cilindro,
V (r) = 0 , r ≥ a.
Para garantir que V (a) = 0 terá de ser V (0) = E0 a/4. Introduzindo este valor na expressão
anterior obtém-se o potencial
" µ ¶4 #
E0 a r
V (r) = 1− , r ≤ a.
4 a
Equações de Maxwell •
31
ρ = A exp(−αr) ,
onde A e α são constantes. Calcular o campo eléctrico em todo o espaço em função dos raios
dos cilindros interno e externo, a e b respectivamente.
Resposta
Dada a simetria da distribuição de cargas, o campo eléctrico não depende de φ, nem de z.
Também, pela mesma razão, tem apenas componente radial, E (r ) = Er (r) êr . Designaremos
Er simplesmente por E. O método mais expedito para calcular o campo eléctrico em todo o
espaço consiste em aplicar a lei de Gauss expressa pela Eq. (2.13), que aqui reescrevemos:
I
Q
E · dS = , (2.88)
S ²0
C 3
C 2
a
C 1
A Figura 2.13 mostra um corte por um plano perpendicular ao eixo de simetria, sendo
C1 , C2 e C3 as circunferências que resultam da intersecção desse plano com as superfı́cies
de Gauss, S1 , S2 e S3 . Seja r o raio de uma qualquer dessas circunferências Ci . O fluxo do
campo eléctrico [ver Eq. (2.88)] é
I
E · dS = 2πrLE . (2.89)
S
32 •
Campo electromagnético
E=0 (2.90)
nessa região.
• Região r > b
Segue-se um procedimento análogo, mas neste caso a integração na coordenada radial
para determinar a carga [Eq. (2.91)] vai de a até b. Encontra-se para o campo elec-
trostático uma expressão parecida com (2.92), mas agora com uma dependência mais
simples em r: ·µ ¶ µ ¶ ¸
A 1 −αa 1 −αb
E= a+ e − b+ e . (2.93)
²0 rα α α
Esta dependência em 1/r é tı́pica da linha infinita carregada (ou do campo criado no
exterior por qualquer distribuição infinita de carga com simetria cilı́ndrica).
É interessante confirmar que o campo eléctrico é contı́nuo, pois não há distribuições su-
perficiais de carga. Sobre a superfı́cie r = a obtém-se E = 0 de (2.92) [cf. Eq. (2.90)]. Por
outro lado, sobre a superfı́cie r = b, as Eqs. (2.92) e (2.93) conduzem ao mesmo valor para
o campo eléctrico.
2A cos θ
Er =
r3
A sin θ
Eθ =
r3
Eφ = 0,
Resposta
De acordo com (2.14), ρ = ²0 ∇ · E , de modo que o problema se reduz à determinação
da divergência do campo vectorial dado. Convém, evidentemente, utilizar a expressão da
divergência do campo eléctrico em coordenadas esféricas (ver Apêndice B):
1 ∂ 2 1 ∂ 1 ∂Eφ
∇·E = 2
(r Er ) + (Eθ sin θ) + .
r ∂r r sin θ ∂θ r sin θ ∂φ
O campo dado não depende de φ, pelo que a última parcela é nula. As duas primeiras
parcelas são µ ¶
1 ∂ 2 2A cos θ 1 2A cos θ
2
(r Er ) = 2
− 2 =−
r ∂r r r r4
e
1 ∂ 1 2A sin θ cos θ 2A cos θ
(Eθ sin θ) = 3
= ,
r sin θ ∂θ r sin θ r r4
donde
ρ=0
em todos os pontos da região considerada.
Resposta
No Exemplo 2.2 foi obtido o campo eléctrico criado por esta distribuição de cargas [ver
Eqs. (2.19) e (2.20)]:
1 Q
E= êr (r ≥ R) , (2.94)
4π²0 r2
e
1 Qr
E= êr (r ≤ R) . (2.95)
4π²0 R3
O potencial electrostático, que só depende da coordenada radial, pode ser calculado a
partir da circulação do campo eléctrico tal como no Problema 2.6.2. O potencial vem dado
por
Q
V (r) = (r ≥ R) (2.96)
4π²0 r
" µ ¶2 #
Q r
V (r) = 3− (r ≤ R) . (2.97)
8π²0 R R
O termo constante nesta última expressão garante a continuidade do potencial sobre a su-
perfı́cie r = R. Note-se que foi feita a escolha usual, limr→∞ V (r) = 0. Usando a relação
∇V = −E
e tomando a expressão do gradiente em coordenadas esféricas (Apêndice B) pode o leitor
confirmar que as expressões obtidas para o potencial são consistentes com as indicadas para
o campo eléctrico [Eqs. (2.94) e (2.95)].
34 •
Campo electromagnético
Resposta
Considere-se que o plano de correntes é o plano xy e, portanto, que o eixo z é perpendicular
a esse plano. Seja κ = κ ĵ a densidade superficial de corrente. O campo de indução magnética
não pode depender nem de x nem de y, pois a distribuição de correntes é infinita segundo
essas direcções. Eventualmente, poderá depender de z, ou seja, da distância ao plano. Assim,
k 2
x
k 1
d B
d B 1
d B 2
P
z
B = Bx (z) î .
Equações de Maxwell •
35
C
B
D
L
A z
κ µ0
B = − î para z < 0
2
κ µ0
B = î para z > 0 .
2
36 •
Campo electromagnético
Resposta
∇ × B = µ0 j . (2.100)
B j
j
a /2
B j
y
a /2 B
D n ^
C
x
A B B
- a /2
P
B
2
P 1
y
P 3
B
a /2
D C
x
A B
y. Por outro lado, só pode depender da coordenada x (a distribuição é infinita segundo y e
segundo z). Para B = By (x) ĵ a Eq. (2.100) escreve-se então
∂
∇ × B = k̂ By = µ0 j0 k̂ ,
∂x
donde
dBy
= µ0 j0 ,
dx
que integrada conduz a
By (x) = µ0 j0 x .
A constante que vem da integração da equação diferencial é nula, pois só assim se garante
que By (x = 0) = 0.
Em termos vectoriais
a a
B = µ0 j0 x ĵ , − ≤x≤ .
2 2
Para determinar o campo fora do domı́nio onde há correntes considere-se o contorno
ABCDA indicado nas figuras 2.16 e 2.17, e a equação integral correspondente à lei difer-
encial (2.100): I
B · dl = µ0 i , (2.101)
C
onde i é a corrente que flui através de uma superfı́cie que se apoia no contorno fechado
C. Fora da região onde há correntes o campo continua a ter a direcção de y, como se
pode comprovar utilizando os mesmos argumentos de simetria expressos acima (que são os
argumentos utilizados também no problema anterior). A circulação do campo de indução
magnética ao longo de ABCDA é nula, pois i = 0. Por outro lado, a circulação ao longo de
BC e de DA é zero, dado que o campo tem a direcção do eixo y e a circulação se faz ao longo
do eixo x. Deste modo, a circulação do campo ao longo do lado AB terá de ser simétrica
da circulação ao longo do lado CD. Como estes lados têm igual comprimento, o campo B
terá de ter o mesmo valor sobre cada um deles. Sendo arbitrária a distância a que cada um
38 •
Campo electromagnético
dos referidos segmentos se encontra do eixo y, podemos concluir que, fora da distribuição
volumétrica de correntes, o campo B não depende de y (em analogia com a situação do
problema anterior). Como não existe distribuição superficial de correntes, a componente
tangencial do campo de indução magnética (de resto, a única) não tem descontinuidade nos
planos x = ± a2 . Deste modo, o valor do campo nas regiões onde não há correntes é constante
e igual ao seu valor para x = ± a2 . Em resumo
a a
B = −µ0 j0 ĵ para x≤−
2 2
a a
B = µ0 j0 x ĵ para − ≤x≤
2 2
a a
B = µ0 j0 ĵ para x≥ .
2 2
Resposta
A densidade de corrente devida ao movimento de rotação é
j = ρ v = ρ ω × r = ρ ω r êφ . (2.102)
O campo B não pode depender de z, pois o cilindro é infinito. Também não pode depender
do ângulo φ, pois a distribuição de correntes não depende deste ângulo. Dadas estas restrições,
o campo B só pode ter a forma
dBz
∇×B =− êφ ,
dr
uma vez que não há dependência em φ. No interior
dBz
− = µ0 ρ ω r ,
dr
donde
1
Bz = − µ0 ρ ω r2 + C0 . (2.105)
2
No exterior,
dBz
− = 0,
dr
donde
Bz = C00 .
A constante C00 tem de ser nula para que o campo seja nulo no exterior, tal como se mostrou no
Exemplo 2.4. Por outro lado, não havendo distribuições superficiais de corrente, o rotacional
superficial do campo B é nulo:
1
C0 = µ0 ρ ω a2 .
2
Finalmente, o campo de indução magnética em todo o espaço é dado por
1
B = µ0 ρ ω (a2 − r2 ) êz r≤a
2
B = 0 r ≥ a.
Resposta
Devido ao movimento de rotação do cilindro, as cargas superficiais dão origem a correntes
superficiais, tendo-se
κ = σv.
A velocidade linear de rotação dos pontos da superfı́cie do cilindro relaciona-se com a veloci-
dade angular através de
v = ωa,
podendo escrever-se
κ = σ ω a êφ . (2.106)
Esta densidade superficial de correntes é aquela que se observa no caso de um solenóide.
Recordamos que, no caso do solenóide infinito (Exemplo 2.4), há uma densidade de corrente
superficial κ = n i êφ (n é o número de espiras por unidade de comprimento e i é a corrente)
que produz um campo de indução magnética nulo fora do solenóide e constante, igual a [cf.
Eq. (2.50)] B = µ0 n i êz (z é a direcção do eixo do solenóide), no interior. Fazendo a cor-
respondência ni → σ ω a, conclui-se que o campo produzido pelo cilindro que roda é nulo no
exterior do cilindro e no interior é constante e dado por
B = µ0 σ ω a êz . (2.107)
Formalmente, este resultado pode ser obtido a partir de (2.45) notando que (i) o campo
no exterior é nulo; (ii) no interior, junto à superfı́cie, o campo tem a direcção do eixo do
cilindro; (iii) sobre a superfı́cie lateral, n̂ = êr . Vem, então [ver (2.106)],
Resposta
Da relação entre o potencial vector e o campo de indução magnética, B = ∇ × A [cf. Eq.
(2.29)] obtemos, usando coordenadas cartesianas,
∂Az ∂Ay
− = 0
∂y ∂z
∂Ax ∂Az
− = 0
∂z ∂x
∂Ay ∂Ax
− = B0 .
∂x ∂y
O potencial A é ortogonal a B , pelo que não pode ter componente segundo o eixo z. Fazendo
nas equações anteriores Az = 0, verifica-se que elas são satisfeitas simultaneamente se Ax e
Ay não dependerem de z.
Têm-se, de entre muitas outras, as seguintes situações possı́veis:
Equações de Maxwell •
41
y y y
x x x
(a ) (b ) (c )
Este problema deixa clara a arbitrariedade que existe na determinação do potencial vector.
No caso considerado, esta arbitrariedade na obtenção de A reflecte a possibilidade de um
campo de indução magnética uniforme poder ser obtido numa dada região do espaço de
muitas maneiras.
De facto, o campo uniforme pode ser obtido, por exemplo, a partir de um plano de correntes
uniformes (ver Problema 2.6.6), correspondendo-lhe, neste caso, os diagramas (a) ou (b), tal
como pode ser criado por um solenóide muito longo em pontos do seu interior (Exemplo 2.4),
correspondendo, neste caso, à situação (c). A simetria de A reflecte, em cada caso, a simetria
das fontes que dão origem ao campo de indução magnética. A direcção de A é, em cada caso,
paralela à direcção das fontes.
Resposta
O potencial vector criado por uma corrente filamentar é [cf. (2.33)]
I
µ0 i dl
A= ,
4π C a
42 •
Campo electromagnético
onde C designa a linha percorrida pela corrente i, e a a distância desde um elemento de linha
d` até ao ponto onde se deseja obter o potencial. A integração faz-se sobre todos os elementos
de linha dl = d` t̂, sendo t̂ o versor tangente ao elemento de linha. No caso do solenóide, e
utilizando coordenadas cilı́ndricas, o potencial vector A tem a direcção do versor êφ .
d l1
i
d l2
Em qualquer ponto do eixo do solenóide (ver Figura 2.19) o potencial vector é nulo, pois
a contribuição de um elemento dl de uma qualquer espira do solenóide é anulada pela do
elemento diametralmente oposto da mesma espira. As linhas equipotenciais do potencial
vector são circunferências com centro no eixo do solenóide [ver problema anterior; ao campo
constante B no interior do solenóide correspondem as linhas equipotenciais representadas na
Figura 2.18 (c)].
Usando o teorema de Stokes e atendendo à relação entre o potencial vector e o campo de
indução magnética, B = ∇ × A, pode escrever-se
I Z Z
A · dl = ∇ × A · dS = B · dS . (2.108)
C S S
Nesta expressão, S designa uma superfı́cie que se apoia em C. O campo de indução magnética
no interior do solenóide é
B = µ0 n i êz
e no exterior é nulo. Aplicando a expressão (2.108) a um contorno circular com centro no
eixo do solenóide, obtém-se:
i) No interior do solenóide,
2πrA(r) = µ0 n i π r2 ,
donde
µ0 n i r
A(r) = ;
2
ii) no exterior do solenóide,
2πrA(r) = µ0 n i π a2 ,
Equações de Maxwell •
43
donde
µ0 n i a2
A(r) = .
2r
É curioso notar que, no exterior do solenóide, o potencial varia com r, apesar de o campo
de indução magnética ser nulo nessa região.
Questão
Resposta
O campo de indução magnética produzido pelo solenóide infinito é [ver (2.50) e (2.51)]
B = µ0 n i0 cos ωt êz
r<a
B=0 r > a,
A força electromotriz induzida na espira é dada pela lei de Faraday [Eq. (2.55)]
dφ
Ei = − = `2 µ0 n i0 ω sin ωt , (2.110)
dt
Ei `2 ω µ0 n i0
i0 (t) = = sin ωt .
R R
44 •
Campo electromagnético
a) Sabendo que o fio é percorrido por uma corrente de intensidade i, calcular o campo de
indução magnética no interior e no exterior do toróide;
b) Calcular o fluxo do campo de indução magnética que atravessa a área delimitada pela
espira ABCDA indicada na figura;
c) Se a intensidade da corrente variar com o tempo segundo i(t) = 2t, calcular a força
electromotriz induzida na espira ABCDA.
A B
b
a
D C
Resposta
Tal como no solenóide infinito, também aqui não há campo de indução magnética na
região exterior à superfı́cie onde há distribuição de correntes e, dada a simetria do sistema,
no interior do solenóide toroidal as linhas do campo são circunferências com centro no eixo
do toróide.
Vamos determinar, em primeiro lugar, a forma do campo de indução magnética B (r ). Seja
o eixo z o eixo de simetria do sistema. A face plana inferior do toróide está no plano z = 0 e
a face plana superior no plano z = L. O campo de indução magnética não pode depender do
ângulo azimutal φ, pois há simetria axial em torno de z. Dado um ponto qualquer, considere-
se o plano vertical que passa por esse ponto e pelo eixo z. Esse plano divide o toróide em duas
partes. As correntes nas faces cilı́ndricas do toróide são paralelas ao eixo z e, por isso, pro-
duzem no ponto considerado um campo de indução magnética sem componente z. Por outro
Equações de Maxwell •
45
lado, as correntes horizontais nas faces superior e inferior já podem, em princı́pio, produzir
componentes Bz . Considerando uma face plana de cada vez, as correntes horizontais de um
dos lados do plano vertical acima referido produzem um campo de indução magnética cuja
componente vertical é exactamente anulada pela componente vertical do campo produzido
pelas correntes dispostas simetricamente do outro lado do plano. Pode pois concluir-se que
Bz = 0 e, consequentemente, em qualquer ponto do espaço, B (r ) = Br (r, z) êr + Bφ (r, z) êφ .
Esta expressão vai simplificar-se ainda mais, como veremos de seguida.
O campo de indução magnética obedece à equação ∇ · B = 0. Em coordenadas cilı́ndricas,
e não havendo dependência em φ, esta equação reduz-se a
1∂
(r Br ) = 0 ,
r ∂r
de onde se obtém
C
Br =.
r
Para r = 0 (eixo do toróide), o campo tem de permanecer finito, pelo que C = 0. Contudo,
Br = 0 não só para r < a, mas também para a ≤ r ≤ b e r ≥ b, pois a componente normal do
campo tem de ser contı́nua nas superfı́cies cilı́ndricas do toróide. Evidentemente que, para
z < 0 e z > L, também Br = 0. O campo de indução magnética tem agora a forma mais
restrita B (r ) = Bφ (r, z) êφ e as linhas de campo são circunferências com centro em pontos
do eixo z.
Vamos mostrar que, no interior do solenóide, não pode haver dependência do campo na
variável z. Considere-se o contorno MNOPM totalmente dentro do solenóide, sendo MN e
OP arcos de circunferência, de raio r, comprimento `1 e com centro no eixo z; NO e PM são
segmentos de recta verticais de comprimento arbitrário `2 (ver Figura 2.21).
N M
O
P
A circulação do campo B ao longo do trajecto MNOPM é nula, pois não há fluxo de
corrente através, por exemplo, da superfı́cie cilı́ndrica delimitada por aquele contorno. Mas
a circulação de B é igual à soma das seguintes contribuições: 1) circulação em MN que é
simplesmente B`1 , sendo B o valor do campo em cada um dos pontos do arco da circunferência
considerada (recorda-se que B = Bφ (r, z) êφ ); 2) circulação nos segmentos NO e PM, a qual
é nula, pois o campo é sempre perpendicular à direcção da circulação; 3) circulação em OP,
46 •
Campo electromagnético
que é dada por −B 0 `1 , sendo B 0 o valor do campo de indução magnética em cada um dos
pontos do arco de circunferência. O sinal negativo indica que, apesar de o campo ter aqui
a mesma direcção que no trajecto MN, o sentido da circulação é agora o oposto. Daqui se
conclui que B = B 0 e, portanto, o campo não depende da coordenada z. O mesmo raciocı́nio
pode ser aplicado a um contorno cilı́ndrico do tipo do considerado mas totalmente fora do
toróide para se concluir que, em todo o espaço,
B = Bφ (r) êφ .
a) Consideremos uma das linhas do campo, uma circunferência de raio arbitrário r (a <
r < b), que vamos designar por C, e apliquemos a lei de Ampère [cf. Eq. (2.41)]
I
B · dl = µ0 itotal (2.111)
C
onde itotal é toda a corrente que flui através da superfı́cie que se apoia no contorno circu-
lar C. Todas as espiras do toróide intersectam perpendicularmente o cı́rculo delimitado
por C — ver Figura 2.22 —, pelo que a corrente total que flui através dessa superfı́cie
é
itotal = N i .
µ0 N i
B (r) = − êφ a < r < b,
2πr
expressão que é válida no interior do solenóide. Fora do solenóide B só poderá depender
de r como atrás se concluiu. Aplicando de novo a lei de Ampère e considerando uma
circunferência de raio r < a ou r > b, o primeiro membro da Eq. (2.111) fica, do mesmo
modo, 2πrB(r), mas o segundo membro anula-se. Conclui-se, então, que o campo é
nulo.
Equações de Maxwell •
47
A B
a
B L
D C
b) Considere-se a Figura 2.23, onde se representa a espira ABCDA da Figura 2.20. Indica-
se o campo de indução magnética que só existe no interior do solenóide e é perpendicular
ao plano da espira ABCDA (recorda-se que AD está sobre o eixo do toróide). O fluxo
de B através da espira reduz-se ao fluxo através da área L×(b − a). Esse fluxo é dado
por
Z Z
φ = B · dS = − B dS
S S
Z b µ ¶
µ0 N iL dr µ0 N iL b
= − =− ln .
2π a r 2π a
c) A força electromotriz induzida é dada pela expressão (2.55). Tendo-se i = 2t, vem
µ ¶
µ0 N L b
Ei = ln .
π a
2.6.14 Anel em campo de indução magnética variável
Questão
Um anel condutor de raio a encontra-se numa região onde existe um campo de indução
magnética uniforme perpendicular ao plano do anel e que varia com o tempo segundo a
expressão B(t) = βt. Determinar a intensidade do campo eléctrico induzido no anel. Calcular
o seu valor quando a = 5 cm e β = 0, 1 Wb m−2 s−1 .
Resposta
A força electromotriz induzida no anel é dada pela expressão (2.55). Por outro lado, o
fluxo do campo de indução magnética através do cı́rculo (de área S = πa2 ) delimitado pelo
anel é Z
φ= B · dS = πa2 B .
S
A força electromotriz induzida é pois3
dφ
εi = − = −πa2 β . (2.112)
dt
3
Representamos a força electromotriz induzida por εi , ao contrário da notação Ei recomendada pelas normas
em vigor, para que se não confunda com o campo eléctrico, E.
48 •
Campo electromagnético
O módulo do campo eléctrico induzido obtém-se facilmente das duas expressões anteriores:
1
|E| = aβ .
2
Os sentidos de B e de E são os indicados na Figura 2.24.
B
B
E a
2.6.15 Ciclotrão
Questão
A Figura 2.25 representa esquematicamente um ciclotrão, que é um dispositivo que permite
aumentar a energia cinética de cargas eléctricas recorrendo à acção combinada de campos
eléctricos e de indução magnética. O ciclotrão é formado por duas cavidades semicilı́ndricas,
ligeiramente afastadas, nas quais está presente um campo de indução magnética estático e
uniforme com a direcção do eixo do cilindro. Na fenda entre as partes semicilı́ndricas aplica-se
uma diferença de potencial alternada. Seja R o raio do ciclotrão e B a intensidade do campo
de indução magnética aplicado.
Obter a energia cinética máxima que uma partı́cula de massa m e carga q pode adquirir
neste acelerador.
Resposta
Vamos analisar este problema sabendo que no interior das cavidades semicilı́ndricas o
campo eléctrico é nulo e, na fenda entre as cavidades, é nulo o campo de indução magnética.
Quando uma partı́cula carregada é ejectada na fenda entre as cavidades fica sujeita a uma
diferença de potencial que, dependendo do sinal da sua carga, a obriga a deslocar-se para
uma das cavidades semicilı́ndricas, onde penetra com uma certa velocidade v0 , que vamos
Equações de Maxwell •
49
E
B
v2
qBv = m ,
r
donde se obtém o raio da trajectória:
mv
r= . (2.113)
qB
50 •
Campo electromagnético
O perı́odo do movimento,
2πr 2πm
tciclo = = ,
v qB
não depende nem do raio nem da velocidade, mas apenas da razão entre eles, o que constitui
um resultado notável4 . Assim, as trajectórias semicirculares que as cargas descrevem no
ciclotrão demoram todas o mesmo tempo, independentemente do seu raio e da velocidade
da partı́cula. É este resultado que permite uma fácil sincronização do potencial alternado
aplicado: basta utilizar um gerador de tensão alternada de frequência 1/tciclo .
A energia cinética da partı́cula é
1
T = mv 2 .
2
Resolvendo (2.113) em ordem a v, substituindo na expressão anterior e fazendo r = R (o
valor máximo do raio das trajectórias semicirculares é o raio do ciclotrão), obtém-se para a
energia cinética máxima
q 2 R2 B 2 m 2 2
Tmax = = ω R ,
2m 2 c
onde
2π qB
ωc = =
tciclo m
é a frequência do ciclotrão.
2.6.16 Magnetrão
Questão
Considerar dois cilindros condutores coaxiais, o interior com raio a e o exterior com a
superfı́cie interior de raio b, como mostra a Figura 2.26. Estabelece-se uma diferença de
potencial entre os dois cilindros, ficando o exterior a um potencial positivo, V , relativamente
ao interior, e aplica-se um campo de indução magnética, B , estático e uniforme, paralelo ao
eixo do cilindro e dirigido para fora do plano da figura. Este dispositivo chama-se magnetrão.
Estuda-se a dinâmica de electrões, de massa m e carga −e, que saem da superfı́cie do
cilindro interior (superfı́cie aquecida).
b) Considerar agora que V = 0, mas que há campo de indução magnética aplicado e que
um electrão parte na direcção radial com velocidade inicial v0 . Para campos de indução
magnética com valor superior a um certo valor crı́tico Bc , o electrão não atinge o cilindro
exterior (ânodo). Representar esquematicamente a trajectória do electrão quando B é
ligeiramente superior a Bc e determinar este valor crı́tico;
Na parte restante deste exercı́cio considerar que tanto o potencial V como o campo uni-
forme B estão presentes.
4
Este resultado é válido quando a velocidade das partı́culas for muito menor do que a velocidade da luz.
Equações de Maxwell •
51
b
a
d) Considerar que um electrão libertado do cilindro interior com velocidade desprezável não
atinge o cilindro exterior. Seja rm a distância máxima ao eixo do cilindro. Determinar,
em função de rm , a sua velocidade v no ponto onde a distância radial é máxima;
Resposta
a) Quando o electrão é libertado a sua energia é apenas potencial. Quando atinge o cilindro
exterior a sua energia é apenas cinética. A conservação da energia permite escrever
1
m v2 = e V ,
2
donde s
2 eV
v= . (2.114)
m
52 •
Campo electromagnético
m c2
q − m c2 = e V ,
v2
1− c2
donde s
µ ¶2
m c2
v=c 1− ;
m c2 + e V
b) Quando V = 0, o electrão fica sujeito apenas ao campo B e a força que sobre ele
se exerce, que é perpendicular ao campo e à sua velocidade, obriga-o a descrever um
movimento circular uniforme. A trajectória é o arco de circunferência representado na
Figura 2.27. Como a força de Lorentz é a força centrı́peta, o raio da órbita, R, obtém-se
da seguinte igualdade:
m v02
e B v0 = . (2.115)
R
a
R
b -R R
A
√ Figura 2.27 mostra que, na situação crı́tica, o raio da trajectória satisfaz a relação
a2 + R2 = b − R , da qual se obtém a expressão de R:
b2 − a2
R= .
2b
2 b m v0
Bc = .
(b2 − a2 ) e
dL dr
M= = r Fφ = e B r
dt dt
ou ainda à !
d e B r2
L− = 0.
dt 2
Desta expressão pode concluir-se que a quantidade entre parêntesis é uma constante do
movimento:
1
L − e B r2 = C . (2.116)
2
O parâmetro k referido no enunciado é, portanto, 12 ;
1 1
− e B a2 = m v rm − e B rm
2
2 2
e, portanto,
2 − a2 )
e B (rm
v= ; (2.117)
2 m rm
Por outro lado, pode aplicar-se à presente situação a Eq. (2.116), tendo em conta que
a grandeza L que entra nessa expressão é o momento angular na direcção do eixo dos
cilindros (ou seja, a componente vB da velocidade não contribui para L dessa expressão).
Considerando pontos à superfı́cie dos dois cilindros tem-se
1 1
m vφ a − e Bc00 a2 = m vb − e Bc00 b2 .
2 2
O campo crı́tico é, pois,
2 m (v b − vφ a)
Bc00 = ,
e (b2 − a2 )
ou ainda, utilizando (2.120),
s
2mb 2eV vφ a
Bc00 = 2 2
v2 + v2 +
r φ − .
e (b − a ) m b
56 •
Campo electromagnético
CAPÍTULO 3
ENERGIA ELECTROSTÁTICA
Na primeira parte deste capı́tulo aborda-se o problema da determinação da energia elec-
trostática associada a uma distribuição estática de cargas. Na segunda parte considera-se o
problema das forças eléctricas em condutores.
Consideremos um conjunto de cargas eléctricas pontuais fixas (não importa como!) numa
certa região do espaço. Pretende-se saber qual é a energia (potencial electrostática) “ar-
mazenada” num tal sistema fı́sico. Conceptualmente, a questão é bem simples: a energia é
igual ao trabalho que é necessário realizar por um agente externo, por exemplo pela força ex-
terior Fext , para construir a referida distribuição, trazendo as cargas do infinito. Para trazer
uma primeira carga q não é necessário realizar qualquer trabalho: a energia electrostática de
uma só carga pontual ou auto-energia ou energia própria considera-se nula1 . Traz-se agora
do infinito uma segunda carga q 0 à presença de q, deixando-a, no final, a uma distância a
desta. A força eléctrica a que q 0 fica sujeita é dada por [ver (2.2)]
F = q0E ,
sendo E o campo eléctrico criado por q no ponto em que q 0 se encontra. Ora, a força cujo tra-
balho importa considerar para a obtenção da energia electrostática é a simétrica desta, Fext =
−F .
O trabalho realizado pela força externa é dado por
Z a Z a µ ¯
qq 0 1 qq 0 1 ¯a qq 0
Wext = Fext · dl = − 2
dr = − − ¯¯ = .
∞ 4π²0 ∞ r 4π²0 r ∞ 4π²0 a
1
Dizemos “considera-se” porque, embora isso possa parecer paradoxal, a teoria clássica do electromag-
netismo prevê uma auto-energia que até é infinita! Veremos este ponto mais à frente nesta mesma secção. Na
verdade, sempre que se fala em energia electrostática de uma distribuição de cargas pontuais excluem-se todas
as auto-energias.
58 •
Campo electromagnético
Este trabalho é igual à energia (electrostática) armazenada no sistema. Numa outra per-
spectiva, pode afirmar-se que esta energia é afinal o trabalho realizado pela força do campo
quando se “desfaz” a distribuição, ou seja2 ,
Z ∞ Z ∞
q q0 1 qq 0
U =W = F · dl = 2
dr = .
a 4 π ²0 a r 4 π ²0 a
Se tivermos mais de duas cargas, é conveniente considerar para cada par de cargas qi e qj
a energia respectiva:
qi qj
Uij = ,
4π²0 rij
onde rij =| ri − rj |, sendo ri e rj respectivamente os vectores posicionais de cada uma das
cargas. Usando a nova notação, a energia associada às cargas 1 e 2 é, pois, U21 = U12 . Se
transportarmos agora uma terceira carga q3 do infinito para junto das outras duas, colocando-
a a uma distância r31 de q1 e r32 de q2 , o trabalho que é necessário realizar é
q3 q1 q3 q2
+ = U (3)
4 π ²0 r13 4 π ²0 r23
e a energia total do sistema é esta mais U (2) = U21 . Para trazer a carga N à presença das
restantes N − 1 tem de se realizar um trabalho que vai ser igual à variação da energia do
sistema:
N
X −1
U (N ) = UN i .
i=1
ou, ainda,
X X N N
1 X X qi qj
U= Uij = Uij = . (3.1)
todos os pares i<j
2 i=1 j=1,j6=i
4 π ²0 rij
O factor 12 é incluı́do para que se não conte duas vezes o mesmo par.
Se notarmos que o potencial que a carga qi (localizada em ri ) sente, devido à presença
das outras cargas, é dado por
N
X qj
V (ri ) = ,
j=1, j6=i
4 π ²0 rij
de modo análogo, para uma distribuição superficial de carga, descrita pela densidade σ na
superfı́cie S, Z
1
Ue = σ(r ) V (r ) dS ; (3.4)
2 S
e para uma distribuição linear de carga, descrita pela densidade linear λ na linha C,
Z
1
Ue = λ(r ) V (r ) d` .
2 C
Na verdade, os integrais anteriores podem estender-se a todo o espaço, pois nas regiões onde
não há cargas as densidades são nulas e, portanto, a função integranda é nula. Se for Ue (1)
a energia de uma certa distribuição e Ue (2) a de outra distribuição das mesmas cargas, a
energia que é necessário fornecer para alterar a configuração 1 para a configuração 2 é igual
à variação da energia do sistema:
Se esta energia for positiva, foi necessário fornecer energia ao sistema (sob a forma de tra-
balho). No caso contrário, o sistema adquiriu uma maior estabilidade (diminuiu a sua energia
potencial electrostática) e, portanto, o trabalho das forças externas foi negativo.
Consideremos uma situação concreta para melhor ilustrar a forma como se calcula a energia
de uma distribuição de cargas.
hipótese da existência de cargas pontuais. Uma maneira de resolver o problema seria dizer
que não há efectivamente cargas pontuais; mesmo o electrão deve ser extenso (embora, e até
distâncias da ordem de 10−16 m, não haja indicação experimental de uma estrutura para o
electrão, tal como há, e muito clara, para o protão). Pode ainda admitir-se que a teoria falha
para distâncias muito pequenas (talvez não haja, por exemplo, conservação local de energia).
Ambos os pontos de vista apresentam dificuldades e, na realidade, a questão suscitada não
tem uma resposta cabal.
Num condutor carregado em equilı́brio electrostático a carga distribui-se sobre a sua su-
perfı́cie. Designemos por dq = σ dS um elemento dessa carga e vejamos qual a força a que
ele fica sujeito devido à presença das restantes cargas. Na situação de equilı́brio essa força
resultante não poderá ter componente tangencial pois, se assim fosse, haveria movimento da
carga sobre a superfı́cie. Quer dizer, para um condutor em equilı́brio electrostático a força
sobre cada elemento de carga só tem componente perpendicular à superfı́cie do condutor.
Designemos por E o campo criado por toda a carga do condutor, incluindo a carga elemen-
tar dq. Note-se que a força exercida sobre dq não é E dq. O campo que importa considerar
(o que actua em dq) é devido à distribuição de carga do sistema excluindo dq.
d S
que é simplesmente EdS. Substituindo o lado esquerdo da Eq. (3.12) por este valor obtém-se
para a grandeza do campo eléctrico à superfı́cie do condutor criado por toda a carga
σ
E= . (3.13)
²0
Mas qual é a contribuição da carga elementar dq para o campo eléctrico total? Designemos
por E0 o campo criado pela carga elementar dq. A lei de Gauss pode ser aplicada supondo
que esta é a única carga que constitui o sistema. O campo E0 é perpendicular à superfı́cie dS,
mas agora há campo quer do lado de fora, E0ext , quer do lado de dentro, E0int . Designando
por n̂ o versor exterior normal a dS, da aplicação da lei de Gauss a um cilindro semelhante
ao que se considerou antes resulta
σ σ
E0ext = n̂ ; E0int = − n̂ .
2²0 2²0
Designando por E 0 o campo em dq devido à restante distribuição de carga, dado que E =
E0 + E 0 , tem-se
0 σ σ σ
Eext = E − E0ext = n̂ − n̂ = n̂
²0 2²0 2²0
0 σ
Eint = 0 − E0int = n̂ .
2²0
Do lado de dentro este campo anula o que é criado pela própria carga. Do lado de fora
reforça-o.
Podemos agora obter a força que as outras cargas exercem em dq = σ dS. Trata-se de
uma força elementar cuja grandeza é dada por
σ σ2
dF = σ dS = dS ,
2 ²0 2 ²0
pelo que a força por unidade de área é
µ ¶2
dF ²0 σ 1
= = ²0 E 2 , (3.14)
dS 2 ²0 2
tendo-se usado (3.13) para escrever a segunda igualdade. Confrontando a equação anterior
com (3.11) podemos concluir que a força por unidade de área é igual à densidade de energia
electrostática.
A força total sobre um condutor de área total S é obtida por integração sobre toda a
superfı́cie do condutor, I I
² 1
F = 0 E 2 dS = σ 2 dS
2 2²0
com dS = dS n̂ um vector que aponta para fora.
d x
V
x
δW = F dx . (3.15)
Por outro lado, a energia eléctrica fornecida pela bateria ao condensador é (trata-se de
trabalho eléctrico)
δWB = dQ V ,
onde dQ é o acréscimo de carga no condensador quando a placa ocupa a nova posição. Na
situação que estamos a considerar, o potencial imposto pela bateria mantém-se constante,
pelo que dQ = V dC (recorde-se que Q = V C). A energia fornecida ao condensador pela
bateria pode então ser escrita do seguinte modo:
δWB = V 2 dC , (3.16)
pelo que µ ¶
2 d A 2 A
δWB = V dC = V ²0 dx = −V 2 ²0 dx , (3.17)
dx x x2
tendo-se usado a expressão para a capacidade do condensador plano C = ²0 A/x (A é a área
de cada placa). A energia (3.16) é negativa, isto é, há cargas a fluir do condensador para a
bateria. A energia electrostática armazenada no condensador é, recorde-se, Ue = 21 QV , pelo
que a sua variação infinitesimal — que é uma diferencial total exacta — é dada por
1 1
dUe = V dQ = V 2 dC .
2 2
4
Representamos o trabalho infinitesimal por δW , e não por dW , para deixar claro que o trabalho, em geral,
não é uma função de ponto, e por isso a sua diferencial total não é exacta. Não é este o caso do trabalho
das forças electrostáticas ou de quaisquer outras forças conservativas, mas convém, por princı́pio, manter uma
diferença na notação.
64 •
Campo electromagnético
1 A A
− V 2 ²0 2 = F − V 2 ²0 2 ,
2 x x
donde
1 2 A ²0 E 2
F = V ²0 2 = A. (3.19)
2 x 2
Para se obter a última igualdade utilizou-se a relação entre o potencial e o campo eléctrico:
V = E x. Da Eq. (3.19) torna-se evidente que a força por unidade de área é igual à energia
por unidade de volume [cf. eqs. (3.14) e (3.11)]. A força de atracção que a placa inferior
exerce na superior é simétrica da força externa, Fext .
No Problema 3.3.4 obtém-se novamente a expressão (3.19), considerando que o conden-
sador é inicialmente carregado com uma carga Q e depois desligado da bateria e isolado.
a) A partir do trabalho necessário para transportar a carga desde o infinito até à região
em que fica localizada;
Resposta
A energia da esfera uniformemente carregada já foi obtida no Exemplo 3.1, tendo-se então
utilizado a Eq. (3.3). No problema são indicados dois outros métodos para obter esta mesma
energia.
δW = dq V (r ) .
O trabalho total é Z Z R
Qr2
W = dq V (r) = 4πρ r2 dr .
0 4π²0 R3
Resolvendo o integral e substituindo a densidade ρ pelo seu valor dado por
Q 3Q
ρ= = , (3.20)
V 4πR3
obtém-se para a energia
3 Q2
Ue = W = ,
5 4π²0 R
que é o resultado (3.5);
Resposta
Como o campo electrostático é dado por
0 r<R
E=
1 Q
êr r > R ,
4π²0 r2
66 •
Campo electromagnético
Admitindo que esta energia é igual à energia de repouso de um electrão, mc2 , obtém-se
para o raio desta partı́cula o valor
Q2
R= .
8π²0 mc2
Fazendo as substituições,
Q = 1, 602×10−19 C
²0 = 8, 854×10−12 F m−1
m = 9, 109×10−31 kg
c = 3×108 m s−1 ,
obtém-se
R = 1, 4×10−15 m = 1, 4 fm .
Um tal modelo para o electrão está claramente errado, pois o electrão, se for extenso, terá
uma dimensão várias ordens de grandeza inferior a esta. O protão (partı́cula cuja estrutura
é relativamente bem conhecida experimentalmente) tem dimensão da ordem do fermi.
Considerando agora que a carga do electrão se distribui uniformemente, tem-se Ue0 = mc2
onde agora se designa por Ue0 a energia (3.21). Como Ue0 = 6Ue /5, segue-se que R0 = 6R/5,
isto é, no modelo em que a carga está uniformemente distribuı́da no volume esférico o raio
do electrão é da mesma ordem de grandeza da do valor encontrado antes.
Resposta
Seja A a área das placas do condensador plano e d a distância (pequena) entre elas. A
capacidade do condensador plano é
A
C = ²0 . (3.22)
d
Se for Q a carga do condensador, a energia armazenada é
1 Q2
Ue = . (3.23)
2 C
Trata-se agora de obter este resultado a partir da expressão (3.10). O módulo do campo
eléctrico entre as placas do condensador é constante e dado por
σ
E= ,
²0
Energia electrostática •
67
sendo σ a densidade superficial de carga nas placas. O campo é nulo fora dessa região. A
energia calculada a partir de (3.10) é, pois,
µ ¶2
²0 σ
Ue = Ad.
2 ²0
Como Q = σA, e atendendo a (3.22), da expressão anterior resulta imediatamente (3.23).
Resposta
Seja x a separação das placas do condensador plano e A a área de cada uma das placas.
A capacidade do condensador é
A
C = ²0 . (3.24)
x
Se o condensador estiver carregado com a carga Q, a densidade superficial de carga é σ = Q/A
e o campo eléctrico entre as placas é
σ
E= . (3.25)
²0
Considere-se que uma placa do condensador está fixa e que a outra, devido a uma força
exterior, de módulo F (igual à força electrostática), se desloca de uma distância infinitesimal
dx. O trabalho realizado pela força exterior é
δW = F dx .
Estando o condensador isolado, este trabalho é igual à variação da energia do condensador.
A energia do condensador é
1 1 Q2
Ue = QV =
2 2 C
e a sua variação, mantendo-se constante a carga, vem
1 dC
dUe = − Q2 2 .
2 C
2
Da expressão (3.24) obtém-se dC = −²0 A dx/x , pelo que
µ ¶2
1 A dx x Q2 dx
dUe = ²0 Q2 2 = ,
2 x ²0 A 2 A ²0
tendo-se usado novamente (3.24). Igualando a variação da energia interna dUe ao trabalho
realizado sobre o sistema, dU = δW , obtém-se
µ ¶2
Q2 ²0 σ
F = = A
2A²0 2 ²0
e, finalmente, — ver (3.25) — vem
F ²0
= E2 .
A 2
Vimos, na Secção 3.2, que a expressão geral para a força por unidade de superfı́cie, para
qualquer condutor em equilı́brio electrostático, é dada por (3.14). A expressão anterior
(também encontrada no Exemplo 3.2) está de acordo com essa expressão geral.
68 •
Campo electromagnético
Resposta
Quando o condensador está descarregado as placas do condensador estão a uma distância
d. Quando se carrega o condensador a força por unidade de superfı́cie (pressão) que a placa
de baixo exerce sobre a placa de cima é igual à densidade de energia electrostática junto a
essa placa. Essa densidade é dada por (3.14) e, atendendo a que o campo é constante,
dF ²0 F
= E2 = . (3.26)
dA 2 A
Para um condensador plano o campo eléctrico é dado por
σ Q
E= = ,
²0 A²0
donde, substituindo em (3.26), se obtém
Q2
F = .
2A²0
Quando há equilı́brio estático esta força, dirigida de cima para baixo, é compensada pela
força elástica, dirigida de baixo para cima e que vale k ∆d. Tem-se então, como se pretendia
demonstrar,
Q2
∆d = .
2 A k ²0
Resposta
Quando se aplica uma diferença de potencial V entre as armaduras do condensador, a
superfı́cie externa do cilindro interior adquire uma densidade de carga λ (carga Q uniforme-
mente distribuı́da no comprimento L), a face interna da armadura exterior fica com uma
densidade de carga −λ e sobre a superfı́cie externa desta armadura não há cargas. O campo
eléctrico no exterior é nulo, como é fácil reconhecer a partir da lei de Gauss, tal como é
Energia electrostática •
69
Indicou-se, no Capı́tulo 2, a expressão do potencial escalar criado por uma carga eléctrica
pontual [Eq. (2.11)]. No caso de uma distribuição arbitrária de cargas, basta aplicar o
princı́pio de sobreposição para se conhecer o potencial num dado ponto. O cálculo explı́cito
do potencial produzido por determinadas distribuições de cargas pode ser intrincado. No
entanto, sempre que a região do espaço que importa considerar seja suficientemente afastada
das cargas, esse cálculo é desnecessário.
Na região onde as cargas se localizam ocorrem grandes variações no potencial elec-
trostático. Aı́, o conhecimento da forma pormenorizada da distribuição das cargas é determi-
nante na obtenção do valor do potencial, de modo que são de esperar variações significativas
do potencial quando se passa de um ponto a outro. Contudo, longe da região onde as cargas se
encontram, o potencial é naturalmente menor, mas, acima de tudo, as variações do potencial
quando se passa de um ponto para outro já não são grandes. Há uma menor sensibilidade do
potencial relativamente à distribuição espacial das cargas e o conjunto das cargas, dispostas
de uma forma arbitrária, actua como se de uma só carga se tratasse. Quando falamos em
distâncias “grandes” (ou “pequenas”) estamos sempre a tomar como referência a separação
tı́pica entre as cargas, ou melhor, uma distância que possa caracterizar a dimensão da região
do espaço onde as cargas se localizam.
Demonstra-se que o efeito de uma dada distribuição de cargas, por mais complexa que
seja, pode ser expresso como uma sobreposição de vários termos multipolares. Cada multi-
polo é, na realidade, um conjunto de cargas eléctricas pontuais que possuem determinadas
simetrias. O estudo dos multipolos tem muito interesse, pois vários sistemas fı́sicos — desde
sistemas macroscópicos até às moléculas, aos núcleos atómicos e aos hadrões, passando ainda
por diferentes formas de matéria condensada — possuem campos eléctricos que podem ter
caracterı́sticas multipolares bem definidas: dizem-se então monopolos, dipolos, quadrupolos,
72 •
Campo electromagnético
octopolos, etc., cujo significado preciso será dado neste capı́tulo. Pode também acontecer
que o campo eléctrico em torno desses objectos seja uma sobreposição de dois ou mais (mas
poucos!) multipolos, circunstância em que ainda é muito útil fazer a análise multipolar.
Um campo monopolar é o campo produzido por uma carga eléctrica pontual (monopolo).
Antes de estudarmos com toda a generalidade os multipolos eléctricos, abordaremos a questão
mais concreta do dipolo e do quadrupolo linear. Estes são sistemas simples e o seu estudo não
só serve de motivação como ajuda a compreender os termos multipolares de ordem superior.
Estudaremos na parte final do capı́tulo a interacção dos diferentes termos multipolares com
um campo eléctrico externo.
Um dipolo eléctrico é um sistema formado por duas cargas, uma positiva e outra negativa,
de grandezas iguais e separadas por uma distância s.
P ( r ,q ,f )
r
+ Q r
s /2
q
s r +
s /2
Q
A Figura 4.1 representa um dipolo eléctrico. Nesta secção iremos calcular o potencial V e o
campo eléctrico E que ele produz a distâncias grandes comparadas com s, isto é, admitiremos
sempre que r À s, em que r é a distância do ponto P que estamos a considerar ao centro do
dipolo. Esta distância é uma das coordenadas esféricas desse ponto, sendo θ e φ as outras
duas coordenadas (num referencial em que o eixo z tem a direcção definida pelo dipolo).
A simetria do sistema permite adiantar que os resultados não podem depender do ângulo
azimutal, mas apenas de r e do ângulo polar θ.
O potencial em P é dado por
µ ¶ µ ¶
Q 1 1 Q r r
V = − = − . (4.1)
4π²0 r− r+ 4π²0 r r− r+
Dado que r À s, faz todo o sentido considerar o desenvolvimento desta expressão em potências
de s/r, cabendo aqui recordar que, em geral, se tem o seguinte desenvolvimento em série:
1 3 5
(1 + η)−1/2 = 1 − η + η 2 − η 3 + O(η 4 ) . (4.4)
2 8 16
Assim, desenvolvendo (4.3) e retendo apenas os termos até ordem (s/r)2 , obtém-se
µ ¶2 h i
r 1s 1 s
=1∓ cos θ + (3 cos2 θ − 1) + O (s/r)3 . (4.5)
r± 2r 8 r
Substituindo na expressão (4.1), vem
· ³ ´ ¸
Q s
V = cos θ + O (s/r)3 ,
4π²0 r r
pelo que, em primeira ordem, podemos escrever
Qs cos θ
V ≈ . (4.6)
4π²0 r2
Esta expressão é válida para r3 À s3 (como admitimos sempre esta condição, substituiremos
de agora em diante o sinal de “aproximadamente” igual por uma igualdade). De notar que
a dependência do potencial é em 1/r2 e não em 1/r, como seria no caso de o sistema ser
formado por uma só carga. O facto de existirem duas cargas de sinais opostos leva ao não-
aparecimento do termo de ordem r−1 caracterı́stico do potencial monopolar.
O momento dipolar do dipolo é, por definição, o vector
p = Qs . (4.7)
V 2
V 1
E
V = 0 V = 0
E '
-V 1
-V 2
Daqui resulta
r sin θ Eθ dφ = 0 , r sin θEr dφ = 0 (4.14)
e ainda
Eθ dr = r Er dθ. (4.15)
As relações (4.14) exprimem o facto de o campo eléctrico estar no plano definido pelos versores
(êr , êθ ), isto é, dφ = 0. A Eq. (4.15), uma vez feita a substituição de Er e Eθ pelas expressões
(4.9) e (4.10) e a integração por separação de variáveis, conduz à equação
r = C00 sin2 θ ,
onde C00 é uma constante. Cada uma das linhas a cheio na Figura 4.2 corresponde a um certo
valor de C00 .
P ( r ,q ,f )
+ Q r
s q
2 Q r +
s
+ Q
Consideramos, tal como na Secção 4.2, regiões do espaço tais que r À s. Usando a técnica
exposta no caso do dipolo, vamos determinar o potencial e o campo eléctrico devidos a este
arranjo de cargas. O potencial é dado por
µ ¶ µ ¶
Q 1 2 1 Q r r
V = − + = + −2 . (4.16)
4π²0 r− r r+ 4π²0 r r− r+
Qs2
V = (3 cos2 θ − 1) , (4.17)
4π²0 r3
tendo-se desprezado termos de ordem (s/r)4 e superiores (os termos de ordem ı́mpar anulam-
se sempre). Pode agora obter-se o campo eléctrico tal como se fez para o caso dipolar. Em
coordenadas esféricas as componentes de E são
∂V 3Qs2
Er = − = (3 cos2 θ − 1) (4.18)
∂r 4π²0 r4
1 ∂V 3Qs2
Eθ = − = 2 sin θ cos θ , (4.19)
r ∂θ 4π²0 r4
sendo nula a componente Eφ . O campo eléctrico criado pelo quadrupolo linear a grandes
distâncias é
3Qs2 h 2
i
E (r, θ) = (3 cos θ − 1) ê r + 2 sin θ cos θ êθ . (4.20)
4π²0 r4
As superfı́cies equipotenciais são determinadas a partir da equação [ver (4.17)]
r3 = C (3 cos2 θ − 1) , (4.21)
coordenadas das fontes, que são as componentes do vector r 0 , das coordenadas do ponto
onde se pretende saber o potencial ou o campo, que são as componentes de r .
q a
v
i
P
'
r i r
O
q i
Esse potencial é
N
X N
X
qi qi
V (r ) = = , (4.23)
i=1
4π²0 |r − ri0 | i=1
4π²0 ai
onde
2
ai = |r − ri0 | = (r2 − 2ri0 r cos θi + ri0 )1/2 ,
sendo θi o ângulo que ri0 e r formam entre si. Se escolhermos a direcção r̂ como sendo a
direcção z de um referencial, θi é, nesse referencial, a coordenada esférica polar da carga i (ri0 é
coordenada esférica radial nesse referencial). Relembramos que estamos sempre a considerar
que P está longe de O, isto é, que r À ri0 qualquer que seja i. Podemos então desenvolver a
expressão
1 1 1
= · ³ 0 ´2 ¸1/2
ai r r0 r
1 − 2 ri cos θi + ri
em série de potências de ri0 /r à semelhança do que fizemos nas secções anteriores para r± .
Usando o desenvolvimento (4.4) e considerando termos até segunda ordem em ri0 /r, vem
( "µ ¶2 # · ¸2 )
1 1 1 ri0 r0 3 r0
= 1− − 2 i cos θi + −2 i cos θi + ...
ai r 2 r r 8 r
" µ 0 ¶2 #
1 r0 1 r
= 1 + i cos θi + i
(3 cos2 θi − 1) + ... . (4.24)
r r 2 r
Substituindo em V (r ),
N N
1 X 1 X
V (r ) = qi + qi ri0 cos θi
4π²0 r i=1 4π²0 r2 i=1
XN 2
1 0 2 (3 cos θi − 1)
+ qi ri + ... (4.25)
4π²0 r3 i=1 2
P0 (ξ) = 1
P1 (ξ) = ξ
1
P2 (ξ) = (3 ξ 2 − 1)
2
1
P3 (ξ) = (5 ξ 3 − 3 ξ)
2
1
P4 (ξ) = (35 ξ 4 − 30 ξ 2 + 3)
8
1
P5 (ξ) = (63 ξ 5 − 70 ξ 3 + 15 ξ) .
8
Conhecidos P0 e P1 , podem ser determinados todos os outros polinómios de Legendre a partir
da seguinte relação de recorrência:
r0
pelo que a expressão (4.24), identificando yi = ri e ξi = cos θi , representa exactamente os
três primeiros termos do desenvolvimento em série
∞ µ ¶`
1 1X r0
= P` (ξi ) i . (4.26)
ai r `=0 r
Termo monopolar (` = 0)
É o primeiro termo do desenvolvimento (4.27):
N
1 1X Q
V0 (r ) = qi =
4π²0 r i=1 4π²0 r
com
N
X
Q= qi
i=1
Termo dipolar (` = 1)
O termo com ` = 1 em (4.27) é dado por
N N
1 1 X 0 1 X
V1 (r ) = qi ri cos θi = r̂ · qi ri0 .
4π²0 r2 i=1 4π²0 r2 i=1
o qual só depende da natureza da distribuição e não do ponto onde se pretende obter o
potencial. Em função deste vector, o potencial escreve-se
r̂
V1 (r ) = p · . (4.30)
4π²0 r2
É importante notar que o termo dipolar do potencial, V1 , é o produto escalar de dois fac-
tores: p, que só depende da distribuição de cargas; e r /(4π²0 r3 ) , que apenas depende da
Multipolos eléctricos •
81
localização do ponto P. Comparando com (4.8) concluı́mos que a contribuição do termo dipo-
lar é equivalente à de um dipolo colocado na origem com momento dipolar p. No caso de o
momento monopolar ser nulo (Q = 0), o termo dominante do desenvolvimento multipolar é
V1 e prova-se neste caso, como veremos, que o momento dipolar é independente da escolha
da origem.
No caso de distribuições contı́nuas de carga, o momento dipolar da distribuição é dado
por
Z
p= ρ(r 0 ) r 0 dv ; (4.31)
Zv
p= σ(r 0 ) r 0 dS; (4.32)
ZS
p= λ(r 0 ) r 0 dl , (4.33)
C
Termo quadrupolar (` = 2)
O termo quadrupolar do desenvolvimento em multipolos do potencial eléctrico (4.27) é
dado por
N µ ¶
1 X qi ri0 2
V2 (r ) = (3 cos2 θi − 1) (4.34)
4π²0 r i=1 2 r
e, também neste caso, é possı́vel factorizar a expressão num termo que depende apenas das
caracterı́sticas da distribuição de cargas e outro apenas dependente das coordenadas do ponto
onde se pretende calcular o potencial eléctrico. Usando a igualdade
2 2
ri0 (3 cos2 θi − 1) = 3(ri0 .r̂ )2 − ri0
podemos escrever o membro esquerdo desta equação usando os co-senos directores (lx , ly , lz )
de r̂ e das componentes cartesianas (x0i , yi0 , zi0 ) de ri0 . Assim, temos:
2 2
ri0 (3 cos2 θi − 1) = 3(x0i lx + yi0 ly + zi0 lz )2 − ri0 (lx2 + ly2 + lz2 )
2 2 2
= 3(x0i lx2 + yi0 ly2 + zi0 lz2 + 2x0i yi0 lx ly + 2x0i zi0 lx lz + 2yi0 zi0 ly lz )
2
−ri0 (lx2 + ly2 + lz2 )
2 2 2 2 2 2
= lx2 (3x0i − ri0 ) + ly2 (3yi0 − ri0 ) + lz2 (3zi0 − ri0 )
+6 lx ly x0i yi0 + 6 lx lz x0i zi0 + 6 ly lz yi0 zi0 .
com
N
X (i) (i) 2
Qkm = qi (3x0 k x0 m − δkm ri0 ) . (4.36)
i=1
(i)
Usou-se nesta expressão a notação x0 k para designar a componente cartesiana k do vector ri0 .
As nove quantidades Qkm são as componentes cartesianas do tensor momento quadrupolar
da distribuição de carga.
Trata-se, efectivamente, de um tensor de segunda ordem. Num novo referencial que se
obtenha a partir do primeiro por uma transformação ortogonal, as novas componentes do
tensor quadrupolar eléctrico são dadas por
3
X
Q0km = akj ami Qji ,
j,i=1
onde {alj } são os coeficientes que definem a transformação ortogonal. O valor da quantidade
P3
k,m=1 lk Qkm lm é independente do referencial considerado, pois trata-se de um escalar.
Se em (4.35) substituirmos os co-senos directores de r por lj = xj /r, obtém-se
3
1 1 X
V2 (r ) = xk Qkm xm . (4.37)
4π²0 r5 2 k,m=1
Sempre que haja simetria axial Qkm = 0, se k 6= m. Restam, pois, duas componentes
independentes. Mas, havendo simetria em torno do eixo z é evidente que se terá Qxx = Qyy ,
o que permite, usando (4.39), encontrar ainda uma relação entre Qxx e Qzz :
2Qxx + Qzz = 0
Qzz Q(2)
Qxx = − =− .
2 2
Neste caso, podemos exprimir o potencial V2 (r ) apenas em função de uma quantidade Q(2) :
µ ¶
Q(2) 1 1
V2 = − (x2 + y 2 ) + z 2
4π²0 r5 2 2
à !
Q(2) 1 3 2 r2
= z −
4π²0 r5 2 2 2
Q(2) 3 cos2 θ − 1
= , (4.40)
4π²0 4 r3
sendo θ o ângulo entre o eixo z, e a direcção r̂ .
Núcleo Q(2)
16
6O 0,0
17
8O −0,026
39
19 K 0,11
40
20 Ca 0,0
161
66 Dy 2,4
176
71 Lu 8,0
208
82 Pb 0,0
209
83 Bi −0,35
Muitos núcleos apresentam uma deformação mas continuam a possuir um eixo de simetria.
Podem, por exemplo, ter a forma de um elipsóide de revolução e a sua forma assemelhar-se-á
à de um charuto (dizem-se então prolatos) ou ter uma forma semelhante à de uma panqueca
(dizem-se, neste caso, oblatos). Estas formas são aquelas que dão maior estabilidade ao
84 •
Campo electromagnético
sistema com certo número de protões e de neutrões e resultam das múltiplas interacções
entre os nucleões, questão que não vamos aqui considerar. O que é comum aos núcleos
deformados com simetria axial é a existência de um momento quadrupolar diferente de zero.
O momento quadrupolar mede o afastamento relativamente à distribuição esférica de cargas.
Os valores positivos do momento quadrupolar correspondem a formas prolatas, os negativos
a formas oblatas e os valores nulos indicam distribuições de carga esfericamente simétricas.
Na Tabela 4.1 indicam-se os momentos quadrupolares de alguns núcleos. O oxigénio-16,
o cálcio-40 e o chumbo-208 têm momento quadrupolar eléctrico nulo (têm “números mágicos”
de protões e de neutrões). O oxigénio-17 e o bismuto-209 são ambos oblatos, mas o primeiro
é menos deformado. O potássio-39 tem uma forma prolata. O disprósio-161 e o lutécio-
176 apresentam deformações prolatas muito acentuadas, em particular o segundo, e dizem-se
superdeformados.
Seja então O0 o centro de cargas. Relativamente a esse ponto, o momento dipolar eléctrico
da distribuição é
N
X N
X N
X
pO 0 = qi s0i = qi ri0 − RC qi = RC Q − RC Q = 0 .
i=1 i=1 i=1
Multipolos eléctricos •
85
Q0xy = Qxy .
Q Q
Q 2 Q Q
p 1 p 1 p p
2 2
Q Q
A energia total, que podemos designar por Utotal , é a soma de três contribuições e, de
acordo com (3.1), dada por
Utotal = Uext + Usis + Uint , (4.43)
onde
Ne
1 X 1 Qe,i Qe,j
Uext = ,
2 i,j=1,i6=j 4π²0 re,ij
sendo Qe as cargas “externas” (fontes do campo externo E ) e re,ij = |re,i − re,j | a distância
entre os pares de cargas externas; a segunda parcela em (4.43) é
N
1 X 1 qi qj
Usis = 0 ,
2 i,j=1,i6=j 4π²0 rij
em que q são cargas que constituem o sistema D; a terceira parcela (note-se, agora, a ausência
do factor 12 ),
Ne
N X
X 1 qi Qe,j
Uint = 0 (4.44)
i=1 j=1
4π² 0 |r e,j − ri |
é a energia de interacção que nos importa considerar. Se designarmos por V (ri0 ) o potencial
electrostático devido ao conjunto de cargas “externas” Qe,i , a energia (4.44) pode ser escrita,
de acordo com (3.2), na forma
N
X
Uint = qi V (ri0 ) . (4.45)
i=1
Frisemos bem o carácter de V (ri0 ): trata-se do potencial “externo”, isto é, o potencial devido
apenas às cargas externas a D no ponto onde se encontra a carga qi que pertence a D,
localizada pelo vector posicional ri0 .
Numa situação experimental tı́pica, as cargas que dão origem ao campo externo estão
muito afastadas de D, pelo que o potencial V (r 0 ) não varia muito dentro do volume v que
contém a distribuição D. Sejam O um ponto desse volume escolhido para origem de um
(i) (i) (i)
referencial e (x0 1 , x0 2 , x0 3 ) as componentes cartesianas de ri0 — vector posicional de qi
— nesse referencial. Dado que o potencial varia pouco, podemos desenvolvê-lo em série de
Taylor em torno de O de coordenadas (0, 0, 0):
3
à ! 3
à !
X (i) ∂V 1 X (i) (i) ∂2V
V (ri0 ) = V0 + x0 n + x0 n x0 m + ...
n=1 ∂x0 (i)
n 0
2 n,m=1 ∂x0 (i) 0 (i)
n ∂x m 0
O ı́ndice 0 significa que a função e as suas derivadas estão a ser tomadas na origem [por
exemplo, V0 = V (0, 0, 0)]. Introduzindo a notação mais compacta, ∂n0 = ∂ 0 (i) , a expressão
∂x n
anterior pode ser escrita na forma
3
1 X (i) (i)
V (ri0 ) = V0 − ri0 · E0 − x0 x0 (∂ 0 Em )0 , (4.46)
2 n,m=1 n m n
pois, como se sabe, (∇0 V )0 = −E0 . Como a divergência de E é nula em todos os pontos
da distribuição D, porquanto não há aı́ fontes do campo “externo”, podemos acrescentar à
Multipolos eléctricos •
87
equação anterior uma parcela da forma ri0 2 (∇ (i) · E )0 /6 sem com isso lhe alterar o valor.
0
Num outro referencial, cuja origem seja dada pelo vector posicional r relativamente à
origem O, a energia de interacção vem
3
1 X ∂Em (r )
Uint = Q V (r ) − p · E (r ) − Qmn + ... , (4.47)
6 m,n=1 ∂xn
com o valor do campo eléctrico a ser tomado no centro do dipolo. A equação anterior também
P
pode ser obtida fazendo o cálculo directo a partir de i qi V (i). Assim, Uint = q ( V+q − V−q ),
onde os ı́ndices ±q se referem à posição da carga positiva e negativa. Considerando o de-
senvolvimento do potencial em série de Taylor, até primeira ordem, em torno do centro do
dipolo [ver Eq. (4.46)] a energia vem Uint = −q (r+q − r−q ) · E , que se reduz à forma dada
na Eq. (4.48), atendendo à definição de momento dipolar do dipolo.
A Eq. (4.48) mostra que, na presença de um campo eléctrico, o dipolo tende a alinhar com
a direcção do campo, tornando assim mı́nima a energia. Ao invés, a energia será máxima
88 •
Campo electromagnético
quando cos θ = −1, isto é, quando p e E forem antiparalelos. Se o campo eléctrico for
constante na região do dipolo, a força total que sobre ele se exercer será nula: F = q (E+q −
E−q ) = 0. Mas se houver uma dependência espacial do campo eléctrico a força sobre o dipolo
já não será nula. Por exemplo, as componentes x das forças que se exercem sobre cada uma
das cargas são dadas por q Ex + q (r±q · ∇)Ex , com Ex e derivadas de Ex tomadas na origem.
A força total que se exerce sobre o dipolo é
Verificamos que, se E for constante, a força será nula. Contudo, mesmo neste caso, há
um momento M que é dado por
Dado tratar-se de um sistema de força resultante nula, este momento é independente do ponto
escolhido para origem.
Deve assinalar-se que se podia explorar um pouco mais a expressão (4.47), desenvolvendo
o campo externo em multipolos, e identificando no final as contribuições para a energia
resultantes de termos com caracterı́sticas multipolares bem definidas: energia de interacção
dipolo-dipolo, monopolo-quadrupolo, dipolo-quadrupolo, etc.
3(p · r̂ )r̂ − p
E= ,
4π ²0 r3
expressão que é equivalente a (4.12). A expressão anterior será obtida formalmente no Prob-
lema 4.7.11.
Seja p1 o momento dipolar de um dipolo localizado em r1 e p2 o momento de um dipolo
localizado em r2 . Seja ainda R = r1 − r2 . A energia de p1 no campo de p2 (energia de
interacção dipolo-dipolo) é dada por
UDD = −p1 · E2
1 h i
= p1 · p2 − 3 ( p2 · R̂ )(p 1 · R̂ ) .
4π²0 R3
Como é óbvio, se tivéssemos calculado a energia de p2 no campo produzido por p1 , terı́amos
chegado ao mesmo resultado. De facto, a expressão anterior fica invariante quando se permuta
p1 com p2 (e R̂ → −R̂).
Resposta
Por definição, o momento dipolar de uma distribuição superficial de carga é [cf. (4.32)]
Z
p= σ(r 0 ) r 0 dS . (4.51)
S
r'
q
f y
A
R 2πcomponente y do momento dipolar eléctrico é proporcional a um integral da forma
0 sin φ dφ, verificando-se, por esta razão, que também
py = 0 .
Finalmente, a componente z é dada por
Z
pz = σ0 cos θ R cos θ R2 sin θdθdφ
S
Z π
4πσ0 R3
= 2πσ0 R3 cos2 θ sin θ dθ = .
0 3
90 •
Campo electromagnético
com m = 2.
Em conclusão, podemos escrever
4
p= π R3 σ0 k̂ .
3
Resposta
O momento dipolar eléctrico escreve-se [cf. (4.31)]
Z
p= r 0 ρ(r 0 ) dv .
cubo
pois o primeiro dos três integrais é nulo (trata-se do integral de uma função ı́mpar num
domı́nio simétrico). Quando se calculam as componentes y e z do momento dipolar eléctrico,
surgem integrais, respectivamente, sobre y 0 e sobre z 0 do tipo do integral em x0 na expressão
(4.54), pelo que
p = 0.
De resto, dada a simetria do problema, os momentos px , py e pz têm de ser iguais (as direcções
dos três eixos coordenados são equivalentes). Se px é nulo, as outras duas componentes, py e
pz , também têm de ser nulas.
Os elementos do tensor momento quadrupolar são dados por [cf. (4.38)]
Z
2
Qij = (3x0i x0j − r0 δij ) ρ(r 0 ) dv . (4.55)
cubo
Multipolos eléctricos •
91
Ora,
Z α
αm+1 − (−α)m+1
ξ m dξ = (4.57)
−α m+1
e de (4.56) vem, finalmente,
" #
Q a5 a5 a5
Qxx = 3 − − = 0. (4.58)
a 6 12 12
Repetindo os cálculos para os outros elementos diagonais, verifica-se que também são nulos:
Uma forma bem mais simples de concluir que os elementos diagonais têm de ser nulos
consiste em notar que, por simetria, Qxx = Qyy = Qzz . Mas, por outro lado, o traço do
tensor momento quadrupolar eléctrico tem de ser nulo, o que só é possı́vel, em função das
igualdades anteriores, se cada um dos elementos diagonais se anular.
Quanto aos elementos não diagonais, considere-se, em primeiro lugar, Qxy . Tem-se, a
partir de (4.55),
Z
Qxy = 3x0 y 0 ρ(r ) dx0 dy 0 dz 0
Z a/2 Z a/2 Z a/2
3Q
= x0 dx0 y 0 dy 0 dz 0 .
a3 −a/2 −a/2 −a/2
Calculando os integrais a partir de (4.57) conclui-se que Qxy é nulo. Nulos são também os
outros elementos não diagonais, ou seja:
y
Q
a 4 Q
a
Q O Q
a a x
a
4 Q a
z Q
Resposta
O momento monopolar é a carga total:
é nulo, pois por cada carga localizada num ponto há uma outra, de igual valor, localizada
simetricamente relativamente à origem (ver Tabela 4.2, que resume os dados relativos à
distribuição de cargas). Assim,
p = 0. (4.60)
Os elementos do momento quadrupolar são dados por [cf. (4.36)]
6
X (i) (i) 2
Qkm = qi (3x0 k x0 m − δkm ri0 ) , (4.61)
i=1
onde i é o ı́ndice de partı́cula e k, m = x, y, z são ı́ndices cartesianos. Note-se que, para todas
as cargas da distribuição (ver Figura 4.8), ri0 2 = a2 . O elemento xx de (4.61) é
6
X · ³ ´2 ¸
0 (i) 2
Qxx = qi 3 x − ri0
i=1
= (3a2 − a2 )Q + (3a2 − a2 )Q − a2 Q − a2 Q − a2 4Q − a2 4Q
= −6 a2 Q . (4.62)
Carga Valor x0 y0 z0
# 1 Q a 0 0
# 2 Q −a 0 0
# 3 Q 0 a 0
# 4 Q 0 −a 0
# 5 4Q 0 0 a
# 6 4Q 0 0 −a
De resto, este resultado pode ser obtido notando que os eixos x e y são equivalentes entre si
(o eixo z já não!). A maneira mais simples de obter o elemento zz é tirar partido do facto de
o tensor do momento quadrupolar ter traço nulo:
3
X
Qkk = 0 .
k=1
Assim,
Qzz = −Qxx − Qyy = 12 a2 Q . (4.64)
pois duas das coordenadas x0i , yi0 , zi0 são nulas para cada uma das seis cargas (ver Tabela 4.2).
Tendo obtido os momentos multipolares de ordem mais baixa, podemos utilizar agora a
expressão do desenvolvimento multipolar do potencial para obter V (r) a distâncias relativa-
mente grandes da distribuição de cargas:
3
Q p · r̂ 1 1 X
V (r ) ' + + xk Qkm xm .
4π²0 r 4π²0 r2 4π²0 r5 2 k,m=1
Usando nesta expressão os resultados (4.59), (4.60), (4.62), (4.63), (4.64) e (4.65), obtém-se
" #
Q a2
V (r ) ' 12 + 4 (−6x2 − 6y 2 + 12z 2 )
4π²0 r 2r
12Q 3a2 Q
' + (3z 2 − r2 ) .
4π²0 r 4π²0 r5
94 •
Campo electromagnético
b) Determinar a posição de uma nova origem, em relação à qual o momento dipolar seja
nulo.
Resposta
Na Tabela 4.3 resume-se a distribuição de cargas. Na última coluna
√ indica-se o quadrado
√
da distância de cada carga à origem. Essa distância pode ser a, 2a e 3a.
Carga Valor x0 y0 z0 r0 2
# 1 −3q 0 0 0 0
# 2 −2q a 0 0 a2
# 3 4q a 0 a 2a2
# 4 5q 0 0 a a2
# 5 q 0 a 0 a2
# 6 −q a a 0 2a2
# 7 3q a a a 3a2
# 8 2q 0 a a 2a2
Q = 15 q − 6 q = 9 q . (4.66)
O momento dipolar é dado pela expressão (4.29). Em relação à origem (0, 0, 0) tem-se
px = (−2q + 4q − q + 3q)a = 4 q a
py = (q − q + 3q + 2q)a = 5 q a
pz = (4q + 5q + 3q + 2q)a = 14 q a ,
ou seja,
p = q a (4 î + 5 ĵ + 14 k̂) . (4.67)
Multipolos eléctricos •
95
Resposta
Na Figura 4.9 introduz-se a notação que se irá utilizar: r 0 é o vector posicional de um
elemento de carga relativamente à origem, r é o vector posicional, relativamente à mesma
origem, do ponto onde se pretende conhecer o potencial e a = r − r 0 .
q
d /2 O r' d /2 x
a) O potencial no ponto P é
Z d/2
1 λ dx
V = , (4.68)
4π²0 −d/2 |r − r 0 |
onde λ = Q/d é a densidade linear de carga. Relembrando o seguinte desenvolvimento
multipolar (4.26)
∞ µ 0 ¶`
1 1 X r
= P` (cos θ) ,
|r − r 0 | r `=0 r
que é a Eq. (4.27) [ou (4.28)] adequada à distribuição linear de carga deste problema.
Para x < 0, r0 = −x (r0 é sempre positivo) e o ângulo θ é o suplementar do que está
indicado na Figura 4.9, pelo que o co-seno do ângulo entre r e r 0 é o simétrico do
co-seno do ângulo indicado. Dado que P` (− cos θ) = (−1)` P` (cos θ), o potencial pode
ser escrito na forma
∞
" Z 0 Z d/2 #
1 λX P` (cos θ)
V = (−1)` (−x) dx + ` `
x dx
4π²0 r `=0 r` −d/2 0
Multipolos eléctricos •
97
∞ Z
λ X P` (cos θ) d/2 `
= x dx
4π²0 r `=0 r` −d/2
à `+1 ¯d/2
λ X ∞
P` (cos θ) r0 ¯
¯
= ¯
4π²0 r `=0 r` ` + 1¯ −d/2
∞
X µ ¶`
λ 1 (d/2)`+1 − (−d/2)`+1
= P` (cos θ) .
4π²0 r `=0
r `+1
λ d3 λ d3
V2 = 2 P2 (cos θ) 3 = (3 cos2 θ − 1) 3 . (4.71)
12π²0 8r 12π²0 8r
Desta expressão e da expressão geral para o potencial quadrupolar quando há simetria
axial [cf. (4.40)], como é o caso presente, conclui-se que
Q d2
Q(2) = Qzz = ;
6
|V2 | d2 |3 cos2 θ − 1| 1
= < .
|V0 | 24r2 100
Considerar um anel de raio a sobre o qual existe uma carga total Q uniformemente dis-
tribuı́da. Obter o desenvolvimento multipolar do potencial eléctrico criado pelo anel em
qualquer ponto P a uma distância r do centro do anel tal que r À a.
Resposta
P
z
r
a y
f
O ponto P está a uma distância r do centro do anel que é muito maior do que o raio deste.
Designa-se por θ o ângulo entre a direcção vertical (eixo z) e a direcção do vector posicional
do ponto P.
O momento monopolar, Q, relaciona-se com a densidade linear de carga, λ, através de
Q = 2πλa. (4.72)
não tem componente segundo o eixo z, pois a distribuição de cargas localiza-se no plano
xy (para qualquer elemento de carga z 0 = 0). As componentes x e y do momento dipolar
eléctrico (4.73) também se anulam. De facto, fazendo d` = a dφ, x0 = a cos φ, y 0 = a sin φ
em (4.73), obtém-se
I Z 2π
px = λ x0 d` = λa2 cos φ dφ = 0
anel 0
I Z 2π
py = λ y 0 d` = λa2 sin φ dφ = 0 .
anel 0
Multipolos eléctricos •
99
Como o sistema tem simetria axial relativamente ao eixo z, basta calcular o elemento Qzz
do tensor momento quadrupolar:
I
2 2
Qzz = Q(2) = λ (3z 0 − r0 ) d` .
anel
Recordando que z 0 é sempre nulo e, fazendo a integração na coordenada angular, tal como
anteriormente, obtém-se
Z 2π
Q(2) = −λa3 dφ = −2πλa3 = −Qa2 ,
0
Q Qa2 3 cos2 θ − 1
V = − .
4π²0 r 4π²0 4 r3
Resposta
b b
x
Atendendo às expressões da densidade linear de carga, cada uma das linhas tem carga
total nula. A linha 1 tem carga positiva para y > 0 e carga simétrica desta para y < 0. Para
a linha 2 tem-se o oposto. O momento monopolar do sistema é, pois, nulo:
Q = 0.
O momento dipolar é, neste caso, dado por
Z Z
0
p= λ1 r d` + λ2 r 0 d` .
linha 1 linha 2
x0 z0
Para a linha 1, = b, = 0 e λ1 = λ0 y0; para a linha 2, x0 = −b, z 0 = 0 e λ2 = −λ0 y 0 . Em
ambos os casos, d` = dy 0 . Assim,
Z a Z a ³ ¯
2 ¯a
px = λ0 b y 0 dy 0 − λ0 (−b) y 0 dy 0 = λ0 b y 0 ¯ =0
−a −a −a
Z a Z a
2 2
py = λ0 y 0 dy 0 − λ0 y 0 dy 0 = 0
−a −a
pz = 0 ,
quer dizer, o momento dipolar da distribuição é nulo.
Vejamos agora as componentes do tensor momento quadrupolar. Os elementos diagonais
[ver (4.38)] são Z Z
a a
2 2 2 2
Qii = (3x0 i − r0 )λ1 dy 0 + (3x0 i − r0 )λ2 dy 0 ,
−a −a
que se anulam, pois as duas parcelas são simétricas (λ1 = λ0 y 0 e λ2 = −λ0 y 0 ). Globalmente,
as funções integrandas são ı́mpares e por isso o integral é zero. Os elementos não diagonais
Qxz e Qyz são evidentemente nulos, pois ambos incluem o factor z 0 , que é sempre nulo.
Finalmente,
Z a Z a
Qxy = 3x0 y 0 λ1 dy 0 + 3x0 y 0 λ2 dy 0
−a −a
Z a Z a
2 2
= 3 b λ0 y 0 dy 0 + 3 b λ0 y 0 dy 0
−a −a
à ¯a
y0 3 ¯
¯
= 6 b λ0 ¯ = 4 b a3 λ0 = Qyx .
3 ¯
−a
A contribuição de ordem mais baixa para o desenvolvimento multipolar do potencial —
que é a quadrupolar — é dada por [cf. (4.37)]
3
1 1 X b λ0 a3 x y
V2 = x Q x
k km m = .
4π²0 r5 2 k,m=1 π ²0 r5
Resposta
O momento monopolar é a carga total do sistema:
Z
Q= ρ dv , (4.75)
v
sendo v o volume onde a carga se distribui (interior de uma esfera de raio a). Assim, inserindo
(4.74) em (4.75), vem
Z Z π Z 2π
ρ0 a 4 3
Q= 2 r dr sin θdθ dφ .
a 0 0 0
Aplicando a relação3
Z π
2 (2m)!!
(sin θ)2m+1 dθ = ,
0 (2m + 1)!!
obtém-se
ρ0 a5 4 8
Q= 2π = π ρ0 a3 .
a2 5 3 15
O momento dipolar é definido por4
Z
p= ρ r dv ,
v
finalmente Z a Z π Z 2π
ρ0 5 3
pz = 2 r dr sin θ cos θ dθ dφ = 0
a 0 0 0
pelo que p = 0 para a distribuição dada. A última expressão anula-se, pois o integral em θ é
nulo. Em geral, Z π
sinm θ cos θdθ = 0 .
0
A distribuição de cargas tem simetria axial, pois a densidade de cargas não depende da
coordenada esférica φ. Para conhecer o tensor momento quadrupolar basta, pois, calcular
Qzz :
Z
Qzz = (3z 2 − r2 ) ρ dv
v
Z a Z π Z 2π
ρ0 6 2 3
= r dr (3 cos θ − 1) sin θdθ dφ .
a2 0 0 0
3
O sı́mbolo “!!” designa duplo factorial, tendo-se (2m)!! = 2×4×6×...×2m, e (2m+1)!! = 1×3×5×...×(2m+1).
4
Para tornar mais leve a notação, e quando apenas se calculam momentos multipolares, não vamos pôr
“linhas” nas variáveis sobre as quais se integra.
102 •
Campo electromagnético
donde
8 ρ0 a7 16
Qzz = − 2π 2 =− π a5 ρ0 .
15 a 7 105
Lembrando que Qxx = Qyy = −Qzz /2, a matriz completa dos elementos do momento
quadrupolar escreve-se
1 0 0
8 π ρ0 a5
(Qij ) = 0 1 0 .
105
0 0 −2
Resposta
O problema tem simetria cilı́ndrica, pois a densidade de cargas não depende da coordenada
angular cilı́ndrica φ. A carga total do cilindro é nula, uma vez que na parte de cima do cilindro,
z > 0, a densidade de carga é simétrica da da parte de baixo, z < 0. Vejamos qual é a carga
em cada uma das partes (na parte de cima, por exemplo):
Z a Z L Z 2π
Q+ = ρ r dr dz dφ
0 0 0
2
= π L ρ0 a2 . (4.77)
3
Recordando que, em coordenadas cilı́ndricas r = r cos φ î+r sin φ ĵ +z k̂, e que a integração
na variável φ de um seno ou de um co-seno dá zero, o momento dipolar só pode ter componente
na direcção z. Esta componente é dada por
Z a Z L Z 2π
pz = r dr ρ z dz dφ .
0 −L 0
Multipolos eléctricos •
103
As integrações a efectuar são semelhantes às da expressão (4.77), com a excepção da integração
em z. Obtém-se
ρ0 a3 2 2π
pz = 2π L = ρ0 a2 L2 .
a 3 3
Atendendo ao resultado (4.77) podemos escrever
p = Q+ L k̂ .
Esta expressão sugere que a distribuição (4.76) é equivalente a um dipolo formado pelas
cargas Q+ e −Q+ localizadas no eixo z, respectivamente em L/2 e em −L/2.
O momento dipolar da distribuição é independente da escolha da origem, pois a carga
total é nula.
Resposta
É conveniente fazer o estudo utilizando coordenadas cilı́ndricas. Escolhe-se o eixo z se-
gundo o eixo maior do elipsóide. O momento quadrupolar é
Z
Qzz = ρ [3z 2 − (r2 + z 2 )] r dr dφ dz , (4.79)
v
Q
ρ= 4 2
, (4.80)
3 πa b
x2 y 2 z 2
+ 2 + 2 = 1,
a2 a b
ou ainda, em termos da coordenada cilı́ndrica r,
r2 z2
+ = 1.
a2 b2
A integração sobre r, em (4.79), terá de ser efectuada de 0 até
s
z2
r=a 1− .
b2
104 •
Campo electromagnético
Tem-se, então,
q
Z b Z a 1− z2
2
b
Qzz = 2πρ dz (2z 2 − r2 ) r dr
−b 0
à ! à !2
Z b
z2 a4 z2
= 2πρ dz z 2 a2 1− 2 − 1− 2
−b b 4 b
Z b à !
z 4 a2 a4 a4 z 2 a4 z 4
2 2
= 2πρ dz z a − 2 − + − .
−b b 4 2b2 4b4
8
Qzz = π ρ a2 b (b2 − a2 ) .
15
Esta expressão pode ainda ser escrita, atendendo a (4.80), na seguinte forma:
2
Qzz = Q (b − a) (b + a) .
5
Um dipolo de momento dipolar p está localizado na origem, mas sem orientação especial
relativamente ao sistema de eixos. Mostrar que o campo eléctrico pode ser escrito na forma
1
E (r ) = [3 ( p · r̂ ) r̂ − p ] . (4.81)
4π²0 r3
Resposta
No cálculo de ∇(p · r ) deve notar-se que, sendo o vector p constante, o primeiro e o terceiro
termos no lado direito de (4.83) anulam-se. Além disso, o rotacional de r é nulo, pelo que
∇(p · r ) = (p · ∇)r
µ ¶
∂ ∂ ∂
= px + py + pz (xî + y ĵ + z k̂) = p .
∂x ∂y ∂z
Resposta
Consideremos a expressão do campo eléctrico produzido por um dipolo [Eq. (4.81)]. Se
tomarmos a direcção do momento dipolar para eixo z, o ângulo de p com r é a coordenada
esférica angular θ, podendo escrever-se
1
E= [3p cos θ r̂ − p k̂] .
4π²0 r3
Resposta
Vimos no Exemplo 4.2 que a energia de interacção dipolo-dipolo era dada por
1
UDD = [ p1 · p2 − 3(p1 · R̂)(p2 · R̂) ] , (4.84)
4π²0 R3
sendo R = r2 − r1 .
A força a que um dipolo de momento p fica sujeito quando está na presença de um campo
eléctrico E é, em geral, dada por (4.49). Além disso, a força pode ser expressa como o
simétrico do gradiente da energia potencial (que, neste caso, é a energia do sistema). Para
mostrarmos isso mesmo, neste caso particular, consideremos o gradiente do escalar p · E e
apliquemos a expressão (4.83):
∇(p · E ) = (E · ∇)p + (p · ∇)E + E × (∇ × p) + p × (∇ × E ) .
No lado direito desta equação, o primeiro e o terceiro termos são nulos, porque p é constante;
o quarto termo é zero porque o campo electrostático é irrotacional; a única parcela não nula é
o segundo termo, que é a força (4.49): F = (p · ∇)E . De (4.48) conclui-se, como se esperava,
que
F = −∇U .
Podemos agora determinar a força que se exerce no dipolo 2. Basta tomar o gradiente
da energia de interacção dipolo-dipolo em relação às coordenadas r2 (é este o significado do
ı́ndice 2 no operador nabla na expressão seguinte):
F2 = −∇2 UDD . (4.85)
Mas, como R = r2 − r1 , tomar o operador nabla em ordem às coordenadas do dipolo 2
é equivalente a tomar o operador nabla relativamente a R. Vamos designar este operador
nabla simplesmente por ∇, sem qualquer ı́ndice. Para se calcular o gradiente de (4.84) tem
de se usar µ ¶
1 R
∇ = −3 5 (4.86)
R3 R
e
R
∇(p · R̂) = (p · ∇) (4.87)
R
[para se escrever esta última expressão usou-se (4.83) e ainda o facto de p ser constante
e de R̂, tal como R, ser irrotacional]. Usando coordenadas cartesianas, em termos das
componentes, tem-se
3
X µ ¶
∂ xi
∇i (p · R̂) = pj
j=1
∂xj R
3 µ
X ¶
pj δij xj
= − pj xi 3
j=1
R R
pi xi
= − (p · R) .
R R3
Multipolos eléctricos •
107
p R
∇(p · R̂) = − (p · R) . (4.88)
R R3
Vamos usar os resultados (4.86) e (4.88) para, de acordo com (4.85), tomarmos o gradiente
da energia (4.84):
· ¸
3R 3 p1 R
F2 = 5
[ p1 · p2 − 3(p1 · R̂)(p2 · R̂) ] + 3
− 3 (p1 · R) (p2 · R̂)
4π²0 R 4π²0 R R R
· ¸
3 p2 R
+ − 3 (p2 · R) (p1 · R̂)
4π²0 R3 R R
3 h i
= (p1 · p2 )R̂ − 5 ( p1 · R̂ ) ( p2 · R̂ )R̂ + p1 (p 2 · R̂ ) + p2 (p 1 · R̂ ) . (4.89)
4π²0 R4
108 •
Campo electromagnético
À escala do nanometro, a matéria pode ser vista como um conjunto de cargas positivas
(núcleos) e negativas (nuvem electrónica). Átomos e moléculas, porque são electricamente
neutros, têm momento monopolar nulo. Em certos materiais, como os condutores, algumas
cargas eléctricas podem mover-se com grande liberdade quando ficam sujeitas à acção de
campos eléctricos externos. Noutros materiais não há cargas livres e, por isso, são não con-
dutores. Esses materiais, que vamos considerar neste capı́tulo, são designados por dieléctricos
e só possuem cargas ligadas. A presença de um campo eléctrico externo dá origem unicamente
a um pequeno deslocamento das cargas negativas relativamente às positivas, dizendo-se então
que o material fica polarizado. Esta ideia deve ficar bem clara desde o inı́cio: nos condutores
e semicondutores há cargas livres que se deslocam; nos dieléctricos as cargas estão sempre
ligadas, podendo apenas sofrer pequenos deslocamentos.
Saliente-se que, mesmo na ausência de campos externos, há certas moléculas que, embora
globalmente neutras, apresentam, devido à sua estrutura, um momento dipolar permanente.
Um exemplo comum é a molécula de água. Estas moléculas são polares, assim chamadas
por oposição às que não apresentam qualquer momento dipolar e que se denominam não
polares. Os dipolos moleculares orientam-se quase sempre ao acaso, pelo que o momento
dipolar de uma amostra é nulo (tal como o momento monopolar). Refira-se, a tı́tulo de
curiosidade, que há materiais com dipolos eléctricos permanentes que tendem a orientar-se
paralelamente entre si, mesmo na ausência de campo externo. São os chamados electretes,
bastante raros e de muito menor interesse do que os seus correspondentes magnéticos —
os magnetes permanentes. Por fim, para certos materiais pode acontecer que, depois de
estarem sujeitos à acção de um campo eléctrico externo, mantenham por mais algum tempo
a polarização que neles foi induzida.
Em geral, o electromagnetismo pode ser formulado sem necessidade de recorrer à descrição
microscópica da matéria. Pode, pois, falar-se de cargas e correntes sem necessidade de apurar
110 •
Campo electromagnético
qual é a sua constituição elementar, ou seja, sem necessidade de saber de que são “feitas”
essas cargas e essas correntes. No caso dos dieléctricos, embora a mesma perspectiva possa
ser adoptada, há vantagem em procurar entender os fenómenos com base no comportamento
microscópico dos constituintes da matéria. Notemos, no entanto, que, à escala microscópica,
muitos dos fenómenos só são compreensı́veis no quadro da mecânica quântica. As cautelas
terão, portanto, de ser redobradas...
Num pedaço de matéria cujas moléculas sejam não polares, e na ausência de campo
eléctrico externo, os centros de cargas positivas e negativas de cada molécula coincidem (um
exemplo é a molécula de O2 ). Sob a acção de um campo electrostático externo, o centro de
carga da nuvem electrónica desloca-se ligeiramente em relação ao centro de carga do núcleo
(o deslocamento é da ordem de ∼ 10−8 do diâmetro do átomo). Diz-se que o campo eléctrico
externo produziu uma polarização electrónica.
A polarização direccional ocorre no caso de o material ser constituı́do por moléculas po-
lares. Neste caso, o campo eléctrico externo faz orientar os dipolos para tornar mı́nima a
energia de interacção (como vimos no fim do capı́tulo anterior, o momento dipolar tende a
alinhar com a direcção do campo). Além disso, o próprio momento dipolar de cada molécula
aumenta por acção do campo externo.
Se o material for um sólido como o NaCl, os iões de diferentes sinais deslocam-se em
sentidos opostos quando sujeitos a um campo eléctrico externo e tem-se então a polarização
atómica.
P = np . (5.2)
Esta expressão estabelece uma relação entre uma propriedade macroscópica, P , e uma pro-
priedade microscópica1 , p. No caso de se aplicar ao dieléctrico um campo eléctrico externo
1
No Capı́tulo 4 introduzimos o sı́mbolo p para representar o momento dipolar de uma distribuição de
cargas. Advertimos o leitor para o facto de o mesmo sı́mbolo ser usado para designar tanto o momento dipolar
do “indivı́duo” (átomo ou molécula) como o de uma porção macroscópica de matéria.
Meios dieléctricos •
111
E
^
n
d v = s d S
+
d S
+
s
+
dQ = N+ Q − N− (−Q) = (N+ + N− )Q .
dQ = Q n s · dS , (5.3)
onde, como foi dito antes, n é o número de partı́culas (moléculas) por unidade de volume.
Atendendo à definição de momento dipolar da molécula, p = Qs e à Eq. (5.2), pode escrever-
se (5.3) na forma
dQ = n p · dS = P · dS . (5.4)
Se o elemento de área se localizar sobre a superfı́cie do dieléctrico, haverá aı́ uma acu-
mulação de carga ligada ou carga de polarização, cuja densidade superficial é
dQ
σp = = P · n̂ . (5.5)
dS
112 •
Campo electromagnético
estendido à superfı́cie fechada S que delimita v. A carga que fica no volume é o simétrico da
carga que sai. A expressão anterior e o teorema de Gauss permitem escrever a carga que fica
na forma de um integral estendido ao volume v:
Z
Qfica = − ∇ · P dv.
v
Sendo v qualquer, esta expressão permite-nos definir uma densidade volumétrica de carga
ligada ou de polarização, ρp (r ), dada por
ρp = −∇ · P . (5.6)
∂P
jp = .
∂t
Existe uma corrente de polarização sempre que P dependa explicitamente do tempo.
+ + + + + + + + + + + + + + +
E 0 P E
+ + +
(a ) (b )
[Figura 5.2 (a)] e em que existe dieléctrico [Figura 5.2 (b)]. Admitindo que P é constante, de
(5.6) conclui-se que ρp = 0, isto é, não há densidade volumétrica de carga de polarização no
dieléctrico. Mas à superfı́cie deste há carga, tendo sinal contrário à carga livre nas placas do
condensador [Figura 5.2 (b)]. O campo eléctrico com dieléctrico, E = σ/²0 , é menor do que o
campo quando não há dieléctrico, E0 = σ` /²0 , onde σ = σ` + σp é a densidade superficial de
carga total, σ` a densidade de carga livre e σp , que tem sinal contrário a σ` , a densidade de
carga de polarização. De (5.8) obtém-se imediatamente a relação entre os potenciais quando
existe e quando não existe dieléctrico:
µ ¶
σp
V = 1+ V0 .
σ`
P
r
+ + + +
r +
s
P
na situação em que r À s (os pormenores deste cálculo foram apresentados na Secção 4.2).
Tem-se µ ¶
Q 1 1 Q s · r̂ v P · r̂
V (r ) = − ≈ = ,
4π²0 |r − s/2| |r + s/2| 4π²0 r2 4π²0 r2
onde v é o volume da esfera. Quer dizer, a esfera uniformemente polarizada produz em pontos
exteriores (r À s) o mesmo potencial que seria criado por um dipolo, de momento dipolar
p = v P , colocado no centro da esfera.
A lei de Gauss, tal como foi formulada no Capı́tulo 2, continua a ser válida, desde que
se inclua a carga total, isto é, a carga livre mais a carga de polarização. Consideremos uma
superfı́cie fechada S no interior da qual (região de volume v) podem existir cargas livres e
cargas de polarização. Admita-se que sobre a superfı́cie S não há distribuições superficiais
de carga de qualquer espécie. A lei de Gauss aplicada ao volume v conduz à expressão
I
Q Q` + Qp
E · dS = = ,
S ²0 ²0
onde Q é a carga total contida no volume v,
Z
Q= (ρ` + ρp )dv .
v
Daqui resulta que a equação local para o campo E passa a ser escrita do seguinte modo:
ρ` + ρp ρ
∇·E = = , (5.11)
²0 ²0
onde ρ, ρ` e ρp designam, respectivamente, as densidades volumétricas de carga total, livre e
de polarização. Atendendo a (5.6), a Eq. (5.11) pode ser escrita na forma
∇ · (²0 E + P ) = ρ` .
É, pois, possı́vel definir um vector cuja divergência dependa apenas da densidade volumétrica
de cargas livres. Esse vector,
D = ²0 E + P , (5.12)
chama-se vector ou campo deslocamento eléctrico (ou, simplesmente, deslocamento) e obedece
à equação local
∇ · D = ρ` , (5.13)
bem como à correspondente equação integral,
Z I
∇ · D dv = D · dS = Q` , (5.14)
v S
as quais permitem, em princı́pio, calcular D uma vez conhecida a distribuição de carga livre.
O campo eléctrico macroscópico no interior de um dieléctrico pode ser visto como a so-
breposição do campo deslocamento [que obedece à Eq. (5.13)] e do campo devido às cargas
de polarização:
D P
E= − .
²0 ²0
Meios dieléctricos •
117
sendo n̂ o versor normal à superfı́cie e que aponta para o meio 2. Note-se que a componente
do vector D segundo a normal à superfı́cie é contı́nua sobre esta superfı́cie se não houver
distribuição superficial de cargas livres. É este o caso quando a fronteira separa dois meios
dieléctricos. Se, porém, a fronteira é entre um condutor e um dieléctrico, D = 0 no interior
do condutor (meio 1) pelo que, de (5.15), no meio 2 (dieléctrico), junto à superfı́cie, Dn = σ` ,
sendo σ` a densidade de carga livre à superfı́cie do condutor.
Em situações estáticas, da equação de Maxwell ∇ × E = 0 e de (5.12) resulta
onde Pit , Dit são as componentes dos campos P e D numa direcção perpendicular à normal2
na superfı́cie de separação dos meios 1 e 2.
Na Secção 5.2 foi afirmado que deve existir uma relação entre o campo eléctrico, E ,
e o vector polarização, P . Há certos meios dieléctricos que apresentam uma polarização
permanente, quer dizer P 6= 0 mesmo quando E = 0. Mas, em geral, a relação funcional
P = P (E ) é tal que P (E = 0) = 0, isto é, não há polarização se não houver campo aplicado.
Neste caso, a expressão mais simples que se pode considerar para as componentes do vector
polarização é um desenvolvimento nas componentes de E :
X X
Pi = αij Ej + βijk Ej Ek + ... (5.18)
j jk
2
Na superfı́cie de separação podem ser definidos dois eixos ortogonais. A Eq. (5.17) designa, de uma forma
compacta, a projecção sobre cada um desses eixos.
118 •
Campo electromagnético
onde χij são as componentes do tensor susceptibilidade eléctrica. Estas quantidades são
adimensionais e caracterı́sticas do material, não dependendo de E (caso contrário, cai-se na
situação não linear). As componentes do tensor susceptibilidade eléctrica podem não ser
constantes, isto é, podem variar de ponto para ponto do material. A Eq. (5.19) mostra que,
em geral, P e E não são paralelos mesmo em materiais dieléctricos lineares (situação que
ocorre, por exemplo, em cristais). Mas há materiais dieléctricos lineares que são também
isotrópicos. A isotropia significa que, em cada ponto do material, as suas propriedades
eléctricas são independentes da direcção E ; o vector polarização é então paralelo ao campo
eléctrico. Todas as direcções são equivalentes e χij = 0 se i 6= j e χxx = χyy = χzz = χe . A
relação entre P e E é, então, localmente, de simples proporcionalidade,
P = ²0 χe E , (5.20)
embora a susceptibilidade eléctrica χe , numa situação mais geral, possa ser uma função
de r , ou seja, possa variar de ponto para ponto do dieléctrico. Se tal dependência não
existir, quer dizer se o dieléctrico for linear, isotrópico e homogéneo, χe é uma constante
e o dieléctrico diz-se da classe A. Naturalmente que o valor de χe depende do dieléctrico
considerado, verificando-se experimentalmente que é sempre positivo para todos os materiais
conhecidos.
Usando a relação (5.20), a expressão do vector deslocamento eléctrico, dada por (5.12),
pode ser escrita na forma
D = ²0 E (1 + χe ) = ²0 ²r E = ² E , (5.21)
sendo ² a permitividade do meio e ²r , dada por
²
²r = 1 + χe = , (5.22)
²0
a permitividade relativa, que é uma quantidade sempre maior ou igual a 1. Esta grandeza é
também designada por constante dieléctrica do material, sendo então representada por κe . As
quantidades χe , ²r (≡ κe ) ou ² são obtidas experimentalmente e caracterizam as propriedades
dieléctricas do material.
Quando o campo externo E é pouco intenso os dieléctricos têm um comportamento linear.
Mas, mesmo para campos de intensidade moderada, a grande maioria dos materiais exibe
ainda um comportamento linear. A anisotropia aparece essencialmente em sólidos cristalinos
cujas propriedades variam com a direcção. Em materiais anisotrópicos, a relação (5.12)
continua válida mas, em geral, D , E e P não P são paralelos. A Eq. (5.21) é escrita, em
termos das componentes de D , na forma Di = ²0 j (²r )ij Ej , sendo (²r )ij as componentes de
um tensor.
Em meios dieléctricos isotrópicos, lineares e homogéneos, o potencial electrostático satisfaz
uma equação semelhante a (2.15). Assim, reescrevendo a Eq. (5.21) em função do potencial
V,
D = ²E = −² ∇V ,
tomando a divergência de ambos os membros desta equação e considerando que a permitivi-
dade do meio, ², é constante, vem
∇ · D = −² ∇2 V ,
ou, fazendo uso de (5.13),
ρ`
∇2 V = − , (5.23)
²
que é a equação de Poisson. Apesar de, no numerador do segundo membro, aparecer sim-
plesmente a densidade de carga livre, isto não significa que o efeito das cargas de polarização
tenha desaparecido. Esse efeito está incluı́do em ². A Eq. (5.23) é equivalente a (2.15) [no
numerador de (2.15) a densidade de carga refere-se à carga total], como veremos na próxima
secção.
Meios dieléctricos •
119
n^
d ie lé c tric o
+ + +
+ c o n d u to r
n '
^
+
+
E = 0
D = 0
A última destas equações ainda se pode escrever, usando (5.20) e (5.21), na forma
²0 χe
σp = − D · n̂ . (5.28)
²
Tendo em conta (5.22) e combinando (5.28) com (5.26), conclui-se que
µ ¶
1
σp = −σ` 1 −
²r
[note-se a semelhança com (5.24)] ou, ainda, somando σ` a cada membro da equação anterior,
σ`
σ= .
²r
A Eq. (5.9) que relaciona as capacidades de um condensador plano sem dieléctrico (C0 ) e
com dieléctrico (C) pode, atendendo à equação anterior, ser escrita na forma seguinte:
C = ²r C0 . (5.29)
Material ²r
Ar (PTN) 1,000 59
Água (vapor: 1 atm, 110 ◦ C) 1,012 6
Água (lı́quida: 1 atm, 100 ◦ C) 55,33
Água (lı́quida: 1 atm, 25 ◦ C) 78,54
Água (lı́quida: 1 atm, 0 ◦ C) 88,00
Benzeno (1 atm, 20 ◦ C) 2,28
Diamante (1 atm, 20 ◦ C) 5,5
Hélio (1 atm, 140 ◦ C) 1,000 07
Hélio lı́quido (1 atm, 4,19 K) 1,048
Nylon (1 atm, 20◦ C) 3,5
Parafina (1 atm, 20◦ C) 2,0 – 2,5
Porcelana (1 atm, 20◦ C) 6,0 – 8,0
Vidro, pı́rex 7070 (1 atm, 20 ◦ C) 4,00
²2 E2n − ²1 E1n = σ` ,
²r
Água 81 78,2 34
Ácido clorı́drico 5,90 5,90
Benzeno 2,28 2,28 2,28
Esferovite 1,03 1,03 1,03
Gelo 4,15 3,20
Tetracloreto de carbono 2,17 2,17 2,17
Vidro (borosilicato de sódio) 5,00 4,84 4,82
Por outro lado, e como também já se referiu na Secção 5.4, as componentes perpendiculares
a n̂ dos campos eléctricos E1 e E2 (componentes tangenciais) são sempre iguais:
E2t = E1t .
E 2 n E 2
q 2
E 1 t
m e io 2
E 2 t m e io 1
E 1 n
q 1
E 1
A Figura 5.5 mostra, em esquema, uma superfı́cie plana a separar dois meios dieléctricos
1 e 2, e ilustra a refracção das linhas do campo eléctrico. As linhas de E afastam-se da
normal (θ2 > θ1 ) quando, ao passar de um meio 1 para um meio 2, a permitividade aumenta
(²2 > ²1 ).
+ Q
O
e
a
Obtemos
D= 0, r < a, r > b;
Q
D= r̂ , a < r < b.
4πr2
1 Q2 1
ue = , (5.36)
2² (4π)2 r4
na região onde existe dieléctrico e é nula fora dessa região. Integrando sobre todo o espaço
ocupado pelo dieléctrico obtemos a energia electrostática armazenada no condensador
Z Z b µ ¶
4π Q2 dr Q2 1 1
Ue = ue dv = = − ,
2² (4π)2 a r2 8π² a b
ou ainda,
Q2 b − a
Ue = .
8π² ab
2
Como, por outro lado, Ue = 21 QV = 12 QC , pode obter-se directamente quer a diferença de
potencial entre as duas esferas, quer a capacidade do condensador. Para a capacidade
ab
C = 4π² ,
b−a
Meios dieléctricos •
125
C = ²r C0 .
Uma vez mais se verifica que quando o espaço entre as armaduras é ocupado por um
dieléctrico, a capacidade do condensador aumenta: veja-se a semelhança entre a equação
anterior e a Eq. (5.29), que se refere ao condensador plano.
Retomando a expressão (5.36), note-se que, no caso de ausência de dieléctrico e estando
o condensador carregado com a mesma carga Q, a densidade de energia seria dada por uma
expressão análoga, mas agora no denominador apareceria ²0 em vez de ², ou seja, ue0 = ²r ue ,
com o ı́ndice “0” referente à situação em que não existe dieléctrico.
Para um condensador plano isolado, com ou sem dieléctrico entre as suas placas, a grandeza
do vector deslocamento é D = σ` , pois possuem ambos a mesma carga livre. A densidade de
energia, dada por (5.35), é ue0 = σ`2 /2²0 no caso em que não existe dieléctrico, e ue = σ`2 /2²
quando este está presente. Também neste caso, ue0 = ²r ue (ver Problema 5.12.3).
b
x L -x
d A
1
Para manter o potencial constante, à medida que se introduz o dieléctrico, tem de haver um
acréscimo de carga dQ nas placas, uma vez que a capacidade do condensador vai aumentando
(recorde-se que V = Q/C). O trabalho realizado sobre o condensador é igual à variação da
sua energia interna, dU , e contém duas contribuições: o trabalho da força exterior F que
segura o dieléctrico e o trabalho realizado pela bateria. Quando o bloco dieléctrico se desloca
dx entre as placas do condensador, a lei de conservação da energia permite escrever
dU = F dx + V dQ . (5.37)
Nesta expressão, F dx é o trabalho que a força exterior realiza durante o deslocamento dx,
e V dQ é o trabalho realizado pela bateria para manter constante a diferença de potencial
entre as placas do condensador. Por outro lado, a energia armazenada num condensador é
dada por U = QV /2 = V 2 C/2. A sua variação, mantendo-se constante o potencial, é
V2
dU = dC .
2
Atendendo a que
dQ = V dC ,
pode concluir-se, a partir da Eq. (5.37), que
V2
F dx = − dC . (5.38)
2
Coloca-se agora a questão de saber como varia a capacidade do condensador à medida que
o dieléctrico vai sendo introduzido. A capacidade do condensador representado na Figura 5.7
é igual à capacidade da associação em paralelo de dois condensadores, com capacidades
²0 ²r bx ²0 b(L − x)
C1 = e C2 = ,
d d
Meios dieléctricos •
127
o primeiro para a parte já com dieléctrico (zona 1) e o segundo para a parte sem dieléctrico
(zona 2). A capacidade total é
²0 b
C = C1 + C2 = (L − x + ²r x) (5.39)
d
e a sua variação é dada por
²0 b
dC = (²r − 1) dx .
d
Introduzindo esta expressão em (5.38) e recordando que V = Ed, vem
²0 E 2
F =− (²r − 1) b d .
2
Esta é a força exterior que se exerce sobre o dieléctrico durante o processo de introdução
no condensador. A força devida ao campo eléctrico, Fe , é igual a esta em grandeza, mas de
sentido oposto (a introdução do dieléctrico é feita com aceleração nula),
²0 E 2
Fe = (²r − 1) b d . (5.40)
2
A força, por unidade de área, exercida sobre a face do dieléctrico de área A = bd é uma força
atractiva dada por
Fe ²0 E 2
= (²r − 1) ,
A 2
que puxa o dieléctrico para o interior do condutor.
Sabemos também que a carga total nas placas se mantém constante e igual a Q:
(1) (2)
Q = σ` bx + σ` b(L − x) .
128 •
Campo electromagnético
Resolvendo estas duas equações em ordem às densidades superficiais de carga, obtém-se:
(1) Q²r
σ` =
b[²r x + (L − x)]
(2) Q
σ` = .
b[²r x + (L − x)]
(i)
As grandezas dos vectores deslocamento eléctrico nas zonas 1 e 2 são D(i) = σ` , i = 1, 2,
pelo que as densidades de energia, calculadas a partir de (5.35), são
Q2 ²2r
ue1 =
2²b2 [²
r x + (L − x)]
2
Q2
ue2 = .
2²0 b2 [²r x + (L − x)]2
Para uma dada distância x estas densidades são constantes e as energias em cada uma das
zonas são obtidas multiplicando as densidades pelos volumes respectivos. Efectuando os
cálculos obtém-se para a energia
Q2 d
U= .
2 ²0 b (²r x + L − x)
Esta equação poderia igualmente ter sido obtida a partir de U = Q2 /2C, usando a expressão
da capacidade dada por (5.39).
A variação da energia do condensador com x é
dU Q2 d (1 − ²r )
= .
dx 2²0 b (²r x + L − x)2
A força exercida pelo campo eléctrico sobre o dieléctrico é oposta a F , isto é, Fe = −F .
De (5.41) e da expressão anterior resulta
dU Q2 d(²r − 1) Q2 (²r − 1) ²0 b
Fe = −F = − = = ,
dx 2 ²0 b (²r x + L − x)2 2 C2 d
V 2 (²r − 1)²0 b
Fe = ;
2d
²0 (²r − 1)E 2
Fe = bd ,
2
Os cálculos desenvolvidos na Secção 5.3 para se obter o potencial eléctrico criado por um
material dieléctrico num ponto exterior não podem ser aplicados directamente ao caso de um
ponto interior.
Em rigor, o campo eléctrico no interior do dieléctrico é uma função com grandes flutuações,
quer no espaço, quer no tempo: num dado ponto, pode variar muito de instante para instante
e pode também variar muito de ponto para ponto, não só em grandeza, mas também em
orientação.
Em muitas situações, o que importa considerar é o campo eléctrico macroscópico, o qual
deve ser tomado como um valor médio no espaço e no tempo do campo local que vamos
designar por ε. Sendo ε o valor médio no tempo do campo eléctrico em determinado ponto,
Z ∆t
1
ε= ε dt ,
∆t 0
o campo eléctrico macroscópico é resultado de uma nova média sobre o espaço do vector dado
pela equação anterior, isto é, Z
1
E= ε dv .
v v
O volume v deverá ser suficientemente grande para que as flutuações estatı́sticas não tenham
um grande significado mas, por outro lado, não deve ser tão extenso que a polarização tenha
grandes modificações, quer dizer, o vector P não deve variar significativamente nesse volume
v. O campo eléctrico E será, assim, uma grandeza que variará suavemente no espaço e no
tempo e será mesmo independente do tempo no caso estático.
v '
S '
P
v "
afastados, isto é, os da região v 0 ; quanto a E 00 , resulta da contribuição dos dipolos do in-
terior da esfera. Sendo σp e σp0 as densidades superficiais de carga na superfı́cie exterior do
dieléctrico e na superfı́cie da esfera, e ρp a densidade de carga de polarização no volume v 0 ,
a contribuição E 0 , ou seja, o campo criado por todo o material menos a esfera centrada em
P, é dada por "Z #
0 I I 0 dS 0
1 ρ dv σ dS σ
E0 = p
â + p
â + p
â . (5.42)
4π²0 v0 a2 S a
2
S0 a2
Começamos por calcular o terceiro destes integrais (ou seja, o integral sobre a superfı́cie
esférica). Escolhe-se o eixo z com a orientação do vector polarização, que é constante sobre
a superfı́cie esférica, isto é, P = P k̂ (ver Figura 5.9).
P P
n ^
q
R
σp0 = P · n̂ = −P cos θ .
O versor â que aparece nos integrais (5.42), em função das suas componentes cartesianas, é
escrito do seguinte modo:
por
0 1 4π P
E(3) = P k̂ = . (5.43)
4π²0 3 3²0
Meios dieléctricos •
131
P
E 00 = − ,
3²0
Notemos que, ao primeiro destes integrais, podemos sempre juntar uma parcela do tipo
Z
1 ρp dv 00
E= â . (5.45)
4π²0 v 00 a2
De facto, se a polarização no interior da esfera é constante, como anteriormente se considerou,
ρp = 0 e o integral (5.45) é nulo. Podemos, pois, estender o primeiro integral em (5.44) a
todo o volume v do dieléctrico; o segundo estende-se a toda a superfı́cie que o limita:
·Z I ¸
1 ρp dv σp dS
E= â + â .
4π²0 v a2 S a2
Este campo é devido às cargas de polarização (dipolos induzidos). Se a ele se juntar o que
tem origem em cargas livres, Elivre , obtém-se o campo eléctrico total:
Etotal = Elivre + E .
O campo eléctrico no interior de uma cavidade existente num meio dieléctrico depende
muito da forma da cavidade. Nas situações que vamos analisar, consideramos sempre, por
uma questão de simplicidade, que o meio dieléctrico tem uma polarização constante, P .
Designamos por E o campo eléctrico no dieléctrico e por E0 o campo na cavidade.
No primeiro caso, a cavidade tem a forma de um paralelepı́pedo muito estreito (aresta
infinitesimal, d`), com a face maior paralela ao campo eléctrico (ver Figura 5.10). Como
∇ × E = 0, a circulação do campo eléctrico ao longo do contorno C, indicado na referida
figura, é nula.
Conclui-se, assim, que o campo no interior desta cavidade estreita tem de ser igual ao
campo no dieléctrico:
E0 = E . (5.46)
Analisemos agora uma cavidade, ainda com a forma de um paralelepı́pedo, de altura
infinitesimal, dh, e com a face maior perpendicular ao campo eléctrico (ver Figura 5.11).
Neste caso, devido às cargas de polarização sobre as bases, o campo no interior da cavidade
vai ser diferente do campo no dieléctrico. Aplicando a lei de Gauss à superfı́cie fechada S
indicada em corte na Figura 5.11, vem
σp P · n̂
n̂ · (E − E0 ) = =− ,
²0 ²0
132 •
Campo electromagnético
d l
E 0
E 0 E
C
E
d l
^
n
E E E 0
+ + + + + +
d h S
de onde resulta
P
E0 = E + , (5.47)
²0
isto é, na cavidade o campo eléctrico é mais intenso do que no dieléctrico (recorde-se que P
e E são paralelos para dieléctricos lineares e isotrópicos).
Consideremos finalmente uma cavidade esférica. O campo num ponto P no interior de uma
cavidade esférica pode ser visto como o campo devido a todo o material dieléctrico menos
o campo produzido por uma esfera uniformemente polarizada, com a mesma polarização do
dieléctrico, centrada em P e com as dimensões da cavidade. Esta interpretação está ilustrada
na Figura 5.12.
O campo criado pela esfera, Eesfera , relaciona-se com a polarização P através da Eq.
(5.10). Como se tem E = E0 + Eesfera , podemos concluir que o campo no interior da
cavidade esférica é
P
E0 = E + . (5.48)
3²0
Meios dieléctricos •
133
P P P
=
Sublinhe-se que este campo é intermédio relativamente ao que se tem no caso da cavidade
paralelepipédica estreita, consoante a face maior do paralelepı́pedo seja paralela [ver (5.46)]
ou perpendicular [ver (5.47)] ao campo eléctrico E .
sendo α a chamada polarizabilidade, grandeza que mede a facilidade com que um momento
dipolar é induzido [o factor ²0 em (5.49) é incluı́do por razões históricas]. Na Tabela 5.3
apresentam-se valores para polarizabilidades de iões de halogéneos, para átomos de gases
raros e para iões de metais alcalinos.
Havendo n moléculas por unidade de volume, a polarização, P = np, é escrita do seguinte
modo:
P = n α ²0 E . (5.50)
P
²r − 1 = . (5.51)
²0 E
²r − 1 = nα , (5.52)
134 •
Campo electromagnético
GÁS LÍQUIDO
Substância ²r nα dg d` d` /dg nα ²r ²r
(exp.) (teor.) (exp.)
A Eq. (5.53) permite fazer previsões para a permitividade relativa de lı́quidos partindo
das polarizabilidades e das massas volúmicas. A partir de ²r do gás pode ser obtido o valor
de nα para o gás usando (5.52), e, a partir da razão das massas volúmicas de lı́quido e vapor
da mesma substância, obtém-se nα para a fase lı́quida. A Eq. (5.53) permite, finalmente,
determinar o valor de ²r para o lı́quido.
A Tabela 5.4 mostra dados experimentais relativos a vários materiais e a previsão de ²r
para cada lı́quido feita com base na Eq. (5.53). Verifica-se um bom acordo para o árgon
e para o oxigénio e acordos razoáveis para o tetracloreto de carbono e para o sulfureto de
carbono.
U = −p0 E cos θ ,
136 •
Campo electromagnético
onde θ é o ângulo que o campo eléctrico forma com o momento dipolar. Numa situação de
equilı́brio térmico o número de moléculas com uma dada energia U é proporcional a
µ ¶
U
exp − ,
kT
onde k é a constante de Boltzmann e T a temperatura absoluta. O número de moléculas por
unidade de volume e por unidade de ângulo sólido, para um dado ângulo polar θ, escreve-se,
então,
n0 (θ) = n0 e−U/kT = n0 ep0 E cos θ/kT , (5.54)
sendo n0 uma “constante de normalização”. À temperatura ambiente, T é grande e o ex-
poente, para campos eléctricos de interesse prático, torna-se pequeno. Pode fazer-se um
desenvolvimento em série da exponencial e tomar para n0 (θ) a expressão
µ ¶
E cos θ
n0 (θ) = n0 1 + p0 . (5.55)
kT
Esta equação mostra que n0 (θ) é máximo quando θ = 0 e mı́nimo para θ = π, o que significa
que há mais moléculas cujos momentos dipolares são paralelos ao campo externo do que
antiparalelos. Integrando a expressão (5.55) sobre todo o ângulo sólido [só a primeira parcela
de (5.55) contribui para o integral], obtém-se o número de partı́culas por unidade de volume,
n: Z
n0 (θ) dΩ = 4 π n0 = n .
Inserindo (5.55) nesta expressão e notando que só o segundo termo de (5.55) contribui para
este integral, obtém-se
p2 E n
P = 0 . (5.56)
3kT
A polarização média é proporcional ao campo eléctrico e inversamente proporcional à temper-
atura, como seria de esperar: para temperaturas mais altas haverá menos alinhamentos dos
dipolos com a direcção do campo por causa das colisões. A dependência em 1/T é chamada
lei de Curie.
A permitividade relativa do meio obtém-se de (5.51) e de (5.56):
p20 n
²r − 1 = . (5.57)
3 ²0 k T
Note-se a dependência com n da permitividade relativa, semelhante à das outras situações
estudadas na secção anterior.
A Figura 5.13 mostra, para o vapor de água, ²r − 1 em função de 1/T dado pela equação
anterior, bem como alguns valores obtidos experimentalmente, para diferentes temperaturas,
Meios dieléctricos •
137
e r 1 / 1 0 3
0
0 1 2 3 T 1 / 1 0 3 K 1
mantendo n constante. A comparação dos resultados mostra que existe um bom acordo entre
as previsões teóricas e as medições experimentais.
Refira-se, por último, uma outra caracterı́stica da permitividade relativa no caso de
moléculas polares. Devido ao momento de inércia das moléculas, demora algum tempo a
efectuar-se o alinhamento dos momentos dipolares com a direcção do campo externo. As-
sim, para um campo oscilante de elevada frequência, a contribuição da polarização intrı́nseca
das moléculas para ²r desaparece, pois as moléculas deixam de conseguir “responder” em
tempo útil às variações do campo. Ao invés, mesmo para frequências de oscilação elevadas,
a polarização electrónica, estudada na secção anterior, perdura, devido à menor inércia dos
electrões.
Resposta
A polarização, P , é o produto do número de dipolos por unidade de volume, n, pelo
momento dipolar de cada dipolo, p, de acordo com (5.2). Por outro lado, sendo Q o valor
138 •
Campo electromagnético
absoluto de cada uma das cargas que constituem o dipolo e s o vector dirigido da carga
negativa para a positiva, podemos escrever
P = nQs. (5.58)
10−29 1019
s = 10−7 = 5, 924×10−19 m = 5, 924×10−4 fm ,
1, 756 6×1, 602
valor que é muito menor do que a dimensão do átomo (o diâmetro do átomo é da ordem de
10−10 m) e até do próprio nucleão (diâmetro da ordem de 1 fm = 10−15 m)!
O momento dipolar médio de cada átomo é [cf. (5.2)] p = Pn , pelo que
10−7
p= = 5, 695×10−36 C m .
1, 756×1029
Resposta
A densidade volumétrica de carga de polarização é dada por (5.6) e a densidade superfi-
cial de carga de polarização é dada por (5.5)6 . No caso presente, a normal à superfı́cie do
dieléctrico, assente no plano z = 0, é −k̂. Para a outra face a normal é k̂. Têm-se, pois, as
seguintes densidades superficiais:
σ(z = 0) = −P (z = 0) · k̂ = −P
σ(z = h) = P (z = h) · k̂ = P (1 + αh) ;
ρp = −∇ · [ P (1 + αz) k̂ ] = −P α .
6
Chama-se de novo a atenção para o facto de o versor n̂ nesta equação ser normal à superfı́cie do dieléctrico
e apontar para o lado de fora deste.
Meios dieléctricos •
139
A carga total contida num cilindro de área de base A é a soma da carga de polarização na
base inferior, q1 , da carga de polarização na base superior, q2 , e da carga no volume cilı́ndrico,
q3 . Na superfı́cie lateral não pode haver carga de polarização, pois o vector P tem a direcção
do eixo z e, por isso, é perpendicular ao versor normal à superfı́cie lateral do cilindro. As
densidades superficiais de carga são constantes e as cargas nas bases são
q1 + q2 = −A P + A P (1 + αh) = A P α h . (5.59)
Considere-se um condensador plano, com placas de área A separadas por uma pequena
distância d. O condensador está carregado com uma carga Q uniformemente distribuı́da e
está isolado.
O espaço entre as placas é totalmente preenchido por um dieléctrico linear, isotrópico e
homogéneo de permitividade relativa ²r . Calcular:
c) A capacidade do condensador;
Resposta
²r − 1 Q
σp,1 = −P · k̂ =
²r A
²r − 1 Q
σp,2 = P · k̂ = − ,
²r A
Q
C= ,
V
Qd
V =Ed= .
A ²r ²0
A capacidade vem
A
C = ²r ²0 . (5.61)
d
A introdução do dieléctrico faz aumentar a capacidade de um factor ²r (cf. Exemplo
5.1);
d) A energia do condensador é
1 1 Q2
U= QV = . (5.62)
2 2 C
Como a capacidade é alterada pela introdução do dieléctrico, de acordo com (5.61),
também a energia armazenada no condensador com dieléctrico, U , vai ser diferente da
energia do condensador sem dieléctrico, U0 . Usando (5.61) e (5.62), essa relação é
1
U= U0 . (5.63)
²r
5.12.4 Condensadores — I
Questão
Dois condensadores de igual capacidade C estão ligados em paralelo. São primeiro carrega-
dos até ficarem ao potencial V e depois desligados da fonte e isolados. Introduz-se então um
dieléctrico de permitividade relativa ²r num dos condensadores, preenchendo completamente
o espaço entre as placas. Calcular a carga livre que flui de um condensador para o outro e a
nova diferença de potencial entre as placas dos condensadores.
Meios dieléctricos •
141
Resposta
Q=CV .
Q0 = 2
2 1 + ²r C V .
²r − 1
Q01 − Q = CV
²r + 1
e o novo potencial é
2
V0 = V.
1 + ²r
5.12.5 Condensadores — II
Questão
Resposta
A capacidade do condensador sem lâmina é
A
C = ²0 , (5.67)
d
onde A é a área de cada placa do condensador. Depois de se introduzir a lâmina o sistema
pode ser visto, para efeito deste cálculo, como uma associação de dois condensadores em
série, cada um com distância “entre placas” igual a d/2, e portanto de capacidades
2A 2A
C 1 = ²0 , C2 = ²0 ²r .
d d
Da associação em série de condensadores com estas capacidades resulta uma capacidade
equivalente:
C1 C2 2²r
C0 = = C.
C1 + C2 1 + ²r
Resposta
O sistema representado na Figura 5.14 é equivalente a uma associação de dois conden-
sadores em paralelo, de capacidades C1 e C2 , cada um com o seu dieléctrico. A capacidade
do condensador sem dieléctricos é [cf. (5.67)] C = ²0 Ad , e as capacidades C1 e C2 são dadas
por
A A
C1 = ²r1 ²0 e C2 = ²r2 ²0 .
2d 2d
A capacidade equivalente é simplesmente a soma destas duas capacidades:
²r1 + ²r2
C 0 = C1 + C2 = C.
2
Meios dieléctricos •
143
Resposta
O campo eléctrico no interior e no exterior do dieléctrico é (cf. Exemplo 5.3)
E= Q r̂ para r < R
4π²0 ²r r2
E= Q r̂ para r > R .
4π²0 r2
A fim de calcularmos a carga de polarização vamos primeiro determinar o vector polar-
ização, que se relaciona com o campo eléctrico segundo (5.20). Tem-se:
²r − 1 Q r̂
P = ²r
para r < R
4πr2
P =0 para r > R .
Q0p = −Qp .
144 •
Campo electromagnético
Resposta
A polarização no interior do cilindro pode ser escrita, em função das coordenadas carte-
sianas, do seguinte modo: Ã !
x2 + y 2
P = P0 1 − k̂ . (5.70)
a2
Pode mostrar-se que, em cada ponto, o vector (5.71) é perpendicular ao plano que
contém esse ponto e o eixo z. De facto, notemos que a direcção normal a esse plano é
a do vector k̂ × ( x î + y ĵ + z k̂ ) = x ĵ − y î que é a direcção de (5.71). As linhas do
campo ∇ × P são circunferências assentes em planos paralelos ao plano xy, como se
indica na Figura 5.15.
Resposta
a) No interior da superfı́cie metálica interna não há cargas livres e a carga total livre
contida numa esfera de raio r > b também é nula. O vector deslocamento é, pois, nulo
para r < a e para r > b. Considerando uma superfı́cie de Gauss esférica, de raio r, na
região entre as duas superfı́cies metálicas obtém-se o vector deslocamento, que é dado
por
Q
D= r̂ a < r < b;
4πr2
146 •
Campo electromagnético
divS D = σ` = n̂ · (D2 − D1 ) .
Para r = a vem µ ¶
Q Q
σ` = −r̂ · 0 − 2
r̂ = ;
4πa 4πa2
para r = b, de forma análoga se obtém
Q
σ0` = − ;
4πb2
c) O campo eléctrico é nulo para r < a e para r > b. Na região a < r < b é dado por
1 Q Qa
E= D= 2
r̂ = r̂ .
²r ²0 4π²0 ²r r 4π²0 r3
Resposta
A densidade de carga livre é a divergência do vector deslocamento
∇ · D = ρ` ; (5.76)
este vector relaciona-se com o campo eléctrico através de
D = ²0 ²r E (5.77)
e o vector polarização relaciona-se com o campo eléctrico através de
P = ²0 (²r − 1) E . (5.78)
Usando (5.78) em (5.77) e introduzindo a expressão resultante para D na expressão (5.76),
obtém-se µ ¶
²r
∇· P = ρ` . (5.79)
²r − 1
Recordando que (ver Apêndice B)
∇ · (f A) = f ∇ · A + A · ∇f
e que, por hipótese, ρ` = 0, a Eq. (5.79) passa a ser escrita do seguinte modo:
µ ¶
²r ²r
∇·P +P ·∇ = 0.
²r − 1 ²r − 1
Usando (5.6),
²r P
− ρp − · ∇²r = 0 ,
²r − 1 (²r − 1)2
donde
P
· ∇²r .
²r ρp = −
²r − 1
Finalmente, exprimindo P em termos de E [ver (5.78)], conclui-se que
²0
ρp = − E · ∇²r . (5.80)
²r
148 •
Campo electromagnético
e 1 e 2
a
Resposta
O sistema descrito está representado na Figura 5.17.
a) Devido à presença dos dieléctricos, a distribuição de cargas livres não vai ser uniforme
sobre a superfı́cie das esferas. Cada uma das armaduras pode ser dividida em dois
hemisférios que estão em contacto com o dieléctrico 1 e com o dieléctrico 2, respectiva-
mente. Consideremos apenas uma das armaduras, por exemplo, a interior. A densidade
de carga livre no hemisfério em contacto com o dieléctrico 1 é diferente da densidade de
carga livre no hemisfério em contacto com o dieléctrico 2. De facto, a distribuição de
cargas que confere ao sistema estabilidade máxima (energia mı́nima) é aquela em que
a densidade de carga total está uniformemente distribuı́da sobre a superfı́cie esférica
r = a. Assim, e porque os dieléctricos polarizam de formas diferentes, quando se car-
rega o condensador, as cargas livres distribuem-se até que na superfı́cie r = a haja
uma distribuição uniforme de carga total. Designemos por Q0 a carga total distribuı́da
em r = a. No interior dos dieléctricos não há cargas livres, pelo que as densidades
de carga de polarização são nulas [ver Problema 5.12.10, designadamente a expressão
(5.80)]. Para obter o campo eléctrico para a < r < b podemos aplicar a lei de Gauss
Meios dieléctricos •
149
usando como superfı́cie de Gauss uma superfı́cie esférica concêntrica com as armaduras,
obtendo-se
Q0
E= r̂ a < r < b.
4π²0 r2
O vector deslocamento nas regiões ocupadas por cada um dos dieléctricos é
²1 Q0
D1 = ²1 E1 = r̂ (5.81)
4π²0 r2
²2 Q0
D2 = ²2 E2 = r̂ . (5.82)
4π²0 r2
onde o sinal + em ı́ndice se refere ao lado para onde aponta o versor r̂ e o sinal − ao
outro lado. Usando (5.81) e atendendo a que o campo é nulo no interior da armadura,
D1− = 0, vem
²1 Q0
σ`,1 = .
4π²0 a2
A densidade de carga superficial livre no outro hemisfério é dada por uma expressão
análoga:
²2 Q0
σ`,2 = .
4π²0 a2
Multiplicando cada uma destas expressões pela área de cada hemisfério, 2πa2 , e so-
mando obtém-se a carga livre Q:
²1 + ²2 0
Q= Q ,
2²0
ou seja,
2 ²0
Q0 = Q,
²1 + ²2
verificando-se que, de facto, Q0 < Q. Introduzindo o resultado anterior nas expressões
dos campos, obtém-se, para a < r < b:
Q
E= r̂ (5.83)
2π(²1 + ²2 ) r2
e
²1 Q
D1 = r̂ (5.84)
2π(²1 + ²2 ) r2
²2 Q
D2 = r̂ . (5.85)
2π(²1 + ²2 ) r2
Para r > b o campo eléctrico é nulo, pois na esfera exterior há uma distribuição uniforme
da carga total −Q0 ; assim, também o vector deslocamento se anula, nesta região;
150 •
Campo electromagnético
Sobre a superfı́cie de separação dos dois dieléctricos (que é uma coroa circular) não
há cargas de polarização, pois a normal a essa superfı́cie é perpendicular ao vector
polarização num e noutro meio. Por outras palavras, a divergência superficial do vector
polarização é nula nesta superfı́cie;
e, finalmente,
Q2 (b − a)
Ue = . (5.86)
4 π a b (²1 + ²2 )
Como a energia de um condensador é dada por Ue = Q2 /(2C), podemos obter de (5.86)
uma expressão para a capacidade do condensador esférico considerado:
2 π a b (²1 + ²2 )
C= .
b−a
Meios dieléctricos •
151
Resposta
Considere-se que uma placa do condensador (a que tem carga positiva) está em x = 0 e a
outra em x = d. O campo deslocamento é dado por
Q
D = σ î = î .
A
A permitividade absoluta é
²2 − ²1
²(x) = ²1 + x (5.87)
d
e, portanto, o campo eléctrico, considerando o dieléctrico linear e isotrópico, vem
D Q d
E= = î .
²(x) A ²1 d + (²2 − ²1 ) x
Q d ²0 (²2 − ²1 )
ρp = −∇ · P = − . (5.88)
A [ ²1 d + (²2 − ²1 ) x ]2
ii) sobre x = d,
Q ²2 − ²0
σp = î · P (d) = ; (5.90)
A ²2
c) A capacidade do condensador.
Meios dieléctricos •
153
Resposta
O problema é semelhante a 5.12.12, mas agora é dada a permitividade relativa (e não a
absoluta, como anteriormente).
Considere-se que uma placa do condensador (a que tem carga positiva) está em x = 0 e a
outra em x = d. O campo deslocamento é dado por
Q
D = σ î = î , (5.92)
A
sendo Q a carga do condensador quando lhe é aplicada uma d.d.p. V0 . A permitividade
relativa é dada por
2d
²r (x) = ,
x+d
e, portanto, o campo eléctrico é
D Q(x + d)
E= = î . (5.93)
²0 ²r (x) 2dA²0
2²0 V0
ρp = −∇ · P = . (5.95)
3d2
D , e 0 E , P
D
4 V 0e 0/3 d
e 0 E
d x
i) sobre x = 0,
2²0 V0
σp = −î · P (0) = − ; (5.96)
3d
ii) sobre x = d,
σp = î · P (d) = 0 .
Calculemos em primeiro lugar a carga de polarização sobre as superfı́cies do dieléctrico,
para o que basta multiplicar a densidade (5.96) pela área A. A carga total superficial
de polarização no dieléctrico é
2A²0 V0
Qp(s) = − . (5.97)
3d
Como a densidade de carga de polarização (5.95) é constante, a carga de polarização
no volume é
2A²0 V0
Q(v)
p = ,
3d
que é simétrica de (5.97).
Quanto às cargas livres, só se encontram nas placas do condensador, tendo-se, em x = 0
[ver (5.94)],
Q 4V0 ²0
σ= = ,
A 3d
e o simétrico em x = d;
c) A capacidade do condensador, que é dada por C = Q/V , vem então
4A
C = ²0 .
3d
5.12.14 Esfera polarizada radialmente
Questão
Uma esfera de raio a tem uma polarização radial P = α rn r̂ , sendo α e n constantes e
n ≥ 0. Calcular as densidades superficial e volumétrica de carga de polarização. Determinar
E dentro e fora da esfera. Determinar também o potencial V dentro e fora da esfera.
Meios dieléctricos •
155
Resposta
A densidade volumétrica de carga de polarização obtém-se a partir da divergência do
vector polarização (convém calcular a divergência em coordenadas esféricas):
α d n+2
ρp = −∇ · P = − r = −α (n + 2) rn−1 .
r2 dr
Sobre a superfı́cie da esfera a densidade de carga de polarização é
σp = P · n̂ = α an r̂ · r̂ = α an . (5.98)
À semelhança do que se fez em problemas anteriores, podemos mostrar explicitamente que a
carga total de polarização é nula. A carga existente no volume é
Z a
Q(v)
p = −α (n + 2) 4π rn+1 dr = −4 π α an+2 . (5.99)
0
Da lei de Gauss I
Q0
E · dS =
S ²0
resulta
1 n+2 αrn P
E=− 2
4 π α r r̂ = − r̂ = − . (5.100)
4πr ²0 ²0 ²0
Para r > a o campo eléctrico é nulo e, portanto, o potencial é constante. Como o potencial
é nulo em pontos muito afastados da esfera (r → ∞), conclui-se que o potencial é nulo no
exterior da esfera. O potencial dentro da esfera é igual à diferença de potencial entre um
ponto do interior da esfera e um ponto da superfı́cie, que está ao potencial nulo. Calculando
a circulação do campo eléctrico (5.100) ao longo de uma trajectória radial, obtém-se:
Z a Z a
α α
V = E dr = − rn dr = (rn+1 − an+1 ) .
r ²0 r ²0 (n + 1)
b
a
z 0
Resposta
Se não existir dieléctrico, o campo eléctrico entre as armaduras do condensador cilı́ndrico
é
Q
E=
2πr²0 `
e o potencial entre as armaduras, V , é simplesmente a circulação deste campo entre r = a e
r = b.
A capacidade do condensador cilı́ndrico sem dieléctrico é Q/V , obtendo-se
2π²0 `
C0 = .
ln(b/a)
1 Q2 Q2 ln(b/a) 1
U= = .
2 C 4π²0 ` + z (²r − 1)
Meios dieléctricos •
157
O trabalho da força eléctrica sobre o dieléctrico quando este sofre um deslocamento infinites-
imal dz é δW = F dz, sendo tal trabalho o simétrico da variação infinitesimal da energia do
sistema, dU , decorrente do deslocamento infinitesimal do dieléctrico. Podemos, pois, escrever
dU Q2 ln(b/a) ²r − 1
F =− = . (5.101)
dz 4π²0 [` + z(²r − 1)]2
Q2 ln(b/a) ²r − 1
= mg
4π²0 [` + z0 (²r − 1)]2
tira-se a expressão de z0 :
s
1 Q2 (²r − 1) ln(b/a)
z0 = − ` .
²r − 1 4 π m g ²0
158 •
Campo electromagnético
CAPÍTULO 6
SOLUÇÃO DA EQUAÇÃO
DE LAPLACE
O campo eléctrico produzido por uma dada distribuição de cargas estáticas pode ser
calculado a partir do simétrico do gradiente do potencial electrostático, o qual é muitas vezes
obtido por integração [ver (2.12)].
Alternativamente, a determinação do potencial pode ser procurada resolvendo-se a equação
de Poisson (2.15), que é uma equação diferencial de segunda ordem às derivadas parciais:
ρ
∇2 V = − ,
²0
ou, tal como vimos no Capı́tulo 5,
ρ`
∇2 V = − , (6.1)
²
no caso dos meios dieléctricos da classe A.
Mais simples do que resolver a equação de Poisson é resolver a equação de Laplace,
∇2 V = 0 , (6.2)
válida em domı́nios onde não existam cargas. É este o objectivo principal deste capı́tulo.
Antes de abordar esta questão, vamos apresentar um teorema importante que fundamenta
e justifica os desenvolvimentos a fazer a seguir.
Segundo o teorema da unicidade para potenciais eléctricos, não pode haver mais do que
um potencial V (r ) que satisfaça a equação de Poisson e um dado conjunto de condições de
160 •
Campo electromagnético
fronteira. Uma consequência importante deste teorema é a liberdade de que dispomos para
calcular V (r ), usando o método mais apropriado a cada situação.
Põe-se, naturalmente, a questão de explicitar quais são as condições de fronteira apro-
priadas para que a equação de Poisson (ou de Laplace) tenha uma solução única e bem
comportada, ou seja, fisicamente aceitável, numa região limitada por uma superfı́cie. Os
resultados experimentais levam-nos a concluir que a especificação do potencial sobre a su-
perfı́cie-fronteira define um problema único. Neste caso tem-se uma dada região do espaço
limitada por uma superfı́cie e, embora não se conheçam os pormenores da distribuição de
cargas, conhece-se o potencial em todos os pontos dessa superfı́cie (condição de fronteira de
Dirichlet). A expressão geral da função V é determinada a partir de (6.2), com a condição de,
sobre a superfı́cie de fronteira, reproduzir os valores dados. Em alternativa ao conhecimento
de V sobre a fronteira, pode especificar-se a derivada do potencial eléctrico segundo a normal,
∂V
∂n = ∇V · n̂, em cada ponto da superfı́cie de fronteira (n̂ é a normal à superfı́cie). Neste
caso, as condições de fronteira dizem-se de von Neumann.
Vamos então demonstrar que existe apenas uma solução da equação de Poisson dentro de
um volume, v, com condições de fronteira impostas sobre a superfı́cie fechada, S, que delimita
esse volume. Admitamos, por hipótese, que existiam duas soluções, V1 e V2 , satisfazendo as
mesmas condições de fronteira, e seja a diferença entre elas designada por V :
V = V2 − V1 .
(A igualdade I Z Z
∂V
V dS = ∇V · ∇V dv + V ∇2 V dv (6.5)
S ∂n v v
é designada teorema de Green.)
Solução da equação de Laplace •
161
∂V ∂V ∂V
= = = 0, (6.6)
∂x ∂y ∂z
O método das imagens fornece uma técnica para o cálculo do potencial eléctrico e, con-
sequentemente, do campo eléctrico. A ideia subjacente consiste em encontrar um conjunto
de cargas fictı́cias (chamadas cargas-imagem) que, juntamente com as cargas reais presentes,
criem um potencial eléctrico que satisfaça todas as condições de fronteira.
Este método é utilizado frequentemente em problemas envolvendo cargas pontuais na viz-
inhança de condutores. O efeito dos condutores pode ser simulado por uma ou por várias
cargas-imagem, de tal modo que as superfı́cies dos condutores são “substituı́das” por su-
perfı́cies equipotenciais que, devido à acção conjunta de cargas reais e das cargas-imagem
(ou fictı́cias) devem encontrar-se ao mesmo potencial dos condutores reais do problema.
Respeitam-se, deste modo, as condições de fronteira e a solução assim encontrada para o
potencial é única.
As cargas fictı́cias simulam, afinal, o papel de outras distribuições de carga que determinam
as condições de fronteira. O potencial pode, então, ser escrito na forma
X qi,reais X qj,fictı́cias
V = + , (6.7)
i
4π²0 Ri j
4π²0 Rj
sublinhando-se que todas as cargas fictı́cias têm de estar localizadas fora da região onde
importa conhecer o potencial. Caso contrário, estarı́amos a alterar os dados do problema.
Consideremos alguns exemplos concretos que ilustram o método e ajudam a compreendê-lo
melhor.
y
P ( x ,y ,z )
R ' R
-Q d d Q x
m a te ria l c o n d u to r v a z io
real, cria no plano x = 0 um potencial nulo. De facto, o potencial criado pelas duas cargas
no ponto P é
µ ¶
Q 1 1
V = VQ + V−Q = − 0
4π²0 R R
à !
Q 1 1
= p −p (6.8)
4π²0 (x − d)2 + y 2 + z 2 (x + d)2 + y 2 + z 2
e, sobre o plano x = 0, o potencial anula-se, quaisquer que sejam y e z, tal como se pretendia.
O potencial (6.8), válido para x ≥ 0, satisfaz as condições de fronteira do problema e é único.
Para x ≤ 0 o potencial é identicamente nulo, dado tratar-se do interior de um condutor em
equilı́brio electrostático.
O campo eléctrico obtido a partir da equação E = −∇V é
µ ¶
Q x−d x+d
Ex = − (6.9)
4π²0 R3 R0 3
µ ¶
Qy 1 1
Ey = − (6.10)
4π²0 R3 R0 3
µ ¶
Qz 1 1
Ez = − . (6.11)
4π²0 R3 R0 3
Q 2d
E (x = 0, y, z) = − î . (6.12)
4π²0 (d + y + z 2 )3/2
2 2
Esta distribuição de carga “induzida” no plano pela presença da carga pontual Q não é
uniforme: tem um máximo na origem (em frente a Q) e tende para zero quando y, z → ∞.
A carga total no condutor obtém-sepintegrando a densidade superficial, sendo conveniente
utilizar as coordenadas polares r = y 2 + z 2 e φ, ao efectuar a integração sobre o plano:
Z Z ∞ Z 2π
Qd r dr
Qplano = σdS = − dφ
2π 0 (d + r2 )3/2
2
0
µ ¯
Q −1 ¯¯∞
= − 2πd √ ¯ = −Q .
2π d2 + r 2 0
Conclui-se, assim, que a carga total induzida no plano condutor é igual à carga-imagem, como
seria de esperar, uma vez que se pretende, com a carga-imagem, simular o comportamento
global do condutor.
Vejamos, por fim, qual é a força exercida pelo plano condutor sobre Q. O campo produzido
pelo plano condutor é dado pelas eqs. (6.9), (6.10) e (6.11), mas no ponto (d, 0, 0), onde se
encontra a carga Q, só a componente x é diferente de zero. O campo é obtido de (6.9) e a
força — produto da carga Q pelo campo que as outras cargas criam nesse ponto — é
−Q Q2
F =Q î = − î .
4π²0 (2d)2 16π²0 d2
Esta expressão é exactamente a mesma que resultaria de (2.1), usando o facto de as cargas
pontuais Q e Q0 estarem à distância 2d uma da outra.
Exemplo 6.2: Carga pontual junto a uma esfera condutora ligada à terra
Consideremos uma carga pontual Q à distância d do centro de uma esfera condutora de
raio a, ligada à terra. Escolhemos um sistema de eixos com origem no centro da esfera e
cujo eixo dos z passa pelo ponto onde está a carga Q. Pretende calcular-se o potencial em
pontos exteriores à esfera (no interior da esfera o potencial é nulo), devendo ser satisfeita a
condição de fronteira V (a, θ, φ) = 0. Introduz-se uma carga-imagem Q0 a uma distância d0 do
centro da esfera O (d0 < a), portanto fora da região onde se pretende conhecer o potencial.
A situação está representada esquematicamente na Figura 6.2.
O potencial criado, em P (x, y, z), pelas cargas real e fictı́cia é
µ ¶
1 Q Q0
V (r, θ, φ) = + . (6.13)
4π²0 R R0
Designando por r o vector posicional, relativamente à origem das coordenadas, do ponto
genérico P e por d o vector posicional de Q relativamente a O, tem-se r = d + R, pelo que
z
Q R Q R
P ( x ,y ,z ) P ( x ,y ,z )
d R '
d
Q ' r r
d ' q
q
a O O
2
R0 = (r2 + d0 − 2rd0 cos θ)1/2 . (6.15)
Sobre a superfı́cie da esfera, a expressão (6.13) tem de se anular, pois esta é a condição de
fronteira que deve ser satisfeita. Para r = a, o potencial escreve-se
" #
1 Q Q0
V (a, θ, φ) = 0 = √ +p .
4π²0 a2 + d2 − 2ad cos θ a2 + d0 2 − 2ad0 cos θ
a2 a
d0 = e Q0 = − Q . (6.16)
d d
Substituindo em (6.13), obtém-se o potencial, válido para qualquer ponto do exterior da
esfera,
Q √ 1 a/d
,
V (r, θ, φ) = −r ³ ´ ³ ´
4π²0 2 2
r + d − 2rd cos θ 2 2
a 2
a
r2 + d − 2r d cos θ
1 Qa/d Q
V (r = a) = = ,
4π²0 a 4π²0 d
sendo esta a condição de fronteira, sobre a superfı́cie da esfera, a ser satisfeita pela solução
V (r, θ, φ) válida para o exterior da esfera.
y
m e io 1 m e io 2
(d ie lé c tric o ) (v a z io )
d x
²0 (²r − 1)
ρp = −∇ · P = −²0 (²r − 1)∇ · E = − ∇ · D = 0,
²0 ²r
uma vez que, não existindo densidade de carga livre no dieléctrico, vem ∇ · D = 0. Sobre a
superfı́cie do dieléctrico há uma densidade de carga de polarização σp . A componente x do
Solução da equação de Laplace •
167
O método das imagens é adequado em muitas circunstâncias, mas um método mais geral
para a obtenção do potencial (e do campo eléctrico) será a própria resolução da equação de
Poisson (6.1).
Por ser mais simples, abordaremos a questão da resolução da equação de Laplace (6.2),
que se aplica em regiões do espaço onde não existam cargas. Obtida a solução desta equação
— equação diferencial, homogénea, de segunda ordem — é fácil, em princı́pio, escrever a
solução da equação de Poisson. Esta solução é a soma da solução da equação de Laplace e
de uma solução particular da equação completa.
Nesta secção vamos obter soluções da equação de Laplace. Em coordenadas cartesianas,
a Eq. (6.2) vem (ver Apêndice B)
1 d2 X 1 d2 Y 1 d2 Z
2
+ 2
+ = 0.
X(x) dx Y (y) dy Z(z) dz 2
Cada uma das parcelas desta expressão depende apenas de uma das variáveis x, y ou z, pelo
que a igualdade a zero só se obtém se cada uma das parcelas for igual a uma constante, ou
seja, se
1 d2 X
= ±c21 (6.27)
X(x) dx2
1 d2 Y
= ±c22 (6.28)
Y (y) dy 2
1 d2 Z
= ±c23 , (6.29)
Z(z) dz 2
onde c2i são três constantes positivas arbitrárias apenas sujeitas à condição
Nestas expressões, A, B, ..., C 0 , D0 são constantes de integração. As funções Y (y) e Z(z) são
formalmente idênticas a X(x), pois as equações a que obedecem são do mesmo tipo.
Há, evidentemente, muitos conjuntos de valores de c1 , c2 , c3 que satisfazem (6.30). Uma vez
que cada combinação corresponde, de facto, a uma solução possı́vel da equação de Laplace,
há um número infinito de possı́veis soluções do tipo
linearmente independentes. Uma combinação linear destas soluções é ainda uma solução,
pelo que a equação de Laplace tem por solução geral
X
V (x, y, z) = A{c} V{c} (x, y, z) ,
{c}
V (x, y, z) = (A + B x) (C + D y) (E + F z) . (6.35)
Outra situação particular ocorre num problema a duas dimensões, em que V (x, y) =
X(x) Y (y) e a Eq. (6.30) se reduz a c21 + c22 = 0, ou seja, c21 = −c22 = β 2 , sendo β uma
constante real ou imaginária. As soluções de (6.27) e (6.28) são, respectivamente, do tipo
(6.33) e (6.32), ou seja,
Uma solução geral do problema a duas dimensões é, pois, uma combinação linear de produtos
de funções do tipo X(x) e Y (y). As condições de fronteira impõem, de um modo geral, que
o parâmetro β seja discreto, pelo que a solução do problema a duas dimensões é da forma
∞ ³
X ´
V (x, y) = An eβn x + Bn e−βn x [Cn cos(βn y) + Dn sin(βn y)] , (6.36)
n=1
V 0
V = 0 y = 0 (x ≥ 0) (6.37)
V = 0 y = b (x ≥ 0) (6.38)
V = V0 x = 0 (0 < y < b) (6.39)
V → 0 x → ∞. (6.40)
O sistema é infinito segundo o eixo dos z e, por isso, o potencial não deve depender de z.
A solução é, pois, do tipo (6.36). A condição (6.37) implica que Cn = 0 para qualquer n.
A condição (6.38) implica que
nπ
Dn sin(βn b) = 0 ⇒ βn = (n = 1, 2, ...) .
b
Fica, assim, determinada a dependência em y da expressão do potencial:
µ ¶
nπ
Yn (y) ∼ sin y (n = 1, 2, ...) .
b
Quanto à parte que depende de x, a condição de fronteira (6.40) implica que todos os coefi-
cientes An , em (6.36), se anulem. Teremos, portanto,
∞
X µ ¶
nπ nπ
V (x, y) = Cn0 sin y e− b
x
. (6.41)
n=1
b
1
A situação apresentada é académica. De facto, ela é impossı́vel de ser realizada na prática, pois há uma
descontinuidade no potencial segundo o eixo y. A uma descontinuidade no potencial corresponderia um campo
eléctrico infinito.
Solução da equação de Laplace •
171
Os coeficientes Cn0 desta série são determinados usando-se a condição de fronteira (6.39) que
não foi ainda explorada. A equação anterior em x = 0 reduz-se a
∞
X µ ¶
nπ
V (0, y) = V0 = Cn0 sin y . (6.42)
n=1
b
Antes de prosseguir, convém recordar alguns aspectos das séries de Fourier que vão ser
necessários ao problema em estudo. Uma função bem comportada F (y), isto é, contı́nua ou,
pelo menos, contı́nua por partes, e nunca infinita, definida num intervalo [0, b] pode sempre
ser escrita como uma série de Fourier:
∞ ·
X µ ¶ µ ¶¸
nπ nπ
F (y) = Cn00 sin y + Dn00 cos y .
n=0
b b
As funções trigonométricas formam uma base completa e gozam das seguintes propriedades
de ortogonalidade:
Z b µ ¶ µ ¶ Z b µ ¶ µ ¶
mπy nπy mπy nπy b
sin sin dy = cos cos dy = δmn , n, m 6= 0 . (6.43)
0 b b 0 b b 2
¡ mπ ¢
Retomemos a Eq. (6.42), multipliquemos ambos os membros por sin b y e integremos
de 0 a b. O primeiro membro fica
Z b µ
mπ
¶ 2V0 b
se m é ı́mpar
V0 sin y dy = mπ (6.44)
0 b
0 se m é par.
As contribuições das diferentes parcelas são tanto menores quanto maior for n devido
à função exponencial. Na direcção x o campo tende para zero rapidamente. Por outro
lado, para (x = 0, y = 0, z) e (x = 0, y = b, z), o campo torna-se infinito (como já se referiu
anteriormente, o potencial tem uma descontinuidade e a situação apresentada não pode ser
realizada na prática).
172 •
Campo electromagnético
sendo a sua solução expressa em função das coordenadas esféricas, V = V (r, θ, φ). Utilizare-
mos a mesma técnica de separação de variáveis mas, como o desenvolvimento do formalismo
se torna bastante trabalhoso, limitar-nos-emos aos casos em que haja simetria axial, isto é,
às situações em que o potencial seja independente do ângulo azimutal φ. A equação anterior
reduz-se a µ ¶ µ ¶
2 1 ∂ 2 ∂V 1 ∂ ∂V
∇ V (r, θ) = 2 r + 2 sin θ =0 (6.47)
r ∂r ∂r r sin θ ∂θ ∂θ
e procuram-se soluções da forma
A primeira parcela só depende de r e a segunda só depende de θ. Para que a equação seja
satisfeita com toda a generalidade, cada uma das parcelas só pode ser igual a uma constante:
se a parte que depende de r for igual a k, a que depende de θ terá de ser igual a −k, sendo
k uma constante real. A equação para R(r) é
d2 R dR
r2 2
+ 2r − kR = 0 , (6.50)
dr dr
a qual admite soluções da forma
concluindo-se que
k = n (n + 1) . (6.52)
Vejamos agora a equação para Θ(θ), que se obtém facilmente a partir de (6.49). Usando já
o resultado (6.52), a Eq. (6.49) vem
µ ¶
d dΘ
sin θ + n(n + 1) sin θ Θ(θ) = 0 . (6.53)
dθ dθ
Trata-se de uma equação que aparece em muitos ramos da Fı́sica (por exemplo, no estudo de
um campo de forças central em mecânica quântica não relativista) e cuja solução se exprime
Solução da equação de Laplace •
173
em função dos polinómios de Legendre. Para obter essas soluções efectuamos a mudança de
variável q q
d d
ξ = cos θ → sin θ = 1 − ξ 2 ; e = − 1 − ξ2
dθ dξ
na Eq. (6.53). Escrevendo Θ(θ) = Pn (ξ), obtém-se a conhecida equação de Legendre:
· ¸
d dPn
(1 − ξ 2 ) + n(n + 1) Pn = 0 .
dξ dξ
As soluções desta equação, Pn (cos θ), com n inteiro, são os polinómios de Legendre, que já
foram referidos no Capı́tulo 4 (Secção 4.4).
É importante notar que n0 = −(n + 1) conduz exactamente ao mesmo valor de k [ver
(6.52)] e, portanto, a equação de Legendre fica invariante. Quer isto dizer que Pn (cos θ) =
P−(n+1) (cos θ). Combinando a solução para a parte angular, representada pelos polinómios
de Legendre, com a solução (6.51) para a parte radial (onde, então, n = 0, 1, 2, ...), podemos
afirmar que, quando existe simetria axial, a equação de Laplace admite, em coordenadas
esféricas, uma solução geral da forma
∞ ³
X ´
V (r, θ) = An rn + Bn r−(n+1) Pn (cos θ) . (6.54)
n=0
Note-se que, para escrever a Eq. (6.56), se utilizou o facto de E = −∇V e z = r cos θ.
A simetria do problema sugere que se procure o potencial a partir da solução da equação
de Laplace em coordenadas esféricas com simetria axial [Eq. (6.54)]. Em r = a a Eq. (6.54)
e a condição de fronteira (6.57) conduzem a
∞ ³
X ´
V (a, θ) = An an + Bn a−(n+1) Pn (cos θ) = 0 . (6.58)
n=0
174 •
Campo electromagnético
E 0
O segundo membro depende de θ apenas através do co-seno. Ora (ver Secção 4.4) P1 (cos θ) =
cos θ, pelo que, usando novamente as condições de ortogonalidade (6.55), concluı́mos que
An = 0 se n 6= 1 e A1 = −E0 e, de (6.59), segue-se que B1 = E0 a3 , Bn = 0 (n 6= 1).
Finalmente, o potencial que se procura é dado por
à !
a3
V (r, θ) = −E0 1− 3 r cos θ . (6.61)
r
A carga total induzida na esfera é nula, mas a esfera adquire o momento dipolar
p = 4π²0 a3 E0 k̂ ,
como se pode verificar efectuando a integração em (4.32) para a distribuição de carga (6.62).
De resto, note-se que o segundo termo em (6.61) tem a forma tı́pica do potencial criado por
um dipolo eléctrico [ver (4.8)].
Vint (r = a) = Vext (r = a) .
∂Vint ∂Vext
= .
∂θ ∂θ
176 •
Campo electromagnético
Consideramos para Vint e para Vext expressões do tipo (6.54). O potencial no interior da
esfera é simplesmente X
Vint = A(i) n
n r Pn (cos θ) , (6.64)
n
(i)
pois todos os Bn
têm de se anular para que se verifique a condição de fronteira 1., isto é,
para que o potencial se mantenha finito. No exterior
X³ ´
Vext = A(e) n (e) −(n+1)
n r + Bn r Pn (cos θ) . (6.65)
n
(e) (e)
de onde se conclui, usando as relações de ortogonalidade (6.55) que A1 = −E0 e An =
0, n 6= 1. A Eq. (6.65) passa, então, a ser escrita na forma
X
Vext = −E0 r cos θ + Bn(e) r−(n+1) Pn (cos θ) . (6.66)
n
Bn(e) = A(i)
n = 0, n 6= 1 . (6.71)
Por outro lado, resolvendo o sistema formado pelas eqs. (6.67) e (6.69), obtém-se
(i) 3E0
A1 = − (6.72)
2 + ²r
(e) ²r − 1
B1 = E 0 a3 . (6.73)
²r + 2
Solução da equação de Laplace •
177
3E0 3
Eint = −∇Vint = k̂ = E0 . (6.76)
²r + 2 ²r + 2
O campo no interior da esfera dieléctrica é constante, paralelo ao campo exterior inicialmente
existente, mas menos intenso do que este, pois ²r > 1. O vector polarização é [ver (5.20) e
(5.22)]
² −1
P = (²r − 1) ²0 Eint = r 3 ²0 E0 . (6.77)
²r + 2
Este vector é constante e, por isso, para obter o momento dipolar da esfera dieléctrica, p,
basta multiplicá-lo pelo volume da esfera:
²r − 1
p = 4 π ²0 a3 E0 . (6.78)
²r + 2
O potencial criado pela esfera polarizada num ponto exterior é [ver (4.8)]
p · r̂ ²r − 1 a3 E0 cos θ
Vdip = = ,
4π²0 r2 ²r + 2 r2
tendo-se utilizado o valor do momento dipolar dado por (6.78). Esta parcela é exactamente
a que se acrescenta ao potencial inicial, −E0 z, para obter o potencial no exterior da esfera
[ver (6.75)]. O potencial no exterior pode, pois, ser escrito na forma
Eext = −∇Vext
à ! à !
²r − 1 2a3 ² − 1 2a3
= E0 cos θ 1 + êr + E0 sin θ −1 + r êθ .
²r + 2 r3 ²r + 2 r3
Para r À a,
Eext = E0 cos θ êr − E0 sin θ êθ = E0 .
As linhas do campo eléctrico E para uma esfera dieléctrica num campo uniforme estão
representadas na Figura 6.6.
É interessante acrescentar um comentário relativamente ao campo eléctrico no interior da
esfera. Este campo, Eint , tem duas contribuições: o campo E0 e o campo local criado pela
distribuição de cargas de polarização:
Eint = E0 + Elocal .
178 •
Campo electromagnético
As duas primeiras parcelas não dependem de z e a última só depende de z, pelo que cada
uma das partes referidas tem de ser igual a uma constante:
1 d2 Z
= k2
Z(z) dz 2
e µ ¶
1 1 d dR 1 1 d2 Φ
r + = ξ2 . (6.81)
R r dr dr Φ r2 dφ2
Como k 2 + ξ 2 = 0, tem-se que k 2 = −ξ 2 . Multiplicando ambos os membros de (6.81) por r2 ,
a equação resultante contém uma parte que só depende de r e outra que só depende de φ:
µ ¶
1 d dR 1 d2 Φ
r r + k2 r2 + = 0. (6.82)
R dr dr Φ dφ2
A última parcela é igual a uma constante, que designamos por −η 2 . Supomos que k, ξ e η são
parâmetros reais. Com a constante assim escolhida, Φ é uma função periódica, o que garante
que a função potencial satisfaz V (r, φ, z) = V (r, φ + 2π, z). A dependência da solução nas
variáveis z e φ é determinada, respectivamente, pelas equações:
d2 Z
− k2 Z = 0 ,
dz 2
que admite soluções das formas (6.33) ou (6.34) e
d2 Φ
+ η2 Φ = 0 , (6.83)
dφ2
que admite soluções das formas (6.31) ou (6.32).
Desenvolvendo a parte radial em (6.82) e igualando-a a η 2 , resulta a seguinte equação para
r: Ã !
d2 R 1 dR 2 η2
+ + k − 2 R = 0. (6.84)
dr2 r dr r
dR
Introduzindo a variável x = kr (então dr = k dR
dx ), a equação anterior transforma-se em
à !
d2 R 1 dR η2
+ + 1 − R = 0,
dx2 x dx x2
e, na Eq. (6.81), o segundo membro é nulo, pois ξ 2 = −k 2 = 0. A Eq. (6.83) continua válida
e tem solução da forma [ver (6.31) ou (6.32)]
ou, equivalentemente,
Φ = A0 eiηφ + B 0 e−iηφ .
180 •
Campo electromagnético
Para garantir a periodicidade de Φ(φ) [e.g. Φ(0) = Φ(2π)], η só pode ser nulo ou inteiro2 .
Passaremos, então, a designar η, de forma mais sugestiva, por n.
A equação para r obtém-se fazendo k 2 = 0 em (6.84):
d2 R 1 dR n2
+ − 2 R = 0, (6.86)
dr2 r dr r
Sugere-se ao leitor que verifique, por substituição, que (6.87) é de facto solução de (6.86).
A expressão geral do potencial, para n 6= 0, escreve-se na forma
∞
X £ ¤
V (r, φ) = [An cos(nφ) + Bn sin(nφ)] Cn rn + Dn r−n .
n=1
V = Φ = A + Bφ .
sendo k1 e k2 constantes.
Finalmente, a solução geral da equação de Laplace em coordenadas cilı́ndricas (periódica
em φ), quando não há dependência da coordenada z, é
∞
X £ ¤
V (r, φ) = A0 + B0 ln r + [An cos(nφ) + Bn sin(nφ)] Cn rn + Dn r−n . (6.88)
n=1
Têm-se as seguintes relações de ortogonalidade [cf. (6.43)], muito úteis na determinação dos
coeficientes An e Bn em situações concretas:
Z 2π Z 2π
sin(nφ) sin(mφ) dφ = cos(nφ) cos(mφ) dφ = π δnm , n, m 6= 0 (6.89)
0 0
Z 2π
sin(nφ) cos(mφ) dφ = 0 . (6.90)
0
Solução da equação de Laplace •
181
y E 0
r P
a
f
x
V (r = a, φ) = 0 (6.91)
e, para r À a (r → ∞),
que é uma expressão idêntica a (6.56), com z substituı́do por x e θ por φ. Esta última condição
implica que no somatório em (6.88) interesse apenas o termo com n = 1. Ambas as condições
de fronteira implicam que, não havendo termos constantes, e não havendo dependência em
sin φ ou qualquer dependência logarı́tmica, se tenha3 A0 = B0 = B1 = 0. Para grandes
distâncias, a solução geral (6.88) fica reduzida a
V (r À a, φ) = A1 C1 r cos φ .
A1 D1
A1 C1 a + =0 → A1 D1 = −a2 A1 C1 = a2 E0 .
a
Finalmente, Ã !
a2
V (r, φ) = −E0 r cos φ 1− 2 . (6.93)
r
Quanto ao campo eléctrico, é obtido calculando o gradiente de (6.93):
∂V 1 ∂V
E = −∇V = −êr − êφ .
∂r r ∂φ
a2 E0
E = E0 î + (êr cos φ + êφ sin φ) .
r2
Resposta
Considere-se a Figura 6.8, onde a situação está representada.
O condutor é espesso e, por isso, para x < 0, o potencial é nulo. A condição de fronteira
é que o potencial seja zero sobre o plano x = 0. A linha de carga, perpendicular ao plano do
papel, localiza-se paralelamente ao eixo z, passando pelo ponto (x = a, y = 0).
O problema consiste em determinar o potencial electrostático para x > 0 e é conveniente,
para a situação apresentada, utilizar o método das imagens. Note-se que, se considerarmos
uma linha infinita de carga fictı́cia, de sinal contrário à da linha de carga real, e paralela a
esta, localizada em (x = −a, y = 0), o conjunto das duas distribuições (a real e a “imagem”)
garante que o potencial sobre x = 0 seja nulo, observando-se assim a condição de fronteira.
Veja-se, de resto, a semelhança deste problema com o Exemplo 6.1. O potencial criado por
uma linha infinita de carga de densidade λ, num ponto à distância r da linha, é
µ ¶
λ r0
V (r) = ln ,
2π²0 r
onde r0 é a distância da linha de carga ao ponto de referência onde o potencial é zero.
O potencial criado pelas duas distribuições lineares de carga num ponto P pode ser escrito
· µ ¶ µ 0 ¶¸
λ r0 r 0
V = ln − ln , (6.94)
2π²0 r r0
4
Nota: î = (êr cos φ − êφ sin φ).
Solução da equação de Laplace •
183
P ( x ,y ,z )
r'
r
l l
a a x
c o n d u to r v a z io
onde r e r0 são, respectivamente, as distâncias do ponto P às linhas de carga real e de carga
fictı́cia. Por outro lado, r0 e r00 , são as distâncias das linhas de carga ao ponto de referência
a potencial nulo. No presente caso qualquer ponto do plano ligado à terra pode servir de
referência e, qualquer que seja o ponto escolhido, verifica-se sempre r0 = r00 . A expressão
(6.94) simplifica-se, reduzindo-se a
µ ¶
λ r0
V = ln .
2π²0 r
Em coordenadas cartesianas,
Ãp !
λ (x + a)2 + y 2
V (x, y) = ln p .
2π²0 (x − a)2 + y 2
O potencial não depende de z, uma vez que as “distribuições de carga” são infinitas segundo
z, e satisfaz V (x = 0, y) = 0, como se tinha de garantir.
A distribuição de carga real induz no plano ligado à terra uma densidade superficial de
carga que produz, na região x > 0, um campo eléctrico igual ao que seria produzido pela
carga-imagem. Assim, o campo eléctrico experimentado pela carga real é exactamente o
campo eléctrico que seria produzido pela linha de carga fictı́cia nos pontos (a, 0, z) e que é
λ λ
E=− î = − î .
2π²0 (2a) 4π²0 a
A força exercida sobre a carga Q, existente no comprimento L de fio, é
λ
F = −Q î
4π²0 a
e, como Q = λ L, a força por unidade de comprimento do fio é
F λ2
=− î .
L 4π²0 a
184 •
Campo electromagnético
a
Q Q '
O
b
D
Resposta
Considere-se um ponto P no interior da cavidade, e seja r o raio vector desse ponto
relativamente ao centro. Conforme se indica na Figura 6.10, designando por r1 e por r2 as
distâncias das cargas real, Q, e fictı́cia, Q0 , ao ponto P, o potencial nesse ponto é dado por
· ¸
1 Q Q0
V = + . (6.95)
4π²0 r1 r2
a) Designando por b e por D os vectores posicionais das cargas Q e Q0 , respectivamente,
em relação ao centro da cavidade, e sendo θ o ângulo que r faz com a direcção comum
destes vectores, tem-se (ver Figura 6.10)
b + r1 = r e D + r2 = r ,
donde, p p
r1 = b2 + r2 − 2rb cos θ e r2 = D2 + r2 − 2rD cos θ .
Solução da equação de Laplace •
185
r 2
r r 1
q
O
b Q D Q '
b) A força que a superfı́cie esférica condutora exerce sobre Q pode ser obtida calculando
a força que a carga Q0 exerce sobre a carga Q. Tal força é, em módulo, dada por
F = Q E0 ,
sendo E 0 o campo eléctrico criado pela carga Q0 no ponto onde está Q. Assim,
aQ/b Q2 ab
F =Q = .
4π²0 (D − b)2 4π²0 (a2 − b2 )2
Q(a2 − b2 )
σ=− . (6.100)
4πa(a2 + b2 − 2ab cos θ)3/2
Questão
O condutor que se esquematiza na Figura 6.11 é uma superfı́cie plana infinita, excepto
numa zona hemisférica de raio a, fazendo lembrar um iglu, e encontra-se ao potencial V = 0.
Calcular a força que o condutor exerce numa carga pontual Q, colocada à distância d acima
do centro do bojo esférico.
Resposta
Comecemos por considerar o bojo esférico do condutor. Vimos no Exemplo 6.2 que o
condutor esférico ligado à terra na presença de uma carga Q à distância d do centro da esfera
pode ser substituı́do por uma carga fictı́cia de valor −Qa/d, colocada num ponto à distância
d0 = a2 /d do centro e sobre a linha que une o centro à carga real [Eq. (6.16)].
Na presente situação, teremos de considerar uma distribuição de cargas fictı́cias que anule
o potencial, quer sobre a parte plana do condutor, quer sobre o “iglu”.
Representa-se na Figura 6.12 essa distribuição de cargas.
Q '
Q ''= Q '
Q '''= Q
As cargas Q (real) e Q0 (fictı́cia) produzem um potencial nulo sobre toda a esfera: sobre
a parte de cima (a cheio), que é a que corresponde ao condutor real; mas também sobre a
parte de baixo (a tracejado), que diz respeito a uma zona fora da região que interessa con-
siderar. Colocando duas outras cargas fictı́cias de valores Q00 = −Q0 e Q000 = −Q em posições
simétricas das posições de Q0 e Q, respectivamente, em relação ao plano horizontal, é evidente
que o novo conjunto de cargas produz também potencial nulo sobre toda a superfı́cie esférica,
em particular sobre a parte de cima da esfera, o bojo que designámos por “iglu”. Além disso,
pelo facto de terem valores simétricos duas a duas e estarem colocadas simetricamente rel-
ativamente ao plano horizontal, as quatro cargas produzem igualmente potencial nulo sobre
todos os pontos do plano horizontal.
Em resumo, dada a carga Q à distância d do centro e o condutor, com a forma indicada, ao
potencial nulo, o efeito deste pode ser substituı́do pelas seguintes cargas-imagem, colocadas
fora da região onde se pretende calcular o campo eléctrico, sobre a linha que contém Q, e que
passa pelo centro do bojo esférico:
• carga de valor Q00 = −Q0 = Qa/d colocada à distância d00 = a2 /d abaixo do plano
horizontal;
A força que as cargas induzidas na superfı́cie condutora ligada à terra exercem sobre a
carga real Q é obtida a partir das forças exercidas sobre esta carga pelas cargas fictı́cias:
· ¸
Q Q0 Q00 Q000
F = + + .
4π²0 (d − d0 )2 (d + d00 )2 (2d)2
Resposta
A equação de Laplace ∇2 V = 0 é escrita, em coordenadas cartesianas, na forma
d2 X d2 Y d2 Z
+ + = 0.
dx2 dy 2 dz 2
Em princı́pio, o primeiro termo desta expressão só pode depender de x; o segundo só pode
depender de y e o terceiro pode apenas depender de z. Mas, para que a sua soma dê zero,
nem sequer pode haver dependências nas variáveis indicadas: cada uma das parcelas terá de
ser uma constante, pelo que a equação anterior pode ser escrita na forma
c1 + c2 + c3 = 0 , (6.102)
sendo
d2 X
= c1
dx2
d2 Y
= c2
dy 2
d2 Z
= c3 .
dz 2
Solução da equação de Laplace •
189
Resposta
A resistência está representada na Figura 6.13.
y
b a
x L
A corrente entra pela face y = L e sai pela face y = 0, tendo, portanto, em todo o condutor,
a direcção do eixo y. O fluxo de corrente para o exterior através das faces laterais é nulo,
pelo que
∂V
n̂ · ∇V = = 0,
∂n
sendo n̂ a normal a cada uma das faces laterais. As condições de fronteira são, pois:
y=0 → V =0 (6.103)
y = L → V = V0 (6.104)
∂V
x=0ex=a → =0 (6.105)
∂x
∂V
z=0ez=b → = 0. (6.106)
∂z
190 •
Campo electromagnético
Este conjunto de condições de fronteira sugere que se procure para o potencial uma solução
do tipo5 (6.35):
V = (A + Bx) (C + Dy) (E + F z) .
Para se satisfazerem as duas últimas condições de fronteira, as constantes B e F têm de ser
nulas. A solução terá, pois, a forma mais restrita
V (y) = C 0 + D0 y ,
Resposta
As condições de fronteira são:
V (x = 0, y) = 0 (6.107)
V (x, y = 0) = 0 (6.108)
V (x, y = b) = V0 x/a (6.109)
V (x = a, y) = V0 y/b . (6.110)
a x
0 a x
Resposta
As condições de fronteira são:
V (x = 0, y) = 0 para 0 ≤ y ≤ b (6.111)
V (x, y = 0) = 0 para 0 ≤ x ≤ a (6.112)
V (x = a, y) = 0 para 0 ≤ y ≤ b (6.113)
πx
V (x, y = b) = V0 sin para 0 ≤ x ≤ a . (6.114)
a
As três primeiras condições de fronteira dizem respeito às paredes laterais e à base da cavi-
dade.
O potencial no interior da cavidade deverá ter uma forma semelhante a (6.36), que é uma
solução da equação de Laplace em coordenadas cartesianas com variáveis separadas e sem
dependência em z:
∞
X
β y
V (x, y) = [An cos(βn x) + Bn sin(βn x)] × (Cn e n + Dn e−βn y ) . (6.115)
n=1
donde,
Dn = −Cn .
A condição de fronteira (6.113) — para x = a — conduz à expressão
X ³ ´
En sin(βn a) eβn y − e−βn y = 0 ,
n
sin(βn a) = 0 ,
donde,
nπ
. βn =
a
O potencial pode, então, ser escrito na forma
X µ ¶³ ´ X µ ¶ µ ¶
nπ nπ
y nπ nπ nπ
V (x, y) = En sin x e a − e− a
y
= En sin x 2 sinh y . (6.116)
n a n a a
Esta expressão deixa antever que apenas o termo n = 1 é diferente de zero e, portanto,
V0
E1 = ³ ´.
πb
2 sinh a
Questão
V = 0 para y = 0 e y = b , (6.118)
∂V
= 0 para x = 0 , (6.119)
∂x µ ¶
∂V πy
= V0 sin para x = a . (6.120)
∂x b
a x
0
Resposta
Vai ser considerada a solução da equação de Laplace em coordenadas cartesianas, com
variáveis x e y separadas e sem dependência em z, dada por (6.36), que escrevemos:
X
V (x, y) = [ An cos(βn y) + Bn sin(βn y) ] × (Cn e−βn x + Dn eβn x ) . (6.121)
n
Para x = 0 esta derivada tem de ser nula — ver condição de fronteira (6.119) —, ou seja,
X nπ µ ¶
nπ
Bn sin y (Dn − Cn ) = 0 ,
n b b
donde,
Bn Dn = Bn Cn (= En ) .
Retomando (6.124),
X µ ¶³ ´
nπ nπ
x nπ
V (x, y) = En sin y e b + e− b
x
.
n b
Resposta
Admite-se que no exterior da esfera não há cargas, pelo que o potencial é obtido resolvendo
a equação de Laplace. A solução geral dessa equação em coordenadas esféricas, no caso em
que há simetria axial, é da forma
∞ µ
X ¶
Bn
n
V (r, θ) = An r + n+1 Pn (cos θ) , (6.126)
n=0
r
onde {An } e {Bn } são constantes e Pn (cos θ) são os polinómios de Legendre. As condições
de fronteira que terão de ser satisfeitas são:
V (r = a) = Vs , (6.127)
V (r → ∞) = 0 . (6.128)
A ordem dos polinómios de Legendre é dada pelo ı́ndice n. Assim, a função sin2 θ em
(6.125) pode ser expressa em função dos polinómios de Legendre até ordem 2. De facto,
atendendo a que
P0 (cos θ) = 1
P1 (cos θ) = cos θ
3 cos2 θ − 1
P2 (cos θ) = ,
2
facilmente se verifica que
· ¸
2 2 2 1
sin θ = 1 − cos θ = P0 (cos θ) − P2 (cos θ) + P0 (cos θ)
3 3
2
= [P0 (cos θ) − P2 (cos θ)] .
3
196 •
Campo electromagnético
o somatório no lado direito de (6.129) só pode ter os termos n = 0 e n = 2. Assim, a expressão
(6.126) passa a ser escrita do seguinte modo:
µ ¶
B0 B2
V (r, θ) = A0 + + A2 r2 + 3 P2 (cos θ) . (6.130)
r r
A0 = A2 = 0 . (6.131)
B0 B2
C [1 − P2 (cos θ)] = + 3 P2 (cos θ) ,
a a
donde,
B0 = aC e B2 = −a3 C . (6.132)
Usando, por fim, (6.131) e (6.132) em (6.130), obtemos a seguinte expressão para o potencial:
Ca 1 Ca3
V (r, θ) = − (3 cos2 θ − 1) ,
r 2 r3
válida para r ≥ a.
Resposta
A forma geral da solução da equação de Laplace em coordenadas cilı́ndricas, quando não
há dependência de z, é [ver (6.88)]
∞
X
V (r, φ) = A0 + B0 ln r + (An rn + Bn r−n ) (Cn cos nφ + Dn sin nφ) . (6.133)
n=1
Solução da equação de Laplace •
197
V (r = a, φ) = 0 (6.134)
V (r = b, φ) = V0 cos φ (6.135)
V (r → ∞) = 0. (6.136)
V =0 r ≤ a.
Para a região entre os dois cilindros, a condição de fronteira (6.135) indicia que apenas o
termo n = 1 no somatório (6.133) deva contribuir para o potencial. Além disso, a dependência
em seno tem também de ser suprimida, o que implica que todos os Dn devam ser nulos.
Formalmente, estes resultados são obtidos usando as condições de ortogonalidade das funções
seno e co-seno (6.89) e (6.90): tomando o potencial (6.133) em r = b e igualando a (6.135)
obtém-se
∞
X
A0 + B0 ln b + (An bn + Bn b−n ) (Cn cos nφ + Dn sin nφ) = V0 cos φ ,
n=1
• Região r < a
Nesta região o campo é nulo, pois o potencial é constante. A componente radial do
campo eléctrico, relevante para o cálculo da distribuição de cargas, é nula na vizinhança
da superfı́cie cilı́ndrica interna:
Er (r = a− ) = 0 . (6.142)
∂V 1 ∂V
E = − êr − êφ
∂r r ∂φ
·µ ¶ µ ¶ ¸
V0 a2 b 1 1 1 1
= + cos φ êr + 2 − 2 sin φ êφ .
a2 − b2 r2 a2 r a
2V0 b
Er (r = a+ ) = cos φ (6.143)
a2− b2
e
V0 (a2 + b2 )
Er (r = b− ) = cos φ .
b(a2 − b2 )
Solução da equação de Laplace •
199
• Região r > b
O campo eléctrico é obtido a partir de (6.141), resultando
V0 b
E= (cos φ êr + sin φ êφ ) ,
r2
pelo que,
V0
Er (r = b+ ) = cos φ .
b
As cargas superficiais são obtidas a partir da divergência superficial do campo eléctrico
sobre as superfı́cies cilı́ndricas. Sobre r = a, de (6.142) e de (6.143),
£ ¤
σ(r = a) = ²0 êr · E (r = a+ ) − E (r = a− ) = ²0 [ Er (a+ ) − Er (a− ) ]
2 V0 b ²0
= cos φ.
a2 − b2
Sobre r = b,
Resposta
Começamos por obter o potencial na região entre os condutores. Esse potencial é bem
conhecido, pois o sistema é um condensador cilı́ndrico muito longo. Vamos mostrar que esse
resultado pode também ser obtido a partir da solução da equação de Laplace em coordenadas
cilı́ndricas (note-se que o cabo é longo, pelo que não deve haver dependência do potencial em
z):
∞
X
V (r, φ) = A0 + B0 ln r + [Cn cos(nφ) + Dn sin(nφ)] (An rn + Bn r−n )
n=1
[cf. Eq. (6.88)].
Além de não depender de z, o potencial também não pode depender do ângulo φ, pelo
que a expressão anterior se reduz a
V (r) = A0 + B0 ln r . (6.144)
O cilindro interior é condutor e, por isso, o potencial é constante para r ≤ a. Esta constante
é o valor, V0 , do potencial em r = a:
V (a) = V0 = A0 + B0 ln a . (6.145)
200 •
Campo electromagnético
Em r = b o potencial é nulo
V (b) = 0 = A0 + B0 ln b ,
donde,
A0
B0 = − .
ln b
Substituindo em (6.145), obtém-se
µ ¶
A0 b
V0 = ln , (6.146)
ln b a
o que conduz a
· µ ¶¸−1
a
A0 = −V0 ln b ln
b
e · µ ¶¸−1
a
B0 = V0 ln .
b
O potencial (6.144) vem, finalmente,
µ ¶
V0 r
V (r) = ln .
ln(a/b) b
O campo eléctrico só tem componente segundo o versor êr , a qual é dada por
dV V0 1
Er = − =− .
dr ln(a/b) r
O campo deslocamento, que se relaciona com o campo eléctrico através de D = ²0 ²r E ,
também só tem componente Dr :
V0 1
Dr = −²0 ²r .
ln(a/b) r
A divergência superficial do campo em r = a permite calcular a densidade de carga livre
nessa superfı́cie, obtendo-se
V0 1
σ(r = a) = ²0 ²r .
ln(b/a) a
Na superfı́cie r = b existe a densidade de carga
V0 1
σ(r = b) = −²0 ²r .
ln(b/a) b
Assim, no comprimento L do cabo, existe, no condutor interior, a carga
V0
Q = 2πaLσ(r = a) = 2 π L ²0 ²r
ln(b/a)
e, no condutor exterior, a carga simétrica desta. Como a capacidade do cabo é a razão entre
a carga, Q, e a diferença de potencial, V0 , entre os condutores cilı́ndricos,
Q 1
C= = 2 π L ²0 ²r ,
V0 ln(b/a)
o valor pretendido para a capacidade do cabo coaxial por unidade de comprimento é
C 2 π ²0 ²r
= . (6.147)
L ln(b/a)
202 •
Campo electromagnético
CAPÍTULO 7
ENERGIA MAGNÉTICA
E MULTIPOLOS MAGNÉTICOS
No Capı́tulo 2 foi feita uma breve revisão das leis básicas do magnetismo. Na primeira
parte deste capı́tulo vamos obter a energia associada a um conjunto arbitrário de correntes,
que são fonte do campo de indução magnética. Os resultados serão comparados com os
que encontrámos no Capı́tulo 3 para a energia do campo electrostático. Na segunda parte
faremos a decomposição do potencial vector em multipolos e, também aqui, confrontaremos
os resultados com os que obtivemos antes (Capı́tulo 4) para o potencial escalar.
que se apoie em Cj . Seja φj esse fluxo e dφj a respectiva variação infinitesimal associada ao
incremento de corrente dij . A variação do fluxo do campo de indução magnética origina uma
corrente induzida no circuito, a qual se opõe à variação de ij . Assim, para manter a corrente,
a fonte externa tem de criar uma força electromotriz, Eext , que contrarie a induzida, Eint . Os
ı́ndices “ext” e “int” significam, respectivamente, “externa” e “interna”. Durante o intervalo
de tempo dt o circuito recebe a carga dqj = ij dt e o trabalho que se realiza externamente
para contrariar a força electromotriz induzida, devido à variação de ij , é
dφj
δWext,j = Eext dqj = −Eint dqj = +dqj = ij dφj ,
dt
tendo-se usado a lei de Faraday (2.55). A variação infinitesimal da energia magnética é
igual ao trabalho infinitesimal reversı́vel fornecido ao sistema de circuitos, pelo que podemos
escrever, somando sobre todos os circuitos,
N
X N
X
dUm = δWext,j = ij dφj . (7.1)
j=1 j=1
Note-se que se escreve dUm , pois trata-se de uma diferencial exacta: a energia Um é uma
função de estado (o ı́ndice “m” indica que esta energia é magnética).
Como estamos a admitir que os circuitos são rı́gidos e ocupam posições fixas, as indutâncias
dos circuitos são constantes e o fluxo φj apenas pode variar devido à variação das correntes
ij , ou seja,
N
X
dφj = Mjk dik , (7.2)
k=1
onde Mjk é a indutância mútua entre os circuitos Cj e Ck , a qual só depende das propriedades
geométricas da distribuição de circuitos e não das correntes que os percorrem. A Eq. (7.2)
pode ser vista como a definição dos elementos da matriz das indutâncias. Substituindo (7.2)
em (7.1), obtemos
N
X N
X
dUm = Mjk ij dik = Ij Mjk Ik f df . (7.3)
j,k=1 j,k=1
Para escrever a última igualdade da expressão anterior, considerou-se que ij (t) = f (t) Ij ,
sendo f (t) uma função que varia entre 0 e 1 e que descreve o aumento das correntes em
cada circuito. Considera-se a mesma função para todos os circuitos, o que corresponde a
admitir que todas as correntes aumentam da mesma maneira. A dependência temporal de
f não é importante, pois a energia do sistema só pode depender das correntes que fluem no
estado estacionário final e não do modo como esse estado é alcançado. Independentemente
R
da variação temporal de f (t), verifica-se que 01 f (t)df = 12 , pelo que, por integração da
expressão (7.3), se obtém
N
1 X
Um = Wext = Ij Mjk Ik . (7.4)
2 j,k=1
No instante inicial não há correntes e a energia interna é considerada nula. O trabalho externo
que é necessário realizar para estabelecer a distribuição final de correntes é igual à energia
magnética armazenada no sistema.
Energia magnética e multipolos magnéticos •
205
N
1X
Um = Ij φj . (7.6)
2 j=1
Sublinhamos que não importa a forma como as correntes finais são alcançadas: a variação
da energia do sistema só depende do estado inicial (ausência de correntes nos circuitos) e do
estado final (N correntes Ij ).
No Capı́tulo 2 verificámos que o campo de indução magnética se podia obter do potencial
vector A [ver (2.29)], o que permite escrever sucessivamente
Z Z I
φj = B · dS = ∇ × A · dS = A · dlj ,
Sj Sj Cj
sendo a última igualdade resultante da aplicação do teorema de Stokes. Usando este resultado
em (7.6),
N I
1X
Um = Ij A(rj ) · dlj , (7.7)
2 j=1 Cj
Este integral pode ser estendido a todo o espaço, uma vez que fora de v as correntes são nulas
e, por isso, não resulta daı́ qualquer contribuição para (7.8). Assim
Z
1
Um = j` (r ) · A(r ) dv , (7.9)
2
subentendendo-se sempre integração sobre todo o espaço, quando não se indica explicitamente
qualquer domı́nio de integração. No caso de distribuições de corrente superficiais, descritas
pela densidade κ` (r ), a energia magnética é escrita do seguinte modo:
Z
1
Um = κ` (r ) · A(r ) dS . (7.10)
2 S
κ` = n i êφ , (7.11)
Tal como fizemos com a energia electrostática, podemos exprimir a energia magnética,
Um , em termos do campo B . Vamos admitir que não existem materiais magnéticos presentes
e que o regime é estacionário, isto é, que o fenómeno transitório já foi ultrapassado, de modo
que apenas a corrente de condução está presente. Aplica-se, neste caso, a lei dos circuitos
de Ampère, ∇ × B = µ0 j` , Eq. (2.40), e não a expressão local mais geral (2.56) para o
rotacional do campo de indução magnética. Usando (2.40) em (7.9)
Z
1
Um = ∇ × B · A dv . (7.15)
2µ0
Esta expressão pode ser escrita de outra forma, se tivermos em conta a igualdade vectorial
(B.43):
∇ · (A × B ) = B · (∇ × A) − A · (∇ × B ) = B 2 − A · (∇ × B ) ,
tendo-se utilizado a relação (2.29) entre o potencial vector e o campo de indução magnética.
Substituindo em (7.15), resulta
Z Z
1 1
Um = B 2 dv − ∇ · (A × B ) dv
2µ0 2µ0
Z I
1 1
= B 2 dv − (A × B ) · dS . (7.16)
2µ0 2µ0
O integral de superfı́cie resulta do integral de volume por aplicação do teorema de Gauss.
Note-se que, em (7.9), o integral é sobre todo o espaço, pelo que, na expressão anterior, o
Energia magnética e multipolos magnéticos •
207
integral de volume é também sobre todo o espaço e o integral de superfı́cie é então sobre
uma superfı́cie infinita. Como veremos mais adiante neste capı́tulo, o campo A admite um
desenvolvimento multipolar semelhante ao que se obteve no Capı́tulo 4 para o potencial
escalar, sendo o termo dominante, em pontos afastados das fontes, o termo dipolar que varia
com 1/r2 . Assim, a grandes distâncias, a contribuição dominante para o campo B criado
pela distribuição dipolar varia com 1/r3 . Como dS é proporcional a r2 o integral de superfı́cie
em (7.16) varia com r−3 e, portanto, anula-se. Tem-se, finalmente, a expressão da energia
em termos do campo de indução magnética
Z
1
Um = B 2 dv , (7.17)
2µ0
onde A(r1 ) é o potencial vector correspondente ao campo B (r1 ) criado pelo circuito 2 no
circuito 1. O primeiro integral na expressão anterior é de superfı́cie, sendo S1 a superfı́cie
aberta que se apoia no circuito 1, e o segundo é um integral de caminho ao longo do circuito
1. O potencial vector da expressão (7.21) é dado por [ver (2.33)]
I
µ0 i2 dl2
A(r1 ) = ,
4π C2 |r1 − r2 |
resultando, então, para a força electromotriz induzida no circuito 1,
I I I I
d µ0 dl2 · dl1 µ0 dl1 · dl2 di2 di2
E1 = − i2 =− = −M12 .
dt 4π C1 C2 |r1 − r2 | 4π C1 C2 |r1 − r2 | dt dt
Daqui pode obter-se a forma explı́cita da indutância mútua — equação de Neumann — que,
no SI, se exprime em weber por ampere (ou henry):
I I
µ0 dl1 · dl2
M12 = .
4π C1 C2 |r1 − r2 |
Esta expressão mostra explicitamente que M12 = M21 . As indutâncias, própria ou mútua, só
dependem das caracterı́sticas geométricas dos circuitos, tendo-se, em geral, Mij = Mji .
a P
d v
r ' r
q
O
v y
x
Termo monopolar (` = 0)
Verifica-se que o primeiro termo do desenvolvimento (7.23) é sempre nulo. De facto, se
considerarmos uma corrente filamentar i num circuito C, o termo monopolar que resulta de
(7.23) anula-se, I
µ
AM (r ) = 0 i dl = 0 ,
4πr C
pois o integral é sobre
R
um caminho fechado. Mesmo não sendo a corrente filamentar, em
regime estacionário v j (r 0 ) dv
H
é equivalente à contribuição de um conjunto de correntes
P
fechadas, de modo que j ij Cj dlj = 0.
Pode mostrar-se, de modo mais formal, que o Rtermo monopolar se anula, considerando
cada uma das componentes cartesianas do integral v j (r 0 ) dv. Assim, para i = x, y, z tem-se:
(dv = dx0 dy 0 dz 0 )
Z Z Z Z
ji dv = j· ∇0 x0i dv = 0
∇ · (j x0i ) dv − x0i ∇0 · j dv .
v v v v
Em regime estacionário, a divergência da corrente anula-se, pelo que o último integral é igual
a zero. Aplicando o teorema de Gauss ao primeiro integral, obtém-se a igualdade
Z I
ji dv = x0i j · dS = 0 , (7.24)
v S
dado que as correntes estão limitadas no espaço e não atravessam S; se existirem correntes
em S, estas são tangenciais e, de novo, o fluxo de j é nulo.
Em conclusão, o termo monopolar não contribui para a expressão do potencial vector A.
Termo dipolar (` = 1)
Recordando que P1 (cos θ) = cos θ = r̂ · r̂ 0 , o termo dipolar pode ser escrito na forma
Z
µ0
AD = j (r 0 ) r · r 0 dv . (7.25)
4πr3 v
Usando (B.46),
r × (r 0 × j ) = r 0 (r · j ) − j (r · r 0 ) ,
Energia magnética e multipolos magnéticos •
211
Integrando por partes e tendo em conta que, sobre a superfı́cie S que limita v, a corrente j
ou se anula ou é tangente a essa superfı́cie, vem
Z
µ0 X
A0D, k = − xi ∇0 · (x0k j ) x0i dv .
4πr3 i v
Em termos vectoriais, Z
µ0
A0D=− j r · r 0 dv ,
4πr3 v
que é precisamente a expressão simétrica da do termo dipolar do potencial vector dada por
(7.25), isto é, A0D = −AD . Introduzindo o resultado que acabámos de obter em (7.26),
tem-se Z
µ 1
AD = − 0 3 r × r 0 × j dv . (7.27)
4πr 2 v
O integral em (7.27) depende apenas das caracterı́sticas da distribuição de correntes em v.
Definindo o momento dipolar magnético da distribuição de correntes através de
Z
1
m= r 0 × j (r 0 ) dv , (7.28)
2 v
d l d l
r' d A
r'
O O
Este vector é perpendicular ao plano da espira. Designando por k̂ o versor na direcção normal
ao plano da espira e atendendo a que a área elementar dA, indicada na Figura 7.2, é dada
por dA = 12 |r 0 × dl|, temos Z
m = ik̂ dA = i A k̂ . (7.30)
A
No caso de uma espira circular de raio a,
m = iπa2 k̂ .
Vamos calcular nesta secção o momento das forças que actuam numa espira de corrente
colocada numa região onde existe um campo de indução magnética. Por razões de simpli-
cidade, consideremos uma espira plana, quadrada, de lado `, que contém o eixo y, tendo
dois dos seus lados (3 e 4) paralelos a esse eixo (ver Figura 7.3). Escolhe-se a origem das
coordenadas coincidente com o centro do quadrado. O plano da espira forma com o plano xy
um ângulo θ.
O versor n̂ é perpendicular ao plano da espira e aponta no sentido da progressão de um
saca-rolhas rodando no sentido da corrente i que percorre a espira. De acordo com (7.30), o
momento magnético da espira percorrida pela corrente i é
m = i `2 n̂ ,
z
B z
4
^
t4 ^
t2 y F 4
^
t2
2 q n^
q
x y ^
t1 x
1
3 F 3
t1
^
t3
^
Vamos considerar que a espira está colocada numa região onde existe um campo de indução
magnética uniforme, B = B k̂. A força que este campo exerce sobre a espira é a soma das
quatro forças, Fj = i ` t̂j × B (j = 1, 2, 3, 4), exercidas sobre cada um dos lados:
³ ´
F = F1 + F2 + F3 + F4 = i ` t̂1 × B + t̂2 × B + t̂3 × B + t̂4 × B ,
a qual é igual a zero, atendendo às expressões (7.32) e (7.33) para os versores. Contudo, o
momento das forças não é zero. Relativamente ao centro da espira (e, portanto, em relação
a qualquer ponto, pois a força resultante é nula), esse momento é
M = r3 × F3 + r4 × F4 . (7.34)
Nesta expressão, r3 e r4 são os vectores posicionais dos pontos médios dos lados 3 e 4,
respectivamente. Em (7.34) não se incluiu a contribuição para o momento das forças sobre os
lados 1 e 2: essa contribuição é nula, pois as duas forças e os respectivos vectores posicionais
são colineares. A força sobre o lado 3 é F3 = i ` B î e a força no lado 4 é simétrica desta.
Atendendo agora a que r3 = 2` t̂1 = −r4 , podemos escrever
i `2 B h i
M = t̂1 × î + (−t̂1 ) × (−î)
2
= −i `2 B sin θ ĵ . (7.35)
Tal como para o dipolo eléctrico, pode calcular-se a energia de interacção campo - dipolo
magnético através do trabalho que é necessário fornecer ao dipolo para lhe dar uma determi-
nada orientação final, partindo de uma dada orientação inicial a que se atribui energia zero.
No caso da espira quadrada, atendendo ao binário formado por F3 e F4 , conclui-se que a
posição mais estável ocorre quando a espira está no plano xy e a normal n̂ alinha com a
direcção do campo de indução magnética. Se a corrente fosse em sentido inverso, n̂ e B
seriam antiparalelos. Neste caso a força e o momento seriam nulos, mas a situação seria de
equilı́brio instável.
Tomando para posição de energia zero aquela em que o plano da espira é paralelo ao
campo B (θ = 90◦ ), obtém-se, recorrendo, por exemplo, ao método do trabalho virtual, (ver
Secção 4.6), que a energia de interacção campo - dipolo é
Uint = −m · B , (7.37)
Resposta
A Figura 7.4 representa uma secção transversal dos condutores cilı́ndricos descritos no
problema.
O campo de indução magnética só depende da coordenada cilı́ndrica r e aponta na direcção
de êφ . A distribuição de correntes existente no cilindro interior origina o campo B1 (ver
Exemplo 2.3):
µ0 i r
2 π a2 êφ
r≤a
B1 =
µ0 i
2 π r êφ r ≥ a.
Usando a lei de Ampère, conclui-se que o cilindro exterior produz um campo de indução
magnética nulo no seu interior, isto é, para r < b. A lei de Ampère permite igualmente obter
216 •
Campo electromagnético
a
c
o campo nas outras regiões do espaço. O campo B2 produzido pelo cilindro exterior é
0 r≤b
µ0 i r2 − b2 ê
B2 = − 2πr c2 − b2
φ b≤r≤c
µ0 i− 2πr êφ r ≥ c.
O campo de indução magnética, nas várias regiões do espaço, é a soma dos campos pro-
duzidos por cada um dos cilindros:
µ0 ir ê r≤a
2πa2
φ
µ0 i
2πr êφ
a≤r≤b
B = B1 + B2 =
µ0 i c2 − r2 ê b≤r≤c
2πr φ
c2 − b2
0 r ≥ c.
A energia armazenada em cada uma das regiões é obtida a partir da expressão (7.17) que
passa agora a ser escrita na forma
Z r1
Um 1
= 2π B 2 r dr ,
L 2µ0 r0
• Região r ≤ a
Um µ0 i2
= .
L 16π
Energia magnética e multipolos magnéticos •
217
• Região a ≤ r ≤ b
µ ¶
Um µ0 i2 b
= ln .
L 4π a
• Região b ≤ r ≤ c
( · µ ¶ ¸ )
Um µ0 i2 2 c 3 b4
= (c − b2 )−2 c 4
ln − + c2 b2 − .
L 4π b 4 4
• Região r ≥ c
Um
= 0.
L
Resposta
Devido à rotação, passa a haver sobre a esfera uma densidade superficial de corrente dada
por
κ = σv, (7.38)
sendo v = ω × R a velocidade de um ponto da superfı́cie e R o vector do eixo de rotação
da esfera ao ponto P (ver Figura 7.5).
R P
d i a
q
κ = σ ω a sin θ êφ .
Esta é a densidade de corrente sobre uma “espira” de raio R e largura d` = adθ. A corrente
que percorre esta espira é igual à densidade de corrente κ multiplicada pela secção da espira
perpendicular à corrente, d`, ou seja di = κ d`, pelo que
di = σ ω a2 sin θ dθ .
Uma espira de área πR2 = πa2 sin2 θ percorrida pela corrente di possui o momento dipolar
magnético elementar
dm = σ π ω a4 sin3 θ dθ êz , (7.39)
4
m= σ π ω a4 êz .
3
Questão
Um disco de raio a uniformemente carregado com uma carga Q é posto a rodar com
velocidade angular constante, ω, sem que a distribuição de cargas seja alterada. O eixo de
rotação é o eixo de simetria, perpendicular ao plano do disco.
z
x
r + d r r
Resposta
a) A densidade superficial de carga é
Q
σ= . (7.40)
πa2
Quando o disco roda, gera-se uma densidade superficial de corrente dada por
κ = σ v êφ = σ ω r êφ .
dm = π r2 di êz = σ π ω r3 dr êz ,
Qωa2
m= êz ; (7.41)
4
1 ∂ 1 ∂
B =∇×A= (sin θAφ ) êr − (rAφ ) êθ ,
r sin θ ∂θ r ∂r
obtendo-se, finalmente [cf. Eq. (7.31)],
µ0 Qωa2
B= ( 2 cos θ êr + sin θ êθ ) .
16πr3
222 •
Campo electromagnético
CAPÍTULO 8
MAGNETISMO EM MEIOS
MATERIAIS
Em substâncias como o ferro, o nı́quel e o cobalto, determinadas propriedades magné-
ticas revelam-se com grande destaque. Referimo-nos, por exemplo, à atracção a que ficam
sujeitas na presença de campos magnéticos. No entanto, a maioria das substâncias apresenta
propriedades magnéticas menos intensas.
É possı́vel classificar os diferentes materiais de acordo com o seu comportamento na pre-
sença de campos magnéticos. Assim, há alguns — os ferromagnéticos — que são forte-
mente atraı́dos por campos magnéticos; outros são-no apenas levemente e dizem-se param-
agnéticos; finalmente, há materiais que são repelidos, embora pouco intensamente, e dizem-se
diamagnéticos.
O comportamento magnético dos materiais tem origem na sua estrutura microscópica.
Na verdade, os átomos possuem momento dipolar magnético, devido não só ao movimento
orbital dos electrões, mas também ao facto de os electrões possuı́rem um momento dipolar
magnético intrı́nseco. Há ainda uma contribuição para o momento magnético do átomo com
origem no núcleo, mas esta é muito pequena.
Existe uma relação directa entre o momento dipolar magnético e o momento angular, quer
para o electrão, quer para o átomo. O momento angular intrı́nseco do electrão designa-se por
spin. Como atrás se referiu, a causa microscópica do magnetismo da matéria encontra-se na
existência de momentos magnéticos ao nı́vel atómico que resultam da soma dos momentos
magnéticos dos electrões de cada átomo. Esta situação deixa antever que o magnetismo
só pode ser descrito cabalmente no quadro da Mecânica Quântica. Embora seja possı́vel
encontrar um análogo clássico para o momento magnético do electrão de origem orbital,
o mesmo não sucede quanto ao seu momento magnético de spin, que é uma propriedade
intrı́nseca daquela partı́cula (tal como a massa ou a carga). Para justificar o spin, ou o
momento magnético de spin do electrão, não é possı́vel recorrer a modelos clássicos. É errado,
224 •
Campo electromagnético
por exemplo, atribuir o momento magnético de spin do electrão a correntes que circulem no
seu interior, embora seja forçoso reconhecer que é o próprio significado da palavra spin o
responsável por este tipo de interpretação errónea.
Embora as propriedades magnéticas dos materiais sejam de origem quântica, a abordagem
do problema pode ser feita classicamente, numa base fenomenológica, e é esta a atitude que
aqui se adopta. Supõe-se que a matéria neutra é equivalente a um conjunto de dipolos
magnéticos e que estes, como veremos, podem ser considerados como tendo origem em cor-
rentes efectivas. Estas distribuições de dipolos representam valores médios no espaço e no
tempo dos momentos dipolares dos átomos, considerando regiões “pequenas” (ou volumes
elementares) à escala macroscópica. Contudo, esses volumes terão de ser suficientemente
“grandes” à escala microscópica para que haja um grande número de momentos dipolares
magnéticos atómicos a contribuir para as referidas médias, minimizando-se assim eventuais
flutuações estatı́sticas.
No caso do ferromagnetismo, existem momentos magnéticos permanentes alinhados em
regiões finitas do material (domı́nios). Nas substâncias paramagnéticas, os momentos dipo-
lares magnéticos de cada “volume elementar” apontam para direcções arbitrárias, mas há
uma tendência para um alinhamento quando se aplica um campo externo. Este alinhamento
será tanto maior quanto menor for a temperatura, pois a agitação térmica não favorece a
tendência para o alinhamento.
Será notório, ao longo deste capı́tulo, que o estudo do magnetismo em meios materiais
segue um formalismo próximo do exposto no Capı́tulo 5 para o caso dos meios dieléctricos.
S
a P
d v
v
r'
n^ 2
^
n
d h d S m e io 2
m e io 1
n^ 1
C t^ 2
d l
2
d s ^
t m e io 2
C m e io 1
t1
^
C 1
rotS H = n̂ × ( H2 − H1 ) = κ` ,
em que κ` é a densidade de corrente livre sobre a superfı́cie de separação dos dois meios. O
campo de magnetização M , que tem origem nas correntes equivalentes, verifica uma equação
superficial semelhante:
rotS M = n̂ × ( M2 − M1 ) = κm .
Finalmente, tem-se para B a seguinte equação superficial:
rotS B = n̂ × ( B2 − B1 ) = µ0 (κ` + κm ) = µ0 κ ,
M = χm H , (8.15)
B = µ0 ( H + χm H ) = µ0 ( 1 + χm ) H = µ0 µr H = µ H . (8.16)
Magnetismo em meios materiais •
229
µr = 1 + χm ,
j = jm + j` = µr j` .
Para materiais paramagnéticos, j > j` e para materiais diamagnéticos, j < j` . De qualquer
modo, verifica-se sempre µr > 0, pelo que j e j` apontam no mesmo sentido.
No caso de não haver dependência no tempo e de não existirem correntes livres, a Eq.
(8.12) é escrita simplesmente na forma
∇ × H = 0, (8.18)
ou seja, o campo H é, neste caso, um campo irrotacional e, por isso, pode sempre ser escrito
como o gradiente de uma função escalar:
H = −∇Vm . (8.19)
∇ · H = 0. (8.20)
Esta equação, combinada com (8.19), permite obter a seguinte equação para o potencial
magnético:
∇2 Vm = 0 , (8.21)
que é a equação de Laplace. Note-se que, sempre que se verifique a equação ∇ · M = 0, a
Eq. (8.20) também é verificada e, portanto, a Eq. (8.21) aplica-se.
Em situações para as quais (8.18) e (8.20) se verifiquem, a obtenção de H (ou de B )
pode ser feita partindo do conhecimento de Vm . Este potencial é determinado resolvendo a
equação de Laplace, usando as técnicas apresentadas para o potencial escalar (Capı́tulo 6).
A tı́tulo de exemplo, refira-se que, para determinar o campo H em todo o espaço, quando
uma esfera de permeabilidade magnética constante, µ, é colocada numa região onde existe
um campo de indução magnética uniforme, podem aplicar-se os raciocı́nios desenvolvidos no
Exemplo 6.7 (ver também Problema 8.9.5).
O estudo do magnetismo em meios magnéticos pode também ser feito seguindo de perto o
formalismo que se utiliza para os dieléctricos. Assim, em analogia com a carga de polarização
nos dieléctricos, postula-se a existência de densidades de carga magnética e desenvolve-se um
formalismo que, do ponto de vista dos resultados, é equivalente ao modelo das correntes de
Ampère.
Definem-se as densidades volumétrica e superficial de carga magnética através de
ρ∗ = −∇ · (µ0 M ) (8.22)
σ ∗ = −divS (µ0 M ) = −n̂ · ( µ0 M2 − µ0 M1 ), (8.23)
C
r a
b
i
(a ) (b )
As linhas do campo H são circunferências com centro no eixo do toróide e raio r, variável
entre a e b. O campo magnético está confinado no interior do enrolamento (fora do toróide
é nulo) e pode ser calculado facilmente usando a forma integral da expressão (8.12),
I Z
H · dl = j` · dS , (8.29)
C S
resultando
Ni
H = êφ a<r<b (8.30)
2πr
H = 0 fora do toróide. (8.31)
Se o raio, R1 , da secção circular do toróide for muito pequeno comparado com o raio médio do
toróide, R = a+b2 , a grandeza do campo (8.30) pode ser considerada constante, escrevendo-se
Ni
H≈ . (8.32)
2πR
Magnetismo em meios materiais •
233
Nesta base, também os vectores magnetização e indução magnética são, em grandeza, aprox-
imadamente constantes, em todos os pontos do interior do toróide.
Pode ter-se informação sobre B medindo o fluxo que atravessa uma secção do toróide
de área S1 = πR12 (ver Figura 8.5). Quando a corrente no circuito varia, o valor de H e o
R 1
S 1
fluxo de B através de S1 também variam, o que origina uma força electromotriz induzida
na espira. Seja di a variação na corrente; a correspondente variação no valor de H decorre
directamente de (8.32):
N di
dH = .
2πR
A força electromotriz induzida no circuito total (N espiras), devida à variação de fluxo de
B , é
dφ dB
Ei = −N = −N S1 , (8.33)
dt dt
onde φ é o fluxo do campo de indução magnética através da secção do toróide. A partir da
medição de Ei pode saber-se como varia B quando ocorre uma variação de H. A Figura 8.6
mostra um resultado tı́pico do comportamento de B em função do campo aplicado H. A
função representada é chamada curva de magnetização. O módulo de M em função de H
apresenta um comportamento do mesmo tipo.
0 H
B
B 1
b
d
a g H H
1
– o valor do campo B não só não varia linearmente com H como não é univocamente
definido: ao mesmo valor de H correspondem diferentes valores de B;
– mesmo quando H volta a ser zero, B (e a magnetização) tem um valor diferente
de zero, quer dizer, há uma indução magnética remanescente.
• Para conseguir ter de novo B = 0, terá de se aplicar um campo H com sentido inverso
e ir aumentando gradualmente a sua grandeza como inicialmente se tinha feito. O valor
de H para o qual B se anula (ponto d) denomina-se força coerciva ou coercividade.
dUm dB
= i N S1 ,
dt dt
sendo o integral estendido a todo o ciclo de histerese. O integral em (8.34) representa a área,
na Figura 8.7, delimitada pelo ciclo de histerese.
Questão
onde M0 é uma constante. A origem dos eixos está num vértice e o cubo encontra-se no
primeiro octante. Obter as densidades de correntes de magnetização no material, calcular
o momento dipolar magnético do bloco de material magnetizado e escrever a expressão do
potencial vector em pontos do plano xy tais que |x| À a e |y| À a.
236 •
Campo electromagnético
Resposta
A densidade de corrente de magnetização é obtida a partir do rotacional do vector mag-
netização [Eq. (8.5)], jm = ∇ × M , donde, para o vector (8.35),
¯ ¯
¯ î ĵ k̂ ¯¯
M0 ¯¯ ∂ ∂ ∂ ¯ 2M0
jm = ¯ ∂x ∂y ∂z¯= k̂ .
a ¯¯ ¯
¯ a
−y x 0
As correntes superficiais de magnetização são obtidas a partir de (8.6), κm = M × n̂,
sendo n̂ o versor normal à superfı́cie apontando para fora do meio magnético. Consideremos,
separadamente, cada uma das faces do cubo:
• Face no plano x = 0: o versor normal exterior é n̂ = −î e a magnetização [ver (8.35)]
é M = −M0 y/a î, donde
κm (x = 0) = 0 .
• Face no plano x = a: o versor normal exterior é n̂ = î, donde
κm (x = a) = M (x = a) × î = −M0 k̂ .
I 0
b
a m
I 0
Resposta
O material magnético que preenche o espaço entre os condutores é linear, isotrópico e
homogéneo. O campo magnético H tem a sua origem nas correntes livres e, atendendo à
simetria cilı́ndrica do problema, depende apenas da distância r ao eixo de simetria e aponta
na direcção do versor êφ :
H (r ) = H(r) êφ . (8.39)
Na situação presente é útil usar a forma integral da lei de Ampère:
I Z
H · dl = j` · dS . (8.40)
C S
donde
I0
j0 = .
πa2
Vamos obter o campo magnético nas diferentes regiões do espaço.
• Região r < a:
o campo magnético é obtido a partir de (8.40):
I0
2 π r H = j0 πr2 = πr2 ,
πa2
donde
I0 r
H= êφ . (8.41)
2πa2
donde
I0
H= êφ . (8.43)
2πr
• Região r > b: o campo resultante é nulo nesta região, pois o campo (8.43) é anulado
por um de igual valor e sentido contrário com origem no condutor exterior, o qual é
percorrido pela corrente −I0 . De facto, considerando um contorno C, de raio r > b, a
corrente total que flui através da superfı́cie S é nula, pois as correntes nos condutores
exterior e interior são simétricas. Por outro lado, a circulação de H é dada por 2πrH =
0, de onde se conclui que H = 0.
O campo magnético está representado no gráfico da Figura 8.9 e apresenta uma descon-
tinuidade para r = b.
H (r)
I0
2 p a
I 0
2 p b
a b r
B (r)
m I0
2 p a
m 0 I0
2 p a
m I0
2 p b
a b r
A magnetização M é nula para as regiões r < a e r > b, pois não existe aı́ material
magnetizável. Na região entre os dois condutores, a < r < b, tem-se [cf. (8.15) e (8.16)],
M = χm H = (µr − 1) H ,
240 •
Campo electromagnético
obtendo-se µ ¶
µ I0
M= −1 êφ para a < r < b .
µ0 2πr
A grandeza do vector magnetização, em função da coordenada cilı́ndrica r, está representada
na Figura 8.11. Também o vector M apresenta descontinuidades sobre as superfı́cies r = a e
r = b, o que significa que existem correntes superficiais de magnetização nessas superfı́cies.
M (r)
(m - m 0)I 0
2 p m 0a
(m - m 0)I 0
2 p m 0b
a b r
µ I0
κtotal (r = b) = − êz . (8.51)
µ0 2πb
A partir de (8.45), (8.46) e (8.47) pode obter-se o rotacional superficial do campo de indução
magnética, que é igual ao produto de µ0 pela densidade total de corrente superficial:
rotS B = µ0 κtotal .
A região do espaço definida por 0 < x < d está preenchida com uma substância magneti-
zada de magnetização M = M0 î.
Determinar os campos H e B em todo o espaço.
Resposta
M = 0 M M = 0
0 d x
ii) em x = d, h i
σ ∗ (x = d) = −µ0 î · (0 − M0 î) = µ0 M0 .
σ∗
H =− î = −M0 î = −M , (8.52)
µ0
com σ ∗ = σ ∗ (x = d). O campo magnético é constante entre 0 < x < d e nulo fora dessa
região. Recorde-se que, no caso do condensador plano ideal, o campo eléctrico entre as placas
também é constante, igual a σ/²0 , e as linhas de campo apontam das cargas positivas para
as negativas.
O campo de indução magnética relaciona-se com M e H através de [ver (8.11)]
B = µ0 (H + M ) ,
sendo, por isso, nulo na região 0 < x < d, de acordo com (8.52). Fora dessa região o campo de
indução magnética também é nulo, pois M e H são nulos. O facto de B e de H se anularem
em todo o espaço fora do material magnetizado tem a ver com a extensão infinita deste. Na
prática, porque os sistemas são finitos, os campos magnético ou de indução magnética não
serão nulos fora da região onde existe meio magnético.
Este é um exemplo de um material que não é linear, pois B = 0 e H 6= 0.
Resposta
Trata-se de uma situação em que não há correntes livres, nem correntes de deslocamento,
pois não há variações temporais. O campo magnético H é, neste caso, irrotacional, ∇ × H =
0, podendo ser escrito, como vimos na Secção 8.5, como o gradiente de uma função escalar,
H = −∇Vm , sendo Vm o potencial escalar magnético. Como se tem, na presente situação,
∇ · M = 0, também ∇ · H = 0 e, portanto, o potencial escalar obedece à equação de Laplace
[ver (8.21)], ∇2 Vm = 0.
3
A correspondência que se faz é H ↔ E, ρ∗ ↔ ρ , σ ∗ ↔ σ e µ0 ↔ ²0 .
Magnetismo em meios materiais •
243
Vmi (r = a, θ) = Vme (r = a, θ) ;
4) O rotacional superficial de H é nulo sobre a superfı́cie da esfera, pois não há correntes
livres, ou seja,
êr × (H e − H i ) = 0 , em r = a ; (8.53)
Vejamos o que resulta da aplicação das condições de fronteira acima enumeradas. Pas-
saremos a designar por An e Bn os coeficientes no potencial interior e por A0n e Bn0 os do
potencial exterior. Para satisfazer a primeira condição de fronteira, o potencial no exterior
deve assumir a forma ∞
X Bn0
Vme (r, θ) = Pn (cos θ) . (8.55)
n=0
rn+1
Da segunda condição de fronteira resulta, para o potencial no interior,
∞
X
Vmi (r, θ) = An rn Pn (cos θ) . (8.56)
n=0
Bn0
(n + 1) + nan−1 An = 0 , n 6= 1 (8.57)
an+2
e
2B10
+ A1 = M0 , n = 1. (8.58)
a3
A continuidade do potencial, para r = a, introduz as seguintes condições:
Bn0
= an An , n 6= 1 (8.59)
an+1
e
B10
= aA1 , n = 1. (8.60)
a2
As eqs. (8.57) e (8.59) só se podem verificar simultaneamente se Bn0 = An = 0, para qualquer
n 6= 1. Por outro lado, combinando (8.60) com (8.58), obtém-se
M0 M0 a3
A1 = e B10 = .
3 3
Os potenciais interior e exterior tomam as formas, respectivamente,
M0 M0
Vmi = r cos θ = z
3 3
e
M0 a3
Vme = cos θ .
3 r2
Como se poderá verificar, as expressões obtidas para o potencial satisfazem necessariamente
a condição de fronteira que traduz a continuidade da componente tangencial do campo H ,
Eq. (8.53).
O campo magnético é obtido tomando o simétrico do gradiente de Vm . No interior, convém
usar a expressão do gradiente em coordenadas cartesianas, obtendo-se
dVmi M M
H i = −∇Vmi = − êz = − 0 êz = − .
dz 3 3
Note-se a analogia formal entre este resultado e a expressão obtida para o campo eléctrico
no interior de uma esfera uniformemente polarizada (ver Exemplo 5.2).
No exterior, é mais fácil utilizar coordenadas esféricas, obtendo-se
µ ¶
∂Vme 1 ∂Vme
He = − êr + êθ
∂r r ∂θ
M0 a3
= ( 2 cos θ êr + sin θ êθ ) .
3r3
As dependências radial e angular encontradas são tı́picas de um campo dipolar, observando-
se, também neste caso, uma analogia formal com o campo eléctrico no exterior de uma esfera
uniformemente polarizada (ver Exemplo 5.2).
Magnetismo em meios materiais •
245
µ0 M0 a3
B e = µ0 H e = ( 2 cos θ êr + sin θ êθ ) .
3r3
De resto, este resultado também podia ser obtido a partir da expressão geral do campo de
indução magnética dipolar [Eq. (7.31)],
µ0 m
Be = ( 2 cos θ êr + sin θ êθ ) ,
4πr3
usando o valor do momento dipolar da esfera uniformemente magnetizada:
4
m = M0 πa3 .
3
As linhas dos campos B , H e M estão esboçadas na Figura 8.13.
B
M
B ,H
H
Resposta
Não há correntes livres nem dependências temporais. O material é linear, homogéneo
e isotrópico e podemos então adoptar o formalismo do potencial escalar magnético, Vm , o
qual obedece à equação de Laplace, ∇2 Vm = 0, e obter o campo magnético a partir de
H = −∇Vm .
246 •
Campo electromagnético
Pode estabelecer-se uma analogia entre a presente situação e o Exemplo 6.7 relativo a uma
esfera dieléctrica colocada numa região onde existia um campo eléctrico uniforme. Remete-
se, pois, o leitor para esse exemplo, devendo notar-se o seguinte: o potencial electrostático
deve ser substituı́do pelo potencial escalar magnético; a permitividade relativa, ²r , deve ser
substituı́da pela permeabilidade relativa µr = µ/µ0 ; o valor do campo eléctrico, E0 , deve ser
substituı́do por H0 = B0 /µ0 . O potencial escalar Vm é dado, no interior e no exterior da
esfera, por [ver (6.74) e (6.75)]
3H0
Vmi = − r cos θ r≤a (8.61)
µr + 2
µr − 1 a3 H0 cos θ
Vme = −H0 r cos θ + r ≥ a. (8.62)
µr + 2 r2
Atendendo a que z = r cos θ, é mais fácil utilizar coordenadas cartesianas, na determinação
do campo H no interior da esfera:
3H0
H i = −∇Vmi = k̂ . (8.63)
µr + 2
O campo de indução magnética é
3H0
B i = µ H i = µr µ0 k̂ ,
µr + 2
ou ainda
3µr
Bi = B0 k̂ .
µr + 2
A magnetização da esfera é dada pelo vector M ,
µ ¶
Bi 3µr B0 3H0
M = − Hi = − k̂
µ0 µr + 2 µ0 µr + 2
3 (µr − 1)
= H0 k̂ .
µr + 2
Resposta
z
n^
L /2
M
M
y
n^ L /2
x
n^
Esta corrente superficial é semelhante à que se tem num solenóide e, portanto, o campo B ,
devido ao cilindro magnetizado, deverá ser análogo ao do solenóide com as mesmas dimensões.
Vamos supor que o cilindro é muito longo (L À R) e, por isso, considerar que o campo B
é da mesma forma do campo de indução magnética criado por um solenóide infinito: nulo
em pontos exteriores na vizinhança do solenóide e constante no seu interior 5 . O rotacional
superficial do campo de indução magnética é
rotS B = µ0 κtotal = µ0 κm ,
pois não há correntes livres. Calculando o rotS B sobre a superfı́cie lateral e usando a ex-
pressão (8.65), obtém-se
B = µ0 M0 k̂ = µ0 M (8.66)
no interior do cilindro.
Sendo o campo magnético H dado por
B
H= −M ,
µ0
B , H » 0
H » 0
5
Na prática, nunca o cilindro (nem o solenóide) são infinitos, pelo que, em rigor, o campo de indução
magnética não é nulo no exterior, nem uniforme no interior.
Magnetismo em meios materiais •
249
Consideremos agora o formalismo das cargas magnéticas, que é o mais adequado para
tratar o problema no limite R À L. A densidade volumétrica de carga magnética é nula,
pois a magnetização é constante. A densidade superficial de carga magnética é
σ ∗ = −divS (µ0 M ) = −n̂ · (µ0 M2 − µ0 M1 ) ,
sendo nula sobre a superfı́cie lateral do cilindro, pois M e n̂ são ortogonais. Na base superior
do cilindro (z = L/2) existe uma densidade superficial de carga magnética
∗
σsup = −k̂ · (−µ0 M0 k̂) = µ0 M0
e, na base inferior (z = −L/2), uma densidade superficial de carga magnética simétrica:
∗
σinf = −µ0 M0 .
As eqs. (8.24) e (8.25) indicam que se pode obter o campo H por analogia com o campo
eléctrico criado por dois discos carregados. Se os discos puderem ser considerados infinitos,
o campo criado por cada um deles será, em cada ponto, independente da distância ao disco
σ∗ M0
e de módulo 2 µ0 = 2 .
O campo criado pelo disco superior tem, para z > L/2, o sentido de k̂ e para z < L/2 o
sentido de −k̂. O disco inferior cria um campo que, para z > −L/2, tem o sentido de −k̂ e
o sentido contrário para z < −L/2. Tal significa que
L L
H =0 para z < − e z>
2 2
e
L L
H = −M0 k̂ para −
<z< .
2 2
Dentro do cilindro este campo magnético é oposto à magnetização, donde resulta um campo
de indução magnética nulo.
B , H » 0
H
B » 0
Resposta
As correntes equivalentes de Ampère são dadas por jm = ∇ × M e κm = rotS M . As
correntes volumétricas são nulas, pois o rotacional do campo de magnetização, que é radial e
só depende da coordenada radial, é nulo. Considere-se a Figura 8.17, onde está representada
em corte a casca esférica.
b
M
Sobre as superfı́cies esféricas de raios a e b também não há correntes de Ampère, pois
a magnetização, embora tenha descontinuidade segundo a normal, não tem descontinuidade
segundo qualquer direcção perpendicular à normal: a componente tangencial da magnetização
é sempre nula, dentro e fora da camada. Como também não há correntes livres, o campo B
é nulo em todo o espaço. O campo H é, então, dado por
B M0
H= − M = −M = − êr , (8.67)
µ0 r
e a superficial µ ¶
µ0 M0 µ0 M0
σ ∗ (r = a) = êr · 0 − êr =−
a a
Magnetismo em meios materiais •
251
e µ ¶
∗ µ0 M0 µ0 M0
σ (r = b) = −êr · 0 − êr = .
b b
A carga total existente no volume é
Z b
µ0 M0
Q∗v = −4π r2 dr = −4πµ0 M0 (b − a) ,
a r2
e, nas superfı́cies,
Q∗s (r = a) = −4 π µ0 M0 a
Q∗s (r = b) = 4 π µ0 M0 b ,
A sua aplicação a este problema, escolhendo superfı́cies gaussianas esféricas concêntricas com
as camadas r = a e r = b, permite concluir que:
donde
M0
H =− êr = −M ,
r
resultado já anteriormente obtido [cf. (8.67)].
Questão
Uma esfera de raio a tem uma magnetização não uniforme dada por
M = (αz 2 + β)k̂ ,
^
k
^e
r
z
q a
x
y
Resposta
∂Mz ∂Mz
jm = ∇ × M = î − ĵ = 0.
∂y ∂x
Sobre a superfı́cie (ver Figura 8.18) a densidade superficial de corrente é dada por
com z = a cos θ. Por outro lado, êr × k̂ = −êφ sin θ, pelo que
dMz
ρ∗ = −∇ · (µ0 M ) = −µ0 = −µ0 2 α z
dz
= −2 µ0 α r cos θ ;
ii) superficial
σ ∗ = −n̂ · (µ0 M2 − µ0 M1 )
= −êr · [0 − µ0 (α a2 cos2 θ + β) k̂ ] = µ0 (α a2 cos2 θ + β) cos θ .
Magnetismo em meios materiais •
253
Vejamos agora quais são as condições que as componentes normais e tangenciais dos cam-
pos devem satisfazer.
• Campo H
As componentes tangenciais do campo magnético satisfazem a equação
rotS H = κ` = 0 ,
pois, no caso presente, não há correntes livres. As componentes tangenciais de H são
contı́nuas sobre a superfı́cie da esfera:
Quanto às componentes normais, a condição que devem satisfazer resulta da equação
σ∗
divS H = n̂ · (H2 − H1 ) = ,
µ0
• Campo M
As componentes tangenciais da magnetização satisfazem a condição expressa por (8.68),
tendo-se [ver também (8.69)]
Para as componentes normais a condição é expressa por (8.70), que aqui se volta a
escrever na forma
M2n − M1n = −(αa2 cos2 θ + β) cos θ ; (8.73)
• Campo B
Sendo B = µ0 (H + M ), as condições que as componentes de B têm de satisfazer
resultam directamente das condições obtidas para o campo magnético e para a magne-
tização. Assim, de (8.70) e de (8.72),
e, de (8.71) e de (8.73),
B2n − B1n = 0 .
254 •
Campo electromagnético
CAPÍTULO 9
ONDAS ELECTROMAGNÉTICAS
No inı́cio do capı́tulo apresentam-se, em jeito de sumário, as equações de Maxwell.
Estudam-se depois as equações de onda para os campos E e B no vazio e suas soluções
de onda plana. No âmbito de considerações energéticas relativas ao campo electromagnético,
define-se o vector de Poynting e apresenta-se o teorema de Poynting. Analisam-se seguida-
mente as soluções das equações de onda para os campos eléctrico e magnético em meios
estáticos, lineares, isotrópicos e homogéneos (meios não condutores e meios condutores).
Estuda-se a mudança de meio de uma onda electromagnética para se deduzirem as leis da
reflexão e da refracção. O problema dos guias de ondas é abordado no final do capı́tulo.
As equações de Maxwell mais gerais, no sentido em que são válidas quer no vazio, quer
em meios materiais, são escritas na forma:
ρ
∇·E = (9.1)
²0
∂B
∇×E+ =0 (9.2)
∂t
∇·B =0 (9.3)
1 ∂E
∇×B− 2 = µ0 j , (9.4)
c ∂t
onde (entre parêntesis rectos apresenta-se a respectiva unidade SI):
ρ = ρ` + ρp
∂P
j = j` + jm + ,
∂t
onde
ρp = −∇ · P
jm = ∇ × M .
j` = σ E (9.5)
P = ²0 χe E (9.6)
M = χm H , (9.7)
onde
• σ é a condutividade [1/(Ω·m)];
∇ · D = ρ` (9.12)
∂B
∇×E+ =0 (9.13)
∂t
∇·B =0 (9.14)
∂D
∇×H − = j` . (9.15)
∂t
D é a corrente de deslocamento (Secção 2.3) ou, mais apropriadamente, densidade
O termo ∂∂t
de corrente de deslocamento.
As equações de Maxwell contêm a lei de conservação da carga, como se pode verificar
tomando a divergência de (9.4) e usando (9.1) e a igualdade c−2 = ²0 µ0 :
∂ρ
∇·j =− .
∂t
Esta forma da equação de continuidade é geral: ρ contém as contribuições de cargas livres e
de polarização, se existirem, e j as correntes livres, de polarização e de magnetização.
258 •
Campo electromagnético
Note-se que nem ∂∂t B , em (9.13), nem ∂ D , em (9.15), contribuem para estas condições
∂t
de fronteira. Na verdade, o fluxo destes vectores, através de uma superfı́cie que se apoia
no contorno fechado C da Figura 8.3, tende necessariamente para zero, porque a área dessa
superfı́cie tende para zero (nessa mesma figura, ds → 0).
1 ∂2E
∇2 E − = 0 (9.22)
c2 ∂t2
1 ∂2B
∇2 B − 2 = 0. (9.23)
c ∂t2
Estas são equações de onda, cujas soluções são ondas que se propagam com velocidade c.
Consideremos o caso particular de ondas planas que se propagam na direcção do eixo z.
Designando por Φ qualquer das componentes dos campos eléctrico e de indução magnética,
tem-se para Φ a seguinte dependência no espaço e no tempo: Φ(r , t) = Φ(z, t). A solução
mais geral da equação
∂2Φ 1 ∂2Φ
= (9.24)
∂z 2 c2 ∂t2
é da forma
Φ(z, t) = f− (z − ct) + f+ (z + ct) , (9.25)
sendo f− e f+ funções arbitrárias dos respectivos argumentos indicados em (9.25). A função
f− representa uma onda progressiva que se propaga no sentido positivo do eixo z e a função
Ondas electromagnéticas •
259
f+ uma onda que se propaga no sentido negativo desse mesmo eixo (ver Problema 9.9.6).
Dado o carácter linear da equação de onda (9.24), qualquer combinação linear de soluções do
tipo (9.25) é ainda uma solução.
Como a equação de Maxwell ∇ · E = 0 se verifica em qualquer ponto do espaço, pode
concluir-se que ∂Ez /∂z = 0, uma vez que não há dependências em x ou em y no caso de uma
onda plana. Pelo mesmo motivo, e dado que ∇ · B = 0, também ∂Bz /∂z = 0, pois o campo
de indução magnética também não depende de x nem de y. Por outro lado, da equação de
Maxwell ∇ × E = −∂ B /∂t, pode concluir-se que ∂Bz /∂t = 0. De facto, no primeiro membro
daquela equação de Maxwell não há componente segundo k̂, o que é uma consequência de o
campo eléctrico não depender de x nem de y. Aplicando a mesma argumentação ao campo de
indução magnética, ou seja, fazendo agora uso da equação de Maxwell ∇ × B = ²0 µ0 ∂ E /∂t,
conclui-se que ∂Ez /∂t = 0. Sumariando, podemos escrever
∂Ez ∂Ez ∂Bz ∂Bz
= 0, = 0, = 0, = 0, (9.26)
∂z ∂t ∂z ∂t
e concluir que as componentes segundo a direcção de propagação não variam nem no espaço
nem no tempo. Tem-se, de facto, Ez = 0 e Bz = 0, pois interessam unicamente soluções
com carácter ondulatório e não campos uniformes. Pode afirmar-se que o campo eléctrico e
o campo de indução magnética (ou, seja, o campo electromagnético) são transversos, quer
dizer, não têm componente segundo a direcção de propagação da onda.
Fixada a direcção z de propagação da onda e, tendo-se mostrado que os campos E e B
se encontram no plano perpendicular a esta direcção, vamos supor que a direcção do campo
eléctrico é sempre a mesma. Seja essa a direcção do eixo x:
E = Ex (z, t) î . (9.27)
Quando o campo eléctrico mantém fixa a sua direcção diz-se que a onda plana está polarizada
linearmente (Secção 9.3). A partir das equações de Maxwell no vazio, (9.2) e (9.4) com j = 0,
conclui-se, usando (9.26), que, para o campo eléctrico da forma (9.27), se tem necessariamente
um campo de indução magnética, tal que
∂Bx ∂Bx
= 0, = 0.
∂z ∂t
Reafirmando que não importa considerar campos uniformes, mas sim campos que variem no
espaço e no tempo, faz-se Bx = 0, de modo que o campo de indução magnética compatı́vel
com (9.27) é perpendicular ao campo eléctrico, sendo da forma
B = By (z, t) ĵ . (9.28)
real e positiva E0x é a amplitude da onda; o ângulo θ é a sua fase na origem; e ω é a frequência
angular. O campo B associado a (9.29) é obtido atendendo a (9.28) e à equação de Maxwell
∇ × E = −∂ B /∂t. Esta equação fica reduzida à sua componente segundo a direcção ĵ ,
passando a ser escrita do seguinte modo:
∂Ex ∂By
=− .
∂z ∂t
Usando (9.29), a equação anterior fica
· µ ¶ ¸
ω z ∂By
E0x sin ω t − +θ =−
c c ∂t
e, integrando em ordem ao tempo e fazendo nula a constante de integração por não interes-
sarem campos constantes, vem
· µ ¶ ¸
E0x z
By = cos ω t − +θ . (9.30)
c c
A equação ∇ × B = c−2 ∂ E /∂t é também satisfeita por (9.29) e (9.30), como pode ser
comprovado directamente. Comparando (9.30) com (9.29) conclui-se que, em cada instante,
a componente x do campo eléctrico e a componente y do campo de indução magnética se
relacionam através de
Ex
By = . (9.31)
c
Os campos eléctrico e de indução magnética, além de serem sempre ortogonais entre si, estão
em fase. A Figura 9.1 representa um esquema dos campos eléctrico e de indução magnética
de uma onda electromagnética plana, sinusoidal, linearmente polarizada, que se propaga no
sentido positivo do eixo z. Note-se que o sentido de propagação da onda é o do vector
E × B , cujo significado fı́sico vai ser explorado na próxima secção. A direcção do campo E
é designada por direcção de polarização e o plano definido por esta direcção e pela direcção
de propagação da onda é o plano de vibração.
para representar o campo fı́sico (9.29). Quando se utiliza a notação (9.32) subentende-se
sempre que se está a tomar a parte real desta função, a qual corresponde ao campo fı́sico
(9.29). Quando for necessário, usaremos o sı́mbolo “Re” para designar o operador “parte
real de”, mas este operador é muitas vezes suprimido por razões de economia de notação. Na
notação exponencial as derivadas em ordem ao tempo e em ordem a z podem ser substituı́das
por simples factores numéricos:
∂ ∂ ω
→ iω e → −i , (9.33)
∂t ∂z c
o que constitui um aspecto muito útil de tal notação. Para melhor ilustrar as vantagens
da notação exponencial vamos obter os resultados anteriores para os campos eléctrico e de
indução magnética usando o novo formalismo.
Ondas electromagnéticas •
261
E x B
E
que são ondas planas com frequência angular ω e número de onda k; para simplificar a
notação, faz-se nula a fase na origem, θ. O sentido do vector k indica, no caso destas soluções,
o sentido da propagação da onda. Se considerarmos, em (9.34) e (9.35), k → −k as expressões
resultantes são ondas progressivas que se propagam em sentido contrário. Em (9.34) e (9.35),
E0 e B0 são vectores constantes e é patente, nessas expressões, que a dependência temporal
e espacial estão factorizadas. O vector k e a frequência ω não são quantidades independentes.
Introduzindo (9.34) e (9.35), respectivamente, nas eqs. (9.22) e (9.23), obtém-se a seguinte
expressão:
ω
k= . (9.36)
c
O número de onda também pode ser escrito em função do comprimento de onda, λ,
2π
k= ,
λ
sendo esta uma relação análoga à que se tem entre a frequência angular e o perı́odo, T ,
2π
ω= .
T
Outras relações úteis são
λ = cT
262 •
Campo electromagnético
e, por definição,
λ c 1
λ̄ = = = . (9.37)
2π ω k
Vamos mostrar que E e B estão no mesmo plano, o qual é perpendicular a k. Na ausência
de cargas livres, a divergência do campo eléctrico é nula e o mesmo se passa, em qualquer
circunstância, com a divergência do campo de indução magnética. Notando que
resultado que, de resto, já foi usado para obter (9.36), basta tomar a divergência de (9.34) e
de (9.35) e igualar a zero para se concluir que k · E0 = k · B0 = 0 e que, portanto,
k·E =0 , k · B = 0.