O nacionalismo é um sentimento de individualidade, marcado pela aproximação e
identificação com uma nação, mais precisamente com um ponto de vista ideológico. Segundo muitos especialistas, o nacionalismo é a ideologia fundamental da fase industrial da história da humanidade, quando os Estados-nações se tornaram uma organização político-cultural que substituiu o império. Não se deve confundi-lo com patriotismo, que é considerado mais uma manifestação de amor aos símbolo do Estado, como o hino, a bandeira, suas instituições ou representantes. O nacionalismo apresenta uma definição política mais abrangente, como a defesa dos interesses de uma nação na sua preservação enquanto entidade no campo linguístico, cultural e religioso. Importante ressaltar que o nacionalismo está ligado ao sentido de uma ideologia e movimento político, estruturado no contexto de nação, expresso por meio das características comuns de uma comunidade ou de um povo, com precedentes importantes que remontam ao período do Estado absolutista. O nacionalismo surgiu como uma ideologia revolucionária, contrária ao domínio político-cultural do catolicismo, que se apoiava nos nobres feudais e ajudava a sustentar a superada e limitada economia da Idade Média, mas foi a partir da Revolução Francesa que brotou um nacionalismo moderno em defesa do Estado-nação diante de um inimigo externo ou na luta pela independência, como ocorreu nas colônias nos séculos XIX e XX.
Histórico.
O nacionalismo corresponde ao sentimento de pertencer a uma cultura, a uma
localidade, a um povo específico e ganhou valor na Europa e nos Estados Unidos, a partir do século XVIII, com a construção de um Estado-nação, principalmente por meio do cidadão comum, que passou a lutar por seu país como um corpo nacional único – uma nação. A partir do século XIX, o nacionalismo passou a compreender um conjunto de ideias, sentimentos e atitudes no campo político, a fim de difundir e proteger a soberania do Estado- nação diante no inimigo externo e da conquista do Estado democrático de direito. A ideologia nacionalista ganhou cada vez mais corpo e força com a herança cultural, com a noção de pertencimento a um povo e com a definição política das fronteiras nacionais. Na primeira metade do século XX, após a Primeira Guerra Mundial e a Crise de 1929, ocorreu a ascensão de regimes totalitários de nacionalista extremista, como o nazifascismo, procando uma variante catastrófica da ideologia nacionalista com teorias racistas, que ainda repercutem no século XXI, por meio de movimentos neonazistas e xenofóbicos – exaltação de valores nacionais diante da aversão ao estrangeiro, que passa a ser visto como inimigo. No Brasil, o integralismo durante o Estado Novo foi uma importante vertente do nacionalismo. O nacionalista separatista – constituição de um território próprio por meio da independência política de um povo ou nação – ocorreu no pós-Segunda Guerra Mundial como o processo da descolonização afro-asiática, na extinção da URSS e da Iugoslávia. Ocorre ainda com povos que não reconhecem a unidade nacional, mesmo vivendo dentro do Estado-nação, como bascos e catalães na Espanha; irlandeses e escoceses no Reino Unido; palestinos na Faixa de Gaza e Cisjordânia, territórios da Autoridade Nacional Palestina e que são subjugados por Israel; muçulmanos da Caxemira na Índia; tibetanos e uigures na China, entre outros.
Xenofobia.
A xenofobia – aversão ao estrangeiro, isto é, desconfiança, temor ou antipatia por
pessoas estrangeiras ou pelo que é incomum ou é de fora do país. A palavra xenofobia vem do grego e se forma pelas palavras xénos (estrangeiro) e phóbos (medo). A xenofobia, então, caracteriza-se como uma forma de preconceito, passando a ser assimilada como uma forma de racismo moderno – discriminação em relação a alguém. Xenofobia e racismo, no entanto, são conceitos diferentes: a xenofobia está direcionada ao estrangeiro, enquanto o racismo é a discriminação fundamentada na raça, mesmo que a pessoa seja do mesmo país. O fato é que xenofobia e racismo se traduzem em atitudes semelhantes quando se trata de discriminação contra as pessoas. É também um termo usado para denominar um transtorno psiquiátrico que gera um medo excessivo, sem controle ao que é desconhecido – objetos ou pessoas. Esse conceito também se aplica a qualquer discriminação de ordem racial, grupal (em referência a grupos minoritários) ou cultural. O repúdio a culturas diferentes geralmente traz em sua essência o ódio, a animosidade, o preconceito, embora este possa porvir também de outras raízes como, por exemplo, opiniões preconcebidas sobre determinados grupos ou coletividades, por pura falta de informação sobre eles; conflitos ideológicos que envolvem crenças que se conflitam, causados por um choque conceitual; motivações políticas e outros tanto fatores. É polêmico, porém, em alguns casos, definir se houve preconceito ou xenofobia no episódio do nazismo. Esse fato histórico envolveu grupos e culturas diferentes e desencadeou violência desenfreada, crimes hediondos cometidos um grupo que se encontrava no poder da Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial, contra pessoas que eles julgavam diferentes e inferiores. Esses indivíduos não foram apenas assassinados, mas torturados, manipulados geneticamente, utilizados como cobaias em experiências terríveis, o que descarta a presença apenas de fatores político-sociais e dão a esse acontecimento caráter doentio. Para muitos estudiosos, o crescimento da xenofobia remonta aos ano 1980, quando o índice de desemprego aumentou, atingindo europeus e imigrantes que chegaram no pós- Segunda Guerra Mundial para reconstruir o continente. O europeu já os tratava de maneira indiferente. Grandes levas viveram mais isolados em subúrbios e alojamento de fábricas. A partir daí, discursos políticos xenófobos da extrema-direita passou a condenar os imigrantes por roubarem os empregos dos europeus. Ampliou-se o processo de isolamento de muitos estrangeiros com a formação de guetos, originando “pequenos países dentro de um país”. A reunificação alemã, a redemocratização do Leste Europeu e o fim da URSS determinaram grandes fluxos de imigrantes do antigo bloco socialista em busca de emprego e melhores oportunidades de vida na Europa Ocidental, o que ampliou o sentimento europeu de ser contra o não europeu, o multiculturalismo e a violência. A reação foi o crescimento de ideologias discriminatórias defendidas por partidos extremistas e por movimentos neonazistas. Outro fato relevante para compreender a xenofobia, agora contra muçulmanos, foi a imigração de pessoas provenientes de países muçulmanos da Ásia Central – Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Quirguistão, Tadjiquistão – que integravam a URSS. O problema em relação aos muçulmanos ganhou notoriedade depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, quando os dirigentes dos Estados Unidos e de países europeus, além de grupos xenófobos, passaram a identificar nos muçulmanos um fundamentalismo antiocidental. Por outro lado, a invasão de tropas americanas e de seus aliados na Europa para combater o Taliban e a Al Qaeda no Afeganistão e a invasão do Iraque ampliaram o discurso antiocidental de grupos fundamentalistas. Ganharam corpo movimentos fundamentalistas muçulmanos contra seus próprios governos, por apoiarem os Estados Unidos e a Europa nessas ações contra países islâmicos. O apoio de norte-americanos e europeus a Israel, na manutenção do intuito de impedir a formação do Estado Palestino, é outro fator que alimenta grupos fundamentalistas muçulmanos anti-ocidente. Os atentados terroristas na Europa acentuaram severamente o sentimento de oposição ao estrangeiro e, principalmente, às pessoas procedentes do mundo islâmico. É importante ressaltar que os atentados em países europeus, provenientes de grupos fundamentalistas muçulmanos que pregam o extremismo como prática religiosa contra um inimigo (país ou sociedade), são condenados por autoridades muçulmanas que vivem na Europa, por organizações islâmicas e por governos de países islâmicos. Os fundamentalistas ligados ao terrorismo são minoria dentro do islã e, por isso, não representam os preceitos da verdadeira fé do islamismo.
Consequências da Xenofobia.
Além da xenofobia, outra questão preocupante na Europa, nos Estados Unidos, no
Canadá e em Israel é a islamofobia, que consiste na associação entre o islamismo e o terrorismo. Como dito anteriormente, muçulmanos passaram a ser vistos com desprezo e terror simplesmente por serem muçulmanos. Mulheres com vestes tradicionais muçulmanas estão sendo maltratadas, discriminadas, pois seus trajes simbolizam sua opção religiosa. Os recentes atentados terroristas promovem o medo, o ódio e o repúdio aos muçulmanos e o islamismo em geral. Atualmente, nos Estados Unidos e na Europa, cresce a intolerância, principalmente contra estrangeiros, com destaque para um movimento denominado neonazista, que até mesmo tem conseguido eleger representantes de extrema direita no governo. Diante do quadro crescente da xenofobia e da islamofobia, partidos extremistas oportunistas, principalmente de direita, obtêm vantagens políticas ao pregarem medidas contra os estrangeiros como forma de proteger o país e a cultura ocidental. Na Alemanha, por exemplo, ainda se verifica outro agravante: após a reunificação, grande contingente de trabalhadores não especializados veio para o lado ocidental e encontrou milhões de imigrantes exercendo atividades que eles reivindicavam, o que gerou conflitos e hostilidades. O extremismo político presente no Parlamento europeu, uma das maiores instituições da União Europeia, intensifica a ideologia xenófoba, principalmente a da islmofobia, além do nacionalismo exacerbado que se espalha pelo continente, colocando em risco o futuro da integração continental. A Europa abriga 44 milhões de muçulmanos – o que contabiliza 6% de sua população e 2% do total de islâmicos no mundo. Nos próximos 20 anos, eles representarão 8% dos europeus e o número deve continuar subindo, assim como a taxa de imigração geral. Na Espanha, Itália e França, as várias perseguições e tentativas de expulsão de povos ciganos, oriundos principalmente da Romênia, acarretaram milhares de extraditados de maneira voluntária (por oferta de dinheiro) ou involuntária (à força). Houve proibição do uso do véu islâmico integral (burca e niqab), em 2010, pelo governo francês, em espaços públicos, sob a alegação de que nenhuma peça poderia ocultar o rosto. Isso afetou diretamente as mulheres muçulmanas que queriam usar essas peças, apesar da justiça francesa ter alegado que a proibição não se referia a nenhuma peça religiosa. A juíza alemã Angelika Nussberger e a sueca Helena Jäderblom afirmam que “uma proibição tão geral, que afeta o direito de toda pessoa à sua própria identidade cultural e religiosa, não é necessária em uma sociedade democrática”.
Fatores que ampliam a xenofobia.
O medo de uma onda migratória sem controle;
Multiculturalismo; Desemprego e baixos salários; Crise econômica; Partidos de extrema-direita.