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A poesia ainda tem um futuro dentro de um mundo em que no momento voam aviões invisíveis, que
caem bombas “inteligentes”, onde os valores humanitários servem como bandeira branca para
agressões e massacres, onde embargos, com mãos de ferro, estrangulam crianças e onde os ódios
racistas e nacionalistas provocam massacres em série?
Talvez. Ela entra em uma condição que cai na clandestinidade, que vive nas sombras, nas florestas.
Uma condição que faz a poesia invisível para os homens das bombas “inteligentes” e que se funda em
verdadeiros homens.
Nós não falamos em nome da poesia. Como o lutador da resistência não posso falar em nome do fuzil. O
fuzil do guerrilheiro é a antítese do fuzil do Rambo. Nossa poesia é a antítese das canções que iluminam
as noites de um sistema criminal.
Os poetas serviçais oferecem o tom da democracia e da liberdade, mas os verdadeiros poetas são
forçados a falar de terror e de morte. À medida em que os burgueses exaltam com maior pompa seus
valores universais, o planeta se divide em dois mundos mais irremediavelmente hostis.
Aquele que quiser versar em nome dos interesses dos oprimidos, melhor se manter em guarda. Sua
lucidez política deve preceder seu lirismo, e por trás dessa justa combinação, se pavimentará o caminho
para um futuro socialista.
No entanto, ele não compartilha nenhum sentimento, nenhuma sensação, nenhuma reflexão entre
essas outras pessoas que aplaudem a Operação Tempestade no Deserto, que retratam o desembarque
na Somália, que fecham as fronteiras diante dos refugiados “econômicos” em farrapos e que
transformam o trabalho em suplício.
O piloto que bombardeia Bagdad e entra em êxtase diante da beleza alucinante dos fogos de artifício
sobre a cidade, é um poeta. Mas ele não é dos nossos. Nós estamos, de todo coração, com o poeta
iraquiano que, naquele mesmo momento, traduz o horror em versos, mas cuja poesia vai pertencer
durante muito tempo sujeita ao embargo.
Ele sabe que os direitos humanos do escravo não são exatamente os mesmos daquele que estala o
chicote.
Ele não hesita em renovar as formas da poesia. Sua fantasia penetra todas as formas e todas as
tecnologias de ponta se curvam à sua visão. Mas em sua forma mais excêntrica, ele fala em nome dos
pobres de quem ele é órfão.
O poeta internacionalista, de onde quer que ele venha, fala o dialeto de Paris e de Berlim, de Londres e
New York como de Tokyo, como é para o professor desempregado de Paris, o funcionário com salário
reduzido de Berlim, os sem-teto de Londres, o desempregado doente de New York ou para o operário
faminto de Tokyo.
E no dialeto universal, ele descreve, em tudo, o destino de um bilhão de homens trêmulos à beira da
inanição, ele pinta a agonia de centenas de milhares de crianças e jovens privados de remédios, ele
descreve o inferno da miséria, do analfabetismo, do obscurantismo, da vida sem dignidade e sem futuro,
que é o destino de centenas de milhões de homens na África, Ásia e América Latina. O poeta
internacionalista ensina a todos tudo que há, nestas democracias de conquistadores e de fantoches, a
venda de órgãos humanos, a prostituição infantil e a exploração dos escravos.
O poeta internacionalista não tem nenhuma consideração para seu irmão-inimigo na cabeça de Jano,
este poeta cosmopolita viajando em "classe executiva" ao redor do mundo, sendo pago para cantar a
cultura burguesa de todos os continentes e de todas as nacionalidades. O poeta da corte é a boa
consciência de Clinton e de Ramos, de Miterrand e de Mobutu, de Kohl e de Perez, de toda essa liga
internacionalista de sanguessugas.
De perto, o poeta cosmopolita porta no pescoço o colar da morte do chauvinismo. Se necessário, para
agradar seu soberano, em cada país, em cada região, em cada província, ele vai afundar seu rosto na
areia do racismo, obscurantismo e do anticomunismo.
Execrável, é essa cultura cuja soma se chega a bilhões de dólares. Execráveis, essas séries policiais e
esses filmes transbordando originalidade num quadro burguês mesquinho, tal como essas músicas
pobres que as multinacionais produzem, com os olhos voltados somente para os lucros. Comendo com
as mãos criminosas, lambendo as botas que voltam da guerra, o poeta-mercenário produz obras que
deixam os homens limitados, idiotas e egoístas.
Execrável é essa arte pela arte, elitista e hermética, que dá à burguesia um semblante de cultura e os
reafirma dentro de seus atos infames. A arte pela arte realiza aquilo que jamais existiu no mundo
humano. Em relação aos outros, essa arte é feita de irresponsabilidade, covardia e cumplicidade de
culpa.
Mas mal eles arrancaram a arma de nossas mãos, eles se voltaram contra nós. Eles nos combateram em
nome da liberdade do artista. Mas os ricos, que libertaram seus poetas de todo ideal social, os
engajaram na luta contra o povo e o socialismo. Os burgueses cuspiram no realismo socialista para
melhor glorificar o realismo antissocialista. Soljénitsyne, admirador do czarismo, simpatizante dos
nazistas, colaborador da CIA, lançou no mercado seu realismo contrarrevolucionário que, sem atraso, foi
popularizado com vários prêmios Nobel e diplomas honoris causa. A. Valladares, esse policial desprezível
que foi preso em Cuba, recebeu ordens da CIA para escrever poemas que foram imediatamente
difundidos em todo o mundo como a obra-prima da arte anti-totalitária. O poeta Valladares agora é alto
funcionário do Departamento de Estado. Ele não precisa mais fingir escrevendo poesia, ele escreve sem
rodeios suas acusações contra o socialismo.
O poeta revolucionário, ele sabe que faz arte humana. Ele se arma com fortes palavras que explodem
como granadas no rosto das classes exploradoras.
Não há humanidade fora do compromisso com os oprimidos e explorados, fora da ligação com os
operários, camponeses, os trabalhadores que sofrem com uma ordem injusta e insuportável, fora da
unidade sincera com os combatentes e militantes que enfrentam o imperialismo e o capitalismo.
Imperialismo e capitalismo, lembrem bem dessas palavras, queridos irmãos-inimigos. Um poeta teve de
reinventar as palavras que vocês baniram do dicionário por crime de linguagem estereotipada.
Desde 1917, o velho mundo organizou seus torturadores e carcereiros, todos os bispos e filósofos, todos
seus generais e banqueiros, todos seus saltimbancos e poetas. Ademais, a construção socialista ia
avançando e com mais clareza a burguesia mundial viu a morte rondar sua vizinhança. A velha sociedade
esperneia ferozmente com raiva.
Mas na União Soviética, o desgaste da guerra, dirigentes do Partido, engenheiros, gestores, professores
e poetas, todos os comércios já haviam anunciado sua vitória irreversível. Ao dormir sobre os louros,
eles foram lentamente anestesiados ou sufocados lentamente. O inimigo era mais forte, mais pérfido,
mais cruel e bárbaro que os humanos imaginavam.
O poeta revolucionário toma o cuidado de resgatar dos escombros o que foi desenvolvido na literatura e
na lírica das antigas sociedades socialistas. Ele vai salvar da lama e desembaraçar os melhores poemas
do mundo socialista e dar-lhes uma nova vida para um novo combate.