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[...] Na virado do século [...] uma nova concepção de cultural tornou-se possível. A palavra começou a
ser usada no plural, sugerindo um mundo com modos de vida separados, distintos
e igualmente significativos” (p.100
-101).
No inicio do século XX há uma nova “subjetividade etnográfica. “A antropologia moderna
pressupunha uma atitude irônica de observação participante. Ao profissionalizar o trabalho decampo,
a antropologia transformou uma situação amplamente difundida num métodocientifico. O
conhecimento etnográfico não podia ser propriedade de qualquer discurso oudis
ciplina” (p.101).
“Minha comparação entre Mali e Conrad focaliza a difícil ascensão de ambos a expressão
profissional inovadora.
O Coração das Trevas (1899)
é a mais profunda reflexão de Conradsobre o difícil processo de se entregar a Inglaterra e ao inglês. [...]
A experiência de Mali édemarcada por duas obras
Um diário no sentido estrito do texto (1967) e Argonautas doPacifico Ocidental (1922)
[...] os dois textos são refrações parciais, experimentos científicos daescrita [...] O diário {onde expõe
toda sua raiva, depressão, vulnerabilidade} é um inventivotexto polifônico. É um documento crucial para
a história da antropologia, não porque revela arealidade da experiência etnográfica, mas porque nos
força a enfrentar as complexidades detais encontros e a tratar todos os relatos textuais baseados em
trabalho de campo como
construções parciais” (p.106
-107).2.
Mali e Conrad eram poloneses,se conheciam, o primeiro era grande admirador do segundo, eambos
desenvolviam ambiciosas carreiras como escritores na Inglaterra. [...] Embora a relaçãoentre ambos
tenha sido breve, Mali frequentemente representava sua vida em termosconradianos, e em seu diário
ele parecia as vezes estar reescrevendo temas de O Coração dasTrevas (p.107).
“Tanto O Coracao das Trevas quanto o Diario parecem retratar a crise de uma identidade –
uma luta, nos confins de uma civilização ocidental, contra a ameacao de dissolução moral”
(p.108).
“Talvez a mais import
ante diferença textual seja que Conrad assume uma posição irônica comrespeito a verdade
representacional, uma atitude apenas implícita na escrita de Malinowsi. Oautor de Argonautas se dedica
a construir ficções culturais realistas, enquanto Conrad, emboracomprometido de forma semelhante
com isso, representa a atividade como prática
contextualmente limitada a contar estórias” (p.109).
4.
“Malinowski porem, resgatou um eu da desintegração e da depressão. Esse eu estava
associado, tal como o de Conrad, ao processo da escrita. [...] A subjetividade fragmentadamanifesta em
ambas as obras é aquela de um escritor, e o impulso de diferentes desejos e
línguas é nítido numa serie de inscrições discrepantes” (p.118).
5.
“Trata
-se de diferentes experiências de escritas; etnografias são ao mesmo temposemelhantes e distantes em
relação aos romances. Mas, de um modo geral e importante, asduas experiências encenam o processo
de automodelagem ficcional em sistemas relativos de
cultura e linguagem que chamo de etnográficos” (p.122).
“ Tem
-se a tentação de pro
por que a compreensão etnográfica ‘e melhor entendia como uma
criação da escrita etnográfica do que como uma consistente qualidade da experiênciaetnográfica. De
qualquer modo, o que Mali realizava ao escrever era simultaneamente 1) ainvenção ficcional dos
trobriandeses a partir de uma massa de notas de campo, documentos,memórias, e assim por diante; e
2) a construção de um novo personagem publico, o
antropologo como pesquisador de campo” (p.123).
6.
“A antropologia, baseada no trabalho de campo, ao co
nstituir sua autoridade, constrói ereconstrói coerentes outros culturais e eus interpretativos. Se esta
automodelagemetnográfica pressupõe mentiras de omissão e de retórica, ela tambem torna possível o
relato
de poderosas verdades” (p.126).