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Justiça Federal da 1ª Região

Justiça Federal da 1ª Região (1º grau)

O documento a seguir foi juntado aos autos do processo de número 1000151-79.2018.4.01.3806


em 15/03/2018 11:59:46 por IURI DE PAULA FERNANDES MACHADO
Documento assinado por:

- IURI DE PAULA FERNANDES MACHADO

18031511563071000000004880382
EXMO(A). SR(A). DR(A). JUIZ(A) FEDERAL DA ____ª VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO
JUDICIÁRIA DE PATOS DE MINAS – SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE
MINAS GERAIS

PEDIDO DE
CONCESSÃO DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA

PEDIDO DE
TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA PARA SUSPENSÃO DE ATOS EXPROPRIATÓRIOS

LEILÃO DIA 16/03/2018 ÀS 15:00

JULIO CESAR ROSA, brasileiro, casado, portador da Cédula


de Identidade RG nº 11.008.150 SSP/MG, inscrito no CPF/MF sob o nº 043.702.216-17,
e FRANCIELE SOARES, brasileira, casada, portadora da Cédula de Identidade nº
15.243.592, inscrita no CPF/MF sob o nº 087.466.026-23, ambos residentes e
domiciliados à Rua Evandro Machado, nº 1.335, Bairro Boa Esperança – Patrocínio/MG,
CEP 38.740-000, por seus advogados digitalmente assinados (doc. anexo), com
endereço constante no rodapé, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com
fulcro nos artigos 294 e ss, do Código de Processo Civil, e demais disposições legais
aplicáveis à espécie, propor a presente

AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE


c/c PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA EM CARÁTER ANTECEDENTE

em face de CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF, pessoa


jurídica de direito público, inscrita sob o CNPJ nº 00.360.305/0001-04, com sede no
Setor Bancário Sul, Quadra 4, Bloco A, Lote 3/4, Presi-Gecol, 21º andar, Asa Sul,
Brasília, DF, CEP 70.092-900, na pessoa de seu representante legal, com base nos fatos
e fundamentos a seguir aduzidos.

I - DOS FATOS

Na data de 11 de novembro de 2010, a parte autora da


presente demanda firmou “CONTRATO POR INSTRUMENTO PARTICULAR DE
COMPRA E VENDA DE TERRENO, MÚTUO PARA OBRAS, ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
EM GARANTIA, COM CARTA DE CRÉDITO E UTILIZAÇÃO DO FGTS” com a parte ré,
cujo objeto foi o imóvel de matrícula n.º 47.498 do Cartório de Registro de Imóveis de

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Patrocínio/MG, tendo o financiamento o valor pactuado de R$ 129.243,04 (cento e
vinte e nove mil duzentos e quarenta e três reais e quatro centavos).
Ocorre que a parte autora passou por dificuldades
financeiras, ante a crise econômica que assolou o país, pois a empresa que o Autor
trabalhava se viu obrigada a cortar gastos, ainda alguns acontecimentos na vida do
Autor também ajudaram para que esse quadro se desenhasse, o que prejudicou o
pagamento das parcelas do financiamento.

Vale ressaltar que não se tornou inadimplente por má-fé,


visto que a parte autora foi brutalmente atingida por uma gama de aspectos negativos
que impossibilitaram o pagamento das parcelas do financiamento.

Entretanto, após a melhora nas condições financeiras,


estando atualmente empregada, dirigiu-se a parte Autora à instituição financeira ré
para negociar sua dívida e tornar a realizar os pagamentos das parcelas do
financiamento do seu imóvel, o que lhe foi negado em razão da consolidação da
propriedade do imóvel em comento pelo banco.

Diante de tal informação, solicitou matrícula do seu imóvel,


onde constatou que houve a consolidação da propriedade pelo banco em
12/09/20171, fato que proporciona consequências devastadoras à parte Autora, que
convive agora com o risco iminente de perder o seu imóvel.

a parte autora afirma não ter


Ocorre que
recebido a imprescindível notificação, tanto pela Caixa,
quanto pelo cartório do registro de imóveis, acerca do
procedimento de consolidação de propriedade.
Como se não bastasse, a ré disponibilizou o imóvel em
comento na modalidade de leilão extrajudicial, o qual estava disposto no Edital
de Leilão Público de Venda de Imóvel nº 1202/2018 2º SFI/MG, cuja
sessão se realizará no dia 15/03/2018, às 15horas, com valor de
venda de R$ 179.930,282.

Nota-se, no caso em comento, que a parte autora resta


impossibilitada de produzir prova negativa de seu direito, ou seja,
não se pode exigir que a parte autora comprove que não foi
constituída em mora por não ter sido notificada para purgá-la, como
também da realização dos leilões.

Tal situação evidencia a verossimilhança


necessária à determinação de suspensão de eventual leilão

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Matrícula anexa.
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Tela anexa.
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agendado, bem como qualquer outro ato expropriatório do imóvel do
autor.
Assim, a parte Autora não encontra outra maneira, senão o
ajuizamento da ação perante o Poder Judiciário, buscando tutelar seu direito, no intuito
de reabrir o contrato firmado entre as partes, prosseguindo com o devido pagamento
em parcelas mensais, o que é plenamente possível, cabendo ao magistrado determinar
o cancelamento da R-6 da Matrícula sob o nº 47.498 do Cartório de Registro de
Imóveis de Patrocínio/MG, caso as partes transacionem em futura audiência, ou
mesmo que seja declarada a anulação da consolidação da propriedade por ausência de
intimação pelo Oficial do Registro de Imóveis competente, bem como pela purgação da
mora antes da assinatura do Auto de arrematação, conforme se verá adiante.

II – DO DIREITO

II.a – DA IRREGULARIDADE DO PROCEDIMENTO DE


CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE – AUSÊNCIA DE
NOTIFICAÇÃO PARA PURGAR A MORA – NULIDADE POR
DESCUMPRIMENTO DO ARTIGO 26, § 1º, DA LEI Nº
9.514/97

Em atenta analise à matrícula do imóvel em comento,


verifica-se que a ré descumpriu o artigo 26, § 1º, da Lei 9.514/97, in verbis:

Lei nº 9.514 de 20 de Novembro de 1997

Art. 26. Vencida e não paga, no todo ou em parte, a dívida e


constituído em mora o fiduciante, consolidar-se-á, nos termos
deste artigo, a propriedade do imóvel em nome do fiduciário.

§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, o fiduciante, ou seu


representante legal ou procurador regularmente constituído, será
intimado, a requerimento do fiduciário, pelo oficial do
competente Registro de Imóveis, a satisfazer, no prazo de
quinze dias, a prestação vencida e as que se
vencerem até a data do pagamento, os juros
convencionais, as penalidades e os demais encargos contratuais, os
encargos legais, inclusive tributos, as contribuições condominiais
imputáveis ao imóvel, além das despesas de cobrança e de
intimação.
[...]
§ 3º A intimação far-se-á pessoalmente ao fiduciante,
ou ao seu representante legal ou ao procurador regularmente
constituído, podendo ser promovida, por solicitação do oficial do
Registro de Imóveis, por oficial de Registro de Títulos e
Documentos da comarca da situação do imóvel ou do domicílio de
quem deva recebê-la, ou pelo correio, com aviso de recebimento.
(grifos apostos)
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A ausência da notificação pessoal implica nulidade da
alienação extrajudicial, conforme entendimento do STJ:

“PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL.


SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. EXECUÇÃO DE TÍTULO
EXTRAJUDICIAL. FALTA DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO EXECUTADO
ACERCA DAS DATAS DE REALIZAÇÃO DOS LEILÕES. NULIDADE.
1. A orientação desta Corte firmou-se no sentido de que, "na execução
extrajudicial do Decreto-lei 70/66, o devedor deve ser pessoalmente
intimado do dia, hora e local de realização do leilão do imóvel objeto do
financiamento inadimplido, sob pena de nulidade" (AgRg no REsp
719.998/RN, 3ª Turma, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de
19.3.2007). 2. Recurso especial provido, para declarar a nulidade do
procedimento de execução extrajudicial”.3

Além disso, o E. TRF-4 também tem se posicionado no


sentido de conceder a liminar, com a suspensão do leilão extrajudicial, ante a ausência
da notificação do fiduciante para purgar a mora:

“ESTE AGRAVO DE INSTRUMENTO ATACA DECISÃO QUE


INDEFERIU TUTELA DE URGÊNCIA QUE VISA À SUSPENSÃO
DE LEILÃO APRAZADO PARA 21/08/2017 EM AÇÃO
ANULATÓRIA DE CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE EM NOME
DA CEF (EVENTO 5 DA AÇÃO), PROFERIDA PELA JUÍZA
FEDERAL LÍLIA CÔRTES DE CARVALHO DE MARTINO. NAQUILO
QUE INTERESSA A ESTE AGRAVO DE INSTRUMENTO, ESTE É O
TEOR DA DECISÃO AGRAVADA: 1. TRATA-SE DE DEMANDA DE
PROCEDIMENTO COMUM PROPOSTA POR RAQUEL CARINA
BORZIO RODRIGUES E FERNANDO PEREIRA RODRIGUES EM
FACE DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF OBJETIVANDO, EM
SEDE LIMINAR, A SUSPENSÃO DOS ATOS EXPROPRIATÓRIOS
QUE RECAEM SOBRE O IMÓVEL EM LITÍGIO. [...]ANTE A SUA
SUPERVENIENTE CRISE FINANCEIRA - DESEMPREGO - FICOU
INADIMPLENTE. ENTRETANTO, APÓS A MELHORA NAS
CONDIÇÕES FINANCEIRAS, DIRIGIU-SE A PARTE AUTORA À
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA RÉ PARA NEGOCIAR SUA DÍVIDA
E TORNAR A REALIZAR OS PAGAMENTOS DAS
PARCELAS DO FINANCIAMENTO DO SEU IMÓVEL, O
QUE LHE FOI NEGADO EM RAZÃO DA CONSOLIDAÇÃO
DA PROPRIEDADE DO IMÓVEL EM COMENTO PELO
BANCO. DIANTE DE TAL INFORMAÇÃO, SOLICITOU
MATRÍCULA DO SEU IMÓVEL, ONDE CONSTATOU QUE HOUVE
A CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE PELO BANCO EM
31/03/2017. ALEGA QUE NÃO RECEBEU A NOTIFICAÇÃO
ACERCA DA CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE.

3
REsp 1088922/CE, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 28/04/2009,
DJe 04/06/2009
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ASSIM, REQUER O CANCELAMENTO DO LEILÃO DESIGNADO
PARA O DIA 21.08.2017. EXPLICA, AINDA, QUE ALMEJA
REABRIR O CONTRATO FIRMADO ENTRE AS PARTES EM
AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU ATRAVÉS DE SENTENÇA QUE
ANULE A CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE LEVADA A EFEITO.
[...]ALEGA A PARTE AGRAVANTE (PARTE AUTORA) QUE O
LEILÃO APRAZADO PARA 21/08/2017, ÀS 14H, DEVE SER
SUSPENSO, PORQUE: (A) NÃO HOUVE INTIMAÇÃO PESSOAL
PARA PURGAR A MORA, NECESSÁRIA PARA VALIDAR A
CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE EM FAVOR DA CEF E O
LEILÃO; (B) A SUSPENSÃO DO LEILÃO NÃO PREJUDICA A
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, QUE PODERÁ REALIZAR
FUTURAMENTE NOVO LEILÃO, SE FOR O CASO; (C) A PARTE
AGRAVANTE TEM INTENSÃO DE PERMANECEREM NO IMÓVEL,
PAGAR A DÍVIDA E CONTINUAR A PAGAR AS PARCELAS
VINCENDAS, MAS ISSO FICARÁ FRUSTRADO SE O LEILÃO NÃO
FOR SUSPENSO. PEDE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA
RECURSAL E O PROVIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO
PARA SUSPENDER O LEILÃO, OBSTAR QUE SEJAM PROMOVIDOS
ATOS EXPROPRIATÓRIOS DO IMÓVEL E MANTER A PARTE
AGRAVANTE NA POSSE DO IMÓVEL ATÉ ULTERIOR DECISÃO,
SOB PENA DE MULTA DIÁRIA DE, NO MÍNIMO, R$ 1.000,00.
SUCESSIVAMENTE, PEDE QUE SEJA CONCEDIDA A TUTELA AO
MENOS ATÉ A AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO PREVISTA NO ART.
334 DO CPC-2015. RELATEI. DECIDO. [...] NO CASO DOS AUTOS,
NÃO HÁ, POR ORA, CERTEZA QUANTO A ESSE FATO, SENDO
ÔNUS DA CEF ESSA PROVA, NA MEDIDA EM QUE DETENTORA
DA DOCUMENTAÇÃO RELATIVA AO PROCESSO DE
EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL, QUE AINDA NÃO CONSTA DOS
AUTOS; (C) É EVIDENTE O RISCO DE PREJUÍZOS DE DIFÍCIL
REPARAÇÃO QUE PESA EM FAVOR DA PARTE AGRAVANTE,
JÁ QUE O IMÓVEL PODERÁ SER DEFINITIVAMENTE
TRANSFERIDO PARA TERCEIRA PESSOA ATRAVÉS DE
LEILÃO, TORNANDO ASSIM IRREVERSÍVEL A
TRANSFERÊNCIA DO IMÓVEL; [...] ANTE O EXPOSTO, DEFIRO
EM PARTE A ANTECIPAÇÃO DA TUTELA RECURSAL PARA
SUSPENDER O LEILÃO EM QUESTÃO, OBSTAR QUE SEJAM
PROMOVIDOS ATOS EXPROPRIATÓRIOS DO IMÓVEL E
MANTER A PARTE AGRAVANTE NA POSSE DO IMÓVEL ATÉ A
PROLAÇÃO DE SENTENÇA. COMUNIQUE-SE AO JUÍZO DE
ORIGEM. INTIMEM-SE AS PARTES, INCLUSIVE A PARTE
AGRAVADA PARA CONTRARRAZÕES. APÓS, VENHAM
CONCLUSOS PARA JULGAMENTO.”4
(grifos apostos)

4
Agravo de Instrumento n.º 5045013-89.2017.4.04.0000/PR. Relator Des. CÂNDIDO ALFREDO S. LEAL
JR. Publicada em 17/08/2017
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“TRATA-SE DE AGRAVO DE INSTRUMENTO INTERPOSTO
CONTRA A SEGUINTE DECISÃO: TRATA-SE DE AÇÃO
DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CONSOLIDAÇÃO DA
PROPRIEDADE, COM PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE
URGÊNCIA ANTECEDENTE, PROPOSTA POR CARMEN
LUCIA PIETROBELLI EM FACE DA CAIXA ECONÔMICA
FEDERAL - CEF. ALEGA QUE CELEBROU CONTRATO DE
MÚTUO COM A REQUERIDA PARA AQUISIÇÃO DO IMÓVEL
LOCALIZADO NA RUA COSMO FAVRETTO, Nº574, BAIRRO
CENTRO, SARANDI/RS, SENDO QUE TORNOU-SE
INADIMPLENTE POR PROBLEMAS FINANCEIROS.
SUSTENTA QUE NÃO FOI NOTIFICADA
EXTRAJUDICIALMENTE PARA PURGAR A MORA,
DESRESPEITANDO AS DISPOSIÇÕES DA LEI Nº 9.514/97.
AFIRMA QUE TOMOU CONHECIMENTO DA
CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE DO IMÓVEL
REALIZADA PELO BANCO ATRAVÉS DE CONSULTA
PARTICULAR. MANIFESTOU INTERESSE EM
CONCILIAÇÃO PARA PURGAÇÃO DA MORA ATRAVÉS DA
RETOMADA DO CONTRATO. PLEITEOU TUTELA DE
URGÊNCIA PARA DETERMINAR À REQUERIDA A
SUSPENSÃO DOS ATOS DE ALIENAÇÃO EM RELAÇÃO AO
IMÓVEL, MANTENDO A AUTORA NA POSSE DO BEM.
[...]Portanto, é expressa previsão legal a possibilidade de promoção
da notificação através de solicitação do oficial do Registro de
Imóveis. Entretanto, a adoção do referido procedimento não isenta o
fiduciário de comprovar a realização da intimação pessoal do
fiduciante. Ocorre que, no caso dos autos, ao menos em juízo
perfunctório, assiste razão à agravante: não há comprovação de ter
havido a notificação pessoal para purgar a mora. Com efeito, a
mera certidão do oficial do Registro de Imóveis (fl. 12 do evento 9/4
na origem) não é suficiente para tanto, se não acompanhada do
aviso de recebimento ou equivalente contendo a assinatura da parte
notificada. Logo, prima facie, não há nos autos elementos
a comprovar a notificação da agravante. Nestes termos,
de acordo com a legislação de regência, tenho que por
ora é de ser parcialmente deferida a antecipação dos
efeitos da tutela, a fim de manter a agravante na posse do
imóvel, pelo menos até que a CEF comprove haver
realizado a notificação. Registre-se ainda, por oportuno, que a
purgação da mora após a consolidação da propriedade e antes da
arrematação por terceiro, entretanto, segundo entendimento desta
Turma, pressupõe depósito/pagamento de todo o valor da dívida, e
não somente das parcelas em aberto, mesmo porque a propriedade
plena do credor fiduciário já se consolidou, inclusive com o
pagamento de todas as despesas, inclusive tributos incidentes, em
especial o imposto de transmissão de bens imóveis (ITBI) 'inter
vivos'. [...]Do exposto, defiro em parte o pedido de antecipação da
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pretensão recursal. Intimem-se, sendo o agravado para os fins do
art. 527, V, do CPC. Publique-se. Comunique-se.”5
(grifos apostos)
Outro não seria o entendimento do Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, senão vejamos:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE INSTRUMENTO


PARTICULAR DE COMPRA E VENDA, MÚTUO COM OBRIGAÇÃO E
HIPOTECA (SFH) E AÇÃO ANULATÓRIA C/C PEDIDO LIMINAR.
JULGAMENTO SIMULTÂNEO QUE DEU PARCIAL PROVIMENTO AO
FEITO PARA AFASTAR A APLICAÇÃO DA TABELA PRICE, LIMITAR
A COBRANÇA DA COMISSÃO DE CONCESSÃO AO CRÉDITO A UMA
ÚNICA VEZ E DECLARAR A NULIDADE DO LEILÃO
EXTRAJUDICIAL E DA ARREMATAÇÃO DO BEM. APELAÇÃO DO
BANCO. PRETENSÃO DE AFASTAR A LIMITAÇÃO DA TAXA DE
JUROS EM 10% AO ANO NÃO CONHECIDA. MATÉRIA NÃO
DETERMINADA EM PRIMEIRO GRAU. AUSÊNCIA DE INTERESSE
RECURSAL. BINÔMIO NECESSIDADE UTILIDADE NÃO
CONFIGURADO. RECURSO NÃO CONHECIDO NESTA PARTE.
ALEGAÇÃO DE QUE O SISTEMA PRICE DE AMORTIZAÇÃO NÃO
IMPLICA NA CAPITALIZAÇÃO DE JUROS REJEITADA. ANATOCISMO
EVIDENCIADO PELA UTILIZAÇÃO DA TABELA PRICE ANTE A SUA
FÓRMULA EXPONENCIAL. FENÔMENO VEDADO PELO
ORDENAMENTO (SÚM. 121/STF). SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO
QUE COLOCA O CORRENTISTA EM DESVANTAGEM EXAGERADA
ANTE A COBRANÇA DA TAXA DE JUROS SUPERIOR À
CONTRATADA, EM PREJUÍZO DA AMORTIZAÇÃO DO SALDO
DEVEDOR. FLAGRANTE MÁ-FÉ DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS.
OFENSA AO ARTIGO 51, INCISO IV DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. NULIDADE DE CLÁUSULA POTESTATIVA. SISTEMA
DE AMORTIZAÇÃO PRICE SUBSTITUÍDO PELO MÉTODO DE
EQUIVALÊNCIA EM JUROS SIMPLES PARA NÃO IMPLICAR EM
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. LEILÃO EXTRAJUDICIAL REALIZADO
SEM NOTIFICAÇÃO PESSOAL DOS MUTUÁRIOS. AINDA QUE
NÃO CONSTE EXPRESSAMENTE EM LEI, A JURISPRUDÊNCIA
PÁTRIA FIRMOU ENTENDIMENTO PELA EXIGÊNCIA DE
INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR A RESPEITO DO DIA, HORA
E LOCAL DA REALIZAÇÃO DO LEILÃO, EM PROCESSO DE
EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL SOB O REGIME DO DECRETO-LEI
Nº 70/66, POR FORÇA DO DISPOSTO NO INCISO II DO ART. 39
DA LEI 9.514/97, TENDO EM VISTA SE CONSTITUIR EM UMA
ÚLTIMA GARANTIA DAQUELE ANTES DA EXPROPRIAÇÃO.
FORMALIDADE INDISPENSÁVEL. DESCUMPRIMENTO.

5
TRF-4- Agravo de Instrumento n.º 5021320-76.2017.4.04.0000/RS. Relator: RICARDO TEIXEIRA DO
VALLE PEREIRA. Publicado em 23/05/2017.
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NULIDADE DO LEILÃO E DA ARREMATAÇÃO MANTIDA.
APELAÇÃO DO RÉU CONHECIDA E NÃO PROVIDA.”6
(grifos apostos)

Ainda, importante destacar que a notificação extrajudicial


supra referida deve estar acompanhada da discriminação dos valores cobrados, sendo
indispensável relatório detalhado acerca dos encargos, juros, penalidades, tributos
entre outros, consoante determina o parágrafo primeiro do artigo supracitado.

Tal documento, conforme narrativa da parte autora


também não lhe foi encaminhada pelo Cartório de Registro de Imóveis competente,
fato que invalida o procedimento de consolidação de propriedade levado a termo pela
parte ré.

Desse modo, requer-se que seja anulado qualquer ato


extrajudicial que resulte na venda do imóvel em leilão extrajudicial, posto que
não houve o envio de notificação alguma sobre a dívida à parte autora, devendo
ter sido realizada a intimação na sua pessoa ou de seu representante legal,
consoante a legislação pátria, o que invalida completamente a possibilidade de
consolidação da propriedade do bem pela ré.

II.b - DO PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA


PROPRIEDADE

Acerca da função social da propriedade, tem-se que, além


de ser princípio predominante da ordem econômica, está inserido no contexto dos
direitos e garantias fundamentais, por ser cláusula pétrea de efeito imediato.

Vejamos que a Carta Magna assegura a todos os brasileiros


o direito à moradia, conforme abaixo transcrito:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o


trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
(grifos apostos)

De acordo com Teizen Júnior, a propriedade – do latim


proprium – aquilo que me pertence - abrange todos os direitos que formam nosso
patrimônio, isto é, todas as situações jurídicas aferíveis pecuniariamente, sobre os
quais um titular pode ter ingerência socioeconômica:

“A função social, lato sensu, consiste na proteção conferida pelo


ordenamento jurídico aos mais fracos na relação contratual,
tendo como critério o favorecimento da repartição mais

6
TJ-PR - AC: 5466715 PR 0546671-5, Relator: Rosana Andriguetto de Carvalho, Data de Julgamento:
01/07/2009, 13ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 197
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equilibrada da riqueza. É a aplicação, no fundo, do princípio da
igualdade substancial. É um preceito constitucional, qual seja,
zelar pela liberdade e pela igualdade dos indivíduos. Porém,
deve haver uma real e substancial liberdade e uma verdadeira
igualdade, compelindo a sociedade a eliminar a miséria, a
ignorância, a excessiva desigualdade entre os indivíduos, classes e
regiões.” 7
(grifos apostos)

Logo, tem-se que a função social da propriedade não


poderia ser afrontada, ante os critérios e graus de exigência estabelecidos por meio de
lei, em razão do aproveitamento adequado do imóvel, bem como a moradia da parte
Autora e de sua família que demonstra, inequivocadamente, o bem-estar dos
proprietários.

O ingresso da presente ação judicial comprova o interesse


da parte Autora na manutenção da propriedade, o que encarece a função social da
propriedade em questão, uma vez que objetiva a composição amigável entre as partes,
ante a inadimplência oriunda dos problemas financeiros, bem como pelo
descumprimento da Ré, ante ao disposto em lei.

II.c – DAS NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS APLICADAS

É importante frisarmos, Excelência, que a dívida pela qual o


imóvel teve a posse consolidada pela instituição financeira não foi contraída em face da
má-fé da parte Autora, mas, em razão de fatos alheios a sua vontade, esta restou
inadimplente.

A Constituição Federal dispõe que:

"Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido


processo."

No caso, estar-se-ia privando a parte Autora de seu imóvel,


adquirido de boa-fé sem qualquer possibilidade efetiva de defesa e ainda, sem os
cuidados da apreciação do feito pelo Poder Judiciário.

Diante disso, em consonância com o Art. 166, IV, do Código


Civil, o mesmo assim dispõe:

Art. 166 - É nulo o negócio jurídico quando:


(...)
IV - não revestir a forma prescrita em lei;

7 TEIZEN JÚNIOR, Augusto Geraldo. A função social no código civil. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2004.
9
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Assim sendo, estamos diante de uma situação típica
daquelas descritas na legislação mencionada e, ainda, encontram-se cumpridas todas
as formalidades legais que o caso requer.

II.d – DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

É indiscutível a caracterização de relação de consumo entre


as partes, apresentando-se a instituição financeira com sua atuação no mercado como
uma verdadeira imobiliária e, desse modo, prestadora de serviços e fornecedora, nos
termos do art. 3º do CDC:

Art. 3°- Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

A parte autora, por sua vez, está caracterizada enquanto


consumidora, conforme disciplina o art. 2º do CDC:

Art. 2°- Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou


utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de
pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo.

Portanto, no momento em que a parte Autora utilizara dos


serviços da instituição financeira ré, pactuando o instrumento de compra e venda, não
restam dúvidas que o negócio jurídico em questão tem respaldo na Lei 8.078/90.

Nesse sentido, logicamente, inverte-se o ônus da prova ante


a clara verossimilhança das alegações, conforme dispõe o art. 6º do CDC8 e em respeito
a um dos princípios basilares do Direito do Consumidor.

Desta forma, cabe à ré demonstrar provas em contrário aos


fatos alegados pela parte Autora, muito embora os documentos juntados na inicial já
assegurem e sejam suficientes para o correto deslinde da demanda.

Quanto à tutela específica, o Código de Defesa do


Consumidor estabelece o seguinte:

8
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências;
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Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
§ 1° A conversão da obrigação em perdas e danos somente será
admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela
específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.
§ 2° A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da
multa
§ 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo
justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz
conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado
o réu.
§ 4° O juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na sentença, impor multa
diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for
suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável
para o cumprimento do preceito.
§ 5° Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado
prático equivalente, poderá o juiz determinar as medidas
necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e
pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva,
além de requisição de força policial.
(grifos apostos)

Portanto, faz-se
necessária a suspensão de
qualquer ato expropriatório futuro envolvendo o bem imóvel, em
especial, da disponibilização do imóvel em leilão extrajudicial, sem que
ocorra a devida notificação para o devedor purgar a mora.

II.e – DA EXECUÇÃO MENOS GRAVOSA PARA A PARTE


AUTORA

Salienta-se, ainda, que a execução extrajudicial apresenta-


se como a mais gravosa para a parte Autora, em clara contradição ao “princípio da
menor onerosidade da execução”, consagrado no art. 805 do Novo CPC:

Art. 805 - Quando por vários meios o credor puder promover a


execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso
para o executado.

Ainda, o art. 5, XXXV, LIV e LV da Constituição Federal


preceitua que a Lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário, lesão ou ameaça de
direito.

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
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(...)
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito;
(...)
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

Nota-se, portanto, que o meio executivo escolhido


pela parte ré configura o mais gravoso para a parte Autora, ao passo
que retira o consagrado direito à moradia.

Assim, cabe destacar que o princípio supra aludido não


serve como escudo à inadimplência da parte Autora, muito menos para protelar a
efetiva prestação da tutela jurisdicional executiva, visto que seu escopo é tão somente
evitar o abuso do direito do credor em obter aquilo a que faz jus.

II.f – DA POSSIBILIDADE DA PURGAÇÃO DA MORA ANTES


DA ALIENAÇÃO DO BEM IMÓVEL

Proclamam os artigos 26 e 27 da Lei 9.514/97, aplicados


em conjunto ao artigo 34 do Decreto-Lei nº 70/66, que há possibilidade de purgação da
mora referente aos contratos de alienação fiduciária, até o momento da assinatura do
auto de arrematação, o que ainda não ocorreu no presente caso.

Vejamos que o artigo 26, §1º da Lei 9.514/1997 estabelece


que:

(...) o fiduciante, ou o seu representante legal ou procurador


regulamente constituído, será intimado, a requerimento do fiduciário,
pelo oficial do competente Registro de Imóveis, a satisfazer, no prazo
de quinze dias, a prestação vencida e as que se vencerem até a data
do pagamento, os juros convencionais, as penalidades e os demais
encargos contratuais, os encargos legais, inclusive tributos, as
contribuições condominiais imputáveis ao imóvel, além das despesas de
cobrança e de intimação.

Evidente, portanto, que a Lei veda o vencimento antecipado


de todas as prestações vincendas do contrato firmado entre as partes, prática essa
muito usual pelas instituições financeiras e que deve ser coibida pelo Poder Judiciário,
caso identificada quando da exibição dos documentos que se encontram em posse da
parte ré.

Portanto, plenamente cabível a consignação de valores,


assim como a determinação judicial antecipando a tutela para que o agente financeiro
não promova atos expropriatórios em relação ao imóvel dado em garantia pela parte
autora.
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Vejamos as decisões mais recentes a respeito do tema:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CAUTELAR. JUÍZO A QUO QUE


DEFERE A LIMINAR DE SUSPENSÃO DE LEILÃO EXTRAJUDICIAL DO
BEM. INCONFORMISMO DA FINANCEIRA. ALEGAÇÃO DE OFENSA À
SÚMULA 380 DO STJ. TESE REPELIDA. PARTE QUE TEM OS CONTRATOS
SOB REVISÃO, DEPOSITA PARTE DO VALOR DISCUTIDO E, AINDA ASSIM,
TEM A EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL DE BEM DADO EM GARANTIA.
CAUTELAR, ADEMAIS, COM CAUÇÃO DE EXPRESSIVA E
INCONTROVERSA QUANTIA NA TENTATIVA DE DEFENDER A
PROPRIEDADE. RECURSO IMPROVIDO”9.

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO


BANCÁRIO. INTERLOCUTÓRIA QUE DEFERE O PEDIDO DE TUTELA
ANTECIPADA PARA SUSPENDER O LEILÃO DO IMÓVEL ALIENADO
FIDUCIARIAMENTE EM CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. INSURGÊNCIA
DO RÉU. SUSTENTADA VIOLAÇÃO À SÚMULA 380 DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. RAZÕES DISSOCIADAS DO CONTEÚDO DA
DECISÃO ATACADA. ESMIUÇAMENTO VEDADO ACERCA DO TEMA.
VENTILADA IMPOSSIBILIDADE DE O PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL
DOS CONTRATOS AFASTAR O DEVER DE A DEVEDORA ADIMPLIR COM
AS OBRIGAÇÕES ASSUMIDAS CONTRATUALMENTE. AUSÊNCIA DE
INTERESSE RECURSAL. MEDIDA DE URGÊNCIA CONDICIONADA AO
PAGAMENTO MENSAL DAS PARCELAS CONTRATADAS CONFORME O
VALOR PREVISTO NO AJUSTE. OBRIGAÇÃO CONTRATUAL NÃO
AFASTADA NA INTERLOCUTÓRIA. ENFOQUE OBSTADO NESSA SEARA.
SUSTENTADA CORREÇÃO DO PROCEDIMENTO DE ALIENAÇÃO
FIDUCIÁRIA. TESE INSUBSISTENTE. DEVEDORA QUE SUSTENTA QUE
NÃO FOI INTIMADA PARA PURGAR A MORA ANTES DA REALIZAÇÃO DO
LEILÃO DO IMÓVEL. INOBSERVÂNCIA DE CLÁSULA CONTRATUAL
EXPRESSA. VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES NÃO REFUTADA PELO
BANCO. SUSPENSÃO DA VENDA EXTRAJUDICIAL DO BEM QUE NÃO
ACARRETARÁ PREJUÍZOS AO BANCO. MANUTENÇÃO DA MEDIDA DE
URGÊNCIA. AVENTADA NECESSIDADE DE DEPÓSITO DO VALOR
INCONTROVERSO PARA A CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPADA E
SUSCITADA IMPOSSIBILIDADE DE A CONSIGNAÇÃO PARCIAL ELIDIR A
MORA. TESES INÓCUAS. TOGADO QUE CONDICIONOU A LIMINAR AO
PAGAMENTO DAS PRESTAÇÕES MENSAIS DO MONTANTE TOTAL
ACORDADO ENTRE AS PARTES. DECISUM INALTERADO. REBELDIA
PARCIALMENTE CONHECIDA E IMPROVIDA”.10

Do inteiro teor do Acórdão, retira-se importante trecho que


manteve a anulação da arrematação extrajudicial em razão do procedimento da lei:

9
TJSC, Agravo de Instrumento n. 2014.059817-5, de Rio do Sul, rel. Des. Lédio Rosa de Andrade, j. 19-05-
2015
10 TJSC, Agravo de Instrumento n. 2015.020678-7, de Joinville, rel. Des. José Carlos Carstens Köhler, j. 28-

07-2015
13
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“Desta forma, ao menos em cognição sumária, não há como ser acolhida
a alegação de que o procedimento de alienação fiduciária foi realizado
corretamente, sobretudo quando se tem em vista que o próprio contrato
firmado entre os Litigantes tem cláusula prevendo a necessidade de
intimação da Devedora para purgar a mora antes da consolidação da
propriedade em nome da Casa Bancária (fl. 55, cláusula12ª). Ademais, a
suspensão do leilão não acarretará dano ao Banco, pois não é
provável que o uso de uma casa residencial se deteriore tão
facilmente pelo uso dos respectivos residentes. Embora o Recorrente
verbere que o valor decorrente do leilão será revertido em crédito
disponibilizado à sociedade, não se pode permitir que a Agravada seja
prejudicada pela não oportunização da quitação do débito, de forma que
a prudência aponta para a necessidade manutenção da medida de
urgência que promoveu a suspensão da venda do imóvel". (fl.05)
(grifos apostos)

Como a propriedade do bem imóvel encontra-se


consolidada em favor da ré, a parte Autora almeja reabrir o contrato firmado entre
as partes em audiência de conciliação ou através de sentença que anule a
consolidação da propriedade levada a efeito.

Tal possibilidade encontra-se totalmente plausível dentro


do cenário do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, conforme decisão abaixo:

“Este agravo de instrumento ataca decisão que indeferiu tutela


provisória (evento 3 do processo originário), proferida pelo juiz federal
José Jácomo Gimenes, que está assim fundamentada. [...] Entendo que
deva ser deferida em parte a tutela de urgência requerida neste caso
concreto, pelos seguintes fundamentos: (a) as duas turmas desta Corte
que julgam conflitos habitacionais entendem que é possível a purgação
da mora após a consolidação da propriedade, enquanto não for assinado
o auto de arrematação, desde que haja o pagamento integral do débito.
[...] Assim, parece prudente determinar a suspensão dos atos que
importem alienação ou transferência do imóvel cuja propriedade
se consolidou em nome da CEF, pelo menos até que sejam
oportunizadas a negociação entre as partes e a purgação da mora.
Quanto à averbação da existência da ação na matrícula do imóvel, em
princípio essa providência pode ser adotada pela própria parte
interessada, independentemente de autorização ou ordem judicial, não
havendo, por ora, demonstração de que a agravante encontrou algum
obstáculo junto ao Cartório de Registro de Imóveis. Assim, não vislumbro
interesse recursal, nem urgência na concessão do provimento. Ante o
exposto, defiro em parte a antecipação da tutela recursal para: (a)
autorizar a purgação da mora se ainda não foi assinado o auto de
arrematação; (b) determinar a suspensão de atos que impliquem a
transferência da propriedade do imóvel objeto do feito originário a
terceiros, pelo menos até que seja realizada a audiência de conciliação e
que o juízo de origem possa reexaminar a questão.”.11
(grifos apostos)

11
TRF-4 – AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º 5021372-72.2017.4.04.0000/PR - Relator CÂNDIDO ALFREDO S.
LEAL JUNIOR. Publicado em 28/06/2017.
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Diante do exposto, é isso o que se pretende, ao se tomar
conhecimento do valor das parcelas em atraso, bem como dos valores despendidos
para a consolidação da propriedade, realizar o pagamento do débito antes da
assinatura do auto de arrematação, de modo que o bem imóvel continue sob a posse e a
propriedade da parte Autora, bem como seja determinado à ré para que não
disponibilize o bem imóvel sob qualquer modalidade de venda.
Portanto, necessária se faz intimação da ré a fim de que
abstenha de promover atos expropriatórios em relação ao imóvel situado à Rua
Evandro Machado, nº 1.335, Bairro Boa Esperança – Patrocínio/MG, CEP 38.740-
000, tendo em vista a possibilidade de purgação da mora através da consignação de
valores na presente demanda, antes da assinatura do Auto de Arrematação, bem como
pela alegada ausência de notificação acerca do procedimento de consolidação da
propriedade.

III - DA JUSTIÇA GRATUITA

A jurisprudência dominante tanto do Supremo Tribunal


Federal como do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de que, para o
deferimento da assistência judiciária, basta a afirmação da parte na petição inicial de
sua impossibilidade no pagamento das despesas processuais sem prejuízo do sustento
próprio ou de sua família.

A propósito:

“JUSTIÇA GRATUITA – NECESSIDADE DE SIMPLES AFIRMAÇÃO DE


POBREZA DA PARTE PARA A OBTENÇÃO DO BENEFÍCIO –
INEXISTÊNCIA DE INCOMPATIBILIDADE ENTRE O ART. 4º DA LEI Nº.
1.060/50 E O ART. 5º, LXXIV, DA CF – O art. 4º da Lei nº. 1.060/50 não
colide com o art. 5º, LXXIV, da CF, bastando à parte, para que obtenha o
benefício da assistência judiciária, a simples afirmação da sua pobreza,
até prova em contrário”. (STF – RE 207.382-2 – 1ª T. – Rel. Min. Ilmar
Galvão – J. 22.04.1997)

No mesmo sentido, vejamos o entendimento consolidado


pelo E. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INVENTÁRIO. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA


GRATUITA. DECLARAÇÃO SOBRE A NECESSIDADE DE CONCESSÃO.
EXTINÇÃO DO PROCESSO. INEXISTÊNCIA DE BENS. AÇÃO DE
RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL CUMULADA COM PARTILHA.
MERA EXPECTATIVA DE DIREITO. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR.
1. Para o deferimento do benefício da Justiça Gratuita basta mera
declaração da parte, informando ao Juízo de que não possui condições de
arcar com o pagamento das custas processuais sem comprometer a
subsistência da família.
2. Recurso conhecido e parcialmente provido”.
(TJPR, 11ª Câmara Cível, Apelação Cível nº 964.574-7, Rel. Des. Ruy
Muggiati, julgado em 12/12/2012)
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Assim, verifica-se que a parte Autora não possui condições
de arcar com as custas e despesas processuais da presente ação sem prejuízo do
próprio sustento e de sua família, fazendo jus a concessão dos benefícios da Lei nº.
1.060/50.
IV - DA TUTELA PROVISÓRIA

Como sabido, com o advento do Novo Código de Processo


Civil, extinguiu-se o modelo cautelar para dar ênfase à tutela de urgência, tendo como
escopo a busca da garantia da plena efetividade da prestação jurisdicional, trazendo
em seu arranjo a possibilidade de o provimento de mérito pretendido ser concedido de
modo liminar, ainda sem a oitiva da ré.

Como prelecionam Fredie Didier Jr, Rafael Alexandria de


Oliveira e Paula Sarno Braga12, a tutela provisória satisfativa antecipa os efeitos da
tutela definitiva, conferindo eficácia imediata ao direito firmado. Adianta-se, assim, a
pretensão do direito, com a atribuição do bem da vida.

A inovação do CPC prevê duas formas de requerimento da


Tutela Provisória: incidental ou antecedente. Naquela, a parte pleiteia a antecipação
dos efeitos da tutela definitiva no bojo da inicial, juntamente com o pedido definitivo,
ou em momento posterior, embora dentro do processo já em trâmite. A segunda
caracteriza-se por dar a possibilidade à parte de formular apenas o pedido de tutela
provisória, malgrado seja possível vislumbrar o pedido definitivo.

No caso em tela, em que se pretende o deferimento da


Tutela Antecipada Antecedente, encontram-se presentes os requisitos legais para o seu
deferimento. Senão vejamos:

IV.a – DA PROBABILIDADE DE DIREITO

A probabilidade do direito da parte Autora decorre do fato


da instituição financeira ter consolidado a posse do imóvel sem realizar a
imprescindível intimação do devedor, conforme aduzido pela parte
Autora, impossibilitando assim a purgação da mora, sendo essa a probabilidade lógica
que autoriza o emprego da técnica antecipatória13.

Importante destacar que, embora os atos do Oficial do


competente Registro de Imóveis possuam fé-pública, tal presunção é relativa,
admitindo prova em contrário.

Neste sentido, uníssono o entendimento jurisprudencial


pátrio, nos termos dos arestos a seguir transcritos:

12 Curso de Direito Processual Civil, Volume 2, 10ª edição, Salvador: Juspodivm, p. 569.
13
Novo Código de Processo Civil Comentado, 2ª edição, 382.
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CONTRATOS BANCÁRIOS. PROCESSO CIVIL. NULIDADE DA
CONSOLIDAÇÃO DE PROPRIEDADE. LEI 9.514/97. IRREGULARIDADE
NA NOTIFICAÇÃO DE CO-DEVEDOR. 1. Do exposto na Lei 9.514/1997,
observa-se que é requisito indispensável para a consolidação da
propriedade em favor do credor fiduciário, a notificação
extrajudicial de todos os devedores. 2. O documento público faz prova
dos fatos que o funcionário declara que ocorreram na sua presença (art.
364 do CPC), no entanto, a presunção é relativa. 3. Caso em que a
requerente, dentro da disponibilidade que tinha, demonstrou
documentalmente que estava em local diverso da sua residência no dia
em que o oficial afirmou tê-la notificado, de modo que
resta desconstituída a presunção relativa de veracidade do
documento público. 4. Reconhecida a nulidade da consolidação da
propriedade.
(TRF4, AC 5020009-59.2014.404.7112, QUARTA TURMA, Relator LUÍS
ALBERTO D'AZEVEDO AURVALLE, juntado aos autos em 25/08/2016)
(grifos apostos)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSO CIVIL. CITAÇÃO. NULIDADE.


CERTIDÃO DO OFICIAL DE JUSTIÇA. FÉ PÚBLICA. PRESUNÇÃO
RELATIVA. NULIDADE DA CITAÇÃO. 1.Diante da impugnação
apresentada pela devedora que negou ter recebido citação, apresentou
motivo e início de prova material razoável, caberia ao juiz da causa
promover os devidos esclarecimentos, oportunizando ao Oficial de
Justiça a confirmação ou o equívoco na lavratura da certidão. 2. A
certidão do oficial de justiça goza de presunção relativa. 3. Diante
da desconsideração da prova razoável que foi produzida, impõe-se
a nulidade da citação.
(TRF4, AG 5021980-75.2014.404.0000, QUARTA TURMA, Relator
CANDIDO ALFREDO SILVA LEAL JUNIOR, juntado aos autos em
23/10/2014)
(grifos apostos)

NULIDADE DE CITAÇÃO. CERTIDÃO DO OFICIAL DE JUSTIÇA. FÉ


PÚBLICA. PRESUNÇÃO DE VERACIDADE. Tendo em vista que a fé pública
norteia os atos praticados pelos Serventuários dos Órgãos Públicos, não
há como ser acolhido o pedido de nulidade de citação arguida pela parte
sem que tenha sido juntada aos autos prova robusta capaz de elidir
Certidão emitida por Oficial de Justiça no sentido de que os
Executados não puderam ser localizados no endereço constante dos
autos.
(TRT-5, AG 0000012-56.2011.5.05.0101AP, SEGUNDA TURMA,
Relatora DÉBORA MACHADO, publicado em 09/12/2014).
(grifos apostos)

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE.


ARRENDAMENTO MERCANTIL. COMPROVAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO EM
MORA. INSTRUMENTO DE PROTESTO EXPEDIDO POR CARTÓRIO
EXTRAJUDICIAL. ENVIO. ENDEREÇO CONSTANTE DO CONTRATO.
PRESUNÇÃO JURIS TANTUM. FÉ PÚBLICA. SENTENÇA CASSADA.
1 - Conforme inteligência do artigo 2º, § 2º, do Decreto-Lei nº 911/69, a
constituição em mora do devedor deve ser comprovada por meio de
carta registrada, expedida por intermédio do Cartório de Títulos e
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Documentos, ou pelo protesto do título, a critério do credor.
2 - As certidões exaradas por Oficiais de Cartórios de Títulos e
Documentos gozam de fé pública, cuja presunção juris tantum
prevalece até prova em contrário.
3 - Cassa-se a sentença em que se indeferiu a inicial de ação de
reintegração de posse de veículo, se a notificação do protesto, expedida
por intermédio do cartório extrajudicial foi enviada ao endereço do
devedor constante do contrato de arrendamento mercantil, e exarada
certidão de sua entrega no respectivo endereço. Apelação Cível provida.
(Acórdão n. 689560, 20121010082863APC, Relator: ANGELO
CANDUCCI PASSARELI 5ª Turma Cível, Data de Julgamento:
03/07/2013, Publicado no DJE: 08/07/2013. Pág.: 261)
(grifos apostos)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. SERVIDOR PÚBLICO. CERTIDÃO DE


INTIMAÇÃO. FÉ PÚBLICA. PRESUNÇÃO JURIS TANTUM.
CONCORDÂNCIA COM A DECISÃO AGRAVADA. PRECLUSÃO LÓGICA. 1
- A certidão de intimação juntada aos autos em observância ao artigo
525, inciso I, do Código de Processo Civil, atesta a concordância do
Estado quanto à decisão atacada. 2 - Embora os atos dos
serventuários da justiça gozem de fé pública, possuem presunção
juris tantum de veracidade, isto é, presunção relativa de
veracidade, passível de afastamento mediante prova inequívoca e
robusta em contrário, o que não ocorreu no caso em tela, não tendo
o Estado feito qualquer menção ao conteúdo da certidão
apresentada. 3 - Tendo o ente público manifestado sua concordância
com a decisão ora agravada quando de sua intimação, seu ato é
incompatível com a insurgência ora apresentada, em virtude da
ocorrência da preclusão lógica. 4 – Decisão mantida. NEGADO
SEGUIMENTO AO RECURSO.
(TJ-RS - AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º 70060698461 (N° CNJ:
0262409-33.2014.8.21.7000), QUARTA CÂMARA CÍVEL. Relator
FRANCESCO CONTI. Data de Julgamento: 17/07/2014. Publicado em
24/07/2014).
(grifos apostos)

Assim, não restam dúvidas quanto à probabilidade do


direito da parte autora, visto que, embora certificado pelo Oficial do Registro de
Imóveis o decurso do prazo sem a purgação da mora, a parte autora afirma
que não recebeu a imprescindível notificação, tanto pela
Caixa, quanto pelo cartório do registro de imóveis, acerca do
procedimento de consolidação de propriedade, fato que será
cabalmente comprovado em momento oportuno na presente demanda.

IV.b – DO PERIGO DE DANO OU O RISCO AO RESULTADO


ÚTIL

O perigo de dano ou o risco ao resultado útil está presente


no prejuízo da parte Autora, enquanto hipossuficiente, e dos graves danos que lhe
serão impostos com a alienação do imóvel a terceiros, de toda ordem.
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In casu, deve-se entender como o risco na demora da
prestação jurisdicional, sendo incabível conceber que a parte sofra com os efeitos
prejudiciais do tempo no processo.

Nota-se que a alienação do imóvel da parte Autora para


terceiros causa inenarráveis prejuízos, visto que será retirado do seu lar juntamente
com a sua família, ficando completamente desamparado e tolhido do seu direito
constitucional à moradia.

Sendo assim, requer seja deferido o pedido da tutela


provisória antecipada, a fim de que a ré seja proibida de promover os atos
expropriatórios em relação ao imóvel situado à Rua Evandro
Machado, nº 1.335, Bairro Boa Esperança – Patrocínio/MG, CEP
38.740-000, assim como que seja a parte Autora mantida na posse do
imóvel em comento até ulterior decisão proferida na presente
demanda, sob pena de multa diária não inferior a R$ 1.000,00 (um mil reais) em caso
de descumprimento da ordem judicial.

Caso não seja este o entendimento deste D. Juízo – fato


admitido apenas para fins de argumentação –, requer-se que seja determinada
a suspensão de todos os atos expropriatórios do imóvel supracitado,
até a realização da audiência de conciliação prevista no art. 334, do
CPC, oportunidade em que a parte Autora buscará transacionar com a requerida e
retomar o pagamento das prestações do contrato firmado entre as partes, evitando a
perda do único bem imóvel que possui, evitando possíveis ações expropriatórias
futuras por parte da instituição financeira.

V - DA INFORMAÇÃO A RESPEITO DA PRESENTE


DEMANDA A EVENTUAIS INTERESSADOS

Por fim, incumbe destacar que a permanência das


informações do imóvel em comento em sites de leilões extrajudiciais tendem a causar
inequívocos prejuízos a eventuais terceiros arrematantes, razão pela qual deve ser
dada a devida publicidade à presente demanda, a fim de evitar prejuízos a
eventuais terceiros arrematantes.

Neste sentido, vejamos a seguinte decisão proferida pelo D.


Juízo da 9ª Vara Cível da Comarca de Curitiba/PR:

“Autos nº 2731-23/2015
(...)
Fica reconhecida, no entanto, o direito do devedor purgar o débito,
até a assinatura do auto de arrematação, ante o que dispõe o art.
34 do Decreto-Lei nº 70/66: “É lícito ao devedor, a qualquer
momento, até a assinatura do auto de arrematação, purgar o
débito (...)”.

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No mais, por cautela, a fim de evitar prejuízos a direito de
eventuais terceiros arrematantes, determino que deverá
constar do Leilão a informação a respeito da existência e
pendência da presente ação, o que deverá ser prévia e
expressamente informado pelo Sr. Leiloeiro a eventuais
interessados. Intime-se, com a brevidade necessária,
independentemente do recolhimento de custas.
(...)
Curitiba, 09 de fevereiro de 2015.
VANESSA JAMUS MARCHI
Juíza de Direito”
(grifos apostos)

Assim, deverá ser enviado ofício ao Leiloeiro a fim de


que efetue a inclusão da informação da existência da presente demanda em
todos os sítios eletrônicos que divulguem a venda do imóvel em comento através
de leilões extrajudiciais a terceiros.

Ainda, deverá ser enviado ofício ao Cartório de Registro


de Imóveis de Patrocínio/MG, a fim de averbar o registro da existência da
presente demanda na matrícula do imóvel (Matrícula nº 47.498), evitando
prejuízos a eventuais terceiros arrematantes.

VI– DA EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS

Incumbe destacar que a ré jamais forneceu à parte Autora o


“CONTRATO POR INSTRUMENTO PARTICULAR DE MÚTUO COM OBRIGAÇÕES E
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA”, bem como se negou verbalmente a fornecer tal
instrumento, quando esta o solicitou em recente data.

Ainda, negou-se a ré a fornecer à parte autora a cópia do


procedimento de consolidação de propriedade do imóvel em comento, o que é
inadmissível e demonstra a má-fé da parte ré.

Diante de tais fatos, vejamos que o art. 396 e seguintes do


Código de Processo Civil estabelece:

Art. 396. O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou


coisa que se encontre em seu poder.
Art. 397. O pedido formulado pela parte conterá:
I - a individuação, tão completa quanto possível, do documento ou
da coisa;
II - a finalidade da prova, indicando os fatos que se relacionam
com o documento ou com a coisa;
III - as circunstâncias em que se funda o requerente para afirmar
que o documento ou a coisa existe e se acha em poder da parte
contrária.

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Evidente que os supra relacionados documentos se acham
em poder da ré, visto que foi a própria ré que elaborou o contrato, assim como foi a
própria ré que requereu ao competente Registro de Imóveis a abertura do
procedimento de consolidação de propriedade do imóvel em comento.

Tais documentos demonstrarão de maneira insofismável a


irregularidade dos atos adotados pela instituição financeira, os quais inevitavelmente
culminarão na anulação dos atos expropriatórios, bem como da consolidação da
propriedade levada a efeito pela ré.

Assim, requer-se que seja determinado que a ré exiba o


contrato firmado com a parte Autora, bem como deverá ser determinado que a ré
apresente o procedimento de consolidação de propriedade realizado pelo competente
Registro de Imóveis e a planilha contendo a discriminação dos valores cobrados
contendo relatório detalhado acerca dos encargos, juros, penalidades, tributos entre
outros, sob pena de serem adotadas medidas coercitivas para que os citados
documentos sejam exibidos.

VII – DOS PEDIDOS

Ex positis, requer-se a Vossa Excelência:

1) que seja concedida inaudita altera pars a tutela antecipada de urgência, a


fim de:

1.a) que seja a ré proibida de promover os atos


expropriatórios em relação ao imóvel situado à
Rua Evandro Machado, nº 1.335, Bairro Boa
Esperança – Patrocínio/MG, CEP 38.740-000,
descrito na matrícula nº 47.498 do Cartório de
Registro de Imóveis de Patrocínio/MG, assim
como que seja a parte Autora mantida na posse do
imóvel em comento até ulterior decisão proferida na
presente demanda, sob pena de multa diária não inferior
a R$ 1.000,00 (um mil reais) em caso de descumprimento
da ordem judicial;

1.b) Sucessivamente ao item “1.a” supra, que seja


determinada a suspensão de todos os atos
expropriatórios do imóvel supracitado, até a realização
da audiência de conciliação prevista no art. 334, do
CPC, oportunidade em que a parte Autora buscará
transacionar com a requerida e retomar o pagamento das
prestações do contrato firmado entre as partes, evitando a
perda do único bem imóvel que possui, evitando possíveis
ações expropriatórias futuras por parte da instituição
financeira;
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1.c) determinar que seja enviado ofício ao Leiloeiro a fim
de que efetue a inclusão da informação da existência
da presente demanda em todos os sítios eletrônicos
que divulguem a venda do imóvel em comento através
de leilões extrajudiciais a terceiros;
1.d) determinar que seja enviado ofício ao Cartório de
Registro de Imóveis de Patrocínio/MG, a fim de
averbar o registro da existência da presente demanda
na matrícula do imóvel (Matrícula nº 47.498), evitando
prejuízos a eventuais terceiros arrematantes.

2) que seja a ré citada e intimada para a audiência de conciliação ou de


mediação prevista no art. 334, do NCPC

3) no mérito, que sejam confirmadas as liminares concedidas, sendo a


presente demanda julgada totalmente procedente, a fim de que seja
declarada a anulação dos atos expropriatórios, bem como da
consolidação da propriedade levada a efeito pela ré, tendo em vista a
afronta direta aos direitos e preceitos fundamentais, normas constitucionais
e infraconstitucionais, devido às irregularidades supra apontadas e,
consequentemente, cancelando todos os seus atos e efeitos, restabelecendo
a reabertura do contrato firmado entre as partes;

4) seja determinado que a ré apresente o contrato firmado entre as partes,


bem como exiba o procedimento de consolidação de propriedade realizado
pelo competente Registro de Imóveis; e a planilha contendo a discriminação
dos valores cobrados contendo relatório detalhado acerca dos encargos,
juros, penalidades, tributos entre outros; sob pena de serem adotadas
medidas coercitivas para que os citados documentos seja exibidos.

5) seja reconhecida a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumir à


relação havida entre as partes, sendo determinada a inversão do ônus da
prova, nos termos do artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do
Consumidor.

6) sejam deferidos os benefícios da Justiça Gratuita à parte Autora, com


fulcro no art. 5° Inciso LXXIV DA CFRB/88, e nos termos da Lei 1060/50 em
seus arts. 2° §2°, 3° e 5° § 4°, bem como no art. e leis 7.115/83 e 7.510/86.

7) sejam admitidos todos os meios de prova admitidos em direito,


especialmente pelo depoimento pessoal do representante da ré, sob pena de
confissão, oitiva de testemunhas, juntada de novos documentos, prova
pericial e outras provas que se fizerem necessárias para o deslinde da
demanda.

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8) seja a ré condenada ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios a serem prudentemente arbitrados por V. Ex.ª, em valor que
não represente aviltamento.

Atribui-se à presente demanda, para fins de alçada, o valor


de R$ 129.243,04 (cento e vinte e nove mil duzentos e quarenta e três reais e quatro
centavos).

Nestes termos,
Pede Deferimento.

Curitiba, 15 de março de 2018

Fernando Fernandes Berrisch Regiane Fernandes Berrisch


OAB/PR nº 45.368 OAB/PR nº 47.998

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