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2 As origens do conceito de sustentabilidade ‘A grande maioria estima que 0 conceito de “sustentabilidade” possui origem recente, a partir das reuniées organizadas pela ONU hos anos 70 do século XX, quando surgiu fortemente a consciéncia dos limites do crescimento que punha em crise o modelo vigente praticado, em quase todas as sociedades mundiais, ‘Mas 0 conceito possui ja uma histéria de mais de 400 anos que poucos conhecem. Convém recapitular breyemente esse percurso. Entretanto importa antes ¢sclarecer 0 contetido do conceito sus- tentabilidade. Encontramo-lo jd numa rpida consulta aos diciond- tios, no caso, ao Nove Diciondrio Aurélio ao cléssico Diciondrio de Verbose Begimesile Branciseo Fernandez de 1942.1 (2. Na raiz de “sus. tentabilidade” e de “sustentar” estd a palavra latina sustentare com 0 ‘mesmo sentido que possui cm portugués. Ambos os diciondrios referidos nos oferecem dois sentidos: um assivo ¢ outro ativo. O passivo diz. que “sustentar” significa segurar por baixo, suportar, servir de escora, impedir que caia, impedir a ruina ea queda, Neste sentido “sustentabilidade” é, em termos ecolégi- cos, tudo 0 que fizermos para que um ecossistema nig. atruine, Para impedi-lo podemos, por exemplo, criar expedientes de sustentabilidade como plantar érvores na encosta da montanha, que servem de escora contra a erosio os deslizamentos. 31 | | ae O sentido, pee cenfatiza 0 conseruar, manter, proteger, nutrir, alimentar, fuser prosperar, subsistir, viver, conservar-se sempre & mes servar-se sempre bem, No dialeto ecolégico isto signi- (te : : jlidade representa os proced ‘que ge tomam es a ponto de sempre se conservar bem e estar sem- rscos que possam advir. Esta diligéncia implica que |condigoes no apenas de conservar-se assim como é, lue possa prosperar, fortalecer-se ¢ coevoluis. itlos sio visados quando falamos hoje em dia de sus- ja do universo, da Terra, dos ecossistemas e tam- comunidades ¢ sociedades: que continuem vivas ¢ em. Somente se conservam bem caso mantiverem interno e se conseguirem se autorreproduzir, Entio Ingo do tempo. histéria do conceito de “sustentabilidade” Ipartir do qual nasceu e se elaborou o conceito de silvicultura, 0 manejo das flarestas. Em todo and o alvorecer da Idade Moderna a madeira cra a srincipal na construgao de casas e méveis, em apare- jomo combustfvel para cozinhar e aquecer as casas. usada para fundir metais ¢ na construgio de bai 0s, que na dpofa das “descobertas/conquistas” do século XVI sin- gravam todab of oceanos. O uso foi tio intensivo, particularmente na Espanha § eth Portugal, as poténcias maritimas da época, que as Alorestas conte: lc” a escassear, Mas foi ha Alemanha, em 1560, na P: Saxénia, que irrompeu, péla primeira vez, a preacupagio pelo uso racional das florestas, de pa ue clas pudessem se regenerat e se manter per- [| 2 Ll | manenremente, Neste context surgi a pala ale Nahai F deisque uadurda Sioifica“susenal © Mas foi somente em 1713, de novo na Sax6nia, com o Capitao = Hans Carl von Carlowitz, que a palavra “sustentabilidade” se trans- | formou num conceito esteatégico. Haviam-se criado fornos de mi- 4] netacao que demandavam muito carvio vegetal, extrafdo da madei || ta, Florestas eram abatidas para atender esta nova frente do progres- © so, Foi entéo que Carlowitz escreveu um verdadeio tratado na lin- || gua clentifca da época,o latim, sobre a sustentabilidade (nachhal- | tig wirtchafien: organizar de forma sustencivel) das florestas com 0 i titulo Silvicultera Occonomica, Propunha enfaticamente 0 uso sus- la madeira, Scu lema era: “devemos tratar a madeira com dado” (rman muss mit dem Holz pfleglich umgehen), caso contrd- fi tio, acabar-se-d o negdcio ¢ cessard o Iucto, Mais diretamente: “cor- i te somente aquele tanto de lenha que floresta pode suportar e que E petmite a continuidade de seu erescimento”. A partir desta cons- | ciéncia os poderes locais comegaram a incentivar o replantio das &r- ‘vores nas regiGes desflorestadas. As ponderacées de ontem conser ‘vam validade até 0s dias de hoje, pois o discurso ecolégico atual usa praticamente os mesmos termos de entao, ‘guns anos aps, em 1795, Carl Geong Ludwig Hartg excre- veu outro livro: Indicagdes para a avali rests Cnweisung aur Taxation und Beschreibung der Forste), afirmando: €uma sdbia medida avaliar de forma a mais exata possivel o desflo- festamento e usar as florestas de tal maneira que as futusas.geragdes fenham as mesimas vantagens que a.atual” (veja na intemet DAN- ZER GROUP ou GROBER, U. “Modewort mit tiefen Wurzeln; ileine Begriffigeschichte von sustainbiliry und Nachhaltigkeit”, Jahrbouch Okologie, 2003, p. 167-175). (a prcoupast com asustentabilidade (Nachhalsigheit) das flo- Fesfas foi tio forte que se criou uma ciéncia nova: a silvicultura ) (Forstwissenschafi). Na Saxénia e na Prissia fundaram-se academias 33 de silvicultura, para onde acorriam see toda a Europa, da Escandindvia, dos Estados Unidos e até da {ndia. Esse conceito se manteve vivo nos eftculos ligados & silvicultura ¢ fez-se ouvir em 1970, quando se criou o Clube de Roma, cujo primeiro relatério foi sobre Os limites do erescimento que deslanchou acaloradas dis- ceuss6es nos meios cientificos, nas empresas e na sociedade. 2 Ahistéria recente do conceito de “sustentabilidade” O alarme ecolégico provocado por este relatério levoua ONU. a ocupar-se do tema. Assim realizou entre 5-16 de junho de 1 em Estocolmo a “Primeira Conferéncia Mundial sobre o Homem é ‘0 Meio Ambiente”. Os resultados nao foram significativos, mas seu melhor fruto foi.a decis4o de criar i para o Meio Ambiente (Pnuma). A outza conferéncia, muito importante, realizou-se em 1984, dando origem a Comisso Mundial sobre Meio Ambiente eDesen- volvimento, cujo lema era “Uma agenda global para a mudanca’. Os trabalhos desta comissao, composta por dezenas de especialis- tas, encetraram-se em 1987, com o relatério da Primeita-ministra norueguesa Gro Harlem Brundland com o sugestivo tfeulo “Nosso futuro comum’” (chamado também simplesmente de Relatério Brundland). ‘At aparece claramente a expresso “desenvolvimento sustenté- vel”, definido como “aquele que atende as necesidades das geraghes atuais sem comprometer a capacidade das geragies fusuras de atende- rem a suas necesidadese aipinagies” Esta definigio se tornoucléssica € se impés em quase toda a literatura a respeito do tema, Em consequéncia deste relatério, a Assembleia das Nagbes Uni- das decidiu dar continuidade A discuss, convocando a Conferén- cia das Nagées Unidas sobre Meio Ambiente ¢ Desenvolvimento 34 ~ lo Rio de Janeiro de 3-14 de julho de 1992, conhecida também = gomo a Ciipula da Terra, Produziram-se vitios documentos, sendo “qile 2 Agenda 21: Programa de Agao Global, com 40 capftulos, ¢ a “Gane do Rio de Janciro sio os principais. A categoria “desenvolvi- “vento sustentével” adquiriu entzo plena cidadania e constituiu 0 xo de todas as discuss6es, ¢ aparece quase sempre nos principais documentos. © Na Carta do Rio de Jango se firma clatamente que “todos os Tstados ¢ todos os individuos devem como requisito indispensével fino deemulvmena surety cooper naarecendal dec fdicara pobreza, de forma a reduzr a disparidades nos padroes de ‘ida e melhor atender as necessidades da maioria da populagéo do faundo”. Estabeleceram também. um critério ético-politico no sentido de que ‘os Estados devem cooperar, em um espltito de patceria global, para a conservacéo, protecdo e restauracao da saide e da in- tegtidade dos ecossistemas terrestres; face 3s distintas conteibuigbes paraa degradagio ambiental global, os Estados tem responsabilida- des comuns, porém diferenciadas’. sta declaragéo fez fortuna ¢ ocasionou que todas os palses se ‘comprometessem em qualificar seu desenvolvimento para que a sus- centabilidade fose fetivamente garantida. Tal empenho, na yerdade, ocotreu muito parcamente, 0 que foi constatado no Encontro Riot 5 se- alizado no Rio de Janeit Para os analistas ficava cada vez mais dato a contradigéo exis- tente entre a Idgica do desenvolvimento de tipo capitalista que sempre procura maximalizar os lucros as expensas da natureza, cri- ands grandes desigualdades sociais (injustigas) e entre a dindmica do mio ambiente que se rege pelo equilfbro, pela interdependén- cia de todos com todos e pela reciclagem de todos os resfduos (a na- tureza no conhece lixo). 35 Tal| ONU de volvimer tembro ‘Presenal sa eco Se deBeslis ses econ poténci Ssubsticuig impasse provocou uma nova convocagio por parte da ‘ujna Caipula da Terra sobre a Sustentabilidade e Desen- fo] realizada em Joancsburgo entre 26.de.agosta a4 de se- Je 2002, reunindo representantes de 150 pacées além da idak grandes corporagGes, de cientistas e militantes da cau- -92 do Rio de Janeiro reinava ainda um espitito de ict |favorecido pela queda do Império Soviético ¢ do Muro mi + ay cos cotporativos, especialmente por parte das grandes 1 boicotaram a discusstio das energias alternativas em do petrdleo, altamente poluidor, . sblirgo terminou numa grande frustragao, pois se perdeu. f Joanesburgo se notou uma disputa feroz por interes- loldelinclusdo e de cooperacio, predominando decisbes uni- .g6es rica, apoiadas pelas grandes corporagies ¢ 0 Jdiftores de petréleo. A questao da salvaguarda do planeta trvagdo de nossa cvilizacgo foi apenas referida marginal- loh-se de sustentabilidade, mas sem constituir a preocu- tral lo|positivo de todas estas conferéncias da ONU foi um ambient mero de jtojde consciéncia na humanidade concernente 3 questao, , Ho obstante persista ainda ceticismo em um bom nic as, de empresas ¢ até de cientistas. Entretanto, 03 ‘eventos eftrgmos se tém multiplicado tanto que os eéticos jd come- am a tor Aap da em toy dos proje parja sério a questio das mudancas climdticas da Terra, io “desenvolvimento sustentével” comegou a ser usae joslos documentos oficiais dos governos, da diplomacia, s Has empresas, no discurso ambientalista convencional s de comunicacao: € nos melt ° “be hvolvimento sustentével” proposto ou como um ideal ser de produ cipgido ou entio como um quaificativo de um processo 10 pu de um produto, feico pretensamente dentro de cti- 36 | térios de sustentabilidade, o que, na maioria dos casos, nao corres- ponde a verdade. Geralmente, entende-se a sustentabilidade de uma empresa se ela consegue se manter e ainda crescer, sem analisar 1 custos sociais c ambientais que ela causa. Hoje 0 conceito é tao uusado ¢ abusado que se transformou num modismo, sem que seu contetido seja esclarecide ou criticamente definido. Nos inicios de junho de 2012 ocorrers no Rio de Janeiro uma ‘megaconferéncia, outta Ciipula da Terra, promovida pela ONU, intitulada Rio+20, que se prope fazer um balango dos avangos ¢ dos retrocessos do bindmio “desenvolvimento e sustentabilidade” no quadro das mudangas trazidas pelo aquecimento global, pela lara diminuicéo dos bens e servigos da Terra, agravada pela cise econdmico-financeira iniciada em 2007 que atingiu o sistema glo- bal a partir dos pafses centrais da ordem capitalista e aprofundan- ¢do-se mais ¢ mais a partir de 2011. Os temas geradores da Rio+20 serio “sustentabilidade”, “economia verde” e “governanga global do ambiente”. a7 Modelos atuais de sustentabilidade e sua critica © A pressio mundial sobre os governos e as empresas em raziio da Grescente degradagio da natureza e do clamor mundial acerca dos tiscos que pesam sobre a vida humana fizeram com que todos ence- tassem esforgos para conferr sustentabilidade ao desenvolvimento. ‘A primeira tarefa foi comecar a reduzir as emissGes de didxido de ‘atbono ¢ outros gascs de efeito es oganizar a produgao de Taino carbono, tomar a sério 0s Famosos tr@s erres (1) enunciados na ‘Carta da Terra: reduzi, reuilizare recielar os matetiais usados; 20s ‘poucos foram acrescentados outros ertes, como rediseribuir os be- ‘neflcios, rejeitar 0 consumismo, respeitar todos os seres€ reflrestar ‘o mais posstvel etc. ) _Muitas empresas até redes delas como o Instituto Ethos de Res- ‘ponsabilidade Social (no Brasil redne algumas centenas de empre- $as) se comprometeram com a responsabilidade social; a produgio no deve apenas beneficiar os acionistas, mas toda a sociedade, es- _pecialmente aqueles cstratos socialmente mais. penalizados. Mas info basta a responsabilidade social, pois a sociedade nao pode ser _pensada sem a sua interface com a natureza, da qual é um subsiste- ima e de cujos recursos as empresas vivem. Dal se introduziu a respon- ‘bilidade socioambiental, com programas que tem pot objetivo di Thinuir a pressao que a atividade produtiva c industrialista faz so- 39, bre a navufech e sobre a Terra como um todo. As inovagées tecno- lgicas mas guaves e ecoamigéveis ajudarain neste propdsito, mas (sem, env = mudar 0 rumo do crescimento e do desenvolvi- ‘mento qud implica a dominagéo da natureza. a Nio épobsal uum impacto ambiental zr0, pois toda geraco % (deenergia cobra algum custo ambiental. De mais a mais, éirteali- 2a¥el, em texthos absolutos, dada a initude da realidade ¢ as efei- tos da enteppi, que significa o lento eirrefredvel desgaste de encr- 0. menos 0 esforgo deve orientar-se no sentido de pro- rea, de agit em sinergia com scus ritmos e nao apenas ¢ mal; importante € restaurar sua vitaidade, dar-lhe leyolver mais do que dela temos tirado para que as ge- s possam ver garantidas as reservas naturais e culturais iver, cae submeter a uma andlise critica os varios modelos atuais que buscamy a justentabilidade. Na maioria dos casos a sustentabili- dade apresehtlda é mais aparente que real. Mas, de todasas formas, hd uma busca por sustentabilidade pelo fato de que a maioria dos paises ¢ das|en)presas, por maiores que sejam, nao se sente segura face a0s rutho} que esté tomando a humanidade. Dio-se conta, ctescentemente, de que nao se paderd fazer economia de mudan- gas. Se quertmps ter Futuro, devemos aceitartransformag6es subs- tanciais. A grai)de questio & como implementé-las, dado 0 fato de envolerer grfade ntesse das oténcias centrais, das corpora- 6s multlaterkis e mundiais que travam a vontade de definir no- Yos rumos. era nat / nao fazer-| { descansoe rages fury} para o seu Vamos O cientist4 politico fianco-brasileiro Michael Lowy o disse acertadamey}te} “Todos os fardis estio no yermelho: é evidente ‘que a cortids Iquca atras do Iucro, a kégica produtivista e mercan- til da civiliedcap capitalista/industrial nos leva a um desastre eco- légico de prdpargées incalculdveis; a dindmica do crescimento in- \finito, induz}dq pela expansio capicalista, ameaca desttui 0s fun- 40 damentos naturais da vida humana no planeta (Ecologia e socialis- smd, 2005, p. 42). “h \Warias propostas vém sendo formuladas, a maioria tentando {alvar'o tipo imperante de desenvolvimento, mas imprimindo-Ihe tim éariz suscenravel, mesmo que aparente. “1 O modelo-padrao de desenvolvimento sustentavel: sustentabilidade retérica “© Ocidente gestou, a partir da revolugio cientifica do século XVI (Galileu Galilei, Descartes, Francis Bacon ¢ outros) ¢ aprofun- dida'com a primeira revolugio industrial (a partir de 1730 na In- slaterra), 0 grande ideal da Modemidade: o progresso ilimitado) Enstruido mediante um processo industrial, producor de bens de consumo em grande escala, a expenses da explorasio sistemética da} ‘Tetra, tida como um bati de recursos, sem espitito e entregue a _ptazer do ser humano. Gerou grande riqueza nos paises centrais jlonizadores, ¢ imensa desigualdade, pobreza e miséria nas peri- fetjas destes palses e principalmente nos paises colonizadas, Este ideal e este tipo de sociedade foram globalizados e praticamente to- das as sociedades do mundo atual se veem obrigadas a alinhat les... que equivale a ocidentalizar-se. O decisive ¢ consumir, ¢ Bata iso produzir de forma crescente, desconsiderando as externa- lidades (degradacao da natureza e geragao de desigualdades sociais us no sio computadas como custos). sea auc Hoje, jé distantes daqueles primérdios, nos apercebemos que {358 proceso capitalista/industral/mercantiltrouxe, indubitavel- Mente, grandes beneficios & humanidade, melhorou as condig6es a Vida ¢ da satide, colocou os seres humanos com suas culturas em. Contato uns com os outros, encurtou distancias, prolongou a vida, ‘nfim, trouxe um sem-niimero de comodidades que vio da geladei- 1220 automével ¢ ao avido, da luz elética& televisdo e & internet. Mor a 4 a ae ye a K ‘Acualmente, tudo leva a crer que ele esgotou suas virtualidades € passou a ser altamente dilacerador dos lagos sociais ¢ destrutivo das bases que sustentam a vida, Esta vontade de superexploracio da Terra nos fez sentir, nos dltimos anos, os limites da Terra, de seus recursos nio renoviveis ea percep do mundo finito. Conclusio: um planeta finito ngo suporta um projeto infinito, ‘As duas pressuposicées da Modernidade se mostraram ilusérias: a primeira de que os recursos natutais seriam infinitas, agora sabe- mos que nfo 0 sio; a segunda, de que poderlamos infizzitamente ru- mar na diregio do futuro, pois o progresso nao padece limites; eis outta ilusio: se universalizarmos o atual bem-estar dos palses in- dustrializados para todos os demais pafses, precisarlamos de varios planeras Terra{Os dois infinitos foram e sio, portanto, fldcias que moveram mentes € cora¢des por muitas geragdes e nos conduziram a atual crise ambiental) Mais e mais est surgindo o sentimento de urgéncia ée que de- ‘vemos mudar de rumo se quisermos ainda viver. Grandes nomes da ciéncia nos tém dado alertas draméticos sobre o que poderemos es- pperar caso nio fizermos uma travessia bem-sucedida para outro pa- iadigma de habitar o planeta. Cito apenas quatto, pois sso da mais alta qualificacio cientifica ¢ gozam de grande credibilidade: (O'primeiro, o astrénomo real do Reino Unido, Martin Rees: Hora final: o desastre ambiental ameaga o furure da huménidade, as palavras nao necessitam explicagdes. segundo, o mais famoso bidlogo vivo, criador da palavra bio- diversidade, Baward ©. Wilson: A eriagao - Como salvar a vida na Terra; parte do pressuposto de que pesa grave ameaga 3 vida huma- nna e A nossa civilizagio; segundo ele, somente uma alianca entre a religido a citncia nos poderd salvar. O tercito, conhecido geneticista francés Albert Jacquard, cujo livro diz cudo: A contagem regressiva comerou? (Le compte & rebours a dteommencé); um dos caplculos se intitula “A preparagio do sui- fe coletivo”. 52 O quatto, James Lovelock, bioquimico ¢ médico, autor da Teo- ‘de Gaia, a Terra como um superorganismo vivo: Gaia: alerta fi- 3, prev para o final do século o desaparecimento de grande parte “Ai bumanidade. _F [Fodos eles nos advertem que 0 piot que nos pode acontecer é “-Gomo jé dissemos, niio fazermos nadaEntio sim, nos colocarfamos “Wheira do abismo que poderia signifitar o fim da espécie humana. les se deram conta dos impasses que corre a humanidade, tio bem. ~ Gipressa no Preimbulo da Carta da Terra por nés jé referido ante- “jiormente. Pedem esuplicam uma mudanga de paradigma, uma de- inicio de outro rumo da histéria. _ Estas ameagas ¢ estes riscos, que no podem ser ignorados ou Jnbestimados, suscitaram a necessidade de se discutir a questo da Justentabilidade, Devemos produzir, sim, para atender as deman- ‘das humanas ¢ também da comunidade de vida. Mas sob que for- tha? Preocupados com a pergunta: quanto posso ganhar? Ou como osso, ao prodiuzr, estar em harmonia com a Terra, com as energias ierrestres € césmicas, com 0s outros, com o meu prdprio coracio € coi a Ultima Realidade? _. Enna resposta a esta pergunta que se decide se nosso modo de produgio, distribuigzo, consumo e o tratamento dos residuos € sus- tentavel ou nao. “. -Vejamos, rapidamente, 0 modelo-padrdo de desenvolvimentd\ sustentdvel como, normalmente, é pensado e buscado nas empresas e aparece nos discursos oficias. Para ser sustentével o desenvolvimento deve ser economicamente, vidoe, socialmente justo ¢ ambientalmente correto E 0 famoso tripé chamado de Triple Botton Line (a linha das 1u@s pilastras) que deve garantir a sustentabilidade. O conceito foi 4B | ctiado em'194 SustainAbii mentos ¢o) usou também! dluco (end, eloae(0 racional, ch dos enuncipdes. Iinguagem po} émedido pelo cimento ecpni tecnoldgica, pk de civil (consumidores da sociedade em geral). a acumulacio crescente de bens e servigos, pelo au- ja das empresas ¢ das pessoas. Ai da empresa e do pais que no ostentem taxas positivas de crescimenco anual! Entram em crise, em r o em estagnagio, ou até vao a faléncia, suscitando idesestabilizagao social por causa dos altos indices de trata-se aqui de uma quansidade que deve sempre /olvimento, na pritica, é sindnimo de crescimento os iludamos: no mundo empresasial e dos negécios, thar dinheiro, com 0 menos investimento possivel, rentabilidade possivel, com a concorréncia mais re] ¢ no menor tempo possivel. lamos aqui de desenvolvimento nao ¢ qualquer um, ce existente, que é aquele industrialista/capitalis- [Este ¢ antropocéntrico, contraditério ¢ equivocado. )0 pelo britanico John Elkington, fundador da ONG {que se propbe exatamente a divulgar estes ts mo- necessérios a todo desenvolvimento sustentével. Ele outra expresso: os trés P: Profit, People, Planet (pro- ipopulaco ¢ planeta) como sustentéculos da susten- ros lhe dao outra formulacio de natureza mais ope- izando o envolvimento ¢ enttosamento de um outro poder de Estado (polfcica), setor produtivo (empresa- ctiticamente a primeira formulagao em cada um iment economicamente vidvel: na compreensio e na Itica dos governos ¢ das empresas, desenvolvimento aumento do Produto Interne Bruto (PIB), pelo cees- smico, pela moderizacao industrial, pelo progresso cE antropocéntrico, pois estd centrado somente no ser humano, como se niio existisse a comunidade de vida (flora, fauna ¢ outros ‘osganismos vivos) também criada pela Mae Tetra e que igualmente jrecisa da biosfera ¢ demanda igualmente sustentabilidade. Em ‘lande parte, dependemos dos demais seres que devem também set ‘contemplados para que o desenvolvimento seja, realmente, susten- travel, Eo defeito de todas as definigdes dos organismos da ONU, 0 de serem exclusivamente antropocéntricas ¢ pensaram o sex huma- no acima da nacureza ou fora dela, como se no fosse parte dela, . B contraditério, pois desenvolvimento ¢ sustentabilidade ob« decem a légicas diferentes e que se contrap6em, O'descnvolvimen- mo vimos, € linear, dgve ser crescente, supondo a exploracio da natureza, gerando profundas desigualdades ~ riqueza_de_um lado € pobreza do outro ~ e prvilegia a acumulagio individual Portanto, é um temo que vem do campo da economia politica i dustrialista/capitalista. 5, A categoria sustensabilidade, ao contrétio, provém do mbito Gabiologia e da ecologia, cujalogica é circular eincludente. Repre- ‘gnta a tendéncia dos ecossistemas a0 equilibrio din&mico, 2 coope- 1ysfo € A cocvolucao, e responde pelas interdependéncias de todos om todos, garantindo a inclusdo de cad um, até dos mais fracos. “+ Se esta compreensio for correta, entdo fica claro que.sustentabi- lidade ¢ desenvolvimento canfiguram uma contradigéo nos préprios “Teranos. Fles tém ldgicas que se autonegam: uma privilegia o indivt- duo, a outra ocoletivo; uma enfatiza a competicfo, a outra a coope- agdo; uma a evolucio do mais apro, a outra.a coevolucio de todos juntos ¢ inter-rclacionados. 4 Bequivocado, porque alega como causa aquilo que é efeito, Ale\ hgh alee ee cipal cosa da degadacta celica. Por| tanto, serfamos tentados a pensar: quanto menos pobreza, mais de- sénvolvimento sustentével e menos degradagao, 0 que efetivamente| ‘Ado € assim. 45 Analisando, porém, ctiticamente, as causas reais da pobreza ¢ ,0 desenvolvimento é um processo econdmico, social, cultural e po\ da degradagio da naturcza.vé-se.que.resultam, néo exclusivamen: [B jjpico ubrangente, que visa ao constante ‘melhoramento do bem-estar de} te, mas_principalmense, do tipo de desenvolvimento industri yada a populasto ede cada indiotdyo, na base da sua participasio ati ‘ta/capitalista praticado. Ele é que produz degradagio, pois dilapida elie ‘esignificativa no desenvolvimento e na justa distribuigao dos = atureza cm seus recursos ¢ explora a forca de trabalho, pagando 4 _pygficiosraultantes dele baixos saldrios e gerando assim pobreza e exclusto social. | Nés,a bem de uma visio mais holistica do ser bumano, act E poresta rav4o que a utilizagio polltica da expressio devenvol- @ _etitaslamos ainda as dimenstes pricoldgica ¢ spiritual. vimento sustentdvel representa uma armadilha do sistema imperan- {255+ Ambientalmente correto: as referencias feitas & economia va- te: assume os termos da ecologia (sustentabilidade) para esvazid-los ¢ JF {m, com mais razZo, para o ambiente. O atual desenvolvimento se assume o ideal da economia (ctescimento/desenvolvimento), masca- mn - fi inovendo uma guerra irsefredvel contraGaia.)arrancando dela sando, porém, a pobreza que ele mesmo produz. “gucdo 0 que lhe for sil e objeto de lucro, especialmente para aquelas + Socialmente juste: se hd uma coisa que o atual desenvolvimen- 4 minorias que controlam o processo. A biodiversidade global sofreu td industrial/capitalista ndo pode dizer de si tesmo é que sjasoci- “uma queda de 30% em menos de quarenta anos, segundo 0 Indice almente justo, Nao precisamos repctir os dados antcriormente refe- ido Planeta Vivo da ONU (2010). Apenas de 1998 para ci houve rides que denunciam as injustigas mundiais que lamam ao.céu, Fic tum salto de 35% nas emiss6es de gases de efeito estula quemos apenas com 0 caso de nosso pais. CO assalto aos commons, quer dizer, aos bens comuns (gua, so- (© Atlas Social do Brasil de 2010, publicado pelo Ipea, refere Jos, ar puro, sementes, comunicaga0, saide, educagao entre outros) que cinco mil familias controlam 46% do PIB. © governo repassa 4 ‘privatizados por grandes corporagSes nacionais multinacionais, anualmente 150 bilhGes de reais aos bancos e a0 sistema financeiro. std ide forma petigosa a Mae Terra, cada vez mais ‘para pagar com juros os empréstimos feitos e aplica apenas 50 bi- incapaz de sc autorregenetar. Q processo de producio de bens ne- IhGes para os programas sociais destinados a beneficiar, de maneira |} *cessérios para a vida e dos supérfluos que formam a grande maioria insuficience, as grandes maiorias pobres (bola familia, luz para to- jf dos produtos é tudo, menos ambientalmente correto, Ao invés de dos, minha casa, minha vida, crédizo consignad e outros). © regime |< falarmos dos limites do crescimento deverfamos falar dos limites da \de eerras 6 um dos mais escandalosos do mundo, porque 1% da po- jf agressdo 4 Terra e a todos os seus ecossistemas, ‘pulago detém 48% de todas as verras. Tudo isso denuncia a falsi- Se aumentar excessivamente a falta de cuidado dos equilibrios dade da retérica de um desenvolvimento socialmente justo, impos- if ecolégicos e dos niveis de agressio e devastacio, poderemos contar stvel dentro do atual paradigma de produgio ¢ consumo, com o destino de uma célula cancerfgena: serd extirpada do orga- Mas hé um ideal de sustentabilidade que vale a pena ser consi- jf | nismo Terra pela prépria Terra para salvar as condigdes bioquimi- derado, embora exista, por ora, apenas como ideal e nfo como pré- | _ case fisicas indispensiveis para os demais seres vivos que cla gera © tica, Ele se encontra na Declaragéo da ONU sobre o Direito dos Po- f sustenta. vos ao Desenvolvimento de 1993. Al se compreende o desenvolvi- Em conclusdo, no modelo padrio de desenvolvimento que se Mento em sua dimensio integral: quer sustentével, o discurso da sustentabilidade é vazio slanwa Prbhicn, 4s j a erificam avangos no sentido da produgio em niveis ¢arbono, utilizagio de energias alternatiyas, reflores- ides degradadas ea criagao de melhores sumidoutos reparemos bem: tudo € realizado desde que no se gs, ndo se enfraqueca a competicdo e no se prejudi- es tecnolégicas. Aqui a utilizagio da expresso “de- sustentével” possui uma significacao politica im- tamento de de dejetos, seavolvimey portant: reais problefnab, que so 2 injustiga social nacional e mundial, 0 aquecimentp global crescente e as amcacas que pairam sobre a so- brevivéncia ie nossa civilizagao ¢ da espécie humana, jias no modelo-padrao de sustentabilidade Mas di deram conte humanisties némico, 0; complement 7 * Gestaolda, mente ystentdvel: para que exista um desenvolvi- mento sustehitdvel deve previamente se construir um novo design mental, chamado por seu formulador, o Prof. Evandro Vieira Outi- ques, da Escplal de Comunicagao da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de gpstito da mente sustentdvel. Ble tenta resgatar o valor da razio sensivel pela qual o ser humano se sente parte da natureza, impoe-se un} mento, pelo desenvol dimenstes db Constatal assim nos page: ecologia de t Jos ser justos. Houve analistas e pensadores que se tum vazio neste tripé, Fle nio contém elementos {ticos. Dai que, aceitando, as t8s pilastras 0 cco ‘€o ambiental —acrescentaram-Ihes outras pilastras E yolvimento como um tinico ¢ grande sistema, como iremos 3 -nta uma maneira hdbil de desviara atengzo para os da detalhar mais & frente, PP» Generosidade: Rogério Ruschel, editor da revista eleteOnica ‘Bisiness do Bem, actescentou uma outta pilastra, indispensdvel para odesenvolvimento sustentivel: a fecunda categoria dtica da genero- sidade- Esta se funda num dado antropolégico bésico: 0 ser huma- fondo apenas egolsra, no sentido de se autoafirmar, buscando seu bem particular, mas fundamentalmente é um ser social que coloca ‘98 bens comuns acima dos particulares ou que pde os interesses dos outros no mesmo nivel de seus préprios interesses. Generoso ¢ fiquele que comparte, que distribui conhecimentos ¢ experiéncias shm esperar nada em troca. J4 os classicos da filosofia politica, como Platio ¢ Rousscau, afirmavam que uma sociedade nfo pode fun- darese apenas sobre a justica. Ela se tomnaria inflexivel e cruel. Ela deve viver também da generosidade das cidadaos, de seu espirito de ‘SRoperacto ¢ de solidariedadc volunciria, 8 Para Ruschel a gencrosidade se op6e direta &asbolsa e do capital especulrativo de greed i goodyisto é, boa éa ga- ‘idhcia, Ela ndo ¢ boa, mas perversa, Comoe tem mostrado a ctise eondmico-financeira das bolsas ¢ dos bancos dos paises centrais de 2008 © 2011, quando a gandncia teria afandado o sistema econémi- Soimundial se ndo tlvesse havido a intervengao (antes por eles sempre la) dos Estados, que, com os dinheiros piblicos dos contri- Fainres, salvaram as empresas privadas e os grandes bancos, ‘Nesta pilastra hd algo de verdadeiro que deve ser retido e im- ta inclu(-lo em qualquer outro software social ou novo paradig- 'Rélde producio e consumo, Ele se distingue, na feliz metafora do ‘etnalista Marcondes, da ONG Envolverde, da simples filansropia\ Meidéo pcine ao faminto; distingue-se também da mera responsa- social das empresas que ensinam a pescar; cle postula a.sus- bilidade, que é a preservagio do rio que permite pescat ¢ com 0 tara fome. A generosidade recobre estas dreas, Entretanto, 49 somente ela é insuficiente, pois a sustentabilidade idimensGes que vo além da necesséria generosidade, como detalharemos. Mas importa reconhecer, sem ela nenhum desenvol vimento guardard rosto humano. 7) ~ Cultura, em 2001 0 australiano John Hawkes langou “o quar: pilar da sustentabilidade: a fungfo essencial da culeure no plane’ _jamento_publico”. Essa idcia ganhou boa acolhida internacional especialmente quando cm Joanesburgo, na Rio+10, em 2002; Presidente francés Jacques Chirac a assumiu em seu pronuncia: mento oficial. No Brasil foi mérito de Ana Carla Fonsec Reis, fn dadora da empresa “Garimpo de Solagées” e autora do livro Econa ‘da cultura e desenvolvimento sustentdvel assumis a categoria cul: " edifundi-la em i ¢ palestras. ‘ura, entiguecé- cf ~~ Hiete dado da cultura é fundamental, porque é muito mais vast do que o de desenvolvimento/erescimento, pois encerra a cocsi social, valores, processos de comunicacio c didlogo e favorece 0 cul: tivo das dimens6es tipicamente humanas como a arte, areligiéo, criatividade, as ciéncias e outrastantas formas de expressio esti “Aqui se deixa para trés a obsessZo pelo cro e pelo crescimento ma terial, abrindo espaco para uma forma de habitar a Terra que cong diz melhor com a natureza humana que sempre produ cultura .bém na érea da producéo ¢ do consumo. Esta dimensio da cul} ura, entretanto, nao pode ser tomada cm separado das outras dig} mensGes, mas seré seguramente uma das fontes a partir das quai i beberd um novo paradigma de convivencia. Entéo, sim, 0 desen vyolvimento poderd ser considerado sustentdvel. al claboragio por pessoas que trabalham a relagao cérchro-mentej Dio-se conta de que a estrutura neural do cérebro & extremamenté; pléstica e que, assumidos certos comportamentos criticos face ad sistema industrialista/consumista, pode gerar hibi : ‘io, de consumo solidério, consciente e respeitador dos ee e respeitador do 50 rexg, Este é um campo de vasta investigagao ainda inicial, mas pode oferecer boas posibilidades de um desenvolvimento s0- que, sendo justo esustentével,repercute na mente que coevolul to conn 0 processo global de um mundo mais sustentivel, eyidado esencia: eu mesmo desenvolvi a categoria “cuidado” fio essencial para a sustentabilidade. Entendo 0 cuidado como o wis em dois textos: Saber cuidar: ética do human, compaixo pela wae 0 cuidado necesdrio, no como adjetivo que pode estar pre- pinio um dado@ntolégicdy uma constante para todos os organis- is vivos. Sem cuidado nao teriam sua existéncia garantida e sus- fitada, Especialmente, 0 set humano, consoante um mito antigo, Yana entendido como essencialmente fruto do cuidado, Ele vive a ponir do cuidado essencial que ¢ aquela precondigfo sem a qual ‘ido irromperia nenhum ser ¢ representa o orientador antecipado ae roda agao para que seja bendfica. O cuidado estava presente dno .eito momento da criacéo quando as energias ¢ elementos pri- ‘jfordiais se equilibraram com um cuiidado tao sutil que permitiram ue ‘estivéssemos aqui para falar destas coisas. Sem 0 cuidado a nos- {ua realidade nio teria subsistido ou seria outra coisa, Sobre esta di- tpensio voltaremos mais adiante, ae 3 O modelo do neocapitalismo: auséncia de g sustentabilidade | “Ascexiticas a0 modelo-padréo propiciou o nascimento do neo- ‘upitalismo, um capitalismé modificado de viés neokencysiano, yale dizer, que accitaregulagdes por parte do Estado, consciente de {que 0 mercado, deixado por si mesmo, segue sua légica concorren- ial, o que o torna um fator de permanente tenséo c desequilibrio. - O economista Ken Rosen da Universidade de Berkeley obser- ‘ou, referindo-se & atual crise econdmico-financeira: “nés, nor- st | oF -og pe-cn a4 = produtivos ¥ biolégicos: utilizados; itupgio da grande crise nos Estados Unidos ¢ na Euro- » gastdvamos um dinheizo que nao tinhamos em coi- io precisdvamos; 9 modelo dos Estados Unidos est wuado todo utilizasse esse modelo, nds no terlamos} de sobreviver” (0 Globo 01/02/09, p. 4). Passados Brodutos; buscar em tudo ecoeficiéncia que implica monitorar per- ‘manentemente os recursos utilizados como energia, égua, madcita, ctaisc fazendo 0 reuso dos dejetos. ‘Este modelo é tentador, pois da impressio de estar em conso- ifiricia com a natureza, quando, na verdade, a considera como sHieto'repositério de recursos para fins ecandmicos, sem entende-la ebitib_ uma realidade viva, subsistente, is lige respeitar seus limites ¢, por isso, o ser humano deve sentir-se paite dela ser responséyel por sua vitalidade e integridade. partir de 2008, podemos constatar que esse capitals te nao se reformulou, pois se subtraiu as regulacdes c, impsvido, no seu afi de acumulacéo & base da espe- ira ou do consumo perdulitio (67% do PIB nox. Indo vem da produgéo interna, mas do consumo d {mente importados da China) (Este modelo nao poss justentablidade, pois continita extraindo, de forma} a, insumos da navureda e criando perversas desigual i 5 O modelo da economia verde: i a sustentabilidade fraca “= O.quarto modelo vem sob o nome de economia verde, Ela foi, Oficlalmente, apresentada no dia 22 de fevereiro de 2009 pelo Secte- ‘tdrjo da ONU Ban Ki Moon em parceria com 0 ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Albert Arnold Gore 1, (AlGore), conhecido orseu documentario acerca da situacio de caos da Terra Uma ver- Udeticimoda (Falba de S, Paulo 22/02/09, p. 3). ‘A economia verde possu uma pré-histria sinistra. Aquelas i trias que duratite a Segunda Guerra Mundial produziam pro- tuto quimicos para matar pessoas, acabada a guerra, para nfo per-- > seus negécios, redirecionaram os produtos quimicos paraaa- © O modelo do capitalismo natural: a sustentabilidade enganosa !modelo se apresenta sob o nome questiondvel de ca ral. primeira vista parece contraditério, pois 0 ca a I6gica, coloca-se numa posigao de dominio sobra ferfere em scus ciclos © explora seus recursos sem sal as condigdes de sua regeneracio e reposigio, consis ‘ternalidades que nfo entram no cémputo das per: Mesmo sendo hostil & nacureza, pretende incorpo £380 econdmico os fluxos biolégicos, Heultura. Blas adaptaram as plantas para quc se “viciassem” nae © vYenenos ¢ assim eliminassem prapas € produzissem mais, Wvamente produziram mais, mas & custa do envenenamento_ ies da concamina dos niveis fredticos das aguas e do em- -fobtetimento da biodiversidade, ‘Esquecida destas origens criticas, a economia verde se autopro- sain Como uma nova via que enlaca economia c ecologia de forma BlMoniosa; porranto, uma economia que atende nossas necessi que visam conferir-Ihe algum: le, aumentar a produtividade da natureza com me \dos espagos e com insumos quimicos; os processo ais eficazes e sustentaveis se imitarem os modelos ar produtos biodegradéveis ou que possam ser ted der mais servigos ¢ inovagies tecnoldgicas qud 52 53. des (sustentivel) e que preserva © mais possivel o capital oe Ela prope um objetivo audacioso, apoiado em dois pés: umm qué visa a beneficiar os pobres ¢ os pequenos agticultores, oferecens dorthes meios tecnolégicos modernos, sementes ¢ crédito. O se: gundo pé é constituido por uma produgio de baixo carbono, co 9s produtos organics, energia solar ¢ eélica; cria parques nacio1 remotos, pousadas ecoturisticas no meio da selva e procura din, nuit o mais possivel a intervencio nos ritmos da natureza; busca roposigao dos bens utilizados ¢ a reciclagem de todos os rejitos. Nao obstante todos os fatores positivos que a economia verdé cencerra, néo devemos perder de vista seu momento ideol6gico. Fa la-se de economia verde para, no fundo, evitar a questio princip que é a da sustentabilidade, incompativel chm 0 atual modo d produgio ¢ consumo que, como consideramos, é altamente insu se explica sob que modo de pro: Pretende substieuir_a economi: verde (limpa: energia solar, edi le consumo, y 'Nés dirfamos que para os pafses desenvolvidos deve-se sup, o fetiche do desenvolvimentolerescimento sustentdvel a todo custo, em seu lugar implementar uma visio ecoldgico-social: a preperida > de sem crescimento (melhorar @ qualidade de vida, a educacio, bens intang(veis) ¢ estabilizar o crescimento para permiti: que patses pobres (80%) possam ter prosperidade com crescimento pa satisfazer as necessidades de suas populagdes empobrecidas sem na cultura do consumismo, o que exige todo um processo de edu! ago social, pe gualdade, Esta nao deve ser reduzida apenas ao seu aspecto econd: ‘ico (m4 distribuigéo dos beneflcios monetétios), mas desigualda de num sentido mais amplo: no acesso aos bens fundamentai como saneamento bésico, saide, educacio, equilfbrio de género & 54 ‘A ourra questio intocada pela economia verde éaquela da desi 1 oe «,apesar disso, manter os niveis de desigualdade, como jcaso do Brasil. A America Latina & mais rica que a Aftica, mas a ja é menos desigual que a América Latina. Ue <5 Sem a supéragio da desigualdade ¢ sem um controle no cresci = “4gde) nfo sc poder chegar nunca,2 sustentabilidade, mesmo na 1F Yersdio verde. Ela ficard sempre ilusdria (veja a entrevista do Prof. jose. Eli da Veiga, do Instituto de Pesquisas Ecoldgicas da USP, 95/01/11, p. 22. * SAWYER, D. “Economia verde e/ou desenvol- jimento sustentavel”. Feo-21, n. 177, 2011, 14-17). ‘Ademais, nfo existe o verde ¢ 0 nfio verde. Todos os produtos - contém, nas varias fases de sua produgio, intimeros elementos téxi- “gos, danosos a satide da Terra e da sociedade. Hoje, pelo método da “Aras do Ciclo de Vida (ACV), podemos exibir ¢ monitorar as ‘omplexas inter-relagées entre as varias etapas: da extracio, do ‘ttansporte, da produgio, do uso e do descarte de cada produto ¢ ‘eus impactos ambientais. Al fica claro que o pretendido verde nao dtio {tio verde assim. O verde representa apenas uma etapa de todo um ‘fiocesso. A producio em si nunca é de tado.ecoamigivel_ , Tomemos como exemplo o etanol, dado como energia limpa e alternativa & energia féssil esuja do petréleo. Ele élimpo somente na ‘boca da bomba de abastecimento, Todo o processo de sua producto éaltamente -poluidor: os agrotéxicos aplicados ao solo, as queimadas, ¢ transporte com grandes caminhes que emitem gases, as emissbes das fibricas, os efluentes liquidos e 0 bagago. Os pesticidas eliminam AE bacterias e expulsam as minhocas, que sio fundamentais para a rege- AE netacao dos solos; clas s6 voltam depois de cinco anos, A economia “{ _yerdes6 tem sentido no contexto de uma sustentabilidade substant "¥a.que respeita os ciclos da natureza ¢ reduz a pobreza. O verde pode servir de elemento despistador, colacando o foco, por exemplo, na Amazénia verde, em detrimento de outros biomas 5S | | | | ¢ das zohias urbanas, onde vive grande parte da populago com pros) aosjdrcitos naturais ¢ bésicos de todo ser humano, no quadro de blemas braves de poluigéo, de seguranga e de transporte. Pard tress € de. Cor endo udar possa ata chance ie 0 le rade a natureza, precisamos mais do que a busca do “snc ¢ iremos aprofundar ainda, a crise é concep: wuais. Somos parte da sociedade e parte de Gaia, ¢ segurar a sua préptia vitalidade. 6 O modelo do ecossocialismo: a sustentabilidade insuficiente jrantirmos uma produgio, necessétia& Vida, que no es ymica, A relagao para com a ‘Terra tem que mudar, bém as relagées sociais para que nao sejam demasiada- #20 cuidadosa a tornamos mais consciente e com mais um real democracia social na qual o povo conscientizado e organi- zado participa na tomada de decisoes que interessain a todos, ‘le Anegavelmente, a proposta ecossocialista é generosa e atenta & ‘sustentabilidade ambiental ¢ social. E portadora das melhores espe- ‘tangas.de milhdes de pessoas. Lamentayelmente ndo possui ainda ‘uma hase sacial suficientermente forte para ttiunfar sobre 0 modo ‘de producéo industrialisca ¢sobre a cultura capitalista, Talvez, ao se ‘agravar a crise civilizacional, o ccossoclalisino se apresente como ‘ia alternatiya polftico-humanitéria das mais vidveis porque sen- Sel & patureza e 4 vida de todos os seres humanos, chamados a se- ft coiguais e sécios da mesma aventura planetéria, .Mas esta proposta, ao nosso ver, situa-se ainda dentro do anti) Eeparadigma que nio percebe a unidade ser humano-Terra-uni- ver tu por O gjinlo modelo, 0 ecosocialismo, apresenta-se como uma al ET a core am aes niin, Gal aerators de sexnativ radical e prética ao sistema do capital, Mas hd que distin” aa dda vida da qual nés somos um clo decisivo, ético ¢ guir 0 ecpsspcialisino do socialismo real que afundou com a quedage SPH: G do Mure etn ‘Temos a ver com um sacialismo novo que cri i: a tica tantg aleconomia capiralista de mercado quanto o socialism produtivjsta} pois ambos possuem em comum o fato de desconsid tarem os limjtes da ‘Terra (veja o Il Manifesto Internacional, ragao de Belém, 27102109. * LOWY, M. Keologia e socialisnso, 2005): jo intrfnseca entre economia & altqcnativa ecossocialista que ainda se apresenta na qualidade hea ‘© matematico ¢ economista romeno Nicholas Georgescu {de propo}ta, nao sendo ainda implementada em nenhum pats, visi en (1906-1994). Contra 0 pensamento dominante, este autor, uma produgio respeitosa dos riemos da natureza ¢ fayorece um anos 60 do século passado, chamava atengéo da insustentabi- economiq hymanistica, fundada em valores nfo monetétios com ledo crescimento devido 20s limites dos recursos da Tetra. Co- «a justiga spcipl, a equidade, o resgate da dignidade do trabalho, use a falar de “decrescimento econ6mico para a sustentabili- gradado q mbreadoria-salério, no valor de uso ao invés do valor ental ea cquidade social” ern grein). Be de- toca, oan ldanca de ctitérios politico-econdmicos quantitati ara qualitatlvos. Os ecossocialistas afirmam que o ar puro, a éguas ‘solo fértl, her como o acesso universal a alimentos sem agrotéxis cos e As font 56 do sistema da natureza, sempre limitada,e, por isso, objeto do pes manente cuidado do ser humano. A economia deve acompanha: atender os nivis de preservacio ¢ regeneracZo da natureza ej bom resumo das tees de Roegen na entrevista de Andrei Cechid dada THU (28/10/11). A Modelo semelhante, chamado de ecodesenvolvimento,vern senda proposto entre outros, mas especialmente por Ignacy Sachs, um p lonés, nacuralizao francés ¢ brasiciro por amor. Veio a0 Brae 1941, tabalhou vétios anos aqui ¢ mantém arualmente um centad ae prados sali nk Unieidade de Pai, un ea idade, a cooperacio, a solidariedade ¢ a compaixio. Enfatica- aque parr de 1980 despertou para a questéo ccoligicae posal FATTY ee aa idariedade€ um dado esencel 300 ‘mente, 0 primeiro que refletea partir do contexto criado pelo Antro aie no. © individualismo cruel que estamos assistindo nos oceno, Vale di, no contesto da reso muito forte que at EG hoje ¢eapreaco da concoréncia em oe da gafinca de ddades humanas fazem sobre os ecossistemas e sobre o Planeta Terral homoggneas dos custos e dos beneficios do desenvolvi- -o, Assim, por exemplo, os paises mais pobres tém direito de indir mais sua pegada ecoldgica (quanto de terra, dgua, nutti- energia precisam) para atender suas demandas, enquanto os ticos devem reduzi-la ou controlé-la. Nao se trata de assumir a lvimento, descarbonizando a produgio, teduzindo o impacto incal e propiciando a vigencia de valores intangfveis como a ge- -geitnular. Significa uma excrescéncia que destrdi os lagos da convi- “Vicia ¢ assim torna a sociedade fatalmente insustentavel E delea bela expresso de uma “biocivilizagao”, uma civilizagio lic dé centralidade & vida, a Terra, aos ecossistemas e a cada pes- Dale alimenta o esperangoso sonho de uma “Terra da Boa Es- _Peranca” (veja Heodesenvolvimenso: erecer sem deeruir, 1986, ¢ a tevista em Carta Maior, 29/08/11), ©! No Brasil é0 Prof. Ladislau Dowbor da PUC de Sao Paulo que presenta reflex6es na linha de Sachs, postulando uma democracia ‘econdmica (Democracia econdmica: alternativas de gest social, 2008) na qual o crescimento deve ser sustentdvel (o que o planeta pode aguentar a longo prazo), suficiente (atender as necessidades sém destruir as bases da reproducao da vida), eficiente (usar os te- ‘cursos minimizando os impactos ¢ os desperdicios), equdmime (que distribua entre todos os Onus e os beneficios). global, um petigoso meteoro rasante e avassalador. Sachs leva e conta esse dado novo no discurso ecolégico-social. sacinclusio social. Daf nasce um conceito de sustentabilidade pos sivel, ainda dentro dos constrangimentos impostos pela predomi nincia do modo de produgo industrialista, consumista, individ alista, predador e poluidor. *!. Estas propostas nos parecem das mais exequiveis c responséveis face aos riscos que corte o planeta e 0 futuro da espécie humana. Apenas observamos que em Sachs, mas menos em Dowbor, nao se percebe ainda claramente a forga argumentativa que vem da nova manente do meio ambiente. Preenchidos estes quesitos, ctiar-se iam as condigées de um ccodesenvolvimento sustentével. 58 59 (Seamologiale viabilidade. } Ose almente de, pois ‘Apareceutn ‘cooperativis Nest mano ¢ competigio| de poder do} balhoe nfo cal em pi Ace capitalist MANCE{ ternativa, Ecozoico] J seus teéri mento Soli comprar,| Frente, ne Mas suas propostas merecem consideragio dada a suas) ronomiia solidéria no Brasil, 2003). po de economia 0 centrotlulergb¥ ocupado pelo ser hil ‘Como mdrcadoria page pelo saldrio, pela solidariedade ¢ nao peli == da ecologia da transformagao como iremos, mais 18 sesh destruir a natureza” (Introdugo & economia soliddria, 2002. ¢ “flinBése’modelo se concretiza mediante as cooperativas de produ £@4¥ie’consuimo, pelos fundos rotativos de crédito, pelas ecovilas, B O modelo da economia solidéria: a ele batiéo de sementes creolas, pelas redes de lojas de comércio JWo'e solidério, pela criagao de incubadoras de novas teenologias microssustentabilidade vidvel j emarticulacdo com as universidades ou até pela recuperagio de, ( modelo, a economia solidéria, &0 que melhor realiza ae falidas ¢ gestionadas pelos prdprios trabalhadores, conceito He fustentabilidade em direta oposicio ao sistema mundigg =! > a0 ndi@ 2 fcc modelo nfo é, nem de longe, hegemonico, mas ele carrega jrante. Na verdade, cla sempre existiu na humanidig) sehieiee do Futuro. A sociedade mundial, na medida em que mais 4 Sflidariedade constitui uma das bases que sustentam @@hizissente os limites do planeta e percebe a impossiblidade de le- sociedadys Humanas. Mas jd na primeira Revolugao Industrial a8 Vatvance c acual projeto planetdrio de molde capitalista e até a ris- Inglaterrg cla surgiu como reagio & superexploraséo capitalise 5 ‘ da extincio da espécie, verd neste modelo holistico de economia final do século XVIII ¢ inicios do XIX sob o nome dj i que ies o bascano, 9 sock, o eos 6 capsid ¢ 0 ‘al 7 ‘Mibiene, como uma saida salyadora para a histéria humana. pancetta pS ii mae min ofia), sambém conhecida como sistema econdmico Prout (abre- A iglesa para Teoria da Utilizacao Progressiva), fundado pelo 1 Sarkar. A proposta basica € criar coopcrativas cujo es- ‘gerar um desenvolvimento integral do ser humano na sua pela autogestio democritica e nfo pela centralizacé patréés, pela melhoria da qualidade de vida e do traat ela maximalizagao do lucro, pelo desenvolvimento iro lugar e, em seguida, o global. q eevee ad 7 BE Ulnchsio fisica, mental e espizitual; apresentando-se consciente- nia solidiria se apresenta como alternativa 4 economig a i # ° : : ho ite Contra o excessivo materialismo da ordem do capital, produ- ais ainda, como uma economia pés-capitalista (vel eds we ‘i a “A polutdo des tals valeborjen bated come # de desigualdadeseinjustigas, Seus prop6sitos se alinham & eco- capitals, 1999), porque se inscreve dentro da Lraddgt totOlidéra, o que nos dispensa de entrar em maioresdetalhes jZo apenas no tecnozoico; ¢ movida pelos ideais et : 9. O bem-viver dos povos andinos: : a sustentabilidade desejada rio, Paul Singes, “como um jeito de produzir, vende =uflosmente, nos vem dos povos origi uma proposta juumir ¢ trocar sem explora, sem querer vantagensigy Ue Poerd ser inspiradora de uma nova civilzaso focada no equi 60 61 brio c na centralidade da vida. Os povos andinos que vao desde: Patagonia até ao norte da América do Sul e do Caribe, osfilhos temporal (poyos antigos), mas no sentido filosdfico, quer diz Aqueles que vao is origens primeiras da organizagao social da vidg eC (O ideal que propoem & 0 bem-viver(sumak keway ou sum 4a mafia), O “bemeviver” no € 0 nosso “viver melhor” ou “quali d de vida" que, parase realizar, muitas tém que viver piore ter uma «qualidade de vide. © bem-vver andino visa uma étiea da suf comunidade rerrenal que inclu, além do ser humano, oar, agua, 6 solos, as montanhas, as drvores e os animais, o Sol, aL.ua eas estrelg com a Pacha (a energia universal), que se concentra na Pachamar (Tetra), com as energias do universo com Deus. ‘A preocupacio central néo é acumular. De mais a mais, a “Terra nos fornece tudo que precisamos. Nosso trabalho supre o qu cla nao nos pode dar ou a ajudamos a produziro suficiente e dec te para todos, também pata os animais ¢ as plantas, Bem-viver & tarem permanente harmonia com 0 Todo, harmonia entre maridgl ‘emulher, entre todos na comunidade, celebrando os titos sagrad que continuamente renovam a conexio césmica e com Deus. isso, rio bem-viver hd uma clara dimensao espiitual com 0s valo compaixéo para com os que softem e solidariedade entre todos. bem-viver nos convida a nao consumix mais do que 0 ecossi tema pode suportar, a evitar a producio de res{duos que nfo podes} ‘mos absorver com seguranga e nos incica a reutilizar ereciclar tud o , aif tivermos usado, Serd um consumo recicldvel e frugal. Entio PKLIMMaNL B.H. Vivier bien(Buen vivir, 2010, p. 446- i aber comer (alimentos sos); saber beber (dando sempre umn Ki, 4 Pachamama); saber dangar (entrar numa relagio césmi- Nivea), saber dormir (com a cabeca ao norte e 0s pés 20 sul) Des rbalhr (rio como peso, max como ama autorelizaso); pee (mais com o coragéo do que com a cabeca); saber amar e ‘amado (manter a reciprocidade); saber escutar (nao s6. como ou- o, mas com 0 corpo todo, pois todos os eres enviam mensa- 3) saber far bem (lar para constr, pr iso atingindo 0 o- » do interlocutor); saber sonbar (tudo comega com o sonho cri- saber caminhar (nunca caminhamos s6s, jo um projeto de vida); - fhai’com o vento, o Sol e acompanhados pelos nossos ancestras)s aber dare receber (a vida surge da interagéo de muita Fores, por a tse ¢ ‘dar e receber deyem ser reciprocos, agradecer e bendizer). Ea Este conceito ¢ tio central que entrou nas constituigdes da Bo- / kg ¢ do Equador. Na consttuisio deste ilkimo pals, que entrou vigor em 2008, no captulo VIL que trata “dos cos da nat dene eproduze realiza a vida, tem direito a que se respeite inte- mcnte sua existéncia, a manutengio eegeneragio de seus cclos “jnunidade povo ou nacionalidade poderéexgir da autordade p- blicao cumprimento dos dircitos da naturcza[..]. O Estado incen- tivard as pessoas fisicas ou juridicas ¢ as coletividades para que pro- ‘cjam a natureza e promoverd o respeito 2 todos os elementos que farmam 0 ecossistema” (veja DE MARZO, B. Buen vivir: para una democracia de la Tierra, 2010, p. 59). 63 Bw ‘Agui ehcontramos em miniatura ¢ de forma antecipada aquilg® na atual viva subtraindo das fururas geragSes os meios necessatios que proyavelmente seré o futuro da humanidade (veja o estudo dg para poderem viver decentemente. talhado He HOUTART, F. El concepto de Sumak Kawsay y su corr E impetioso superar igualmente todo antropocentismo. Nao pondentta fon el bien comin de la bumanidad, pro manusctite§ se trata egoisticamente de garantit a vida humana, descurando a 2011), 4 ctise gencralizada que ameaga nossa vida ¢ a habitabilidad Corrente e a comunidade de vida, da qual nés somos um clo ¢ uma da Terrd ngs levard necessariamente na diregio desta visio e na vi ‘vencia destés valores. Nossa proposta quer prolongar estas intuic6el 1na base la hova cosmologia e do novo paradigma de civilizagao. O Bhtao, espremido entre a China a {ndia, aos pés do Himgg aia, prafica hé séculos um ideal semelhantc ao dos povos andinog Trata-sede|um pais muito pobre materialmente, mas que estacul oficialmgnte o “Indice de Felicidade Interna Brura”, Este nao é ma dido poiicritérios quantitativos, mas qualitativos, como boa gov. nanga djs autoridades, equitativa distribuicéo dos excedentes agriculny éncia, da extracio vegeral eda venda de energi para a Indiq, boa satide, nivel de estresse ¢ equilibrio psicolégica boa edudasfo e especialmente bom nivel de cooperacdo de ode para garantir a paz social. 4 parte, a parte consciente, responsével, ética e espiritual. A sustenta- bilidade deve atender 0 inteito Sistema Terra, 0 Sistema Vida ¢ 0 Sistema Vida Humana. Sem esta ampla perspectiva o discurso da sustentabilidade petmanecerd apenas discuiso, quando a sealidade ros urge &efetivacao ripida e eficiente da sustentabilidade, « prego de pesdeimos nosso lugar neste pequeno ¢ belo planeta, a tinica ‘Casa Comum gue remos para mora. Estag expressbes, embora semi is, revelam-nos que um ouci mundo épdssivel e hoje necessério. Ha uma porgo da humanida de que nfo be deixou iludir pelo fetichismo da mercadoria e pell obsessio {la Fiqueza, dominances na atual fase da humanidade, mal guardou h stnidade bisica que se encontra no profundo de cad! Pessoa € fto fonjunto das sociedades humanas, 4 Em epndusio podemos dizer: pouco importa a concepcio q tivermos He bustentabilidade, a ideia motora é esta: nao € corre niio ¢ jusrb nem ético que, ao buscarmos os meios para a nossa sul sisténcia, Milhpidemos a natureza, destruamos biomas, envenened mos os solos} contaminemos as 4guas, poluamos os ares ¢ destrud quiltbrio do Sistema Terra e do Sistema Vida. Nao @ Gamente que sociedades particulares vivam a custa dd outras sod es ‘ou de outras regides, nem que a sociedade huma | | 64 6s

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