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CONCURSO DE CRIMES

PERGUNTAS E RESPOSTAS
1) Em que consiste o concurso de crimes?
Resposta: consiste na ocorrência de dois ou mais delitos, por meio da prática de uma ou mais ações, ou
seja, consiste na pluralidade de fatos.
2) Em que consiste o concurso de pessoas?
Resposta: consiste na pluralidade de agentes e unidade de fato.
3) Em que consiste o concurso aparente de normas?
Resposta: consiste na pluralidade aparente de normas e unidade de fato.
4) Quais os seus sistemas?
Resposta: são dois:
a) cúmulo material: somam-se as penas;
b) exasperação da pena: aplica-se a pena do mais grave, aumentada de mais um pouco.
5) Quais as suas espécies?
Resposta: são elas:
a) concurso material ou real;
b) concurso formal ou ideal;
c) crime continuado.
6) Em que consiste o concurso material ou real?
Resposta: consiste na prática de duas ou mais condutas, dolosas ou culposas, omissivas ou comissivas,
produzindo dois ou mais resultados, idênticos ou não.
7) Quais as suas espécies?
Resposta: são elas:
a) homogêneo: resultados idênticos;
b) heterogêneo: resultados diversos.
8) Como as penas devem ser aplicadas?
Resposta: as penas devem ser somadas.
9) É possível a soma da pena privativa de liberdade com a restritiva de direitos?
Resposta: é possível, caso tenha sido concedida a suspensão condicional da pena privativa de liberdade.
10) É possível a soma da pena restritiva de direitos com outra restritiva?
Resposta: se compatíveis, devem ser executadas simultaneamente; caso contrário, uma depois da outra.
11) Em que consiste o concurso formal ou ideal?
Resposta: o agente, com uma única conduta, causa dois ou mais resultados.
12) Quais as suas espécies?
Resposta: são as seguintes:
a) perfeito: responde pelo crime mais grave, com um acréscimo;
b) imperfeito: somam-se as penas, como no concurso material;
c) homogêneo: ocorrem resultados idênticos;
d) heterogêneo: ocorrem resultados diversos.
13) Em que consiste o concurso formal perfeito?
Resposta: consiste no resultado de um único desígnio. O agente, por meio de um só impulso volitivo, dá
causa a dois ou mais resultados.
14) Em que consiste o concurso formal imperfeito?
Resposta: consiste no resultado de desígnios autônomos. Aparentemente há uma só ação, mas o agente
infimamente deseja os outros resultados ou aceita o risco de produzi-los. Essa espécie de concurso formal
só é possível nos crimes dolosos.
15) Como a pena deve ser aplicada no concurso formal perfeito e imperfeito?
Resposta: da seguinte forma:
a) no concurso formal perfeito: se for homogêneo, aplica-se a pena de qualquer um dos crimes, acrescida
de 1/6 até a metade; se for heterogêneo, aplica-se a pena do mais grave, aumentada de 1/6 até a metade.
O aumento varia de acordo com o número de resultados produzidos;
b) no concurso formal imperfeito: as penas devem ser somadas, de acordo com a regra do concurso
material.
16) Quais as teorias do concurso formal?
Resposta: são duas:
a) subjetiva: exige unidade de desígnios;
b) objetiva: admite pluralidade de desígnios.
17) Qual a teoria adotada pelo Código Penal?
Resposta: a objetiva, pois o CP admite o concurso formal imperfeito.
18) Em que consiste o concurso material benéfico?
Resposta: se, da aplicação da regra do concurso formal, a pena tornar-se superior à que resultaria da
aplicação do concurso material (soma de penas), deve-se seguir este último critério (CP, art. 70, parágrafo
único).
19) O que é crime continuado?
Resposta: é aquele no qual o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes
da mesma espécie, os quais, pelas semelhantes condições de tempo, lugar, modo de execução e outras,
podem ser tidos uns como continuação dos outros.
20) Quais as suas espécies?
Resposta: são elas:
a) crime continuado comum: crimes cometidos sem violência ou grave ameaça contra a pessoa (CP, art. 71,
caput);
b) crime continuado específico: crimes dolosos praticados com violência ou grave ameaça contra vítimas
diferentes (CP, art. 71, parágrafo único).
21) Como a pena deve ser aplicada?
Resposta: no crime continuado comum, aplica-se a pena do crime mais grave, aumentada de 1/6 até 2/3.
No crime continuado específico, aplica-se a pena do crime mais grave aumentada até o triplo. Se, da
aplicação da regra do crime continuado, a pena resultar superior à que restaria se somadas as penas,
aplica-se a regra do concurso material (concurso material benéfico).
22) Qual a sua natureza jurídica?
Resposta: há três teorias:
a) unidade real: os vários delitos constituem um único crime;
b) ficção jurídica: existem vários crimes, mas a lei é que presume, por uma ficção, a existência de um único
delito;
c) mista: o crime continuado não é um só, nem são vários; constitui um terceiro delito.
23) Qual a teoria adotada?
Resposta: a teoria da ficção jurídica, onde o crime continuado é uma ficção jurídica. Há uma pluralidade de
delitos, mas o legislador, por uma ficção, presume que constituem um só crime, para efeito de sanção penal.
Pelo art. 119 do Código Penal, nota-se claramente que o crime continuado compreende uma pluralidade real
de crimes.
24) Quais são os seus requisitos?
Resposta: são os seguintes:
a) pluralidade de crimes da mesma espécie;
b) condições objetivas semelhantes;
c) unidade de desígnio (de acordo com a teoria adotada).
25) Quais as teorias sobre a unidade de desígnio?
Resposta: são elas:
a) objetiva-subjetiva: exige-se unidade de resolução, devendo o agente desejar praticar os crimes em
continuidade;
b) puramente objetiva: é dispensável a vontade de praticar os delitos em continuação, bastando que as
condições objetivas semelhantes estejam presentes.
26) Qual a teoria adotada pelo Código Penal?
Resposta: para uma parte da doutrina, o Código Penal adotou claramente a teoria puramente objetiva, pois
o art. 71 só menciona as circunstâncias objetivas semelhantes. O crime continuado não se configura a partir
de meras circunstâncias objetivas, sem que a continuação decorra da vontade do agente. É necessário o
aproveitamento das mesmas relações e das mesmas oportunidades, pois do contrário um agente que
praticasse vários crimes, apenas pela intensa vontade de delinquir, beneficiar-se-ia da regra do crime
continuado.
27) Quais as duas posições existentes na jurisprudência com relação à teoria puramente
objetiva?
Resposta: são as seguintes:
1ª) não há incompatibilidade entre habitualidade criminosa e crime continuado, pois a lei só exige requisitos
objetivos;
2ª) o crime continuado exige um único impulso volitivo (unidade de desígnio ou dolo total), diferenciando-se,
nesse aspecto, da habitualidade criminosa.
A segunda posição é a correta.
28) Qual a distinção entre crime continuado e habitualidade criminosa?
Resposta: a habitualidade é incompatível com a continuidade. A primeira recrudesce; a segunda ameniza o
tratamento penal. Em outras palavras, a culpabilidade (no sentido de reprovabilidade) é mais intensa na
habitualidade do que na continuidade. Em sendo assim, jurídico-penalmente, são situações distintas. Não
podem, outrossim, conduzir ao mesmo tratamento.
O crime continuado favorece o delinquente. A habitualidade impõe reprovação maior, de que a pena é
expressão, finalidade (CP, art. 59, in fine), estabelecida segundo seja necessária e suficiente para
reprovação e prevenção do crime.
Na continuidade há sucessão circunstancial de crimes. Na habitualidade, sucessão planejada, indiciária do
modus vivendi do agente. Seria contraditório instituto que recomenda pena menor ser aplicada à hipótese
que reclama sanção mais severa. Conclusão coerente com interpretação sistemática das normas do Código
Penal.
29) O que são crimes da mesma espécie?
Resposta: há duas posições:
1ª) crimes da mesma espécie não são os crimes previstos no mesmo tipo, mas aqueles que possuem
elementos parecidos, ainda que não idênticos;
2ª) são os previstos no mesmo tipo penal, isto é, aqueles que possuem os mesmos elementos descritivos,
abrangendo as formas simples, privilegiadas e qualificadas, tentadas ou consumadas. Correta a segunda
posição.
30) Como a jurisprudência se orienta nesse sentido?
Resposta: orienta-se da seguinte forma:
a) roubo e extorsão não são crimes da mesma espécie e, portanto, não caracterizam crime continuado;
b) roubo e furto não são crimes da mesma espécie e não admitem crime continuado entre si;
c) estupro e atentado violento ao pudor não são crimes da mesma espécie, logo não admitem continuidade
delitiva;
d) roubo e latrocínio não são crimes da mesma espécie, “pois no roubo ocorrem a subtração e o
constrangimento ilegal, enquanto no latrocínio, subtração e a morte da vítima”.
31) É admissível a continuidade delitiva nos crimes praticados em cidades ou bairros
distintos?
Resposta: admite-se que crimes praticados em bairros diversos de uma mesma cidade, ou em cidades
próximas, podem ser entendidos como praticados em condições de lugar semelhantes, pois existe
continuidade delitiva entre crimes praticados em cidades distintas, porém vizinhas.
32) Qual o limite admitido para a existência de continuidade delitiva?
Resposta: a jurisprudência admite continuidade delitiva até o espaço máximo de 30 dias entre os crimes
praticados.
33) Como se impede o reconhecimento da continuidade delitiva?
Resposta: a variação de comparsas impede o reconhecimento da continuidade delitiva. Agir solitário em um
crime e com comparsas em outro impede o reconhecimento do crime continuado.Do mesmo modo, se há
emprego de arma em um crime e não há no outro, não se reconhece a continuidade delitiva.
34) É possível crime continuado entre delitos culposos?
Resposta: é possível, desde que sejam crimes da mesma espécie.

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