Você está na página 1de 78

See

discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/305280031

A Fisioterapia em um grupo de reeducação


perineal masculino

Article · March 2011

CITATION READS

1 1,099

3 authors, including:

Lia Ferla LL Paiva


Universidade Federal do Rio Grande do Sul Universidade Federal do Rio Grande do Sul
8 PUBLICATIONS 7 CITATIONS 15 PUBLICATIONS 12 CITATIONS

SEE PROFILE SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Effectiveness of training of pelvic floor muscles in group for women with urinary incontinence: a
randomized clinical test View project

All content following this page was uploaded by Lia Ferla on 18 August 2016.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Março / Abril de 2011

Brasil
Ano 12 - no 2
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - Março/Abril de 2011
ISSN 1518-9740

Urologia
• Grupo de reeducação perineal masculino

Lipoaspiração
99 aa 12
12 dedeoutubro • Ultrassom e massoterapia em fibrose tecidual tardia
Vem
Vemaíaí
outubro

Fisioterapia
Centro
Centro Sul
Sul Respiratório
• Distrofia muscular oculofaríngea

FISIOTERAPIA:
FISIOTERAPIA: Coluna
DA
DAESPECIALIDADE
ESPECIALIDADE • Coluna torácica e função do ombro

XIX
XIXCongresso
CongressoBrasileiro
Brasileirode
de ÀÀINTEGRALIDADE
INTEGRALIDADE • Coluna vertebral e postura em crianças

FISIOTERAPIA
FISIOTERAPIA Laserterapia

Physical Therapy Brazil


• Laser baixa potência na osteoartrose
AFB
AFB 2011
2011 FLORIANÓPOLIS
FLORIANÓPOLIS ACESSE
ACESSEOOSITE
SITEE E
CONFIRA
CONFIRAOOPRAZO
PRAZO
PARA
PARAENVIO
ENVIODEDE
TEMAS
TEMASLIVRES.
LIVRES.

www.afbfloripa2011.com.br
www.afbfloripa2011.com.br

!
Categorias
Categorias AtéAté 01/08/11 AtéAté
01/08/11 30/09/11
30/09/11 NoNo evento
evento
Associados
Associados AFBAFB R$ 330,00
R$ 330,00 R$ 365,00
R$ 365,00 R$ 400,00
R$ 400,00
NãoNão associados
associados R$ R$ 470,00
470,00 R$R$ 505,00
505,00 R$R$ 540,00
540,00 Cerimônia
Cerimônia
Estudante
Estudante de de Graduação R$ R$
Graduação 275,00
275,00 R$R$ 305,00
305,00 R$R$ 340,00
340,00 deAbertura
de Abertura
Outros profissionais R$ 490,00 R$ 520,00
A cadagrupo 10
grupodede10
560,00 A inscrições
cada
Outros profissionais R$ 490,00 R$ 520,00 R$R$
560,00 pagasa a
inscrições pagas BALLETBOLSHOI
BALLET BOLSHOI
Curso
Curso (inscrito)
(inscrito) R$ R$ 120,00
120,00 R$R$ 150,00
150,00 R$R$ 11ªserá
180,00 11ª
180,00 será gratuita.
gratuita.
Só curso
Só curso (não(não inscrito)
inscrito) R$ 450,00
R$ 450,00 R$ 500,00
R$ 500,00 R$R$ 550,00
550,00
Realização Apoio Secretaria
Secretaria Executiva
Executiva
Realização Apoio

Tel.: (21) 2286-2846


Tel.: (21) 2286-2846
fisioterapia2011@jz.com.br
fisioterapia2011@jz.com.br
www.jz.com.br
www.jz.com.br

Apoio Conheça nossos outros apoiadores no site do evento.


Apoio Conheça nossos outros apoiadores no site do evento.

CREFITO10
www.atlanticaeditora.com.br
CREFITO10 13 anos
Fisioterapia Brasil
Physical Therapy Brazil
(vol. 12, nº 2 março/abril 2011 - 81~160)

EDITORIAL
Meu pseudônimo e eu, Marco Antonio Guimarães da Silva ......................................................................................................... 83

ARTIGOS ORIGINAIS
Lian Gong como forma de melhorar a qualidade de vida de idosos institucionalizados,
Carina Tárzia Kakihara, Juliana Duarte, Fernandina Marques de Oliveira,
Vanessa Cristina de Miranda Doro ................................................................................................................................................ 84
Atuação ergonômica em domésticas no Programa de Saúde da Família com equipe
multidisciplinar de fisioterapia, engenharia e informática, Ave Regina de Azevedo Silva,
José Luiz dos Santos Tepedino, Jorge Antônio Oliveira Souza,
Luana Guimarães da Silva Teixeira Arroniz, Daniel da Costa Pereira Netto,
Gabriela Ramos Almeida, Natália Q. Oliveira ............................................................................................................................... 89
Perfil de idosos do município de Itaúna/MG e influência da atividade física na dor crônica
e na capacidade funcional, Marlete Aparecida Gonçalves Melo Coelho, Daniel Silva Gontijo Penha,
Natália Corradi Drumond Mitre, Renata Antunes Lopes .............................................................................................................. 94
Avaliação clínica e por subtração digital fotográfica dos efeitos do ultrassom e massoterapia
em fibrose tecidual tardia pós-operatória à lipoaspiração, Hedioneia Maria Foletto Pivetta,
Mariana do Nascimento, Regina Berté, Caren Fleck, Heldenrlon José Foletto, Gustavo Nogara Dotto ....................................... 100
A Fisioterapia em um grupo de reeducação perineal masculino, Lia Ferla, Luiza Rohde, Luciana Paiva .................................. 107
Relações entre pacientes com doença de Parkinson e seus cuidadores: uma abordagem
da capacidade funcional e da qualidade de vida, Raquel Mileib Alves, Iara Madalena Augusto,
Núbia Carelli Pereira de Avelar, Ana Paula Santos, Erika Mattos Santangelo................................................................................ 113

RELATOS DE CASO
Fisioterapia respiratória na distrofia muscular oculofaríngea,
Débora Aparecida F. Oliveira, Elieth Nogueira Florencio............................................................................................................. 117
Avaliação, proposta de tratamento e intervenção fisioterapêutica em um paciente com aderência
cicatricial no joelho, Laís Campos de Oliveira, Isabelle Ermes Moreira Dias,
Raphael Gonçalves de Oliveira, Fábio Antônio Néia Martini ....................................................................................................... 121

REVISÕES
Aspectos da coluna vertebral relacionados à postura em crianças e adolescentes em idade escolar,
Simone Neiva Milbradt, Gabriel Ivan Pranke, Clarissa Stefani Teixeira, Luiz Fernando Cuozzo Lemos,
Rudi Facco Alves, Carlos Bolli Mota ........................................................................................................................................... 127
Fisioterapia e integralidade: novos conceitos, novas práticas. Estamos prontos?
Cristina Pellegrino Baena, Maria Cristina Flores Soares ............................................................................................................... 133
Efeitos do laser de baixa potência sobre a regeneração da cartilagem na osteoartrose,
Gabriela Barbosa Zanotti, Priscilla Irffi Oliveira, Silvia Figueiredo de Siqueira Reis, Fernanda Souza da Silva,
Angélica Rodrigues de Araújo ...................................................................................................................................................... 139
Relação entre a coluna torácica e a função do ombro: relação estática ou dinâmica?
Alan de Souza Araújo, Leandro Alberto Calazans Nogueira ......................................................................................................... 147

NORMAS DE PUBLICAÇÃO .........................................................................................................................................154


EVENTO ...........................................................................................................................................................................156
82 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Fisioterapia Brasil
www.fisioterapiabrasil.com.br
Editor
Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA)
Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto)
Dirceu Costa (Uninove – São Paulo)
Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná)
Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Jamilson Brasileiro (UFRN)
João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo)
Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul)
José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP)
José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo)
Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC)
Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ)
Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos)
Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ)
Neide Gomes Lucena (UFPB)
Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo)
Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Victor Hugo Bastos (UFVJM – Diamantina – MG)

Grupo de assessores
Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro)
Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências
da Saúde, CINAHL, LATINDEX
Abreviação para citação: Fisioter Bras

Atlântica Editora Editor executivo


e Shalon Representações E-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br Dr. Jean-Louis Peytavin
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 www.atlanticaeditora.com.br jeanlouis@atlanticaeditora.com.br
Centro 01037-010 São Paulo SP
Editor assistente
Atendimento Guillermina Arias
(11) 3361 5595 / 3361 9932 guillermina@atlanticaeditora.com.br
E-mail: assinaturas@atlanticaeditora.com.br
Diretor Direção de arte
Assinatura Antonio Carlos Mello Cristiana Ribas
1 ano (6 edições ao ano): R$ 240,00 mello@atlanticaeditora.com.br cristiana@atlanticaeditora.com.br

Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br

I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.


© ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, ele-
trônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer
responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no
material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é
uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 83

Editorial

Meu pseudônimo e eu

Marco Antonio Guimarães da Silva

Como pesquisadores e professores de curso de pós-gra- multiplicam. Trata da figura do baladeur, que perambula por
duação Stricto Sensu (mestrado e doutorado) também somos múltiplos espaços, geográficos e virtuais, como um observa-
obrigado a fazer o nosso dever de casa, um deles é escrever e dor anônimo em constante deslocamento. A literatura, com
publicar artigos científicos. Para a grande maioria dos pes- seus escritores, personagens e projetos, se transforma em um
quisadores o ato de escrever artigos científicos representa a grande espaço, onde sonho e realidade duelam entre si. Um
primeira experiência como artífice das palavras, mas possui, de meus desejos, nessa obra, é que, pelas “ruas” do texto, os
contudo, uma característica muito peculiar: somos, enquanto leitores possam ser conduzidos a reconstruir o olhar hesitante
escritores pesquisadores narradores que utilizamos um ma- do flâneur, dividido entre o horror e o encantamento, entre
terial linguístico que fala para um leitor invisível, um leitor o pesadelo e o sonho.
impessoalizado. Não precisamos, nesse caso, fundamentar os Se me perguntarem, mas porque o pseudônimo? Eu da-
personagens, simplesmente porque eles não existem. O que rei a mesma resposta que dei para um crítico literário norte
escrevemos, como autores científicos, quando chega aos nossos americano especialista em literatura portuguesa, o professor
leitores, não se transforma em imagens que os remeterão a Russell Hamilton, da Vanderbilt University e emérito da Yale
um ou mais universos, universos estes que mexerão com as (os comentários dele e de outros críticos podem ser vistos em
suas emoções, os seus sentimentos, os seu medos ou com “Bloco de Notas” do site: www.paul-lodd.fr): não sei, mas
tudo aquilo que a sua mente seja capaz de elaborar. Talvez um conselhos para que eu abandonasse a idéia do pseudônimo
artigo, que revelasse a descoberta de um meteoro em rota de não me faltaram. Meus familiares e amigos praticamente me
colisão a terra, ou uma pesquisa, que identificasse a mutação suplicaram: assine o livro com o teu próprio nome. Entretan-
de um vírus cuja letalidade nos mandaria para o além, fugisse to, não foi pelo meu nome que adotei o pseudônimo; enfim,
ao que acabei de dizer. ele não é tão comum e ordinário. Eu mesmo já me perguntei
Como bom geminiano que dizem que sou, achei que era se estaria com vergonha dele. Mas, depois pensei: afinal não
hora de mudar, de fazer incursões mais ousadas e aventurar-me fui batizado como Dezêncio Feverêncio de Oitenta e Cinco ou
no campo da ficcionalização. A mudança não foi repentina, Fridundino Eulâmpio. Sei que esses nomes existem, e os seus
porque a maior parte dos editorais que escrevi, nesses últimos donos, tenho a certeza, se um dia escrevessem um livro, não
doze anos, para Fisioterapia Brasil foram atravessados por uma usariam um pseudônimo. Não envergonhariam os seus pais
visão interessada na sociedade, fugindo da estrutura de artigos ou seja lá quem quer que lhes tenha dado essas barbaridades
científicos, e serviram como uma ponte que me levou ao mudo alcunhativas. Portanto, a vergonha do nome em si não se
ficcional. O meu primeiro romance De escritores, fantasmas aplicava ao meu caso. Seja lá como for, Inês é morta. Talvez,
e mortos (Ed. Livre Expressão), escrito sob o pseudônimo de no segundo livro, já a caminho – Meu pseudônimo e eu –, eu
Paul Lodd, trata da flânerie e da violência das urbes atuais, assine o livro com o meu próprio nome.
onde a multidão já não é mais um refúgio para o flâneur Ass. Paul Lodd, Marco Antonio ou.....?
dos chamados tempos pós-modernos e onde os impasses se

*Professor Associado da UFRRJ e de Doutorado no exterior.


84 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Artigo original

Lian Gong como forma de melhorar a qualidade


de vida de idosos institucionalizados
Lian Gong to improve quality of life of institutionalized elderly people
Carina Tárzia Kakihara, Ft., M.Sc.*, Juliana Duarte, Ft., M.Sc.**, Fernandina Marques de Oliveira, Ft.***,
Vanessa Cristina de Miranda Doro***

*Docente do curso de Fisioterapia da Universidade Paulista, São Paulo, **Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulis-
ta, São Paulo, Doutorando em Engenharia Biomédica pela Universidade de Mogi das Cruzes, ***Universidade Paulista, São Paulo

Resumo Abstract
O envelhecimento populacional caracteriza-se pelo acúmulo de The Brazilian population aging is characterized by the pro-
incapacidades progressivas nas suas atividades funcionais e de vida gressive accumulation of disability in their functional activities
diária. O acelerado ritmo de envelhecimento no Brasil cria novos de- and daily life. The accelerated pace of aging in Brazil creates new
safios para a sociedade brasileira contemporânea, onde esse processo challenges for contemporary Brazilian society, where this process
ocorre num cenário de profundas transformações sociais, urbanas, occurs in a scenery of profound social, urban, industrial and family
industriais e familiares. Os idosos institucionalizados apresentam um transformation. The institutionalized elderly have a different profile,
perfil diferenciado, grande nível de sedentarismo, carência afetiva, high level of inactivity, lack of affection, loss of autonomy due to
perda de autonomia causada por incapacidades físicas e mentais e physical and mental disabilities and insufficient financial support.
insuficiência de suporte financeiro. Um meio que oportuniza a reali- The Lian Gong, a set of exercises developed in China, enables the
zação do sentir, do refletir e do conscientizar sobre o envelhecimento elderly to feel, to reflect and to acquire knowledge about aging, and,
é através da vivência de ginástica terapêutica chinesa denominada also allows the individuals to move taking into consideration their
Lian Gong, que permite ao indivíduo se mover respeitando sua con- physical ability. The purpose of this study was to analyze through
dição física. O objetivo do presente trabalho foi analisar a qualidade the quality of life questionnaire SF-36 the elderly quality of life
de vida dos idosos, após a intervenção terapêutica do Lian Gong, after therapeutic intervention of Lian Gong. The participants of
com o questionário de qualidade de vida SF-36. Participaram deste this project were institutionalized elderly of both genders, above
projeto idosos institucionalizados, de ambos os sexos, acima de 59 59 years, who were subjected to an exercise program of Lian Gong
anos, que foram submetidos a um programa de exercícios do Lian for seven consecutive weeks twice a week. From the six domains
Gong durante sete semanas consecutivas duas vezes por semana. Dos SF-36: functional capacity, pain, general health, social, emotional,
seis domínios do SF-36: capacidade funcional, dor, estado geral de and limitations on mental health, only pain showed significant
saúde, aspectos sociais, limitações por aspectos emocionais e saúde statistic different (p = 0.05). The results suggested that Lian Gong
mental, apenas o aspecto dor apresentou diferença estatisticamente is effective in the treatment of institutionalized elderly and can
significante (p = 0,05). Os resultados sugerem que essa ginástica change their quality of life.
terapêutica é eficaz no tratamento de idosos institucionalizados e Key-words: elderly, quality of life, physical therapy.
pode modificar a qualidade de vida.
Palavras-chave: idosos, qualidade de vida, fisioterapia.

Recebido em 30 de março de 2009; aceito em 16 de março de 2011.


Endereço para correspondência: Carina Tárzia Kakihara, Rua Padre Machado, 778/94 Bosque da Saúde 04127-001 São Paulo SP, Tel: (11) 5575-
0900, E-mail: carinatk@yahoo.com.br, carinatk@ig.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 85

Introdução que sejam de baixo custo e fácil implantação, com resultado


de prevenção de morbidades e melhoria da qualidade de vida
No Brasil, a transição demográfica é incontestável. Até percebida e bem-estar subjetivo. Este tema é de natureza
o ano de 2025, possivelmente ocuparemos o sexto lugar complexa e abrangente. A definição da Organização Mundial
da população de idosos do planeta com 31,8 milhares de de Saúde para qualidade de vida como sendo: “a percepção
indivíduos com 60 anos ou mais. Porém, estamos longe de do indivíduo quanto a sua posição na vida, no contexto da
atingirmos o envelhecimento bem sucedido. O envelheci- cultura e do sistema de valores em que vive, levando em conta
mento populacional caracteriza-se pelo acúmulo de incapa- suas metas, suas expectativas, seus padrões e suas preocupa-
cidades progressivas nas suas atividades funcionais e de vida ções”, contempla a interação entre vários fatores presentes na
diária, associada às condições socioeconômicas adversas. A terceira idade [4].
mortalidade é substituída por comorbidades e a manutenção Profissionais que trabalham com o processo do enve-
da capacidade funcional surge, portanto, como um novo lhecimento nas mais diversas áreas de saber (médicos, fisio-
paradigma de saúde, relevante para o idoso. O acelerado terapeutas, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e outros)
ritmo de envelhecimento no Brasil cria novos desafios para tentam proporcionar, em todos os níveis de atenção (primário,
sociedade brasileira contemporânea, onde esse processo ocorre secundário e terciário), o bem estar biopsicossocial dos idosos
num cenário de profundas transformações sociais, urbanas, institucionalizados, potencializando suas funções globais a
industriais e familiares [1]. fim de obter uma maior independência, autonomia e melhor
Com o aumento da expectativa de vida da população, as qualidade para essa fase de vida [5].
instituições de longa permanência, destinadas a prestar assis- O questionário genérico SF-36 é um instrumento de
tência aos idosos, tornam-se cada vez mais necessárias. Além medida da qualidade de vida relacionada à saúde que é mun-
disso, fatores como perda de autonomia causada por incapa- dialmente utilizado e possui validação em mais de 15 países.
cidades físicas e mentais, ausência da família para prestar-lhes É multidimensional formado por 36 itens, englobados em
assistência e a insuficiência de aporte financeiro do idoso e/ 8 escalas (componentes): Capacidade Funcional, Aspectos
ou seus familiares fazem com que as instituições voltadas para Físicos, Dor, Estado Geral de Saúde, Vitalidade, Aspectos
a assistência aos idosos sejam cada vez mais solicitadas [2]. Sociais, Aspectos Emocionais e Saúde Mental. Cada um
Os idosos institucionalizados apresentam um perfil desses componentes possui um escore, cuja pontuação varia
diferenciado, alto nível de sedentarismo, carência afetiva, de 0 a 100, sendo zero o pior estado de saúde e 100 o melhor
perda de autonomia causada por incapacidades físicas e estado de saúde. Cada escala possui de 2 a 10 itens, sendo que
mentais e insuficiência de suporte financeiro. Estes fatores o conjunto delas pode ser resumido através das duas medidas:
contribuem para a grande prevalência de limitações físicas Componente Físico e Componente Mental. O resultado é
e comorbidades refletindo em sua independência e autono- expresso numa pontuação de 0-100 para cada uma das oito
mia. O novo paradigma de saúde do idoso brasileiro é como escalas ou através do escore normalizado [6].
manter a capacidade funcional, mantendo-o independente Um meio que oportuniza a realização do sentir, do refletir
e preservando a sua autonomia. O idoso institucionalizado e do conscientizar sobre o envelhecimento é através da vivência
e a entidade que o abriga, geralmente, não conseguem arcar de ginástica terapêutica chinesa denominada Lian Gong, que
sozinhos com a complexidade e as dificuldades da senescência permite ao indivíduo se mover respeitando sua condição física.
e/ou senilidade [1]. Trazido da cultura chinesa, o Lian Gong é composto por séries
A longevidade cada vez maior do ser humano acarreta uma de 18 exercícios completos e de fácil assimilação, extraídos
situação ambígua, vivenciada por muitas pessoas, mesmo pelas das técnicas do Tai Chi Chuan. Esta atividade é considerada
ainda não idosas: o desejo de viver em meio a incapacidades e excelente para exercitar o corpo, não tento limites de idade,
a dependência. De fato, o avanço da idade aumenta a chance ou seja, qualquer um pode praticá-la e seus benefícios são
de ocorrência de doenças e de prejuízos à funcionalidade percebidos naturalmente, sem esforços [7].
física, psíquica e social. Mais anos vividos podem ser anos de O Lian Gong foi criado pelo médico ortopedista e
sofrimento para indivíduos e suas famílias, anos marcados por especialista em Tui-ná, Dr. Zhuang Yuan Ming. O méto-
doenças, com sequelas, declínio funcional, aumento da depen- do, desde que foi lançado, em 1974, obteve uma grande
dência, perda da autonomia, isolamento social e depressão. aceitação dos pacientes e praticantes de exercícios, devido
No entanto, se os indivíduos envelhecerem com autonomia e a sua objetividade e simplicidade [8]. Compreendem-se as
independência, com boa saúde física, desempenhando papéis práticas corporais como atividades de movimentos estrutu-
sociais, permanecendo ativos e desfrutando de senso de sig- rados que objetivam o alongamento, a melhoria do tônus
nificado pessoal, a qualidade de vida pode ser muito boa [3]. muscular, a consciência postural e suas inter-relações, a
Nesse contexto, tornam-se necessárias não só informações recuperação dos movimentos naturais (quer do ponto de
sobre a qualidade de vida na terceira idade, mas também vista articular, quer muscular), promovendo, dentre vários
programas coletivos de atenção completa e interdisciplinar benefícios, o aumento da capacidade respiratória e a pro-
que atuem em vários aspectos do processo de envelhecimento, dução de endorfinas [9].
86 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

O Lian Gong em 18 terapias é considerado pelo Conselho O questionário foi aplicado aos idosos institucionalizados que
Nacional e pelo Conselho de Práticas Corporais de Shangai responderam ao questionário SF-36 e praticaram os exercícios
como uma das técnicas que mais bem representam a cultura do Lian Gong (primeira parte).
milenar chinesa na área de práticas corporais dentro e fora Os grupos foram submetidos, durante 7 semanas con-
da China [8]. secutivas, a um programa terapêutico que utilizaram como
Os movimentos são lentos, contínuos, combinados procedimento o Lian Gong.
com a respiração natural. Os pacientes atingem a meta
de um ritmo respiratório regular, homogêneo e longo, Protocolo de atendimento
aumentando a profundidade e a duração de cada res-
piração. Portanto, deve-se coordenar movimento com Os idosos responderam ao questionário de qualidade de
respiração, aumentando gradativamente a dosagem dos vida SF-36 no início e no término do tratamento; e partici-
exercícios [10]. param de um programa de exercícios do Lian Gong (primeira
Trata-se de um recurso ou instrumento terapêutico de parte). No início e no final de todos os exercícios foi aferida
grande eficácia se devidamente utilizado, de baixíssimo custo, e anotada a pressão arterial e a frequência cardíaca de cada
se atentarmos para o aspecto essencialmente preventivo, desde paciente, estando os idosos em repouso e em sedestação.
que se consiga criar o hábito nas pessoas em relação a sua Seis idosos realizaram a prática do Lian Gong na Insti-
prática diária, sensibilizando-as quanto aos seus benefícios. tuição de Longa Permanência Ondina Lobo, duas vezes por
Não somente reduzirá a frequência das síndromes dolorosas semana. Eles foram acompanhados e reavaliados após sete
do corpo, como também, no caso do surgimento de dores semanas utilizando o questionário de qualidade de vida SF-
iniciais, as pessoas terão à mão um instrumento valioso de 36 que avalia oito domínios: capacidade funcional, limitação
como cuidarem da própria saúde [10]. por aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade,
aspectos emocionais e saúde mental. Os resultados finais
Objetivo variam de 0 a 100, sendo 0 o pior resultado e mais perto de
100 o melhor resultado.
Comparar a qualidade de vida dos idosos institucionali- Todos os exercícios foram realizados na posição ortostática
zados antes e após a intervenção terapêutica do Lian Gong. e trabalhavam a musculatura do pescoço, membros superio-
res, membros inferiores e tronco. Além disso, os exercícios
Material e métodos estimulavam a respiração, a coordenação, o equilíbrio estático
e dinâmico. O tempo total de exercícios foi em média de 30
Critérios de inclusão minutos, sendo realizada uma sequência de 18 exercícios. Não
houve tempo de repouso entre um exercício e o seguinte, pois
• Indivíduos na faixa etária entre 59 e 93 anos; essa ginástica chinesa possui uma sequência padronizada de
• Pacientes que lessem, compreendessem e assinassem o exercícios consecutivos sem intervalo de descanso. Só após o
termo de consentimento; décimo oitavo exercício, os idosos descansavam sentados para
repousarem. Como foi necessário aferir a pressão arterial e
Critérios de exclusão anotar a frequência cardíaca de cada participante do grupo,
antes e após a realização dos exercícios do Lian Gong, o
• Pacientes com doenças neurológicas que necessitassem de tempo de trabalho durou em média 1 hora. Os movimentos
auxílio para deambular; realizados foram flexão, extensão e rotação para os lados
• Pacientes com deficiência visual e auditiva total; direito e esquerdo da cabeça; flexão, extensão e circundução
• Pacientes com cardiopatia grave; dos ombros; flexão e extensão dos cotovelos; pronação e
• Pacientes com hipertensão arterial sistêmica descontrolada. supinação de antebraços; flexão, extensão, inclinação lateral
e rotação do tronco; flexão, extensão, abdução e adução dos
Amostra quadris; flexão e extensão dos joelhos; dorsiflexão e flexão
plantar de tornozelos.
Participaram deste projeto idosos institucionalizados, de
ambos os sexos, acima de 59 anos. Estes formaram um único Análise estatística
grupo e foram supervisionados por duas terapeutas. A amostra
estudada foi composta por 6 pacientes da Casa dos Velhinhos Os dados foram apresentados através de média e desvio
de Ondina Lobo, apresentando idade média de 77 anos, padrão para cada item avaliado e, em seguida, foi comparada
sendo 4 mulheres e 2 homens, que realizaram os exercícios a diferença estatisticamente significante através do teste t de
por um período de 7 semanas consecutivas, sendo a prática Student, considerando p < 0,05.
realizada duas vezes por semana com duração de 30 minutos.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 87

Resultados e discussão to, o domínio limitações por aspectos físicos não apresentou
alteração e no domínio vitalidade ocorreu diminuição quando
Tabela I - Resultados dos domínios antes e após a aplicação do comparado à avaliação do questionário inicial e final.
Lian Gong. Os idosos institucionalizados apresentam perfil diferencia-
Domínios 1ª fase 2ª fase Resultados do, grande nível de sedentarismo, carência afetiva, perda de
Capacidade funcional 70,83% 78,33% aumento autonomia causada por incapacidades físicas e mentais. Estes
Limitação por aspectos fatores contribuem para a grande prevalência de limitações
45,83% 45,83% sem alteração físicas e comorbidades refletindo em sua independência e
físicos
Dor 45,83% 77,5% aumento autonomia [1].
Estado geral de saúde 62% 72,16% aumento Nas práticas do Lian Gong devem ser observados os
Vitalidade 75,83% 59,16% diminuição seguintes princípios: movimentação global, foco específico,
Aspectos sociais 81,25% 85,41% aumento treinar com alegria, realizar o movimento de forma lenta,
Limitações por aspectos homogênea e contínua, coordenar o movimento e a respiração.
44,43% 72,22% aumento
emocionais O movimento deve ser amplo e a finalidade principal é obter
Saúde mental 71,33% 77,33% aumento o Qi. A prática com dosagem adequada e gradativa ajuda a
prevenir e tratar doenças [10].
De acordo com a Tabela I, observa-se que ocorreu aumento A sincronicidade entre movimento e respiração potenciali-
da porcentagem nos domínios: capacidade funcional, dor, za esta harmonização, que juntamente com a correta execução
estado geral de saúde, aspectos sociais, limitações por aspectos dos exercícios são requisitos para alcançar resultados eficazes,
emocionais e saúde mental. Entretanto houve diminuição da favorecendo a recuperação das funções fisiológicas localizadas
vitalidade. e globais [11].
As vantagens da prática do Lian Gong são fortalecer o sis-
Tabela II - Resultados da média e desvio padrão dos domínios pré tema imune, fortalecer o corpo, recuperar a vitalidade fisioló-
e pós e os valores de p. gica, manter a função do sistema digestivo, ativar a circulação,
Va- prevenir dores e doenças e retardar o envelhecimento [7].
Domínios pré pós lores Neste estudo, o questionário de qualidade de vida SF-36
de p mostra melhora do estado geral de saúde e da dor após a reali-
Capacidade zação da prática do Lian Gong nos idosos pesquisados, fato que
70,83 ± 22,80 78,33 ± 26,08 0,63 coincide com os achados de Almeida [7]. Entretanto, em nosso
funcional
Limitação por estudo não houve recuperação da vitalidade fisiológica, pois o
45,83 ± 33,59 45,83 ± 33,59 0,98
aspectos físicos resultado do SF-36 mostrou uma diminuição da porcentagem
Dor 45,83 ± 27,58 78,3 ± 18,08 0,05 desse domínio após a técnica de Lian Gong. Isto se deve, pro-
Estado geral vavelmente, ao fato dos idosos deste estudo serem indivíduos
62 ± 12,90 70,5 ± 17,07 0,39
saúde com histórico de institucionalização de longa data, além de apre-
Vitalidade 64,16 ± 14,26 65 ± 13,22 0,92 sentar uma média alta de idade (77 anos), o que justifica maior
Aspecto social 79 ± 21,09 85,33 ± 15,29 0,59 probabilidade da queda da vitalidade no decorrer do tempo.
Limitações por O Lian Gong não inibe nem ridiculariza os praticantes,
aspectos emocio- 44,33 ± 45,75 75,5 ± 37,87 0,26 respeita o limite de cada um, resgata a consciência corporal
nais e, principalmente, resgata os valores de autoestima do ser
Saúde mental 71,33 ± 12,31 77,33 ± 17,23 0,54 humano, o que leva os pacientes a se sentirem melhor consigo
mesmo e com as pessoas com quem convivem [9].
Foram considerados estatisticamente significantes dados A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complemen-
com valores de p menor ou igual a 0,05. Neste caso somente o tares no Sistema Único de Saúde (SUS), aprovada pela Portaria
aspecto dor apresentou diferença estatisticamente significante, n° 971, de 3 de maio de 2006, e no município de São Paulo
mesmo com as demais variáveis terem apresentado valores pela Lei n° 14682 de 30/01/2008, considera o Lian Gong
superiores às iniciais. como uma das práticas integrativas da Medicina Tradicional
A prática do Lian Gong favorece uma movimentação Chinesa, simples, de fácil aprendizado e execução por meio de
global, coordenada e harmoniosa, podendo agir numa doença movimentos lentos, contínuos, equilibrados e naturais [12].
localizada, restaurando, porém, o equilíbrio do organismo No presente estudo constata-se melhora de limitações por
como um todo, bem como os fluxos de alto e baixo, de ex- aspectos emocionais, pois, conforme relata Simoni [9], esta
pansão e recolhimento, de entrada e saída de Qi [8]. técnica aplicada em idosos gera bem-estar físico e melhora
Neste estudo observa-se aumento nos domínios capaci- a autoestima nos praticantes dessa ginástica. No entanto, o
dade funcional, dor, estado geral de saúde, aspectos sociais, domínio limitações por aspectos físicos não sofreu alteração
limitações por aspectos emocionais e saúde mental. Entretan- após a aplicação do Lian Gong nesses idosos.
88 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

A participação nos grupos de Lian Gong contribui para a Anais do 8º Encontro de Extensão UFMG. Belo Horizonte,
interrupção do isolamento, para o fortalecimento de víncu- outubro de 2005.
los, para o encorajamento da ajuda mútua, e o agrupamento 2. Gallo JJ, Busby-Whitehead J, Rabins PV, Silliman RA, Murphy
estimula a inserção dos indivíduos na sociedade em busca de JB. Assistência ao idoso: aspectos clínicos do envelhecimento. 5ª
ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999. 635p.
ambientes saudáveis [13]. A prática coletiva do Lian Gong,
3. Freitas EV, Py L, Flávio Aluizio Xavier Cançado FAX, Gorzoni
sob seu aspecto grupal nessa instituição de longa permanência ML. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 1ª ed. Rio de Janeiro:
colaborou no desenvolvimento de habilidades pessoais e na Guanabara Koogan; 2002. 1187p.
interação social. 4. Castro PC, Tahara N, Rebellato JR, Driusso P, Alveiro MC,
Os limites deste estudo foram pequeno tamanho da Oishi J. Influência da universidade aberta da terceira idade
amostra, idosos crônicos com história de longa duração de (UATI) e do programa de revitalização (REVT) sobre a qualida-
institucionalização e com diferentes doenças e diferentes diag- de de vida de adultos de meia-idade e idosos. Rev Bras Fisioter
nósticos médicos. Esses dados foram coletados em um prazo 2007;11(6):461-7.
especifico e em um único local, o que dificulta a generalização 5. Neri AL. Qualidade de vida na idade madura. 2ª ed. Campinas:
Papirus; 1999. 284p.
dos dados para outras populações.
6. Campolina AG, Ciconelli RM. O SF-36 e o desenvolvimento de
Na população pesquisada do presente estudo, contatou-se
novas medidas de avaliação de qualidade de vida. Acta Reumatol
que, por meio do instrumento utilizado para avaliar a qua- Port 2008;33:127-33.
lidade de vida, o Lian Gong é uma forma de cinesioterapia 7. Almeida ST. Modificações da percepção corporal e do processo
eficaz que pode ser utilizada em idosos institucionalizados, de envelhecimento no indivíduo idoso pertencente ao grupo
pois ocorreu melhora em seis domínios do SF-36. Entretanto, Reviver. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento
novos estudos, com amostragem maior, devem ser realizados Humano 2004;1(1):86-98.
para confirmação destes achados. 8. Lee ML. Lian Gong em 18 terapias forjando um corpo saudá-
vel: Ginástica chinesa do Dr. Zhuang Yuan Ming. São Paulo:
Conclusão Pensamento; 1997.
9. Simoni CA. Ginástica terapêutica chinesa Lian Gong: Estudo
de caso da sua inserção no SUS [Dissertação]. Salvador: Uni-
Embora este estudo apresente limitações, como o tamanho versidade Federal da Bahia; 2006.80p.
da amostra, verificou-se que, após a prática do Lian Gong, 10. Costa MP. Manual de normas e procedimentos das atividades
somente o aspecto dor apresentou diferença estatisticamente do núcleo de medicina natural e terapêuticas de integração.
significante, mesmo com os demais domínios do SF-36 terem Brasília: NUMENATI; 2005.
apresentado valores superiores aos iniciais. Os resultados suge- 11. Livramento G, Franco T, Livramento A. A ginástica terapêutica
rem que o Lian Gong é uma pratica eficaz no tratamento de e preventiva chinesa Lian Gong/Qi Gong como um dos instru-
idosos institucionalizados que pode modificar a qualidade de mentos na prevenção e reabilitação da LER/DORT. Rev Bras
vida dessa população em diversos domínios como: melhora da Saúde Ocup 2010;35(121):78-86.
12. Ming ZY. Lian Gong Shi Ba Fa: Lian Gong em 18 terapias. São
capacidade funcional, diminuição da dor, aumento do estado
Paulo: Pensamento; 2004.
geral da saúde, incremento dos aspectos sociais e emocionais
13. Yamakawa AHH, Bugulin E, Campos L, Tavares D. A interface
e aumento da saúde mental. das doenças crônicas e a prática do Lian Gong. Caderno Técnico
DANT- Doenças e agravos não transmissíveis. Capacitação em
Referências avaliação da efetividade das ações de promoção da saúde em
doenças e agravos não transmissíveis. Artigos da Coordenadoria
1. Pereira LSM, Britto RR, Pertence AEM, Cavalcante EC. Progra- Regional Sudeste. São Paulo: Prefeitura de São Paulo; 2009.
ma melhoria da qualidade de vida dos idosos institucionalizados. p.57-59.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 89

Artigo original

Atuação ergonômica em domésticas no Programa


de Saúde da Família com equipe multidisciplinar
de fisioterapia, engenharia e informática
Ergonomic program in housemaids in the Family Health Program
with multidisciplinary team of physical therapy, engineering
and computer science
Ave Regina de Azevedo Silva, Esp., M.Sc.*, José Luiz dos Santos Tepedino, D.Sc. **, Jorge Antônio Oliveira Souza, Esp.***,
Luana Guimarães da Silva Teixeira Arroniz****, Daniel da Costa Pereira Netto *****, Gabriela Ramos Almeida*****,
Natália Q. Oliveira*****

*Profª. Adjunta nas Disciplinas Saúde do Trabalhador, Fisioterapia Preventiva, Saúde Escolar e Fisioterapia em Reumatologia,
Supervisora de Estágio do Curso de Graduação de Fisioterapia - Centro de Ciências da Saúde (UCP), **Prof. Adjunto das Disci-
plinas Engenharia de Segurança do Trabalho, Ergonomia, Planejamento Estratégico e Noções de Marketing da UCP, Coordenador
dos Cursos de Engenharia de Produção, Produção Mecânica, Produção Elétrica, Produção Civil e Tecnólogo em Gestão Industrial do
Centro de Engenharia e Computação da UCP, ***Prof. de Sistemas de Informação da UCP, ****Estudante do Curso de graduação
de Fisioterapia colaboradora bolsista do PIBIC-CNPq/UCP, *****Estudantes do Curso de graduação de Engenharia, Fisioterapia e
Informática, colaboradores bolsistas do PIBIC-FCRM/UCP

Resumo Abstract
Objetivo: Esta pesquisa teve como objetivo geral aplicar um Aim: The aim pf this study was to apply an ergonomic domes-
modelo ergonômico doméstico em uma unidade básica de saúde tic model in a basic health unit of Petrópolis/RJ. Population: 101
no município de Petrópolis/RJ. População: 101 indivíduos, 97,03% individuals, 97.03% female and 2.97% male, with average age of
do sexo feminino e 2,97% do sexo masculino, com idade média 54.07 years old. Methods: Application of a questionnaire; Elabora-
de 54,07 anos. Métodos: Aplicação de questionário; Elaboração de tion of a booklet and software; Ergonomic analysis; Performance of
cartilha e software; Análise ergonômica; Realização de trabalho edu- educational work. Results: Printed booklet of Ergonomics at Home
cativo. Resultados: Cartilha impressa de Ergonomia no Lar na versão version 2.0 and software. The percentages of the incorrect postures
2.0 e software. As porcentagens das posturas incorretas foram: 11% were: 11% sleeping in bed, 24,75% getting up from bed, 60,40%
dormindo na cama, 24,75% levantando da cama, 60,40% vestindo dressing shorts, trousers, socks or shoes, 40.59% teeth brushing,
bermuda, calça comprida, meias ou sapatos, 40,59% escovando 15.84% washing dishes, 47.52% storing food in the cupboard,
dentes, 15,84% lavando louças, 47,52% colocando alimentos no 57,42% sitting posture, 58,42% picking up objects from the floor,
armário, 57,42% postura sentada, 58,42% pegando objetos no 47.52% ironing clothes, 37.62% sweeping house, 17.82% reading
chão, 47,52% passando roupas, 37,62% varrendo a casa, 17,82% a book or magazine, 34.65% climbing stairs, 23.76% posture inside
lendo um livro ou revista, 34,65% subindo escadas, 23,76% postura the bus, 31.68% carrying heavy bags. Conclusion: It was concluded
dentro do ônibus, 31,68% carregando sacolas pesadas. Conclusão: that this research obtained a significant ergonomic performance
Obteve-se com esta pesquisa uma atuação ergonômica significante using a print educational booklet, educational work and software.
através da divulgação por meio impresso da cartilha, trabalho edu- Key-words: human engineering, multidisciplinary team,
cativo e software. community.
Palavras-chave: engenharia humana, equipe multidisciplinar,
comunidade.

Recebido 17 de dezembro de 2009; aceito em 28 de fevereiro de 2011.


Endereço para correspondência: Ave Regina de Azevedo Silva, Rua General Osório, 57/303, 25620-160 Petrópolis RJ, Tel: (24) 9964-2587, E-mail:
ave.regina@ucp.br
90 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Introdução A ginástica laboral é um recurso que apresenta benefícios


primários ao trabalhador na prevenção das doenças ocupacio-
Ergonomia é um conjunto de ciências e tecnologias que nais, estando, porém, associada às intervenções ergonômicas,
procura adaptação confortável e produtiva entre o ser humano com modificações no setor de trabalho e a participação vo-
e seu trabalho [1]. Pode ser definida como a adaptação do luntária na terapia, levando-lhes segurança, funcionalidade
trabalho ao homem [2]. e bem estar, sendo que muitas vezes, pequenas mudanças
As duas categorias da ergonomia doméstica, a profissional representam grandes benefícios [3,13-15].
doméstica e a dona-de-casa executam as diversas atividades A saúde ocupacional ou profissional junto à comunidade
do lar, contínua, repetitivamente, e frequentemente força os contribui na soma de todos os esforços para melhorar a saúde
braços e mãos, associado a posturas incorretas, envolvendo dos trabalhadores, tanto em seu ambiente de trabalho como
exposição para alguns fatores de risco para o sistema muscu- na comunidade [16].
loesquelético. As atividades de lavar, passar roupa, cozinhar, Este estudo teve como objetivo geral aplicar um modelo
varrer, usar o aspirador de pó, limpar o chão, limpar banheiro, ergonômico doméstico em uma unidade básica de saúde no
utilizando posturas incorretas provocam dores na região da município de Petrópolis e como objetivos específicos desen-
coluna vertebral e membros superiores. E grande parte não volver uma cartilha e um software ergonômico educativo;
sabe que suas queixas tem origem destas posturas. O uso do analisar ergonomicamente as posturas utilizadas nas atividades
tanque, do fogão, da mesa de passar roupas muito baixa e de domésticas da população selecionada; realizar um trabalho
alguns utensílios como vassouras, rodos e pás para lixo com educativo ergonômico doméstico através de palestras, car-
cabos muito curtos, forçam um curvar exagerado da coluna tilha, software; comparar os hábitos antes e após o trabalho
vertebral. A iluminação e a ventilação nos locais de trabalho educativo.
devem ser bem planejadas, pois um bom sistema de ilumina-
ção pode produzir um ambiente onde as pessoas trabalhem Material e métodos
confortavelmente, com pouca fadiga, monotomia e acidentes,
e produzam com maior eficiência, sendo a ventilação um A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa
aspecto importante do conforto térmico [3-5]. da Universidade Católica de Petrópolis, com o protocolo
Uma postura eficaz em termos de biomecânica é a 01/2008 e CAAE – 0001.0.395.000-08.
que fornece o máximo de eficiência para as atividades Participaram desta pesquisa 101 indivíduos, 97,03% do
de vida diária do indivíduo e evita lesões. Ficar muito sexo feminino e 2,97% do sexo masculino, na faixa etária de
tempo sentado, andar encurvado e dormir em posição 20 a 90 anos de idade, com idade média de 54,07 anos. Foi
errada facilita a postura inclinada para frente. As posturas realizada em quatro postos de Programa de Saúde da Família
incorretas como levantar cargas pesadas e ficar mal senta- (PSF) no município de Petrópolis, Rio de Janeiro, no período
do, podem acelerar a deterioração dos discos ocasionando de maio de 2008 a dezembro de 2010.
dores musculares [6]. A metodologia envolveu a entrega do projeto impresso
O hábito de realizar atividades em um único lado, como para a coordenadora do PSF, apresentação do projeto para
carregar uma bolsa pesada, sentar sobre a carteira que está no os agentes comunitários expondo como seria realizado o
bolso ou sentar-se de lado em frente ao computador, está trei- trabalho, e posteriormente os agentes fizeram o convite para
nando o corpo para que os seus dois lados sejam assimétricos. a população da área onde atuam. Os critérios de inclusão na
Má postura cria padrões adaptativos de movimento corporal e pesquisa foram indivíduos que realizavam atividades domésti-
o movimento errado do corpo sobrecarrega o sistema músculo cas e com tempo disponível para estarem presentes em quatro
esquelético, resultando em desgaste prematuro da articulação encontros realizados uma vez por semana e foram excluídos
e em suscetibilidade a lesões [7]. os indivíduos que não realizavam atividades domésticas e sem
A cabeça está em equilíbrio quando os olhos estão na tempo disponível para estarem presentes em quatro encontros
posição horizontal, sustentando a coluna cervical um peso de realizados uma vez por semana.
4,5 kg, quando está um pouco para frente, a coluna cervical A população convidada pelos agentes que concordaram
e os músculos do pescoço precisarão sustentar 9 kg. E se o em participar da pesquisa durante os quatro encontros uma
indivíduo estiver sentado incorretamente olhando para baixo, vez por semana no PSF foi dividida em grupos.
a cabeça chega a pesar 13,5 kg, podendo ocasionar no final No 1º encontro assinaram o termo de consentimento livre
do dia dor na nuca, dor de cabeça e tensão nos músculos do e esclarecido, responderam a um questionário com imagens
pescoço [8,9]. A falta de organização de pausas periódicas, de posturas certas e erradas (sem identificação escrita abaixo
atividade muscular e orientações quanto aos ajustes ergonô- das posturas - certa e errada) da dona de casa no seu dia-a-dia
micos e posturais para as atividades que envolvem o trabalho e após foi feita análise do questionário e o início da realização
doméstico, podem provocar agravantes em potencial para as de trabalho educativo ergonômico doméstico com correções
condições de saúde, podendo envolver desordens musculo- das posturas de acordo com as respostas do questionário de
esquelética [10-12]. cada um, exercícios de alongamento muscular, respiração
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 91

diafragmática e distribuição impressa da cartilha de ergonomia Software com Quiz ergonômico


no lar; no 2º encontro foi realizada palestra sobre anatomia da
coluna vertebral, desvios posturais de escoliose, cifose, lordose, Teste seus conhecimentos sobre ergonomia
exercícios de alongamento muscular e respiração diafragmáti- 1 - Qual a sua posição de dormir?
ca; no 3º encontro foi realizada a palestra sobre iluminação, a) Barriga para baixo;
ventilação, cores, ruídos, exercícios de alongamento muscular b) Barriga para cima;
e respiração diafragmática; e no 4º encontro foi utilizado o c) De lado.
software com quiz ergonômico, exercícios de alongamento 2 - Como você se levanta da cama?
muscular, respiração diafragmática e no final deste quarto a) De barriga para cima dando impulso para se levantar;
encontro os participantes responderam novamente ao mesmo b) De lado colocando primeiro as pernas para fora da cama
questionário para comparação dos resultados antes e após o e utilizando os dois braços para se levantar.
trabalho educativo. 3 - Como você coloca a calça comprida?
A cartilha tem como conteúdo: Capa (Cartilha de Ergono- a) Sentado em uma cadeira;
mia no Lar – A sua postura nas atividades do lar é correta?); b) De pé.
Órgão financiador: PIBIC-CNPq/UCP; PIBIC-FCRM/ 4 - Como você pega um objeto do chão?
UCP; Instituição de Ensino Superior: Universidade Católica a) Dobrando a coluna;
de Petrópolis, Centro de Ciências da Saúde e Centro de Enge- b) Dobrando os joelhos.
nharia e Computação; Nome dos Professores Pesquisadores e 5 - Como você passa roupas?
Estudantes colaboradores vinculados ao projeto; Introdução. a) Utilizando a tábua de passar em uma altura adequada;
• Figuras de posturas do dia-a-dia: certas e erradas com iden- b) Utilizando a cama de dormir.
tificação escrita abaixo da figura em: ergonomia no quarto 6 - Como é o local que você se senta para ler um jornal ou
(dormindo, levantando da cama, vestindo bermuda, calça revista?
comprida, meias ou sapatos); ergonomia no banheiro a) Perto de uma janela com pouca iluminação;
(escovando os dentes); ergonomia na cozinha (lavando b) Perto de uma janela aberta com ventilação e iluminação.
louças, colocando objetos na prateleira); ergonomia na sala 7 - Como você deve regular os varais para pendurar roupas?
(posição sentada, pegando objetos no chão); ergonomia nas a) Acima da linha dos ombros;
atividades domésticas (passando roupas, varrendo a casa); b) Não devendo passar a altura dos ombros.
ambiente em geral (lendo um livro ou revista, subindo 8 - Como permanecem as janelas da sua casa?
escadas); saindo para fazer compras (dentro do ônibus, a) Abertas para manter o ambiente bem ventilado;
carregando sacolas pesadas); b) Fechadas.
• Orientações de alguns exercícios: Explicando que além de 9 - Os objetos de maior uso você colocaria em prateleiras?
adotar as posturas corretas é importante intercalar as a) Ao seu alcance;
atividades do dia-a-dia com os exercícios de alongamento b) Bem mais alto.
(um exercício por vez, permanecendo na posição por 20 10 - Você carrega sacolas pesadas?
segundos) nas regiões da coluna vertebral, membros su- a) Colocando o peso de um lado só;
periores, membros inferiores; respiração diafragmática (5 b) Dividindo o peso para o lado direito e esquerdo.
vezes, descansar e repetir novamente 5 vezes); 11 - Como fica o seu travesseiro na hora de dormir de lado?
• Algumas medidas preventivas: Durma de lado e evite colocar a) Entre o ombro e a cabeça;
o braço embaixo do travesseiro, dobre os joelhos ao pegar b) Debaixo do ombro.
objetos no chão, mantenha a vassoura próxima ao corpo, 12 - Como você se senta em uma cadeira ou sofá?
quando sentar no sofá apóie sua coluna no encosto e man- a) Com a coluna bem encostada;
tenha os pés no chão, carregue as sacolas dividindo o peso; b) Com a coluna inclinada para frente.
• Algumas dicas ergonômicas: Regule a altura dos varais 13 - É importante fazer exercícios de alongamento?
não devendo ultrapassar a linha dos seus ombros; prefira a) Sim;
tábua de passar roupa com regulagem de altura; use um b) Não.
banco para apoio e descanso dos pés, alternando a cada 14 - Devemos fazer os exercícios de alongamento?
15 minutos; deixe as janelas abertas para manter o am- a) Rápido;
biente ventilado; procure colocar os objetos de maior uso b) Sem pressa.
em prateleiras ao seu alcance, em prateleiras altas utilize 15 - Você deve intercalar os exercícios de alongamento durante
escada; a altura de pias e balcões devem ser adequados aos as suas atividades de vida diária?
usuários; prefira mesa com bordas arredondadas; mantenha a) Sim;
o ambiente limpo e organizado. b) Não.
(Respostas corretas em itálico)
92 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

No final da participação do Quiz foram obtidos os resulta- Figura 3 - Comparação das quatorze posturas corretas e incorretas
dos de acordo com os acertos do participante: Quinze perguntas adotadas durante as atividades do dia-a-dia (antes e após o trabalho
corretas: “Excelente!!! Você cuida bem da sua saúde. Continue educativo).
sempre assim!!!; Menos de quinze corretas: “Regular” Seria 100,00% 95,69%
interessante você refazer o teste para obter melhor resultado.
80,00%
Resultados 63,65%
60,00%
Figura 1 - Posturas incorretas adotadas durante as atividades do 40,00% 36,35%
dia-a-dia (antes) e (após).
20,00%
70%
60,40% 4,31%
60% 0,00%
47,52% Antes Após
50%
40,59% Posturas corretas Posturas Incorretas
40%
30% 24,75% Discussão
20% 15,84%
11% 9,90% Analisando a Figura 1 encontrou-se uma prevalência maior
10% 7% 5,94%
2% 2% 0% em relação às posturas incorretas de 60,40% vestindo bermu-
0% da, calça comprida, meias ou sapatos; na figura 2, 57,42%
1 2 3 4 5 6
1-Dormindo (antes) posição sentada na cadeira e 58,42% pegando objetos no chão.
2-Levantando da cama (antes) Marques e Hallal [17] relatam que posturas inadequadas e
3-Vestindo calça comprida, meias e sapatos (antes) sobrecarga nas estruturas osteomioarticulares causadas pela
4-Escovando os dentes (antes)
5-Lavando louças (antes) posição sentada prolongada são fatores de riscos para o apare-
6-Colocando alimentos no armário (antes) cimento de dor e lesão lombar, sendo que as modificações no
mobiliário e a realização de exercícios são intervenções úteis
1-Dormindo (após)
2-Levantando da cama (após)
para reduzir o impacto. Segundo Mckenzie [18], levantar
3-Vestindo calça comprida, meias e sapatos (após) objetos com as costas curvadas aumenta a pressão nos discos
4-Escovando os dentes (após) num nível muito maior do que aquele existente quando o peso
5-Lavando louças (após) é levantado com o corpo ereto. Compromete menos o disco
6-Colocando alimentos no armário (após)
intervertebral se houver possibilidade de transformar o ato
Figura 2 - Posturas incorretas adotadas durante as atividades do de levantar em empurrar [19]. As lesões lombares resultantes
dia-a-dia (antes) e (após). de levantamentos de peso são primariamente consequência
58,42% do tamanho da carga erguida e da distância que o peso se
57,42%
60% encontra do corpo [20]. Segundo Braccialli e Vilarta [21] as
47,52%
50% disfunções posturais têm sido consideradas um sério problema
37,62% 34,65% de saúde pública, pois atingem uma alta incidência na popu-
40% 31,68%
23,76% lação economicamente ativa, incapacitando-a temporária ou
30%
17,82% definitivamente para atividades profissionais.
20% 6,93%
4,95% 4,95% 6,93% 4,95% Na figura 3, analisando as 14 posturas corretas adotadas no
10% 0,99% 2,97% 0,99% dia-a-dia através do questionário antes do trabalho educativo
0% foram 63,65% e após foram alcançadas as porcentagens de
1 2 3 4 5 6 7 8
1-Posição sentada (antes) 95,69%. Demarchi et al. [22] enfatiza em sua pesquisa no
2-Pegando objetos no chão (antes) programa de saúde da família no município de Juiz de Fora
3-Passando roupas (antes) que parte da população trabalhadora dos domicílios apresen-
4-Varrendo a casa (antes)
5-Lendo livro ou revista (antes) tavam desordens musculoesqueléticas estando susceptíveis a
6-Subindo escada (antes) elevados riscos em suas atividades, pois alguns nunca foram
7-Dentro do ônibus (antes) orientados para um trabalho preventivo.
8-Carregando sacolas pesada (antes)
1-Posição sentada (após) Conclusão
2-Pegando objetos no chão (após)
3-Passando roupas (após)
4-Varrendo a casa (após) Comparando os hábitos antes e após o trabalho educa-
5-Lendo livro ou revista (após) tivo, obteve-se com esta pesquisa uma atuação ergonômica
6-Subindo escadas (após)
significante através da Cartilha Ergonomia no Lar, o trabalho
7-Dentro do ônibus (após)
8-Carregando sacolas pesada (após)
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 93

educativo com as correções das posturas incorretas adotadas 9. Kapandji AI. Fisiologia Articular. 5a ed. São Paulo: Paname-
durante as atividades do dia-a-dia, palestras, exercícios de ricana; 2000.
alongamento e respiração diafragmática e o software com o 10. Abraão J, Sznelwar L, Silvino A, Sarmet M, Pinho D. Introdu-
quiz, elaborados pela equipe. E com isto realizando um traba- ção à Ergonomia da prática à teoria. São Paulo: Blucher; 2009.
11. Mendes AP, Bertolini SMªMG, Santos LA. Análise ergonô-
lho de prevenção de comprometimentos osteomioarticulares,
mica em ambiente doméstico. Revista de Educação Física
visto que muitas das doenças ocupacionais decorrem de pos- 2006;17(1):1-10.
turas inadequadas adotadas durante a atividade profissional, 12. Molinaro V, Del Ferraro S. A particular anthropometric method
sendo que os quadros podem ser revertidos ou atenuados com for the study of acessibility of Workstation. G Ital Me Lav Ergon
atos educativos preventivos. 2008;30(4):351-69.
13. Fabrizio P. Ergonomic intervention in the treatment of a patient
Agradecimentos with upper extremity and neck pain. Phys Ther 2009;89(4):351-
60.
Sinceros agradecimentos aos membros da instituição de 14. Souza BCC, Jóia LC. Relação entre ginástica laboral e preven-
ção das doenças ocupacionais: um estudo teórico. FisioBrasil
Ensino Superior Universidade Católica de Petrópolis, aos
2008;12(89):39-44.
órgãos financiadores PIBIC-CNPq/UCP, PIBIC-FCRM/
15. Rizzo EP, Cominote P, Colar V, Vieira HJA, Manhães RB.
UCP, a coordenadora e agentes do PSF e aos participantes Intervenção da fisioterapia na comunidade de Araçás – Vila
desta pesquisa. Velha/ES: uma proposta de atuação junto ao Programa Saúde
da Família. Fisioter Bras 2008;9(4):247-52.
Referências 16. Deliberato PCP. Fisioterapia preventiva. São Paulo: Manole;
2002.
1. Mendes RA, Leite N. Ginástica Laboral. São Paulo: Manole; 17. Marques NR, Hallal CZ, Gonçalves M. Características biome-
2005. cânicas, ergonômicas e clínicas da postura sentada: uma revisão.
2. Falzon P. Ergonomia. São Paulo: Blucher; 2007. Fisioter Pesqui 2010;17(3):270-6.
3. Sá S. Ergonomia e Coluna Vertebral no seu dia-a-dia. Rio de 18. Mckenzie R. Trate você mesmo a sua coluna. Nova Zelândia:
Janeiro: Taba Cultural; 2002. Spinal;1998.
4. Iida I. Ergonomia. Projeto e produção. 2a ed. São Paulo: Edgard 19. Barbosa LG. Fisioterapia preventiva nos distúrbios osteo-
Blucher; 2005. musculares relacionados ao trabalho – Dorts. Rio de Janeiro:
5. Sala E, Mattioli S, Violante FS, Apostoli P. Risk assessment of Guanabara Koogan; 2009.
biomechanical load for the upper limbs in housework. Med Lav 20. Hamill J Knutzen KM. Bases biomecânicas do movimento
2007;98(3):232-51. humano. São Paulo: Manole; 1999.
6. Kroemer KHE, Grandjeam E. Manual de Ergonomia – adap- 21. Braccialli LMP, Vilarta R. Aspectos a serem considerados na
tando o trabalho ao homem. São Paulo: Bookman; 2005. elaboração de programas de prevenção e orientação de problemas
7. Cipriano, JJ. Manual fotográfico de testes ortopédicos e neuro- posturais. Rev Paul Educ Fís 2000;14(1):16-28.
lógicos. 4a ed. São Paulo: Manole; 2005. 22. Demarchi RS, Caetano VC C, Munck VG, Assis EC. Risco para
8. Steffenhagen MK. Manual da coluna. Curitiba: Estética Artes desordens músculo-esqueléticas em trabalhadores com atividade
Gráficas; 2003. econômica domiciliar. Rev APS 2010;13(3):346-51.
94 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Artigo original

Perfil de idosos do município de Itaúna/MG


e influência da atividade física na dor crônica
e na capacidade funcional
Profile of elderly in Itaúna/MG and influence of physical activity
on chronic pain and functional capacity
Marlete Aparecida Gonçalves Melo Coelho, M.Sc.*, Daniel Silva Gontijo Penha, D.Sc.**,
Natália Corradi Drumond Mitre, M.Sc.***, Renata Antunes Lopes****

*Professora do Curso de Fisioterapia da Universidade de Itaúna, **Professor do Curso de Mestrado em Educação, Cultura e Organi-
zações Sociais da FUNEDI/UEMG, ***Preceptora do Curso de Fisioterapia da Universidade de Itaúna, ****Preceptora Especialista
do Curso de Fisioterapia da Universidade de Itaúna

Resumo Abstract
A atividade física constitui um meio que auxilia na prevenção e Physical activity helps in the prevention and treatment of
tratamento de várias doenças. Os objetivos do estudo foram traçar different diseases. The aim of this study was to identify the socio-
o perfil sociodemográfico e clínico dos idosos comunitários prati- demographic and clinical profile of community-dwelling elderly
cantes e não praticantes de atividade física e verificar a influência participants or not in a physical exercise program and to check the
da atividade física na intensidade da dor crônica e na capacidade influence of physical activity in chronic pain intensity and functional
funcional desses indivíduos. Foi realizado um estudo transversal capacity in these individuals. We conducted a cross-sectional study
com 48 idosos portadores de dor crônica no município de Itaúna/ with 48 elderly patients with chronic pain in Itaúna/MG. They
MG, divididos em dois grupos: praticantes de atividade física (F) e were divided into two groups: those who have performed physical
não praticantes (NF). Os idosos foram submetidos ao Mini-Exame activity (F) and those that have not (NF). Both groups underwent
do Estado Mental, a um questionário sociodemográfico e clínico, the Mental State Examination, a socio-demographic and clinical
à Escala de Depressão Geriátrica Abreviada (GDS); à Escala Visual questionnaire, the Geriatric Depression Scale Short (GDS), the
Analógica de Dor, ao Questionário da Avaliação da Saúde (HAQ) Visual Analogue Scale for Pain, the Health Assessment Question-
e ao Teste de Desempenho Físico Modificado (TDFM). Os dados naire (HAQ) and the Modified Physical Performance test (TDFM).
obtidos confirmaram que a prática de atividade física diminui as The results showed that physical activity reduces the complaints
queixas de dor crônica, melhorando a capacidade funcional do idoso of chronic pain by improving functional capacity and probably
e, possivelmente, a convivência social do indivíduo. Confirmaram the social life of the elderly. In addition, the results also confirm a
também a feminização da população idosa no Brasil, a grande pre- large number of elderly women in the Brazilian population, high
valência de sintomas depressivos e a complexidade da dor crônica prevalence of depressive symptoms and the complexity of chronic
a qual interfere desfavoravelmente na qualidade de vida do idoso. pain which interferes unfavorably in quality of life.
Palavras-chave: envelhecimento, dor crônica, atividade física, Key-words: aging, chronic pain, physical activity, functional
capacidade funcional. capacity.

Recebido em 9 de fevereiro de 2010; aceito em 27 de janeiro de 2011.


Endereço para correspondência: Marlete Aparecida Gonçalves Melo Coelho, Rua Anita Lima, 57, 3568-021 Itaúna MG, Tel: (37) 3241-5899,
E-mail: marletefisio@yahoo.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 95

Introdução Material e métodos

O Brasil vivencia nas últimas décadas um aumento da Trata-se de um estudo transversal aprovado pelo Comitê
expectativa de vida da população, em decorrência dos avanços de Ética em Pesquisa da FUNEDI sob o parecer nº 07/2008.
tecnológicos, farmacológicos e dos cuidados oferecidos pelos Foram identificados 100 idosos portadores de dor crônica,
profissionais de saúde. Esse processo tem gerado transforma- segundo os critérios da Associação Internacional para Estudo
ções sociais, econômicas e de saúde relevantes para a atual da Dor [5] por indicação de fisioterapeutas que trabalhavam
sociedade [1]. no Serviço Público e nas Clínicas Integradas de Fisioterapia
As preocupações econômicas e sociais em relação à po- da Universidade de Itaúna.
pulação idosa incluem a perda da independência, pois cerca Os idosos foram submetidos ao Mini-Exame do Estado
de 10% da população adulta a partir dos 75 anos perde a Mental, a um questionário sociodemográfico e clínico, à
independência em uma ou mais atividades de vida diária [2]. Escala de Depressão Geriátrica Abreviada (GDS); à Escala
De acordo com Nakano [3], a dependência desses indivíduos Visual Analógica de Dor, ao Questionário da Avaliação da
implica em consequências para a sociedade, pois se associa à Saúde (HAQ) e ao Teste de Desempenho Físico Modificado
elevada sobrecarga às famílias, procura contínua por serviços (TDFM).
de assistência à saúde, aumento dos custos para a saúde pública Os questionários e testes foram aplicados nas Clínicas
e do risco de admissão em instituições de longa permanência. Integradas, em ambiente previamente preparado, no período
A perda da independência no idoso é, geralmente, causada de 17 de abril a 11 de junho de 2007. Foram incluídas no
pelo desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas com estudo pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos,
sintomatologia dolorosa, provenientes das alterações graduais portadores de dor crônica, capazes de deambular de forma
que ocorrem na senilidade [2,4]. independente ou com uso de auxílio para locomoção. Foram
A dor é uma percepção subjetiva e desagradável, sendo a excluídos do estudo, idosos portadores de doenças cardiovas-
dor crônica caracterizada como persistente ou recorrente, não culares ou metabólicas instáveis ou agudizadas, idosos que
estando necessariamente associada à lesão no organismo [5,6]. sofreram amputações nos MMII, que apresentavam sequelas
As causas da cronificação da dor permanecem controversas de doenças neurológicas agudas ou crônicas e/ou apresenta-
[5,7]. No Brasil, um recente estudo demonstra que 75% dos vam distúrbio cognitivo detectável através do Mini-Exame
pacientes que consultam serviços públicos de saúde relatam do Estado Mental [16].
a presença de dor crônica e sua alta prevalência torna-a um Primeiramente foi feito um contato telefônico com os
problema de saúde pública, com impacto socioeconômico idosos e coletados os dados: idade, sexo, localização e duração
importante [7,8]. Diante disso, torna-se necessário detectar (em meses) da dor, endereço e disponibilidade em participar
precocemente alterações crônico-degenerativas que podem do estudo. Desses, 12 se recusaram a participar. Foram, então,
levar à dor e a alterações funcionais e promover estratégias agendados horários e dias para a aplicação dos instrumentos
que devem ser utilizadas na prevenção do declínio funcional de avaliação para os outros 88 idosos.
no idoso e da perda da independência [9-11]. Os indivíduos que consentiram participar do estudo assina-
Estudos demonstram que a atividade física, definida como ram o termo de consentimento livre esclarecido e responderam
exercícios físicos planejados, estruturados e repetitivos que têm ao Mini-Exame do Estado Mental [16]. Obtendo pontuação
como objetivo melhorar ou manter o nível de saúde [12,13], mínima necessária neste teste os participantes responderam a
propicia benefícios no funcionamento de vários órgãos, no um questionário com questões sociodemográficas e clínicas
desempenho das habilidades motoras e auxilia na prevenção e a Escala Geriátrica de Depressão (EDG), validada para a
e tratamento de várias doenças (especialmente as crônicas) população brasileira por Paradela et al. [17]. Foram excluídos
[9,14]. Contribui, também, para a normalização do estado 09 idosos portadores de doença cardíaca instável e 01 por apre-
emocional, facilita a socialização do indivíduo e previne ou sentar suspeita de depressão detectada pela Escala Geriátrica de
retarda o declínio intelectual [9]; além disso, melhora a dor Depressão e não conseguir prosseguir com os testes.
crônica [15]. Dos 78 idosos restantes, 24 não praticavam atividade
Assim, analisar a influência da atividade física na dor crô- física. Assim, para evitar grupos heterogêneos e vieses no tra-
nica e na capacidade funcional do idoso faz-se necessário para balho, optou-se por parear os grupos tendo como referência o
o desenvolvimento de estratégias de prevenção, tratamento grupo que não praticava atividade física. Dessa forma os gru-
e acompanhamento do seu estado clínico-funcional. Os pos ficaram homogêneos, com 24 idosos cada e os 30 idosos
objetivos do estudo foram traçar o perfil sociodemográfico e restantes foram excluídos porque não puderam ser pareados.
clínico dos idosos comunitários praticantes e não praticantes A amostra foi dividida em dois grupos: grupo praticante de
de atividade física no município de Itaúna/MG e verificar a atividade física regular (grupo F) e grupo não praticante de
influência da atividade física na intensidade da dor crônica e atividade física (grupo NF). Estudos evidenciaram benefícios
na capacidade funcional desses indivíduos. da atividade física em idosos submetidos a protocolos que
variam de 08 a 18 semanas [18].
96 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

A atividade física praticada pelo grupo F tinha uma frequ- do Physical Performance Test, descrito por Reuben e Siu em
ência de três vezes semanais e a intensidade do treinamento 1990 [24], que se correlacionam com graus de incapacidade,
foi moderada. Para tal, considerou-se a frequência cardíaca perda de independência e mortalidade precoce; e por dois itens
de treinamento como 60% a 80% da frequência cardíaca descritos por Guralnik et al. [25] que se correlacionam com
máxima do indivíduo, sendo esta estimada segundo a fórmula institucionalização e perda de independência. Foi adaptado
220 – idade do indivíduo [19]. A sessão, com duração de 50 para a população brasileira por Mitre et al. [26].
minutos, era dividida em aquecimento, exercícios aeróbicos,
exercícios resistidos e relaxamento. Durante o aquecimento de Análise estatística
cinco minutos, quando se começava a elevar gradativamente
a frequência cardíaca, era realizada caminhada leve com exer- Os dados coletados foram analisados no programa SPSS
cícios respiratórios e calistênicos de membros superiores. Os (Statistical Package for Social Science). Foram realizadas as se-
exercícios aeróbicos eram realizados durante 20 minutos, logo guintes análises: descritiva das variáveis quantitativas (média
após o aquecimento, em bicicleta ergométrica, respeitando-se e desvio padrão) e categóricas (tabelas de frequência). Para
a frequência cardíaca de treinamento dos indivíduos. Logo comparação dos grupos foram utilizados o teste Z para pro-
após, eram orientados os exercícios resistidos, durante 20 porções (ou teste exato de Fisher), teste t Student (ou teste
minutos, quando se realizava o fortalecimento dos principais Mann-Whitney) para médias (ou medianas) e teste exato de
grupos musculares de membros superiores (flexores, exten- Fisher para associação de variáveis e coeficiente de correlação
sores, abdutores e adutores de ombros e flexores e extensores de Spearman para avaliar as correlações entre os instrumentos.
de cotovelo) e de membros inferiores (flexores, extensores, Foi adotado nível de significância p < 0,05.
abdutores e adutores de quadril, flexores e extensores de
joelho, dorsiflexores e flexores plantares de tornozelo) com Resultados e discussão
auxílio de caneleiras ou halteres. A carga era definida como a
máxima tolerada para a execução de 3 séries de 10 repetições Neste estudo, foram avaliados 48 idosos com idade média
para cada exercício resistido. Nos últimos 5 minutos das de 70,5 anos ± 7,2 anos. Desses, 24 praticavam atividade física
sessões, era realizado o relaxamento. Os indivíduos ficavam (F) nas Clínicas Integradas de Fisioterapia da Universidade de
em decúbito dorsal sobre colchonetes e, de olhos fechados, Itaúna e 24 não praticavam (NF), ou seja, passavam o dia no
realizavam exercícios respiratórios ao som de música suave, seu próprio domicílio realizando as suas atividades cotidianas.
e eram instruídos a praticarem o máximo relaxamento físico Os grupos foram pareados respeitando a idade e o gê-
e mental possível. As sessões eram realizadas em grupo com nero, sendo que 92% eram do gênero feminino e 8% do
supervisão adequada de uma fisioterapeuta e respeitando os masculino, em ambos os grupos. A diferença na proporção
padrões de segurança e eficiência preconizados pela literatura de mulheres e homens idosos é uma das características mar-
[10,12]. cantes da população idosa no Brasil e segundo Veras [1] esse
Após a formação dos grupos, avaliadoras treinadas apli- processo é chamado de feminização do envelhecimento. A
caram os instrumentos de avaliação nos participantes: Escala maior representatividade feminina na amostra deste estudo
Visual Analógica de Dor (EVA), uma escala unidirecional pode ser justificada, também, pelo fato de que, apesar de as
que permite a obtenção de magnitudes e a possibilidade de taxas masculinas assumirem um peso significativo nos perfis
aplicar testes estatísticos paramétricos [20]. Health Assessment de morbimortalidade, observa-se que a presença de homens
Questionnaire (HAQ), instrumento autoadministrável que nos serviços de saúde é menor do que a das mulheres. Esse
avalia as dimensões incapacidade, desconforto e dor, efeitos fato pode ser relacionado às crenças dos homens, segundo
colaterais de drogas e custo. Porém, desde a sua publicação as quais o cuidado não é visto como uma prática comum e
inicial, grande valor tem sido dado à dimensão que avalia a necessária [27].
capacidade funcional, utilizada neste estudo. O HAQ foi Ao analisar o Índice de Massa Corpórea (IMC) dos grupos
adaptado para a língua portuguesa por Ferraz, Oliveira e observou-se que o NF apresenta um valor igual a 30,10 (DP
Araújo em 1990 [21]. Ela é formada por oito subescalas, cada 4,6) e o F igual a 27,66 (DP 5,16) com p = 0,087. O resultado
uma delas apresentando duas ou três questões relacionadas às indicou que, apesar da não relevância estatística, a obesidade
atividades cotidianas, perfazendo um total de vinte [22]. O no grupo NF é mais preocupante, pois a literatura mostra
escore final do instrumento é obtido através da média arit- que a diminuição do nível de atividade aliada ao sobrepeso
mética dos oito componentes e varia de zero a três [23]. Teste e à obesidade pode levar o idoso a um estado de fragilidade
de Desempenho Físico Modificado – TDFM para avaliar a e de dependência, além de alterações psicológicas [28,29].
performance funcional desses indivíduos. Ele avalia múltiplos De acordo com Oliveira et al. [28], os transtornos de humor
domínios de função física através da realização de tarefas que são problemas frequentes na população idosa e seus sintomas
simulam atividades básicas e instrumentais de vida diária. afetam a capacidade funcional e as atividades sociais dos idosos.
Essas são realizadas em diferentes e progressivos níveis de difi- Nesse estudo 36% dos idosos do grupo NF e 20% do grupo F
culdades. O instrumento é composto por sete itens funcionais apresentaram sintomas depressivos (p = 0,345) detectados pela
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 97

EDG. Apesar dos resultados não mostrarem significância esta- e melhor performance funcional se comparado com o grupo
tística eles sugerem a atividade física como uma estratégia para de idosos não praticantes, sendo a diferença estatisticamente
diminuir tais sintomas corroborando os achados de Stessman significativa (Tabela II). Benedetti et al. [10] ressaltam que as
et al. [9], Mazo et al. [29] e Antunes et al. [30]. diretrizes e resultados de programa de atividades físicas para
Os resultados da Tabela I demonstraram uma relação idosos têm o potencial de contribuir para melhorar sua capa-
estatisticamente significativa entre duração da dor e prática cidade funcional e o contato social, imprescindíveis para boa
de exercícios físicos (p = 0,021). A dor mais prevalente no qualidade de vida. Stessman et al. [9] examinaram os efeitos
presente estudo foi a intermitente, condição que prejudica do aumento, redução e continuidade dos níveis de atividade
menos a capacidade funcional dos idosos. Porém a dor física na sobrevivência, função e estado de saúde entre idosos
constante, que é mais incapacitante, foi relatada por 40% de 70 a 88 anos. Concluíram que, nessa população, tanto a
dos indivíduos do grupo NF e por 12,5% do F. Esse resul- manutenção quanto o início da atividade física nessa etapa
tado mostra que a atividade física é uma estratégia eficiente, da vida está associado com melhor sobrevivência e função.
simples e de baixo custo para reduzir a dor e os custos para Kokkinos et al. [36] também apoiam o encorajamento da
a Saúde Pública. Apesar dessa constatação, os mecanismos atividade física até em idades mais avançadas.
analgésicos do exercício permanecem obscuros [6,31]. Uma
hipótese é baseada nos mecanismos endógenos de controle Tabela II - Média e desvio padrão da influência da atividade física
da dor como a liberação de opióides [6,32]. Outra hipótese nos escores dos testes de autorrelato (HAQ,) de performance (TDFM)
que explica a analgesia induzida pelo exercício é a de que, e na intensidade da dor (EVA) nos grupos NF e F.
durante o exercício, há liberação das catecolaminas [31]. NF F P
Não se pode deixar de ressaltar que, através dos exercícios HAQ (score total) 0,99 (0,59) 0,32 (0,33) 0,000
físicos, há melhora da autoestima, da autoconfiança e da TDFM (score total) 20,52(4,85) 24,16 (3,78) 0,010
socialização, além de melhora da função física geral (força E.V.A (média) 5,63 (2,72) 2,57 (2,42) 0,000
muscular, amplitude de movimento e equilíbrio) [33]. Assim, Teste de Mann-Whitney
a causa do efeito analgésico do exercício físico parece ser, na
verdade, um conjunto de mecanismos atuantes a nível físico, Ao analisar a associação entre os mesmos instrumentos,
emocional e social [6,31]. verificou-se que existe correlação significativa entre HAQ e
TDFM nos grupos de idosos F e NF e também entre HAQ
Tabela I - Classificação do tipo da dor em intermitente ou cons- e EVA no grupo de idosos F, como mostra a Tabela III. O
tante, com aparecimento durante os exercícios ou diariamente nos resultado apresentado sugere que, em ambos os grupos,
grupos NF e F. os idosos têm uma percepção subjetiva de sua capacidade
NF (%) F (%) funcional equivalente ao seu real desempenho nas atividades
Intermitente 48,0 83,3 avaliadas. Ao analisar a relação da dor com a percepção sub-
Constante 40,0 12,5 jetiva da capacidade funcional (HAQ) e com o desempenho
Durante exercícios 0,0 4,2 funcional real dos idosos (TDFM) constatou-se que, no grupo
Diária 12,0 0,0 que pratica atividade física, a intensidade da dor interferiu
Total* 100,0 100,0 diretamente na percepção, ou seja, quanto maior a dor, pior
Teste Exato de Fisher: Valor- p = 0,009 a percepção da capacidade funcional. Já no grupo de idosos
* todos os idosos eram portadores de dor crônica, condição de inclusão NF, tal relação não foi significativa. Esse achado pode ser
no estudo. explicado pelos sintomas depressivos detectados através da
escala GDS, uma vez que o humor deprimido influencia de
Considerando-se a dor como um constructo multidi- forma negativa na percepção da dor [9,37]. Teixeira [38] e
mensional, é necessário avaliar o seu impacto tanto no as- Stessman et al. [9] relatam que doentes deprimidos e com dor
pecto físico quanto no psicossocial, a fim de propiciar uma crônica são menos ativos que os não deprimidos; e a depressão
abordagem satisfatória do sintoma álgico [34,35]. Assim, a somada à dor agrava as alterações funcionais.
Tabela II analisou a relação entre atividade física e capacidade
funcional; e atividade física e intensidade da dor. Os resul- Tabela III - Associação entre os instrumentos de medida HAQ,
tados mostraram que o grupo de idosos F teve maior escore TDFM e EVA nos grupos NF e F.
no TDFM, instrumento pelo qual foi medida a performance NF F
funcional e menor escore no instrumento de autorrelato da Coefi- Valor-p Coefi- Valor-p
capacidade funcional, o HAQ; além de apresentar um escore ciente ciente
menor na EVA, instrumento utilizado para mensurar a dor. HAQ X TDFM -0,786 0,000* -0,526 0,007*
Os dados acima demonstraram que os indivíduos praticantes HAQ X EVA 0,089 0,674 0,403 0,046*
de atividade física se queixam de menores intensidades de TDFM X EVA -0,021 0,922 -0,299 0,147
dor, apresentam melhor percepção da capacidade funcional Correlação de Spearman
98 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Na relação da escala de performance funcional (TDFM) de dados, o que limitou a amostragem. Inicialmente, foi realizado
e dor (EVA) não foi encontrada significância estatística em o cálculo amostral, mas era inviável o tamanho da amostra neces-
nenhum dos grupos, o que sugere que, apesar da dor, é possível sário. Sendo assim, o estudo foi realizado com o maior número
o idoso ser funcional como relatado também por Widerstrom- de indivíduos possível para a execução do mesmo. Sugere-se, em
Noga & Finlayson [39]. futuro estudo, aplicar o mesmo protocolo em amostra maior e
É importante destacar o ciclo vicioso em que alguns idosos aleatorizada, a fim de confirmar os presentes achados.
do estudo estão inseridos. Os idosos não praticantes de ativi-
dade física apresentam mais dor, mais sintomas depressivos Conclusão
e pior capacidade funcional. Nessas condições desfavoráveis,
eles tendem a perpetuar essa situação, e, não raramente, há Os dados obtidos confirmaram que a prática de atividade
agravamento do quadro inicial [38]. física diminui as queixas de dor crônica, melhorando a ca-
Segundo a teoria da rede neural, a interpretação da dor pacidade funcional do idoso e, possivelmente, a convivência
está longe de ser compreendida dentro de um contexto linear. social do indivíduo idoso.
Diante da complexidade da dor crônica, é provável que uma Além disso, os resultados confirmaram a feminização da
melhora na capacidade funcional traga um efeito psicológico população idosa no Brasil, a grande prevalência de sintomas
positivo e produza, por conseguinte, redução da dor [33,40]. depressivos e a complexidade da dor crônica a qual interfere
Porém, há dificuldades no engajamento do idoso em uma desfavoravelmente na qualidade de vida do idoso.
atividade física regular [41]. Satariano et al. [42] questionaram Isso significa que, possivelmente, o tratamento da dor
2.046 indivíduos com mais de 55 anos a respeito das barreiras crônica no idoso necessita de uma mudança de atitude por
para a prática da atividade física e encontraram que as cinco parte dos profissionais de saúde, e do envolvimento do idoso
primeiras citadas foram: falta de companhia, falta de interesse e da família, da sociedade e do governo.
(mais comum nas mulheres de 65 a 74 anos), fadiga, problemas
de saúde e artrite. Uma das estratégias facilitadoras para o enga- Referências
jamento do idoso em atividades físicas seria a disponibilidade
de um familiar ou conhecido acompanhá-lo, ou a presença 1. Veras R. Envelhecimento populacional contemporâneo: deman-
de uma rede social eficiente. Porém, na contemporaneidade, das, desafios e inovações. Rev Saúde Pública 2009;43(3):548-54.
conciliar a rotina diária com o acompanhamento dos idosos até 2. Alves LC, Leimann BCQ, Vasconcelos MEL, Carvalho MS,
Vasconcelos AGG, Fonseca TCO, et al . A influência das doen-
os locais de atividade física se tornou difícil para os familiares.
ças crônicas na capacidade funcional dos idosos do Município
No Brasil, os programas de incentivo à prática de ativida-
de São Paulo, Brasil. Cad Saúde Pública 2007;23(8):1924-30.
des físicas para idosos ainda são escassos e pouco explorados, 3. Nakano MM. Versão Brasileira da Short Physical Performance
necessitando de maior atenção dos gestores, dos programas Battery – SPPB: adaptação cultural e estudo da confiabilidade
de atendimento e educação em saúde e da própria sociedade [Dissertação]. Campinas, Universidade Estadual de Campinas,
[33]. O mesmo autor cita como exemplo o Programa Agita Faculdade de Educação; 2007.
São Paulo, que buscou mostrar a importância da atividade 4. Buchman AS, Shah RC, Leurgans SE, Boyle PA, Wilson
física moderada, tendo havido especial atenção e engajamento RS, Bennett DA. Musculoskeletal pain and incident disabi-
dos idosos. O exposto acima mostra que as poucas iniciativas lity in community-dwelling older adults. Arthritis Care Res
têm trazido avanços [10]. 2010;62(9):1287-93.
5. International Association for Study of Pain (IASP) – Classifica-
Tais fatos dão visibilidade às possibilidades de atuação dos
tion of chronic pain. Pain 1986;Suppl 3:S1-S226.
profissionais de saúde no campo da prevenção secundária em 6. Le Bars D, Willer JC. Physiologie de la douleur. EMC-Anes-
idosos independentes comunitários e à necessidade de desen- thésie Réanimation. 2004;(1):227-66.
volver políticas públicas para este contingente populacional 7. Holtz VV, Stechman Neto J. Epidemiologia da dor em pacientes
corroborando os achados de Franchi & Junior [33]. de Curitiba e região metropolitana. Rev Dor 2008;9(8):1217-24.
Dessa forma, o presente estudo mostrou que é necessário 8. Andrade FA, Pereira LV, Sousa FAEF. Mensuração da dor no ido-
o desenvolvimento de pesquisas, a valorização do tema nos so: uma revisão. Rev Latinoam Enfermagem 2006;14(2):271-76.
cursos de graduação, o envolvimento interdisciplinar dos 9. Stessman J, Hammerman-Rozenberg R, Cohen A, Elin-Mor E,
profissionais de saúde, a implementação de uma política de Jacobs JM. Physical activity, function and longevity among the
very old. Arch Intern Med 2009;169(16):1476-83.
assistência e cuidado que preserve a independência e a auto-
10. Benedetti TRB, Gonçalves LHT, Mota JAPS. Uma proposta de
nomia do idoso, o desenvolvimento de programas de educação
política pública de atividade física para idosos. Texto Contexto
que incentive os idosos a praticar atividade física orientada Enfermagem 2007;16(3):387-98.
e a construção ou adaptação de locais públicos destinados à 11. Pisa H. Pain: a psychogeriatric perspective. Vertex
prática dessas atividades através de universidades, de empresas 2010;21(92):291-7.
públicas ou privadas. 12. American College of Sports Medicine (ASCM). Position stand
Apesar das contribuições, o estudo apresentou como limitação, on exercise and physical activity for older adults. Med Sci Sports
a dificuldade de acesso/transporte dos idosos até o local da coleta Exerc 1998;30:992-1008.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 99

13. Morgan AL, Tobar DA, Snyder L. Walking toward a new me: the explicações de homens com baixa escolaridade e homens com
impact of prescribed walking 10,000 steps/day on physical and ensino superior. Cad Saúde Pública 2007;23(3):565-74.
psychological well-being. J Phys Act Health 2010;7(3):299-307. 28. Oliveira D. L. C.; Goretti L. C.; Pereira, L. S. M. O desempe-
14. Santos ML, Borges GF. Exercício físico no tratamento e preven- nho de idosos institucionalizados com alterações cognitivas em
ção de idosos com osteoporose: uma revisão sistemática. Fisioter atividades de vida diária e mobilidade: Estudo piloto. Rev Bras
Mov 2010;23(2):289-99. Fisioter 2006;10(1):91-96.
15. Barcellos de Souza J, Charest J, Marchand S. école interactio- 29. Mazo GZ, Gioda FR, Schwertner DS, Galli VLB, Guimarães,
nnelle de fibromyalgie: description et évaluation. Douleur et ACA, Simas JPN. Tendência a estados depressivos em idosos
Analgésie 2007;20:213-8. praticantes de atividade física. Rev Bras Cineantropom Desem-
16. Bertolucci PHF, Brucki SMD, Campacci SR, Juliano Y. O mini- penho Hum 2005;7(1):45-49.
exame do estado mental em uma população geral. Impacto da 30. Antunes HKM, Stella SG, Santos RF, Bueno OFA, Mello MT.
escolaridade. Arq Neuropsiquiatr 1994;52(1):1-7. Depression, anxiety and quality of life scores in seniors after an
17. Paradela EMP, Lourenço RA, Veras RP. Validação da escala de endurance exercise program. Rev Bras Psiquiatr 2005;27(4):266-
depressão geriátrica em um ambulatório geral. Rev Saúde Pública 71.
2005;39(6):918-23. 31. Souza JB. Poderia a atividade física induzir analgesia em pacien-
18. Silva NL, Farinatti PTV. Influência de variáveis do treinamento tes com dor crônica? Rev Bras Med Esporte 2009;15(2):145-
contra-resistência sobre a força muscular de idosos: uma revisão 150 .
sistemática com ênfase nas relações dose-resposta. Rev Bras Med 32. Julien N, Souza JB, Charest J, Marchand S. Déficits des méca-
Esporte 2007;13(1):60-66. nismes endogènes de contrôle de la douleur dans la fibromyalgie.
19. Karvonen JJ, Kentala E, Mustala O. The effects of training on Congrès de l’Association des Fibromyalgiques 2006.
heart rate: a “longitudinal” study. Ann Med Exp Biol Fenn 33. Franchi KMB, Montenegro, RMJ. Atividade física: uma necessi-
1957;35:307-15. dade para a boa saúde na terceira idade. RBPS 2005;18(3):152-
20. Guanilo MEE. Burns Specific Pain Anxiety Scale – BSPAS: 56.
adaptação transcultural e validação preliminar [Dissertação]. 34. Chiba T. Dor e tratamento In: Freitas EV, et al. Tratado de ge-
Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo USP, Escola de riatria e gerontologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
Enfermagem de Ribeirão Preto; 205. 161f. 2006. p. 1067-78.
21. Ferraz MB, Oliveira LM, Araújo PMP, Atra E, Tuqwell P. Cross- 35. Tavares DMS, Pereira GA, Iwamoto HH, Miranzzi SSC, Rodri-
cultural reliability of the physical ability dimension of the Health gues LR, Machado ARM. Incapacidade funcional entre idosos
Assessment Questionnaire. J Reumatol 1990;17:813-17. residentes em um município do interior de Minas Gerais. Texto
22. Penido MA, Fortes S, Rangé B. Um estudo investigando as Contexto Enferm 2007;16(1):32-9.
habilidades sociais de pacientes fibromiálgicas. Rev Bras Ter 36. Kokkinos P, Myers J, Faselis C, Panagiotakos DB, Doumas M,
Cogn 2005;1(2):75-86. Pittaras A, et al. Exercise capacity and mortality in older men:
23. Ferro CV, Ide MR, Streit MV. Correlação dos distúrbios do a 20-year follow-up study. Circulation 2010;122(8):790-7.
sono e parâmetros subjetivos em indivíduos com fibromialgia. 37. Dellaroza MSG, Furuya RK, Cabrera MAS, Matsuo T, Trelha
Fisioter Mov 2008;21(1):33-8. C, Yamada KN, Pacola L. Characterization of chronic pain and
24. Reuben NDB, Siu, AL. An objective measure of physical func- analgesic approaches among community-dwelling elderly. Rev
tion of elderly outpatients: the physical performance test. J Am Assoc Med Bras 2008;54(1):36-41.
Geriatr Soc 1990;38:1105-12. 38. Teixeira MJ. Dor e depressão. Rev Neurocienc 2006;14(2):44-
25. Guralnik JM, Simonsick EM, Ferrucci L, Glynn RJ, Berkman 53.
LF, Blazer DG, et al. A short physical battery assessing lower 39. Widerström-Noga E, Finlayson ML. Aging with a disability:
extremity function: association with self-reported disability and physical impairment, pain, and fatigue. Phys Med Rehabil Clin
prediction of mortality and nursing home admission. J Gerontol N Am 2010;21(2):321-37.
1994;49:85-94. 40. Chapman S. Managing pain in the older person. Nursing stan-
26. Mitre NCD. Avaliação da capacidade funcional de mulheres dard 2010;25(11):35-9.
idosas com osteoartrite do joelho e sua relação com queda 41. Christmas C, Andersen RA. Exercise and older patients: gui-
[Dissertação]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas delines for the clinician. J Am Geriatr Soc 2000;48:318-24.
Gerais. Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocu- 42. Satariano WA, Haight TJ, Tager IB. Reasons given by older pe-
pacional; 2006. ople for limitation or avoidance of leisure time physical activity.
27. Gomes R, Nascimento EFA, Fábio C. Por que os homens J Am Geriatr Soc 2000;48:505-12.
buscam menos os serviços de saúde do que as mulheres? As
100 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Artigo original

Avaliação clínica e por subtração digital fotográfica


dos efeitos do ultrassom e massoterapia em fibrose
tecidual tardia pós-operatória à lipoaspiração
Clinical and digital picture assessment of the effects of ultrasound
and massotherapy in postoperative tissue fibrosis after liposuction
Hedioneia Maria Foletto Pivetta, Ft. D.Sc.*, Mariana do Nascimento**, Regina Berté**, Caren Fleck, Ft. M.Sc.***,
Heldenrlon José Foletto****, Gustavo Nogara Dotto, D.Sc.*****

*Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria/RS, **Acadêmica do curso de
Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria/RS, ***Docente do curso de Fisioterapia do Centro
Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria/RS, Especialista em Dermatofuncional, Grupo de Pesquisa Promoção da Saúde
e Tecnologias Aplicadas a Fisioterapia, ****Médico do Hospital da Guarnição de Santa Maria, RS, *****Odontólogo, Docente do
Curso de Odontologia do Centro Universitário Franciscano

Resumo Abstract
O objetivo deste estudo foi verificar o efeito do ultrassom e da The aim of this study was to investigate the effect of ultrasound
massoterapia sobre a fibrose tecidual no pós-operatório de lipoaspi- and massage therapy on tissue fibrosis in postoperative liposuction.
ração. Foram investigadas duas mulheres submetidas à lipoaspiração Two women who underwent liposuction of abdomen and flanks
de abdome e flancos, as quais receberam aplicação de ultrassom e and received application of ultrasound and massage therapy in the
massoterapia na região fibrosada 4 vezes por semana. Foi aplicada fibrotic region 4 times a week were investigated.  Evaluation was
uma ficha de avaliação composta por questões abertas e fechadas, performed through a questionnaire composed of open and closed
constando hábitos de vida, tempo de pós-cirurgia, presença de dor, questions about lifestyle, time after surgery, pain, medication use,
uso de medicamentos, tratamentos estéticos já realizados, inspeção aesthetic treatments already performed, skin inspection, perimetry
da pele, perimetria e palpação da região fibrosada pelo método PAN- and palpation of the fibrotic region with method PANFIC, applied
FIC, sendo esta aplicada na primeira e última sessão. Para melhor in the first and last session. The patients showed a decrease in the
comprovação dos resultados realizou-se exame de ultrassonografia e levels of fibrosis in the post-test and changes in abdominal muscle
fotodocumentação antes da aplicação do protocolo de tratamento, mass. We also observed a reduction of measures of both perceived
e na última sessão de fisioterapia. As pacientes apresentaram dimi- in the reassessment of patients, inspection, palpation, perimetry
nuição nos níveis de fibrose no pós-teste e mudança de trofismo and ultrasound photo documentation. We conclude that the use
muscular abdominal. Também observou-se redução de medidas de of massage therapy combined with ultrasound is effective in the
ambas, percebidas na reavaliação das pacientes, inspeção, palpação, treatment of tissue fibrosis after liposuction, including the late
perimetria, exame de ultrassonografia e fotodocumentação. Con- postoperative period.
cluímos que o uso de massoterapia associada ao ultrassom apresenta Key-words: liposuction, fibrosis, massotherapy, thermotherapy,
eficácia no tratamento de fibrose tecidual pós-lipoaspiração, inclusive Physical Therapy.
no pós-operatório tardio.
Palavras-chave: lipoaspiração, fibrose, massoterapia,
termoterapia, Fisioterapia.

Recebido em 22 de setembro de 2010; aceito em 14 de janeiro de 2011.


Endereço para correspondência: Hedioneia Maria Foletto Pivetta, Rua 1, casa 5, Loteamento Santos Dumont, Camobi 97110-755 Santa Maria RS,
Tel: (55) 3226-1116, E-mail: hedioneia@unifra.br
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 101

Introdução Várias modalidades fisioterapêuticas têm sido utilizadas


no intuito de restabelecer os tecidos corporais após procedi-
Diante da incessante busca por um ideal de beleza, homens mentos cirúrgicos, entre eles citam-se a drenagem linfática
e mulheres mostram-se cada vez mais empenhados na con- manual, massoterapia, cinesioterapia e eletroterapia. Esta
quista do bem estar e buscam meios para alcançar um corpo última conta com arsenal terapêutico bastante disseminado
perfeito. Dentre as variadas opções que o mercado oferece, as e utilizado nas clínicas e consultórios no intuito de manter
intervenções cirúrgicas são cada vez mais requisitadas e atual- ou recuperar a boa forma. A massoterapia, por sua vez, tem
mente constituem um meio rápido e sem grandes esforços na sido amplamente utilizada pelos profissionais seja com fins
conquista desse ideal. Em meio aos procedimentos cirúrgicos estéticos ou terapêuticos, mas pouco se tem pesquisado sobre
mais procurados no momento destaca-se a lipoaspiração, os reais efeitos dessa técnica [2]. Da mesma maneira, poucas
método cirúrgico moderno, simples e rápido considerando o pesquisas têm sido realizadas para demonstrar cientificamente
tempo de recuperação e os resultados apresentados. o real efeito desses recursos nessa área de atuação, principal-
A lipoaspiração consiste em uma técnica utilizada para re- mente comparando as duas técnicas.
mover depósitos de gordura localizada em diferentes partes do Assim, o desenvolvimento deste estudo visou investigar
corpo. Através de uma cânula aspirativa, a gordura indesejada os efeitos da utilização dos recursos eletroterapêuticos (ultras-
é removida e o contorno corporal é obtido, sendo geralmente som) e massoterapêuticos combinados, sobre a fibrose tecidual
permanente. Os avanços tecnológicos e a aquisição de conhe- comumente desenvolvida em usuárias de lipoaspiração.
cimentos mais específicos fizeram desta cirurgia um procedi- Nesse sentido esta pesquisa teve como objetivo verificar
mento mais seguro, mas ainda com algumas complicações que os efeitos do ultrassom contínuo e da massoterapia sobre a
podem ocorrer na fase pós-operatória [1]. Como exemplos fibrose tecidual pós-lipoaspiração.
de complicações decorrente da lipoaspiração destacam-se a
dor, edema, equimoses, retração cicatricial, entre outros [2]. Material e métodos
A fibrose tecidual, além de originar malefício estético, traz
prejuízos funcionais, pois interfere na dinâmica e na estática A pesquisa caracterizou-se como quase-experimental, com
de todos os sistemas do organismo. pré e pós-teste, sem grupo controle, e ainda como estudo
A lipoaspiração caracteriza-se por uma perda maior de cego, pois se buscou identificar os efeitos da massoterapia e
células e tecidos, o que torna o processo de reparo mais do ultrassom sobre a fibrose tecidual.
complicado devido à dificuldade de regeneração das célu- O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo
las parenquimatosas. A arquitetura original do tecido não Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos do Centro
consegue ser reconstituída, resultando no crescimento de Universitário Franciscano sob protocolo nº 040.2010.2,
um tecido de granulação abundante para complementar a assim como as participantes da pesquisa foram convidadas
cicatrização. Nos casos específicos de cirurgias de lipoaspira- a assinar o termo de consentimento livre e esclarecido con-
ção o processo de reparo caracteriza-se por tecido cicatricial forme resolução CNS nº 196/96. Contemplando ainda os
exacerbado, gerando a fibrose que provocará irregularidades aspectos éticos, as pesquisadoras responsáveis assinaram o
e limitações, além de prejudicar o resultado final da cirurgia. Termo de Confidencialidade em relação ao médico assistente
Uma vez que o processo de reparo seja conhecido, entende-se que encaminhou as pacientes. O encaminhamento médico à
que sempre haverá formação de fibroses em maior ou menor Fisioterapia foi realizado por escrito e fizeram parte da con-
intensidade [1]. duta de tratamento da paciente. Essa prescrição foi condi-
Nesse sentido, a Fisioterapia surge como um importante cionante à aplicação das técnicas fisioterapêuticas constantes
meio para minimizar as intercorrências pós-cirúrgicas. A nesta pesquisa e permaneceu de posse das pesquisadoras. A
Fisioterapia Dermato-Funcional tem como objetivo não só a população e amostra deste estudo foi composta por 02 (duas)
promoção da beleza física, mas a recuperação físico-funcional mulheres com idade de vinte e três e vinte e quatro anos,
dos distúrbios endócrino/metabólicos, dermatológicos e encaminhadas por cirurgiãs plásticas com pós-operatório de
musculoesqueléticos [1]. Ela tem sido amplamente reco- lipoaspiração em abdome e flancos, com período operatório
mendada pelos cirurgiões plásticos como forma de cuidado de dez meses e dois anos e três meses respectivamente. Foram
e tratamento posterior as cirurgias plásticas. O tratamento excluídas do estudo mulheres que obtiveram idade inferior
fisioterapêutico no pós-cirúrgico possibilita uma melhora a vinte anos e superior a quarenta e cinco anos, as que
significativa na textura da pele, prevenção de nodulações fibró- tinham sido submetidas a outros procedimentos e regiões
ticas no tecido subcutâneo, redução do edema, minimização de lipoaspiração que não os elencados na pesquisa, as que
de possíveis aderências teciduais, bem como maior rapidez já haviam realizado ou estavam realizando algum método
na recuperação das áreas com hipoestesias, ou seja, não só de tratamento na redução da fibrose pós-lipoaspiração de
possibilita uma redução das prováveis complicações, como abdome e flancos.
também proporciona o retorno mais rápido ao exercício das A coleta de dados foi realizada em uma Instituição de
atividades de vida diária [3]. Ensino Superior Confessional do interior do estado do Rio
102 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Grande do Sul, no período compreendido entre maio e junho imagens (inicial e final) [7,8]. O registro das imagens foi
de 2010. Como instrumentos de coleta de dados utilizou-se: efetuado com máquina fotográfica digital Coolpix P90
1. Ficha de avaliação fisioterapêutica, adaptada para essa (Nikon Inc., Melville, NY, U.S.A.) com resolução máxima
pesquisa [4-6], foi aplicada no pré e pós-tratamento. Essa de 12,1 megapixels, LCD de 3”, zoom óptico de 24x, ISO
ficha foi composta por questões abertas e fechadas, cons- máximo de 6400 e peso aproximado 460g. Também foi
tando hábitos de vida, tempo de pós-cirurgia, presença utilizado um tripé para estabilização da máquina e padro-
de dor, uso de medicamentos e tratamentos estéticos já nização das radiografias nos vários momentos do estudo.
realizados. O instrumento de pesquisa também consta do As pacientes foram posicionadas frontalmente ao equipa-
exame físico que engloba a inspeção da pele, perimetria mento em bipedestação, permanecendo de costas para um
do abdome e a palpação da mesma região, além de tabela fundo neutro, com os pés afastados a uma distância de 10
para registro das informações sobre a área detectada com cm. Primeiramente colocou-se uma fita crepe com 20 cm
fibrose tecidual, exame de ultrassonografia para anota- de comprimento na região infra umbilical para controle
ções de achados encontrados pelo médico radiologista e da área investigada. No momento do registro fotográfico
fotodocumentação. A perimetria foi realizada em apneia a paciente manteve-se em apneia expiratória. O tripé foi
expiratória, com uma fita métrica de 1,5 m, da marca Fisio posicionado a uma altura de 92 cm com distância da lente
Store, utilizando-se a cicatriz umbilical como referência, à paciente de 18 cm para fotografia aproximada e 45 cm
medindo-se 5 cm e 10 cm supra umbilical, sobre a cicatriz para fotografia distante.
umbilical e 5 cm infra umbilical, não sendo realizada a
perimetria de 10 cm infra umbilical, pois nessa região Foram realizadas duas séries de fotografias para cada
não havia área lipoaspirada, e também por ser esta região paciente, com intervalo de quatro semanas entre um exame
próxima à sínfise púbica. e outro. As imagens foram arquivadas no formato (*.jpeg),
2. Instrumento de avaliação para classificação dos níveis de para possibilitar sua visualização e manuseio em qualquer
fibrose tecidual. No exame físico realizou-se a inspeção e computador operando em plataforma Windows.
palpação da pele, em que foi possível identificar a presença No programa Regeemy foi executado o registro de ima-
ou ausência de dor e inclusive sua localização, aderência gens a posteriori na imagem final, a fim de torná-la o mais
tecidual, onde a examinadora pode classificar a fibrose em idêntica possível à inicial. O programa também realizou uma
um dos quatro níveis já pré-estabelecidos pelo instrumento normalização ou equalização de contraste. O Regeemy foi uti-
do método PANFIC. O Nível Zero (N0) correspondia a lizado para o registro das imagens e também para a subtração
não detecção de fibroses após avaliação visual e palpação, quantitativa das mesmas.
a partir de postura ereta e em decúbito dorsal e ventral. O As técnicas fisioterapêuticas eleitas para a pesquisa foram
Nível Um (N1) era avaliado quando se detectasse a fibrose o ultrassom (US) e a massoterapia.
somente após a palpação da região na posição de decúbito As participantes foram submetidas a dez sessões de Fisio-
dorsal e ventral; o Nível Dois (N2) a fibrose era detectada terapia, quatro vezes por semana. Cada sessão iniciou com a
após a avaliação visual da paciente em postura ereta. Por aplicação do US, devido a seu efeito termogênico, no modo
fim, registrava-se o Nível Três (N3) quando a fibrose era contínuo com intensidade de 1,5 W/cm² e frequência de
detectada através da avaliação visual com a paciente tanto 3 MHz [1]. O aparelho usado no estudo é de 1 e 3 MHz,
na posição ereta como nos decúbitos dorsal e ventral [6]. da marca HTM Sonic Compact, transdutor com ERA de
3. Exame de ultrassonografia (LOGIQ da marca GE, com 3,5cm². O tempo de aplicação do ultrassom foi calculado atra-
transdutor de 7,5 MHz) do tecido celular subcutâneo vés da região fibrosada demarcada na avaliação, determinada
(TCS). Para melhor certificação dos dados coletados através do cálculo área/ERA, e o tratamento com massagem foi
realizou-se também, antes da aplicação do protocolo de aplicado por trinta minutos utilizando-se as manobras de des-
tratamento, no pré-tratamento e na 5ª e 10ª sessão de lizamento superficial, deslizamento profundo, amassamento e
Fisioterapia, o exame de ultrassonografia utilizando-se fricção, como maior velocidade e ritmo, sempre alternando-as
o cabeçote de forma linear tendo como meio de acopla- durante a sessão, fazendo uso de vaselina líquida.
mento gel a base de água para detecção da área fibrosada. Os dados foram armazenados no programa Microsoft
As áreas investigadas foram ao redor da cicatriz umbilical, Office Excel 2003 e analisados através da estatística descritiva
para mediana direita e esquerda, supra e infra-umbilical simples, expressos em percentuais e apresentados na forma de
esquerda e direita. quadros e figuras.
4. Outro instrumento de pesquisa utilizado, no pré e pós-
tratamento, foi a fotodocumentação padronizada [1]. O Resultados
programa de computador Regeemy – Image Registration
and Mosaicking versão 0.2.41-RCB foi utilizado para Para melhor organização dos achados da pesquisa
execução do registro de imagens a posteriori, mediante classificou-se as pacientes como (A) e (B). A paciente A, 23
a marcação automática de pontos controle em ambas as anos, estudante, sedentária, no pré-teste relatou que faz uso
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 103

de anticoncepcional oral (ACO). Seu padrão respiratório De acordo com o quadro I, constata-se que houve redução
apresentou-se misto e o ciclo menstrual regulado. No momen- nas medidas das pacientes sendo que a paciente A apresen-
to da avaliação A estava em período pós-menstrual. Realizou tou redução de medidas entre o pré e pós-teste de 1,6%
lipoescultura há dois anos e três meses, com uso de anestesia na perimetria infra-umbilical, 0,6% na região da cicatriz
raquimedular; no pós-operatório apresentou constipação e umbilical, 2,42% e 1,86% supra-umbilical (5 cm e 10 cm,
vertigem. A paciente mede 1,69 cm, pré-cirurgia apresentava respectivamente). A paciente B apresentou diferença entre
65 kg e pós-cirurgia apresentou 58 kg, permanecendo com o o pré e pós-testes de 4,09% na região infra umbilical, 3,3%
mesmo peso durante o tratamento fisioterapêutico. Iniciou na região da cicatriz umbilical, 3,5% e 1,4% na região supra
tratamento dermato-funcional, com massoterapia, no seu umbilical (5 cm e 10 cm, respectivamente.
pós-operatório imediato e o manteve durante dois meses, Quanto à avaliação dos níveis de fibrose pelo método
não realizando nenhum tratamento específico para fibrose PANFIC [6], a paciente A apresentou diferenças quando
posteriormente. comparados ao pré e pós-teste. A Figura 1 demonstra essas
A paciente B, de 24 anos, estudante, relatou no pré- teste alterações, onde 1A representa o período pré-teste, em que
que pratica atividades físicas três vezes durante a semana, apresentou N2 na região supra-umbilical e paramedianas e N3
inclusive após a cirurgia de lipoaspiração. Na anamnese na região infra umbilical. A Figura 1B refere-se ao pós-teste,
apresentou padrão respiratório diafragmático e ciclo mens- apresentando N1 nas regiões supra-umbilical e paramedianas
trual regulado estando no momento da avaliação em período e N2 na região infra-umbilical.
pós-menstrual, não faz uso de anticoncepcional oral. O
procedimento cirúrgico, lipoaspiração abdominal padrão e Figura1 - Análise dos níveis de fibrose da paciente A no pré (A) e
mamoplastia de aumento, foi realizado há cerca de dez meses, pós-teste (B).
com uso de anestesia peridural. Não apresentou complicações A B
pós-cirúrgicas e no período de pós-operatório apresentou dor
em região abdominal. Apresentou altura de 1,64 cm e o peso
anterior à cirurgia era de 54 kg. No pós-operatório o peso
aumentou para 60 kg, permanecendo com o mesmo peso
durante o tratamento. Realizou tratamento dermato-funcional
de drenagem linfática manual no período de um mês após a
cirurgia e não realizou tratamento para a fibrose atual.
Quanto à avaliação física, a paciente A possui pequenas A paciente B, representada pela figura 2, também apresen-
cicatrizes circunscritas no abdome e na região póstero-inferior tou diminuição nos níveis de fibrose entres os testes. A figura
do tronco sem aderências cicatriciais, devido ao corte realizado 2C representa o período pré-teste, onde apresentou N1 nas
para introdução da cânula aspirativa no ato cirúrgico. No regiões supra umbilical direita e esquerda e infra umbilical
exame de inspeção apresentou trofismo da pele e muscular direita e esquerda. A Figura 2D representa o pós-teste, onde
normal; não apresentou dor durante o teste de preensão e apresentou N1 nas regiões supra umbilical direita, esquerda
aderência tecidual. No pós-teste a paciente apresentou no e infra umbilical esquerda e N0 na região infra umbilical di-
exame de inspeção, trofismo normal da pele, porém, o tro- reita, que corresponde à não detecção de fibrose na avaliação
fismo muscular apresentou-se mais flácido; não apresentou visual e palpação.
dor durante o teste de preensão e aderência tecidual como
no pré-teste. Figura 2 - Análise dos níveis de fibrose da paciente B no pré (C)
A paciente B apresentou cicatrizes abdominais sem aderên- e pós-teste (D).
cia, o trofismo geral da pele normal, não apresentando flacidez C D
muscular. Não apresentou dor perante teste de preensão no
local da fibrose e ausência de aderência tecidual no pré-teste.
No pós-teste a paciente apresentou trofismo normal da pele
com flacidez muscular e ausência de dor à palpação.
A avaliação perimétrica das pacientes A e B apresentou
diferenças no pré e pós-teste, como se pode evidenciar no
Quadro I.

Quadro I - Avaliação da perimetria do abdome nas pacientes A e B.


Pré-teste Pós-teste
5 cm Infra Cicatriz umbilical 5 cm Supra 10 cm Supra 5 cm Infra Cicatriz umbilical 5 cm Supra 10 cm Supra
Paciente A 82,3 cm 84 cm 82,5 cm 80,5 cm 81 cm 83,5c m 80,5 cm 79 cm
Paciente B 85,5 cm 74,5 cm 71,5 cm 72 cm 82 cm 72 cm 69 cm 71 cm
104 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Os exames de ultrassom foram realizados no pré-tratamen- Em ambos os controles foram realizados escaneamentos ecográfi-
to, na 5ª e na 10ª sessão. Para a análise dos dados considerou-se cos da parede abdominal, com transdutor de alta resolução, nas
o primeiro e último exame. A ultrassonografia caracteriza-se regiões onde se palpavam nodulações no subcutâneo. As áreas
por um exame dinâmico em tempo real, o qual emite onda referidas são a região para-mediana direita e esquerda, supra e
sonora através do transdutor linear em profundidade. As infra umbilicais respectivamente (mesogástrio). E ainda para o
imagens geradas a partir da observação consistem em meros controle A na região do hipocôndrio direito (...). Observou-se uma
registros do exame [9]. As imagens radiológicas do tecido sub- modificação do padrão ecogênico do primeiro exame em relação
cutâneo realizadas na paciente A no pré (E) e pós-tratamento ao terceiro exame. Mais especificamente, houve diminuição da
(F) assim como na paciente B, pré (G) e pós-tratamento (H) ecogenicidade (mais escura) e diminuição das áreas trabeculares,
evidenciaram discrepância da ecogenicidade. Isso pode ser ecogênicas (fibrose), após o tratamento proposto”.
observado na Figura 3 e 4. Para a análise por meio da fotodocumentação, utilizaram-
se as imagens próximas (18 cm) realizadas no pré e pós-teste.
Figura 3 - Exame de ultrassonografia da paciente A das regiões Na Figura 5 (I, J, K, L) e Figura 6 (M, N, O, P) foram reali-
supra e infra umbilicais, no pré (E) e pós-teste (F). zadas sobreposições e subtração de imagem, que permitem a
E análise visual da resolutividade do tratamento fisioterapêutico.

Figura 5 - Fotodocumentação da paciente A.


I J

K L

Figura 4 - Exame de ultrassonografia da paciente B das regiões


supra e infra umbilicais, no pré (G) e pós (H). Paciente A no pré (I) e pós-teste (J), subtração do tipo
G Qualitative Difference, onde os detalhes escuros são as al-
terações morfológicas superficiais, ocorridas sobrepondo a
imagem final com a imagem inicial do tratamento (K) e so-
breposição de imagens do tipo Different Channels, mostrando
a sobreposição da imagem subtraída em tom verde sobre a
fotografia inicial do tratamento em tom vermelho, onde foi
possível observar alterações nas regiões desfocadas (L).
H
Figura 6 - Fotodocumentação da paciente B.
M N

O laudo médico referente às imagens das Figuras 3 e 4 O P


evidencia:
“Exames ecográficos de rastreamento do tecido celular do sub
cutâneo (TCSC), após a realização de cirurgia de lipoaspiração da
parede abdominal. Sendo o controle A com dois anos e três meses
de pós operatório e o controle B de dez meses de pós operatório.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 105

Paciente B no pré (M) e pós-teste (N), subtração do terapia. Este conceito tem aumentado a indicação do uso do
tipo Qualitative Difference, onde os detalhes escuros são as ultrassom para dissolver massas solidificadas, desenvolvidas
alterações morfológicas superficiais, ocorridas sobrepondo a por vários meses, como, por exemplo, processos fibróticos ou
imagem final com a imagem inicial do tratamento (O) e so- até mesmo calcificações ósseas [1].
breposição de imagens do tipo Different Channels, mostrando A massagem produz estimulação mecânica nos tecidos,
a sobreposição da imagem subtraída em tom verde sobre a através da aplicação rítmica de pressão e estiramento, promo-
fotografia inicial do tratamento em tom vermelho, onde foi vendo relaxamento, auxiliando na circulação venosa, linfática
possível observar alterações nas regiões desfocadas (P). e absorção de substâncias extravasadas nos tecidos. Essa técnica
manual promove o alívio do estresse, mobiliza estruturas va-
Discussão riadas, alivia dores, diminui edemas, previne deformidades,
restauração na mobilidade dos tecidos moles, liberação de
A lipoaspiração consiste na remoção cirúrgica de gordura aderências e promove a independência funcional [1,15].
subcutânea, por meio de cânulas submetidas a uma pressão A massagem é realizada na pele com aderências a tecidos
negativa e introduzidas por pequenas incisões na pele, cor- adjacentes e na formação de tecido fibroso. Movimentos de
respondendo a uma técnica simples, rápida, e, quando bem fricção são usados para liberar mecanicamente as aderências e
indicada, ou seja, em adultos saudáveis com gordura locali- amolecer os tecidos fibrosos, atuando também na remodelação
zada, apresenta excelentes resultados [10-12]. de tecido adiposo [18]. Essas manobras de liberação tecidual
O abdome deve ser considerado uma das regiões anatômi- provocam tensionamento contínuo e prolongado, que organi-
cas mais importantes a ser tratada por lipoaspiração, por uma zam a deposição de colágeno, tornando o tecido mais elástico
série de razões. Depósitos de gordura localizada ocorrem nesta e sem retrações, atuando na prevenção e tratamento de fibroses
região frequentemente, tanto em homens quanto mulheres, e aderências, tornando-se o tratamento específico mais eficaz
tornando-o uma das mais solicitadas áreas de lipoescultura e rápido para fibroses e aderências em cirurgias plásticas [1].
em ambos os sexos [13]. Alguns autores [1,19] afirmam que pacientes em pós-
O trabalho da fisioterapia dermato-funcional no pós- operatório tardio de trinta a quarenta dias que já apresentam
operatório (PO) das lipoaspirações tem sido amplamente in- processos de fibrose com alterações de mobilidade de pele e
dicado. Isto se deve aos acontecimentos clínicos característicos tecido subcutâneo e ainda irregularidade do contorno corporal
do pós-operatório e comumente observados neste período. apresentam muitas vezes características não reversíveis. A não
Estes eventos apresentam-se como: edema, equimoses, retra- realização do pós-operatório imediato além de comprometer
ção cicatricial, hematomas, fibroses e outros [14]. o resultado final da cirurgia, priva o paciente de uma recupe-
Sabe-se que a fibrose tecidual pode aparecer em até sete ração mais rápida, saudável e com menos comprometimento
dias pós-cirurgia, devendo iniciar o tratamento no pós- físico [19].
operatório imediato, principalmente fazendo uso do US que No entanto, o tratamento fisioterapêutico nos processos
deve ser utilizado nas próximas 36 a 48 horas. Este recurso fibróticos em pós-operatório de lipoaspiração tendem a apre-
atua diretamente no processo de cicatrização no período sentar resultados mínimos quando superior a um ano [1]. Ao
inflamatório, promove melhora na circulação sanguínea e contrário disso, os resultados dessa pesquisa demonstraram
linfática proporcionando melhor nutrição celular, aumento haver possibilidade de efeitos satisfatórios na resolução de
na extensibilidade do colágeno, incremento na síntese proteica fibrose tecidual mesmo após um ano de PO.
e regeneração tecidual minimizando a incidência de fibroses A alteração no trofismo muscular abdominal pode ocorrer
[1,15]. devido aos traumatismos provocados pela lipoaspiração nos
Em estudo realizado em 2009, verificaram-se resultados vasos sanguíneos e linfáticos ocasionando linfedemas que
satisfatórios na aplicação de protocolo para PO imediato de evoluem para fibroescleroses, causando, com isso, alterações
lipoaspiração com uso de US associado à drenagem linfática na mobilidade tecidual e nos contornos corporais [20]. Uma
manual para resolução da fibrose tecidual. Após o período das consequências do aumento de circulação tissular provo-
de um mês de aplicação do protocolo, não foi encontrada cado pelo ultrassom é a eliminação de substâncias químicas
formação de fibrose tecidual mediante a avaliação através de estimulantes musculares, o que pode acarretar na diminuição
exame de ultrassonografia [16]. do tônus reflexo. Também podemos relacionar a diminuição
O ultrassom terapêutico, na frequência de 3MHz, é do tônus muscular aos efeitos da micromassagem, ao efeito
bastante usado na fase inflamatória para reabsorção de he- térmico e a diminuição da atividade do sistema nervoso
matomas, diminuindo as chances de formações fibróticas autônomo [1].
e ainda melhoram a nutrição celular, reduzindo o edema e Na dermato-funcional o US é utilizado para destruir
a dor, consequências da melhora na circulação sanguínea e pequenos depósitos de gordura localizados embaixo da pele.
linfática [17]. Através da destruição da gordura, que é processada e eliminada
Os efeitos fibrinolíticos e destrutivos do ultrassom têm pelo corpo, ocorre uma diminuição de medidas. Os resultados
como base a ação tixotrópica evidenciada pelo uso desta mais significativos são observados em pacientes mais jovens,
106 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

de pele grossa e elástica, assim possuindo boa capacidade de 6. Lisboa FLF, Meyer PF, Alves DK, Wanderley SC. Um protocolo
retração, o que corrobora com os achados dessa pesquisa [21]. para avaliação fisioterapêutica dos níveis de fibrose cicatricial em
pós-operatório de lipoaspiração associado ou não a abdomino-
Conclusão plastia. Reabilitar 2003;19(3).
7. Dotto GN. Registro de radiografias periapicais para a técni-
ca de subtração [Tese]. São José dos Campos: Faculdade de
Baseando-se nos dados obtidos nesta pesquisa, conclui- Odontologia de São José dos Campos, Universidade Estadual
se que a aplicação combinada de massoterapia e ultrassom Paulista; 2005. 107f.
mostrou-se eficaz na redução de medidas, assim como 8. Dotto GN, Moraes ML, Moraes MEL, Siqueira OV. Análise
apresentou-se resolutiva no tratamento de fibrose tecidual no da perda mineral em esmalte proximal por meio de radiografia
pós-operatório de lipoaspiração, mesmo que este seja supe- digital direta e microscopia eletrônica de varredura (MEV). Rev
rior a um ano, o que contraria achados de outras pesquisas. Odonto Ciênc 2004;19(44):186-91.
Os resultados encontrados permitem inferir que, apesar de 9. Mittelstaedt CA. Ultra-sonografia geral. Rio de Janeiro: Re-
um número pequeno de amostra, o tratamento mostrou-se vinter; 2000.
10. Utiyama Y, Di Chiacchio N, Yokomizo V. Estudo retrospectivo
satisfatório.
de 288 lipoaspirações realizadas no serviço de dermatologia do
Dessa maneira, a fisioterapia dermato-funcional surge
Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo. An Bras
como modalidade de tratamento eficaz em pós-operatório Dermatol 2003;78(4):435-42.
tardio de lipoaspiração de abdome e flancos. 11. Illouz YG. A new safe and aesthetic approach to suction abdo-
Diante da escassez de estudos comprovando cientifica- minoplasty. Aesthetic Plast Surg 1992;16(3):123-7.
mente a resolutividade do tratamento dermato-funcional, 12. Coleman WP, Glogau RG, Klein JA, Moy RL, Narins RS,
sugere-se a realização de outras pesquisas utilizando os recursos Chuang TY. Guidelines of care for liposuction. J Am Acad
da fisioterapia dermato-funcional em pós-operatório tardio Dermatol 2001;45(3):438-47.
de lipoaspiração a fim de obter amostras maiores e com apli- 13. Pollack SV. Liposuction of the abdomen. The basics. Dermatol
cações dos recursos fisioterapêuticos durante maior intervalo Clin 1999;17(4):823-34.
14. Illouz YG. Liposculpture et chirurgie plastique reconstructice
de tempo, possibilitando análise estatística dos dados obtidos.
et esthétique. Paris: Elsevier; 1998. p. 45-120.
15. Guirro E, Guirro R. Fisioterapia Dermato-Funcional: funda-
Referências mentos, recursos e patologias. 3a. ed. São Paulo: Manole; 2004.
16. Navarro VSST, Santos MS. Prevenção de fibrose com uso de
1. Borges FS. Modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. ultra-som terapêutico em pós operatório de lipoaspiração. Nova
São Paulo: Phorte; 2006. Fisio&Terapia 2008;14(65).
2. Domênico G, Wood EC. Técnicas de massagem de Beard. 4ª 17. Kitchen S, Bazin S. Eletroterapia: prática baseada em evidências.
ed. São Paulo: Manole; 1998. São Paulo: Manole; 2003.
3. Coutinho MM, Dantas RB, Borges FS, Silva IC. A importância 18. Wood EC, Becker PD. Massagem de beard. 3a ed. São Paulo:
da assistência fisioterapêutica na minimização do edema nos Manole; 1990.
casos de pós-operatório de abdominoplastia associada à lipoas- 19. Tacani RE, Alegrance FC, Assumpção JD, Gimenes RO.
piração de flancos. Fisioterapia Ser 2006;1(4). Investigação do encaminhamento médico a tratamentos fisio-
4. Ceolin MM. Efeitos da drenagem linfática manual no pós-ope- terapêuticos de pacientes submetidos a lipoaspiração. Mundo
ratório imediato de lipoaspiração de abdome [TCC]. Tubarão: Saúde 2005;2(29):192-99.
Universidade do Sul de Santa Catarina; 2006. 52 p. 20. Vinãs F. La linfa e su drenaje manual. 4ª ed. Barcelona: Integral;
5. Dalasso JC. Fibro edema gelóide: um estudo comparativo dos 1998.
efeitos terapêuticos, utilizando ultra-som e endermologia – 21. Landecker A. Cirurgia plástica: manual do paciente. São Paulo:
DERMOVAC, em mulheres não praticantes de exercício físico BBD; 2008.
[TCC]. Tubarão: Universidade do Sul de Santa Catarina; 2007.
58 p.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 107

Artigo original

A Fisioterapia em um grupo de reeducação


perineal masculino
Physical therapy in a group of male perineal reeducation
Lia Ferla, Ft.*, Luiza Rohde, Ft.*, Luciana Paiva, Ft., D.Sc.*

*Centro Universitário Metodista do Ipa

Resumo Abstract
Objetivo: Este estudo investigativo propõe-se a elucidar a influ- Aim: The aim of this investigative study was to elucidate the
ência da intervenção fisioterapêutica em grupo no tratamento de influence of a group-based physical therapy intervention in the tre-
sintomas urinários irritativos (SUI) e sintomas urinários obstruti- atment of irritative urinay symptoms (IUS) and obstructive urinary
vos (SUO). Material e métodos: Estudo qualitativo, exploratório e symptoms (OUS). Methods: Qualitative, exploratory and descriptive
descritivo, que apresenta fundamentos do trabalho da Fisioterapia study, based in physical therapy work of a group called Group of
no grupo denominado Grupo de Reeducação Perineal Masculino. Male Perineal Reeducation. Results and conclusion: In addition to
Resultados e conclusão: Além da melhora dos SUI e SUO, este estudo the improvement of IUS and OUS, this study demonstrated that
demonstrou que a fisioterapia em grupo para a população estudada group physical therapy is a good therapeutic option and presented
é uma boa opção terapêutica e apresentou resultados satisfatórios, satisfactory results, both physical and psychosocial.
tanto físicos como psicossociais. Key-words: men, urinary incontinence, Physical Therapy.
Palavras-chave: homens, incontinência urinária, Fisioterapia.

Recebido em 3 de novembro de 2010; aceito em 14 de janeiro de 2011.


Endereço para correspondência: Lia Janaina Ferla Barbosa, Rua Franklin, 200/408, Alto Petrópolis 91210-060 Porto Alegre RS, E-mail: lyaferla@
hotmail.com
108 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Introdução apresentou um caráter intencional e foi constituído por


homens com idade entre 62 a 85 anos, portadores de SUI e
As alterações miccionais caracterizam-se por duas classi- SUO que recebiam atendimento fisioterapêutico no grupo
ficações distintas de sintomas: sintomas urinários irritativos denominado “Grupo de Reeducação Perineal Masculino”.
(SUI), geralmente secundários a uma alteração vesical (disúria, O critério para delimitar o número de participantes foi o de
polaciúria, urgência miccional e noctúria), e sintomas uriná- saturação, previsto nos estudos do tipo qualitativo. Foram
rios obstrutivos (SUO), relacionados ao efeito mecânico da excluídos deste projeto os pacientes portadores de déficits
próstata (diminuição do jato urinário, gotejamento terminal, cognitivos e neurológicos.
sensação de esvaziamento incompleto) [1]. Todos os participantes assinaram o Termo de Consenti-
A bexiga hiperativa é classificada como síndrome de mento Livre e Esclarecido, conforme resolução normativa no.
sintomas sugestivos de disfunção do trato urinário baixo. É, 196/96. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e
especificamente, definida como urgência, com ou sem urge Pesquisa da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre
incontinência, usualmente acompanhada de aumento da pelo parecer número 364. A identidade dos participantes foi
frequência miccional e noctúria [2]. preservada neste estudo, por esta razão todos foram identi-
Falando da incontinência urinária (IU), esta pode encon- ficados por letras.
trar-se associada aos sintomas urinários citados acima. A IU O grupo realizava dois encontros semanais, com dura-
é definida como sendo uma queixa de qualquer perda (saída ção de 60 minutos cada. As atividades propostas durante
involuntária) de urina [3]. os atendimentos consistiam em noção básica de anatomia
De acordo com os sintomas pode ser classificada em três e exercícios de reeducação para os MAP utilizando diversas
tipos principais: incontinência urinária de esforço ocorre posições e tipos de contração.
perda involuntária de urina durante o esforço, exercício, ao As informações foram coletadas de forma individual e em
espirrar ou tossir; a urge-incontinência, perda involuntária da grupo (diário de campo) por meio de dados retrospectivos
urina acompanhada precedida por urgência; e incontinência (análise dos prontuários) e prospectivos (após o término de 15
urinária mista, quando há queixa de perda involuntária de atendimentos de Fisioterapia), sendo eles: questionário ICI-
urina associada à urgência e também aos esforços [2]. QSF [7], entrevista de reavaliação (criada pelas pesquisadoras),
No homem é frequente a presença de IU após a ressecção escala análoga visual adaptada para influência da reeducação
transuretral da próstata (RTU) e a prostatectomia radical perineal nos sintomas miccionais e avaliação fisioterapêutica
(PTR), utilizadas no tratamento do câncer da próstata [4]. dos sintomas miccionais.
Os músculos do assoalho pélvico (MAP) e esfíncteres Todas as entrevistas foram gravadas no aparelho celular
mostram-se alterados em sua funcionalidade no período pós- Nokia N95 e transcritas para o programa Microsoft Word para
operatório e por esta razão devem ser treinados para recuperar posterior análise e categorização. Além disso, foi utilizado o
a sua função. Em 1948, Arnold Kegel preconizou exercícios recurso do diário de campo para registrar informações e per-
para os MAP, também conhecidos por períneo, para aumentar cepções que as pesquisadoras observaram durante atividades
a resistência uretral, promover o controle urinário, realizar a gerais em grupo.
conscientização da existência e da função destes músculos. Todos estes instrumentos foram aplicados de forma
O treinamento dos MAP consiste nas contrações voluntárias individual, em dia e horário pré-estabelecido, conforme
repetitivas, que aumentam a força muscular e a continência possibilidade dos participantes.
pela atividade do esfíncter uretral, promoção de suporte do As informações coletadas foram analisadas por meio da
colo vesical, estimulando contrações reflexas desses músculos técnica denominada análise de conteúdo de Bardin [8]. O
durante as atividades diárias que geram estresse [5,6]. material empírico foi categorizado a partir da triangulação
Atualmente se mostram escassos estudos que abordam entre os achados de campo, objetivos almejados pelo estudo
tratamento fisioterapêutico para as alterações miccionais e referencial teórico utilizado.
masculinas, particularmente a propostas de tratamentos
em grupo para pacientes homens com SUI e SUO. Sendo Resultados e discussão
assim, este estudo investigativo buscou elucidar a influência
da intervenção fisioterapêutica em um grupo de pacientes Perfil da amostra e disfunções miccionais
masculinos portadores de SUI e SUO. presentes

Material e métodos Participaram do estudo 6 homens com idade variando


entre 62 e 85 anos (média de 72,1 anos), destes, 33,3 % (2)
Este estudo apresenta um delineamento qualitativo, apresentavam SUI e 66,6 % (4) SUO.
de pesquisa de campo e exploratório. Foi desenvolvido no Dos 6 participantes do estudo, 50 % (3) realizaram PTR,
Ambulatório de Fisioterapia do Centro de Saúde IAPI, loca- dentre estes, o tempo que realizaram a cirurgia até o momento
lizado em Porto Alegre/RS. O grupo participante do estudo da avaliação inicial, variou de dois a vinte e quatro meses,
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 109

sendo a média de 10,6 meses; sendo 33,3 % (1) há dois meses, indicação e orientação para procurar o atendimento da
33,3 % (1) há seis meses e 33,3 % (1) há vinte e quatro meses. Fisioterapia no PPTR. Isto ocorre mesmo sabendo-se que a
Em geral, o grupo apresentou uma melhora nas disfunções RP através da cinesioterapia para fortalecimento do músculo
miccionais após os 15 atendimentos de Fisioterapia, como elevador do ânus deve ser considerada como a primeira opção
demonstra a Tabela I. no tratamento da IU PPTR [10].
Apesar de toda comprovação científica da contribuição
Tabela I - Disfunções miccionais pré e pós-tratamento de Fisioterapia da assistência fisioterapêutica, principalmente no PPTR,
Disfunções percebeu-se neste estudo desconhecimento dos participantes
Pré-tratamento Pós-tratamento
Miccionais em relação a esta assistência.
Perde antes de Talvez possamos supor que “Há necessidade de uma coope-
3 (50%) 0 (0%)
iniciar a urinar ração maior entre urologistas, ginecologistas e fisioterapeutas. Os
Sensação de esva- fisioterapeutas são especializados no aprendizado e controle motores
ziamento incom- 5 (53,3%) 3 (50%) e no treinamento muscular geral. No entanto, talvez não tenham
pleto conhecimento suficiente em ginecologia, urologia ou na função do
Perde após urinar 3 (50%) 1 (16,6%) assoalho pélvico. Portanto, cursos especiais deveriam ser criados
Gotejamento pós- para que esses especialistas aprendessem uns com os outros.” [11].
2 (33,3%) 4 (66,6%)*
miccional
Enurese noturna 4 (66,6%) 0 (0%)
Interferência dos SUI e SUO na vida sexual
Jato começa e
3 (50%) 1 (16,6%) e social dos participantes do grupo
recomeça
Disúria 1 (16,6%) 2 (33,3%)
Esforço para urinal 1 (16,6%) 2 (16,6%)
Esta categoria diz respeito à interferência dos SUI e SUO
Sem força de jato 2 (33,3%) 4 (66,6%)* na vida social e sexual dos participantes, para isto usamos nas
Frequencia 3 (50%) 0 (0%) comparações a avaliação fisioterapêutica pré e pós-tratamento,
Noctúria 3 (50%) 2 (33,3%) além do Questionário ICIQ-SF.
* Esse aumento se deve ao participante do grupo ter apresentado este- Segundo a análise dos prontuários, na avaliação fisiotera-
nose uretral no período de tratamento. pêutica pré-tratamento, quanto à vida sexual, 100% (6) dos
participantes relataram como sendo esta inativa no momento
Observou-se significante melhora nas disfunções miccionais da avaliação; sendo a PTR aparentemente responsável por essa
presentes entre os participantes, confirmando o que demonstram situação em 50% (3), nos outros 50% (3) esta inatividade foi
vários estudos, que a cinesioterapia é eficaz quanto à redução dos relatada pelos mesmos como sendo devido à idade mais avan-
sintomas urinários, tais como a diminuição da perda urinária çada. Já 33,3% (2) dos participantes relataram que deixavam
devido ao aumento da força de contração da musculatura pélvi- de visitar amigos e parentes devido à IU.
ca, aumento do intervalo entre as micções e consequentemente A IU interfere na saúde física e mental do paciente, pois o
diminuição da frequência urinária, diminuição do grau de IU [9]. odor e os danos que ela causa vão de encontro com a dificul-
dade de integração social, levando o indivíduo ao isolamento,
Conhecimento sobre a IU e opções de trata- depressão e a perda da autoestima; em suma, comprometendo
mento negativamente a sua qualidade de vida [12].
Analisando a avaliação fisioterapêutica pós-tratamento
Observou-se que dos 6 participantes somente 16,6 % dos 6 participantes no que se refere à vida sexual nada se
(1) conhecia o tratamento da Fisioterapia para a reeducação modificou. Já os 2 participantes que deixavam de visitar
perineal (RP), pois havia recebido atendimento pós prostatec- amigos e parentes devido à IU relataram ter passado a
tomia radical (PPTR) e acabou desistindo por não ter obtido realizar isto normalmente como antes da cirurgia, con-
resultado naquele momento. Os outros 83,3 % (5) conhece- forme relatou PLE, 62 anos, em um dos atendimentos,
ram o tratamento a partir da inserção no grupo. Quanto aos mostrando-se entusiasmado com sua conquista, onde falou
pacientes que realizaram PTR 66,6 % (2) faziam uso de forro que estava com dor nas pernas, pois tinha saído para dançar
de proteção para a IU, confeccionado por eles mesmos e 33,3 no final de semana.
% (1) fazia uso de coletor externo de urina. Nenhum destes foi Os resultados que encontramos sobre a vida sexual dos 3
orientado no pós-cirúrgico sobre os diversos dispositivos para participantes PPTR confirma que no homem a IU e a impo-
a IU existentes, como coletor externo de urina e absorvente tência sexual decorrente da PTR são vividas dramaticamente
masculino. Esta situação foi vivenciada por ATT, de 62 anos, colocando sua masculinidade e virilidade em questão, fato que
que afirmou: “Quando eu cheguei aqui estava usando toda atinge uma porcentagem que varia em torno de 30% [13].
aquela parafernália (referindo-se ao coletor externo de urina), Isto nos faz pensar nos pressupostos da Política Nacional de
que eu tive que descobrir por minha conta aqui no Postão”. Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) [14] que
Outra queixa relatada pelos pesquisados foi a falta de ressalta que há necessidade de se cuidar da qualidade de vida
110 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

dos pacientes que sofreram prostatectomias, sobretudo as ou frente aos colegas do grupo, foi possível perceber que este
radicais, cujas lesões nervosas podem determinar disfunções sentimento não se fez presente, como nos respondeu com
eréteis e IU. outra pergunta AA, 85 anos: “Vocês deixam a gente ficar com
vergonha? Nunca”. Isto foi muito importante de se observar,
Influência da RP nos SUI e SUO presentes porque percebemos que fomos capazes, mesmo sendo mulheres,
no grupo de transmitir aos participantes do grupo segurança no nosso
propósito dentro do grupo. Assim confirmou ATA, 64 anos:
Para verificar a influência da RP nos SUI e SUO fizemos “De maneira nenhuma, vocês se portaram assim com profissiona-
uso da EAV (Escala Análoga Visual) adaptada, onde 1 se lismo, com carinho com a gente (...)”. E também LB, 85 anos:
referia a nenhuma influência e 10 grande influência. Com “(...) A esta hora não estou mais com vergonha de nada (...) se
relação aos resultados da EVA, 40 % (2) pontuaram 8; 20 % fosse misturado com mulher e homem talvez fosse diferente (...)”.
(1) pontuaram 9; e 20% (1) pontuaram 10 para a influência Mesmo os participantes não tendo demonstrado cons-
da reeducação perineal nos SUI e SUO. trangimento perante o grupo, sabemos que falar sobre IU e
Observa-se que a RP, neste estudo, mesmo realizada em também disfunção erétil, as quais se fazem presentes depois da
grupo, teve influência positiva na melhora dos pacientes, PTR, acabam sendo temas extremamente delicados de serem
confirmado por seus relatos. Este achado confirma os estudos abordados, pois eles são capazes de fragilizar esta população
realizados desde 1970 na Suécia, onde a RP começou a ser como percebemos no relato de PLE, 62 anos: “Não, porque
reconhecida e desde então tem sido tema de vários congressos desde a primeira vez que eu fiz entrevista ela (referindo-se a
nacionais e internacionais, sendo sugerida como primeira pesquisadora) foi bem franca comigo, e eu me abri também dos
opção de tratamento a ser proposto para a população incon- meus problemas (...)”.
tinente [6]. Sabe-se que os estereótipos de gênero estão enraizados há
séculos em nossa cultura patriarcal os quais potencializam
Percepção dos participantes do trabalho em práticas baseadas em crenças e valores do que é ser masculino.
grupo Ademais, a doença é considerada como sinal de fragilidade,
o homem não a reconhece como inerente à sua própria con-
Em relação ao que acharam da idéia do tratamento em dição biológica [14]. Julga-se invulnerável, o que acaba por
grupo para a RP, as respostas nos demonstraram que 83,3 % contribuir para que cuide menos de si mesmo se expondo
(5) dos participantes acharam positiva a ideia do tratamento mais às situações de risco [15-18].
em grupo. O participante ATT, 63 anos, comentou: Já em outro depoimento ATT, 63 anos, nos disse: “(...)
As fisioterapeutas são desinibidas e ensinam a gente a perder esse
“Achei ótima, porque a gente não fica inibido, acaba ajudando os constrangimento, inclusive dando uma aula de anatomia sobre
outros parceiros que têm o mesmo problema. E ajuda muito, porque os conhecimentos técnicos que a gente tem da parte urológica”.
sem isso acho que eu não estaria como estou hoje (...)”. Esta fala demonstra e confirma que cabe ao fisioterapeu-
ta, bem como à equipe interdisciplinar, informar, explicar e
O participante ATA, 64 anos, relatou: “(...) houve um entrosa- conscientizar sobre a função vesical e os hábitos miccionais,
mento com o grupo (...) um praticamente auxiliava o outro (...) isto é, dar visibilidade à IU e desta forma abrir espaço para
até hoje o ATT me telefona, (...) criou uma amizade no grupo (...) que se possa falar da IU sem medo e vergonha. Essa conscien-
vocês tiveram essa capacidade de fazer no meio do problema, que tização deveria começar no homem ao mesmo tempo em que
todos nos sentíssemos quase como uma família”. se iniciam as prevenções do câncer de próstata, contribuindo
assim para a prevenção das disfunções [19,20].
Estes achados corroboram com o que as diretrizes da Questionados sobre a proposta do tratamento em grupo
PNAISH [14] preconizam dizendo que se faz necessário para a RP ter o mesmo resultado de um atendimento indivi-
“reorganizar as ações de saúde, através de uma proposta in- dual, obtivemos 50 % (3) de respostas positivas, como relatou
clusiva, na qual os homens considerem os serviços de saúde ATT, 63 anos: “Acho que até inicialmente dificulta mais, porque
também como espaços masculinos e, por sua vez, os serviços certas pessoas são inibidas, mas ali depois (...) vai se interando,
de saúde reconheçam os homens como sujeitos que necessitem e vai se encorajando em fazer esse trabalho”. E PLE, 62 anos,
de cuidados” [14]. disse: “(...) no grupo é melhor, que quando se aprende e se perde,
Acreditamos que no trabalho com este grupo foi criado um fica copiando pelo outro que está do lado (...)”.
espaço masculino onde os participantes além da aceitação do Já os outros 50% (3) não demonstraram muita certeza
trabalho de grupo foram capazes de sentir-se em um ambiente em suas respostas, pois alegaram nunca ter realizado o trata-
definido como “quase familiar”, com a facilidade do diálogo mento individualmente como disse ATA, 64 anos: “Eu não
livre e aberto com outros iguais. posso te afirmar, porque eu nunca fiz individual, eu já parti pro
Quando questionamos os pacientes se eles haviam se senti- grupo (...) não teria como avaliar essa parte, porque eu nunca
do, em algum momento, constrangidos frente às pesquisadoras fiz individualmente.”
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 111

Dos seis participantes, somente um teve experiência de Graças a isto PLE, 62 anos ingressou no grupo e pôde nos
realizar o atendimento de forma individualizada. Quando relatar: “(...) Pra mim tá muito bom. Não tem outro comentário
questionados sobre sua percepção do trabalho realizado em a fazer, a não ser pelo jeito que vocês tratam a gente (...) procu-
grupo, foi consenso entre eles terem uma excelente aceitação ram explicar bem. E a gente que tá precisando também tem que
sobre esta proposta de trabalho. Isto confirma que a prática prestar bem atenção no que vocês tão falando (...)”.
da terapia em grupo apresenta um acentuado crescimento em Dois participantes falaram sobre o papel das pesquisadoras,
nossa realidade. O panorama atual revela uma multiplicidade ATA, 64 anos, disse: “(...) vocês estimularam todo o tempo pra
de intervenções terapêuticas em grupo nos mais variados con- que a gente trocasse ideias (...) houve um estímulo muito grande
textos e evidencia a crescente aceitação dessa prática entre os em trocas de experiências entre nós.” Já NB, 74 anos, relatou:
profissionais e entre os próprios pacientes [21,22]. “Conhecemos uns aos outros (...) o grupo é formidável (...) a gente
Sabe-se que terapias em grupos em pacientes com nar- já pensa em voltar na próxima vez, aqui é muito agradável (...)”.
colepsia, epilepsia, fisioterapia em grupo para pacientes Estas falas nos mostram que está nas mãos dos fisioterapeu-
hemiplégicos, HIV positivos sem sinais clínicos, transtorno tas que conduzem o trabalho em grupo o sucesso do convívio,
de déficit de atenção/hiperatividade mostraram-se eficazes na permitindo a troca de experiências entre os participantes como
recuperação destes indivíduos, porque “o atendimento em parte integrante do processo de cura. O estímulo e capacidade
grupo facilita o paciente a descobrir que ele faz parte de um que o terapeuta do grupo deve ter para poder conduzi-lo
grupo de indivíduos com problemas específicos e que, com são primordiais, porque dependendo da forma com que o
estes, compartilha suas dificuldades, sintomas e problemas terapeuta conduz a sessão, o ritmo torna-se dinâmico e alegre
familiares. Em países de poucos recursos – como o nosso – este ou monótono e repetitivo. Além disso, o fisioterapeuta de
último tipo de tratamento é o mais indicado, já que otimiza um grupo deve ter a capacidade de agregar várias pessoas ao
a utilização de recursos financeiros e profissionais que são mesmo tempo, respeitando o limite de cada uma, tornando
geralmente escassos [23].” o ambiente saudável e não competitivo [23].

Troca de experiências e convívio em grupo Conclusão

Os relatos coletados nos confirmaram que a terapia em Inúmeros estudos abordam a temática da IU feminina
grupo oferece ao paciente a oportunidade de sentir que não principalmente devido ao aumento da expectativa de vida dos
está isolado e que não é o único a ter problemas, de revelar idosos, mas assim como as mulheres os homens sofrem com
com segurança seus sentimentos através de modelos, apoio a IU, principalmente os que realizaram PTR, porém a busca
dos outros e de ser capaz de descobrir problemas individuais pelo tratamento ainda se mostra incipiente como constatamos
ouvindo e compreendendo os demais participantes. Assim, no decorrer do estudo. Sendo assim, a Fisioterapia Urológica
o paciente aprende a aceitar, de forma mais apropriada, os inserida dentro dos Postos de Saúde, seguindo modelos de
estímulos sociais, utilizando-os construtivamente [24]. Assim trabalho como o nosso ou outros modelos, é capaz de ser pro-
relatou LB, 85 anos: “(...) a gente, além de ter a sua história, motora tanto do tratamento, educação e promoção da saúde
vê também as histórias dos outros (...) em grupo aí posso ver para os homens com IU e quem sabe até podendo trabalhar
os outros como se comportam como que é, como não é então a prevenção desta através de novas abordagens.
estando sozinho está mais perdido”. Em um dos atendimentos Os resultados foram muito positivos neste contexto, visto
completou sua fala acima dizendo ao grupo que ali estavam que os pacientes mostraram uma boa aceitação e adesão à
todos no mesmo barco. proposta terapêutica, além de se tornarem multiplicadores
Já ATT, 63 anos foi veemente em sua resposta: “Foi muito do trabalho desenvolvido.
importante. Tanto é que eu tenho sempre tentado nunca falhar Com certeza este resultado é possível de ser reproduzido
nenhuma aula (...) tudo que eu estou fazendo o médico (...) está em outros Centros de Saúde, na medida em que o estudo
aprovando. Inclusive pedi que mandasse gente pra cá (...) porque demonstrou que a realização da Fisioterapia em grupo é uma
sem esse tratamento, acho que a pessoa fica assim sem uma pers- modalidade terapêutica viável ao tratamento dos SUI e SUO,
pectiva na vida, achando que aquilo é eterno, que não tem mais por se mostrar um tratamento de baixo custo e apresentar
cura. É muito bom!”. Nesta fala o participante usou as palavras resolutividade em curto espaço de tempo, tanto físicos como
“perspectiva na vida” para descrever o que, no seu caso, sentia psicossociais.
antes de conhecer o tratamento no grupo mostrando que teve
desta maneira a oportunidade de mudar seu pensamento, Referências
acrescentar em sua vida uma esperança de melhora e se tor-
nar assim um multiplicador do trabalho realizado no grupo. 1. Wroclawski ER. Guia prático de urologia. Rio de Janeiro: Seg-
Foi este participante que durante uma conversa informal no mento Farma; 2003.
ônibus no momento que ia para o atendimento, convidou 2. Abrams P, Cardozo L, Fall M, Griffiths D, Rosier P, Ulms-
ten U, et al. The standardisation of terminology in lower
PLE, 62 anos para fazer parte do grupo também.
urinary tract function: Report from the standardisation
112 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

sub-committee of the International Continence Society. 14. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem.
Urology 2003;61:37-49. Projetos e Diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde; 2009.
3. Oliveira RP, Pires CR, Rodrigues PRT. Padronização da termino- 15. Keijzer B. Hasta donde el cuerpo aguante: género, cuerpo y salud
logia em disfunção do trato urinário inferior e em procedimentos masculina. In: Cáceres CF, Cueto M, Ramos M, Vallas S, eds.
urodinâmicos. In: Bruschini H, D’Ancona CAL, Lima CLM, La salud como derecho ciudadano: perspectivas y propuestas
editores. Reunião do consenso de disfunções urinárias. Rio de desde América Latina. Lima: Universidad Peruana Cayetano
Janeiro: Expressão & Arte Gráfica; 2005. p. 173-85. Heredia; 2003. p. 137-52.
4. Matheus WE, Ferreira U, D’Ancora CAL. Incontinência uriná- 16. Schrauber LB, Gomes R, Couto MT. Homens e saúde na pauta
ria no homem adulto. Princípios básicos de urodinâmica. São da saúde coletiva. Ciênc Saúde Coletiva 2005;10(1):7-17.
Paulo: Atheneu; 1995. p. 65-72. 17. Sabo D. O estudo crítico das masculinidades. In. Adelman M,
5. Moreno A. Fisioterapia em uroginecologia. São Paulo: Manole; Silvestrin CB, eds. Coletânea gênero plural. Curitiba: UFPR;
2004. 2002. p. 33-46.
6. Grosse D, Sengler J. Reeducação perineal. 1ª ed. São Paulo: 18. Bonzon M. Sociologia da sexualidade. Rio de Janeiro: FGV;
Manole; 2002. 2004.
7. Tamanini JT, Dambros M, D’Ancona CA, Palma PC, Rodri- 19. Morkver SIV. Urinary incontinence during pregnancy and after
gues Netto NJR. Validação para o português do “International delivery: effect of pelvic floor muscle training in prevention and
Consultation on Incontinence Questionnaire - Short Form” treatment. Norway: NTNU; 2003.
(ICIQ-SF). Rev Saúde Pública 2004;38(3):438-44. 20. Berghmans B. International Continence Society Educational
8. Bardin L. Análise de conteúdo. Ed. 70: Lisboa; 2004. Course. Physical therapy in stress urinary incontinence. São
9. Kubagawa LM, Pellegrini JRF, Lima VP, Moreno AL. A eficácia Paulo; 2006.
do tratamento fisioterapêutico da incontinência urinária mascu- 21. Birman J, Costa JF, Amarante P. Organização das instituições
lina após prostatectomia. Rev Bras Cancerol 2006;52(2):179-83. para uma reforma comunitária. Psiquiatria social e reforma
10. Kakihara CT. Cinesioterapia na redução da incontinência psiquiátrica. Rio de Janeiro: FioCruz; 1994. p.41-72.
urinária de pacientes pós-prostatectomizados. Fisioter Bras 22. Guanaes C, Japur M. Grupo de apoio com pacientes psiquiátri-
2003;4(4):265-70. cos ambulatoriais em contexto institucional: análise do manejo
11. Bo KO, D’Ancora CAL, Netto JNR. Tratamento Clínico da terapêutico. Psicol Reflex Crít 2001;14(1):191-9.
Incontinência Urinária. Aplicações Clínicas da Urodinâmica. 23. Carvalho AC, Vanderlei LCM, Bofi TC, Pereira JDAS, Nawa
São Paulo: Atheneu; 2001. VA. Projeto hemiplegia - um modelo de fisioterapia em grupo
12. Feldner Júnior PC, Bezerra LRPS, Girão MJBC, Castro RA, para hemiplégicos crônicos. Arq Ciênc Saúde 2007;14(3):161-8.
Sartori MGF, Baracat ED, et al. Valor da queixa clinica e 24. Bechelli LPC. Terapia de grupo em consultório. J Bras Psiquiatr
exame físico no diagnostico da incontinência urinária. RBGO 1988;37(5):251-5.
2002;24(2):87-91.
13. Serment G, Gamerre M, Aandrai J. Incidence de la grosses-
se sur la vessie et de l’urètre. Etude prospective. Ann Urol
1985;19:53-6.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 113

Artigo original

Relações entre pacientes com doença de Parkinson


e seus cuidadores: uma abordagem da capacidade
funcional e da qualidade de vida
Relationship between patients with Parkinson disease and their
caregivers: an overview to functional capacity and quality of life
Raquel Mileib Alves*, Iara Madalena Augusto*, Núbia Carelli Pereira de Avelar**, Ana Paula Santos***,
Erika Mattos Santangelo***

*Discentes do Curso de Graduação de Fisioterapia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Dia-
mantina/MG, **Doutoranda em Ciências Fisiológicas da UFVJM, Diamantina/MG, ***Professora Adjunta do Departamento de
Fisioterapia da UFVJM, Diamantina/MG

Resumo Abstract
Introdução: A doença de Parkinson (DP) leva os indivíduos a Introduction: Parkinson disease (PD) leads individuals to reduce
reduzirem suas atividades, podendo haver uma relação com a qua- the variety of activities, there may be a relationship to quality of life
lidade de vida (QV) dos cuidadores. Objetivo: Verificar a associação (QOL) of caregivers. Objective: To investigate the association be-
entre funcionalidade de idosos com DP e QV de seus cuidadores. tween functionality of elderly patients with PD and their caregivers’
Métodos: O estadiamento da DP foi determinado através da Escala QOL. Methods: The stage of PD was determined using the Hoehn
de Hoehn & Yahr Modificada, a funcionalidade de 13 idosos foi & Yahr modified, the functionality of 13 elderly was measured by
mensurada pela Escala de Avaliação de Fugl-Meyer e a QV de 08 cui- Assessment Scale and Fugl-Meyer QOL of 08 caregivers by the
dadores, pela Escala de Sobrecarga do Cuidador. Resultados: Idosos caregiver overload scale. Results: Subjects with PD showed marked
com DP evidenciaram comprometimento motor marcante e a QV motor impairment and QOL of their caregivers had low scores, with
de seus cuidadores apresentou baixo escore, não sendo observada no observed correlation function of elderly patients with PD and
correlação entre funcionalidade de idosos com DP e QV de seus their caregivers’ QOL. Conclusion: The functionality of the elderly
cuidadores. Conclusão: A funcionalidade do idoso com DP sozinha with PD alone was not able to influence the caregiver’s QOL.
não foi capaz de influenciar a QV do cuidador. Key-words: Parkinson disease, life-quality, function, caregivers.
Palavras-chave: doença de Parkinson, qualidade de vida,
funcionalidade, cuidadores.

Introdução
Indivíduos com DP tendem a reduzir a quantidade e a
A doença de Parkinson (DP) afeta 0,3% da população variedade de suas atividades, fato que pode contribuir para
mundial [1] e caracteriza-se pela degeneração progressiva dos a redução de sua aptidão física [4] ocasionando perdas de
neurônios dopaminérgicos da substância negra compacta, papéis ocupacionais e de habilidades, como dificuldades na
levando à redução de dopamina no estriado [2]. O quadro mobilidade e no cuidado pessoal [5]. Devido à cronicidade
clínico desta doença é caracterizado bradicinesia, rigidez, e à progressão da DP, torna-se evidente o apoio à família
tremor de repouso e instabilidade postural; entretanto, esses cuidadora, não apenas pelas responsabilidades que assume no
sinais são apenas visíveis quando há perda de pelo menos 50% cuidado, mas também pelo sofrimento, desgaste e tensão a que
destes neurônios [3]. é submetida [6]. A literatura caracteriza cuidadores segundo

Recebido em 29 de novembro de 2010; aceito em 3 de fevereiro de 2011.


Endereço de correspondência: Núbia Carelli Pereira de Avelar, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Rua da Gloria, 187,
39100-000 Diamantina MG, Tel: (38) 9973-3007, E-mail: nubia-carelli@ig.com.br
114 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

o vínculo entre cuidador e paciente, tipos e frequência de que 50 pontos indicam um comprometimento motor severo;
cuidados prestados [7]. 50-84 marcante; 85-95 moderado; e 96-99 leve [8]. A EFM
Diante do supraexposto, o objetivo deste estudo foi veri- apresenta alta confiabilidade intra e inter-observador e foi
ficar a associação entre funcionalidade de idosos com DP e aplicada em ambos hemicorpos do IDP, pois consegue predizer
QV de seus respectivos cuidadores. Nossa hipótese é que haja a capacidade funcional, apesar de não ser específica para a DP.
associação entre as variáveis citadas. A HY avalia a incapacidade dos indivíduos com DP
indicando o estado geral e a gravidade. Compreende sete
Material e métodos estágios de classificação, nos quais os indivíduos inseridos
nos estágios de 1 a 3 apresentam incapacidade leve a mode-
Delineamento experimental rada, enquanto os que estão nos estágios 4 e 5 apresentam
incapacidade grave [9].
O estudo transversal foi desenvolvido no município de A QV dos cuidadores foi avaliada através da ESC, também
Diamantina/MG, protocolado sob o registro definitivo n° validada para a língua portuguesa e aplicada pela segunda
025/10 e aprovado em conformidade com as normas éticas examinadora, e possibilita a pontuação máxima de 88. Es-
aplicáveis previstas pelo Comitê de Ética em Pesquisa da tes estão distribuídos em 22 itens que avaliam a sobrecarga
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. subjetiva dos cuidadores de pacientes com doenças crônicas
e o impacto da sobrecarga nos seguintes aspectos: saúde, vida
Amostra social e pessoal, situação financeira, bem-estar emocional e
relações interpessoais. Quanto maior a pontuação, maior a
A amostra de idosos com DP foi obtida a partir de pron- sobrecarga a qual o cuidador é submetido [10] e não há na
tuários nas Estratégias de Saúde da Família e os critérios de literatura pontos de coorte definidos.
inclusão foram idade igual ou superior a sessenta anos com
diagnóstico de DP. Foi excluído do estudo qualquer indivíduo Análise estatística
não habilitado a responder as escalas.
Utilizou-se o software SPSS versão 18.0 com nível de signi-
Procedimentos experimentais ficância P < 0,05. Para as variáveis quantitativas, utilizaram-se
medidas de tendência central e variabilidade (média, media-
Após o recrutamento, os voluntários do estudo recebe- na, desvio padrão, erro-padrão, mínimo e máximo). Para as
ram uma explicação detalhada dos objetivos do estudo e variáveis nominais, foi feita uma tabela de distribuição de
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido frequências. Inicialmente, realizou-se o teste de normalidade
e foram divididos em 02 grupos. O grupo de idosos com para verificação da distribuição da amostra, com a utilização do
DP (IDP) foi formado por 13 idosos de ambos os gêneros e teste Shapiro-Wilk. Para comparações intergrupos, nas variáveis
o grupo de cuidadores de idosos com DP (CDP) composto que apresentavam distribuição simétrica utilizou-se o teste t
por 08 cuidadores, independente da idade. As seguintes independente, já para as variáveis com distribuição assimétrica,
escalas foram aplicadas: utilizou-se o teste Mann-Whitney. Para avaliação da correlação
• Escala de Avaliação de Fulg-Meyer (EFM): para avaliação entre funcionalidade nos participantes com DP e relato de QV
da funcionalidade de IDP; dos cuidadores, utilizou-se o teste de correlação de Spearman,
• Escala de Hehn e Yahr Modificada (HY): para estadia- uma vez que os dados apresentavam distribuição assimétrica.
mento de IDP;
• Escala de Sobrecarga do Cuidador (ESC): para avaliação Resultados
da QV de CDP.
Dos 17 IDP selecionados inicialmente, 13 preencheram
Instrumentos os critérios de inclusão e participaram do estudo. Dos 04
participantes excluídos, 02 estavam em estágio avançado não
A funcionalidade dos idosos foi avaliada, por uma exami- responsivos à EFM; 01 apresentava idade inferior a 60 anos
nadora experiente, utilizando a EFM. Esta escala traduzida e o último possuía diagnóstico duvidoso.
e validada para a população brasileira é indicada para avaliar A idade média do IDP foi de 74,67 anos (± 8,98), sendo
seis aspectos do paciente: amplitude de movimento, dor, sen- previamente determinado que apenas participariam idosos
sibilidade, função motora da extremidade superior e inferior acima de 60 anos, e a proporção de voluntárias do gênero
e equilíbrio, além da coordenação e velocidade, totalizando feminino foi de 76,93%, demonstrando homogeneidade em
226 pontos. Destes, 100 correspondem à função motora relação à idade e ao gênero (p = 0,567). O estadiamento do
normal, em que a pontuação máxima para a extremidade IDP, de acordo com a HY, está apresentado na figura 1 e não
superior é 66 e para a inferior, 34. A pontuação é classificada houve correlação com a EFM no hemicorpo esquerdo (0,064)
segundo o nível de comprometimento motor, em que menos e no direito (0,086).
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 115

Figura 1 - Percentual de estadiamento da DP segundo HY. anos e 1/100 após 75 anos [13,14] e a predominância do
Distribuição de DP segundo HY gênero feminino, pode ser devido à maior sobrevida feminina
1 e a fatores comportamentais, já que as mulheres procuram
5
15% os serviços de saúde com maior frequência [13], ainda que
23%
os homens sejam mais afetados na proporção de 2:1 [13,14].
No grupo de cuidadores, todas as participantes eram do
gênero feminino, casadas e apresentaram média de idade que
corrobora com estudo de Gonçalves et al. [14], que encontrou
idade média de 48,5 anos, estado civil casada e predominância
2 feminina. Quanto à classificação predominante no CDP foi
23% 2
cuidadora primária do tipo familiar, lembrando que cuida-
31%
dor primário é aquele que tem a principal, total ou maior
2,5 responsabilidade pelos cuidados e secundário, aquele que
8%
presta atividades complementares às do cuidador primário
Ao observar as características sociodemográficas dos cuida- [7]. Obrigação moral, conjugalidade, ausência de outros
dores, nota-se a ausência de cuidadores do gênero masculino. cuidadores próximos e dificuldade financeira contribuem
No CDP a idade média foi de 48,27 anos (± 17,97) e a média para que uma pessoa se torne cuidadora principal [14]. No
de tempo de cuidado foi de 5,33 anos (± 4,63). O restante presente estudo, obrigação moral foi o motivo predominante
do perfil de CDP está demonstrado na Tabela I. para o cuidado, quanto ao vínculo, a maioria era nora ou
esposa e os cuidados aconteceram na maioria das vezes todos
Tabela I - Características sociodemográficas dos cuidadores de os dias da semana. Os dados corroboram com o estudo de
idosos com DP. Gonçalves et al. [14], em que 64,6% dos cuidadores atuavam
CDP (n = 8) de modo permanente durante o período diurno, e podem ser
Variável
Resposta % justificados pelo vínculo familiar e a necessidade de abandonar
Estado civil casada 62,5 atividades extracomunitárias, como o trabalho, para dedicar-
Classificação primário (familiar) 75 se ao cuidado.
Vínculo nora ou esposa 50 A EFM, que verificou a funcionalidade de IDP, foi de-
Motivo obrigação moral 50 senvolvida para Acidente Vascular Cerebral (AVC), mas foi
Dias semanais 7 62,5 empregada no presente estudo, porque é uma escala bastante
Horas/dia até 6h ou até 24h 75
detalhada em comparação às outras e possibilita maior diver-
sificação de métodos para avaliação da capacidade funcional.
Descanso 0 dias 37,5
Na literatura foi encontrado o estudo de Frascarelli et al. [15]
A pontuação da EFM de IDP no hemicorpo direito foi em que utilizaram a EFM para avaliar a função motora de
de 76,38 pontos e no esquerdo, 76,92 pontos e não houve membros superiores de crianças e adolescentes (05 a 15 anos
diferença significativa em relação aos hemicorpos (p = 0,551). de idade) com diagnóstico de traumatismo cranioencefálico,
Dos 13 IDP avaliados, 09 possuíam cuidadores constantemen- paralisia perebral e AVC, encontrando melhora da função
te; mas 01 deles não respondeu a ESC, totalizando um n de 08 após terapia robótica.
(61,54%) cuidadores com média de pontuação na ESC de 16 (± O comprometimento motor em IDP foi classificado como
9,56). Os itens mais pontuados na ESC foram: dependência do marcante e pode ser justificado pelos movimentos sinérgicos
idoso, que pede mais ajuda do que realmente necessita e espera de membros inferiores, que são pontuados negativamente
que o cuidador cuide como se fosse a única pessoa de quem ele na escala, bem como a presença de deficiência em amplitude
depende. Em contrapartida, o cuidador sente que não possui de movimento, em função do próprio desempenho motor
dinheiro suficiente para cuidar do idoso, assim como tempo prejudicado pelos sintomas da DP. Setenta e sete por cento
para cuidar de si mesmo, sentindo-se estressado e sobrecarregado, da amostra compreendeu até o estágio 3 da HY, quando há
apesar de achar que deveria fazer mais pelo idoso. apenas alguma instabilidade postural e incapacidade leve à
Quando correlacionadas a funcionalidade do IDP à QV do moderada [16], justificando em parte o nível de funcionali-
CDP, os resultados evidenciaram ausência de associação entre dade encontrado.
as variáveis (p = 0,265 para hemicorpo esquerdo, p = 0,359 Quanto à QV de CDP, a média de pontuação na ESC foi
para hemicorpo direito). baixa, dada a possibilidade de atingir 88 pontos. No estudo
de Gonçalves et al. [14], 69,5% dos cuidadores mostraram-
Discussão se satisfeitos com a QV, avaliada através da Escala Abreviada
de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde
A taxa de acometimento da DP varia linearmente com o (WHOQOL-BREF), o que pode ser estendido ao presente
avanço da idade, afetando 1/1.000 indivíduos acima de 65 estudo. Acredita-se que a obrigação moral e o vínculo familiar
116 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

justifiquem esses dados, como demonstrados na tabela I. Ou- 5. Nickel R, Pinto LM, Lima AP, Janeckzo E, Becker N, Puppy
tra hipótese para o baixo escore diz respeito à boa qualidade MR, et al. Estudo descritivo do desempenho ocupacional do
da relação cuidador-idoso, à percepção de apoio social e à sujeito com doença de Parkinson: o uso da CIF como ferra-
frequência de descanso, que afetam positivamente a QV do menta para classificação da atividade e participação. Acta Fisiatr
2010;17:13-7.
cuidador [17] e, segundo Amendola, Oliveira & Alvarenga
6. Peternella FMN, Marcon SS. Descobrindo a doença de Pa-
[18], cuidadores mais velhos parecem ser mais susceptíveis à rkinson: impacto para o parkinsoniano e seu familiar. Rev Bras
sobrecarga e os mais jovens, ao isolamento; levando à conclu- Enferm 2009;2:25-31.
são de que a pontuação na ESC não foi elevada na amostra 7. Lemos ND, Gazzola JM, Ramos LR. Cuidando do paciente
devido à baixa idade média dos cuidadores. com Alzheimer: o impacto da doença no cuidador. Saúde e
Não houve correlação entre a funcionalidade do IDP e a QV Sociedade 2006;15:170-9.
do CDP, significando que a função não interferiu na QV, não 8. Maki T, Quagliato EMAB, Cacho EWA, Paz LPS, Nascimento
existindo relação de causa e efeito. Acredita-se que isso tenha NH, Inoue MMEA, et al. Reliability study on the application of
ocorrido, porque QV é uma percepção subjetiva do indivíduo the Fugl-Meyer scale in Brazil. Rev Bras Fisioter 2006;10:177-83.
9. Lana RC, Álvares LMRS, Nasciutti-Prudente C, Goulart FRP,
[19] e baseia-se em princípios como nível socioeconômico e
Teixeira-Salmela LF, Cardoso FE. Perception of quality of life
satisfação, além da capacidade funcional [20]. Outra justifi-
in individuals with Parkinson’s disease using the PDQ-39. Rev
cativa seria a pequena amostra de participantes com DP, o Bras Fisioter 2007;11:397-402.
estadiamento de leve a moderado na HY, a amenização nas 10. Scazufca M. Brazilian version of the Burden Interview scale for
respostas dos CDP na ESC devido ao vínculo e ao motivo com the assessment of burden of care in carers of people with mental
que cuidam. As mesmas justificativas quanto à exclusão de illnesses. Rev Bras Psiquiatr 2002;24:12-7.
participantes graves e a ausência de resposta de um cuidador 11. Haase DCBV, Machado DC, Oliveira JGD. Atuação da fisio-
podem ser acrescidas neste contexto. Schestatsky et al. [21], terapia no paciente com doença de Parkinson. Fisioter Mov
ao comparar a QV de idosos com DP a seus respectivos cui- 2008;2:79-85.
dadores através da WHOQOL-BREF, mostrou que a idade 12. Goulart FRP, Barbosa C M, Silva C M, Teixeira-Salmela L,
Cardoso F. O impacto de um programa de atividade física na
dos idosos foi o fator mais importante associado à QV do
qualidade de vida de pacientes com doença de Parkinson. Rev
cuidador. O estudo de Aarsland et al. [22] apontou os sinto- Bras Fisioter 2005;9:49-55.
mas mentais como importantes preditores de sobrecarga do 13. Parahyba MI, Simões CCS. A prevalência de incapacidade funcio-
cuidador de DP, mas citou que outros trabalhos encontraram o nal em idosos no Brasil. Ciênc Saúde Coletiva 2006;11:967-974.
estado funcional como o melhor determinante de sobrecarga. 14. Gonçalves LHT, Alvarez AM, Sena ELS, Santana LWS, Vicente
Este estudo apresentou algumas limitações e os resultados FR. Perfil da família cuidadora de idoso doente/fragilizado do
devem ser interpretados para a amostra em questão, merecendo contexto sociocultural de Florianópolis, SC. Texto Contexto
destaque o baixo número de participantes e a exclusão de pacien- Enfermagem 2006;15:570-7.
tes graves. Apesar das limitações, o presente estudo demonstrou 15. Frascarelli F, Masia L, Di Rosa G, Cappa P, Petrarca M, Casteli
E, et al. The impact of robotic rehabilitation in children with
aplicabilidade clínica dos resultados, já que foram avaliados parâ-
acquired or congenital movemente disorders. Eur J Phys Rehabil
metros de intervenção direta do fisioterapeuta (comprometimento
Med 2007;45:135-41.
motor) acreditando na melhora indireta da QV dos cuidadores. 16. Mello MPB, Botelho ACG. Correlação das escalas de avaliação
utilizadas na doença de Parkinson com aplicabilidade na fisio-
Conclusão terapia. Fisioter Mov 2010;23:121-27.
17. Goldsworthy B, Knowles S. Caregiving for Parkinson’s disease
De acordo com a amostra avaliada, pode-se concluir que patients: an exploration of a stress-appraisal model for quality of
não houve correlação entre a funcionalidade dos pacientes life and burden. J Gerontol Psychol Sci Soc Sci 2008;63:372-76.
com DP e a QV dos cuidadores. 18. Amendola F, Oliveira MAC, Alvarenga MRM. Qualidade de
vida dos cuidadores de pacientes dependentes no programa de
saúde da família. Texto Contexto Enfermagem 2008;17:266-72.
Referências
19. Lima AMM, Silva HS, Galhardoni R. Envelhecimento bem-
sucedido: trajetórias de um constructo e novas fronteiras.
1. Scalzo P, Kummer A, Cardoso F, Teixeira AL. Depressive symp- Interface Comun Saúde Educ 2008;12:795-807.
toms and perception of quality of life in Parkinson’s disease. Arq 20. Santos SR, Santos IBC, Fernandes MGM, Henriques MERM.
Neuropsiquiatr 2009;67:203-8. Qualidade de vida do idoso na comunidade: aplicação da escala
2. Bedin S, Ferraz AC. Organização funcional dos circuitos dos de Flanagan. Rev Latinoam Enfermagem 2002;10:757-764.
núcleos da base afetados na doença de Parkinson e na discinesia 21. Schestatsky P, Zanatto VC, Margis R, Chachamovich E, Reche
induzida pela levodopa. Saúde Rev 2003;5:77-88. M, Batista RG, et al Quality of life in a Brazilian sample of
3. Whitton PS. Inflammation as a causative factor in the aetiology patients with Parkinson’s disease and their caregivers. Rev Bras
of Parkinson’s disease. Br J Pharmacol 2007;150:963-76. Psiquiatr 2006;28:209-11.
4. Canning CG, Alison JA, Allen NE, Groeller H. Parkinson’s 22. Aarsland D, Larsen JP, Karlsen K, Lim NG, Tandberg E. Mental
disease: an investigation of exercise capacity, respiratory function symtoms in Parkinson’s disease are important contributors to
and gait. Arch Phys Med Rehabil 1997;78:199-207. caregiver distress. Int J Geriatr Psychiatry 1999;14:866-74.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 117

Relato de caso

Fisioterapia respiratória na distrofia muscular


oculofaríngea
Physical therapy in respiratory oculopharyngeal muscular dystrophy
Débora Aparecida F. Oliveira*, Elieth Nogueira Florencio*

*Curso de Fisioterapia da UNIFAE, São João da Boa Vista/SP

Resumo Abstract
Objetivo: O objetivo deste estudo foi analisar a influência da Objective: The aim of this study was to analyze the influence
fisioterapia respiratória através das respostas do Peak Flow e o of respiratory therapy through Peak Flow and the Manovacuometer
Manovacuômetro antes e depois de um período de quatro anos de responses in a female patient with Oculopharyngeal Muscular Dys-
fisioterapia respiratória na Clínica Escola de Fisioterapia do UNIFAE trophy (OPMD) before and after four years of respiratory therapy
em uma paciente com distrofia muscular oculofaríngea (DMO), in the School of Physical Therapy Clinic of Centro Universitário
atendida na Clínica Escola de Fisioterapia do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino (UNIFAE). Methods: We con-
das Faculdades Associadas de Ensino (UNIFAE). Métodos: Foi ducted a case study with analysis of records of a female patient, 57
realizado um estudo de caso com análise de prontuário da paciente years, smoker, diagnosed with OPMD. Results: Although OPMD
do sexo feminino, 57 anos, fumante, com diagnóstico de DMO. is a progressive disease, we observed significant increases between
Resultados: Após tratamento, foram observados aumentos significa- baseline and final results on Peak Flow and Manovacuometer, sho-
tivos entre o valor inicial e final dos resultados obtidos no Peak Flow wing a reduction of airway obstruction and an increase in muscle
e Manovacuômetro, mostrando uma redução de obstrução das vias strength. Conclusion: The results of this study show that the patient
aéreas e um aumento na força da musculatura inspiratória mesmo with OPMD, after respiratory therapy treatment, improved phy-
sendo uma doença de caráter progressivo. Conclusão: Os resultados sical and breathing capacity due to more resistance to fatigue as a
deste estudo mostram que a paciente com DMO, após tratamento result of an increase in inspiratory muscle strength observed in the
de fisioterapia respiratória, obteve melhora da capacidade respiratória manometer values and a lower level of airway obstruction according
e física pela maior resistência à fadiga, em consequência do aumento to the peak flow values.
da força da musculatura inspiratória observado nos valores obtidos
Key-words: oculopharyngeal muscular dystrophy, Physical
através do manovacuômetro e com menor grau de obstrução das Therapy, respiration.
vias aéreas de acordo com os valores obtidos através do Peak Flow.
Palavras-chave: distrofia muscular oculofaríngea, Fisioterapia,
respiração.

Introdução ção de proteínas que constituem o DNA, além de codificarem


a alanina no primeiro exon da proteína PABP2 (Polyadenylate
A distrofia muscular (DM) é considerada um distúrbio Binding Protein 2), que está circulante em todo o corpo [3-9].
muscular progressivo sem uma anormalidade do sistema ner- Hoje se sabe que mutação no gene da proteína PABP2 causa a
voso central ou periférico, que causa uma dependência clínica e DMO, pois sugere-se que os tratos de polialanina são degradados
funcional para o portador [1,2]. Dentro de várias distrofias, este e se transformam em filamentos intranucleares que podem ser
estudo irá priorizar a Distrofia Muscular Oculofaríngea (DMO), vistos em microscopia eletrônica. Assim, os núcleos das fibras
uma doença genética hereditária, cuja mutação está localizada no musculares são totalmente destruídos, ocorrendo morte celular
gene do cromossomo 14q11 que traz informações para a produ- que vai prejudicar o funcionamento normal da célula, causando

Recebido em 20 de julho de 2010; aceito em 22 de fevereiro de 2011.


Endereço para correspondência: Débora Aparecida F. Oliveira, Rua Osvaldo Cardoso, 39, 13840-331 Mogi Guaçu SP, E-mail: de_modena@yahoo.
com.br
118 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

a fraqueza dos músculos afetados na DMO [1,2,10-14]. 5. Respiron® - para re-expansão de áreas pulmonares e forta-
A primeira denominação da DM foi Oftalmoplegia lecimento dos músculos inspiratórios;
Progressiva Externa descrita por Von Gravon, um oftalmo- 6. EPAP® - utilizado para prevenção de atelectasias, aumento
logista alemão, em 1868 [10,11,15,16]. Uma doença rara, da CRF, treinamento da musculatura expiratória, além de
cujo início ocorre entre a quinta e sexta década de vida. favorecer a troca gasosa;
Os primeiros sinais apresentados são queda progressiva das 7. Bastão - utilizado como auxílio durante os exercícios ci-
pálpebras (ptose), um distúrbio da deglutição (disfagia), que nesiorespiratórios, assim promovendo melhor expansão e
pode levar a pneumonia de origem aspirativa, e a fraqueza dos desinsuflação pulmonar;
músculos proximais dos membros e da musculatura respira- 8. Esteira Moviment® - para treino de exercícios aeróbios,
tória [8,10,11,14,17]. Eventualmente foram relatados casos melhorando o condicionamento cardiorrespiratório;
de DMO em trinta países diferentes e em cinco continentes, 9. Oximetro Nonin Medical, Inc® - utilizado para mensurar
mas a sua incidência, em geral, ainda é baixa. as variáveis de Saturação de oxigênio (SpO2) e Frequência
Um estudo feito no período de 1964 a 1967 por André Cardíaca (FC).
Babeau, médico neurologista, mostrou que a maior prevalên-
cia para a distrofia era na população franco-canadense que Procedimentos
residia na província de Québec, onde um habitante a cada
1.000 habitantes teria essa distrofia [10-12]. O procedimento nesse estudo de caso foi analisar o pron-
Não existe um tratamento medicamentoso para a DMO, tuário da paciente, com intuito de avaliação das variáveis do
mas sim, tratamentos que podem contribuir para a melhora da Peak Flow e Manovacuômetro.
qualidade de vida do paciente portador dessa distrofia, como A paciente participou do tratamento de Fisioterapia
a fisioterapia respiratória, além de um tratamento cirúrgico Respiratória durante 4 anos na Clínica Escola de Fisiotera-
para a ptose palpebral e a disfagia [2,11,13]. pia do UNIFAE, no período de 04/10/2005 a 11/12/2009.
A atuação da fisioterapia nas distrofias musculares tem Os atendimentos eram realizados duas vezes na semana com
como principal objetivo restabelecer a independência fun- duração de cinquenta minutos cada, no período da tarde.
cional, dando maior liberdade de atuação nas suas atividades Chegando ao setor de Fisioterapia Respiratória com a
de vida diária. Este estudo visa uma revisão da atuação da paciente sentada, eram analisadas as variáveis de FC, PA, FR,
fisioterapia respiratória na DMO, com objetivo principal de SpO2, AP (ausculta pulmonar) - que na maioria das vezes
avaliar a melhora nas variáveis de Peak Flow e Manovacuôme- apresentava-se com murmúrio vesicular presente globalmente
tro realizados antes e depois de um período de quatro anos de e em algumas sessões discretamente diminuído, sempre sem
fisioterapia respiratória na Clínica Escola de Fisioterapia do ruídos adventícios - Peak Flow e Manovacuômetro, estes dois
UNIFAE em um paciente com essa distrofia [17-19]. últimos realizados por três vezes, sendo utilizado o maior valor
obtido pela paciente.
Material e Métodos Em seguida eram realizados os seguintes padrões ventila-
tórios voluntários (PVV’s): PV fracionado (três tempos) - 2
Foi realizado um estudo de caso com análise de prontuário séries de 10 repetições, PV com soluços inspiratórios (três
da paciente do sexo feminino, 57 anos, fumante, com diag- tempos) - 2 séries de 10, PV com expiração abreviada (3:1)
nóstico de DMO, que realizou o tratamento de Fisioterapia - 2 séries de 5 repetições, o PV tranquilo - 2 séries de 10
Respiratória na Clínica Escola de Fisioterapia do Centro Uni- repetições, associados durante todos os intervalos à técnica
versitário das Faculdades Associadas de Ensino – UNIFAE. de frenolabial.
Foram utilizados neste estudo os seguintes materiais: Logo após, com o valor obtido da Pimax no manova-
• Prontuários de atendimento com controle das variáveis do cuômetro, realizava-se o cálculo de 30% da Pimax para
Peak Flow® e Manovacuômetro® da paciente no período treino de endurance (resistência) no Threshold, realizado
de 04/10/2005 a 11/12/2009. em 3 séries de 10 repetições. Em seguida era realizado o
• Os materiais utilizados nas sessões de fisioterapia respira- Voldyne - 3 séries de 10 repetições, onde a paciente manti-
tória da paciente estão listados a seguir: nha seu fluxo no Better, que é mais fisiológico e garante um
1. Manovacuômetro Comercial Médica® - utilizado para obter fluxo de ar mais laminar nas VA, pois o Voldyne tem três
o valor da Pimax, para treino de resistência no Threshold®; graduações chamadas Best, Better e Good, sendo que cada
2. Peak Flow Airmed® ATS94 - para avaliar o grau de obstru- uma dessas graduações garante um tipo de fluxo. Durante
ção das vias aéreas; estes quatro anos de tratamento houve algumas variações
3. Voldyne® 5000 Hudson RCI R - para melhorar a ventilação de aparelhos e foram utilizados EPAP® e Respiron® em
pulmonar, através de um fluxo laminar obtido quando algumas sessões, mas logo foram substituídos pelos ante-
mantido no BETHER; riormente citados para melhora da adaptação da paciente.
4. Threshold® IMT - para treino de resistência da musculatura Em todas as condutas citadas a paciente encontrava-se na
inspiratória; posição sentada.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 119

Logo após, eram realizados alongamentos ativos da co- Gráfico 1 - Resultados do Peak Flow analisado na primeira e última
luna cervical e de membros inferiores (MMII) preparando sessão de tratamento de fisioterapia respiratória.
a musculatura para a atividade aeróbia em esteira e para a Peak Flow
cinesioterapia respiratória, realizada com exercícios ativos 300
de ombro com auxílio do bastão, sempre associado ao PV
tranquilo. 250
Por fim era realizado o treino aeróbio com exercício de
200
caminhada na esteira durante 15 minutos, com intensidade *

l/min
leve, ou seja, a máxima que a paciente conseguia sem se can- 150
sar. Durante a caminhada eram analisados as variáveis de FC
e SpO2 com o auxílio do oxímetro de pulso, bem como era 100
interrogado o grau de esforço da paciente através da escala 50
de Borg, mantida sempre em 11 pela paciente, intensidade
considerada como um esforço leve. 0
07/10/2005 11/12/2009
Ao final de cada sessão analisava-se novamente as variáveis
de FC, PA, FR, SpO2, AP e Peak Flow, medidas também PF(1) PF(f)
analisadas com a paciente sentada. Gráfico 2 - Resultados do Manovacuômetro analisado na primeira
Todas essas variáveis foram registradas em uma ficha de e última sessão de tratamento de Fisioterapia Respiratória.
avaliação, que compõe o prontuário da paciente, analisado Peak Flow
para a realização desse estudo de caso. 30

Resultados 25

20
Os resultados obtidos neste estudo serão apresentados
cm/H2O

*
separados por tópicos através de tabelas e gráficos correspon- 15
dentes de cada variável analisada.
10
Peak Flow e Manovacuômetro 5

Os resultados iniciais do Peak Flow e Manovacuômetro 0


07/10/2005 11/12/2009
da primeira sessão de fisioterapia respiratória na Clínica
Escola de Fisioterapia do UNIFAE da paciente, realizados Inicial Final
no dia 07/10/2005, foram de 150 l/min no Peak Flow e
5 cm/H2O no Manovacuômetro respectivamente. E após Observando o Gráfico 2, nota-se que houve um aumento
o tratamento, os resultados obtidos no dia 11/12/2009, entre os valores inicial e final dessa avaliação, mostrando uma
foram de 250 l/min e 24 cm/ H2O, respectivamente. Os melhora de 79,16% da Pimax da paciente que, consequente-
resultados podem ser melhor visualizados na tabela I e nos mente, revela um aumento na força da musculatura inspirató-
Gráficos 1 e 2. ria com o tratamento de fisioterapia respiratória, apesar dessa
paciente apresentar uma doença de caráter progressivo, que
Tabela I - Resultados do Peak Flow e Manovacuômetro analisados poderia comprometer com o tempo essa variável.
na primeira e última sessão de tratamento de fisioterapia respiratória.
Resultados Discussão
Valor Inicial - Valor Final -
07/10/2005 11/12/2009 Nota-se que através destes resultados o programa de fisio-
Monovacuómetro 5 cm/H2O 24 cm/H2O terapia respiratória foi efetivo para a melhora da qualidade
Peak Flow 150 l/min 250 l/min de vida da paciente e este programa está de acordo com o
estudo de Costa [12] que diz que a fisioterapia respiratória
Analisando-se o Gráfico 1, nota-se que houve um au- atua tanto no tratamento como na prevenção das pneumo-
mento entre os valores inicial e final dos resultados obtidos patias, em nível ambulatorial, hospitalar e de terapia inten-
no Peak Flow, mostrando uma melhora de 66,66% de siva, utilizando várias técnicas e procedimentos terapêuticos
redução de obstrução das vias aéreas, mesmo sendo uma próprios, como a reeducação funcional respiratória (RFR),
doença de caráter progressivo no tratamento de fisioterapia a cinesioterapia respiratória (CR) e a reabilitação pulmonar
respiratória. (RP), com objetivo principal de estabelecer ou restabelecer um
padrão de respiração funcionalmente correto. Assim, através
120 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

de um programa de fisioterapia respiratória que envolve não Referências


só a CR e a RFR, mas, também, as manobras de re-expansão
pulmonar, há melhora do quadro clínico de pacientes com 1. Fardeau M, Rouleau AG. Short GCG expansions in the PABP2
alterações respiratórias, como a observada na paciente deste gene cause oculopharingeal musculur dystrophy. Nature Gene-
estudo (Gráfico 1) [10,18-21]. tics 1998;18:164-7.
Em relação ao resultado do gráfico 2 os autores Azeredo 2. Rowland PL. Merrett tratado de Neurologia. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 1997.
et al. [18] e Costa [12], citam que através do treinamento da
3. Bruin SV, Carvalho SM, Levy A, Levy AJ. Distrofia oculofa-
resistência da musculatura respiratória com incentivadores ringea. Relato de 13 casos. Rev Bras Neurol 1985;21(2):43-46.
implementados dentro de um programa de treinamento apro- 4. Ruegg S, Hagen LM, Hobl U, Kappos L, Fubr P, Plasilov M et
priado, se consegue tanto a manutenção, como a melhora da al. Oculopharingeal Muscular Dystrophy an under-diagnosed
força muscular respiratória, facilitando, assim, a recuperação disorder? Swiss Med Wkly 2005;135:574-86.
da fadiga da musculatura respiratória. Vale ressaltar que essa 5. Serradell PA, Trull LJ, Torres CMJ, Hammounda HE, Richard
paciente, pela alteração respiratória que comumente indiví- P, Brais B. Distrofia muscular oculofaringea: estudio de pa-
duos portadores dessa distrofia apresentam, como descrito cientes pertenecientes a siete familias españolas com diferentes
por Umphred, poderia ter evoluído para uma piora nessa expansiones GCG en el gen PABP2. Revista de Neurologia
avaliação [15,18,19, 22]. 2004;19(5):239-47.
6. Slijs van der MB, Engelen van GMB, Hoefsloot HE. Ocu-
De acordo com Kisner e Colby, a fisioterapia respiratória
lopharyngeal Muscular Dystrophy (OPMD) due to a small
abrange uma grande variedade de exercícios terapêuticos e duplication in the PABPN1 Gene. Hum Mutat 2003;21(5):553.
técnicas relacionadas para avaliar e tratar corretamente os pa- 7. Thompson WM, McInnes RR, Willard FH. Genética Médica.
cientes com alguma disfunção cardiopulmonar. Os principais Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1993.
objetivos da fisioterapia respiratória é fazer a prevenção de 8. Twee DMD. Muscular Dystrophy. Medscape Medical News
obstruções e acúmulo de secreções nas vias aéreas; melhorar a [online]. [citado 2009 Mar 31]. Disponível em URL: http://
resistência muscular respiratória à fadiga e a tolerância a exer- medscape.com
cícios gerais; reduzir os gastos de energia durante a expiração 9. Zatz M. A biologia molecular contribuindo para a compreensão
através da reeducação da respiração; manter ou melhorar a e a prevenção das doenças hereditárias. Ciênc Saúde Coletiva
2002;7(1):85-99.
mobilidade torácica e melhorar a efetividade da tosse. Pacientes
10. Brais B, Bouchard PJ, Xie GI, Rochefort LD, Chrétien N, Tomé
com DMO têm alterações respiratórias comumente e, para que MSF et al. Oculopharingeal Muscular Dystrophy. Université of
sejam atingidos os objetivos da fisioterapia respiratória citados Washington, Seattle: GeneReviews; 2006.
anteriormente, podem ser utilizados para melhora e controle 11. Brais B. Oculopharingeal muscular dystrophy: a polyalanine
respiratório nesses pacientes alguns aparelhos, manobras respi- myopathy. Curr Neurol Neurosci Rep 2009;9:76-82.
ratórias, cinesioterapia respiratória e exercícios aeróbios [23]. 12. Costa D. Fisioterapia respiratória básica. São Paulo: Atheneu; 1999.
13. Grewal PR, Karkera DJ, Grewal KR. Mutation analysis of
Conclusão oculopharyngeal muscular dystrophy in Hispanic American
families. Arch Neurol 1999;56:1378-81.
As considerações finais específicas deste estudo são: 14. Liaño DA, Fernández R, Yárnoz C, Artieda C, Gonzalez G,
Artajona A et al. Distrofia muscular oculofaríngea. Tratamento
• O valor de Peak Flow antes do tratamento de fisioterapia res-
cirúrgico. Rev Chil Cir 2009;61:360-5.
piratória confirmava a obstrução ao fluxo de ar causado pelo 15. Umphred AD. Reabilitação neurológica. São Paulo: Manole; 2004.
comprometimento na musculatura da faringe nessa distrofia, 16. Vasquez RMC. Avances en distrofias musculares. Rev Med IMSS
que após o tratamento os valores aumentaram mostrando, 2000;38(2):155-64.
assim, os benefícios para o sistema respiratório, diminuindo 17. Pakleza NA, Richard P, Lusakowsha A, Gajewska J, Jamrozik
a obstrução das vias aéreas nessa paciente com DMO. Z, Pruszczyk KA et al. Oculopharyngeal muscular dystrophy:
• Os valores de Manovacuômetro da paciente com DMO au- phenotypic and genotypic characterististics of 9 Polish patientes.
mentaram comparando valores antes e após do tratamento Neurol Neurochir Pol 2009;43(2):13-20.
com a fisioterapia respiratória, mostrando uma melhora na 18. Azeredo CAC, Polycarpo RM, Queiroz NA. Manual prático de
fisioterapia respiratória. São Paulo: Manole; 2000.
capacidade de força da musculatura inspiratória, portanto,
19. Emery HEA. The muscular dystrophies. Clinical Review
maior resistência à fadiga. 1998;317:991-5.
Como conclusão geral este estudo traz que a paciente com 20. Sarmento VJG. Fisioterapia respiratória no paciente crítico. São
DMO submetida ao tratamento de fisioterapia respiratória na Paulo: Manole; 2007.
Clínica Escola de Fisioterapia do UNIFAE, obteve melhora 21. West BJ. Fisiologia respiratória moderna. São Paulo: Manole; 1996.
da capacidade respiratória e física pela maior resistência à 22. Regenga MM. Fisioterapia em cardiologia da UTI à reabilitação.
fadiga, com maiores valores de força e com menor grau de São Paulo: Roca; 2000.
obstrução das vias aéreas. 23. Kisner C, Colby AL. Exercícios terapêuticos fundamentos e
técnicas. São Paulo: Manole; 1998.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 121

Relato de caso

Avaliação, proposta de tratamento e intervenção


fisioterapêutica em um paciente com aderência
cicatricial no joelho
Evaluation, treatment proposal and physical therapy intervention
in a patient with surgical adherence scarring in knee
Laís Campos de Oliveira, Ft.*, Isabelle Ermes Moreira Dias, Ft.**, Raphael Gonçalves de Oliveira, M.Sc.***,
Fábio Antônio Néia Martini, D.Sc.****

*Aluna do curso de especialização em Fisioterapia Traumato-Ortopédica da Universidade Gama Filho, **Aluna do curso de especia-
lização em Fisioterapia Cardiorrespiratória da Universidade de Marília ***Professor do Centro de Ciências da Saúde, da Universi-
dade Estadual do Norte do Paraná, ****Professor do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Estadual do Norte do Paraná

Resumo Abstract
Objetivo: Verificar os efeitos de um protocolo de tratamento Objective: To evaluate the effects of a physical therapy protocol
fisioterapêutico, em um paciente com aderência cicatricial cirúrgica in a patient with adherence a surgical scarring tissue of the skin in
da pele na região da patela, aplicado um ano após a cirurgia. Mé- the region of the patella, implemented one year after surgery. Me-
todos: As avaliações ocorreram pré e pós-intervenção, envolvendo: thods: The evaluations were performed pre-and post-intervention,
severidade da aderência cicatricial, amplitude de movimento (ADM) involving: severity of scar tissue, range of motion (ROM) of the
articular do joelho, perimetria da perna e coxa, teste de flexibilidade knee, leg and thigh perimeter, flexibility test and resistance force
e força de resistência dos músculos quadríceps e isquiostibiais, po- of the quadriceps and hamstrings, lower limb power, Activities
tência de membros inferiores, Atividades da Vida Diária (AVDs), of Daily Living (ADLs), Instrumental Activities of Daily Living
Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVDs) e qualidade de (IADLs) and quality of life. The treatment protocol involved: the
vida. O protocolo de tratamento envolveu: aplicação de aparelho application of ultrasound device, stretching the quadriceps and
ultrassom, alongamento de quadríceps e isquiostibiais, exercícios hamstrings, exercises of lower limb joint mobilization and muscle
de mobilizações articulares do membro inferior e fortalecimento strengthening volunteer associated with electrical stimulation to the
muscular voluntário, associado à eletroestimulação no quadríceps. quadriceps. The treatment lasted sixty minutes, five times a week for
O tratamento teve duração de sessenta minutos, cinco vezes por three months. Results: there was no change in severity of adhesion
semana, durante três meses. Resultados: Não foi observada alteração scar. There was improvement in joint ROM, perimetry, flexibility,
na severidade da aderência. Ocorreu melhora na ADM articular, strength and muscular power of the affected limb by adherence, as
perimetria, flexibilidade, força de resistência e potência muscular do well as scores of ADLs, IADLs and quality of life. Conclusion: Al-
membro inferior acometido pela aderência, assim como na pontu- though the treatment protocol have provided no change in severity
ação das AVDs, AIVDs e qualidade de vida. Conclusão: Apesar do of adhesion, in a delayed treatment, to an improvement in physical
protocolo de tratamento não ter proporcionado alteração na severi- capacity, contributing to independence in ADLs and IADLs, reflec-
dade da aderência, num tratamento tardio, possibilitou melhora das ting positively on the quality of life of patient.
capacidades físicas, contribuindo para a independência nas AVDs e Key-words: evaluation of results of therapeutic interventions, knee
AIVDs, refletindo positivamente na qualidade de vida do paciente. injuries, Physical Therapy.
Palavras-chave: avaliação de resultado de intervenções
terapêuticas, traumatismos do joelho, Fisioterapia.

Recebido em 12 de setembro de 2010; aceito em 23 de março de 2011.


Endereço para correspondência: Laís Campos de Oliveira, Rua José Severiano Mendes, 8, 18.800-000 Piraju SP, Tel: (14) 3351-4961, E-mail:
laispiraju@yahoo.com.br
122 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Introdução Figura 2 - Visão antero-posterior da aderência cicatricial cirúrgica


da pele na região da patela.
A aderência de uma cicatriz cirúrgica da pele no tecido ósseo
se torna um grande complicador quando atinge uma articula-
ção importante como a do joelho, fato que embora raro, pode
ocorrer durante a consolidação óssea da patela, principalmente
quando o paciente necessita fazer uso de osteossíntese metálica
[1]. Esta ocorrência, quando limita os movimentos da articula-
ção, compromete capacidades físicas como mobilidade, força
e flexibilidade [2], prejudicando a realização das atividades do
cotidiano e a qualidade de vida da pessoa [3].
A cirurgia para descolamento da aderência é uma alter-
nativa para que ocorra a melhora das funções do membro,
todavia, além de ser uma técnica invasiva [4], pode estimular
à reformação do tecido fibroso [5].
Tratamentos fisioterapêuticos em aderências cicatriciais O estudo se caracterizou como de caso, do tipo qualitativo
cirúrgicas têm possibilitado o descolamento do tecido fibroso, e exploratório. A intervenção proposta nesta pesquisa ocorreu
principalmente quando são realizados logo após a cirurgia, um ano após a ocorrência da cirurgia, sendo que nesse ínte-
melhorando as funções do membro afetado [6]. No entanto, rim, o paciente realizou sessões de fisioterapia convencional,
se torna importante verificar também, os efeitos de um trata- sem a obtenção de resultados satisfatórios. Na tentativa de
mento para casos em que o paciente não realizou os cuidados se evitar outra cirurgia, que seria realizada com o intuito de
necessários no momento oportuno. descolar o tecido aderido, foi realizada avaliação e posterior
Com isso, o objetivo do presente estudo foi verificar os elaboração de um protocolo de tratamento fisioterapêutico,
efeitos de um protocolo de tratamento fisioterapêutico, sobre visando possibilitar a melhora das funções do membro aco-
as funções do membro inferior de um paciente acometido metido pela aderência. A pesquisa foi realizada na clínica de
por uma aderência cicatricial cirúrgica da pele na região da Fisioterapia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade
patela, aplicado um ano após a cirurgia, como também nas Estadual do Norte do Paraná, com aprovação do comitê de
suas AVDs, AIVDs e qualidade de vida. ética da Universidade Estadual de Londrina, através do parecer
120/09. O voluntário assinou termo de consentimento livre
Material e métodos e esclarecido.

Apresentação do caso Avaliação

O paciente era do sexo masculino, negro, 24 anos de ida- Realizou-se anamnese, na qual o paciente respondeu sobre
de, morador de uma cidade do interior do estado do Paraná. sua queixa principal, histórico da doença atual e pregressa,
Após fraturar a patela da perna esquerda de forma cominutiva, histórico familiar, ocorrências de cirurgias e osteossíntese me-
devido a um acidente motociclistico, passou por processo tálica, uso de medicamentos, patologias associadas e exames
cirúrgico, em que foram colocados dois fios de Kirschner e complementares.
fio para cerclagem (Figura 1). Durante a consolidação óssea, Os testes para descartar a hipótese de lesão de ligamentos,
ocorreu uma aderência da cicatriz cirúrgica da pele na região meniscos, condromalácia patelar, edema de joelho, dor neural
da patela (Figura 2). e luxação patelar, foram: gaveta anterior e posterior, Godfrey,
estresse em valgo e varo, McMurray, compressão patelar, der-
Figura 1- Osteossíntese de patela com fios de Kirschner e cerclagem. rames articulares do joelho, sinal de Clarke, sinal de Tinel,
Radiografias em antero-posterior e perfil. apreensão para deslocamento e subluxação da patela [7].
A severidade da aderência foi determinada através de
análise palpatória e visual da área aderida, para posterior
classificação de acordo com a pontuação proposta por Ro-
thkopf et al. [8], na qual: 0, indica ausência de aderência;
1, aderência fraca ou leve, que pode ser removida por uma
pequena tração manual; 2, aderência moderada, que pode ser
eliminada por tração manual; e 3, aderência densa, que pode
requerer intervenção cirúrgica.
Devido à aparente discrepância de trofismo muscular entre
os membros inferiores, realizou-se perimetria. As mesmas fo-
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 123

ram feitas utilizando-se fita métrica flexível Carci® (Indústria interrompido no momento em que o avaliado esteve impos-
e Comércio de Aparelhos Cirúrgicos e Ortopédicos Ltda., sibilitado de realizar o movimento completo de extensão ou
Brasil), sendo o perímetro da coxa tomado no ponto médio flexão do joelho, ou quando ocorreram falhas concêntricas
entre o trocânter maior do fêmur e o côndilo lateral da tíbia voluntárias durante as 10 RM.
e o perímetro da perna, na área de maior circunferência da A potência muscular de membros inferiores foi medida in-
panturrilha [9]. A mensuração foi realizada com o voluntá- diretamente através do teste de impulsão vertical com auxílio
rio em pé, corpo ereto, pernas ligeiramente afastadas, peso dos membros superiores (IVC) [10]. O voluntário em posição
distribuído igualmente entre os pés e a musculatura relaxada. ereta estendeu a mão “suja” com pó de giz acima da cabeça,
Para verificar a flexibilidade de quadríceps e isquiotibiais, fazendo uma marcação numa parede com escala em centíme-
foram realizados os testes de Ely e do Ângulo Poplíteo respec- tros (cm), em seguida, com os pés afastados aproximadamente
tivamente. No primeiro, o paciente em decúbito ventral sobre 15 cm, partindo de um semiagachamento, saltou marcando
uma maca, fletiu passivamente a perna, sendo considerada novamente a parede no momento de maior altitude, sendo
flexão máxima do joelho, o momento em que o voluntário medida a distância entre as marcas. O movimento foi reali-
necessitou flexionar o quadril (sinal de Ely positivo), ou até zado três vezes, levando-se em consideração o melhor deles.
a flexão total do joelho (sinal de Ely negativo). No teste do As Atividades da Vida Diária (AVDs), que representam
Ângulo Poplíteo, o paciente se posicionou em decúbito dorsal atividades básicas de sobrevivência, como se alimentar ou
sobre a maca, com o quadril fletido a 90 graus, estendendo higiene pessoal e as Atividades Instrumentais da Vida Diária
passivamente a perna, até a mesma oferecer resistência. Em (AIVDs), que são mais complexas, como utilizar telefone e fa-
seguida, ainda nesta posição, foi medido com um aparelho zer compras, foram avaliadas utilizando-se como instrumentos
goniômetro universal de material plástico da marca Carci®, o Índice de Katz e o questionário de Lawton respectivamente,
o ângulo que se formou entre a coxa e a perna. Foi consi- que permitem classificar o paciente em dependente, depen-
derado encurtamento quando não se completou 180 graus. dente parcial e independente. A pontuação para as AVDs
Em ambos os testes, o membro contralateral foi mantido em variam de 0 a 6 pontos, sendo de 0 a 2 dependente, de 3 a 4
extensão sobre a maca [10]. dependente parcial e de 5 a 6 independente. Para as AIVDs a
A amplitude de movimento (ADM) articular do joelho pontuação varia de 1 a 27 pontos, sendo de 1 a 9 dependente,
em flexão e extensão foi medida com um aparelho goniô- de 10 a 18 dependente parcial e de 19 a 27 independente
metro (Carci®), anotando-se o ângulo formado entre a perna [11]. A qualidade de vida foi analisada pelo instrumento da
e a coxa. A haste fixa do goniômetro foi colocada ao longo Organização Mundial da Saúde, Whoqol-100, validado para a
do eixo médio da coxa e a haste distal ao longo do eixo da população brasileira por Fleck et al. [12], que permite verificar
fíbula, com o membro contralateral mantido em extensão seis domínios: físico, psicológico, independência, relações
sobre a maca. Para a flexão o paciente se encontrava em sociais, meio ambiente e espiritualidade/crenças pessoais, em
decúbito dorsal, realizando a flexão do quadril e poste- escores de 0 (pior qualidade de vida) a 100 (melhor qualidade
riormente a flexão de joelho; e para a extensão, o paciente de vida) pontos.
se encontrava em decúbito dorsal, realizando a flexão do Todos os procedimentos de avaliação e aplicação do proto-
quadril e posteriormente a extensão do joelho. Durante colo de tratamento foram realizados por duas fisioterapeutas
o procedimento, o terapeuta acompanhou a realização do previamente treinadas.
movimento com o goniômetro para a coleta do grau da
ADM da articulação [10]. Protocolo de tratamento
O teste isotônico submáximo foi realizado para verificar
a força de resistência muscular de quadríceps e isquiostibiais, As sessões de fisioterapia foram realizadas durante três
no qual o paciente teve que fazer 10 repetições máximas meses, cinco vezes por semana, com duração de 60 minutos,
(RM), executadas unilateralmente de forma perfeita, com a apenas no membro inferior acometido pela aderência.
maior carga possível [9]. Para a musculatura do quadríceps, Utilizou-se um aparelho de eletroterapia Sonic Compact®
o paciente encontrava-se sentado sobre a maca, pernas para (HTM Indústria de Equipamentos Eletro-Eletrônicos Ltda.,
fora da mesma, sem que os pés tocassem o chão, joelhos Brasil), no modo pulsado, com frequência de 3MHz, inten-
fletidos em 90 graus, mãos sobre a coxa, realizando durante sidade de 0,4 W∕cm², largura de pulso de 200 μs, durante
o movimento a extensão completa da perna. Para a mus- quatro minutos sobre a patela, sendo um minuto por área
culatura dos isquiostibiais, o voluntário encontrava-se em de irradiação efetiva (ERA), com o intuito de auxiliar no
decúbito ventral sobre a maca, joelhos e pernas estendidas descolamento dos tecidos aderentes [13]. Para a aplicação, o
para fora da mesma, mãos na lateral do corpo, realizando paciente encontrava-se sobre uma maca em decúbito dorsal,
movimento de flexão, até o ponto de maior amplitude joelhos apoiados sobre uma cunha de posicionamento, fletidos
articular. A carga era adicionada em forma de caneleiras e a 30 graus.
foram feitas até no máximo três séries em cada membro, Os exercícios de alongamento dos músculos quadríceps
com intervalo de três minutos entre as séries. O teste foi e isquiotibiais, com o paciente em decúbito lateral e dorsal
124 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

respectivamente, foram executados passivamente sobre a Tabela I - Resultados das avaliações pré e pós-intervenção fisiotera-
maca. No primeiro o paciente realizava extensão de quadril pêutica nos membros inferiores.
e flexão de joelho e no segundo flexão de quadril e extensão Membro Esquerdo* Membro Direito
Avaliação
de joelho, até o seu ponto de resistência máxima. Foram Pré Pós Pré Pós
feitas três séries de 20 segundos cada, sendo reservado o Encurtamento de
Positivo Negativo Negativo Negativo
mesmo tempo para descanso. Mobilizações passivas ocor- quadríceps
reram com o paciente sobre a maca em decúbito dorsal e Encurtamento de
Positivo Negativo Positivo Positivo
realizadas do sentido proximal para o distal, envolvendo as isquiotibiais
articulações do quadril, joelho, patelofemoral, tibiofibular ADM do joelho em
160º 180º 168º 168º
proximal, tornozelo e pé. A duração de cada mobilização extensão
foi de três minutos e executadas de acordo com os planos ADM do joelho em
70º 100º 125º 125º
e eixos em relação à estrutura ósteo-articular envolvida. flexão
Os alongamentos e as mobilizações tiveram como intuito Perimetria da
31 cm 32 cm 32 cm 32 cm
contribuir para a melhora da ADM articular do joelho, evi- perna
tar o encurtamento da musculatura, manter ou aumentar Perimetria da coxa 51 cm 53 cm 54 cm 54 cm
a flexibilidade e diminuir o risco de lesões, como propõe 10 RM – quadrí-
2 Kg 14 Kg 20 Kg 36 Kg
Bandy e Sanders [14]. ceps
Para a eletroestimulação do quadríceps, foi utilizado o 10 RM – isquios-
10 Kg 15 Kg 20 Kg 23 Kg
aparelho Sonophasys® (KLD Biosistemas Equipamentos tibiais
Eletrônicos Ltda., Brasil), de corrente bifásica, simétrica, * Membro acometido pela aderência cicatricial na região da patela.
média frequência de 2.500 Hz, modulada a 50 Hz, relação
de fase de 50%, duração de pulso de 300 μs, tempo on de Tabela II - Valores dos escores para cada domínio do questionário
10 segundos e off de 20 segundos, sendo os eletrodos posi- de qualidade de vida, nas avaliações pré e pós-intervenção fisiote-
cionados nos pontos motores próximos da origem e inserção rapêutica.
do quadríceps [13]. Durante a passagem da corrente, o Pré-inter- Pós-inter-
Domínios
paciente realizava movimentos voluntários de extensão e venção venção
flexão da perna. A carga trabalhada foi definida através do Físico 54,17 70,83
teste de 10 RM, e o voluntário executou os movimentos e se Psicológico 71,25 82,50
posicionou da mesma maneira descrita para o teste de força Independência 42,19 87,50
de resistência deste músculo, sendo realizadas três séries de Relações Sociais 66,67 87,50
10 repetições. As séries eram intercaladas por um minuto Meio Ambiente 62,50 74,22
de descanso, nas quais a eletroestimulação não era inter- Espiritualidade/Crenças Pes-
68,75 93,75
rompida. O peso foi aumentado gradualmente conforme soais
a evolução do paciente, mantendo-se o número de séries e
repetições [14]. A eletroestimulação e o trabalho de resis- Discussão
tência muscular foram realizados com intuito de melhorar
a força e o trofismo muscular. Os resultados mostraram que a severidade da aderência
A análise dos dados foi descritiva, uma vez que em se cicatricial se manteve inalterada na segunda avaliação. Como a
tratando de estudo de caso, não existe a possibilidade da intervenção fisioterapêutica se iniciou somente um ano depois
aplicação de análises estatísticas. de realizada a cirurgia, possivelmente este fato dificultou o
descolamento do tecido aderido, pois quando realizados logo
Resultados após a cirurgia, os tratamentos têm se mostrado eficientes
[6]. Outro dado importante foi que o aparelho ultrassom,
A severidade da aderência cicatricial foi classificada em principal meio utilizado para esse fim, foi aplicado no modo
3 pontos, tanto na avaliação pré como na pós-intervenção. pulsado, tendo em vista que outras técnicas, tais como no
Em todos os testes físicos realizados, houve melhora na ava- modo contínuo, ou realizando cavitação, que poderiam ser
liação pós-intervenção no membro acometido pela aderência mais eficazes para auxiliar no descolamento do tecido aderido,
(Tabela I). são desaconselhadas quando o paciente faz uso de osteossíntese
No teste de IVC, os valores foram 24 e 31 cm na pré e metálica [13]. Mesmo não ocorrendo alteração da severidade
pós-avaliação respectivamente. Nas AVDs, a pontuação pas- da aderência, houve uma mudança positiva nas capacidades
sou de 3 para 6 e para as AIVDs, de 23 para 27. Em todos físicas avaliadas.
os domínios do questionário da qualidade de vida houve Com relação à flexibilidade, os testes realizados demons-
melhora (Tabela II). traram que o tratamento foi eficiente ao proporcionar que o
membro acometido pela aderência deixasse de ter a muscula-
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 125

tura encurtada, tanto do quadríceps, como dos isquiotibiais. sentou maior diferença (45,3 pontos). Gillison et al. [20]
O membro direito (que não recebeu tratamento) apresentou mostraram em um estudo de revisão, que em reabilitação ou
encurtamento de isquiotibiais tanto antes como após a inter- tratamento de doenças, pesquisas com duração de três a seis
venção. Esta melhora se refletiu na ADM da articulação do meses, tem apresentado efeitos positivos sobre a qualidade
joelho, pois o membro acometido pela aderência apresentou de vida, principalmente nos domínios relacionados à inde-
aumento nos graus de extensão e flexão. Para a ADM em pendência e aspectos físicos, corroborando com os achados
extensão, o paciente passou de 160 graus na avaliação pré- da presente pesquisa.
intervenção, para 180 graus na pós-intervenção. Na ADM Quanto às limitações deste estudo, cita-se a utilização
em flexão, não foi alcançado o valor mínimo de 125 graus do aparelho ultrassom como principal meio para auxiliar na
sugerido pela literatura [10], porém, ocorreu uma importante diminuição da severidade da aderência cicatricial; sugere-se
melhora, passando de 70 para 100 graus. Melhoras como esta, para estudos posteriores, que outras técnicas fisioterapêuticas,
vêm sendo demonstradas em outros estudos que utilizaram combinadas ou não ao ultrassom, possam ser testadas para
técnicas de mobilização e alongamentos para melhora da esta finalidade, principalmente quando o paciente faz uso de
flexibilidade e aumento da ADM articular do joelho [15,16]. osteossíntese metálica, limitando o uso do equipamento ao
O paciente apresentou ainda melhoras na perimetria modo pulsado.
do membro inferior esquerdo, o que pode ser atribuído Torna-se importante destacar também a importância da
principalmente ao treinamento com pesos, associado à intervenção precoce da fisioterapia nestes casos. O tratamento
eletroestimulação. Estes benefícios foram encontrados no tardio, como o relatado na presente pesquisa, somente deve
estudo de Bax, Staes e Verhagen [17], que além da peri- ser realizado quando a intervenção no momento oportuno
metria, também verificaram aumento da força muscular. não tenha ocorrido, ou tenha ocorrido de forma inadequada.
No presente estudo ocorreu uma melhora, tanto da força
de resistência, como na potência da musculatura avaliada. Conclusão
Na primeira, tanto os músculos do quadríceps, como dos
isquiostibiais, de ambos os membros inferiores apresenta- Foi possível verificar que o protocolo proposto, apesar de
ram melhoras. Cabe lembrar, que a intervenção foi reali- não ter proporcionado mudança na severidade da aderência
zada apenas na musculatura quadríceps do membro com cicatricial cirúrgica, num tratamento tardio, contribuiu para
aderência cicatricial, tendo em vista que este músculo se que o paciente melhorasse as funções do membro acometido
encontrava na avaliação inicial, quatro vezes mais fraco que pela aderência, possibilitando ao mesmo, realizar de forma
os isquiostibiais do mesmo membro, sendo esta diferença independente as atividades do seu cotidiano, refletindo po-
de força, um importante desequilíbrio fisiológico muscular sitivamente na sua qualidade de vida.
[18]. Com o trabalho de fortalecimento, foi possível quase
equiparar a força de resistêncNo membro inferior direito e Referências
na musculatura isquiotibial do membro inferior esquerdo,
que não receberam fortalecimento com pesos e eletroesti- 1. Brunelli G, Longinotti C, Bertazzo C, Pavesio A, Pressato
mulação, a melhora da força de resistência, como também D. Adhesion reduction after knee surgery in a rabbit model
da potência muscular, justifica-se, provavelmente, pelo fato by Hyaloglide®, a hyaluronan derivative gel. J Orthop Res
2005;23(6):1377-82.
do paciente ter com o decorrer do tratamento, aumentado
2. Creighton RA, Bach BRJ. Arthrofibrosis: evaluation, prevention,
suas atividades cotidianas. A melhora nas AVDs corrobora
and treatment. Tech Knee Surg 2005;4(3):163-72.
com essa afirmação, na qual o paciente passou da condição 3. Holtslag H, Buskens E, Rommers C, Prevo A, Werken CVD.
de dependente parcial para independente [11]. Long-term outcome after lower extremity injuries in severely
Piva et al. [19] mostraram que utilizando algumas das injured patients. Europ J Trauma 2006;32(4):365-73.
técnicas adotadas no presente estudo, como fortalecimento, 4. Kim DH, Gill TJ, Millett PJ. Arthroscopic treatment of the
alongamento e mobilização, foi possível influenciar para arthrofibrotic knee. Arthroscopy 2004;20(2):187-94.
uma melhora significativa em relação às AVDs de pacientes 5. Namazi H, Torabi S. Novel Use of botulinum toxin to ameliorate
com patologias relacionadas ao joelho, proporcionando in- arthrofibrosis: an experimental study in rabbits. Toxicol Pathol
dependência nas atividades e aumentando suas expectativas 2007;35(5):715-8.
6. Black DW. Treatment of knee arthrofibrosis and quadriceps
diante da vida. Com relação às AIVDs, o voluntário desta
insufficiency after patellar tendon repair: a case report inclu-
pesquisa apresentou melhora na pontuação do questionário, ding use of the graston technique. Int J Ther Massage Bodyw
no entanto, já se encontrava classificado como independente 2010;3(2):14-21.
na avaliação pré-intervenção. 7. Cipriano JJ. Photographic manual of regional orthopaedic and
Na avaliação da qualidade de vida, ocorreu um aumento neurological tests. 4th ed. Philadelphia: Lippincott Williams
nos valores de todos os domínios do questionário aplicado, & Wilkins; 2003.
com uma média geral de 21,6 pontos da avaliação pré para a 8. Rothkopf DM, Webb S, Szabo RM, Gelberman RH, May JW.
pós-intervenção. O domínio independência foi o que apre- An experimental model for the study of canine flexor tendon
adhesions. J Hand Surg Am 1991;16(4):694-700.
126 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

9. Guedes DP, Guedes JERP. Manual prático para avaliação em 16. Kostek MC, Chen Y, Cuthbertson DJ, Shi R, Fedele MJ, Esser
Educação Física. Barueri: Manole; 2006. KA et al. Gene expression responses over 24 h to lengthening
10. Magee DJ. Orthopedic physical assessment. 5th ed. Philadel- and shortening contractions in human muscle: major changes
phia: Saunders; 2008. in CSRP3, MUSTN1, SIX1, and FBXO32. Physiol Genomics
11. Roehrig B, Hoeffken K, Pientka L, Wedding U. How many and 2007;31(1):42-52.
which items of activities of daily living (ADL) and instrumental 17. Bax L, Staes F, Verhagen A. Does neuromuscular electrical stimu-
activities of daily living (IADL) are necessary for screening. Crit lation strengthen the quadriceps femoris?: a systematic review of
Rev Oncol Hematol 2007;62(2):164-71. randomised controlled trials. Sports Med 2005;35(3):191-212.
12. Fleck MPA, Leal OF, Louzada S, Xavier M, Chachamovich E, 18. Greenwood J, Morrissey MC, Rutherford OM, Narici MV.
Vieira G et al. Desenvolvimento da versão em português do Comparison of conventional resistance training and the fly-
instrumento de avaliação de qualidade de vida da OMS (Who- wheel ergometer for training the quadriceps muscle group
qol-100). Rev Bras Psiquiatr 1999;21(1):19-28. in patients with unilateral knee injury. Eur J Appl Physiol
13. Machado CM. Eletroterapia prática. 4a ed. Santa Maria: 2007;101(6):697-703.
Orium; 2008. 19. Piva SR, Gil AB, Moore CG, Fitzgerald GK. Responsiveness
14. Bandy WD, Sanders B. Therapeutic exercise for physical thera- of the activities of daily living scale of the knee outcome survey
pist assistants: techniques for intervention. 2nd ed. Philadelphia: and numeric pain rating scale in patients with patellofemoral
Lippincott Williams & Wilkins; 2007. pain. J Rehabil Med 2009;41(3):129-35.
15. Gaspar PD, Willis FB. Adhesive capsulitis and dynamic splin- 20. Gillison FB, Skevington SM, Sato A, Standage M, Evangelidou
ting: a controlled, cohort study. BMC Musculoskelet Disord S. The effects of exercise interventions on quality of life in
2009;10(111):1-5. clinical and healthy populations; a meta-analysis. Soc Sci Med
2009;68(9):1700-10.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 127

Revisão

Aspectos da coluna vertebral relacionados à postura


em crianças e adolescentes em idade escolar
Aspects about the spine related to posture in children
and adolescents in scholar age
Simone Neiva Milbradt*, Gabriel Ivan Pranke, M.Sc.**, Clarissa Stefani Teixeira***, Luiz Fernando Cuozzo Lemos,
M.Sc.****, Rudi Facco Alves, M.Sc.*****, Carlos Bolli Mota, D.Sc.******

*Licenciada em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Maria, Laboratório de Biomecânica, Grupo de Pesquisa
Promoção da Saúde e Tecnologias Aplicadas aFisioterapia, **Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade
Federal de Santa Maria, Laboratório de Biomecânica,***Doutoranda em Engenharia da Produção-Ergonomia pela Universidade
Federal de Santa Catarina, Laboratório de Biomecânica,****Mestre em Educação Física pela Universidade de Brasília, Laboratório
de Biomecânica,*****Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade Federal de Santa Maria, Laboratório de
Biomecânica, ******Professor do Departamento de Métodos e Técnicas Desportivas da Universidade Federal de Santa Maria, Labo-
ratório de Biomecânica

Resumo Abstract
A postura humana é afetada pelas associações existentes entre Human posture is affected by existent associations among the
as partes do corpo especialmente a coluna vertebral e o eixo central parts of the body, especially with the spine, central axis of the body
do corpo que permite a comunicação com as demais partes do cor- which allows the communication with the other parts. It has been
po. Frequentemente tem sido reportado que parte dos problemas frequently reported that part of postural problems in the adult phase
posturais da fase adulta são originários de acomodações incorretas are originated from inadequate accommodations of the body during
do corpo na juventude. Logo, o objetivo deste estudo, por meio de the young phase. The objective of this study, through a literature
uma revisão de literatura, é reportar e relacionar a incidência e as review, was to report and establish connections among the inci-
causas de problemas posturais, bem como, as consequências diretas dence and the causes of postural problems, as well as the direct and
e indiretas para a vida cotidiana. A importância de se conhecer não indirect consequences in the daily life. It is important to know not
apenas a magnitude do problema, mas também formas para mini- only the magnitude of the problem, but also, the ways to minimize
mizar as situações de riscos, de modo a informar o leitor sobre os the situations of risk, in order to inform about the cautions to be
cuidados a serem adotados no dia-a-dia. De forma geral, os estudos adopted in the daily life. In a general view, the studies show the
revelam os prejuízos sobre a postura com a utilização de uma mochila damages in the posture with the use of heavy backpacks (the limit is
muito pesada (tendo como limite 10% do peso corporal). Além da 10% of the corporal weight). Besides the reduction of the weight in
diminuição do peso da mochila, da realização de alongamentos e the backpacks, and the practice of stretching and physical exercises,
da prática de exercícios físicos, palestras educacionais podem ser educational lectures can be a strategy to combat the problem and
estratégias para combater o problema e conscientizar os usuários. to make the users aware about it.
Palavras-chave: postura, criança, adolescente, cinemática. Key-words: posture, children, adolescents, kinematics.

Recebido 29 de maio de 2009; aceito em 20 de dezembro de 2010.


Endereço para correspondência: Simone Neiva Milbradt, Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Educação Física e Desportos, Faixa de Camobi,
km 9, Avenida Roraima 1000, 97105-900 Santa Maria RS, Tel: (55) 3220 8271, E-mail: simonemilbradt@yahoo.com.br, pranke.cefd@gmail.com
128 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Introdução Material e métodos

A postura humana tem sido objeto de estudo biomecâ- Foi realizada uma revisão sistemática através de uma pes-
nico, uma vez que desvios estruturais e funcionais causam quisa nas bases de dados Medline, Scielo e ScienceDirect em
desequilíbrio no sistema corporal, levando a compensações busca de artigos que discutissem sobre a postura de crianças
que podem gerar alterações em suas estruturas e funções [1]. e adolescentes em idade escolar. Os descritores utilizados
A postura não é uma posição estática, mas sim, dinâmica, pois combinados entre si para a busca dos artigos, de acordo com
as partes do corpo se adaptam constantemente, em resposta a os descritores em ciências da saúde (DeCS) foram: postura
estímulos recebidos, refletindo corporalmente as experiências (posture), criança (child), adolescente (adolescent), cinemá-
momentâneas [2]. Do ponto de vista fisiológico, existe uma tica (kinematic). A partir dessas buscas foram selecionados
postura ideal para cada indivíduo, sendo esta caracterizada textos que vislumbrassem responder os objetivos deste estudo.
por um bom alinhamento corporal, posição na qual o mínimo Dentre as 83 publicações encontradas, foram selecionadas 20
estresse é aplicado em cada articulação e que exige mínima de língua portuguesa e inglesa que relacionassem de forma
atividade muscular para sua manutenção. Então, qualquer mais objetiva e específica as relações esperadas. Como apenas
posição que aumente o estresse sobre as articulações pode os artigos não supriram as lacunas existentes na literatura, foi
ser considerada postura defeituosa [3]. Em postura correta o feita uma busca de teses e dissertações, no período de 2000
estresse é distribuído para as estruturas mais aptas a suportá- a 2008, no Google scholar. Foram encontrados 13 estudos
lo, enquanto que em má postura o efeito é oposto, sendo e, destes, cinco foram selecionados para a constituição deste
o estresse distribuído para as estruturas menos capazes de estudo.
suportá-lo [4].
A maioria dos problemas posturais tem origem na infân- Resultados
cia, uma vez que nessa fase há o período de acomodação das
estruturas anatômicas. Em crianças em idade escolar é possível A coluna vertebral, por ser o suporte do corpo, é a mais
observar padrões de postura ao sentar, carregar mochilas e até prejudicada com sobrecargas exacerbadas impostas no cor-
mesmo da marcha inadequada, bem como a permanência po humano, podendo ser considerada como a origem dos
na posição sentada por até seis horas por dia, com pequenos problemas posturais, que aumentam significativamente na
intervalos em pé, fatores que podem levar a alterações pos- população mundial, tanto em adultos como em crianças
turais, fadiga e dorsalgias crônicas [5]. Já os adolescentes são [10]. Coluna vertebral constitui a base do tronco, além de
os mais ameaçados pelo trabalho em postura arcada, pela possuir funções como suportar o homem em sua postura
demorada permanência em pé e por transportarem cargas ereta, proteger a medula espinhal e permitir o movimento
extremamente pesadas além de suas capacidades estruturais e a deambulação [11]. Estudos comprovam que existe uma
ainda não totalmente desenvolvidas [6]. grande variação fisiológica na postura e na mobilidade da
A postura corporal assumida no dia-a-dia tem implicações coluna vertebral durante o crescimento e que a adolescência
na saúde e no bem-estar de crianças [7]. Na fase de cresci- está correlacionada com o desenvolvimento e acentuação de
mento e desenvolvimento a solicitação incorreta da coluna desvios posturais [2,8].
predispõe condições degenerativas da coluna no adulto [8]. Os desvios posturais na coluna podem ser encontrados
Esse problema passa a ganhar importância na medida em basicamente em dois planos: frontal e sagital. No plano sa-
que estudos apontam o aumento da incidência de problemas gital, a curvatura da coluna vertebral com uma convexidade
posturais em crianças e adolescentes em idade escolar, o que posterior é denominada de cifose, enquanto que uma curva-
pode estar influenciada por fatores comumente relacionados tura de convexidade anterior é denominada de lordose e, no
à rotina escolar, como peso das mochilas, mobiliário, estado plano frontal, uma curvatura lateral da coluna vertebral (para
emocional, capacidade física, meios de transportes e outros a direita ou para a esquerda) é denominada escoliose [12].
fatores como, por exemplo, hereditariedade e excesso de peso
corporal [2,9]. Diante desses fatores há necessidade de serem Prevalência de problemas posturais em
tomadas medidas preventivas no que diz respeito à avaliação crianças e adolescentes
precoce das possíveis alterações posturais e à educação das
crianças sobre as posturas adequadas ao estudar, ao transpor- Alguns estudos na literatura procuram investigar quais
tar objetos escolares e ao praticar exercícios físicos, de modo os principais problemas posturais que ocorrem em crianças
a evitar comprometimento do sistema musculoesquelético. e adolescentes em fase escolar. Detsch et al. [13] estimaram
Baseado nesses pressupostos, a proposta do presente a prevalência de alterações posturais laterais e ântero-poste-
estudo é reportar e relacionar a incidência e as causas de riores em adolescentes do sexo feminino, através da avaliação
problemas posturais, bem como as consequências diretas postural não-invasiva de 495 estudantes do ensino médio
e indiretas para a vida cotidiana de crianças e adolescentes regular diurno, com idade de 14 a 18 anos na cidade de São
em idade escolar. Leopoldo/RS. Os resultados mostram uma prevalência de
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 129

66% para as alterações laterais e de 70% para as alterações alunas cujos responsáveis estudaram até o nível fundamental
ântero-posteriores. Rego e Scartori [5] observaram o padrão e nas alunas com sobrepeso ou obesidade.
de postura em atividades do dia-a-dia de 47 crianças (66% do Neste sentido, Kussuki, João e Cunha [17] analisaram
sexo masculino e 34% do sexo feminino), com idade média a influência do excesso de peso sobre a coluna de crianças
de 13 ± 2 anos, da 5ª e 6ª séries do Ensino Fundamental, obesas (n = 24) ou com sobrepeso (n = 13), comparando-as
do Colégio Integral de Teresina/PI e as alterações posturais com a coluna de crianças eutróficas (n = 40), com idades entre
de maior evidência detectadas foram à escoliose e o desni- sete e 10 anos, utilizando métodos quantitativos de análise
velamento de espinha ilíaca anterior superior em 51% dos postural por meio de fotos digitais. Observou-se que o grupo
alunos, os joelhos varo e valgo em 34%, a protusão de ombros de obesos possui maior incidência de hiperlordose lombar
em 36%, a anteriorização da cabeça em 24% e o varismo e (66,67%) seguidos das crianças com sobrepeso (53,85%) e
valguismo dos pés em 32%. crianças eutróficas (35%). Além disso, foram encontradas hi-
Correa et al. [14] avaliaram 72 crianças de 2ª e 3ª série percifose torácica, também para os obesos (54,17%, enquanto
de Ensino Fundamental, escolhidos de forma aleatória e foi 41,67% em crianças com sobrepeso e 32,5% em crianças
encontraram as seguintes alterações: escoliose, hipercifose, eutróficas) e protração da cabeça (54,17%, enquanto foi de
hiperlordose, joelho valgo e pé valgo e constataram ainda 41,67% em crianças com sobrepeso e 12,5% em crianças
que as meninas apresentaram mais alterações posturais que os eutróficas). Os valores estatisticamente significativos para os
meninos. Provavelmente, essas alterações ocorreram durante a ângulos que caracterizam as alterações citadas foram encon-
puberdade e, segundo os autores, devido à redistribuição dos trados na protração da cabeça, em todas as comparações, e
tecidos que ocorre principalmente nas meninas. Já Martelli e em lordose lombar, apenas na comparação entre obesos e eu-
Traebert [15] avaliaram crianças e adolescentes em fase escolar tróficos. Esses achados revelam que o sobrepeso e a obesidade
de 10 a 16 anos do município de Tangará/SC e encontraram traduzem problemas posturais, principalmente nas curvaturas
a prevalência de alterações posturais de coluna vertebral em do plano sagital.
28,2% dos avaliados. As duas alterações mais prevalentes Frequentemente tem sido reportado que a postura é
foram a hiperlordose (20,3%) e a hipercifose (11,0%). influenciada pelo modo de respiração das crianças. De uma
maneira geral, crianças respiradoras orais possuem problemas
Fatores que causam problemas posturais posturais. Em estudo de Lima et al. [18] se comparou a postu-
ra de crianças de oito a 10 anos respiradoras orais obstrutivas
Fatores como hábitos posturais equívocos, hereditarie- (n = 17) e funcionais (n = 29) com crianças respiradoras nasais
dade, ausência de atividade física, respiração oral, excesso de (n = 19), por meio da biofotogrametria. Em geral, encontrou-
peso e transporte inadequado de materiais escolares tem sido se que os respiradores orais funcionais possuem o corpo
identificados como possíveis fatores de desencadeamento de inclinado mais para frente que as respiradoras nasais. Além
problemas posturais em crianças [2,9]. disso, respiradores orais possuem maior inclinação da cabeça
Martelli e Traebert [15] ao avaliarem fatores associados para frente e maior cifose torácica que respiradores nasais.
a alterações posturais de coluna vertebral de crianças e ado- O uso da mochila se muito pesada também é fator que leva
lescentes em fase escolar de 10 a 16 anos do município de a alterações posturais. Em estudo piloto de Chansirinukor et
Tangará/SC encontram associação significativa negativa de al. [19] se objetivou determinar se o peso de uma mochila, a
estatura com alterações posturais e associação negativa entre sua posição na coluna vertebral e/ou o tempo que o indiví-
massa corporal e hiperlordose. Em contrapartida, Arruda e duo a carrega afetaria a postura da coluna cervical e ombro
Simões [16] ao analisarem o perfil antropométrico, nutri- de adolescentes. A postura foi medida a partir de fotos nos
cional e uma caracterização postural computadorizada de planos sagital e frontal de 13 estudantes em várias condições
100 crianças de idades entre oito e 10 anos encontraram que de carga. A posição do ângulo da cervical e do ângulo do
com o aumento do Índice de Massa Corporal (IMC) houve ombro foi calculada e comparada. Os resultados mostram
aumento da prevalência de assimetria nos planos frontal (vista que tanto o peso da mochila e o tempo que o indivíduo a
anterior) e sagital (escoliose, hiperlordose lombar, hipercifose carrega influencia a postura da coluna cervical e do ombro.
torácica), sugerindo maiores alterações posturais em crianças A anteriorização da cabeça aumentou com a mochila, espe-
diagnosticadas como pré-obesos e obesos. cialmente com carga pesada. Em geral, encontrou-se que,
Detsch et al. [13] associaram as alterações posturais late- para adolescentes, mochilas com 15% do peso corporal ou
rais e ântero-posteriores de 495 adolescentes do sexo feminino mais parecem ser muito pesadas para manutenção da postura.
da cidade de São Leopoldo/RS, com idade entre 14 e 18 anos, Negrine e Negrine [20] analisaram os efeitos posturais
com fatores socioeconômicos, demográficos, antropométricos da sobrecarga da mochila, considerando rotação de tron-
e comportamentais, em estudo epidemiológico. As alterações co, assimetria de ombro, cifose torácica, lordose lombar e
laterais foram mais prevalentes nas alunas com IMC normal decomposição frontal e sagital na linha vertical. Um grupo
e nas que assistiam à televisão por mais de 10 horas semanais. de 43 adolescentes (18 meninas e 25 meninos) com média
A prevalência de alterações ântero-posteriores foi maior nas de idade de 12,5 ± 0,5 anos foi considerado a partir de um
130 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

estudo anterior pela média de peso da mochila e média de análise cinemática de movimento. A mochila escolar utilizada
tempo gasto no trajeto casa-escola (7 min). Os indivíduos para coleta foi do tipo duas alças, sendo a mesma para cada
foram avaliados por meio de um dispositivo optoeletrônico indivíduo. Porém, a massa colocada na mochila correspondeu
em diferentes condições correspondentes as atividades habi- a 12% da massa corporal de cada sujeito. Os resultados mos-
tuais realizadas com a mochila escolar: sem carga; carregando traram que o uso desse tipo de mochila exerceu influência no
8 kg de carga simétrica; carregando 12 kg de carga simétrica; comportamento dos ângulos do quadril e tronco durante o
carregando 8 kg de carga assimétrica; e depois da fadiga de- andar dos sujeitos, possivelmente pela postura compensatória
vido ao transporte de mochila (em 7 minutos caminhando do tronco, pois pela variedade de movimentos que a coluna
na esteira carregando uma carga simétrica de 8 kg), com a realiza esta é a primeira estrutura do sistema locomotor a
mesma carga e sem carga. As cargas simétricas induziram sentir os efeitos das adaptações posturais. De acordo com os
mudanças na postura apenas nas medidas de plano sagital resultados encontrados no estudo de Flores et al. [21] e Mota
(sem diferenças estatisticamente significativas apenas entre as et al. [8] o valor limite recomendado pela literatura de 10%
condições com 8 e com 12 kg de peso carregado), enquanto da massa corporal nas mochilas, parece satisfatório, uma vez
as cargas assimétricas induziram mudanças posturais em que aumentando essa porcentagem as alterações no padrão
todos os planos anatômicos. A fadiga habitual acentua os cinemático começam a ocorrer
efeitos no plano sagital, porém os efeitos cessam em todos Chow et al. [22] avaliaram os efeitos do uso de mochila
os parâmetros (exceto lordose lombar) após a remoção da com diferentes pesos na cinemática da marcha de 23 adoles-
carga. Os autores afirmam que os efeitos do peso da mochila centes com escoliose idiopática e 20 adolescentes controles
na postura devem ser avaliados com mais cuidado, pois a lei com médias de idade de 13 anos. Os pesos de mochila utili-
protege apenas os trabalhadores que transportam cargas pe- zados foram de 7,5%, 10%, 12,5% e 15% do peso corporal.
sadas, mas não crianças. Além disso, resultados na literatura Foi avaliado o movimento de pelve, tronco e cabeça. Para
sustentam a hipótese de que dor nas costas na juventude está ambos os grupos avaliados o aumento da carga da mochila
correlacionado com dor lombar na idade adulta. provocou um aumentou significativo na flexão do tronco em
relação ao quadril e da cabeça em relação ao tronco, mas não
Consequências dos problemas posturais houve nenhuma diferença entre os grupos. O mesmo estudo
avaliou o equilíbrio dos indivíduos, para verificar a influência
A postura incorreta acarreta sobrecargas no aparelho das mochilas com pesos diferentes nessa variável. Aliás, essa
locomotor humano, que podem acarretar algumas conse- é, portanto, mais uma variável influenciada pelo excesso de
quências maléficas ao organismo. Em geral, o indivíduo que peso na mochila, demonstrando a existência dessas relações
adota uma má postura convive constantemente com dor, com a mensuração do centro de pressão na tarefa de equilíbrio
principalmente na região da coluna. As dorsalgias podem estático em uma plataforma de força. Para ambos os grupos
acontecer na região cervical, dorsal e lombar da coluna ver- do estudo o deslocamento do centro de pressão no sentido
tebral. Rego e Scartoni [5] apontam uma alta prevalência de ântero-posterior aumentou de forma significativa. Porém, na
dorsalgia na região da coluna vertebral em crianças em idade comparação entre os grupos as diferenças foram mais evidentes
escolar, relacionando como consequência a permanência na no deslocamento médio-lateral do centro de pressão, sendo
posição sentada (5 ± 2h/dia) e hábito de conduzir mochilas que indivíduos com escoliose apresentaram piores índices
com peso excessivo. de equilíbrio. Os autores concluem que o limite de carga
Alterações nos padrões cinemáticos da marcha também são para pessoas com escoliose idiopática não deve ser o mesmo
comumente relacionados na literatura aos desvios posturais. para indivíduos normais, devido às diferenças no equilíbrio
Flores et al. [21] avaliaram a marcha de quatro crianças com existentes entre os grupos.
nove anos de idade, com e sem o uso de mochila, utilizando- Pinetti et al. [23] analisaram a influência da mochila no
se de equipamentos de análise biomecânica. O percentual de equilíbrio de 42 adolescentes em idade escolar de ambos os
carga da mochila foi controlado em 10% da massa corporal sexos (15 do sexo feminino e 27 do sexo masculino), com
do indivíduo e foram analisados o tempo dos passos, a velo- idades entre 11 e 13 anos por meio da análise de dados esta-
cidade da marcha e a variação angular do joelho. Não foram bilométricos em dois momentos: sem mochila e com mochila,
encontradas diferenças estatisticamente significativas entre por um período de 30 segundos em cada momento. Para
as condições do uso de mochila nos parâmetros de marcha análise estatística foram utilizados os dados estabilométricos
avaliados para a população desse estudo. de deslocamento radial e da velocidade de deslocamento. Os
Mota et al. [8] analisaram as características cinemáticas principais resultados obtidos revelam que com a utilização
do andar de crianças transportando mochilas. Os sujeitos da da mochila a velocidade de deslocamento e o deslocamento
pesquisa foram alunos da rede privada que frequentavam a radial do corpo aumentam em relação à situação sem mochila.
2ª e 3ª séries do ensino fundamental, com idade entre oito Dessa forma, percebe-se que o uso da mochila com materiais
e nove anos, e que utilizavam mochilas de duas alças. Para didáticos interfere também no equilíbrio e no controle pos-
a coleta de dados foi utilizado o sistema tridimensional de tural desses alunos.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 131

O combate ao problema petidas durante este uso. O peso da mochila de 10% do peso
corporal utilizado como parâmetro limítrofe para utilização da
O combate aos problemas posturais deve ser realizado mochila em crianças parece ser adequado para essa situação.
para diminuir os problemas associados à má postura. Noda As explicações sobre as posturas adequadas e o incentivo
e Tanaka-Matsumi [24] avaliaram o efeito de uma interven- aos escolares na correta execução das atividades, como, por
ção através de aulas baseadas na melhora comportamental exemplo, diminuição do peso das mochilas, realização de
da postura sentada em 86 crianças japonesas. A intervenção alongamentos diários e a importância do exercício físico, são
contou de 28 sessões em que as crianças eram instruídas sobre medidas relevantes que podem ser adotadas facilmente no
a postura correta, sendo que em cada sessão o número de ambiente escolar. Essas medidas podem, substancialmente,
crianças com postura adequada era contado. Os resultados prevenir os escolares de distúrbios posturais na juventude,
indicam que as crianças melhoram a postura, depois desse trazendo efeitos benéficos para toda a sua vida, uma vez que
período, sendo que o índice inicial de 20% de crianças em tais problemas podem ser responsáveis pela dor lombar tão
postura adequada antes da intervenção subiu para 90% ao frequente na idade adulta.
término da intervenção. Além disso, o programa contou com
uma grande aceitação entre os professores, pois os alunos Referências
aumentaram significativamente a produtividade na escrita
em postura adequada. 1. Moro ARP. Ergonomia da sala de aula: constrangimentos
Um estudo realizado por Fernandes, Casarotto e João [25] posturais impostos pelo mobiliário escolar. Revista Digital
mostrou que orientar pais, professores e alunos é uma boa EFDesportes 2005;85(10).
2. Braccialli LM, Vilarta R. Aspectos a serem considerados na ela-
maneira de corrigir erros ao carregar mochilas. A pesquisa foi
boração de programas de prevenção e orientação de problemas
feita com 99 alunos da 1ª à 4ª séries (de sete a 11 anos) de posturais. Rev Paul Educ Fís 2000;14(1):16-28.
uma escola particular em São Paulo/SP. Foram observados o 3. Magee DJ. Avaliação musculoesquelética. 3a ed. São Paulo:
peso e o tipo da mochila e a maneira de transportá-la. Após Manole; 2002.
a avaliação, alunos, pais e professores assistiram a palestras de 4. Moffat M, Vickery S. Manual de manutenção e reeducação
educação postural. Antes da orientação, 49,5% dos estudantes postural. Porto Alegre: Artmed; 2002.
usavam mochilas de rodinhas, 46,5% usavam o modelo com 5. Rego ARON, Scartoni FR. Alterações posturais de alunos de
duas alças e 4% outros tipos de transporte. Depois, 60,5% 5a e 6a séries do Ensino Fundamental. Fitness and Performance
passaram a usar a de duas alças, contra 33,5% que continu- Journal 2008;7(1):10-15.
6. Resende JA, Sanches D. Avaliação dos desvios posturais em
aram com a de rodas. Verificou-se que o peso das mochilas
crianças com idade escolar de 11 a 16 anos. Revista de Educação
de rodinhas chegava a 10 kg. Por isso, puxá-la de maneira
Física/UEM 1992;3(1):21-6.
assimétrica gerava sobrecarga, principalmente para subir as 7. Liposcki DB, Neto FR, Savall AC. Validação do conteúdo do
escadas. O número de alunos que carregavam a mochila de Instrumento de Avaliação Postural – IAP. Revista Digital EF-
alças nos dois ombros passou de 41,5% para 55,5%. O peso Desportes 2007;12(109).
da mochila diminuiu, em média, 2,6 kg, uma vez que os 8. Mota CB, Link DM, Teixeira JS, Estrázulas JÁ, Oliveira, LG.
estudantes carregavam material desnecessário. Análise cinemática do andar de crianças transportando mochilas.
Além da orientação dos indivíduos, a própria avaliação Rev Bras Biomec 2002;3(4):15-20.
postural como identificadora dos desvios posturais é fun- 9. Pereira LM, Barros PCC, Oliveira MND, Barbosa AR. Esco-
damental no combate ao problema. A identificação dos liose: triagem em escolares de 10 a 15 anos. Rev Saude Com
2005;1(2):134-43.
problemas posturais é o primeiro passo para a intervenção
10. Junior JRV, Azato MFK. Alterações posturais decorrentes da dis-
que quanto mais cedo ocorre mais resultados positivos e crepância dos membros inferiores. Fisioter Bras 2003;4(3):173-
benéficos pode trazer. Finalmente, instruções sobre alimen- 80.
tação e exercício físico para os pais e para as próprias crianças 11. Kahle W, Leonhardt H, Platzer W. Atlas de Anatomia Humana:
podem auxiliar no combate ao sobrepeso e à obesidade, o que com texto comentado e aplicações em Medicina, Reabilitação e
pode refletir em efeitos benéficos, uma vez que estes fatores Educação Física: Aparelho de Movimento. São Paulo: Atheneu;
induzem os desvios posturais. 2000.
12. Rodacki ALF, Carvalho LAP. The influence of two backpack
Conclusão loads on children’s spinal kinematics. Rev Bras Educ Fís Esp
2008;22:45-52.
13. Detsch C, Luz AMH, Candotti CT, Oliveira DS, Lazaron F,
Evidencia-se que a coluna de crianças e adolescentes em
Guimarães L, Schimanoski P. Prevalência de alterações posturais
idade escolar é afetada quando sujeita a sobrecargas excessivas em escolares do ensino médio em uma cidade no Sul do Brasil.
de qualquer natureza. Além da obesidade, o uso da mochila é Rev Panam Salud Pública 2007;21(4):231-8.
fator primordial nesse contexto, pois é comprovado que sua 14. Correa AL, Pereira JS, Silva MAG. Avaliação dos desvios
carga pode levar a problemas tanto imediatos, no momento posturais em escolares: estudo preliminar. Fisioter Bras
do uso, quanto traumáticos, em adaptação às sobrecargas re- 2005;6(3):175-8.
132 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

15. Martelli RC, Traebert J. Estudo descritivo das alterações postu- 21. Flores F, Gurgek J, Porto F, Ferreira R, Tesser Gonçalves F,
rais de coluna vertebral em escolares de 10 a 16 anos de idade: Russomano T, et al. O efeito do uso de mochila na cinemática
Tangará-SC, 2004. Rev Bras Epidemiol 2006;9(1):87-93. da marcha de crianças. Sci Med 2006;16(1):4-11.
16. Arruda MF, Simões MJS. Caracterização do excesso de peso na 22. Chow DH, Kowok ML, Cheng JC, Lao ML, Holmes, et al. The
infância e sua influência sobre o sistema musculoesquelético de effect of backpack weight on the standing posture and balance
escolares em Araraquara - SP. Mov Percep 2007;8(11):323-34. of schoolgirls with adolescent idiopathic scoliosis and normal
17. Kussuki MOM, João SMA, Cunha ACP. Caracterização pos- controls. Gait Posture 2006;24:173-81.
tural da coluna de crianças obesas de 7 a 10 anos. Fisioter Mov 23. Pinetti ACH, Ribeiro DCL. Estudo sobre a influência da mochi-
2007;20(1):77-84. la no controle postural em escolares de 11 a 13 anos por meio da
18. Lima LCO, Baraúna MA, Sologurem MJJ, Canto RST, Gastal- análise de dados estabilométricos. Ter Man 2008;6(23):43-47.
di AC. Postural alterations in children with mouth breathing 24. Noda W, Tanaka-Matsumi J. Effect of a classroom-based
assessed by computerized biophotogrammetry. J Appl Oral Sci behavioral intervention package on the improvement of
2004;12(3):232-7. children’s sitting posture in Japan. Behav Modif Forthcoming
19. Chansirinukor W, Wilson D, Grimmer K, Dansie B. Effects of 2009;33(2):263-73.
backpacks on students: measurement of cervical and shoulder 25. Fernandes SMS, Casarotto RA, João SMA. Efeitos de sessões
posture. Aust J Physiother 2001;47:110-16. educativas no uso das mochilas escolares em estudantes do ensino
20. Negrini S, Negrini A. Postural effects of symmetrical and fundamental I. Rev Bras Fisioter 2008;12(6).
asymmetrical loads on the spines of schoolchildren. Scoliosis
2007;2(8).
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 133

Revisão

Fisioterapia e integralidade: novos conceitos,


novas práticas. Estamos prontos?
Physical therapy and integrality: new concepts. Are we ready?
Cristina Pellegrino Baena, Ft.,M.Sc.*, Maria Cristina Flores Soares**

*FURG/RS, **Docente do Instituto de Ciências Biológicas e do PPGCiSAu-FURG/RS

Resumo Abstract
Este artigo tem como objetivo refletir sobre como os fisiotera- The aim of this literature review was to think about how the
peutas estão se preparando para o enfrentamento da integralidade na physical therapists are preparing themselves to face a comprehensive
atenção em saúde. Como procedimento metodológico foi realizada health care. As a methodological procedure, a literature review in
uma pesquisa bibliográfica e documental em periódicos indexados journals indexed in Lilacs, Medline, Cochrane Library and Scielo
nas bases Lilacs, Medline, Biblioteca Cochrane e Scielo, bancos de database was used, as well as online dissertation database available
teses online disponibilizados em diferentes universidades brasileiras from different Brazilian universities, documents available in the Mi-
e pesquisa a documentos viabilizados pelos Ministérios da Saúde e nistry of Health and Education and institutions directly connected
Educação e instituições diretamente ligadas à Fisioterapia. Para to Physical Therapy. In order to answer to our question, we need to
responder à questão inicial foi abordada a necessidade da adequação adjust these human resources to health both in graduation and post-
da formação desses recursos humanos para a saúde tanto em nível de graduation levels. It was also pointed out the need of reorientation
graduação como de pós-graduação. Ressaltou-se também a necessi- of physical therapists practices in healthcare system, as well as in the
dade de reorientação das práticas dos trabalhadores de Fisioterapia existing public policies that enable the participation of the practice
nos serviços de saúde, assim como das políticas públicas existentes in that way. We also observed the experiences that connect physical
que possibilitam a participação da mesma neste caminho. Nesta therapy to comprehensive service. Based on different sources, some
reflexão foram ainda revisadas as experiências que relacionam a advances related to the education of new professionals were checked,
Fisioterapia à integralidade. A partir das diferentes fontes analisadas but it was noticed that those advances are only local initiatives. In
verificam-se alguns avanços no que se refere à formação de novos order to become effective the reorientation in health practices, we
profissionais, mas observa-se que estas são ainda iniciativas bastante suggest that the theoretical and practical instrument of the profes-
localizadas. De forma a efetivar uma reorientação das práticas em sion which aims at assistance and rehabilitation should be re-read.
saúde sugere-se a necessidade de uma releitura do instrumental Similarly, it is emphasized the importance of a re-discussion about
teórico-prático da profissão construído até o momento e direcionado the health public policies, which should consider integrality as a
essencialmente para a assistência e reabilitação. Da mesma forma, way of health viability in its perspective and include all the involved
enfatiza-se a importância de uma rediscussão sobre as políticas actors in the health care process.
públicas de saúde que devem considerar a integralidade como um Key-words: Physical Therapy, integrality, primary health care,
meio de viabilização da saúde em sua visão ampliada e incluir todos health promotion.
os atores envolvidos no processo do cuidar em saúde.
Palavras-chave: Fisioterapia, integralidade, atenção básica à
saúde, promoção de saúde.

Recebido 20 de maio de 2010; aceito 18 de novembro de 2010.


Endereço para correspondência: Cristina Pellegrino Baena, Rua Dom Pedro I, 80/1504, 80620-130 Curitiba PR, Tel: (41) 3203-6390, E-mail:
cbaena01@gmail.com
134 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Introdução Além da discussão sobre a polissemia do termo, a inte-


gralidade representa, segundo Mattos [10] uma recusa ao
A institucionalização do Sistema Único de Saúde (SUS), reducionismo, caracterizando desta forma uma boa prática
vigente no Brasil desde 1990, representa um avanço em para todo profissional de saúde, qualquer que seja sua forma-
direção ao exercício pleno da cidadania para os brasileiros. ção em saúde ou seu local de atuação. Sendo assim, o tema
Apesar das dificuldades enfrentadas para sua efetivação, o desta reflexão apresenta-se como um debate necessário a todo
acesso democratizado e a gestão descentralizada são passos profissional de saúde para que se eleve o chamado setor saúde
importantes quando se considera o panorama de exclusão e ao status de questão saúde como referido por Buss [9].
iniquidades em relação à saúde vivenciado anteriormente [1]. Uma das iniciativas concebidas pelo Ministério da Saúde
Os debates pertinentes à saúde socialmente determinada como forma de reorganização do SUS sob a luz da interdis-
e à produção de saúde, contrapostos ao modelo curativo ciplinaridade em nível da atenção básica é a Estratégia Saúde
anterior de baixa efetividade influenciaram a Constituição da Família (ESF). Esta estratégia tem mostrado a necessidade
Brasileira de 1988 que assumiu, entre seus objetivos, a re- de adequação de algumas profissões já formalmente inseridas,
dução das desigualdades sociais e regionais e a construção como Medicina, Enfermagem e Odontologia, abrindo-se
de uma sociedade solidária e igualitária. A saúde foi reco- assim a necessidade de um cenário de formação permanente
nhecida como um direito de cidadania e dever do Estado para esses profissionais de saúde. Iniciativas pontuais e, regio-
[2]. Em 1990, período da chamada crise da saúde, as leis nalmente localizadas, de inserção de profissionais de outras
8080 e 8142 regulamentaram o SUS concebido sobre três áreas (não formalmente inseridas) em algumas equipes de
princípios fundamentais: a universalidade, a equidade e a saúde da ESF vêm exigindo a necessidade de uma redefinição
integralidade. do perfil de alguns profissionais como nutricionistas, psicó-
A integralidade viabiliza a compreensão da saúde em sua logos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, educadores
definição ampliada e desencadeia a discussão sobre a necessi- físicos, entre outros, tornando-os capazes de apropriarem-se
dade de adaptação das políticas públicas de saúde uma vez que de novos conceitos aqui levantados como integralidade [10].
exige um olhar sobre a saúde em todas as suas possibilidades. Somando-se à questão conceitual, a discussão sobre o tema
Sua análise como eixo prioritário de políticas de saúde pode se integralidade no Ministério da Saúde fez surgir recentemente a
dar em três dimensões: da adequação da formação em recursos concepção dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASFs),
humanos para a saúde, da reorganização e reorientação das possibilidade real de inclusão de outras profissões de saúde,
práticas dos trabalhadores nos serviços de saúde e da formu- entre elas, a Fisioterapia, na ESF [11].
lação de políticas com a participação dos atores envolvidos Outro aspecto a ser discutido quando da análise da inte-
na produção do cuidado [3]. gralidade é a necessidade da reorientação das práticas dos tra-
A atenção básica à saúde, como forma própria de atenção à balhadores nos serviços de saúde. A integralidade vivenciada
saúde, incorpora os princípios de Alma Ata [1] e focaliza-se na no cotidiano dos sujeitos nos serviços de saúde tem produzido
promoção da saúde, tendo como eixo básico a integralidade. experiências que transformam a vida das pessoas, visto que
Nos últimos anos, o esforço do Ministério de Saúde as práticas eficazes de cuidado em saúde superam o modelo
(MS) tem sido no sentido de reorganizar a atenção básica fragmentário e compartimentalizado [3].
para aumentar a resolubilidade e a qualidade em saúde. A Considerando que a Fisioterapia não deve parar de reabi-
formação e o desenvolvimento de recursos humanos sob a litar, e sim adicionar novos campos de atuação a sua prática;
luz dos princípios do SUS apresentam-se como estratégia que a integralidade representa hoje um dos maiores desafios
fundamental [4]. da prática em saúde, uma vez que produz uma ruptura com
A indissociabilidade entre a assistência e a promoção, a intervenção especializadora e fragmentária incorporando
integrando as necessidades de saúde da sociedade às ações do práticas de promoção de saúde além da prevenção e reabili-
Estado definem a integralidade na atenção em saúde [5]. Neste tação; e que a integralidade é um princípio constitucional e
sentido, a promoção de saúde configura-se como tema central norteador do SUS, sistema que representa um grande campo
de um debate que aproxima os clássicos da medicina social às de absorção de recursos humanos para a Fisioterapia, remete-
recentes definições de qualidade de vida. Tais conceitos têm se à questão inicial deste estudo: Estamos prontos?
base nos determinantes de saúde oriundos de Lalonde [6]: Neste contexto de adaptações e desafios no caminho da
o estilo de vida; os avanços da biologia humana; o ambiente construção contínua de uma identidade profissional este
físico e social e os serviços de saúde [7]. artigo tem como objetivo desencadear uma reflexão sobre a
Nesta perspectiva, a promoção da saúde significa não Fisioterapia e a integralidade no que se refere à necessidade da
apenas evitar a doença, mas assegurar a autonomia para adequação da formação em recursos humanos para a saúde,
escolhas que ampliem a qualidade de vida e o bem-estar, de reorientação das práticas dos trabalhadores de Fisiotera-
valores socialmente determinados [8]. No mesmo contexto, pia nos serviços de saúde e as políticas públicas existentes
intersetorialidade e determinação social são valores intrínsecos que possibilitam a participação da mesma neste caminho.
ao chamado conceito de saúde ampliada [9]. Considerando-se que a observação das práticas em saúde é
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 135

importante para uma construção conjunta da ideia de atenção contemplar o “sistema de saúde vigente no país, o trabalho
integral, este artigo revisa ainda as descrições de experiências em equipe e a atenção integral à saúde”. A adaptação da
que relacionam a Fisioterapia a este princípio norteador da formação é uma constante para todas as profissões de saúde,
busca pela saúde. haja vista a constatação de que os profissionais da ESF ainda
Como procedimento metodológico foi realizada uma trabalham com conhecimentos desintegrados, indicando o
pesquisa bibliográfica em periódicos indexados nas bases grande espaço para o desenvolvimento da integralidade [16].
Lilacs, Medline, Biblioteca Cochrane e Scielo, bancos de Apesar da existência de algumas disciplinas presentes
teses online disponibilizadas em diferentes universidades nas grades curriculares que constituem os projetos políticos
brasileiras e pesquisa a documentos disponibilizados pelos pedagógicos de cursos de Fisioterapia em funcionamento
Ministérios da Saúde e Educação e instituições diretamente no Brasil como Fisioterapia Preventiva, Fisioterapia Social,
ligadas à Fisioterapia. A coleta de material bibliográfico foi Fisioterapia em Saúde Coletiva terem objetivos comuns que
dirigida às ações do ensino de graduação e pós-graduação que convergem para o SUS parece que estas não foram suficientes
abordassem a Fisioterapia e a integralidade, sendo utilizados para desencadear um verdadeiro processo de mudança do fazer
como palavras chave os termos Fisioterapia, integralidade, da Fisioterapia em direção à integralidade. E as lacunas não
atenção básica à saúde e promoção de saúde. Dos 62 textos existem somente no campo teórico da formação, também
pré-selecionados foram utilizados 25 por mais se adequarem os campos de prática nesta área precisam expandir-se [17].
ao desenvolvimento do tema proposto. Esta metodologia Durante a reflexão sobre a formação de profissionais ade-
apresenta como principal vantagem o fato de permitir a quados para o exercício dos princípios do SUS remete-se ao
exploração de uma gama de informações mais ampla sobre o papel fundamental da docência. Pesquisa com docentes dos
tema que se busca investigar. Por outro lado, a utilização de cursos de Fisioterapia de um estado do sul do Brasil verificou
fontes secundárias exige do pesquisador uma análise profunda que mesmo tendo a maioria apresentado conhecimentos
de cada informação de modo a detectar possíveis incoerências adequados sobre a saúde e seus determinantes apenas 4%
ou contradições. referiam em suas próprias formações atividades práticas de
aproximação com a saúde pública. Provavelmente como
Integralidade e a formação em fisioterapia consequência disso o percentual desses docentes que atuam
em campos de estágio na ESF e Unidades Básicas de Saúde é
Não se tem dúvida que uma das competências gerais da de 9,5% e 4,8%, respectivamente [17].
Fisioterapia, assim como das demais profissões de saúde, Ao encontro dessa necessidade, uma universidade do sul
é a atenção básica em saúde, a partir da qual se ultrapassa do Brasil (Caxias do Sul/RS) propõe uma formação em Fisio-
o modelo individualista consoante ao novo paradigma de terapia centrada na integralidade, pois durante a implantação
saúde, definido nas atuais políticas públicas de saúde do país do curso foi constatado que as características especialistas dos
e constituindo assim a integralidade. profissionais formados até então não atendiam às demandas
A Fisioterapia tem exercido historicamente um papel da sociedade [18]. Assim, buscando formar profissionais
curativo e reabilitador dentro da grande área da saúde. Du- comprometidos com a promoção de saúde na sociedade, o
rante os 40 anos desde a sua regulamentação, a profissão tem projeto pedagógico foi elaborado com o objetivo de identificar
passado por um processo de ampliação do campo de atuação e monitorar as condições de saúde daquela região e garantir a
[12] em função do desenvolvimento tecnológico e de novas funcionalidade do organismo humano em todos os seus ciclos
demandas da clientela (população) em nível individual e (infância, adolescência, adultez e velhice). O resultado foi uma
coletivo. Ao mesmo tempo, a Fisioterapia vive um momento graduação de dez semestres que procura formar o profissional
de crescimento acelerado do número de cursos de graduação com um novo perfil, contribuindo para a integralidade no
e consequente aumento de profissionais no mercado que cuidado em saúde [18].
não tiveram em sua formação as vivências necessárias para a Ainda na dimensão da formação de recursos humanos, o
integração ao SUS [13]. Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional
Para fazer frente às novas demandas, o setor de saúde como em Saúde (PRÓ-SAÚDE) representa um incentivo financeiro
um todo tem o desafio de formar profissionais capazes de formalizado pela articulação entre os Ministérios da Saúde
superar conceitos estritamente vinculados ao conhecimento e da Educação que visa apoiar as mudanças nos cursos de
técnico dentro de um modelo biomédico, evoluindo para um graduação da área da saúde em nível técnico, de graduação
modelo mais humanista com uma perspectiva de melhorar a e de pós-graduação. No entanto, das propostas aprovadas na
qualidade de vida da população [14]. Esta mudança de foco área da saúde no ano de 2008, só 10% foi direcionada para
da saúde individual para a saúde coletiva exige alterações nos cursos de Fisioterapia [4].
currículos de programas de formação em saúde [15]. Pode se pensar que este fato reflita a própria formação
As Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de gra- do fisioterapeuta e o seu processo de trabalho que privilegia
duação em saúde, aprovadas na sua maioria entre 2001 e na maioria das vezes ações individuais ao trabalho multi/
2002 afirmam que a formação do profissional de saúde deve interdisciplinar. Acredita-se que este aspecto possa fazer com
136 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

que o fisioterapeuta não consiga visualizar as possibilidades A terceira dimensão a ser considerada na análise da in-
de inserção em iniciativas desta natureza. Ao mesmo tempo, o tegralidade é o da própria formulação das políticas de saúde
fisioterapeuta pode não ser percebido com um parceiro pelos que deveria contar com a participação dos atores envolvidos
demais profissionais da área da saúde que mais frequentemente na produção do cuidado, ressaltando-se a necessidade de uma
vem integrando essa iniciativa como profissionais da Medicina rediscussão dessas políticas.
e Enfermagem. Como abordado anteriormente, uma possibilidade de
A identificação das demandas de saúde da coletividade inserção de fisioterapeutas na ESF são os NASFs. Estes
também é uma necessidade reconhecida em outros países. Au- núcleos serão também constituídos por outras profissões de
tores descrevem um modelo de adaptação curricular, associado saúde como educadores físicos, psicólogos, nutricionistas,
à metodologia de aprendizado em serviço, que incorpora a farmacêuticos e bioquímicos, terapeutas ocupacionais, além
identificação dos determinantes de saúde da parcela da po- de especialidades médicas como acupuntura e homeopatia. No
pulação que nos EUA não é atendida pelo sistema de saúde entanto, sabe-se que devido às características necessárias para
vigente [15]. Aquele estudo relata que muitos programas de estruturação desses núcleos, a participação da Fisioterapia será
formação de profissionais de saúde estão redesenhando seus muito restrita e não atenderá às necessidades da população.
currículos de forma a integrar experiências com a realidade Assim, a única alternativa para viabilizar a efetiva contri-
da comunidade para que os alunos sejam expostos aos pro- buição da Fisioterapia na atenção integral à saúde da popula-
blemas de saúde de toda a população. Este fato mostra que ção dar-se-ia por meio da inserção direta de fisioterapeutas na
mesmo quando consideramos as grandes diferenças sociais, ESF. Para isso seria necessária uma readequação da Estratégia
políticas, econômicas e, portanto, de saúde existentes entre por parte do Ministério da Saúde não só em relação à Fisio-
países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento, verifica-se terapia, mas também as demais profissões que ainda estão à
que ambos expressam uma preocupação com a formação de margem de um sistema de saúde que busca a integralidade.
profissionais capazes de atuar em saúde de forma integral e
atender às necessidades de saúde da população como um todo. Experiências de formação de fisioterapia
Outro aspecto que se propôs abordar é o da necessidade focadas na integralidade
de reorientação das práticas dos trabalhadores nos serviços
de saúde. Analisando-se a situação sob o ponto de vista da Experiências de contato com a atenção básica em saúde
Fisioterapia, identifica-se a necessidade de que seja realizada através da ESF durante a graduação e após o seu término, por
uma releitura do instrumental teórico-prático da profissão meio de residências multiprofissionais, têm sido descritas em
construído até o momento e direcionado essencialmente para diferentes locais do país.
a assistência e (re)habilitação. Desta forma será possível iden- A inserção de acadêmicos de Fisioterapia na ESF acontece
tificar novas possibilidades do fazer da profissão vislumbrando desde 2000 em Juiz de Fora (MG) sob a forma de estágio
sua participação efetiva na promoção de saúde e contribuindo supervisionado oferecendo a uma parcela da população uma
para a consolidação da integralidade no sistema de saúde. nova modalidade terapêutica na atenção básica [19]. Essa
O propósito da ênfase dada ao termo (re)habilitação forma de inserção permite uma contribuição efetiva da Fisio-
é fazer lembrar um dos princípios de promoção de saúde terapia à saúde coletiva e proporciona ao acadêmico durante
amplamente defendido desde a I Conferência Internacional a sua formação a oportunidade de vivenciar outra realidade e
de Promoção de Saúde realizada em Ottawa 1986, chamado apreender outras formas de atuação da Fisioterapia.
empoderamento, ou seja, todo indivíduo é habilitado a agir Um projeto de extensão denominado Educação Popular
em favor da melhoria de sua qualidade de vida e saúde e da e Atenção à Saúde da Família, do qual participam os acadê-
coletividade. micos de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba em
Estudo realizado com docentes de vários cursos da área convênio com o PSF de João Pessoa, tem possibilitado aos
da saúde, entre eles a Fisioterapia, de duas universidades da acadêmicos a contribuição da profissão para o enfrentamento
região sul evidenciou o interesse em formar profissionais com dos problemas de saúde da população [20].
competências para atuar na Promoção e Educação em Saúde A participação de alunos de graduação em um projeto de
da Família [33]. Segundo este autor, os docentes estudados extensão intitulado Fisioterapia na Comunidade de João Pes-
enfatizavam a necessidade da realização de aperfeiçoamentos soa foi relatada por diversos autores: A vivência da promoção
em nível de educação permanente, visto a lacuna existente de saúde e da missão de multiplicação da educação em saúde
em suas próprias formações. No mesmo sentido, relato sobre enquanto profissional de saúde dentro da equipe do PSF
a ação de suporte do Conselho Regional de Fisioterapia para [21]; o processo emocional vivido a partir da constatação das
os profissionais inseridos na ESF [11], menciona o grande condições precárias de saneamento, transporte e moradia de
número de profissionais que buscam o auxílio daquela enti- pacientes que recebem atendimento domiciliar pela equipe
dade para esclarecimentos acerca de projetos de ação em saúde de Saúde da Família conveniada ao projeto de extensão; em
coletiva, sugerindo a falta de vivência daqueles profissionais relato sobre a mesma experiência [22], a aproximação do
no campo da Atenção Básica à Saúde. Conselho Municipal de Saúde é descrita em função daquele
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 137

projeto de extensão. Segundo este autor, a instrumentalização Por outro lado, há relatos de que após a inserção de
para a participação efetiva na elaboração de políticas públicas fisioterapeutas na Residência Multidisciplinar em Saúde da
de saúde também é uma consequência da vivência efetiva da Família de Sobral/CE, o número de profissionais contratados
integralidade. regularmente pela ESF aumentou, fazendo conhecer inclusive
A inserção de estudantes de Fisioterapia em projetos de as outras profissões da equipe, o potencial de promoção de
extensão que fogem da antiga prática assistencialista, caracte- saúde da Fisioterapia como caminho para a integralidade [25].
rística da extensão universitária dos anos de 1980, possibilita A inserção do fisioterapeuta em programas de residência
ao acadêmico uma oportunidade do exercício de uma prática dessa natureza se revela como oportunidade de resgate de
não prescritora, destituindo-o do papel de detentor do saber. uma formação teórico-prático para aqueles que não tiveram
A extensão nos moldes atuais, e, sobretudo a extensão popular, a oportunidade de discutir e vivenciar a integralidade durante
preconiza uma aproximação do saber popular e do saber cien- a sua graduação. O caráter multiprofissional dessas formações
tífico, fazendo com que o profissional de saúde em formação possibilita o conhecimento, pelos demais profissionais da saú-
aprenda a fazer com e não para a comunidade. de, das potencialidades da Fisioterapia em todos os níveis de
O tema integralidade também foi focado por autores, atenção e o seu reconhecimento como profissão indispensável
que concluíram que as práticas relacionadas a este princípio para a efetivação da integralidade em saúde.
ocorrem pontualmente durante a formação em Fisioterapia
e que o potencial de abertura desta prática para a atenção Conclusão
básica é pouco explorado na Instituição de Ensino Superior
estudada. Sabe-se que esta é a realidade da maioria dos cursos Há um consenso entre os críticos da educação, responsá-
de Fisioterapia no país [14]. veis pela formação dos profissionais de saúde, sobre a questão
Uma limitação para esta reflexão é o escasso volume de da hegemonia da abordagem biologicista, médico-centrada
publicações indexadas sobre a Fisioterapia relacionada à cujos procedimentos são excessivamente valorizados. Este
atenção básica e à integralidade. O mesmo fenômeno não consenso estende-se aos autores que descrevem a formação
ocorre quando são pesquisadas as dissertações e teses sobre os em Fisioterapia sobre o tecnicismo e a ausência de práticas
assuntos mencionados. Este fato mostra que há o interesse e a relativas à saúde em sua visão ampliada.
pesquisa, porém a divulgação é restrita, dificultando-se assim A integração de outros profissionais de saúde à equipe da
a formação do embasamento teórico necessário para uma ESF, entre eles o fisioterapeuta, certamente exigirá como com-
reflexão mais aprofundada sobre o tema e o posicionamento petência a integralidade. Com isso, ressalta-se a importância
da profissão frente aos novos desafios. da qualificação da formação e a necessidade de reorientação
Essa constatação sugere que os fisioterapeutas ainda não das práticas de saúde da Fisioterapia, de forma a possibilitar
conseguem transpor de forma consistente a barreira que pos- aos novos profissionais, e também aos que já se encontram no
sibilita a divulgação e disseminação do conhecimento com exercício da profissão, o enfrentamento dos novos paradigmas
abordagem não clínica, produzido na área. Isso acontece em em saúde e o entendimento das necessidades multidimen-
parte pela inexistência de periódicos que acolham especifica- sionais individuais e coletivas de saúde. Para isso sugere-se a
mente este tipo de estudo e pelo fato de que os periódicos de necessidade de uma releitura do instrumental teórico-prático
Fisioterapia no país dão preferência a artigos com abordagem da profissão construído até o momento e direcionado essen-
clínico-assistencial, refletindo a própria história da profissão. cialmente para a assistência e reabilitação. Da mesma forma,
Outro movimento já em processo é o de Residências enfatiza-se a importância de uma rediscussão sobre as políticas
Multidisciplinares [23]. A Residência Integrada em Saúde da públicas de saúde que devem considerar a integralidade como
Escola de Saúde Pública pertencente à Secretaria de Estado um meio de viabilização da saúde em sua visão ampliada,
de Saúde do Rio Grande do Sul tem como prerrogativas a incluindo todos os atores envolvidos no processo de cuidar
educação associada ao trabalho em saúde na atenção básica, em saúde, de forma a interromper a persistência da prática
exercido por profissionais de diferentes especialidades em médico-centrada.
conjunto, porém centralizado nas necessidades do indivíduo Não obstante os avanços obtidos após a implementação
na coletividade. O desenvolvimento e a formação dos traba- das Diretrizes Curriculares, que caminharam ao encontro
lhadores de saúde retornam imediatamente para a população das demandas do Sistema Único de Saúde, a prática efetiva
através da qualificação do trabalho. Este formato de programa da integralidade acontece de forma incipiente em programas
responde às diretrizes do Conselho Nacional de Educação, de graduação e pós-graduação. Participações da Fisioterapia
e ao mesmo tempo às diretrizes para o exercício profissional em iniciativas como o pro-saúde durante a graduação e pos-
no SUS. teriormente em programas de Residências Multidisciplinares,
Na Residência Multiprofissional em Saúde da Família da embora ainda pouco numerosas, configuram-se como espaços
UNIOESTE, em Cascavel/PR [24], observou-se dificuldade de aprendizado do exercício da integralidade e parecem pre-
de adaptação de fisioterapeutas no início do programa e foi parar o profissional fisioterapeuta para o trabalho na atenção
relacionada à formação curativa tradicional. básica à saúde.
138 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Uma limitação desta reflexão é o escasso volume de pu- 12. Ribeiro KSQS, Dias AS, Holanda CMA, Deininger JF, Meira
blicações indexadas sobre a Fisioterapia relacionada à atenção MM. Mudanças na política pública do Brasil: A reforma sani-
básica e à integralidade, dificultando a formação de um emba- tária e o SUS. In: Lacerda DAL, Ribeiro KSQ, ed. Fisioterapia
samento teórico que subsidie o posicionamento da profissão na Comunidade. Experiência na atenção básica. João Pessoa:
Universitária; 2006.
frente aos novos desafios. Verifica-se um número expressivo de
13. Assis SMB, Peixoto BO. A visão dos pacientes no atendimento
dissertações e teses sobre os assuntos mencionados, sugerindo de Fisioterapia: dados para traçar um novo perfil profissional.
que há o interesse e a pesquisa, porém a divulgação, inclusive Fisioter Mov 2002;15:61-7.
nos periódicos da área, é ainda bastante restrita. 14. Viana ALD. A reforma do sistema de saúde no Brasil e o pro-
Futuros estudos deverão ser direcionados para avaliar a grama de saúde da família. Rev Saúde Coletiva 2005;15:225-64.
atuação dos alunos de graduação em Fisioterapia que preco- 15. McCallum C. A process of curriculum development: meeting
cemente vivenciam em sua formação o contato com a atenção the needs of a community and a professional physical therapist
básica em saúde e a compreensão in loco dos determinantes education program. J Phys Ther Education 2008;32(1):7-15.
sociais da saúde, o que certamente contribuirá para impedir a 16. Santos NR. A Reforma Sanitária e o Sistema Único de Saú-
de: tendências e desafios após 20 anos. Saúde em Debate
chamada “distorção de formação” em direção ao reducionismo
2009;33(81):81:13-26.
tecnicista e fragmentário, que ainda se observa a partir dos
17. Gasparetto A, Soares MCF. Aproximação com a saúde pública
diferentes textos analisados. e a promoção da saúde no exercício da docência em fisioterapia.
Fisioter Bras 2010;11(2):83-160.
Referências 18. Claus SM, Stedile MO. Uma proposta inovadora de formação
profissional em Fisioterapia centrada na integralidade em saúde.
1. Schwingel G, Koetz LCE. A Fisioterapia e o SUS: reflexões . In: Pinheiro R, Ceccim RB, Mattos RA, ed. Ensino-trabalho-
sobre a formação e o papel do fisioterapeuta na equipe de saúde. cidadania: novas marcas ao ensinar integralidade no SUS. Rio
Boletim da Saúde JCR 2008;22:151-60. de Janeiro: Abrasco; 2006.
2. Brasil. Constituição, 1988. República Federativa do Brasil, 19. Freitas MS. A atenção básica como campo de atuação da Fisiote-
1988. Brasília: Ministério da Educação; 1988. rapia no Brasil: as diretrizes curriculares resignificando a prática
3. Kell MCG. [Adapt.] Integralidade da atenção à saúde. Minis- profissional. Universidade do Estado do Rio de Janeiro [tese].
tério Da Saúde Secretaria de Assistência à Saúde. Secretaria de Rio de Janeiro: Instituto de Medicina Social; 2006.
Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordena- 20. Saito RXS, Lacerda RA, Fracolli LA. Atenção primária: análise
ção de Gestão da Atenção Básica. Brasília, s/d. [citado 2008 Dez de acesso ao primeiro contato em uma Unidade Básica de Saúde
5]. Disponível em URL: http://www.opas.org.br/observatorio/ do município de São Paulo. Rev Paul Enferm 2006;25(2):74-81.
Arquivos/Destaque69.doc 21. Almeida GN. Reverberando. In: Lacerda DAL, Ribeiro KSQ,
4. Haddad AE, Brenelli SL, Passarella TM, Ribeiro TCV. Política ed. Fisioterapia na Comunidade. Experiência na Atenção Básica.
Nacional de Educação na Saúde. Rev Baiana Saúde Pública João Pessoa: Universitária; 2006.
2008;32(1):7-15. 22. Lacerda DAL, Ribeiro KSQ, ed. Fisioterapia na Comunidade.
5. Campos GW, Barros RB, Castro AM. Avaliação de políti- Experiência na Atenção Básica. João Pessoa: Universitária; 2006.
ca nacional de promoção da saúde. Ciênc Saúde Coletiva 23. Ceccim RB, Ferla AA. Residência integrada em saúde: uma
2004;9(3):745-49. resposta da formação e desenvolvimento profissional para a
6. Lalonde, M. New perspective on the health of Canadians montagem do projeto de integralidade da atenção à saúde.
working document. 1974. Ottawa: Minister of Supply and In: Pinheiro R, Mattos RA, ed. Construção da Integralidade:
Services; 1974. 77p. cotidiano, saberes e práticas em saúde. Rio de Janeiro: Abrasco;
7. Minayo MCS, Hartz ZMA, PM. Qualidade de vida e saúde: 2003.
um debate necessário. Ciênc Saúde Coletiva 2000;5(1):7-18. 24. Ragasson CAP, Almeida DCS, Comparin K, Mischiati MFGJT.
8. Buss PM. Promoção de Saúde e Qualidade de Vida. Ciênc Saúde Atribuições do Fisioterapeuta no Programa de Saúde da Família.
Coletiva 2000;5(1):163-77. Reflexões a partir da prática profissional [online]. [citado 2008
9. Buss PM. Promoção da saúde e a saúde pública: contribuição Nov 20]. Disponível em URL: http://www.crefito5.com.br/
para o debate entre as Escolas de Saúde Pública da América web/downs/psf_ado_fisio.pdf
Latina. Rio de Janeiro: Organización Panamericana de la Salud; 25. Veras MMS. A inserção do fisioterapeuta na estratégia Saúde
1998. da Família de Sobral-CE [monografia]. Escola de Formação em
10. Ferreira VA, Magalhães R. Nutrição e promoção da saúde: Saúde da Família Visconde de Sabóia: Sobral; 2002.
perspectivas atuais. Cad Saúde Pública 2007;23(7):1674-81.
11. Silva D. Inserção de profissionais de Fisioterapia na equipe de
saúde da família e Sistema Único de Saúde: Desafios na forma-
ção. Ciênc Saúde Coletiva 2007;12(6):1673-81.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 139

Revisão

Efeitos do laser de baixa potência sobre


a regeneração da cartilagem na osteoartrose
Effects of low level laser therapy for regeneration of cartilage
in osteoarthrosis
Gabriela Barbosa Zanotti, Ft.*, Priscilla Irffi Oliveira, Ft., M.Sc.*, Silvia Figueiredo de Siqueira Reis, Ft.*,
Fernanda Souza da Silva, Ft.**, Angélica Rodrigues de Araújo, D.Sc.***

*PUC Minas, **Mestre em Bioengenharia/UFMG, ***Profa. do curso de Fisioterapia da PUC Minas

Resumo Abstract
Introdução: Osteoartrose (OA) é uma enfermidade articular Background: Osteoarthritis (OA) is a multifactorial disease that
multifatorial que acomete diversas articulações e caracteriza-se pela affects many joints and is characterized by degeneration of cartilage.
degeneração da cartilagem. A fotobiomodulação pode favorecer o Photobiomodulation can help the control of signs and symptoms of
controle dos sinais e sintomas característicos dessa afecção. Entre- this disease. However, there is no consensus in the literature about
tanto, na literatura ainda não há um consenso sobre o papel da luz the effect of light in the cartilage regeneration. Aim: To realize a
na regeneração da cartilagem. Objetivo: Realizar uma revisão da literature review about the effects of light in spectrum of red and
literatura acerca do papel da luz na faixa espectral do vermelho ao near infrared in the treatment of articular degenerative disease.
infravermelho próximo no tratamento das doenças articulares dege- Methods: A systematic review of studies available in the databases
nerativas. Métodos: Foi realizada uma revisão sistemática de estudos Capes, PubMed, Cochrane, PEDro and Lilacs was performed.
disponíveis nas bases de dados Capes, PubMed, Cochrane, PEDro e Results: The inclusion criteria were met in 9 studies. Only one
Lilacs. Resultados: Os critérios de inclusão foram atingidos por nove study evaluated the use of photobiomodulation in cartilage repair
estudos. Somente um artigo avaliou o uso da fotobiomodulação no in human cells. There was not homogeneity between the studies
reparo da cartilagem em células humanas. Não houve homogeneida- related to the light parameters utilized by each study. Discussion:
de entre os estudos em relação à maioria dos parâmetros luminosos There was wide diversity among the light parameters established by
utilizados. Discussão: Houve grande diversidade entre os parâme- each study, making difficult to determine the most effective clinical
tros de aplicação estabelecidos por cada estudo, o que dificulta a parameters of these devices in management of OA. Conclusion: The
determinação de parâmetros clínicos eficazes para utilização desses light radiation seems to be effective in cartilage repair. However the
dispositivos no tratamento da OA. Conclusão: A radiação luminosa ideal parameters for applications in humans are still controversial.
parece ser eficaz no reparo da cartilagem. Os parâmetros ideais para Key-words: low level laser therapy, osteoarthritis, articular
aplicações em humanos são, entretanto, ainda controversos. cartilage.
Palavras-chave: terapia a laser de baixa intensidade,
osteoartrose, cartilagem articular.

Recebido em 28 de maio de 2010; aceito em 11 de fevereiro de 2011.


Endereço para correspondência: Profa. Angélica Rodrigues de Araújo, Av. Trinta e Um de Março 500 / prédio 46 – Centro Clínico de Fisioterapia
30535-610 Belo Horizonte MG, Tel: (31) 3319-4425, E-mail:angelica@bios.srv.br
140 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Introdução Este estudo teve por objetivo realizar uma revisão da


literatura sobre o papel da luz na faixa espectral do vermelho
A osteoartrose (OA) é uma enfermidade articular multifa- ao infravermelho próximo como terapêutica no tratamento
torial, de caráter crônico-degenerativo [1] e não inflamatório de OA, a fim de melhor embasar a aplicação clínica dessa
[2]. Acomete diversas articulações, principalmente as da mão, modalidade terapêutica. Especificamente buscou-se: 1)
joelho, quadril e coluna [3]. Caracteriza-se por degeneração da revisar os mecanismos de ação dos dispositivos fotobio-
cartilagem [4] e hipertrofia do osso subcondral [5], acompa- moduladores em articulações sinoviais, com ênfase sobre a
nhada de neoformação óssea periarticular [5]. Clinicamente cartilagem articular; e 2) determinar parâmetros luminosos
se manifesta como dor e rigidez articular [6], crepitação óssea para aplicações clínicas seguras e eficazes dos dispositivos
[7] e redução de amplitude de movimento (ADM) [8]. Esse fotobiomoduladores no tratamento da OA, com foco no
quadro é responsável pela importante atrofia muscular [9] e reparo da cartilagem articular.
incapacidade funcional [10] que são observadas nos indiví-
duos que apresentam tal afecção. Material e métodos
A incidência populacional da OA é elevada; 70 a 90% das
pessoas com idade acima de 75 anos apresentam pelo menos Busca literária
uma articulação acometida por essa disfunção [1]. No Brasil,
em 1997, a OA representava 65% das causas de incapacidade, Para a elaboração do estudo foi realizada uma revisão sis-
estando atrás apenas das doenças cardiovasculares e neuro- temática de estudos experimentais conduzidos em animais e
lógicas [6], gerando custos econômicos que representavam e humanos (ensaios clínicos aleatórios), publicados entre 1970
ainda representam um alto gasto para o sistema de saúde [11]. (ano a partir do qual se iniciaram as pesquisas científicas sobre
A abordagem terapêutica da OA tem como objetivos fotobiomodulação) e 2009. Os trabalhos foram identificados
principais o controle da dor e a melhora da função articular através de pesquisa eletrônica realizada nas seguintes bases de
[3] e envolve, primariamente, tratamento conservador com dados: Capes, PubMed, Cochrane, PEDro e Lilacs.
utilização de anti-inflamatórios não esteroides [2], analgésicos Os descritores utilizados para a busca incluíram as pala-
[12] e reabilitação fisioterápica [13]. Essas intervenções apre- vras: laser therapy, laser, articular cartilage, cartilage repair,
sentam resultados positivos em relação à melhora dos sintomas regeneration, low level laser therapy (LLLT), low power laser
álgicos [14], diminuição das incapacidades funcionais [14] e therapy, laser treatment, LED, light therapy, photon therapy,
prevenção de deformidades [6]. Entretanto, não são capazes photobiostimulation, photobiomodulation, osteoarthritis,
de reverter o dano articular [12]. Em alguns casos, devido bioestimulação, laser de baixa intensidade, osteoartrose e
ao processo e à gravidade da lesão, procedimentos cirúrgicos cartilagem articular.
como a artrodese ou a artroplastia total tornam-se necessários
[2], comprometendo e impactando ainda mais a qualidade de Outras estratégias de busca
vida dos indivíduos com OA [14]. Tais fatores deixam clara
a necessidade de se buscar alternativas para o tratamento da Além da busca eletrônica foi realizada também uma
OA, cujo foco também seja o reparo conservador da cartila- pesquisa manual nas referências dos artigos selecionados e
gem articular. no acervo da biblioteca da Pontifícia Universidade Católica
Dentro deste contexto, a fotobiomodulação por meio de de Minas Gerais.
dispositivos como LASER (Light Amplification by Stimula-
ted Emission of Radiation) e LED (Light Emitting Diode) Seleção dos estudos
de baixa potência vêm se destacando e sendo alvo de suces-
sivos estudos [15]. A utilização da luz na faixa espectral do A seleção dos estudos foi realizada por 3 pesquisadores.
vermelho ao infravermelho próximo como alternativa para As publicações selecionadas através das palavras-chave foram
o tratamento não invasivo da OA surgiu há cerca de 20 anos lidas para verificar se as mesmas contemplavam os critérios de
[15]. Sua indicação foi e ainda é embasada pela crença de que a inclusão determinados para a participação no presente estudo.
radiação eletromagnética nessa faixa espectral apresenta efeitos Tais critérios foram: 1) presença de grupo controle; 2) amostra
biomoduladores de estimulação ou inibição, de acordo com os com sinais clínicos e/ou radiológico de degeneração da cartila-
parâmetros selecionados, [16] que podem favorecer o controle gem articular; 3) investigação dos efeitos da fotobiomodulação
e/ou a resolução dos sinais e sintomas característicos da OA, sobre a articulação degenerada, sem associação com qualquer
incluindo o reparo da cartilagem articular [15]. Entretanto, outro tipo de intervenção; 4) utilização da fotobiomodulação
ainda não há um consenso na literatura sobre o papel da luz na como forma única de tratamento da osteoartrose visando o
regeneração da cartilagem articular. Tal fato tem contribuído reparo da cartilagem articular. Caso ocorressem divergências
para que a indicação e utilização dessa modalidade terapêutica entre os pesquisadores acerca da inclusão ou não dos estudos,
para o tratamento da OA sejam embasadas mais em evidências um quarto pesquisador era consultado para que um consenso
empíricas do que científicas. fosse obtido.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 141

Foram excluídos os estudos nos quais a fotobiomodu- Resultados


lação foi utilizada concomitantemente a algum outro tipo
de terapia, que apresentavam mensurações dos resultados A busca eletrônica inicial identificou 1136 artigos. Destes, 74
baseadas unicamente na avaliação da dor, funcionalidade ou foram selecionados a partir da leitura dos títulos e dos resumos,
qualidade de vida e que foram publicados em línguas que não sendo apenas 9 trabalhos incluídos após a leitura dos textos
portuguesa e inglesa. completos (Figura 1). A exclusão dos 65 estudos se deu devido
ao fato de esses utilizarem a dor, a funcionalidade, e a qualidade
Avaliação da qualidade metodológica de vida como parâmetros para avaliar os efeitos da luz na OA.
A busca manual resultou em apenas um artigo [18]. Dos
A análise da qualidade dos artigos selecionados foi reali- 10 estudos selecionados para este trabalho, um foi excluído
zada de acordo com o estudo de Jan Tunér e Lars Hode [17], [19] por falta de informações relevantes acerca dos parâmetros
que estabelece 9 parâmetros técnicos e 11 de tratamento para luminosos utilizados na pesquisa.
a promoção de resultados eficazes na utilização terapêutica
de dispositivos luminosos. Destes 20 parâmetros, 8 foram Figura 1 - Diagrama dos resultados da busca literária.
selecionados para a análise dos artigos: 1)comprimento de Total de citações identificadas N = 1136
onda (nm); 2) modo de emissão da luz - contínuo ou pulsa- (incluindo duplicatas):
do, incluindo a frequência dos pulsos (Hz); 3) potência de PubMed: N = 796
saída do aparelho (W); 4) dose (J/cm2); 5) área de aplicação Cochrane: N = 98
Lilacs: N=7
da luz (cm2); 6) número e frequência das aplicações; 7) mé-
Capes: N = 165
todo de tratamento -contato ou sem contato (incluindo a PEDro: N = 70
distância entre a fonte de luz e a área alvo); e 8) tecido alvo
da aplicação. Além dos parâmetros citados pelos autores, Estudos excluídos após N = 1062
leitura dos títulos e dos
incluiu-se também o meio de produção utilizado para gerar resumos
a radiação luminosa. Artigos selecionados para avaliação N = 174
após leitura dos textos completos
Análise dos resultados Preenchimento de um ou N = 65
mais critérios de exclusão:
As informações referentes ao objetivo, à metodologia
e ao desfecho dos artigos selecionados foram organizadas Artigos incluídos nessa revisão sistemática: N=9
em tabelas para facilitar a análise e a interpretação de cada PubMed: N=7
estudo. Buscou-se verificar a correlação entre o objetivo e o Cochrane: N=0
desfecho do estudo, a determinação de hipóteses/justificativas Lilacs: N=2
Capes: N = 7*
para explicar os resultados encontrados e avaliar a clareza na
PEDro: N=0
determinação e descrição dos parâmetros luminosos utilizados Busca Manual: N=1
para a pesquisa, considerando-se os 8 parâmetros luminosos
determinados anteriormente. * Artigos duplicados (encontrados nas bases de dados PubMed e Capes).

Na Tabela I estão reunidas algumas das características dos artigos incluídos neste trabalho.

Tabela I - Características dos estudos selecionados.


Autor / ano Objetivo Amostra Desfecho
8 coelhos com OA induzida
Analisar a influência do laser He- Aparecimento de calo ósseo apenas no grupo
Cafalli et al. nos côndilo femorais (grupo
Ne na regeneração do osso sub- experimental. Ausência de regeneração da
[22] controle: joelho E; grupo
condral e da cartilagem articular. cartilagem articular em ambos os grupos.
experimental: joelho D).
Aumento da rigidez do reparo tecidual em 8
Investigar os efeitos do laser As- 41 coelhos com OA induzi-
semanas após lesão. Não houve diferenças
Kamali et al. Ga no comportamento biomecâ- da na patela D; 6 grupos [3
entre grupo controle e experimental na perfor-
[20] nico da reparação da cartilagem experimentais (n = 6 a 8) e 3
mance biomecânica do novo tecido durante
articular. controle (n = 6 a 8)]
quarta e décima sexta semanas de intervenção.
Investigar os efeitos do laser He-
42 ratas com OA induzida no Aumento da taxa do reparo da cartilagem e da
Ne sobre os níveis de proteína
Lin et al. [2] joelho D (n= 21 grupo con- densidade da proteína stress em condrocitos
stress e sua relação com o reparo
trole; n= 21 experimental) no grupo que recebeu laserterapia
da cartilagem
142 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Autor / ano Objetivo Amostra Desfecho


20 coelhos com OA induzida
Laserterapia permitiu rápida regeneração da
Comparar e avaliar os efeitos dos na tróclea femoral [grupo
Calatrava et al. cartilagem. Aplicação de laser He-Ne demons-
laser’s He-Ne e As-Ga sobre o laser He-ne (n=10); grupo
[21] trou síntese de fibrocartilagem. Laser infraver-
reparo da cartilagem laser As-Ga (n=10); membro
melho é mais eficaz em patologias profundas
E utilizado com controle]
Cultura de células (coelhos Laser apresentou bom efeito bioestimulatório,
e humanos) retiradas de arti- tanto nas culturas de células animal quanto
Torricelli et al. Avaliar os efeitos do laser Ga-Al-
culações com lesão condral humanas; os melhores resultados para as célu-
[23] As em cultura de condrócitos
(1 grupo controle; 2 grupos las humanas ocorreram quando a luz pulsada
experimentais) (F=100Hz) foi utilizada.
Investigar os efeitos do laser He-
72 ratas (36 grupo controle; Aumento da produção mucopolissacarídeo
Ne sobre a indução de mucopo-
Lin et al. [25] 36 experimental) com OA em cartilagens com OA após aplicação da
lissacarídeos em cartilagem com
induzida no joelho D. laserterapia.
OA
30 coelhas com osteoartrose
induzida na articulação fêmu-
Redução e retardo dos efeitos degenerativos
ro-tíbio patelar D; 3 grupos
locais decorrentes da OA; houve redução da
Lobato et al. Avaliar os efeitos do laser Ga-As (n=10), cada um submetidos
sintomatologia dolorosa e do edema; aumento
[18] em articulações com AO induzida a aplicação do laser por 10,
da ADM e do liquido sinovial com característi-
20 e 30 dias. 5 coelhas de
cas próximas ao normal
cada grupo serviram como
controle.
32 cães com defeito osteo- Aumento da vascularização na região do
condral induzido na cabeça defeito osteocondral, potencializando a
umeral, divididos em 2 gru- osteogênese e reparação osteocondral no
Rodrigues et al. Avaliar a influência do laser As- pos, controle e experimental grupo submetido a laserterapia. Animais que
[24] Ga na reparação articular (n=16 cada), sendo o último receberam maior número de sessões com
submetido à aplicação do laser, apresentaram tecido fibrocartilaginoso,
laser por diferentes períodos além de formação de cartilagem hialina em
de tempo um animal
Cultura de condrócitos retira- Estimulação da proliferação e secreção de
Avaliar os efeitos bioestimulatórios
dos da cartilagem do côndilo condrócitos podendo alcançar a reparação
do laser He-Ne e comparar dife-
Jia e Guo [26] medial femoral dividida em da cartilagem articular no grupo que recebeu
rentes parâmetros de aplicação
2 grupos, controle e experi- laserterapia.
deste dispositivo
mental

As informações relativas aos parâmetros luminosos deter- lhos não citaram os parâmetros: potência [18,20,22,24], dose
minados por cada estudo podem ser vizualizadas na Tabela II. [18,22-24] e área da caneta/ lesão [18,22-24]. Somente um
É possível observar que os objetivos e os desfechos de todos artigo não evidenciou o tempo de aplicação do recurso [24].
os artigos foram coerentes e que na maioria dos estudos os Não houve homogeneidade entre os estudos em relação
resultados observados foram positivos em relação aos efeitos à maioria dos parâmetros luminosos utilizados, com exceção
da luz de baixa potência no reparo da cartilagem (Tabela I). ao tipo de luz (LASER) e comprimento de onda de 632
Dois artigos selecionados [20, 21] descreveram todos os 9 pa- nm que foi citada por 3 autores [2,21,25,26], ao regime de
râmetros luminosos considerados para a análise da qualidade emissão pulsada citado em 3 estudos [20,22,23], porém não
metodológica dos artigos do presente trabalho. Em um estudo houve uma frequência comum evidenciada pelos autores; e
[22] a dose, a potência, a frequência e a área da caneta/lesão ao número de aplicação de três vezes por semana presente em
não foram citados (Tabela II). 5 trabalhos [2,22,24-26].
Tipo de luz, comprimento de onda, local de aplicação, Apenas um dos artigos avaliou os efeitos da luz em células
número de sessões por semana e número total de aplicações humanas (in vitro) [23]. Nesse estudo os parâmetros utiliza-
foram parâmetros citados em todos os artigos estudados. O dos foram: laser Ga-Al-As, 780nm, potência de 2,500mW,
modo de emissão da luz foi o parâmetro menos especificado, emissão pulsada com frequência de 100 e 300Hz, 10 minutos
sendo citado em apenas quatro estudos [20-23]. Quatro traba- de aplicação, 5 vezes por semana, em culturas de condrócitos
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 143

Tabela II - Parâmetros luminosos utilizados nos estudos.


Comprimen-
Ses-
to de onda / Tipo de Total de
Diodo Dose sões / Área da ca- Local / técnica
Autor / ano Potência ou emissão / Tempo aplica-
utilizado (J/cm²) se- neta / lesão de aplicação
Densidade de Frequência ções
mana
potência
Superfície arti-
cular do côndilo
Cafalli et al. Laser He- 920 nm / não Pulsada / 30 se- medial; distância
Não cita 3 9 Não cita
[22] Ne cita não cita gundos caneta-superfície
cutânea de 4,0
cm
Kamali et al. Laser As- Pulsada / 4,8 J/ 5 minu-
890 nm / 60 W 2 32 1,0 cm² Joelho direito
[20] Ga 1,5 kHz cm² tos
Laser He- 632 nm / 3,1 *2,79 J/ 15 mi-
Lin et al. [2] Não cita 3 24 0,8 cm² Joelho direito
Ne mW/cm² cm² nutos
Epicôndilo
He-Ne: femoral medial
632,8 nm / 10 He-Ne: 0,4
Laser’s Contínuo; e lateral, condilo
Calatrava et mW 8,0 J/ 100 se- cm²
He-Ne e As-Ga: 7 13 tibial medial e
al. [21] 904 nm / 40 cm² gundos As-Ga: 0,31
As-Ga pulsada / lateral; centro da
mW cm²
5-5000Hz articulação tibio-
femoral
Perpendicular
Pulsada / às culturas de
Torricelli et Laser Ga- 780 nm / 2.500 10 mi-
100 Hz e Não cita 5 5 Não cita condrócitos; 1,0
al. [23] Al-As mW nutos
300 Hz cm de distâncias
das mesmas
Laser He- 632 nm / 3,1 *2,79 J/ 15 mi-
Lin et al. [25] Não cita 3 24 0,8 cm² Joelho direito
Ne mW/cm² cm² nutos
Articulação fêmu-
Lobato et al. Laser As- 904 nm / não 3,0 J/ 2 minu-
Não cita 7 10 a 30 Não cita ro-tibio patelar
[18] Ga cita cm² tos
do joelho direito
Rodrigues et Laser As- 90 4nm / não 4,0 J/
Não cita Não cita 3 3 a 20 Não cita Ombro esquerdo
al. [24] Ga cita cm²
Monocamada
Jia e Guo Laser He- 632 nm / 2 -12 1,0-6,0 6,5
Não cita 3 3 0,785 cm² de cultura de
[26] Ne mW J/cm² minutos
condrócitos
* Valor calculado com base nos dados fornecidos pelo estudo considerando a equação E = Pxt / A , onde E (Jcm-2) é a densidade de energia ou
dose; P (W) é a potência da fonte luminosa; t (s) é o tempo e A (cm ) é a área da caneta aplicadora [Chaudhri; Tuner, 2003].
2

derivadas de células humanas e de coelhos. Todos os outros 2. Melhora da morfologia celular, modulando a interação
8 trabalhos [2,18,20-22,24-26] utilizaram animais (coelhos, entre componentes da matriz extracelular [20];
cachorros e ratos) e suas células como população alvo. 3. Estímulo à produção de glicosaminoglicanos e mucopo-
Dos 9 artigos selecionados, apenas um [22] apresentou lissacarídeos através dos condrócitos [21,25];
resultado negativo em relação à regeneração da cartilagem. 4. Excitação elétrica de moléculas carreadoras de oxigênio na
Todos os outros trabalhos [2,18,20,21,23-26] apresentaram cadeia respiratória [2,25];
uma resposta positiva acerca do uso da luz de baixa potência 5. Aumento do transporte de elétrons na membrana mitocon-
como opção de conduta para o reparo da cartilagem articular. drial, favorecendo a produção de trifosfato de adenosina
As principais justificativas citadas pelos autores para expli- (ATP) [2,25];
car os achados positivos em relação ao papel da luz no reparo 6. Aumento da síntese proteica e de DNA, resultando em
da cartilagem articular foram: proliferação celular [2,25];
1. Estímulo à produção de colágeno e à proliferação de con- 7. Aumento do metabolismo e redução do catabolismo pro-
drócitos [18,20,25]; vocando regeneração tecidual [18];
144 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

8. Bioestimulação celular por alteração do sinal de transmissão intimamente relacionados à localização do tecido alvo e ao
de energia dos receptores de luz [26]; objetivo da intervenção, respectivamente [17,32].
9. Aumento da quantidade de matriz extracelular [26]. A literatura preconiza que comprimentos de onda na faixa
espectral do infravermelho próximo, por apresentarem maior
O estudo de Cafalli et al. [22], que não obteve resultados capacidade de penetração tecidual, são os mais indicados
a favor do uso da luz de baixa potência na reparação da car- para o tratamento de estruturas localizadas mais profunda-
tilagem, foi o único que não citou o mecanismo de ação dos mente [33]. Portanto, a luz nessa faixa espectral seria a mais
dispositivos fotobiomoduladores nos tecidos. indicada para tratar de lesões intra-articulares, em animais
Dos 9 artigos estudados 5 utilizaram dispositivos com e em humanos. No presente estudo, entretanto, resulta-
comprimento de onda na faixa espectral do Infravermelho dos positivos foram observados com a utilização tanto do
próximo [18,20,23,24], 3 utilizaram o vermelho [2,22,25,26] comprimento de onda infravermelho [18,20,23,24] quanto
e um utilizou ambos [21]. vermelho [2,21,25,26]. Exceção se faz ao trabalho realizado
Todos os artigos estudados utilizaram o laser de baixa por Cafalli et al. [22], no qual não foram observados efeitos
potência como dispositivo fotobiomodulador [2,18,20-26]. do laser sobre a regeneração da cartilagem articular. Nesse
estudo, a aplicação do dispositivo luminoso (Laser HeNe)
Discussão ocorreu sem contato, com a caneta aplicadora distante 4,0
cm da superfície cutânea, contrariando a distância máxima
Um dos tecidos mais acometidos pela OA é a cartilagem de 1,0 cm recomendada pela literatura [33].
articular. Esta estrutura apresenta capacidade reparadora Os resultados favoráveis encontrados nos trabalhos em
limitada [24], que se estreita ainda mais nas condições dege- que a faixa espectral do vermelho foi utilizada [2,21,25,26]
nerativas e/ou com o envelhecimento [27]. talvez possam ser explicados pela distância relativamente
O mecanismo de lesão da cartilagem é iniciado por perda pequena entre o alvo terapêutico e a fonte luminosa. Nesses
de proteoglicanos da matriz extracelular, desorganização estudos, a luz foi aplicada na superfície cutânea da cavidade
do colágeno e metaplasia celular [28]. Os artigos revisados intra-articular de animais de pequeno porte [2,21,25] e em
no presente estudo sugerem que a luz na faixa espectral do culturas de células [26], com a radiação sendo realizada, em
vermelho ao infravermelho próximo poderia auxiliar na ambos os casos, a no máximo 1,0 cm do alvo, o que pode
recuperação da cartilagem lesionada [18,20,25], atuando ter minimizado as perdas de luz. Esses achados, entretanto,
positivamente no controle da OA. Esse efeito pode ser justi- podem não ser observados em humanos, já que nesses a dis-
ficado pelo estímulo à proliferação de condrócitos [18,20,25] tância alvo terapêutica-fonte luminosa tende a ser maior do
e pelo aumento da produção de glicosaminoglicanos e que as observadas nos estudos aqui revisados.
mucopolissacarídeos [21,25], componentes que garantem a Todos os trabalhos incluídos na presente revisão utilizaram
integridade da cartilagem articular [25,27], induzidos pela doses de aplicação menores ou iguais a 8,0 J/cm². Segundo
terapia luminosa. a literatura, doses excitatórias (até 8 J/cm²) são indicadas
De acordo com Hawkins et al. [29], os efeitos da luz de quando o objetivo da intervenção inclui a potencialização da
baixa potência sobre os tecidos vivos ocorrem mediante a ação da bomba de sódio e potássio, o estímulo à produção
liberação de elétrons que, ao atingirem a mitocôndria, possibi- de ATP, o restabelecimento do potencial de membrana, o
litam a produção de ATP e o restabelecimento de potenciais de aumento do metabolismo e da proliferação celular [34]. Existe
membrana, normalmente alterados nas situações patológicas. também uma tendência de que regimes de emissão pulsados
Lipovsky et al. [30] relatam que a fotobiomodulação produz sejam preferenciais ao modo contínuo [35]; entretanto, tal
moléculas de oxigênio reativas que são capazes de interagir fato não foi observado no presente trabalho.
com os tecidos corporais, estimulando ou inibindo reações Revisões sistemáticas sobre os efeitos e a eficácia da luz no
químicas no interior das células [16]. Segundo esses autores, tratamento das afecções musculoesqueléticas têm chamado a
o objetivo da utilização da luz de baixa potência é induzir à atenção para a grande variabilidade na qualidade metodológi-
recuperação da homeostase celular e consequentemente fa- ca dos estudos [36-38]. O principal problema encontrado diz
vorecer a regeneração e a cicatrização dos tecidos [2,25,31], respeito à descrição dos parâmetros utilizados para a aplicação
independente de efeitos térmicos. A maior ativação das da terapia luminosa. A literatura relata que para o uso correto
enzimas citoplasmáticas, o estímulo à síntese de ATP, ácido de parâmetros de tratamento, deve-se sempre fornecer des-
nucleico e proteínas como os mucopolissacarídeos são algumas crição detalhada de propriedades da fonte de luz utilizada na
das justificativas que embasam a utilização da luz para auxiliar triagem, de forma que o clínico possa interpretar os resultados
o reparo tecidual [2,16,20,21,25,26]. científicos adequadamente e, de acordo com eles, delinear
Os benefícios decorrentes da interação da luz com os te- conclusões corretas e aplicá-las em sua prática clínica [17].
cidos são, entretanto, altamente dependentes dos parâmetros Nesta revisão, a diversidade e principalmente a omissão
luminosos utilizados durante a aplicação, principalmente do dos parâmetros de tratamento utilizados no estudo dificul-
comprimento de onda (nm) e da dose (J/cm2). Esses estão taram a determinação de um protocolo que pudesse servir
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 145

como guia para utilização clínica dos dispositivos luminosos 6. Marques AP, Kondo A. A fisioterapia na osteoartrose: uma
no tratamento da OA, apesar dos efeitos positivos da luz na revisão da literatura. Rev Bras Reumatol 1998;38(2):83-90.
reparação da cartilagem relatados pelos autores. Os resultados 7. Altman R, Asch E, Bloch D, Bole G, Borenstein D, Brand K, et
encontrados, entretanto, apontam a luz infravermelha, com al. Development of criteria for the classification and reporting
of osteoarthritis. Arthritis Rheum 1986;29(8):1039-49.
doses excitatórias, como uma opção para o manejo das lesões
8. Bjordal JM, Couppé C, Chow RT, Tunér J, Ljunggren EA. A
degenerativas articulares. Esse pode ser um ponto de partida systematic review of low level laser therapy with location-specific
para a realização de ensaios clínicos que possibilitem avaliar a doses for pain from chronic joint disorders. Aust J Physiother
eficácia da fotobiomodulação como terapia conservadora no 2003;49(2):107-16.
reparo da cartilagem articular. Porém, a dosimetria utilizada 9. Zacaron KAM, Dias JMD, Abreu NS, Dias RC. Nível de
nos estudos in vitro ou em animais pode não ser adequada atividade física, dor e edema e suas relações com a disfunção
em contextos clínicos devido à reflexão da luz ou à perda muscular do joelho de idosos com osteoartrite. Rev Bras Fisioter
de energia com a profundidade do tecido alvo [34]. Dessa 2006;10(3):279-84.
forma, faz-se necessário que a dose para utilização clínica 10. Tascioglu F, Armagan O, Tabak Y, Corapci I, Oner C. Low
power laser treatment in patients with knee osteoarthritis. Swiss
seja ajustada, considerando principalmente o tamanho e a
Med Wkly 2004;8:254-258.
localização da articulação a ser tratada. Dentro desse contexto,
11. Rosemann T, Grol R, Herman K, Wensing M, Szecsenyi J.
parâmetros como a potência e o tempo de aplicação da fonte Association between obesity, quality of life, physical activity
luminosa devem ser manipulados de forma a garantir que o and health service utilization in primary care patients with
alvo terapêutico receba a quantidade de energia necessária para osteoarthritis. Int J Behav Nutr Phys Act 2008;5:4.
a promoção dos benefícios terapêuticos [39,40]. 12. Sullivan LG, Hasan T, Wright M, Mankin HJ, Towle CA. Pho-
todynamic treatment has chondroprotective effects on articular
Conclusão cartilage. J Orthop Res 2002;20(2):241-48.
13. Medeiros MMC, Ferraz MB, Vilar MJP, Santiago MB, Xavier
A revisão realizada mostrou que os dispositivos fotobio- RM, Levy RA et al. Condutas usuais entre os reumatologis-
tas brasileiros: levantamento nacional. Rev Bras Reumatol
moduladores têm efeitos positivos no reparo da cartilagem
2006;46(2):82-92.
em doenças articulares crônico-degenerativas como a OA. 14. Silva ALP, Imoto DM, Croci AT. Comparison of cryotherapy,
O estímulo à produção de colágeno e à proliferação de exercise and short waves in knee osteoarthritis treatment. Acta
condrócitos, o aumento do metabolismo, a melhora do aporte Ortop Bras 2007;15(4):204-09.
de oxigênio, o restabelecimento dos potenciais de membrana e 15. Brosseau L, Welch V, Wells G, Debie R, Gam A, Harman K
o aumento da quantidade de matriz celular foram as principais et al. Low level laser therapy (classes I, II and III) for treating
justificativas encontradas para a utilização do laser de baixa osteoarthritis. Cochrane Database Syst Rev 2004;3:CD002046.
potência no reparo da cartilagem articular. 16. Ozdemir F, Birtane M, Kokino S. The clinical efficacy of low-
Novos estudos devem ser conduzidos a fim de se obter power laser therapy on pain and function in cervical osteoar-
thritis. Clin Rheumatol 2001;20:181-84.
parâmetros para aplicações clínicas seguras e eficazes dos dis-
17. Tuner J, Hode L. The laser therapy handbook. Tallinn: Prima
positivos fotobiomoduladores no tratamento da OA, com foco
Books AB; 2004.
no reparo da cartilagem articular, já que os estudos revisados 18. Lobato DA, Del Carlo RJ, Viloria MIV, Monteiro BS, Silva
foram realizados em culturas de células e em animais. PSA, Marchese DR et al. Efeitos da aplicação do laser diodo de
arseneto gálio (As-Ga) na osteoartrite experimental em coelhos.
Referências Rev Ceres 2005;52(303):875-86.
19. Hyung-Jin C, Sung-Chul L, Su-Gwan K, Young-Soo K, Seong-
1. Hinton R, Moody, RL, Davis AW, Thomas SF. Osteoarthritis: Soo K, Seok-Hwa C, et al. Effect of low-level laser therapy on
Diagnosis and therapeutic considerations. Am Fam Physician osteoarthropathy in rabbit. In vivo 2004;18(5):585-91.
2002;65(5):841-8. 20. Kamali F, Bayat M, Torkaman G, Ebrahimi E, Salavati M.
2. Lin YS, Huang MH, Chai CY, Yang RC. Effects of Helium- The therapeutic effect of low-level laser on repair of osteo-
Neon laser on levels of stress protein and arthritic histopatho- chondral defects in rabbit knee. J Photochem Photobiol B
logy in experimental osteoarthritis. Am J Phys Med Rehabil 2007;88(1):11-5.
2004;83(10):758-65. 21. Calatrava RI, Valenzuela SJM, Villamandos GRJ, Redondo
3. Handout on health: Osteoarthritis. NIH Publication No. 06- JI, Jurado AI. Histological and clinical responses of articular
4617 [online]. [citado 2009 Fev 12]. Disponível em URL: http:// cartilage to low-level laser therapy: experimental study. Laser
www.niams.nih.gov/Health_info/osteoarthritis/default.asp. Med Sci 1997;12:117-21.
4. Buckwalter JA, Mankin HJ. Articular cartilage: degeneration 22. Cafalli FAZ, Borelli V, Holzchuh MP, Farias EC, Cipola WWV,
and osteoarthritis, repair, regeneration and transplantation. Instr Coutinho CAN et al. Estudo experimental dos efeitos da radia-
Course Lect 1998;47:487-504. ção laser de baixa energia na regeneração osteocartilagínea em
5. Carlson CS. Osteoarthitis/osteoarthrosis concepts. CVM 6420 joelhos de coelhos. Rev Bras Ortop 1993;28(9):673-8.
Musculoskeletal systems, set 2001; [online]. [citado 2009 Fev 23. Torricelli P, Giavaresi MF, Guzzardella GA, Morrone G, Carpi
2] Disponível em URL: http://www.cvm.umn.edu/academics/ A, Giardino R. Laser Biostimulation of cartilage: in vitro eva-
current_student/notes/OA%20lecture.pdf. luation. Biomed Pharmacother 2001;55(2):117-20.
146 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

24. Rodrigues CBS, Del Carlo RS, Limonge CR, Monteiro BS, 32. Mendez T, Pinheiro A, Pacheco M, Nascimento P, Ramalho L.
Pinheiro LCP, Natali AJ et al. Aspectos clínicos e anatomopa- Dose and wavelength of laser light have influence on the repair
tológicos da reparação de defeito osteocondral experimental of cutaneous wounds. J Clin Laser Med Sur 2004;22(1):19-25.
da cabeça umeral de cães, após aplicação de laser a diodo de 33. Ryan T, Smith RKW. An investigation into the depth of pe-
arsenieto de gálio. Fisiot Bras 2006;7(2):95-98. netration of low level laser therapy trough the equine tendon.
25. Lin YS, Huang MH, Chai CY. Effects of helium-neon laser on Irish Veterinary Journal 2007;60(5).
the mucopolysaccharide induction in experimental osteoar- 34. Chaudhri M, Tuner J. Low level laser therapy: the basics for
thritic cartilage. Osteoarthritis Cartilage 2006;14(4):377-83. research and practice. NAALT Conference 2003.
26. Jia YL, Guo ZY. Effect of low power He-Ne laser irradiation 35. Hamblin MR, Demidova TN. Mechanisms of low level light
on rabbit articular chondrocytes in vitro. Lasers Surg Med therapy. Proceedings of SPIE 2006;6140:1-12.
2004;34(4):323-8. 36. Nussbau E, Baxter G, Lilge L. A review of laser technology
27. Rossi E. Envelhecimento do sistema osteoarticular. Einstein and light-tissue interactions as a background to therapeutic
(São Paulo) 2008;6(1):S7-S12. applications of low intensity lasers and other light sources. Phys
28. Hunzkier EB. Growth-factor induced healing of partial thick- Ther 2003;8:31-44.
ness defects in adult articular cartilage. Osteoarthritis Cartilage 37. Karu T. Photobiology of low-power laser effects. Health Phys
2001;9(1):22-32. 1989;56(5):691-704.
29. Hawkins D, Abrahmase H. Phototherapy – a treatment modali- 38. King P. Low level laser therapy: A review. Lasers Med Sci
ty for wound healing and pain relief. AJBR 2007;10(2):99-109. 1989;4:141-8.
30. Lipovsky A, Nitzan Y, Lubart R. A possible mechanism 39. Sommer AP, Pinheiro ALB, Mester AR, Franke RP, Whelan
for visible light-induced wound healing. Lasers Surg Med HT. Biostimulatory windows in low-intensity laser activation:
2008;40(7):509-14. lasers, scanners, and NASA’s light-emitting diode array system.
31. Del Carlo RJ, Rodrigues CBS, Natali AJ, Monteiro BS, Del J Clin Laser Med Sur 2001;19(1):29-33.
Carlo KN, Souza TD et al. Terapia de laser de baixa potência 40. Waynant B, Bown D, Karu W. Review of laser therapy. Current
na reparação de defeito osteocondral experimental da cabeça status and consensus for research needed for further progress.
umeral de cães. Rev Ceres 2007;54(311):73-9. NAALT Conference 2003.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 147

Revisão

Relação entre a coluna torácica e a função


do ombro: relação estática ou dinâmica?
Relationship between the thoracic spine and shoulder function:
static or dynamic relationship?
Alan de Souza Araújo*, Leandro Alberto Calazans Nogueira, M.Sc.**

*Especialista em Biomecânica (EEFD/UFRJ), Especialista em Anatomia e Biomecânica (UCB), Fisioterapeuta da Clínica Fisioi-
guaçu, Universidade Estácio de Sá (UNESA), **Especialista em Biomecânica (UNESA), Fisioterapeuta do Hospital Universitário
Gafrée e Guinle (UNIRIO)

Resumo Abstract
O ombro pode influenciar o movimento da coluna torácica e The shoulder may influence the thoracic spine movement and
vice-versa, mas há pouca evidência sobre essa relação. Movimentos vice versa, but there is little evidence about this relationship. Shoul-
do ombro associados à coluna cervical e lombar estão bem descritos der movements associated with cervical and lumbar are well descri-
na literatura. No entanto, há um menor número de dados dispo- bed in the literature. However, there is a lack of information about
níveis sobre a influência da coluna torácica e de outras estruturas the influence of thoracic spine and other structures on the shoulder
sobre os movimentos do ombro. O objetivo do estudo foi descrever movements. The aim of this study was to describe the relationship
a relação entre a coluna torácica e a função do ombro. Foi realizada between the thoracic spine and shoulder function. It was realized a
uma revisão de literatura nas bases de dados eletrônicos Bireme, literature review in the Bireme, Pubmed, Lilacs and Science Direct
Pubmed, Lilacs e Science Direct. Os descritores utilizados foram: database with the key-words: thoracic spine, shoulder function
coluna torácica, função do ombro e movimentos torácicos, com and thoracic movements, and their proper translations into Por-
suas devidas traduções para língua inglesa. A pesquisa abrangeu tuguese. The search covered a range of 17 years (1994-2011) and
um intervalo de 17 anos (1994-2011) e retornou 566 trabalhos. returned 566 papers.  After  applying the inclusion and exclusion
Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, e da análise criteria, and analysis of duplicated, remained 26 papers. It is believed
de duplicidade de citações, restaram 26 fontes. Acredita-se que as that postural deformities and muscle shortening can contribute to
alterações posturais e encurtamentos musculares contribuem para shoulder dysfunction, but these findings are not evident in experi-
disfunções do ombro, porém esses achados não são evidentes em mental or well instrumented studies. There is a strong correlation
estudos experimentais ou bem instrumentados. Existe uma forte cor- between functional and dynamic movements of the thoracic spi-
relação funcional e dinâmica entre movimentos da coluna torácica ne and movement patterns of the humerus and scapula. The physical
e os padrões de movimento do úmero e da escápula. A abordagem therapy approach may address the thoracic spine in patients with
fisioterapêutica deve contemplar a coluna torácica em indivíduos shoulder pain.
com dores no ombro. Key-words: thoracic wall, shoulder joint, biomechanics, disability.
Palavras-chave: parede torácica, articulação do ombro,
biomecânica, incapacidade.

Recebido 2 de julho de 2010; aceito em 25 de fevereiro de 2011.


Endereço para correspondência: Alan de Souza Araújo, Rua Brício Filho, 47 FDS, Guadalupe 21660-290 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 8891-9751,
E-mail: alanfisio@ig.com.br
148 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Introdução requer tanto mobilidade quanto estabilidade [14]. A relação


entre a coluna torácica com a função do ombro e a cintura
O complexo do ombro é uma das regiões mais frequentes escapular tem sido atribuída à existência de inúmeras conexões
de busca de auxílio médico e fisioterapêutico. A articulação musculares. Entretanto, a posição destes vários segmentos ós-
glenoumeral sofre diretamente com a necessidade de estabi- seos podem influenciar diretamente a função do ombro, além
lização e de realização de movimentos de grande amplitude de influenciar no comprimento muscular, comprometendo
simultaneamente, sendo muitas vezes, a sua alteração biome- sua capacidade de gerar tensão [6].O objetivo do estudo foi
cânica a causa do impacto subacromial [1,2]. descrever a relação entre a coluna torácica e a função do om-
A relação entre os movimentos da articulação glenoumeral bro, além de analisar os mecanismos envolvidos nesta relação.
e da articulação escapulotorácica durante a abdução do ombro
variam, mas geralmente podem ser consideradas como 2:1. Se Material e métodos
a posição escapular for modificada, parece razoável esperar que
este padrão normal de movimento integrado seja afetado [3]. O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura, nas
O ombro pode influenciar o movimento da coluna torácica, bases de dados eletrônicos Bireme, Pubmed, Lilacs, Science
mas há pouca evidência sobre este fenômeno [2]. Desvios Direct. Os descritores utilizados foram: coluna torácica,
posturais, como cabeça anteriorizada, ombros anteriorizados função do ombro e movimentos torácicos, com suas devidas
(protração escapular), rotação interna do úmero, e aumento traduções para língua inglesa thoracic spine, shoulder function e
da cifose torácica, podem implicar em problemas no ombro thoracic movement. Os descritores foram utilizados com diver-
[2]. Outro fator importante é que, durante a abdução do sas combinações e de forma aleatória. A pesquisa abrangeu um
ombro há um conhecido padrão de movimento integrando intervalo de tempo de dezessete anos (1994-2011). Somando-
a articulação glenoumeral e a articulação escapulotorácica, se todas as bases de dados, foram encontrados 566 artigos.
esse mecanismo é chamado de ritmo escapuloumeral [3-5]. Após a leitura dos títulos dos artigos, notou-se que alguns deles
Durante a abdução do ombro, a escápula deve fornecer se repetiram nas diferentes bases e outros não preenchiam os
uma base estável para o movimento glenoumeral e ainda ser critérios do presente estudo. Foram adotados como critérios
móvel o suficiente, a fim de posicionar a cabeça do úmero de inclusão, tanto artigos experimentais, como revisões de
em toda sua amplitude de movimento [6]. Alguns autores literatura que pudessem obter informações sobre as correlações
sugerem ainda que uma alteração postural pode levar a uma existentes entre o complexo do ombro e a coluna torácica, e
fraqueza muscular no complexo do ombro e ainda limitar a foram excluídos os artigos que não continham informações
articulação glenoumeral em sua amplitude de movimento, correlacionando a coluna torácica com a função do ombro,
podendo assim resultar em uma patologia muito comum no ou que fossem anteriores ao ano de 1994. Foram selecionados
ombro chamada Síndrome do Impacto Subacromial (SIS) 46 artigos para a leitura e foram excluídos os que não diziam
[3,6-9]. Outros autores relatam que os movimentos vertebrais respeito ao propósito deste estudo. Sendo assim restaram um
da coluna toracica podem interferir na cinematica do com- total de 26 fontes que contextualizavam o assunto de interesse
plexo glenoumeral compromentendo sua função [2,10-13]. (Figura 1). As Tabelas I e II resumem os principais achados
O conceito de SIS foi introduzido por Charles Neer, em dos estudos que analisaram as relações estáticas e dinâmicas,
1972, e representa a compressão mecânica do manguito rota- respectivamente, com a função do ombro.
dor, bursa subacromial e tendão do bíceps contra o acrômio e
ligamento coracoacromial, especialmente durante a elevação Figura 1 - Organograma descritivo de todo o processo de pesquisa
do ombro. Neer afirmou que 95% de todos os casos de injú- da revisão de literatura do presente artigo.
rias no manguito rotador poderiam ser atribuídos à mecânica Resultado da busca nas bases
do impacto, mas recentemente o conceito de SIS tem sido de dados (1994-2011)
bastante discutido [7]. Acredita-se que a SIS é a causa mais 566 Artigos
comum de dor no ombro, sendo responsável por 44% a 65% Aplicação
de todas as queixas em um consultório médico [6]. dos critérios de
inclusão e exclusão
A relação entre o alinhamento da coluna torácica, posição 46 Artigos
e cinemática escapular e função do ombro são baseadas em Artigos não correspon-
dentes ao assunto (15)
grande parte por observações pessoais e não por dados inves-
31 Artigos
tigativos, apenas poucos estudos procuraram explorar esta
relação. Movimentos associados à região cervical e lombar Artigos duplicados
possuem maior interesse e estão bem descritos na literatura, 26 Artigos
no entanto, há um menor número de dados disponíveis sobre Finalização do artigo contendo
a coluna torácica ou sobre a influência que outras articulações informações sobre relações
ou estruturas podem ter sobre seus movimentos [2]. estáticas e dinâmicas
A coluna torácica é a principal área de transferência de 13 Artigos 13 Artigos
carga entre a parte superior e inferior do corpo, e sua função Relações dinâmicas Relações estáticas
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 149

Tabela I - Resumo dos achados encontrados em estudos que analisaram as relações estáticas entre a coluna torácica e o complexo do ombro.
Autor /Ano / Jornal de Tipo de estudo Características da amostra e testes Resultados
Publicação realizados
Bostard [3] Observacional 50 indivíduos assintomáticos. Indivíduos com cifose aumentada e me-
Descritivo Foram medidos a orientação escapular, nor comprimento do peitoral menor têm
cifose torácica e comprimento do peitoral maior tendência a problemas no ombro
menor por meio de eletromagnéticos e fita devido à alterações do posicionamento
métrica. escapular em repouso.
Kebaetse et al. [6] Observacional 34 indivíduos assintomáticos. Na postura de hipercifose há diminuição
Descritivo Postura ereta e curvada (hipercifose). da força muscular, diminuição do ADM
Cinemática escapular e ADM ativo do om- ativo, elevação da escápula e diminui-
bro durante a abdução no plano escapular ção de seus movimentos.
mensurada por um sistema eletromecânico
em 3D.
Força muscular medida por dinamometria.
McClure, Michener e Caso-controle 90 indivíduos (45 com SIS e 45 sem SIS). Não foram encontradas diferenças signi-
Karduna [7] ADM do ombro e cifose torácica por meio ficativas relacionando postura torácica e
da goniometria e força muscular pela dor em indivíduos com e sem SIS.
dinamometria. Alterações escapulotorácicas, de força
e ADM poderiam estar relacionadas a
mecanismos compensatórios relaciona-
dos à dor.
Herbert et al. [15] Caso-controle 51 sujeitos (41 com SIS e 10 sem SIS). Alterações do movimento escapular du-
Movimentos escapulares por dispositivos rante a abdução do braço em indivíduos
eletromagnéticos com SIS.
Greenfield et al. [16] Caso-controle 60 indivíduos (30 com SIS e 30 SIS). Apesar de encontrarem movimentos alte-
Movimentos escapulares, ADM do ombro rados da escápula e diminuição do ADM
e postura. do ombro, não observaram diferenças
na postura em indivíduos com e sem SIS.
Lewis, Green & Wright Caso-controle 60 individuos com SIS e 60 sem SIS. A postura da parte superior do corpo
[23] Anteriorização da cabeça, cifose torácica, não seguiu os padrões definidos na
posição escapular e diminuição do ADM literatura, e seus achados foram insu-
do ombro por um programa de análise ficientes para correlacionar postura e
posural. indivíduos com e sem SIS.
Lewis & Valentine [24] Caso-controle Mediram a curvatura da coluna torácica Apesar da avaliação interavaliadores ter
em 45 indivíduos com SIS e 45 sem SIS por sido boa, seus dados foram inconclusi-
meio de um inclinômetro. vos para indivíduos com e sem SIS.

Tabela II - Resumo dos achados encontrados em estudos que analisaram as relações dinâmicas entre a coluna torácica e o complexo do ombro.
Autor /Ano / Jornal de Tipo de estudo Características da amostra e testes Resultados
Publicação realizados
Theodoridis & Ruston [2] Observacional 25 mulheres assintomáticas. Foram avalia- Observaram um movimento padrão de
Descritivo das através de dispositivos eletromagnéti- inclinação e rotação ipsilateral acom-
cos para verificar padrões de movimentos panhados de extensão das vértebras
das vértebras torácicas (T2-T7) durante torácicas.
a elevação do braço no plano sagital e
escapular
Meurer et al. [13] Caso-controle Um estudo prospectivo com 50 indivíduos A maior mobilidade foi encontrada em
com SIS e 50 sem SIS. indivíduos sem SIS, não foram encontra-
Foram testar a mobilidade das vertebras das diferenças sobre a postura inicial da
torácicas superiores através de um disposi- coluna torácica.
tivo eletromagnético.
150 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Crosbie et al. [12] Observacional 32 mulheres assintomáticas. Realizaram Foram observadas consistentes intera-
Descritivo flexão uni e bilateral da glenoumeral em ções e sincronias entre os movimentos
três planos (sagital, coronal e escapular) e do úmero, da escápula e segmentos
foram analisadas diversas variáveis através torácicos.
de dispositivos eletromagnéticos. Movimentos uni e bilaterais do ombro
produzem significativamente diferentes
padrões de movimentos vertebrais e nas
rotações escapulares.
Lee, Hodges & Coppie- Observacional 10 participantes assintomáticos. Durante os movimentos de flexão,
ters [27] Descritivo Foram monitorados através de EMG na multífidos e longuíssimo entraram em
região torácica (longuíssimo e multífidos) atividade antes da ativação do deltóide.
e ombro (deltóide), realizando movimentos
uni e bilaterais do ombro.
Boyles et al. [28] Experimental Manipulação torácica em 56 pacientes Evidenciou alterações significativas nos
com SIS. testes de Neer e Hawkins, melhora da
função e redução da dor nos testes de
resistência para rotação externa e rota-
ção interna e aumento da abdução ativa
do ombro.
Strunce et al. [29] Experimental Manipulação torácica em 21 pacientes Diminuição significativa nos níveis de dor
com dor no ombro em mais de 50% dos indivíduos.
Feil & Morgan [30] Revisão Revisou artigos que incluíam biomecânica Destacou a hipótese da Síndrome do T4.
e manipulação articular. Forneceu subsídios sobre os benefícios
Descreveu as alterações de movimento na da manipulação torácica na mobilidade
coluna torácica e relacionou com os movi- da escápula e do ombro.
mentos do complexo do ombro

Discussão 16-23]. Sahrmann [8] afirmou que um ótimo alinhamento é


necessário para a adequada realização do movimento. Desvios
A associação entre desvios posturais e dor no ombro é posturais, portanto, podem mudar a capacidade biomecânica
baseada na teoria de que posições prolongadas podem acar- de produzir movimentos precisos, ocasionando ao longo do
retar adaptações dos tecidos moles. Essas adaptações podem tempo dor como resposta a exposição a tarefas repetitivas.
ser explicadas por mecanismos ativos e passivos que agem Kebaetese et al. [6] realizaram um estudo com o objetivo
em conjunto durante o movimento do ombro, levando a de determinar o efeito da postura torácica sobre a cinemática
alterações biomecânicas que geram dor [3]. A relação exata escapular, força muscular e arco de movimento (ADM) ativo
entre os movimentos torácicos e do ombro tem sido objeto do ombro durante a abdução no plano escapular. Os resulta-
de muitas investigações, a razão para tal interesse está na dos obtidos foram que a postura torácica afeta claramente o
crença de que indivíduos com patologias no ombro devem ADM de abdução no plano escapular e a cinemática escapular.
demonstrar muitas vezes uma interrupção da coordenação A força muscular não foi afetada pela postura na posição neu-
entre os movimentos escapulares e torácicos. Dessa forma tra. A diminuição de 16,2 % da força de abdução no plano
torna-se necessária a recuperação de uma sincronia normal escapular com o braço a 90º na postura curvada pode ser
para um bom resultado do tratamento. Um dos maiores explicada por alterações na cinemática escapular. Na postura
problemas com relação a essas investigações é a dificuldade curvada a translação superior da escápula é aumentada entre
de monitoramento dos segmentos em tempo real [12]. 0 e 90 graus, o que reduz o comprimento das fibras superiores
do trapézio e a consequência é a redução da sua capacidade de
Relações estáticas entre a coluna torácica e a gerar tensão. Além disso foi observada uma maior inclinação
função do ombro anterior da escápula nesta posição. Na postura curvada foi
encontrada uma média de 105º em comparação com 90,6º
A investigação de problemas musculoesqueléticos no na postura ereta. Portanto músculos gleno-umerais como
ombro inclui frequentemente uma avaliação postural, pois deltóide e supra-espinhoso estavam mais encurtados.
uma boa função do ombro significa um bom alinhamento Com relação à cinemática escapular foram achados na
vertebral e uma posição adequada da escápula [3,6-9,15]. postura curvada, uma maior translação superior da escápula
Alguns autores propõem que o aumento da flexão torácica (hi- entre 0 e 90º de abdução, menor rotação ascendente e menor
percifose) altera a relação do movimento escapuloumeral [3-7, inclinação posterior entre 90 e 180º de abdução. Segundo o
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 151

autor a diminuição de ADM do ombro na postura curvada Crosbie et al. [12] realizaram um estudo em que o princi-
pode ser atribuído a menor inclinação posterior e menor pal objetivo foi investigar a sincronia e coordenação do úmero,
rotação ascendente da escápula nesta posição. Dessa forma, escápula e movimentos da coluna torácica e lombar durante
o acrômio pode criar uma barreira óssea que pode causar ou movimentos uni e bilaterais do membro superior no plano
contribuir para SIS e lesões repetitivas [6]. sagital, coronal e escapular. A extensão da coluna torácica só
Um dos mecanismos que podem potencializar a SIS seria ocorreu com a flexão bilateral dos ombros, independente dos
o encurtamento do peitoral menor, alterando o movimento planos. A flexão lateral da torácica alta e rotação axial ipsila-
escapular nos planos sagital e transverso. Devido às suas teral só foram predominantes quando houve uma elevação
inserções em processos coracóides e costelas esse encurta- unilateral do úmero e não bilateralmente. Nenhum movimen-
mento do peitoral menor durante o repouso, ocasionaria um to lombar foi significativo para os movimentos do braço. A
aumento da tensão passiva durante a elevação do ombro, o torácica baixa foi particularmente influenciada pela abdução
que restringe a rotação ascendente da escápula. Cabe ressaltar do úmero nos planos coronal e escapularO movimento de
que esses achados foram encontrados por Borstad [3,20] em extensão torácica baixa foi significantemente maior em todos
indivíduos assintomáticos. os três planos de movimentos do braço em relação a torácica
O posicionamento estático da coluna torácica pode não alta. Os autores sugerem que a região torácica superior é mais
ser o fator causal para a SIS. Apenas uma falta de mobilidade limitada devido a sua fixação nas costelas. O movimento de
torácica deve contribuir. McClure et al. [9] não encontraram flexão lateral da coluna torácica alta foi ligeiramente maior
diferenças significativas entre posição do ombro e postura durante a elevação do ombro ipsilateral. Já a região torácica
da coluna torácica superior em indivíduos com e sem SIS. baixa fletiu para o lado contralateral ao movimento do braço
Para os autores as alterações escapulotorácicas poderiam estar em todos os casos e o seu resultado foi significantemente
relacionadas a mecanismos compensatórios relacionados à maior do que o movimento na região torácica alta. A rotação
dor. A relação estática entre a coluna torácica e a função do axial da torácica alta foi maior do que na torácica baixa em
ombro não está ainda bem esclarecida [8,9], enquanto vários todos os planos de movimento. Todos os sujeitos da pesquisa
estudos suportam a relação entre movimentos e dor por causa apresentaram fortes correlações entre movimentos da coluna
de alterações da cinemática escapular [3,6-9,15-23]. vertebral e os padrões de movimento do úmero, assim como
rotação lateral escapular e movimento da coluna torácica alta.
Relações dinâmicas entre a coluna torácica e Lewis & Valentine [24] relataram que a extensão das vértebras
os movimentos do ombro torácicas durante a elevação do braço foi necessária para uma
amplitude de movimento completa.
Por muitos anos tem sido entendido, que o ADM com- A coluna torácica funciona como um elo fundamental na
pleto do ombro depende do movimento escapular, e que cinemática da elevação do ombro. As implicações clínicas e
especialmente durante a elevação unilateral do ombro, haverá os achados estão bem coordenados [12]. Assim como já foi
uma tendência de extensão e rotação da coluna para ampliar observado na coluna cervical [25] e na coluna lombar [26],
o movimento [12]. Muitos autores descrevem que uma existe um mecanismo de antecipação de movimento por parte
limitação funcional do movimento do ombro está associada dos músculos profundos da coluna torácica. Lee, Hodges e
também a uma restrição dos movimentos da escápula e da Coppieters [27] selecionaram 10 indivíduos nos quais foram
coluna torácica [2,10-13]. introduzidos eletrodos de agulha nos multífidos e longuíssi-
Segundo Meurer et al. [13], indivíduos saudáveis apresen- mos nos níveis de T5, T8 e T11 e também foram colocados
tam maior mobilidade da coluna torácica nos planos frontal eletrodos nas porções anteriores e posteriores do deltóide
e sagital e na rotação comparados com indivíduos com SIS. direito e esquerdo. Os indivíduos foram orientados a realizar
No mesmo estudo não foram observadas diferenças relati- movimentos uni e bilaterais do braço alternadamente. Foi
vas à postura inicial da coluna torácica [13]. Theodoridis e observado que durante a flexão do ombro, multífidos e lon-
Ruston [2] realizaram uma pesquisa com 25 indivíduos do guíssimos aumentaram suas atividades acima do considerado
gênero feminino, utilizando um dispositivo eletromagnético basal antes mesmo da contração do deltóide, esta atividade
na pele (não invasivo), nos processos espinhosos de T2 a T7. antecipatória ao movimento do braço deve ser planejada pelo
Os sujeitos foram orientados a realizar uma elevação do om- sistema nervoso central (SNC). Os autores acrescentam que
bro no plano escapular e no plano sagital (flexão voluntária o músculo longuíssimo desempenha um papel importante,
máxima). Vinte e três indivíduos apresentaram um padrão de tanto no controle de orientação da coluna vertebral, como
movimento para a inclinação e rotação lateral ipsilateral asso- também no controle do centro de massa (CM) durante alte-
ciada com extensão no plano sagital, enquanto 19 indivíduos rações no plano sagital [27].
encontraram o mesmo padrão durante a elevação do ombro no Um estudo que analisou a melhora da mobilidade torácica
plano escapular. Existem estudos que encontraram o mesmo através da manipulação vertebral em indivíduos com SIS, evi-
padrão de movimento com a coluna torácica superior, porém denciou alterações significativas nos testes de Neer e Hawkins,
com metodologia diferente[10-12]. melhora da função e redução da dor no teste de resistência
152 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

para rotação externa e rotação interna, além da abdução ativa and without shoulder impingement syndrome. Phys Ther
do ombro [28]. Strunce et al. [29] também observaram me- 2006;86(8):1075-90.
lhoria nos sintomas de SIS e diminuição da intensidade de 8. Sahrmann SA. Does postural assessment contribute to patient
dor em 50% dos indivíduos que sofreram uma intervenção care? J Orthop Sports Phys Ther 2002;32(8):376-9.
9. Sahrmann SA. Diagnóstico e tratamento das síndromes de
com manipulação vertebral na região torácica e nas costelas.
disfunção motora. São Paulo: Santos; 2005.
Uma das hipóteses para a correlação entre a mobilidade 10. Willems JM, Jull GA, J KF. An in vivo study of the primary and
torácica e a função do ombro está na sindrome de T4, esta coupled rotations of the thoracic spine. Clin Biomech (Bristol,
sindrome foi aceita por alguns profissionais de saúde nas Avon) 1996;11(6):311-6.
últimas décadas, mas ainda faltam provas para comprovar 11. Stewart SG, Jull GA, Ng JK-F, Willems JM. An initial analysis
sua real existência. A síndrome de T4 cursa com diminuição of thoracic spine movement during unilateral arm elevation. J
do ADM do ombro, dor difusa no tronco e ombro além Man Manip Ther 1995;3(1):15-20.
de alterações sensoriais. A teoria da síndrome de T4 atribui 12. Crosbie J, Kilbreath SL, Hollmann L, York S. Scapulohumeral
muitos dos problemas observados em ombros, a uma perda rhythm and associated spinal motion. Clin Biomech (Bristol,
Avon) 2008;23(2):184-92.
da extensão normal que ocorre nesta vértebra [30].
13. Meurer A, Grober J, Betz U, Decking J, Rompe JD. BWS-
Como podemos observar a dinâmica da coluna toráci-
mobility in patients with an impingement syndrome compared
ca pode ser considerada um fator novo na abordagem das to healthy subjects--an inclinometric study. Z Orthop Ihre
patologias do ombro, apesar de ainda não estar incluida em Grenzgeb 2004;142(4):415-20.
alguns resumos de artigos e congressos, onde são abordados 14. Edmondston SJ, Singer KP. Thoracic spine: anatomical and
principalmente as relações estáticas [31]. biomechanical considerations for manual therapy. Man Ther
1997;2(3):132-43.
Conclusão 15. Hebert LJ, Moffet H, McFadyen BJ, Dionne CE. Scapular
behavior in shoulder impingement syndrome. Arch Phys Med
Acredita-se que as alterações posturais e encurtamentos Rehabil 2002;83(1):60-9.
16. Greenfield B, Catlin PA, Coats PW, Green E, McDonald JJ,
musculares contribuem para disfunções do ombro, porém
North C. Posture in patients with shoulder overuse injuries and
esses achados não são evidentes em estudos experimentais healthy individuals. J Orthop Sports Phys Ther 1995;21(5):287-
ou bem instrumentados. Vários estudos suportam a relação 95.
entre movimentos da coluna torácica e função do ombro em 17. Lewis JS, Green A, Wright C. Subacromial impingement syn-
decorrência das alterações cinemáticas da escápula. Existe uma drome: the role of posture and muscle imbalance. J Shoulder
forte correlação funcional e dinâmica entre movimentos da Elbow Surg 2005;14(4):385-92.
coluna torácica e os padrões de movimento do úmero e da 18. Lukasiewicz AC, McClure P, Michener L, Pratt N, Sennett B.
escápula. Clinicamente estes achados sugerem que a avaliação Comparison of 3-dimensional scapular position and orientation
funcional do ombro deve incluir a avaliação da cinemática between subjects with and without shoulder impingement. J
Orthop Sports Phys Ther 1999;29(10):574-83.
da coluna torácica e escapular, de modo que seu tratamento
19. Ludewig PM, Cook TM. Alterations in shoulder kinematics and
deve incluir técnicas que auxiliem na mobilidade torácica e
associated muscle activity in people with symptoms of shoulder
na coordenação escapular. impingement. Phys Ther 2000;80(3):276-91.
20. Borstad JD, Ludewig PM. The effect of long versus short
Referências pectoralis minor resting length on scapular kinema-
tics in healthy individuals. J Orthop Sports Phys Ther
1. Almeida RS, Nogueira LAC. Aplicação do protocolo para re- 2005;35(4):227-38.
cuperação da síndrome do impacto subacromial proposto pelo 21. Karduna AR, McClure PW, Michener LA, Sennett B. Dynamic
setor de fisioterapia do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle measurements of three-dimensional scapular kinematics: a vali-
- um relato de caso. Metascience 2005;2:5-7. dation study. J Biomech Eng 2001;123(2):184-90.
2. Theodoridis D, Ruston S. The effect of shoulder movements 22. Hinman MR. Interrater reliability of flexicurve postural me-
on thoracic spine 3D motion. Clin Biomech (Bristol, Avon) asures among novice users. J Back Musculoskeletal Rehabil
2002;17(5):418-21. 2003;17:33-6.
3. Borstad JD. Resting position variables at the shoulder: evi- 23. Lewis JS, Wright C, Green A. Subacromial impingement
dence to support a posture-impairment association. Phys Ther syndrome: the effect of changing posture on shoulder range
2006;86(4):549-57. of movement. J Orthop Sports Phys Ther 2005;35(2):72-87.
4. Caillet R. Dor no ombro. 3a ed. Porto Alegre: Artmed; 2001. 24. Lewis JS, Valentine RE. Clinical measurement of the thora-
5. Glenn CT, Thomas MC. Functional anatomy of the shoulder. cic kyphosis. A study of the intra-rater reliability in subjects
J Athl Train 2000;35(3):248-55. with and without shoulder pain. BMC Musculoskelet Disord
6. Kebaetse M, McClure P, Pratt NA. Thoracic position effect on 2010;11:39.
shoulder range of motion, strength, and three-dimensional sca- 25. Falla DL, Jull GA, Hodges PW. Patients with neck pain demons-
pular kinematics. Arch Phys Med Rehabil 1999;80(8):945-50. trate reduced electromyographic activity of the deep cervical
7. McClure PW, Michener LA, Karduna AR. Shoulder func- flexor muscles during performance of the craniocervical flexion
tion and 3-dimensional scapular kinematics in people with test. Spine (Phila Pa 1976) 2004;29(19):2108-14.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 153

26. Hodges PW, Richardson CA. Inefficient muscular stabilization manipulation on patients with shoulder impingement syndro-
of the lumbar spine associated with low back pain. A motor me. Man Ther 2009;14(4):375-80.
control evaluation of transversus abdominis. Spine (Phila Pa 29. Strunce JB, Walker MJ, Boyles RE, Young BA. The immediate
1976) 1996;21(22):2640-50. effects of thoracic spine and rib manipulation on subjects
27. Lee LJ, Coppieters MW, Hodges PW. Anticipatory postural with primary complaints of shoulder pain. J Man Manip Ther
adjustments to arm movement reveal complex control of 2009;17(4):230-6.
paraspinal muscles in the thorax. J Electromyogr Kinesiol 30. Feil CH, Morgan WE. The importance of the thoracic spine in
2009;19(1):46-54. shoulder mechanics. Dynamic Chiropractic 2010;10(28):17-8.
28. Boyles RE, Ritland BM, Miracle BM, Barclay DM, Faul MS, 31. Ludewig PM, Braman JP. Shoulder impingement: Biomechani-
Moore JH, et al. The short-term effects of thoracic spine thrust cal considerations in rehabilitation. Man Ther 2011;1(16):33-9.
154 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Normas de Publicação - Fisioterapia Brasil

Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em 3. Revisão


Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX São trabalhos que expõem criticamente o estado atual do conhecimento em
Abreviação para citação: Fisioter Bras alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia. Revisões consistem necessaria-
mente em análise, síntese, e avaliação de artigos originais já publicados em
A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimes- revistas científicas. Será dada preferência a revisões sistemáticas e, quando
tral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das não realizadas, deve-se justificar o motivo pela escolha da metodologia em-
várias áreas relacionadas à Fisioterapia. pregada.
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser publi- Formato: Embora tenham cunho histórico, Revisões não expõem necessa-
cados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros riamente toda a história do seu tema, exceto quando a própria história da
meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro. Ao au- área for o objeto do artigo. O artigo deve conter resumo, introdução, me-
torizar a publicação de seus artigos na revista, os autores concordam com todologia, resultados (que podem ser subdivididos em tópicos), discussão,
estas condições. conclusão e referências.
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform re- Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as legendas das
quirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres, incluindo espaços.
pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as Figuras e Tabelas: mesmas limitações dos Artigos originais.
especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em in- Literatura citada: Máximo de 50 referências.
glês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada 4. Relato de caso
de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponível, em São artigos que apresentam dados descritivos de um ou mais casos clínicos ou
inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). terapêuticos com características semelhantes. Só serão aceitos relatos de casos
Submissões devem ser enviadas por e-mail para o editor executivo (ar- não usuais, ou seja, doenças raras ou evoluções não esperadas.
tigos@atlanticaeditora.com.br). A publicação dos artigos é uma decisão Formato: O texto deve ser subdividido em Introdução, Apresentação do
dos editores. Todas as contribuições que suscitarem interesse editorial caso, Discussão, Conclusões e Referências.
serão submetidas à revisão por pares anônimos. Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as legendas das
Segundo o Conselho Nacional de Saúde, resolução 196/96, para estu- figuras, não deve ultrapassar 10.000 caracteres, incluindo espaços.
dos em seres humanos, é obrigatório o envio da carta de aprovação do Figuras e Tabelas: máximo de duas tabelas e duas figuras.
Comitê de Ética em Pesquisa, independente do desenho de estudo ado- Literatura citada: Máximo de 20 referências.
tado (observacionais, experimentais ou relatos de caso). Deve-se incluir
o número do Parecer da aprovação da mesma pela Comissão de Ética em 5. Opinião
Pesquisa do Hospital ou Universidade, a qual seja devidamente registra- Esta seção publica artigos curtos, que expressam a opinião pessoal dos auto-
da no Conselho Nacional de Saúde. res: avanços recentes, política de saúde, novas idéias científicas e hipóteses,
críticas à interpretação de estudos originais e propostas de interpretações
1. Editorial alternativas, por exemplo. A publicação está condicionada a avaliação dos
O Editorial que abre cada número da Fisioterapia Brasil comenta acon- editores quanto à pertinência do tema abordado.
tecimentos recentes, inovações tecnológicas, ou destaca artigos impor- Formato: O texto de artigos de Opinião tem formato livre, e não traz um
tantes publicados na própria revista. É realizada a pedido dos Editores, resumo destacado.
que podem publicar uma ou várias Opiniões de especialistas sobre temas Texto: Não deve ultrapassar 5.000 caracteres, incluindo espaços.
de atualidade. Figuras e Tabelas: Máximo de uma tabela ou figura.
Literatura citada: Máximo de 20 referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados ori- 6. Cartas
ginais com relação a aspectos experimentais ou observacionais, em estu- Esta seção publica correspondência recebida, necessariamente relacionada
dos com animais ou humanos. aos artigos publicados na Fisioterapia Brasil ou à linha editorial da revista.
Formato: O texto dos Artigos originais é dividido em Resumo (inglês Demais contribuições devem ser endereçadas à seção Opinião. Os autores de
e português), Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão, artigos eventualmente citados em Cartas serão informados e terão direito de
Conclusão, Agradecimentos (optativo) e Referências. resposta, que será publicada simultaneamente. Cartas devem ser breves e, se
Texto: A totalidade do texto, incluindo as referências e as legendas das forem publicadas, poderão ser editadas para atender a limites de espaço. A
figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres (espaços incluídos), e não publicação está condicionada a avaliação dos editores quanto à pertinência
deve ser superior a 12 páginas A4, em espaço simples, fonte Times New do tema abordado.
Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como ne-
grito, itálico, sobre-escrito, etc.
Tabelas: Recomenda-se usar no máximo seis tabelas, no formato Excel
ou Word.
Figuras: Máximo de 8 figuras, em formato .tif ou .gif, com resolução
de 300 dpi.
Literatura citada: Máximo de 50 referências.
Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 155

PREPARAÇÃO DO ORIGINAL Envio dos trabalhos


• Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto A avaliação dos trabalhos, incluindo o envio de cartas de aceite, de listas
(Word), em página A4, formatados da seguinte maneira: fonte Times de correções, de exemplares justificativos aos autores e de uma versão pdf
New Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como do artigo publicado, necessita o pagamento de uma taxa de R$ 150,00 a
negrito, itálico, sobrescrito, etc. ser depositada na conta da editora: Banco do Brasil, agência 3114-3, conta
• Tabelas devem ser numeradas com algarismos romanos, e Figuras com 5783-5, titular: Atlantica Multimidia e Comunicacoes Ltda (ATMC). Os
algarismos arábicos. assinantes da revista são dispensados do pagamento dessa taxa (Informar
• Legendas para Tabelas e Figuras devem constar à parte, isoladas das ilus- por e-mail com o envio do artigo).
trações e do corpo do texto. Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail para o editor exe-
• As imagens devem estar em preto e branco ou tons de cinza, e com cutivo, Jean-Louis Peytavin, através do e-mail artigos@atlanticaeditora.
resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar com.br. O corpo do e-mail deve ser uma carta do autor correspondente à
digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. Imagens coloridas serão aceitas Editora, e deve conter:
excepcionalmente, quando forem indispensáveis à compreensão dos re- • Resumo de não mais que duas frases do conteúdo da contribuição;
sultados (histologia, neuroimagem, etc). • Uma frase garantindo que o conteúdo é original e não foi publicado em
outros meios além de anais de congresso;
Página de apresentação • Uma frase em que o autor correspondente assume a responsabilidade
A primeira página do artigo traz as seguintes informações: pelo conteúdo do artigo e garante que todos os outros autores estão
• Título do trabalho em português e inglês; cientes e de acordo com o envio do trabalho;
• Nome completo dos autores e titulação principal; • Uma frase garantindo, quando aplicável, que todos os procedimentos e
• Local de trabalho dos autores; experimentos com humanos ou outros animais estão de acordo com as
• Autor correspondente, com o respectivo endereço, telefone e E-mail; normas vigentes na Instituição e/ou Comitê de Ética responsável;
• Telefones de contato do autor correspondente.
Resumo e palavras-chave • A área de conhecimento:
A segunda página de todas as contribuições, exceto Opiniões, deverá con- ( ) Cardiovascular / pulmonar
ter resumos do trabalho em português e em inglês e cada versão não pode ( ) Saúde funcional do idoso
ultrapassar 200 palavras. Deve conter introdução, objetivo, metodologia, ( ) Diagnóstico cinético-funcional
resultados e conclusão. ( ) Terapia manual
Abaixo do resumo, os autores deverão indicar 3 a 5 palavras-chave em ( ) Eletrotermofototerapia
português e em inglês para indexação do artigo. Recomenda-se empregar ( ) Orteses, próteses e equipamento
termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da ( ) Músculo-esquelético
Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra em http://decs.bvs.br. ( ) Neuromuscular
( ) Saúde funcional do trabalhador
Agradecimentos ( ) Controle da dor
Agradecimentos a colaboradores, agências de fomento e técnicos devem ser ( ) Pesquisa experimental /básica
inseridos no final do artigo, antes das Referências, em uma seção à parte. ( ) Saúde funcional da criança
( ) Metodologia da pesquisa
Referências ( ) Saúde funcional do homem
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver. As referências ( ) Prática política, legislativa e educacional
bibliográficas devem ser numeradas com algarismos arábicos, mencionadas ( ) Saúde funcional da mulher
no texto pelo número entre colchetes [ ], e relacionadas nas Referências na ( ) Saúde pública
ordem em que aparecem no texto, seguindo as normas do ICMJE. ( ) Outros
Os títulos das revistas são abreviados de acordo com a List of Journals In-
dexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais e latinoame- Observação: o artigo que não estiver de acordo com as normas de publi-
ricanas, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme. cação da Revista Fisioterapia Brasil será devolvido ao autor correspondente
br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, para sua adequada formatação.
colocar a abreviação latina et al.
Atlantica Editora
Exemplos: artigos@atlanticaeditora.com.br
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hyper-
tension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York:
Raven Press; 1995.p.465-78.

Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of


urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer
Res 1994;54:5016-20.
156 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011

Agenda
2011 20 a 23 de junho
World Physical Therapy
Maio Amsterdam Holland
Informações: www.wcpt.org/congress
12 a 14 de maio
VI Congresso de Fisioterapia da UFJF 27 de junho a 1 de julho
Victory Business Hotel, Juiz de Fora, MG International Society of Biomechanics in Sport Congress
Informações: www.da13deoutubro.com.br, contato@ 2011
da13deoutubro.com.br Faculdade de Esporte da Universidade do Porto, Portugal
Informações: www.isbs2011.fade.up.pt
18 a 21 de maio
III CIRNE Congresso Internacional de reabilitação Outubro
Neuromusculoesquelética e Esportiva
Vitória, ES 9 a 12 de outubro
Informações: www.cirne2011.com.br XIX Congresso Brasileiro de Fisioterapia
Florianópolis, SC
25 a 27 de maio Informações: http://www.afb.org.br/
I Congresso Brasileiro de Fisioterapia em Emergência
Centro Fecomércio de Eventos, São Paulo 19 a 21 de outubro
Informações: www.cobeen.com.br II Congresso Paraense de Fisioterapia
Belém, PA
27 e 28 de maio Informações: www.fisiocopaf.com.br
II FisioSul
I Encontro Científico Multidisciplinar do Litoral Norte do 19 a 21 de outubro
RS Congresso Brasileiro de Fisioterapia do Trabalho
Informações: www.ulbratorres.com.br/fisiosul Salvador, BA
Informações: www.abrafit.fst.br
Junho
Novembro
14 a 16 de junho
13ª Rio Sports Show 11 a 14 de novembro
Pier Mauá, Rio de janeiro V Congresso Brasileiro e III Congresso Internacional da
Informações: www.riosportshow.com.br Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva
V Jornada Brasil-Argentina de Fisioterapia Esportiva
Maceió, AL
Informações: www.sonafe2011.com

Cursos
2011 Setembro

30 de setembro a 02 de outubro
Junho
Profisio Brasil 2011
11 de junho Informações: (011) 2714-5677
Certificação em Treinamento de Corrida www.institutophorte.com.br
(011) 2714-5677
Informações: www.institutophorte.com.br

Julho

28 a 31de julho
VIII Encontro Internacional de Esporte e Atividade Fisica
Informações: (011) 2714-5677
www.institutophorte.com.br

View publication stats

Você também pode gostar