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SEPEM 2017

1º Seminário do Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica –


Universidade Federal do Rio Grande do Norte
22 a 24 de novembro, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil
http://www.doity.com.br/SEPEM2017/

Coletor Solar Térmico: Uma Alternativa para o Aquecimento da Água Utilizada


no Tratamento Hidrossanitário Térmico da Manga.

Marcos Vinícius Sousa dos Santos1, Cleiton Rubens Formiga Barbosa2, Luiz Guilherme Meira de Souza3

1
Laboratório de Máquinas Hidráulicas e Energia Solar-LMHES, marcosv_ss@hotmail.com
2
Laboratório da Mobilidade, cleiton@ufrnet.br
3
Laboratório de Máquinas Hidráulicas e Energia Solar-LMHES, lguilherme@dem.ufrn.br

Palavras-chave
coletor solar, energia solar, tratamento hidrotérmico, tratamento hidrossanitário, manga.
________________________________________________________________________________

1. INTRODUÇÃO

No Nordeste brasileiro, a manga é cultivada em vários estados, particularmente nos estados da Bahia e Pernambuco,
que respondem por 61,5% da produção nacional. A região do Vale do São Francisco se constitui no maior polo exportador
de frutas do Brasil, com destaque para esse fruto, sendo Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) os municípios que se destacam na
produção e exportação de uva e manga.
Barreiras fitossanitárias são impostas à manga brasileira destinada ao mercado internacional, sendo a imersão em
água quente recomendada na solução de dois problemas típicos: a antracnose e a eliminação da mosca da fruta.
A antracnose na manga é uma doença cujo tratamento fitossanitário consiste num processo hidrotérmico que consiste
na imersão em água quente a 55ºC por 5 minutos. Para o controle da mosca da fruta, os Estados Unidos, Japão e Chile
seguem o Protocolo Mango Board, o qual consiste na imersão das frutas em tanques com água a 46,1ºC. O tempo de
permanência das frutas nesta temperatura depende de seu peso: 75 minutos para manga com peso inferior a 425g e 90
minutos para frutas com peso acima de 425g. Para o mercado japonês, o controle é feito na temperatura da polpa que deve
atingir 46,1º C, independentemente do tempo requerido para tal.
Os níveis de temperatura requeridos para o tratamento térmico da manga e as excelentes condições climáticas locais
apontam para a viabilidade técnica do uso do aquecimento solar em substituição de grande parte do GLP consumido,
agregando valor ao agronegócio pelo aumento da competitividade das empresas exportadoras brasileiras e pela
incorporação de tecnologias limpas e renováveis.
Esse trabalho tem por objetivo a confecção de um coletor solar de fluxo contínuo com tubos de PVC associados em
série, para estudo de viabilidade de aplicação no aquecimento da água utilizada no processo de tratamento hidrosanitário
térmico (THT) da manga.

2. COLETOR SOLAR

O coletor solar é basicamente um dispositivo que promove o aquecimento de um fluido de trabalho, como água, ar
ou fluido térmico, através da conversão da radiação eletromagnética proveniente do Sol em energia térmica. Basicamente,
um coletor solar plano fechado é constituído por:

a) Caixa externa: geralmente fabricada em chapa dobrada, suporta todo o conjunto.


b) Isolamento térmico: minimiza as perdas de calor para o meio. Fica em contato direto com a caixa externa.
c) Tubos: tubos interconectados através dos quais o fluido escoa no interior do coletor.
d) Placa absorvedora responsável pela absorção e transferência da energia solar para o fluido de trabalho.
e) Cobertura transparente: permite a passagem da radiação solar e minimiza as perdas de calor para o ambiente.
f) Vedação: importante para manter o sistema isento da umidade externa.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

O coletor solar confeccionado constitui uma ferramenta de estudo quanto a viabilidade de uma proposta alternativa
para o aquecimento da água utilizada no tratamento hidrotérmico da manga. É composto por um coletor multitubo (em
labirinto), trabalhando em regime de fluxo contínuo, com serpentina absorvedora formada por tubos de PVC ligados em
série e dispostos em forma espiral sobre chapa absorvedora de alumínio; uma fonte alimentadora de água fria; e um
reservatório térmico para armazenar a água quente.
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3.1. Confecção do coletor solar térmico em labirinto

a) Conformação das chapas de aço galvanizado para construção da caixa.


b) Aplicação de isolamento térmico de placas EPS de 30 mm, no fundo e nas laterais da caixa.
c) Aplicação de chapa absorvedora de alumínio sobrepondo a camada de isolamento térmico.
d) Pintura de todo o conjunto com tinta preto fosco, visando o aumento da absorção dos raios solares.
e) Montagem da serpentina absorvedora em espiral ocupando toda a área interna da caixa. Foram utilizados tubos
de PVC de 25 mm e conexões do tipo “joelho”, também em PVC.
f) Cobertura de vidro plano transparente de 3 mm de espessura.
g) Aplicação de fita silver tape para vedação do coletor.

Na figura 1, podem ser observadas a caixa do coletor pronta e a grade absorvedora em espiral (ou labirinto).

Figura 1: A esquerda: caixa do coletor pronta. A direita grade absorvedora em labirinto.

3.2. Realização de ensaios

O sistema deverá ser ensaiado para o diagnóstico de seu desempenho térmico e levantamento dos parâmetros
necessários para sua caracterização.
Para um período de 9:00 às 16:00 horas, serão coletadas (em intervalos de 30 minutos): as temperaturas interna e
externa ao coletor; as temperaturas de entrada e saída do fluxo de água para variadas vazões, em regime permanente; a
radiação solar global ao longo do período de realização dos ensaios. Todas as medições de temperatura serão feitas com
termopares do tipo k posicionados em pontos apropriados ao longo do sistema. Já os dados referente a radiação solar
serão obtidos com o auxílio de equipamento solarímetro digital.

3.3. Determinação dos Parâmetros Térmicos do Coletor

Os parâmetros que melhor caracterizam a eficiência térmica de um coletor solar são o coeficiente global de perdas
(Uloss) e o rendimento térmico ( t ). O primeiro poderá ser determinado pelo método das trocas térmicas, que se
caracteriza pela determinação do Uloss como função de todas as trocas térmicas que ocorrem no interior e para o exterior
do sistema. O segundo poderá ser definido pelo coeficiente entre a energia total útil transferida ao fluido de trabalho (Qu)
pelo produto entre a área(A) do coletor exposta a radiação e a radiação solar global (I).

3.4. Levantamento de demanda de energia térmica

Para cálculo da demanda de energia térmica, poderão ser utilizados cálculos termodinâmicos que devem ser validados
pelas contas de consumo de gás liquefeito de petróleo (GLP), normalmente utilizado pelas empresas que realizam
tratamento térmico de mangas.
a) De acordo com a equação da Primeira Lei da Termodinâmica, tem-se que a energia necessária por dia para aquecer
a água da temperatura inicial (TI) até a temperatura final (TF) é dada pela equação:

𝑽
𝑸= 𝝆 𝒄 (𝑻 − 𝑻𝒊 ) [𝑲𝑱𝒐𝒖𝒍𝒆 𝒑𝒐𝒓 𝒅𝒊𝒂]
𝟏𝟎𝟎𝟎 𝒑 𝒇
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onde, 𝑽 é o volume diário de água a ser aquecido expresso em litros, 𝝆 é a massa específica da água (994 kg/m³) e 𝒄𝒑 seu
calor específico a pressão constante (4,19 kJ/kg°C), ambos considerados constantes e calculados à temperatura média da
água no processo de aquecimento. A constante 1000 representa a conversão da unidade do volume de água para m³.
Para a determinação da demanda total de energia térmica por safra, será necessário calcular o número de dias efetivos
de tratamento térmico com base na massa total da manga a ser tratada e então multiplica-se o valor da demanda diária de
energia pelo número de dias, Ndias, que compõem a alta temporada (condição mais extrema).

3.5. Caracterização da radiação solar incidente

Deverá ser feito o cálculo da radiação solar disponível na localidade para as condições de inclinação e orientação dos
coletores solares. Determina-se, então, a área total de coletores solares, necessária para atender a demanda de energia
térmica no processo.

3.6. Definição dos componentes e da configuração da instalação de aquecimento solar.

De acordo com os resultados obtidos pelos ensaios, serão discutidos os requisitos básicos de projeto, incluindo o
volume do reservatório e área dos coletores solares para que sejam definidos os componentes necessários e esquematizada
a configuração final da instalação de aquecimento solar. A figura 2 exemplifica o esquema de uma instalação solar de
médio e grande porte.

Figura 2: Esquema de Instalação de Aquecimento Solar

4. RESULTADOS ESPERADOS

Espera-se que os parâmetros apresentados pelo protótipo sejam satisfatórios, de modo a constituir-se como uma
solução alternativa viável do ponto de vista técnico, construtivo e financeiro. E que sirva de base para o estudo de sistemas
de aquecimento solar no setor produtivo da agroindústria, especialmente no Vale do São Francisco. De modo a contribuir
para a disseminação da tecnologia termossolar nesta região, por meio de maneiras efetivas, sustentáveis, socialmente
justas e ambientalmente corretas.

5. AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelo palpável zelo dispensado a mim; aos meus familiares pelo caráter que me foi impresso; aos
meus amigos pelo suporte emocional, em especial aos do LMHES pelo acolhimento que fez de tal lugar a extensão do
meu lar. Agradeço à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pela concessão da bolsa
durante a realização deste mestrado. Agradeço ao mestre Aldo Paulino pela imensa parceria durante confecção do
protótipo; ao meu orientador prof. Dr. Cleiton Rubens por confiar na minha ideia. E por fim, agradeço ao meu co-
orientador prof. Dr. Luis Guilherme por tornar possível a concretização desse estudo.

REFERÊNCIAS

Meira, L.G.S. “Viabilidades Térmica, Econômica e de Materiais da Utilização de Tubos de PVC como Elementos
Absorvedores em Coletores de um Sistema de Aquecimento de Água por Energia Solar” – tese de doutorado, 2002.
Pereira, Elizabeth Marques Duarte (ED). “Guia de Implementação do Aquecimento Solar de Água para Fruticultura do
Vale do São Francisco”– Projeto SOLBRASIL. FINEP, 2007.
Silva, E.J. “Fabricação e Estudo de um Sistema de Aquecimento de Água Utilizando Coletor Solar de Grade Absorvedora
Formada com Tubos PVC na Configuração Série-Paralelo.” – dissertação de mestrado, 2016.

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