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Considerações preliminares

Com este trabalho pretendemos em linhas gerais fazer uma abordagem sistemática em torno da
religião e missionação no Congo Belga hoje “Zaire”. Este que foi o primeiro país a ter contacto
com missionários e maior número de reis convertidos, conhecido na história de África. A
religião ou seja, o cristianismo era considerado a fonte do poder do homem branco, ele dava
acesso à educação, ao emprego, ao poder, a civilização e à influência ao mundo branco.
Portanto esses factores acima referidos (principalmente a civilização),foi o principal caminho
dos europeus para a África concretamente no Congo. Salientar que no Congo, o catolicismo
esteve directamente relacionado ao comércio e a legitimaçãodos chefes locais, atuando como
elemento de fortalecimento de algumas linhagens nas disputas sucessórias.

Outro recurso não menos importante era o objectivo trassado nas diversas manifestações
políticas e religiosas, é fundamental para perceber as possibilidades e os constrangimentos
associados ao plano de estruturar uma política missionária que suportasse as intenções
imperiais, políticas e religiosas, no Congo. Importa frisar que este trabalho surge no âmbito da
avaliação como requisito parcial para a aquisição de nota.
Justificativa
Este trabalho tem como importância a análise do panorama geral daquilo que foi a religião e
missionação no Congo no periodio pré-colonial e colonial, seu impacto a nível interno e
externo. Portanto a relevância deste trabalho reside essencialmente no facto deste país ser o
primeiro em África a ter contacto com o catolicismo e ter os reis convertidos.
Objectivos
Este trabalho foi elaborado tendo em vista a alcançar os seguintes objectivos:

Objectivo geral
 Analisar o processo de cristianização e a relação das igrejas

Objectivos específicos
 Descrever as relações entre o governo Colonial Belga e as igreja católica;

 Avaliar o contributo económico das missões no Congo no período colonial.

Metodologia
A metodologia usada neste trabalho foi essencialmente desenvolvida na base de consulta
documental da doutrina a tenente ao tema. Com índole qualitativa, por vezes complementada
com alguma pesquisa quantitativa que venha a mostrar-se relevante. A pesquisa bibliográfica
versa sobre a apreensão de conteúdos e aspectos teóricos do tema proposto. O recurso a internet
para aceder os conteúdos desenvolvidos por académicos e investigadores constitui uma fonte
importante de consulta.
Breve história da entrada do cristianismo no Congo

Nos primeiros contatos entre portugueses e congolenses, tudo indica que o catolicismo foi o
principal meio de comunicação entre os diferentes universos culturais. Para os portugueses, a
sua disseminação era parte importante do movimento que os lançava à conquista de terras
distantes, ao lado dos interesses comerciais. Para as elites congolesas, serviu para a afirmação
de uma facção política frente a outras e, a médio prazo, para a consolidação de poderes
centralizados. Imediatamente identificado como uma forma dos homens se comunicarem com
a esfera espiritual, alguns dos seus ritos foram aceites pelos governantes locais. Isso foi
entendido pelos portugueses como uma conversão ao catolicismo e uma vitória, amplamente
alardeada pela Coroa e pela Igreja lusitanas, que chamavam para si a responsabilidade de trazer
para o seio do catolicismo o maior número possível de pessoas, especialmente as que eram
contatadas como resultado da expansão marítima. (M. Mello e Sousa, p.53)

Segundo Marina de Mello e Sousa (2014:53), o batismo dos primeiros chefes ocorreu em 1491,
por ocasião da terceira viagem dos portugueses àquela região, sendo que, em viagem anterior,
em 1485, alguns congoleses haviam sido levados para Lisboa, onde conheceram o modo de
vida lusitano e aprenderam o português. A partir de então, inaugurou-se um tempo de relações
estreitas entre o Congo e Portugal, nas quais elementos da sociedade portuguesa foram
adotados pelos congolenses. A adoção de ritos e objetos do culto católico, resultante da ação
de missionários, e de símbolos de poder, como títulos e insígnias da nobreza portuguesa,
sugeridos por regimentos e embaixadas enviadas no início do século XVI por D. Manuel, rei
de Portugal, foram adoptados por reis do Congo.

A religião assumiu necessariamente lugar de destaque. Nesse contexto, o catolicismo tornou-


se importante meio de aproximação entre Portugal e o Congo, que incorporou elementos da
religião dos brancos como forma de lidar com as novas situações criadas pela presença desses
estrangeiros. No processo de incorporação de elementos do catolicismo, foi central o papel
dos intérpretes, mestres e catequistas nativos que, educados nas escolas abertas pelos
missionários a partir do início do século XVII, ou enviados para Lisboa desde o início século
XVI, traduziram para os termos de sua cultura e sua língua os ensinamentos a que foram
expostos. Os primeiros padres negros sairam do Congo no século XVI, como é o caso de D.
Calisto Zelotes dos Reis Magos.

O cristianismo na época colonial

Os missionários desempenharam importante papel na indrodução da económia monetária na


África. A instauração do domínio colonial ajudou consideravelmente a obra de missionários,
pois as missões cristãs eram aliadas ao imperialismo europeu. A actividade missionária fazia
parte do avanço ou da penetração do Ocidente no mundo não ocidente.( História Geral da
África. VII -610).

Os missionários estavam empenhados na luta contra o paganismo tribal, lunta indispensável


para levar a bom termo a obra civilizadora da colonização, a administração colonial encarava
o seu trabalho de forma pelo menos benevolente. No Congo belga, esperava-se dos
missionários uma colaboração estreita, o simbolo desse entedimento sagrado assentava-se
numa trindade colonial, composta pela administração, grandes companhias e pelas missões.

Segundo M`BOKOLO,TomoII-505, os agentes do governo Belga não estão sozinhos


trabalhando pela obra da civilização. As obras religiosas participam neste esforço em um grupo
pelo menos igual, os agentes do governo, sejam quais forem as suas opiniões têm a obrigação
estreita de auxiliar os missionários. Essa colaboração assentava no acordo assinado em 1906
entre Roma e Bruxelas, que lhe fixava o quadro geral. Tudo concoria para reforçar o
entendimento sagrado entre os administradores e os missionários: desejo comum de civilizar
as populações, sentimento nacional e patriótico, mas tamém e, sobretudo, consiência de
pertencer a mesma classe, soliedariedade dos expartiados, comunidade de hábitos, de costumes
e de comportamentos.

A ligação do cristianismo à alfabetização e à educação no início do período colonial


conferiram-lhe um novo encanto e uma nova reputação. No Congo Belga, os catequistas
fundaram aldeias cristãs a par das povoações que já existiam, para atrair os seus jovens.
Também as mulheres podiam buscar protecção nas comunidades cristãs. Este forte elemento
auto-emancipação dos jovens, dos pobres e das mulheres, mais do que uma reacção puramente
intelectual à expansão do colonialismo no mundo dos africanos, foi a principal força que
impulsionou o desenvolvimento do cristianismo na primeira metade do século XX. (J.
ILIFFE.1995-293).

Problemas e dinâmicas da missão

A missão não é uma mera questão religiosa, até porque esta convoca permanentemente, de
forma simultânea, outras dimensões (política, económica e cultural). É certo que se trata de
uma entidade de matriz religiosa e que o seu fundamento primeiro é a evangelização,
nomeadamente para os seus constituintes – os missionários. Nesse sentido, evangelizar
significa espalhar a palavra de Cristo e as práticas das distintas igrejas, ou seja, criar cristãos,
fossem católicos, baptistas, calvinistas, metodistas, presbiterianos, entre outros. A missão era
um meio de dar às populações indígenas os instrumentos religiosos que os afastaria do
paganismo e os aproximaria da “verdadeira fé” e, assim, da civilização e daquilo que era
entendido como “atraso cultural”. Muitos dos missionários que se embrenhavam no interior de
África procuravam almas para salvar e não impérios para conquistar ou matérias-primas para
comercializar. Hugo Dores, (2014:17).

As suas expectativas individuais, como instrumentos de um plano religioso, eram, muitas


vezes, conciliadas com as suas concepções enquanto cidadãos e membros do mundo ocidental
do século XIX e inícios do século XX. Alguns entenderam que não era possível fazer a sua
obra evangelizadora sem actividades “mais terrenas”. A colaboração entre missionários e
administração colonial era indispensável.

As igrejas protestantes contra o Catolicismo

As alegações territoriais católicas no Congo incidiam sobre um espaço onde os baptistas


exerciam a sua actividade evangelizadora, uma região onde convergiam diversos interesses
comerciais, políticos e religiosos, por vezes concorrentes, outras associados. Os baptistas
olhavam para a possível instalação dos católicos como um desafio à sua presença
cristianizadora, o inverso era também verdade. Aliás, esta era uma das premissas que
preocupava a Santa Sé na discussão com Belgica sobre os direitos padroeiros deste e a sua
dúbia capacidade de empreender um processo missionário capaz de concorrer directamente
com o dinamismo da missionação protestante no Congo e noutras partes de África. Para Roma,
o catolicismo no continente teria de responder às exigências dos novos mecanismos e projectos
de missionação. Hugo Dores (2014:25).

A Baptist Missionary Society sugeria no espírito dos indígenas ideias de independência”, pelo
que “seria conveniente” que o Foreign Office se empenhasse a tomar medidas com vista a que
os missionários da sua nacionalidade “se abstivessem de falar aos indígenas em qualquer
assunto que se não relacionasse estritamente com os princípios religiosos”, o que é um dos
aspectos da ambiguidade e da confusão sobre a dimensão do religioso na vida das populações.
Além disso, era “imperiosa” a necessidade de “lhes imprimir no espírito ideias de submissão
ao governo belga. Johannes Fabian(1989:76).
O governo colonial congolense, o monarca belga não estava interessado em desagradar aos
seus aliados de então, os missionários baptistas britânicos, nem favorecer a presença dos
missionários católicos já presentes no território, isto é, espiritanos e padres brancos franceses.

A intervenção de elementos missionários protestantes nas querelas interimperiais de 1885 a


1891 imprimiram na consciência nacional a imagem do missionário protestante como agente
ao serviço do estrangeiro, interessado em subtrair territórios à esfera de influência portuguesa.
No centro desta intenção estava, obviamente, a Grã-Bretanha, a quem os missionários
procuravam favorecer, mesmo que as autoridades portuguesas não tivessem percebido que
muitas vezes os pedidos das sociedades protestantes ao poder britânico eram mais uma forma
de se favorecerem a elas próprias do que a um projecto expansionista. Hugo Dores (2014:85).
A Bacia Convencional do Congo; em segundo, expunha o âmbito do art. 6.º da Carta
Constitucional. Deste modo, esclarecia que, nos territórios fora das áreas referidas nas
convenções internacionais, o artigo constitucional tinha “perfeita aplicação”, reconhecendo-se
o catolicismo como religião do Estado. A tolerância religiosa era apenas permitida aos
estrangeiros, com o seu culto privado em casas sem forma exterior de igrejas e não sendo
autorizada a propagação ou o ensino de qualquer religião que não a do Estado. Eram termos
que faziam lembrar a sugestão feita pela congregação mista de 1889: para lá dos territórios sob
Berlim, teria se cumprir a Carta.

O pedido dos missionários americanos era, não só, indeferido, como os argumentos expressos
no ofício deixavam transparecer que a sua presença no planalto angolano, fora da bacia do
Congo, estava em contradição com a Carta e as leis portuguesas, o que adivinhava sérias
dificuldades à prossecução do seu trabalho. Não adiantava aos missionários recorrer ao
disposto dos Actos Gerais de Berlim e Bruxelas e menos ainda ao Tratado Luso-Britânico.

Responsabilidade das missões para o governo colonial Belga

Segundo Burlingham, citado por Hugo Dores:171, a política missionária belga em relação aos
protestantes, e em certa medida também aos católicos, centrou-se em três pontos fundamentais:
não ingerência na administração, obediência à lei e obrigatoriedade do uso do Françês no
ensino. Se os primeiros eram indispensáveis ao funcionamento da autoridade civil belga, o
último constituía o pilar essencial da colonização – a nacionalização das populações através da
instrução. A educação destas constituía para os governos coloniais e metropolitanos um dos
eixos fulcrais para a estruturação e consolidação do seu domínio imperial. O ensino dos
indígenas deveria, acima de tudo, reforçar a sua submissão ao colonizador, o respeito pelas
suas tradições culturais, pelos seus elementos civilizacionais. A obediência à bandeira, como
aceitação da autoridade europeia, e o uso da língua-mãe da metrópole, como prova da sua
integração no sistema imperial, deveriam ser a função da escola. Estando, pois, parte da
educação dos africanos centrada na acção das missões religiosas, protestantes e católicas, os
governos coloniais procuraram ordenar os princípios regentes desse ensino.
A equação da política missionária apresentava aspectos diplomáticos que Belgica nem sempre
conseguia sustentar, mas também tentativas de estabelecer modos de cooperação entre ambas
as instâncias, que passava muitas vezes pela aceitação, por parte dos missionários, dos
mecanismos encetados pelos portugueses para controlar e minimizar a actividade e a
influências das missões protestantes, vistas como “perigosamente” desnacionalizadora. Por
outro lado, o governo português também esperava que essa anuência às suas opções legislativas
pudesse enfraquecer o crescente impacto das queixas nos fora internacionais que o país
enfrentava.

A ligação entre religião e política

O ministro belga das Colónias, Jules Renkin, quando questionado pelo seu colega dos
Estrangeiros (Jules Davignon), informou que a organização dos estabelecimentos missionários
não estava sujeita a nenhum “regulamento especial”, mas sim ao “direito comum”, tendo por
fundamento os princípios expressos no art. 6.º do Acto de Berlim e da Charte Coloniale de
1908, texto fundamental da passagem do Estado Independente do Congo a Congo belga: “O
governador-geral garante a conservação das populações indígenas e a melhoria das suas
condições de existência moral e material. Favorece a expansão da liberdade individual, o
abandono progressivo da poligamia e o desenvolvimento da propriedade. Protege e favorece,
sem distinção de nacionalidades e de cultos, todas as instituições e empreendimentos religiosos,
científicos e caritativos, criados e organizados para esses fins ou que tendam a instruir os
indígenas e a fazer-lhes compreender e apreciar as vantagens da civilização. Os missionários
cristãos, os cientistas, os exploradores e suas escoltas, pertences e colecções são objecto de
uma protecção especial”. Estraido no artigo 6.º do Acto de Berlim citado por Hugo Dores(194).

Assim, não deixa de ser curioso que um representante de um país que acabava de definir a
Separação entre Estado e Igreja e cuja legislação era claramente oposta à presença de
congregações religiosas, procurasse inspiração para questões legislativas ultramarinas junto de
um país governado por um Partido Católico, mas cuja Constituição nunca estabelecera uma
religião de Estado, e onde as congregações religiosas eram parte essencial na estrutura colonial,
contando com largos apoios estatais, a nível financeiro e legal. O regime assegurado pela
Convenção de 1906 demonstrava explicitamente o lugar privilegiado do catolicismo na
missionação belga no Congo. Mesmo que os políticos belgas, tal como os portugueses,
declarassem a liberdade e a tolerância religiosa nos seus territórios, ambos defendiam um
trabalho missionário fortemente nacionalizador, daí o patrocínio aos missionários belgas, isto
é, aos missionários católicos belgas, membros de congregações religiosas.

Princípais feitos das missões no Congo Belga

Os missionários tiveram um papel importantissimo na económia não desprezível, partindo de


uma necessidade normal de autossuficiência, tinham começado a cultivar hortas e a dedicar-se
à criação de gado miúdo. A instalação das escolas, hospitais, a presença da vez mais maior de
catecúmenos, fizeram passar a exportação agrícola do estágio familiar para um estágio quase
Industrial; necessidade alimentar, desejo de ajudar as populações, vontade de poder, ganância;
as missões tornaram-se rapidamente verdadeiras empresas agrícolas e artesanais.
M‘BOKOLO, Tomo II-509.

Na area da agricultura segundo os escritos do vice-governador do Congo Belga, a vontade de


derigir o indígena para os trabalhos do campo. Nesse caminho, não poderemos trabalhar
melhor no sentido de orientar a população para esses trabalhos senão derigindo-nos, por ia
instrução proficional agricola, às jovens gerações aptas a instruir-se e a compreender, e que
formarão mais tarde os educadores das populações rurais.

Na area da Educação, as igrejas protestantes contribuiram muito para o despertar do povo no


Congo, surgiram escolas, onde priorisavam o ensino para os indiginas, onde alguns alunos que
se deram bem obtiveram bolsas por via das missões para o exterior, reduziu o número de
analfabetos. Houve no inicio do século XX o surgimento de nacionalismo e o aumento das
igrejas africanas como alcerce da educação.

Conclusão
A ideia de uma missão nacional relaciona-se, em grande medida, com a intenção das
autoridades belgas controlarem, administrativamente, o funcionamento da sua orgânica,
enquanto instituição educativa e civilizacional das populações congolesas. A missão não é uma
mera questão religiosa, até porque esta convoca permanentemente, de forma simultânea, outras
dimensões (política, económica e cultural). É certo que se trata de uma entidade de matriz
religiosa e que o seu fundamento primeiro é a evangelização, nomeadamente para os seus
constituintes – os missionários.

A religião e a missionação, assumiram três modos diferentes em África: aceitação, rejeição e


acimilação. Durante o periodo colonil houve muita mundança no congo desde politico até
religioso.

Bibliografias
M‘BOKOLO,Elika.África Negra: História e Civilizações.Tomo II. Sl. 2011. Vol.2

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CORREIRA,Stéphane. O Reino do Congo e os Miseraveis do Mar. Niteroi, Brasília. 2012;

DORES,Hugo Filipe Gonçalves das. Uma Missão para o Império: Política missionária e o
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MELLO E SOUSA,de Maria e.Catolicismo e poder no Congo: o papel dos intermediários


nativos. Sl. Zaire,2014;

FABIAN, Johannes.language and colonial power. Cambrige University, 1989.

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