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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS – CCSA


BACHARELADO EM DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO AMBIENTAL
PROFESSOR: MÁRCIO FREITAS

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL

Marcos Emanoel Calaça Teixeira

Teresina/PI
Janeiro – 2018
Responsabilidade Civil por Dano Ambiental
Introdução
O direito ao meio ambiente é coletivo, pertencendo a todos, e ao mesmo
tempo a cada um, visto que todos têm o direito de viver em um ambiente
equilibrado ecologicamente e que forneça ao homem a melhor qualidade de
vida possível. Mas tal ambiente é inconcebível se não houver uma consciência
mundial de preservação do meio ambiente.
A proteção ao meio ambiente no Brasil seguiu tendência internacional,
numa evolução que passou a contar com instrumentos cada vez mais eficazes.
As expressões „meio ambiente‟, „poluidor‟, „poluição‟ e „recursos naturais‟ foram
conceituadas na Lei nº 6.938/87 chamada de Política Nacional do Meio
Ambiente.
O fundamento da responsabilidade civil por dano ambiental está na
Constituição Federal, em seu artigo 225, § 3º que diz que “as condutas e
atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.
Ou seja, temos um regime de responsabilidade objetiva segundo o qual,
toda pessoa que desenvolve uma atividade passível de incorrer em risco para o
meio ambiente, para a saúde ou para a incolumidade de terceiros, deverá
responder pelo risco, não havendo necessidade da vítima ou dos legitimados
para a propositura de ação civil pública provar a culpa ou dolo do agente.
O bem jurídico protegido nesse sistema de responsabilização civil é o
meio ambiente, como bem comum da população, com reconhecimento da
autonomia jurídica do dano ambiental, suscetível de reparação,
independentemente do fato de os danos individuais impostos aos titulares do
objeto material do dano serem reparados.
A responsabilidade civil por dano ambiental é submetida ao regime de
direito público, se destacando a tarefa de realização do interesse público na
conservação e reparação dos bens ambientais. Portanto, existe uma função
preventiva que se volta à internalização dos custos com a prevenção dos
danos ambientais e a mudança da forma que se conduziu a situações de risco
ou dano.
1 – Responsabilidade Civil

Álvaro Villaça Azevedo define responsabilidade Civil como “a situação


de indenizar o dano moral ou patrimonial, decorrente de inadimplemento
culposo, de obrigação legal ou contratual, ou imposta por lei”.
A responsabilidade civil diz respeito ao dever de não lesar ninguém, sob
pena de ressarcir a pessoa injustamente lesada, seja materialmente ou
moralmente. Ela pressupõe reparação proporcional ao dano sofrido, como
forma de repor e indenizar pelo prejuízo sofrido. Tal indenização tem origem na
conduta ilícita sofrida pelo agente.
Na responsabilidade civil, os danos são de natureza material ou moral.
Material quando atinge um valor econômico que pode ser verificado, como um
bem material, por exemplo, devendo ser classificados como danos emergentes
ou lucros cessantes. Moral quando atinge a honra e a dignidade da pessoa
humana, não sendo possível de mensurar muitas vezes, para que haja uma
reposição igualitária, restando indenizar com uma quantia que se ache justa.
O direito ambiental adere à teoria do risco integral, não admitindo sequer
um tipo de excludente de ilicitude no caso de dano ambiental. Como
consequência disto, o dever de indenizar independe de verificação de culpa do
agente e se constitui em uma garantia de reparação ao direito das vítimas do
dano ambiental sofrido. Como a responsabilidade civil é objetiva, é muito
importante para a reparação que se comprove apenas o dano causado.
A teoria objetiva também foi adotada pelo artigo 14 da Lei da Política
Nacional do Meio Ambiente ao dizer que: “Sem obstar a aplicação das
penalidades neste artigo, é o poluidor obrigado, independente da existência de
culpa, indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros
afetados por sua atividade”.
Esta medida representa o reconhecimento de que o poluidor deve
reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros,
independentemente de existir culpa, sendo suficiente a existência do dano e a
prova do nexo de causalidade com a fonte poluidora.
2 – Pressupostos da Responsabilidade
2.1 – Dano
É pressuposto indispensável para a formulação de uma teoria jurídica
adequada de responsabilidade ambiental.
LEITE (2000, P. 97) ensina que “Dano é toda a ofensa a bens ou
interesses alheios protegidos pela ordem jurídica”.
O dano, portanto, se caracteriza como a lesão moral ou material de
qualquer bem jurídico imputável ao agente causador.

Embora possa haver responsabilidade sem culpa, não se pode falar


em responsabilidade civil ou em dever de indenizar se não houver
dano. Ação de indenizar sem dano é pretensão sem objeto.
(GONÇALVES, 2002, p. 73)

A lesão poderá ser material ou moral.

O dano material consiste na redução da esfera patrimonial de um


sujeito, propiciando a suspensão ou a diminuição do valor econômico
de bens ou direitos que integravam ou poderiam vir a integrar sua
titularidade. O dano moral é a lesão imaterial e psicológica, restrita
dos processos psicológicos de respeito, de dignidade e de autonomia.
(JUSTEN FILHO, 2005, p. 795)

Devemos, entretanto, destacar que o dano material se subdivide em


dano emergente e lucro cessante. Aquele também se chama de positivo,
importando naquilo que efetivamente foi perdido pela vítima. Este, por sua vez,
consiste na perda que o ato refletirá sobre o patrimônio da pessoa no futuro,
isto é, na potencial diminuição do ganho que se espera no porvir.
Para que o julgador mensure o quantum indenizatório a ser pago pelo
causador do dano, ele não deve prejudicar nem elevar sobremaneira o
patrimônio da vítima, evitando um enriquecimento ilícito. Acrescente-se a isso
o fato de que o STJ dispôs através da Súmula 37 que as indenizações por
danos materiais e morais, oriundos do mesmo fato são cumuláveis.

2.2 – Nexo Causal


É o elo entre a conduta e o dano sofrido. É imprescindível para a
configuração da responsabilidade civil, porque através dele podemos concluir
quem foi o causador do dano.
Nem sempre os fatos ocorrem de forma simples e com a fácil
compreensão que permita a imputação do responsável. O evento danoso
muitas vezes ocorre em uma cadeia de eventos que concorrem entre si, o que
torna difícil precisar qual fato foi o verdadeiro responsável pelo resultado.
Para solucionar tal problema foram criadas teorias com o intuito de
classificar o nexo causal, a depender de cada caso e das circunstâncias do
fato. Tais teorias não solucionam os problemas que envolvem o nexo de
causalidade, mas duas delas são amplamente utilizadas nas esferas penal e
cível.
A primeira delas é a teoria da equivalência dos antecedentes, criada por
Von Bori. Ela generaliza as condições que dão causa ao dano, não
diferenciando a causa determinante das condições que permitiam a ocorrência
do fato danoso e é muito utilizada do direito penal. A segunda é a teoria da
casualidade adequada, criada por Von Kries. É caracterizada pelo fato de
individualizar ou qualificar as condições do fato ensejador do dano. Essa teoria
é adotada no Direito Civil brasileiro, inclusive no tocante à responsabilidade
civil.
De acordo com ela nem todas as condições necessárias de um
resultado são equivalentes, sendo que somente é considerada causa aquela
necessária à produção do resultado. Sendo assim, cabe ao juiz, na análise das
condições, retroceder ao momento da conduta e colocar-se no lugar do agente
para, com base nos conhecimentos das leis da Natureza e nas condições
particulares em que ele se encontrava, emitir seu juízo sobre a idoneidade de
cada condição.
Daí depreendemos que, com relação à responsabilidade civil, essa
teoria permite ao julgador fazer um juízo de valoração sobre as condições que
levaram à ocorrência do evento danoso.

2.3 – Reparação do dano ambiental

Quando há um dano ambiental, existe o dever de repará-lo. Dois


elementos compõem a reparação, quais sejam: a reparação in natura do
estado anterior do bem ambiental afetado e a reparação financeira.
Nos casos em que não é possível o retorno ao estado anterior original,
deve recair sobre o agente causador da poluição a condenação de um
quantum pecuniário, para haver a recomposição efetiva e direta do ambiente
afetado.
Entretanto, não há na legislação brasileira critérios objetivos para
determinar tal valor em dinheiro que deverá ser pago pelo poluidor. Há algumas
ideias apontadas pela doutrina que podem ser seguidas, como por exemplo,
reparar integralmente o dano, não podendo o agente poluidor ressarcir de
forma parcial a lesão material, imaterial e jurídica que causou.
Uma avaliação prévia dos danos, que visaria facilitar uma posterior
reparação do ambiente impactado, é sugerida pela Constituição Federal em
seu artigo 225, § 1º, inciso IV ao dizer que o poder público deve exigir, na
forma da lei, um estudo prévio de impacto ambiental lhe dando publicidade,
para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
degradação significativa do meio ambiente.
É salutar frisar que nem todo dano pode ser indenizado, pelo fato de não
ser possível determinar o montante a ser pago em alguns casos, como na
extinção de alguma forma de vida, na contaminação de lençóis freáticos ou na
devastação de uma floresta. Em tais situações, a composição monetária não
seria satisfatória.
Também é importante analisarmos a questão de dano extrapatrimonial
ambiental e a consequente reparação. O dano moral ao meio ambiente se dá
quando há uma lesão que desvaloriza imaterialmente o meio ambiente
ecologicamente equilibrado e os valores ligados à saúde e à qualidade de vida
das pessoas.
Sendo o meio ambiente um direito imaterial e de interesse da
coletividade, é possível que seja objeto de dano moral, pois isto é determinado
pela dor física ou psicológica acarretada à vítima. A partir desse ponto, é
possível dizer que a degradação ambiental que gera mal estar e ofensa à
consciência psíquica das pessoas físicas ou jurídicas pode resultar numa
obrigação de indenizar às pessoas que gerarem tal situação.
Diversos são os instrumentos jurídicos à disposição da tutela dos direitos
gerados pelos danos causados ao meio ambiente. Dentre eles, destacam-se a
ação civil pública, a ação popular e o mandado de segurança coletivo. A
primeira tem sido a ferramenta mais adequada para apurar a responsabilidade
civil ambiental.
Conclusão

Vimos que a responsabilidade civil no Direito Ambiental é objetiva e para


que ela seja configurada é necessária a existência do dano. A obrigação de
reparar só é concretizada quando houver o que reparar.
Vimos também que a reparação do dano causado é uma obrigação
imposta ao agente causador, mesmo que sua atividade esteja isenta de culpa.
Como mencionado neste trabalho, há instrumentos jurídicos importantes à
disposição das pessoas, destacando-se a ação civil pública.
Portanto, podemos concluir que é de extrema importância a
responsabilização pelo dano ambiental, para que haja a reparação deste,
contribuindo para que sejam coibidas ações arbitrárias de degradação
ambiental pelo homem, principalmente pelo fato de ser muito difícil reparar um
dano, após ele ser causado.
Referências Bibliográficas

- AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria Geral das Obrigações. 8ª ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2000.
- GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. s/e. São Paulo:
Saraiva, 2002.
- JURÍDICO CERTO. A responsabilidade civil por danos ao meio ambiente.
Disponível em <http://juridicocerto.com> Acessado em 18/01/2018 às 22h37.
- JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. s/e. São Paulo:
Malheiros, 2005.
- LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo
extrapatrimonial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

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