Você está na página 1de 1

CMYK

Editora: Ana Paula Macedo //


anapaula.df@dabr.com.br
3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155

20 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, segunda-feira, 21 de junho de 2010

Revolução dos Invenção da primeira


câmera digital, criada pelo
engenheiro Steve Sasson,

cliques
completa 35 anos. Criação
abriu o caminho para a
transição do filme para os
pixels e mudou a maneira
de se fotografar

» FERNANDO BRAGA
ESPECIAL PARA O CORREIO

Em dezembro de 1975, apenas deira revolução que mudou radi-


um ano após começar a reunir um calmente a vida de quem vive de foto-
monte de tecnologia disponível dentro e grafia”, diz, recordando o tempo em que ti-
fora da companhia Eastman Kodak, o enge- nha de contar mentalmente as poses restan-
nheiro norte-americano Steve Sasson e sua tes num rolo de filme para não perder algum
equipe estavam prontos para testar a geringonça momento importante durante um evento. “Para
que eles afirmavam ser a primeira câmera fotográfi- fazer um casamento, eu gastava em média 30 rolos
ca portátil no mundo a substituir o tradicional rolo de (450 cliques). Hoje conheço gente que bate, facilmen-
filme por um sensor eletrônico. Para isso, convenceram te, 2 mil fotos”, diz. Com o avanço cada vez mais rápido
um funcionário da empresa a posar para uma foto experi- de novas tecnologias, o tempo que os profissionais levam
mental diante do grosseiro protótipo que tinha o tamanho para fazer upgrades também foi reduzido. “Antes a gente fi-
de uma torradeira e pesava 3,8 kg. cava 10, 15 anos com uma câmera. Hoje, se não nos atuali-
Com uma resolução de 0,01 megapixel, a imagem em preto zarmos de dois em dois anos, a moçada mais antenada passa
e branco demorou 23 segundos para ser captada e armazenada por cima da gente”, ri Okubo. “Atualmente temos máquinas
numa fita cassete e outros 23 segundos para ser reproduzida a com altíssima resolução e que nos oferece um nível de detalhe
partir de uma unidade de leitura ligada a um televisor. “Eu podia muito profundo”, emenda.
ver a silhueta e o cabelo, mas o rosto era um verdadeiro borrão, Para o coordenador da Universidade da Fotografia Upis, Clé-
então virei para os meus ajudantes e disse que ainda tínhamos ber Medeiros, o digital democratizou o acesso à fotografia. “Antes
muito trabalho pela frente”, lembrou, anos mais tarde, Sasson. as pessoas ficavam dois meses com um filme dentro da câmera,
Após fazer alguns reparos no mecanismo de captura, a equipe economizando cada foto que tirava, pois a revelação não era na-
da Kodak voltou, dias depois, para o mesmo laboratório e fez uma da barata.” Ele lembra como reagiu ao início da chegada da novi-
nova foto, dessa vez alcançando um resultado bem melhor. A par- dade ao mercado. “No começo eu fui cético e achei que fosse algo
tir daquele momento, o mundo da fotografia estava prestes a mu- que não iria pegar, mas aos poucos os clientes passaram a exigir
dar. Com a chegada da era digital, uma verdadeira revolução atin- maior velocidade na entrega de trabalhos e senti a necessidade
giu o setor fotográfico e os procedimentos químicos e mecânicos de migrar do analógico para o digital”, diz.
que envolviam o sistema analógico foram aos poucos substituí- O aumento de pessoas com acesso às câmeras também trou-
dos por complexos, mas ultrarrápidos, processos eletrônicos. xe um revés. “Com a democratização, houve uma banalização.
Com o consequente barateamento do preço dos disposi- Hoje qualquer um se considera fotógrafo e isso se traduz dire-
tivos, o acesso aos equipamentos digitais logo se tornou tamente no valor cobrado pelos profissionais. Há 10 anos eu
uma realidade, não só para especialistas, como para ama- ganhava muito mais do que ganho hoje por cada trabalho
dores que viram, nos últimos 15 anos, uma variedade de efetuado”, relata Medeiros, dizendo que a saída é a cons-
modelos repletos de recursos invadirem as prateleiras. tante busca por diferenciais para apresentar aos clientes.
De acordo com a Associação de Produtos de Câmera Kazuo concorda. “Não basta apertar o botão, é preci-
e Imagem (Cipa), neste ano devem ser comerciali- so ter técnica, aprender sempre e se atualizar cons-
zadas 110 milhões de câmeras digitais ao redor tantemente”, fala, lembrando que a popularização
do mundo — volume 3,6% superior que o re- de serviços de redes sociais na internet contri-
gistrado em 2009. buiu para o boom das novas máquinas. “Com
Filho de fotógrafo, Kazuo Okubo tra- serviços como o Flickr, todos querem tirar
balha no ramo há 35 anos e acompa- fotos e compartilhá-las com os amigos.
nhou de perto a chegada dos pri- É muito fácil e isso só foi possível
meiros equipamentos digi- graças aos avanços digitais
tais ao mercado. “Foi obtidos nas últimas
uma verda- décadas.”

CMYK

Você também pode gostar