ENCONTROS
SOBRE
ACESSIBILIDADE
EM ESPAÇOS
DE EDUCAÇÃO
E CULTURA
Ministério da Cultura,
Instituto Tomie Ohtake,
Cateno e
Cielo
apresentam:
CICLO DE
ENCONTROS
SOBRE
ACESSIBILIDADE
EM ESPAÇOS
DE EDUCAÇÃO
E CULTURA
Mediações acessíveis: ciclo de encontros sobre acessibilidade em
espaços de educação e cultura / Instituto Tomie Ohtake.
São Paulo: Instituto Tomie Ohtake, 2018
Vários autores.
18-16658 CDD-306.446
42 Ampliando o acesso
Gabriela Aidar
47 Querido diário,
Cássio Rodrigo de Oliveira Silva
98 Culturas
Raphael Escobar
126 Fragilidade
Cristiane Tenani Pomeranz
158 Desequilíbrio
Marcos Abranches
PARA TODOS, SEM EXCEÇÃO
Felipe Arruda
8
de educadores, o ciclo Mediações Acessíveis teve todos os seus
seminários abertos gratuitamente aos públicos, e contou com cerca
de 300 participantes, entre educadores de museus, assistentes
sociais, professores, artistas e interessados no tema em geral.
Esta publicação é resultado desses encontros, reunindo os textos
produzidos por cada um dos profissionais convidados, aos quais
agradecemos imensamente pela contribuição, respondendo de
forma instigante às nossas provocacões, instigando-nos a repensar
temas sobre os quais tínhamos ideias cristalizadas e também rever
nossas práticas institucionais. Este material segue agora para
escolas e espaços de cultura, com distribuição gratuita.
Investir recursos e esforços em iniciativas como a desta publicação,
e mais amplamente no Programa de Acessibilidade do Instituto Tomie
Ohtake, é, para nós, retomando as premissas iniciais deste texto, a
tentativa de atualizar constantemente a cultura e o papel da instituição.
Inseridas na complexidade desafiadora da pós-modernidade, as
instituições culturais devem ser plataformas de pensamento e ação
para as questões contemporâneas (da arte, da cultura, da política,
do social) e, sobretudo, num mundo de globalização homogeneizante
e perda das diversidades, um lugar de encontro, de valorização da
diferença e de garantia dos direitos culturais.
Ainda que muitas vezes sejam objeto de incompreensão ou
descaso, os direitos culturais são essenciais para a formação de
indivíduos livres e de uma real humanidade. A Declaração Universal
dos Direitos Humanos, assim como o Pacto Internacional sobre
os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) - ambos
documentos da Organização das Nações Unidas -, são bem claros
em sua enunciação sobre o direito de todas as pessoas de participar
livremente da vida cultural. Nesse sentido, as instituições devem
orientar suas políticas para a criação das condições que garantam o
NOTAS
10
Cultural Recife, o Cinema da Fundação/Museu, o Museu do Cais do
Sertão e o Paço do Frevo.
Felipe Arruda
Diretor do Núcleo de Cultura e Participação do
Instituto Tomie Ohtake
12
o desafio de tematizar, por exemplo, acerca do impacto da mobilidade
urbana, moradia e educação sobre o acesso às suas programações:
93% da população brasileira nunca viu uma exposição de arte e 70%
nunca entrou em um museu (pesquisas IPEA 2010).
Segundo pesquisa de hábitos culturais (LEIVA, 2014), 60% dos
usuários das instituições de cultura têm ensino superior e 46% são
das classes A e B. A educação superior é o fator mais significante
entre todas as faixas de renda econômica, resultando em maior
interesse e frequência nas instituições de cultura. De maneira geral,
por frequentadores e não frequentadores, os museus e exposições
de arte são relacionados a espaços de educação e a ausência das
classes populares nas instituições de cultura é relacionada, nessa
pesquisa, à “falta de conhecimento (educação) e à falta de acesso ao
conhecimento (condição socioeconômica)”.
Às instituições de cultura, contudo, cabe refletir não apenas sobre
o aspecto positivo da educação e do acesso a ela, no que museus
e exposições de arte poderiam colaborar, mas também questionar
o caráter negativo da arte e cultura institucionalizada que não
representam a experiência sensível e os conhecimentos de uma
parcela da população. Sem absorver a experiência social popular
em seus patrimônios e discursos, o acesso às instituições de cultura
pode significar, ao menos em parte, a continuidade dos processos de
exclusão, sem garantir o acesso à produção cultural e a preservação
de memória e patrimônio.
MESOPOTÂMIA CULTURAL
Deslocar-se de onde vive até uma instituição de cultura não é uma tarefa
fácil para a maioria dos moradores de São Paulo. Segundo pesquisa do Centro
de Estudos da Metrópole, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
(CEBRAP, 2005), o termo “Mesopotâmia Cultural” é certeiro para ilustrar o
LIMÃO
LAPA
BARRA FUNDA BOM RETIRO
PARI
3
ALTO DA LAPA PERDIZES 5
BRÁS
SÃO PAULO
2
LIBERDADE
PINHEIROS 6
JARDIM PAULISTA
CAMBUCI
1 9
JARDINS PARAÍSO
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ITAIM BIBI
7
s
VILA MARIANA
MORUMBI
14
Fonte: Mobilize Brasil
Autor: Mobilize Brasil
Postado em: 14 de setembro de 2016
ARTICULAÇÃO EM REDE
O acesso à cultura institucional envolve compreender que uma
série de elementos sociais impacta sobre sua dinâmica e, sendo
16
assim, a atuação de uma instituição de cultura sobre o tema deve
privilegiar a atuação em rede.
Os projetos socioculturais do Instituto Tomie Ohtake formulam
parcerias com instituições de educação, assistência social, saúde
e cultura, promovendo diálogos e criando relações que valorizam
a cultura e o empoderamento dos participantes. Privilegia-se a
discussão de conceitos como “território educativo e cultural”:
valorizando as possibilidades culturais dos territórios em que
são realizadas as ações; “pedagogia democrática”: ações
construídas a partir do diálogo e dos interesses dos participantes;
“interdisciplinaridade”: a arte e a cultura como campo expandido
de discussões de todos os aspectos que envolvem a vida; o direito à
cidade e a ativação das instituições de cultura como espaços públicos
e de encontro da diversidade.
18
de música, teatro, saraus, dança, cinema e oficinas de linguagens
artísticas diversas construída junto aos conviventes de 6 abrigos para
pessoas em situação de rua no bairro do Canindé, em São Paulo.
Esses projetos e ações foram pautados pelas reflexões sobre
acessibilidade às instituições de cultura que culminaram, no Instituto
Tomie Ohtake, no Programa de Acessibilidade 2017 e em uma atuação
transversal em seus outros projetos e ações. Mobilidade, com a linha
Expresso Acesso, atividades em outros territórios e ações extramuros,
como as que aconteceram no Canindé, Itapevi e Recife, e a articulação em
rede e diversidade de parcerias com equipamentos públicos de educação,
saúde, assistência social e cultura, nortearam as ações educativas do
Instituto Tomie Ohtake. A realização do Mediações Acessíveis: Ciclo de
encontros sobre acessibilidade em espaços de educação e cultura e a
publicação que segue pretenderam aprofundar e registrar as discussões
sobre acessibilidade e instituições de cultura durante o ano de 2016.
20
LUIS SOARES
Desenvolve pesquisa sobre estratégias de mediação e
participação de públicos em situação de vulnerabilidade
social em instituições de cultura. Atua com a articulação
de parcerias entre equipamentos culturais e instituições
públicas ou privadas de saúde, educação e assistência social
de modo a articular os conteúdos pedagógicos trabalhados
dentro dessas instituições com a programação oferecida por
equipamentos de cultura. Atualmente coordena o núcleo
de projetos do Núcleo de Cultura e Participação do Instituto
Tomie Ohtake e é coordenador geral do Programa de
Acessibilidade da instituição. Foi colaborador do Museu de
Arte Contemporânea da USP, Pinacoteca e Bienal de Arte de
São Paulo. É ator formado pela Escola de Arte Dramática e
estudou filosofia na Universidade de São Paulo.
MAIARA PAIVA
Formada em Relações Públicas pela Faculdade Cásper
Líbero, atua na área de produção cultural há mais de 10
anos. Foi coordenadora de projetos na Praça Victor Civita
entre 2010 e 2015 e, no Instituto Tomie Ohtake desde 2016,
está à frente da produção de projetos voltados para públicos
em situação de vulnerabilidade.
VICTOR SANTOS
Com formação em geografia e educação pela Universidade de
São Paulo, atua desde 2013 no Instituto Tomie Ohtake como
gestor e produtor cultural. Já tendo atuado na rede pública
e privada de ensino, hoje desenvolve projetos socioculturais
com foco em educação e acessibilidade. Desde 2015 coordena
um projeto de marcenaria para crianças e jovens com foco na
produção de mobiliário urbano.
22
Sim, devemos falar sobre pessoas com deficiência, diversidade,
vulnerabilidades e outras diferentes características que nos
constituem, sejam elas físicas, sensoriais, comunicacionais, sociais
e de orientação de gênero, etnias ou tudo isso junto e misturado.
Falar sobre questões relacionadas às vulnerabilidades é tornar
visível quem é constantemente negligenciado e excluído do convívio
social, do lazer, do brincar, da educação. Pessoas invisíveis devido a
deficiências sociais que geram e reforçam barreiras físicas, atitudinais
e de comunicação que podem ser desfeitas com o convívio, com a
relação com o outro, as trocas de saberes, paciência e o respeito à
diversidade. Segundo o catedrático espanhol José Gimeno Sacristán1,
o reconhecimento da diversidade e a sua prática são fatores positivos
que conduzem a uma maior abertura para a compreensão do outro e
a sua relação com a natureza, o que, consequentemente, possibilita
melhores condições de relacionamento de tolerância entre as
pessoas e uma maior harmonia social. Pensando assim, espaços
culturais são potentes aliados na construção de relações plurais
entre públicos, fluxos e interesses sociais.
No início da minha trajetória como educador, tentei inúmeras
vezes esconder minha deficiência física no membro superior
esquerdo, mas era praticamente inevitável, pois as crianças (e
adultos também) percebiam e desviavam a atenção para todo
movimento que eu fazia com a minha mão pequena. Muitas vezes
isso me deixava incomodado, pois eu acreditava que era uma
interferência na mediação das visitas em exposições e oficinas de
arte. Com a prática, ao longo dos anos, percebi que na verdade
eu tinha em mãos (literalmente em uma delas) a possibilidade de
ampliar debates que iam além do que era apresentado pelo curador
ou pelas obras expostas - entendi que não somos e nem devemos
ser imparciais na educação, e que minha diferença física poderia
24
Quando crianças e adultos que participaram de ações com e para
pessoas com deficiência e outras vulnerabilidades – como as que
foram promovidas pelo Projeto Manhãs de História5 – compartilham
o mesmo espaço com o objetivo de se relacionar com as diversas
formas da arte, se divertindo, participando de uma história ou
conversando, podemos afirmar que a participação de todos e a
inclusão são possíveis desde que desenvolvidas com recursos,
metodologias e procedimentos apropriados.
Quer ter atenção, sem gritar, das crianças que ouvem e enxergam?
Tente LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). Elas, na maioria das vezes,
focam toda atenção nos sinais e posição das mãos, quase como se
fosse um jogo. E quando as crianças que ouvem se encontram com
as crianças surdas nas atividades oferecidas pelo Instituto Tomie
Ohtake, elas começam a aprender juntas, entre elas, sem instruções
ou métodos que forcem a interação – pois, como dizia Vygotsky, os
sujeitos se desenvolvem na relação de uns com os outros e seu
meio6. Todos temos as mesmas necessidades de brincar, aprender,
amar, trabalhar e sermos respeitados.
Nos tempos atuais, cultura se define pela pluralidade e pela
diversidade de aspectos e interfaces que compreendem dinâmicas
abertas às transformações e à incorporação constante de valores
novos. A multiplicidade de manifestações culturais, quando
adequadamente apresentada, pode influir positivamente para
um melhor reconhecimento da cultura tanto do passado como da
atualidade, bem como possibilitar ao sujeito uma melhor convivência
e confrontação com a educação, com as produções culturais
inovadoras e com as rupturas próprias das novas linguagens, abrindo
um importante espaço para o estímulo de sua própria produção.
26
Foram convidados profissionais com experiências acadêmicas e
práticas diretas com os públicos, pessoas com e sem deficiência e
outras vulnerabilidades que desenvolvem ações de arte e educação.
Cada palestrante teve liberdade para escrever um texto com
impressões pessoais, experiências sobre o assunto, reflexões sobre
o tema, referências teóricas e pesquisas científicas que norteiem
leitores desse conteúdo e estimulem a reflexão. A escrita é livre para
quem conhece ou para quem nunca teve contato com esses assuntos.
CLAUDIO RUBINO
Gestor de acessibilidade cultural, licenciado e bacharel em
artes visuais pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, pós-
graduado em educação inclusiva com ênfase em deficiência
física pela UNIFESP. Um dos coordenadores do Projeto Manhãs
de História - Programa de Acessibilidade do Instituto Tomie
Ohtake. Há 18 anos desenvolve trabalhos de arte educação
em museus e equipamentos de cultura com ênfase no
atendimento e planejamento de ações para inclusão física,
comunicacional e sensorial de pessoas com deficiência.
30
Descobri ao longo do processo que as maneiras de construir uma
narrativa são infinitas. É preciso escolher um ponto de partida, um
fio condutor, e confiar nele, mesmo que ele se transforme ao longo
do caminho. É ele que dá um eixo para as tantas possibilidades; que
vai alinhavando as construções cenográficas, musicais e imagéticas.
Ele é o esqueleto, e como qualquer esqueleto, quanto mais firme e
flexível, mais possibilidades de alcance ele terá.
Por isso, trabalhamos com o fio narrativo ao mesmo tempo em
que discutimos cada passo dessa narração com todos os membros
da equipe. A força da equipe foi o grande poder deste projeto. A
habilidade de ouvir as ideias do outro fez com que crescêssemos
como grupo e tivéssemos a oportunidade de aproveitar os dons
aparentes e escondidos de cada um.
Foi através dessa escuta que descobrimos que alguém podia
tocar castanholas ou fazer acrobacias. E a abertura para receber
esses dons de todos fez com que nossas apresentações ficassem
cada vez mais ricas e com poéticas que jamais poderíamos descobrir
e criar sozinhos.
Quanto ao público, ah, minha maior descoberta foi que o público
é sempre o público. Simples assim. As crianças, com e sem
deficiência, querem se divertir. Estão abertas para o novo, para
aprender, para conhecer. Se vamos até elas com respeito, se lhes
oferecemos alimento de qualidade, elas o recebem com prazer. Não
precisamos fazer uma narração de histórias especial para pessoas
com deficiência. Podemos escolher o fio condutor que faz sentido
para este grupo de pessoas neste determinado momento e encontrar
as maneiras de acolher e incluir públicos diversos.
As crianças com e sem deficiência irão se beneficiar tanto da
oportunidade de ver e ouvir audiodescrição e tradução em LIBRAS
quanto da maravilhosa chance de compartilhar uma experiência com
NOTAS
2 Luis Soares, Victor Santos, Claudio Rubino, Maiara Paiva e Lívia Motta.
ANDI RUBINSTEIN
Contadora de histórias e bonequeira. Ela conta histórias
há mais de 15 anos. Sua arte já a levou a diversas
partes do mundo para compartilhar histórias contadas
e sentidas. Do projeto Manhãs de História, entre tantos
aprendizados, Andi guarda a alegria de ter recebido seu
sinal e de ter tido a oportunidade de trabalhar com uma
equipe focada, alegre e dedicada.
32
BEBÊS NAS EXPOSIÇÕES DE ARTE
ENCONTROS, EXPERIÊNCIAS E COMPARTILHAMENTOS
Diana Tubenchlak
34
que várias formas de comunicação, além da verbal, podem convidar
os bebês para as propostas artísticas. Dessa forma, o acesso aos
espaços e materiais é organizado com o intuito de criar situações de
autonomia e descobertas para os pequenos visitantes. Em um dos
encontros da exposição sobre Picasso, um varal de fronhas brancas
recheadas de guizos se apresentava ao alcance das pequenas
mãozinhas. No momento em que passavam buchas e escovões
banhados de tintas artesanais nas fronhas, o som do guizo se
revelava e ritmos eram criados.
As ações do No Colo ainda contam com encontros de formação
para educadores do Instituto Tomie Ohtake e para professores de
Educação Infantil das redes pública e privada de ensino. Realizaram-
se também duas itinerâncias com uma proposta de produção de
brinquedos para bebês no Centro de Acolhida para Mulheres e
Crianças Maria Maria, além de uma oficina de pintura com tintas
artesanais na Biblioteca Villa-Lobos.
Por entender a Educação Infantil como indissociável da arte, as
instituições culturais podem potencializar seu papel de laboratório
de experiências artísticas para professores de creches e escolas.
Nesta toada, convidamos esse público para participar do curso Arte
para (ou com) crianças pequenas – Compartilhamento de experiências
do No Colo. Foi um momento em que apresentamos e discutimos os
pressupostos aqui já mencionados, compartilhamos as propostas
artísticas e materiais desenvolvidos especificamente para os bebês
de até 18 meses e debatemos as possibilidades de transposição das
atividades para os locais em que os participantes trabalham.
É importante ressaltar que nesse curso tivemos também a
presença de terapeutas ocupacionais, psicólogas e outras pessoas
que trabalham com tratamento e inclusão de crianças pequenas com
deficiência, o que foi fundamental para aprofundarmos os diálogos
DIANA TUBENCHLAK
É educadora, consultora em arte/educação e pesquisa as
inter-relações entre museus de arte e escolas. Mestra
em Artes, sob a linha de pesquisa “Processos artísticos,
experiências educacionais e mediação cultural” no Instituto
de Artes da UNESP, especialista em linguagens artísticas
contemporâneas: ensino/aprendizagem pela Faculdade
Santa Marcelina e licenciada em Educação Artística pela
UERJ. Trabalha com arte/educação em escolas, projetos
sociais, ONGs, museus e espaços culturais desde 2001. Seu
foco de atuação é em mediação em arte contemporânea,
formação de educadores e elaboração de propostas
artísticas para todas as faixas etárias. Idealiza e desenvolve
as ações do No Colo – atividades para bebês e famílias, no
Instituto Tomie Ohtake. Foi palestrante no I Seminário Bebês
no Museu: Experiências (2014), na Casa das Rosas. Realiza
cursos e palestras em diversas instituições culturais e
educacionais.
36
1.
O QUE É ACESSO?
EXPANSÃO DE
CONCEITOS NOS
EQUIPAMENTOS
CULTURAIS
SIR CHARLES E A MEDIAÇÃO
Renata Bittencourt
38
atuante nos arredores de Yale, universidade onde estudou. Decide
por um formato de grandes dimensões digno dos reis e rainhas que
a história da arte nos legou. Busca nesse repertório histórico os
nobres retratos do grande Sir Anthony van Dyck, autor de retratos da
nobreza do século XVII, como o homônimo Charles, também portador
de um casaco vermelho. Do autor adota, ainda, a repetição da figura
que vemos no retrato de Henrique II, encontrada também na tradição
de representação das três graças.
O Charles de Hendricks, se não é portador de graça exclusivamente,
certamente é de swag. O termo em inglês pode possivelmente ser
traduzido com alguma liberdade por ginga, manha, e, é claro, charme.
A pintura sugere, pelas referências do vestuário, a década de 1970, em
que, para além das roupas, todo um vocabulário cultural contaminava
as ruas dos Estados Unidos, manifestando as ideias difundidas pelos
movimentos de direitos civis e do Black Power. Desejamos imaginar
Charles a caminhar pelas ruas de um bairro negro americano, exibindo
seu estilo elegante e exuberante. Essa potencial desenvoltura e esse
corpo autônomo, assertivo, que afirma sua presença, devem ser lidos
como corpo político, que desafia a sociedade que quer lhe relegar à
invisibilidade, à subalternidade e à projeção de estereótipos.
O pintor faz chegar até nós algo dessa história na altivez do
personagem, no modo como sua identidade se constrói a partir de
uma estética negra, urbana, popular, de autoafirmação, legível pelos
seus pares. Barkley atua como mediador de sua cultura e de seu
tempo, assumindo para sua obra uma primeira pessoa que identifica
no personagem elementos que atualizam sua herança.
O exemplo nos serve para pensar no papel dos artistas e também
das instituições como mediadores conscientes da existência de um
campo cultural expandido onde coexiste uma multiplicidade de vozes.
Sem este reconhecimento, a história é enviezada, a percepção que
NOTAS
1 Barkley L. Hendricks Sir Charles, ou Willie Harris, 1972 Óleo sobre tela,
213,6 x 182,9 cm National Gallery of Art, Washington D.C.
42
dos visitantes. Assim, os grupos excluídos do acesso aos museus
abrangem grupos majoritários da sociedade, em particular aqueles
socialmente vulnerabilizados.2
Em diálogo com esse contexto, utilizamos em nossa prática na
Pinacoteca uma compreensão ampliada da acessibilidade, referindo-
se não apenas à promoção de oportunidades de acesso às pessoas
com deficiência e tampouco nos restringindo às necessidades de
acesso físico. Como vimos, as pessoas com dificuldades de acesso aos
museus brasileiros pertencem a grupos mais amplos da sociedade e
possibilitar o acesso físico não é garantia de acesso ao conhecimento.
Dividimos a acessibilidade aos museus em três aspectos, que
vão desde o mais tangível – o físico –, até aqueles de caráter mais
intangível e subjetivo. O primeiro deles é a promoção de acesso físico,
ou seja, desenvolver sistemas que permitam a circulação e afluxo de
público ao museu por meio da remoção de barreiras físicas ou, por
exemplo, com a liberação do valor do ingresso, que pode favorecer o
acesso a grupos de menor renda.
O segundo é o que chamamos de acesso intelectual, ou desenvolver
a capacidade de compreensão dos discursos expositivos. O fato de
que uma pessoa possa entrar e visitar um museu não garante que
ela vá estabelecer uma conexão intelectual com o que veja nele a fim
de promover o aprendizado. O que não significa, em absoluto, dar
“explicações” sobre as obras de arte (no nosso caso particular), mas
oferecer possibilidades de relação cognitiva entre o visitante e o que
ele observa no museu.
O terceiro e último é o que chamamos de acesso atitudinal, e possui
um caráter mais subjetivo, mas igualmente importante, especialmente
para fins educativos. Ele tem a ver com possibilitar a identificação com
sistemas de produção e fruição da arte, e desenvolver a confiança e
o prazer pela inserção no espaço do museu.3 Assim como observar
GABRIELA AIDAR
Graduada em História pela USP, especialista em Estudos
de Museus de Arte pelo MAC/USP e em Museologia pelo
MAE/USP. Obteve o título de Master of Arts in Museum
Studies pela Universidade de Leicester, na Inglaterra, com
revalidação pelo Programa de Mestrado em Museologia
da UNIRIO. Coordenadora dos Programas Educativos
Inclusivos da Pinacoteca de São Paulo.
DESMISTIFICANDO
LUGARES COMUNS
QUERIDO DIÁRIO,
Cássio Rodrigo de Oliveira Silva
47
Mas os outros me veem assim! Vou dormir... chorar mais um pouco!
23/04/1988.
OI, DIÁRIO,
Fazia tempo, né? Já estou na faculdade e descobri que existem
mais “bichas” como eu... aliás o termo correto é LGBT – lésbicas,
gays, bissexuais, travestis, mulheres transexuais e homens trans.
Também descobri que não é opção, não escolhi ser assim. É
orientação sexual3!
Sabe, teve um rapaz que perguntou se eu era entendido.
Respondi: “Entendido em quê?”. Isso é uma gíria, diário, como ”sair
do armário”. Aliás, já saí do armário. Meus pais já sabem que sou
GAY! Apresentei para eles meu primeiro namorado. Não foi fácil no
começo, mas agora estão aceitando melhor a situação. Não preciso
mais fingir em casa. Agora tenho para onde correr e chorar!
Acredita que comecei a militar? Agora sou ativista em prol dos
direitos LGBT. Participei da primeira Parada do Orgulho LGBT, na
Avenida Paulista. Pode?! E o cinema, então?! Em Thelma & Louise
e em O Segredo de Brokeback Mountain começamos a ver o amor
lésbico e gay sendo representado para além dos estereótipos4. Boa
noite, diário... vou sonhar com o meu Jack Twist <3 16/08/2000.
DIÁRIOOOOO,
A última década foi BABADOOOO! Imagine que eu já penso até
em me aposentar... da militância, claro! Começaram a surgir as
Coordenações de Políticas LGBT, órgãos em Prefeituras, Estados
e União para pautarem as políticas públicas em prol da nossa
cidadania. Começo a me sentir inserido como cidadão.
Tem municípios que já possuem conselhos. Realizamos duas
Conferências Nacionais, precedidas de etapas estaduais e municipais,
MEU QUERIDO...
Tenho andado triste... sentindo-me como há 30 anos. Será que você
um dia irá poder me ajudar, diário? Tenho visto tantos crimes, tanta
violência, tanta discriminação, tanto conservadorismo disfarçado de
moral e bons costumes! Como a violência pode ser um bom costume?
Conseguiram derrubar o projeto de lei que criminalizava a
LGBTfobia no Brasil. Continuamos apenas com as leis administrativas,
como a Lei Estadual 10.9486, que dispõe sobre as penalidades a
serem aplicadas à prática de discriminação em razão de orientação
sexual e identidade de gênero. 15 anos de lei!
Avançamos, também, em relação ao nome social para travestis,
mulheres transexuais e homens trans, mas o projeto da identidade de
gênero continua parado no Congresso Nacional. Nosso Decreto Estadual
nº 55.588/10, que dispõe sobre o tratamento nominal das pessoas
transexuais e travestis nos órgãos públicos do Estado de São Paulo,
deu frutos. Temos uma Resolução na Secretaria da Administração
Penitenciária e outra na Secretaria da Educação, acompanhada da
Deliberação do Conselho Estadual da Educação nº 125/2014, que afirma
NOTAS
50
ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro de uma relação
desigual de forças ou poder. Há uma tendência de as escolas não
admitirem a ocorrência do bullying entre seus alunos; ou desconhecem
o problema ou se negam a enfrentá-lo. Estão inclusos no bullying
os apelidos pejorativos criados para humilhar os colegas. No Brasil,
uma pesquisa realizada em 2010 com alunos de escolas públicas e
particulares revelou que as humilhações típicas do bullying são comuns
em alunos de 5ª e 6ª séries. As três cidades brasileiras com maior
incidência dessa prática são: Brasília, Belo Horizonte e Curitiba.
6 Lei Estadual nº 10.948/01 – De acordo com esta lei, ninguém pode ser
exposto/a a vexame, humilhação, constrangimento, ser impedido/a
de acessar locais públicos ou privados, ser cobrado/a com preços ou
serviços diferenciados, ser impedido/a de locar imóveis para qualquer
finalidade, ser demitido/a ou deixar de ser admitido/a em função de
52
sua orientação sexual ou identidade de gênero. É ainda considerado
discriminação proibir a LGBTs o mesmo tipo de afetividade permitida a
outros/as cidadãos e cidadãs no mesmo local.
A lei pune administrativamente qualquer pessoa ou instituição. Estão
sujeitos a punições: civis, detentores/as de função pública ou militar,
toda organização social e empresa pública ou privada (restaurantes,
escolas, delegacias, postos de saúde, motéis etc.).
54
indivíduo para entender e respeitar as diferenças individuais dentro
dos seus limites. Mas sabemos também que isso quase nunca
acontece porque o contrário predomina.
Em meio a tantas dificuldades, a escola pode ser um ambiente
de reflexão sobre diversidade sexual. Ou seja, podemos acreditar
que a escola pode ser um espaço de “cidadanização” plena das
pessoas, e tomar como estudo a questão da homossexualidade/
transexualidade.
É necessário refletir sobre a maneira pela qual diversidade e
gênero são exercidos na escola via observação, por exemplo, de
oficinas, cursos de capacitação sobre o tema e reação dos alunos e
da comunidade. Pensa-se, assim, na separação entre ideal e prática
e na associação com o estudo de bibliografias que protagonizam a
educação com a hipótese de que a escola é um espaço de reflexão
sobre diversidade, orientação sexual e identidade de gênero.
Pretende-se entender que:
56
transformar o mundo, estabelecer com outros homens relações de
reciprocidade, fazer cultura e história” (FREIRE, 1997, p. 45).
58
e do papel do professor, além de, via de regra, a perda da noção de
limites e normas de convívio com o espaço físico, com os colegas e
com os profissionais que na escola atuam.
Para os docentes, enfrentar esta situação na perspectiva de
superação destes problemas que impedem a Escola de atingir o seu
ideal de qualidade e formação para a cidadania implica trabalhar
para o resgate do papel da Escola enquanto instituição que é
principal na tarefa de socializar o conhecimento que a humanidade
construiu através dos tempos, sem o qual não se superam as visões
interpretativas mágicas ou ingênuas sobre esta nossa condição atual.
Busca-se, ainda, realizar um trabalho de acompanhamento e
orientação que visa a resgatar a identidade e autoridade do professor,
contribuindo para o aperfeiçoamento de sua competência, entendida
aqui como a qualidade do “saber ser/saber fazer”. Esta competência
envolve boa comunicabilidade e disponibilidade para o relacionamento
interpessoal e construtivo, responsabilidade, organização pessoal,
atualização e domínio dos conhecimentos com os quais vão trabalhar,
bom manejo das situações de aprendizagem, conhecimentos
específicos sobre as faixas etárias sob sua responsabilidade e, por fim,
posicionamento político claro sobre as questões do seu tempo e sobre o
tipo de homem para cuja formação pretende contribuir.
Em relação aos alunos, deve-se trabalhar o sentido da escolarização
e o amadurecimento das qualidades do “ser Estudante-Cidadão”,
entendido aqui como aquele que se disponibiliza para a nem sempre
fácil tarefa de ser sujeito de sua própria formação; ou seja, realizando
com responsabilidade e cuidado aquilo que é proposto, cumprindo com
sua parte nos combinados, sendo crítico numa perspectiva construtiva,
respeitando o espaço físico e as pessoas com as quais se relaciona.
Nesse sentido, as regras, normas ou combinados têm uma função
educativa fundamental. Através do diálogo permanente a Escola
60
3 Dedicação: execução do trabalho com afinco;
4 Espírito de equipe: capacidade de obter resultados em grupos,
gerando satisfação de todos;
5 Pontualidade: preocupação com o cumprimento de horários e prazos;
6 Reconhecimento: valorização do mérito das pessoas e da equipe na
realização das atividades;
7 Cooperação: clima de ajuda mútua entre as pessoas;
8 Flexibilidade: capacidade de adaptação a novas situações;
9 Consideração e preservação dos usos e costumes da organização:
procurar saber as estratégias que deram certo no passado;
10 Preparo para lidar com decisões problemáticas que contrariam
interesses de pessoas, grupos ou entidades;
11 Clareza sobre os motivos que o levaram a assumir o cargo atual e
sobre as expectativas que seus colaboradores dirigem a você;
12 Busca de envolvimento e participação das pessoas ligadas ao
processo decisório.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SAYÃO, Rosely, A educação sexual nossa de cada dia. In: Idéias, São Paulo:
FDE, n.28, p. 269-281, 1997.
62
THESE ARE MY HANDS
Jo Clifford
63
Learn to clean a rifle, point it at a target,
And shoot to kill.
But I couldn’t do that.
These feet were not made for marching.
In here is my brain
My dad wanted me to use it to become a businessman
Or perhaps a diplomat.
But I couldn’t do that.
This brain was not made to exploit or lie…
My poor dad.
I really was not the person that he wanted me to be at all.
So who was I?
This is my face.
For many years it was a man’s face and when I looked in the mirror
I could never believe that it was mine
But then these hands
These hands learnt to hold my children
These hands learnt to comfort them when they were hurt or were afraid
These hands learnt to caress my lover
And give them joy and pleasure.
These hands learnt to communicate my love.
With these hands I learnt to write
With these hands I’ve written almost ninety plays.
So many words. About a million.
About a million words.
No wonder my hands hurt sometimes.
With these legs I was supposed to run fast and defeat my opponents
in football, or in cricket, or in rugby games.
With these legs I was supposed to march like a soldier
And walk like a man erect and strong.
These legs are damaged because for many years
I tried to walk a path that was not my own.
My heart is damaged too. Hurt by shame.
64
Broken by grief and bitter loss.
My heart is held together by plastic ring
Placed inside a valve to stop it bleeding.
I can only walk because they replaced my hip and knee
I carry the scars
Here. Here. And here.
They are like wounds that I received in battle
The long relentless battle to become my self.
The battle we all must fight some day.
The lines on my face tell of the progress of the fight
Its defeats and victories.
But now when I look in the mirror I don’t see a stranger boy or man
I see myself.
I may not like what I see
The baggy eyes, double chin, thinning hair
All the signs of my aging.
But I know they’re mine.
And when I look in the mirror I wish myself well
Wish myself well on this lifelong journey
The journey I am making towards my own dear self.
One day this heart will be worn out
On that day it will stop beating
And then I’ll know.
Then I’ll know my destination.
66
Mas então estas mãos
Estas mãos aprenderam a abraçar minhas crianças
Estas mãos aprenderam a confortá-las quando elas estavam
magoadas ou amedrontadas
Estas mãos aprenderam a acariciar o meu amor
E a dar alegria e prazer.
Estas mãos aprenderam a comunicar o meu amor.
Com estas mãos eu aprendi a escrever
Com estas mãos eu escrevi quase noventa peças.
Tantas palavras. Quase um milhão.
Quase um milhão de palavras.
É de se esperar que minhas mãos doam às vezes.
Com estas pernas eu deveria ter corrido rápido e vencido meus
oponentes em jogos de futebol, ou cricket, ou rugby.
Com estas pernas eu deveria ter marchado como um soldado
E caminhado como um homem ereto e forte.
Estas pernas estão estragadas porque, por muitos anos
Eu tentei andar por um caminho que não era o meu.
Meu coração está estragado também. Magoado pela vergonha.
Partido por luto e perdas amargas.
Meu coração se mantém unido por um anel de plástico
Colocado dentro de uma válvula para que parasse de sangrar.
Eu só posso caminhar porque substituíram minha bacia e meu joelho
Eu carrego as cicatrizes
Aqui. Aqui. E aqui.
Elas são como ferimentos que ganhei em batalha
A longa e implacável batalha para me tornar eu.
A batalha que todos nós devemos lutar um dia.
As linhas do meu rosto falam do progresso da luta
Suas derrotas e vitórias.
Mas agora quando olho no espelho, não vejo um menino ou
homem estranho
Eu vejo eu.
68
JO CLIFFORD
Jo Clifford é dramaturga e atriz residente em Edimburgo
na Escócia. Ela escreveu por volta de 80 peças de teatro,
muitas das quais já foram montadas em vários países.
Dessas, vale destacar LOSING VENICE, EVERY ONE, FAUST
e THE TREE OF KNOWLEDGE. GREAT EXPECTATIONS fez de
Jo Clifford a primeira dramaturga abertamente transgênero
a ter um texto de teatro montado no West End de Londres.
Ela apresentou GOSPEL ACCORDING TO JESUS QUEEN OF
HEAVEN [O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu] no
festival Fringe de Edimburgo em 2014 e 2015.
Também neste período a Scottish Opera encenou a opera que
James McMillan criou a partir de seu texto INES DE CASTRO;
sua nova adaptação de DR JEKYLL AND MR HYDE percorre
os palcos do Reino Unido; ANNA KARENINA é montada
no Manchester’s Royal Exchange e o Dundee Rep monta
GREAT EXPECTATIONS (com apresentações também em
Tokyo). Em 2015, Jo escreveu e apresentou na Radio BBC da
Escócia o programa de meia hora TRANSGENDERED LIVES.
Protagonizou o HIGH HEELS AREN’T COMPULSORY, filme
que recebeu o prêmio de público de melhor curta metragem
do festival de cinema SQIFF. Um fato marcante sobre a
importância de Jo Clifford foi ter sido a primeira mulher
transgênero a ser convidada a proferir um discurso feminista
no evento anual Burns Supper em 2016, que celebra a
vida e a obra do poeta escocês Robert Burns. Jo Clifford
proferiu seu discurso no ‘Reply to the Toast to the Lassies’
[Resposta ao Brinde das Mocinhas] na presença da primeira
ministra da Escócia, Nicola Sturgeon. Sua peça EVERY ONE
foi recentemente montada no Battersea Arts Centre, em
Londres, e está em fase de planejamento uma produção
japonesa do mesmo texto. Seu último trabalho – Eve – foi
co-escrito com Chris Goode e produzido pelo National
Theatre of Scotland em 2017. Ela costuma dizer que tem
muito orgulho de ser pai e avó.
PESSOAS
COM DEFICIÊNCIA
VISUAL NAS
PROGRAMAÇÕES
CULTURAIS
AUDIODESCRIÇÃO NO PROJETO
MANHÃS DE HISTÓRIA
ACESSIBILIDADE E INFORMAÇÃO PARA CRIANÇAS COM
E SEM DEFICIÊNCIA
Lívia Motta
71
o espaço está organizado. Quem enxerga, presta atenção, observa mais
detalhadamente, vê outras coisas. Certamente, uma oportunidade de
aprendizagem para todos.
Depois de acomodados, é hora de ouvir a história. Andi Rubinstein,
a contadora de histórias do projeto Manhãs de História, encanta a todos
com o seu jeito peculiar de interagir com as crianças, de se transformar
em personagens que contam, apresentam fatos, informações sobre a
vida e a obra de artistas e conceitos referentes às artes.
Além de Andi, em cada história, outros profissionais também são
convidados a participar e a contribuir para a criação de histórias
surpreendentes ligadas às exposições que acontecem no Instituto
Tomie Ohtake. São músicos, sound designers, videomakers, multimídia
designers, produtores, pesquisadores e outros. A minha contribuição
para o projeto foi inserir a audiodescrição, possibilitando, dessa
forma, o acesso à informação para todos, crianças com deficiência
visual e crianças sem deficiência.
A audiodescrição é uma atividade de mediação linguística, um
recurso de acessibilidade comunicacional e de tecnologia assistiva,
um tipo de tradução que transforma imagens em palavras ampliando
o entendimento de pessoas com deficiência visual em todos os
tipos de espetáculos, eventos e produtos audiovisuais. Além das
pessoas com deficiência visual, também as pessoas com deficiência
intelectual, idosos, autistas, pessoas com déficit de atenção, com
dislexia, crianças e outros públicos podem se beneficiar do recurso.
Em espetáculos como peças de teatro, óperas, musicais, shows e
outros, a caracterização física de personagens, cenários, figurinos,
movimentos, expressões faciais, entrada e saída em cena e as próprias
ações, tudo isso é verbalizado em roteiros previamente elaborados e
chega até a pessoa com deficiência visual por meio de fones de ouvido.
Para isso, são utilizados os mesmos equipamentos da tradução
74
as ações, usando mais palavras em sua narrativa para fazer com
que as crianças com deficiência visual pudessem acompanhar Miró
pintando um grande pássaro cor-de-rosa com asas bem abertas que
parecia voar no céu, ver o quadro dividindo-se em quatro pedaços, e
o mestre correndo atrás dos pedaços, em uma fantástica interação
da ação com a projeção em 3D.
Em La Casa Azul, a história de dor e superação de Frida Kahlo,
o uso de video mapping, projeção em 3D em uma grande extensão
de parede, proporcionou uma experiência ainda mais interativa e
fascinante para os espectadores, que tiveram a impressão de estar
dentro da casa da artista. A sala da contação foi especialmente
preparada e a entrada era uma reprodução da fachada da Casa
Azul, onde Frida e Diego Rivera viveram por mais de 20 anos, e um
pequeno jardim com cactos, folhagens e flores.
Ao convidar os espectadores para entrar, eu já chamava a atenção
para a fachada, jardim e também para a contadora. Dentro, no amplo
quarto de Frida Kahlo, Andi, com os cabelos presos em tranças no alto
da cabeça e enfeitados com flores, bata branca e saia verde, longa
e rodada, aguardava o público. Preparei as descrições do quarto,
mobiliário, objetos e quadros exibidos por meio da projeção em video
mapping, que foram, então, inseridas no texto narrativo pela própria
contadora. O mesmo aconteceu na história de Picasso, intitulada
Compartimento Secreto, cheia de mistério sobre o desaparecimento de
uma obra. A audiodescrição foi inserida pela própria contadora, com
alguns trechos falados ao microfone pelo apresentador da atividade.
Na última história deste ano, sobre arte contemporânea, como
foram exibidos alguns vídeos curtos de instalações, performances
e videoarte, a audiodescrição destes produtos foi gravada para que
pudessem ser exibidos já com o recurso. Na introdução da história,
o apresentador falou sobre o cenário e sobre a moça de pele clara,
76
LÍVIA MOTTA
Doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela
PUC de São Paulo. Trabalha como audiodescritora e professora
de cursos de audiodescrição desde 2005, implementando o
recurso em todos os tipos de espetáculos, filmes, eventos
religiosos, acadêmicos e sociais. Coordenou o 1º Curso de
Especialização em Audiodescrição pela UFJF e organizou com
Paulo Romeu Filho o primeiro livro brasileiro sobre o tema:
Audiodescrição: transformando imagens em palavras. Publicou o
livro Audiodescrição na escola: abrindo caminhos para leitura de
mundo, que discute a importância do recurso para alunos com
e sem deficiência.
78
Por séculos a deficiência vem sendo constituída no Ocidente como
sinônimo de déficit e de incapacidade. Tal concepção de deficiência
incorporou-se nas práticas sociais, o que inclui a vivência dos
espaços de arte.
Essa concepção da experiência da deficiência como déficit nos
conduz a um tipo de prática de intervenção no campo da deficiência
visual que instaura uma assimetria entre a deficiência e a eficiência,
lembrando aqui que as palavras são construídas, não são dadas de
antemão. Isto é, muitas das vezes se intervém para restaurar as
perdas que marcam a cegueira, o que coloca as pessoas que veem
numa posição superior de saber sobre aquele que não vê.
Uma intervenção assim ordenada acaba por produzir uma
distribuição assimétrica de eficiência e deficiência, isto é, aquele que
intervém, o faz em nome da eficiência a ser alcançada e aquele que é
“alvo” da intervenção aparece como alguém a quem falta eficiência.
Criar um programa de acessibilidade que produza uma intervenção
simétrica também é um objetivo do meu trabalho.
A meu ver o PesquisarCOM, um método de pesquisa do qual eu
lanço mão no meu trabalho, se contrapõe neste momento a uma
outra metodologia no campo da acessibilidade que vem se tornando
cada vez mais comum: os manuais. Os manuais são orientados para
uma intervenção que se orienta num fazer PARA os outros, que é uma
orientação extremamente importante no campo da acessibilidade,
porém insuficiente para dar conta de todas as suas dimensões.
Tomo aqui esses manuais que estão sendo sistematicamente
criados e distribuídos como uma metodologia de trabalho à medida
que os usos que se fazem deles criam uma realidade no dia a dia do
trabalho com as pessoas com deficiência.
Proponho hoje, aqui, que pensemos para além dos manuais de
acessibilidade que, apesar de serem altamente importantes, são
80
guias e manuais estão sempre diante de histórias cristalizadas,
naturalizadas, histórias únicas.
Assim como as palavras têm força, acredito também que as
histórias têm força e fazem de nós quem nós somos. No caso da
experiência da deficiência, como em outros casos, insistir somente
nas histórias hegemônicas é superficializar essas experiências,
negligenciar muitas outras histórias que constituem a deficiência.
Segundo Chimamanda, uma romancista e feminista nigeriana, a
“única história cria estereótipos”. E o problema com os estereótipos
não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles
fazem uma história tornar-se a única história.
Neste momento não posso deixar de dizer que todas essas
concepções, desde as mais duais até as reinventadas diariamente,
são concepções que formam as vidas e os modos como todos nos
relacionamos com essa experiência, pessoas com e sem deficiência.
Com história dos sentidos, não seria diferente. O sentido da visão é
considerado o mais apto para a investigação, e é por isso que dizem que
é o sentido que mais prazer nos gera. Sentimos prazer em conhecer
e estudar as coisas. Dizem ainda que é enxergando que percebemos o
discernimento das coisas e também as diferenças.
A visão é também o mais rápido dos sentidos, diriam alguns,
projetando imagens no subconsciente que ficarão na memória para
um fácil e rápido entendimento, com maior fidelidade.
A partir dessas considerações, defendo outra política perceptiva, uma
política metodológica que inclua outros sentidos nos nossos modos
de conhecer, desnaturalizando assim uma hierarquia sensorial que já
existe há séculos. Uma história única a respeito do sentido da visão.
Bom, neste momento, eu pergunto para vocês: O que podemos
pensar depois da Chimamanda sobre a palavra Deficiência?
Que histórias das pessoas com deficiência, tomadas como
82
Experimental, 1972). No trabalho com a acessibilidade em espaços
culturais há fios soltos num campo de possibilidades: por que não
explorá-los?
84
transformar os nossos referenciais, nos colocar também em questão.
Mediação cultural, como traz Miriam Celeste em seu texto
Memórias para o devir: A mediação cultural como provocação e
contaminação estética (2012), é poder “estar entre muitos”. Aqui,
em parceria com Miriam Celeste, sigo dizendo: a mediação como
um caminho para uma acessibilidade estética é poder “estar entre
muitas histórias”.
Mediar é a ação de transitar, articular. É necessário, cada vez mais,
um trabalho de mediação que ative as sensibilidades impregnadas
na pele da vida (Celeste, 2012).
86
uma questão que se revela como zona de risco e como instigadora
para a mudança de valores e de parâmetro da mediação ou da
acessibilidade.
Isso que eu estou trazendo tem a ver com uma preocupação
menos com o conhecimento formal que o público vai adquirir sobre
as obras, movimentos e artistas, e mais com a diferença, com os
deslocamentos que a experiência pode despertar.
Nesse sentido, a inserção de pessoas com deficiência em museus
e espaços culturais é um dispositivo transformador tanto de questões
sociais de exclusão e políticas públicas como um analisador para o
funcionamento do espaço do museu.
Apostamos na experimentação estética e no que pode ser
partilhado aqui, como uma dimensão ética e política de se fazer
acessibilidade e, dessa maneira, produzir novas possibilidades de
vida com a arte dentro e fora do museu.
O que uma estratégia inclusiva deve fazer não é só alterar a mídia,
o veículo material da obra. Acima de tudo, deve-se recriar a obra de
arte. O que se tem pela frente é um esforço não só de adaptação,
mas principalmente um esforço de reinvenção.
89
presente nas comunidades locais onde seu trabalho é desenvolvido,
garantindo o espaço e a realização pública de projetos comunitários.
O educador social é animador sociocomunitário, pois promove
ações que integram o social, o educativo e o cultural, sendo agente
de desenvolvimento humano, numa prática libertadora de todos os
envolvidos no processo, sobretudo as pessoas e as comunidades.
Particularmente nos países que sofreram o processo de
colonização branca, ocidental e cristã, tal como o Brasil, a
conscientização, a emancipação, a libertação e a autonomia são
princípios inerentes a qualquer proposta educacional, pois é preciso
ter em conta as matrizes culturais que forjaram os seus povos,
suas identidades e suas estruturas sociais. A exploração econômica
europeia, o extermínio de povos nativos, a escravidão africana,
a imposição da cultura branca, ocidental e cristã em detrimento
das culturas nativas, a negação do status de humanidade a índios
e negros, a odiosa distinção entre filhos legítimos e ilegítimos,
mulheres casadas e concubinas e famílias constituídas ou não por
meio do casamento estão na gênese de todos os nossos estigmas,
preconceitos e discriminações de todos os tipos e estão nas raízes
da imensa desigualdade social que afeta os povos e países vitimados
pela colonização.
As guerras de libertação levadas a cabo em países da América do
Sul, América Central, Caribe e África visavam sim a independência,
mas também a restauração de identidades étnicas, tribais e
culturais suprimidas por séculos de colonização e que justificaram a
emergência de práticas de resistência que deram origem à Educação
Popular, à Educação Social e à Educação Comunitária. Sob essa
perspectiva, a Animação Sociocultural está diretamente relacionada
ao emprego do conhecimento, hábitos, costumes e tradições
populares para os propósitos educativos, especialmente quando nos
NOTAS
92
UM PSICÓLOGO SOCIAL TRABALHANDO EM
MUSEUS: O PÚBLICO E A QUESTÃO SOCIAL
Marcio Farias
93
efetiva discussão sobre o papel social e político dos museus. Essas
novas veredas representam uma disputa, no campo simbólico, pelos
sentidos e significados da história, da arte e da cultura.
Por sua vez, a psicologia na América Latina desde as décadas
de 1960/70 vem se organizando e pautando uma reformulação
conceitual que orienta um compromisso ético da profissão para
com a realidade latino-americana, no sentido de contribuição para o
combate das desigualdades materiais e simbólicas, bem como uma
atuação orientada por normativas que estão atreladas às convenções
internacionais e nacionais sobre direitos humanos. Essas mudanças
conformaram a ampliação da atuação de psicólogos nas mais
variadas áreas, em vários tipos de instituições sociais e com um
variado tipo de atendidos. O trabalho na área da saúde, assistência
social, educação e cultura constitui, portanto, novos focos dessa
psicologia comprometida com a ideia de justiça social.
Nesse sentido, a atuação do psicólogo social em museus,
justamente num contexto de abertura para novas demandas,
incluindo o recebimento de um público historicamente excluído do
acesso a esses bens culturais, faz-se justificada. Essa contribuição
se dá naquilo que é das atribuições mais elementares do ofício “psi”:
a escuta, a análise e o manejo técnico.
A escuta ampliada, ferramenta indispensável do ofício “psi”,
elaborada no contexto da clínica individual é um dos pilares da recepção
da “queixa” por parte do outro. É neste momento que o profissional
recepciona a demanda, vinda das mais variadas formas, com os mais
distintos sentidos e significados, mas que, se bem “escutada” subsidiará
todo o projeto terapêutico singular, na esfera da psicologia clínica, mas
que se estende aos demais campos de atuação da psicologia social.
Na mesma linha, a “análise”, que é o campo de diagnóstico “psi”,
também é uma ferramenta no campo da atuação social, que qualifica
94
as múltiplas determinações que estão colocadas nas esferas das
relações interpessoais. O manejo é a “práxis” do psicólogo, é a síntese
dos processos precedentes. É o caminho a ser seguido, orientado pelo
acolhimento da demanda, interpretação reflexiva e ação. Manejar, nesse
sentido, pressupõe mediações e objetos transicionais.
Ora, se pensarmos a estrutura de uma visita educativa em museus,
essas três atribuições são “ferramentas” que podem contribuir para
a qualidade do atendimento a grupos.
A tríade se faz pertinente no atendimento não só de grupos regulares,
mas também de grupos que outrora eram excluídos e que agora passam
a compor o público atendido por essas instituições, tais como pessoas
com deficiência, grupos em vulnerabilidade social, idosos, adolescentes
em conflito com a lei cumprindo medidas socioeducativas etc.
No meu dia a dia como educador, o saber “psi” e suas três bases
elementares de trabalho foram importantes para uma atuação que
possibilitou aos sujeitos envolvidos nesse processo trocas em que
a mediação do acervo permitiu reflexões sobre os mais variados
aspectos da vida, do cotidiano à estética. Cito o caso dos adolescentes
da Fundação Casa.
O adolescente que recebemos, em tese, está sob acompanhamento
e tem uma avaliação positiva da equipe da Fundação Casa, fator que
contribui para uma possível vinculação do adolescente com a visita a
uma instituição cultural. Acrescento aqui o entusiasmo e a ansiedade
que sair da instituição, muitas vezes depois de meses sem contato
com o “além-muros”, geralmente causa no adolescente.
Do ponto de vista negativo, algumas dimensões psicossociais
relacionadas aos históricos dos indivíduos e à dinâmica da Fundação
Casa também estão colocados, explícita e implicitamente, como
elementos que reverberam na visita e podem dificultar ou ser
empecilhos para a sua realização. O rigor, que certas vezes beira a
96
de manejo são as mesmas do atendimento em acessibilidade (destaque
para as experiências sensoriais; maior atenção na articulação gestual
com o conteúdo da fala; falar mais brando etc.). No mais, a visita da
Fundação Casa (Adolescentes privados de liberdade) tem um caráter
muito mais exploratório da vivência e experiência no Museu do que uma
dimensão de conteúdo a ser explorado;
4 Por fim, pode ser uma visita marcada por um silêncio assustador.
Lidar com essa situação de maneira a não pessoalizar, tomando para
si essa questão, é fundamental.
MARCIO FARIAS
Graduado em Psicologia pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie (2011). Mestre em Psicologia Social na PUC-
SP (2015). Doutorando em Psicologia Social na PUC-SP.
Coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Americanos
(NEPAFRO). Colaborador do Instituto Amma Psique e Negritude.
Compõe a equipe de Coordenação do Núcleo de Educação
do Museu Afro Brasil. Conselheiro do Instituto Luiz Gama.
Foi Parecerista de Projetos Culturais e Artísticos da Funarte.
Tem experiência de atendimento e formação com os temas:
Juventude, Cultura e Resistência; Psicologia da Educação, Arte
e Cultura. Em pesquisa, desenvolve estudos sobre Pensamento
social latino-americano e relações raciais; Negritude e lutas de
classes no Brasil; África, capitalismo e imigração.
98
Sua história precede o surgimento do crack no Brasil. Aquele
território, na Luz, é historicamente um espaço de boemia e
marginalidade. Antes conhecido como Boca do Lixo, nos anos 30
abrigava diversas produtoras de cinema, tendo sido referência
de produção de pornochanchadas. Desde então, aquele cenário
marginal foi construído com bares, cortiços, casas de prostituição e,
mais à frente, o tráfico (de maconha, principalmente).
Além dessa configuração, o surgimento da rodoviária da Luz em
1961 trouxe diversos migrantes para a cidade em busca de empregos.
Apesar da bela arquitetura modernista da rodoviária, o
planejamento não calculou o que ela acarretaria a todo o seu
entorno, como a dificuldade para um bom fluxo do transporte na
região, criando uma zona de muito trânsito na época.
A chegada do Terminal começa a povoar os arredores e, com
isto, muitos migrantes começam a ficar na região, por diversos
fatores sociais que envolviam o contexto1. Os assaltos aumentam
e as classes média e alta começam a se retirar da região da Luz.
Contudo, não se mudam para longe. Preferindo ainda ficar no
centro, mudam-se para Campos Elíseos, Higienópolis e outras
localidades nos arredores.
A Cracolândia já estava criada antes de existir o crack, que surge
em meados dos anos 80, e o tráfico de droga começa a existir nesta
região. Assim, aos poucos os usuários de crack começam já a ficarem
próximos e os que estão em outras regiões são levados para lá (ou são
expulsos de suas casas ou bairros ou são levados pela polícia2).
Aos poucos vai se formando um lugar de possibilidades para
esses que foram e são excluídos da sociedade (usuários ou não de
crack3). O exemplo é pensar que 70% de sua população é de ex-
presidiários4 que, com poucas possibilidades de reinserção na
sociedade, começam a morar ali.
100
gentrificação, um jornal escrito e desenhado pelo grupo que vira uma
ferramenta de comunicação, entre outros.
Agora, como lidar com uma estratégia de mediação dentro de
espaços culturais?
A arquitetura de um espaço cultural muitas vezes é opressora
e faz com que muitos não se sintam pertencentes àquele lugar ou
contexto. Quando o espaço cultural se propõe a “incluir” contextos
vulneráveis, junto disso vem uma imposição de conteúdo da
instituição, muitas vezes não aceitando os processos culturais em
volta da região. É importante cada dia mais que as instituições
se utilizem de objetos de mediação próximos aos contextos
vulneráveis, por exemplo, a cachaça, o cachimbo, o samba, a
pichação. Todos ainda exemplos de cultura muitas vezes deixados
à margem por diversas questões da discussão de classe e vão se
embrenhando em diversos outros contextos sociais e políticos da
formação de uma cultura e do que pode ser considerado cultura.
Grupos em vulnerabilidade têm sua própria construção social e,
portanto, cultural. Para que exista uma ligação entre os contextos
da rua e do espaço cultural, é preciso que o espaço cultural
aumente e aceite outras culturas.
NOTAS
RAPHAEL ESCOBAR
Artista graduado em Artes Visuais pelo Centro Universitário
Belas Artes de São Paulo, atua com educação não formal
dando oficinas para crianças e adolescentes em situação de
risco, como adolescentes e jovens privados de liberdade na
Fundação Casa (Antiga FEBEM).
102
5.
DIVERSIDADE
INTELECTUAL
CAMINHOS
PARA AS
RELAÇÕES COM
O SABER
EMPREGO APOIADO
Márcia Pessoa
104
suas escolhas, interesses, habilidades e talentos, reconhecendo as
necessidades de apoio na obtenção do emprego, na sua manutenção
e no seu desenvolvimento (BETTI, 2011).
Conforme mencionado anteriormente, durante várias décadas as
Pessoas com Deficiência Intelectual foram atendidas em ambientes
protegidos, segregados, principalmente nas chamadas oficinas
de produção. Foi um modelo importante e, sem dúvida, teve seu
valor. No entanto, apresentava índices muito baixos de sucesso em
termos de inserção laboral, já que se baseava apenas no treino e
não ensinava as competências vocacionais, sociais e emocionais
relevantes para a integração no emprego competitivo.
Segundo Betti (2011), na década de 70 surgiram questões que
levantaram as primeiras hipóteses da importância do Emprego Apoiado,
inicialmente nos Estados Unidos, percebendo-se a ineficácia dos
programas das oficinas protegidas de trabalho. Notou-se que, quanto
maior fosse a permanência das Pessoas com Deficiências Intelectuais
em programas pré-profissionalizantes das oficinas protegidas, menores
eram as suas probabilidades de acesso ao emprego competitivo. Isto
porque estes locais aumentavam tanto a estigmatização como o seu
isolamento social. Portanto, pensou-se que o ideal seria que essas
pessoas convivessem naturalmente no mundo, ou seja, de modo que
não ficassem afastadas ou segregadas. Para inverter a “lógica do
corredor” das oficinas, o melhor seria tentar realizar o treinamento das
novas habilidades profissionais nos próprios locais de trabalho.
A partir dessa constatação, a década de 80, nos Estados Unidos, fez
evoluir um movimento a partir de projetos de várias Universidades,
como de Washington, de Wisconsin e de Oregon, dando origem
ao Emprego Apoiado, cuja proposta de orientação praticada nas
oficinas protegidas passou do tipo treino-colocação para o modelo
colocação-treino; ou seja, a pessoa primeiramente começaria a
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MÁRCIA PESSOA
Pedagoga com especialização em deficiência intelectual
pela Universidade Federal de São Paulo em Emprego
Apoiado, atua no Serviço de Qualificação e Inclusão
Profissional da APAE de São Paulo.
108
Museu do Futebol, de tornar familiares os universos distantes e
desconhecidos. Dúvidas básicas como, por exemplo, se podíamos dizer
a uma pessoa cega a expressão corriqueira “como você vê” a dúvidas
mais complexas como, por exemplo, se uma pessoa autista ou com
síndrome de Asperger consegue identificar as emoções por meio de
expressões faciais; ou seja, de que modo lidar com alteridades com as
quais temos pouco ou nenhum contato e desconstruir determinados
preconceitos. Esses anseios fizeram parte dos questionamentos que
acompanham o desafio de atender pessoas com deficiência com afeto
e levando em conta suas especificidades.
O PROJETO
O projeto Deficiente Residente partiu do princípio de que para
um museu ser acessível ao público com deficiência era necessário
fazer um projeto “com” e não “para” a pessoa com deficiência.
A palavra “com” aparecia como algo fundamental para colocar
todos os envolvidos no papel de protagonistas, pensando juntos
em melhorias na acessibilidade física do museu e no atendimento
humano ao público.
A RESIDÊNCIA
Em 2010, quando o projeto foi criado, tivemos a oportunidade de
planejá-lo para acontecer até 2015, perfazendo seis edições consecutivas.
Planejamos uma imersão, a cada ano, com uma deficiência específica,
escolhida juntamente com a equipe. Assim, em 2010 trabalhamos a
deficiência visual; em 2011, a deficiência intelectual; em 2012, a deficiência
auditiva; em 2013, a deficiência física; em 2014, a saúde mental; em 2015,
uma retomada com representantes das edições anteriores. A cada ano,
foram selecionados dois residentes para atuar com a equipe nas quebras
de barreiras atitudinais. Todos os residentes foram remunerados.
REFLEXÃO
Ao longo desse processo percebemos que a prioridade não é a
deficiência em si, mas os indivíduos e, a partir deles, a descoberta de
suas especificidades e potencialidades. A residência, que nada mais
é do que uma convivência plena e desejada, permite estabelecer
uma relação de reciprocidade que desperta em todos os envolvidos
segurança, serenidade, tolerância e afetividade. Um exercício de
respeito à alteridade e de compreensão das diferentes e ricas formas
de ver e viver. A maior inovação do projeto foi o legado e o resultado
que ele deixa em todos os envolvidos, e o pensar “com” e não “para”
a pessoa com deficiência.
110
PARA SABER MAIS
Documentário do projeto
• https://www.youtube.com/watch?v=Lk9B-q3S-B4
MARCELO CONTINELLI
Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo,
graduação em História (bacharelado e licenciatura) pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2009).
Atualmente cursa Letras na Universidade de São Paulo
(USP). Atua como Assistente de Coordenação no Museu do
Futebol desde 2013, tendo sido educador do referido museu
no período de 2010 a 2013, durante o qual participou de
projetos educativos, da criação de jogos e materiais de apoio,
do desenvolvimento de roteiros temáticos e da elaboração do
sistema de avaliação institucional de visita educativa. Atuou
como professor de História para EJA (Educação de Jovens e
Adultos) no Programa de Educação Interdisciplinar (PEI) da
Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (2007-2009).
112
AO CICLO DE PALESTRAS DO
INSTITUTO TOMIE OHTAKE
Mario Paulo Bovino Greggio
Eu estou escrevendo o texto para dizer que foi uma pena que
não deu para ir no último encontro. Mas era dia do meu aniversário
e eu não estava com cabeça para roda de conversas. Eu estava
pensando em outras. Eu gostaria que tivesse mais no ano que
vem. A minha experiência como educador foi boa. Eu participei do
projeto Deficiente Residente no Museu do Futebol nas edições de
2011 e de 2015, quando voltaram todos os residentes das edições
anteriores. Na de 2011 eu aprendi muitas informações sobre o
futebol e já levei muita gente e expliquei as informações que eu
aprendi sobre o futebol para as pessoas que eu já levei no museu.
Eu soube fazer muito bem o papel de educador. Na de 2015 eu
aprendi outras coisas como espírito esportivo, ripa na chulipa e
pimba na gorduchinha. Essas são as minhas experiências. Eu
também gosto de levar as pessoas às exposições. O Museu do
113
Futebol é acessível. E todos os museus deveriam ser acessíveis.
As exposições também.
116
O educador surdo torna-se uma referência para o público, que
tem a possibilidade de mudar seu olhar a respeito da surdez e da
língua de sinais numa visita mediada em que a LIBRAS está em
primeiro plano enquanto o português ocupa um lugar secundário
na voz da intérprete. Dessa forma, é possível perceber as diferentes
possibilidades de atuação da pessoa surda.
As instituições culturais e museus precisam dar atenção ao
educador surdo para que a acessibilidade realmente aconteça nas
instituições. De fato, deve-se estabelecer uma parceria com esse
profissional, pois ele tem muito a contribuir com o desenvolvimento
da instituição em suas diferentes ações.
Quando a instituição presta atenção às demandas trazidas pelo
educador, em diferentes aspectos – como programação, divulgação,
adaptações de exposições –, a acessibilidade realmente acontece,
pois ele tem capacidade de avaliar quais ações são mais adequadas.
Em São Paulo temos instituições que são referência na
acessibilidade para surdos, mas infelizmente o mesmo não ocorre
em outras cidades do país, privando assim o público surdo do acesso
à arte e à cultura.
118
bandeiras e lutas etc.) também por meio das produções artísticas
que lhes dizem respeito: as Artes Surdas.
O termo Arte Surda (e, por extensão, produções surdas), mesmo
entre aqueles que participam das comunidades surdas, não raro
transita de forma imprecisa, incerta, amarrado a uma série de (in)
definições. Entre tantas produções culturais feitas por, para e sobre
pessoas surdas, então, o que se entende aqui como Arte Surda?
Arte Surda, aqui, é entendida como todas as produções artísticas
que trazem à tona – em diferentes suportes – questões relacionadas às
culturas surdas. Seja em pinturas, gravuras, esculturas, instalações,
performances, produções audiovisuais, espetáculos teatrais etc.,
a Arte Surda convida – e convoca – o espectador à imensidão do
mundo surdo, expressando de diferentes maneiras a história, as
lutas, as línguas, as experiências cotidianas, os protagonismos, os
marcadores culturais, as narrativas, as tensões, os desafios etc. que
permeiam esse mundo, refratando discursos ouvintistas que dia a
dia seguem a apequenar a potência da diferença Surda.
A designação Arte Surda (conhecida também como De’VIA –
DeafView/ImageArt, sobretudo no universo das artes plásticas, em
alguns países de língua inglesa), assim, vincula-se às produções
que têm em seu cerne a expressão de mundos e identidades
surdas, independentemente de tais obras serem produzidas por
pessoas surdas ou ouvintes. Em outras palavras, a definição é dada
a partir dos elementos que compõem a obra e não pela condição
física/sensorial de seu autor, o que em muito contribui para minar
o gesto paternalista que comumente ronda o fazer artístico de
pessoas com deficiência.
Ao ganharem os circuitos culturais majoritários, tais produções
começam a extrapolar as fronteiras dos eventos específicos
(realizados em associações, instituições, federações e escolas
p.s: para conhecer mais sobre várias produções culturais surdas (do
teatro, literatura, dança, artes plásticas cinema etc.) visite o Blog
Cultura Surda em http://culturasurda.net.
120
PROMOÇÃO DA IDENTIDADE E CULTAS SURDAS PARA A REPRESENTATIVIDADE
HUGO EIJI
Formado em Comunicação Social pela Universidade de São
Paulo (ECA-USP) e em Pedagogia – Educação de Deficientes
da Áudio-comunicação – pela PUC-SP, tem Mestrado em
Ciências da Cultura pela Universidade de Lisboa e trabalha
com projetos de Educação de Surdos.
123
Patrimônio Cultural, Memória, Museologia e Objetos Biográficos e as
suas inter-relações.
Trabalhou-se com a contextualização teórica do processo de
trabalho a ser desenvolvido e com atividades práticas, sempre
intercaladas, a partir das seguintes principais etapas:
126
Muito se fala em envelhecimento. Nosso país envelhece sem
freios. A fragilidade humana fica sendo característica dos velhos. O
mais jovem não a quer para si, afinal, a vida precisa seguir seu rumo
num faz de conta insuportável.
Ao observar um idoso acamado sentimos nele nossa própria
fragilidade. Impossível desvirtuar o olhar da debilidade refletida.
A lágrima que escorre diante da delicadeza da nossa história
nos faz pensar no quanto inventamos a vida e criamos subterfúgios
para vivê-la. Mesmo que seja na mentira que elaboramos para
aparentar força e coragem. Somos fracos e essa é a verdade por
mais que tentemos escondê-la.
O que fazemos é aparentar certezas e posturas tão grandiosas
que chegamos a convencer a nós mesmos daquilo que é inexistente
e mesmo assim tão almejado.
Se pensarmos na História da Arte, cidades medievais mostravam
força e poder através das riquezas de suas catedrais.
Mais do que um lugar divino, criavam-se verdadeiros espaços
sagrados na crença de que era o poder econômico e político que
garantia a felicidade de um povo. Era preciso mostrá-lo.
Riquezas ostentadas enquanto a fragilidade do povo era disfarçada
em meio a folhas de ouro e ornamentos preciosos. Tudo era belo o
suficiente para encobrir os limites de sua gente.
Como exemplo podemos citar a Catedral de Chartres, patrimônio
mundial da UNESCO, que está localizada a 78 quilômetros de Paris.
Exemplar gótico mais conservado da França, apesar de seus 800
anos, a igreja é um centro de peregrinação cristã. Em uma de suas
capelas fica a relíquia conhecida como Santo Véu, que, segundo a
crença católica, trata-se do véu usado por Maria no momento da
anunciação.
A Idade Média não teve, em nenhum lugar, uma relíquia tão
FRAGILIDADE HUMANA
Na famosa xilogravura A Grande Onda do artista japonês Katsushika
Hokusai, podemos pensar na fragilidade humana representada na
imagem, que faz parte da série Trinta e seis vistas do monte Fuji.
Produzida entre 1829 e 1833, a obra está no Museu Metropolitan de
Nova York e encanta os olhos de quem a observa, não pela fragilidade
de seus minúsculos barcos engolidos pela onda, mas sim pela força
com que ela é retratada, com garras no lugar da espuma.
Ao fundo, o Monte Fuji é mero espectador de toda essa situação.
134
exceções. Sendo assim, eu preparo a visita antes com um amigo
professor, quase sempre com José Minerini Neto ou Moacir Simplício,
e garanto que eles não serão tratados nem como deficientes mentais
nem como surdos porque eu sei (por experiência própria) o quanto
isso é irritante. Quero que eles estejam focados no conteúdo da
exposição e na experiência das formas. Eu raramente peço o
educativo, pois os educadores não estão preparados para mediar
com um grupo de pessoas que não respondem verbalmente ou só
respondem através de gestos.
Desde 2009 nós vamos a uma ou mais exposições por ano. Em 2009
eu pretendia levá-los ao Sindicato dos Arquitetos de São Paulo para ver
o móbile de Alexander Calder, mas, pasmem, o lugar era inacessível!
Então fomos à exposição de Tomie Ohtake no Instituto Tomie Ohtake.
MEDIAçõES SINGuLARES
Rever essas fotos me fez pensar. Eu acredito que essas visitas
mexem com muita coisa, não tenho como medir o que apreenderam.
Apenas sei que apreenderam e por isso parto desse princípio. Cada
visita é precedida por uma aula preparatória e depois seguida de
duas aulas, no mínimo, de um fazer artístico relacionado. Sei que é
difícil levar seus alunos às exposições, mas vale a pena!
149
acessibilidade e que tento praticar todos os dias ao desconstruir
conceitos e padrões considerados “normais”.
O reconhecimento e a percepção da diversidade têm sido tema
central na pauta dos últimos tempos com a crescente onda de
violência, censura, intolerância e discriminação de todos os tipos.
Os inúmeros conflitos sociais assim como a emergência de grupos
subalternos que lutam para existir em seus direitos plenos são a
evidência da ausência de diálogos interculturais e seu efeito na
humanidade.
Quando há o entendimento de que entre eu e o outro há um campo
infinito de vivências e experiências distinto e complementar fica fácil
perceber a urgente necessidade de derrubar toda e qualquer “norma”
e “padrão” que parecem ditar as normas de convivência, ação e
aceitação. Faz-se necessário desobstruir os canais de percepção
do nosso inconsciente individual e coletivo para resgatar valores
morais e humanitários e alguns princípios básicos que acabamos
esquecendo como consequência da sobrecarga de informações e
influências que recebemos diariamente.
Faço analogia a uma máquina que precisamos reprogramar para
que a sociedade possa continuar em seu curso de evolução, no qual
a diversidade deva ser o estado natural do mundo, ou seja, o ponto
básico de operação. Nas últimas décadas, passamos a objetificar
e rotular tudo e todos, tendo nossas opiniões como único ponto de
partida e referência, e assim, assumindo um papel de promotor de
julgamentos para justificar nossas próprias limitações.
Quando nos permitimos ser acessados ou dar o acesso a alguém,
seja num diálogo ou em qualquer outra forma de expressão, alteramos
nossa codificação de pensamento à medida que absorvemos outro
ponto de vista; que não é certo, nem errado; que não é justo ou
injusto. É apenas diferente.
153
a intervenção no mundo, como salienta Paulo Freire (1999). Sem essa
compreensão, é impossível transformar as relações sociais.
Somos diferentes uns dos outros do ponto de vista biológico, social,
psicológico e cultural. Cada um se caracteriza como um sujeito
rico em possibilidades de crescimento na vida em sociedade. O ser
humano é uma combinação de condições e qualidades que vão sendo
atualizadas e concretizadas ao longo das histórias e existências, de
acordo com os relacionamentos, experiências e contextos de vida.
Para que possamos alcançar novas perspectivas e desafios nos
processos de aprendizagem que envolvem pessoas com deficiência,
temos que ter como premissa que a dimensão social não pode ser
diferenciada. A perspectiva apresentada traz princípios relevantes na
construção desses processos. Desta maneira, a reflexão sobre novas
práticas se faz necessária: considerar a compensação da deficiência
que ocorre por caminhos complexos de caráter social e psicológico.
Não se trata de substituir as funções ausentes, mas constituir
mecanismos psicológicos que permitam, por meio das vias preservadas,
compensar a falta das vias deficitárias, como, por exemplo, o cego que
enxerga por meio do tato. A característica principal de compensação do
cego é criar mecanismos de adaptação nos quais o tato passa a ter uma
função mais refinada. Neste processo, as experiências que o meio social
oferece serão alteradas mediante essa vivência, no todo social.
Vygotsky (1997) apresenta esta ideia por meio de dois aspectos –
o biológico e o social –, ou seja, a dimensão primária, que leva
em consideração as características orgânicas ou biológicas da
deficiência; e a dimensão secundária, que diz respeito às formas
qualitativas de interação do sujeito com seus pares.
Nesta perspectiva, considerar os aspectos biológicos e sociais da
deficiência nos apresenta um conceito extremamente relevante para
reflexões e possíveis reorientações das práticas sociais vigentes, seja
NOTAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
158
reconhecer imparcialmente o direito de cada um, e que a equidade
revela nas pessoas o amor, o senso de justiça, a imparcialidade, a
isenção e a ética. A minha dança oscila o meu corpo clamando por
lisura e reflexão sobre o modo de agir, pensar e opinar das pessoas.
Honestidade e integridade não são somente padrões que os outros
enxergam em nós. Oscilo meu corpo para que as pessoas possam
interiorizar os seus verdadeiros valores de equivalência.
Se estiverem vazios, por Deus, que a Arte os alimente.
Algumas pessoas podem pensar: se somos o sopro de Deus, quem
nasce com deformações físicas ou mentais é fruto de um sopro defeituoso?
A resposta para este tipo de desigualdade é que não há sofrimento
ao redor de nossos passos. O mal supostamente forjado não está
naqueles que o carregam, mas naqueles que padecem da aflição
de sua própria ansiedade, respeitável, mas inútil, projetando e
mentalizando ocorrências menos felizes para a vida dos portadores
de deficiência, que, em muitos casos, não são vistos como se supõe
e, por vezes, nem chegarão a vê-los assim.
Estes não oscilam seus corpos e nem suas mentes.
Acredito que entendemos melhor os normais. A recíproca não é
verdadeira. À medida que as limitações surgem, voltamo-nos para a
essência da vida e compreendemos mais a missão que temos aqui na
Terra. Para nós, a simples reflexão sobre a dor e o sofrimento basta
para evidenciar que há uma razão de ser muito profunda. A dor é um
alerta da natureza, que anuncia algum mal que está nos atingindo e
que precisamos enfrentar.
Para muitos, dor é lamúria.
Para muitos, dor é a desculpa para as fraquezas de suas almas.
Meus movimentos oscilantes não são alerta para a deficiência física,
mas para a deficiência do desamor. Procuro despertar nas pessoas as
mazelas provocadas pelo egoísmo e preconceitos que corroem a alma
MARCOS ABRANCHES
Dançarino, coreógrafo e pessoa com deficiência física.
Em 2003 integrou-se à CIA FAR 15, atuou nos espetáculos
Senhor dos Anjos; Jardim de Tântalo e Metamorfose de
Franz Kafka, todos coreografados e dirigidos por Sandro
Borelli e Sônia Soares. Incentivado por Phillipe Gemet,
desenvolveu um trabalho coreográfico com mais duas
bailarinas e fundou o Grupo Vidança, apresentando a peça
Desequilíbrio, que posteriormente transformou-se em um
espetáculo solo, com mais de, até hoje, 100 espetáculos.
Participou do Kulturdifferenztans, em Colônia (Alemanha)
e Crossings Dance Festival em Düsseldorf (Alemanha),
apresentando Via sem Regra sob direção de Gerda König.
Atuou na peça Trem Fantasma, em uma adaptação, no
Brasil, da obra Navio Fantasma de Wagner, dirigido por
Christoph Schligensielf, o que lhe rendeu o convite para
atuar na temporada de 2008, reeditada para outubro de 2010,
da ópera teatralizada da Vida e Obra de Joana D’Arc, no
Deutsche Oper Berlin, dirigida por Christoph Schligensielf,
um dos mais respeitados diretores de toda Europa.
Luis Soares
coordenação geral
Victor Santos
assistência de coordenação
Claudio Rubino
coordenação Programa de
Acessibilidade
Matias Monteiro
coordenação de parcerias
Maiara Paiva
coordenação de produção
Fernanda Castilhos
produção
Diana Tubenchlak
concepção e educação No Colo,
atividades para bebês e famílias
Ricardo Miyada
fotografia
Gilberto Vieira
consultoria e avaliação de ações do
Território – Canindé
ORGANIZAÇÃO DESIGN
Felipe Arruda Julia Paccola
Luís Soares
Claudio Rubino REVISÃO
Divina Prado
TEXTOS Isabela Maia
Ana Amália Tavares Bastos Barbosa
Andi Rubinstein TRADUÇÃO
Camila Araújo Alves Isabela Maia
Cássio Rodrigo de Oliveira Silva
Claudio Rubino
Cristiane Tenani Pomeranz
Diana Tubenchlak
Edinho Santos
Felipe Arruda
Gabriela Aidar
Hugo Eiji
Ialê Cardoso
Jo Clifford
Judith Mader Elazari
Liliane Rebelo
Lívia Maria Villela de Mello Motta
Luís Soares
Maiara Paiva
Marcelo Continelli
Márcia Pessoa
Marcio Farias
Marcos Abranches
Mario Paulo Bovino Greggio
Paula Beatriz de Souza Cruz
Raphael Escobar
Renata Bittencourt
Roberta Galasso
Roberto da Silva
Victor Santos
PARA CONHECER UM POUCO MAIS DO
PROJETO MANHÃS DE HISTÓRIA /
PROGRAMA DE ACESSIBILIDADE INSTITUTO TOMIE OHTAKE
ACESSE:
Este é um arquivo PDF acessível, com audiodescrição, para que as pessoas com
deficiência visual possam ter acesso ao conteúdo e às informações contidas em cada
imagem. É possível fazer a leitura do texto e das imagens. Para isso, todas as fotos e
outros tipos de imagens foram audiodescritas e as descrições embutidas em código,
permitindo sua identificação pelos softwares leitores de tela usados por este público.
Inserimos a audiodescrição no final do livro para que os leitores interessados em
descrição de imagens possam conferir o trabalho, identificado pelas páginas.
Audiodescrição da capa: a capa com fundo branco, escrita com letras azuis e
laranja, é ilustrada por duas linhas grossas, uma azul e outra laranja que sobem
paralelas do lado direito, se entrelaçam em uma curva fechada no meio e
sobem. No lado esquerdo, as linhas se sobrepõem na parte inferior e fazem um
semicírculo. O título da publicação: MEDIAÇÕES ACESSÍVEIS, escrito em
laranja na vertical em duas linhas, encontra-se no canto superior esquerdo. O
subtítulo: CICLO DE ENCONTROS SOBRE ACESSIBILIDADE EM ESPAÇOS DE
EDUCAÇÃO E CULTURA, escrito em azul em 7 linhas, encontra-se na parte
inferior central. No rodapé, a logomarca do Instituto Tomie Ohtake composta
por uma paleta, placa para por tintas, à esquerda, e o nome do Instituto à
direita, tudo em azul.
PÁGINA 1
Audiodescrição: No canto superior direito, a logomarca do Instituto Tomie
Ohtake composta por uma paleta, placa para por tintas, à esquerda, e o nome
do Instituto à direita, tudo em azul. O título da publicação: MEDIAÇÕES
ACESSÍVEIS, escrito em laranja na vertical em duas linhas, encontra-se logo
abaixo.
PÁGINA 2
Audiodescrição: Logomarca do Instituto Tomie Ohtake no canto
superior direito, é composta pela silhueta de uma paleta, placa de madeira
sobre a qual os pintores dispõem e combinam as tintas, à esquerda, e o nome
do Instituto à direita, tudo em azul.
1
PÁGINA 14
AudioAudiodescrição: Recorte de um trecho do mapa de ruas da cidade de
São Paulo, com marcadores circulares na cor laranja numerados de 1 a 10
plotados sobre alguns bairros que mostram os museus e instituições de cultura
da cidade mais visitados no ano de 2014, conforme segue: 1. Museu da
Imagem e do Som, 603.197 visitas, bairro: Jardins; 2. Catavento Cultural:
509.177 visitas, bairro: Centro; 3. Pinacoteca Luz: 425.575 visitas, bairro: Bom
Retiro; 4. Museu do Futebol: 419.363 visitas, bairro: Pacaembu; 5. Museu da
Língua Portuguesa: 386.798 visitas, bairro: Bom Retiro; 6. MASP: 288.883
visitas, bairro: Jardim Paulista; 7. Museu Afro Brasil: 209.097 visitas, bairro:
Ibirapuera; 8. Museu da Casa Brasileira: 150.472 visitas, bairro: Itaim Bibi; 9.
Casa das Rosas: 116.487 visitas, bairro: Paraíso; 10. Museu da Imigração:
94.781 visitas, bairro: Mooca.
PÁGINA 15
Figura 1. Audiodescrição: Trecho de uma página do site da MOBILIZE-
BRASIL com a seguinte informação em destaque: Em São Paulo, só 25% tem
ponto de transporte a até 1 km de casa.
PÁGINA 17
Audiodescrição: Página do site do Instituto Tomie Ohtake do Projeto:
EXPRESSO ACESSO, ilustrada com o desenho de um ônibus dentro de uma
circunferência azul, com informações de saídas, horários e pontos de parada de
uma linha de transporte gratuita que circulou em 2017, aos domingos, do
bairro do Canindé ao Instituto Tomie Ohtake.
PÁGINA 19
Foto 1. Audiodescrição: Fotografia em preto e branco de Claudio Rubino
agachado à frente de um menino cadeirante, mostrando uma réplica de uma
escultura da artista Tomie Ohtake.
2
PÁGINA 20
Foto 1. Audiodescrição: A fotografia em preto e branco mostra um grupo de
crianças, meninos e meninas, sentados no chão do hall do Instituto Tomie
Ohtake, assistindo a uma contação de história.
PÁGINA 37
Audiodescrição: A página é ilustrada no lado esquerdo por duas
linhas grossas na vertical, uma azul e outra laranja que viram para direita
fazendo uma leve curva.
PÁGINA 38
Audiodescrição: A página é ilustrada por linhas grossas, azuis e laranja, duas
no canto superior esquerdo na vertical, e duas fazendo uma curva no canto
superior direito.
PÁGINA 42
Audiodescrição: A página é ilustrada no canto superior esquerdo por duas
linhas grossas na vertical, uma azul e outra laranja e por uma linha
laranja fazendo uma curva no canto superior direito.
PÁGINA 46
Audiodescrição: A página é ilustrada no lado esquerdo por duas
linhas grossas na vertical, uma azul e outra laranja.
PÁGINA 47
Audiodescrição: A página é ilustrada na parte de cima por duas
linhas grossas na horizontal, uma azul e outra laranja.
PÁGINA 54
Audiodescrição: A página é ilustrada na parte de cima por duas
linhas grossas na horizontal, uma azul e outra laranja.
PÁGINA 63
Audiodescrição: A página é ilustrada na parte de cima por duas
linhas grossas na horizontal, uma azul e outra laranja.
3
PÁGINA 70
Audiodescrição: A página é ilustrada no lado direito por duas linhas grossas
na vertical, uma azul e outra laranja que se sobrepõem na parte superior
fazendo uma curva fechada.
PÁGINA 71
Audiodescrição: A página é ilustrada na parte superior por duas linhas
grossas na vertical, uma azul e outra laranja que se sobrepõem à direita
fazendo uma curva fechada.
PÁGINA 78
Audiodescrição: A página é ilustrada na parte superior por duas linhas
grossas na vertical, uma azul e outra laranja que se sobrepõem à esquerda
fazendo uma curva fechada.
PÁGINA 88
Audiodescrição: A página é ilustrada no lado direito por duas linhas grossas
na vertical, uma azul e outra laranja que se sobrepõem no meio fazendo dois
elos.
PÁGINA 89
Audiodescrição: A página é ilustrada na parte superior por duas linhas
grossas na horizontal, uma azul e outra laranja que se sobrepõem à direita
fazendo dois elos.
PÁGINA 93
Audiodescrição: A página é ilustrada na parte superior por duas linhas
grossas na horizontal, uma azul e outra laranja que se sobrepõem à direita
fazendo dois elos.
PÁGINA 98
Audiodescrição: A página é ilustrada no na parte superior por duas linhas
grossas na horizontal, uma azul e outra laranja que se sobrepõem à direita
fazendo dois elos.
PÁGINA 102
Audiodescrição: A página é ilustrada no lado direito por duas linhas grossas
na vertical, uma azul e outra laranja que se sobrepõem na parte inferior
fazendo curvas em forma de 8.
PÁGINA 104
Audiodescrição: A página é ilustrada na parte superior por duas linhas
grossas na horizontal, uma azul e outra laranja que se sobrepõem à direita
fazendo curvas em forma de 8.
4
PÁGINA 108
Audiodescrição: A página é ilustrada na parte superior por duas linhas
grossas na horizontal, uma azul e outra laranja que se sobrepõem à direita
fazendo curvas em forma de 8.
PÁGINA 113
Audiodescrição: A página é ilustrada na parte superior por duas linhas
grossas na horizontal, uma azul e outra laranja que se sobrepõem à direita
fazendo curvas em forma de 8.
PÁGINA 115
Audiodescrição: A página é ilustrada no lado esquerdo por duas linhas
grossas na vertical, uma azul e outra laranja que se sobrepõem na parte
inferior fazendo curvas em forma de S.
PÁGINA 116
Audiodescrição: A página é ilustrada na parte superior por duas linhas
grossas, uma azul e outra laranja, na forma de U invertido, sobrepostas, e duas
linhas verticais e paralelas nas mesmas cores e espessura.
PÁGINA 118
Audiodescrição: A página é ilustrada na parte superior por duas linhas
grossas, uma azul e outra laranja, na forma de U invertido, sobrepostas, e duas
linhas verticais e paralelas nas mesmas cores e espessura.
PÁGINA 122
Audiodescrição: A página é ilustrada no lado direito por duas linhas grossas
na vertical, uma azul e outra laranja que se sobrepõem na parte superior
fazendo curvas em forma de S.
PÁGINA 123
Audiodescrição: A página é ilustrada na parte superior por duas linhas
grossas na horizontal, uma azul e outra laranja que se sobrepõem à direita
fazendo curvas em forma de S.
PÁGINA 123
Audiodescrição: A página é ilustrada na parte superior por duas linhas
grossas na horizontal, uma azul e outra laranja que se sobrepõem à direita
fazendo curvas em forma de S.
PÁGINA 126
Audiodescrição: A página é ilustrada na parte superior por duas linhas
grossas, uma azul e outra laranja que se sobrepõem à esquerda, fazendo
curvas em forma de S.
PÁGINA 133
Audiodescrição: A página é ilustrada ao centro, por duas linhas grossas
paralelas na vertical, uma azul e outra laranja que se sobrepõem nas
extremidades superior e inferior fazendo uma curva fechada.
5
PÁGINA 134
Audiodescrição: A página é ilustrada na parte superior por duas linhas
grossas na horizontal, uma azul e outra laranja na parte superior fazendo um
ângulo reto à esquerda e uma pequena curva.
PÁGINA 135
Foto 1. Audiodescrição: Fotografia em preto e branco de quatro crianças
cadeirantes posando para foto. Atrás deles, cinco pessoas, um homem e quatro
mulheres, país e educadores.
PÁGINA 136
Foto 1. Audiodescrição: Fotografia em preto e branco de cinco crianças com
a artista Ana Amália Barbosa, todas em cadeiras de rodas, olhando a réplica de
uma escultura do artista Hélio Oiticica nas mãos do educador José Minerini
Neto. Ele está agachado no chão, no galpão de exposições do Sesc Pompéia.
Atrás das crianças, seis mães e educadoras.
PÁGINA 137
Foto 1. Audiodescrição: Fotografia em preto e branco de um grupo de
crianças em cadeiras de rodas, algumas com múltiplas deficiências,
acompanhadas de pais e educadores, reunidas no Jardim das Esculturas no
Parque da Luz. Do lado esquerdo, em pé, o educador José Minerini Neto.
6
Esculturas no Parque da Luz, amarrando várias bexigas cheias de ar em uma
escultura interativa intitulada: COLAR, formada por várias esferas de cerâmica
enfiadas em uma corda, presas nos troncos das árvores.
PÁGINA 138
Foto 1. Audiodescrição: Fotografia em preto e branco da artista Ana Amália
Barbosa sentada em sua cadeira de rodas com uma instalação interativa do
artista Ernesto Neto no colo, no Museu de Arte Moderna. A instalação é
composta por uma rede de fios de tecido com tramas bem largas pendurada no
teto, cheia de bolinhas de plástico no formato de uma gota bem grande.
PÁGINA 139
Foto 1. Audiodescrição: Fotografia em preto e branco da artista Ana Amália
Barbosa no meio de quatro crianças, dois meninos e duas meninas, todos em
cadeiras de rodas, posando para foto na frente de uma obra do artista M.C.
Escher em uma exposição no CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil, uma
pintura com vários quadrados concêntricos nas cores preto e branco,
intercalados, que cria uma ilusão de ótica parecendo ser um túnel.
PÁGINA 140
Foto 1. Audiodescrição: Fotografia em preto e branco de um grupo de
crianças, meninos e meninas em cadeiras de rodas, acompanhadas de seus
pais, educadores e cuidadores, todos de perfil, apreciando alguns quadros
pendurados na parede, em uma exposição na galeria do Instituto de Artes da
UNESP.
7
Foto 3. Audiodescrição: Fotografia em preto e branco de duas crianças, um
menino e uma menina em cadeiras de rodas, olhando atentamente para uma
obra de arte nas mãos do educador Moacir Simplício. Ele está com os joelhos
flexionados, com o tronco inclinado à frente das crianças, na galeria do
Instituto de Artes da UNESP.
PÁGINA 141
Foto 1. Audiodescrição: Fotografia em preto e branco da artista Ana Amália
Barbosa ao lado de algumas crianças, todas em cadeiras de rodas, juntamente
com seus acompanhantes, na portaria do pavilhão das artes do Memorial da
América Latina.
PÁGINA 142
Foto 1. Audiodescrição: Fotografia em preto e branco de um grupo de
pessoas, adultos e crianças em cadeiras de rodas, acompanhadas de seus pais,
cuidadores e educadores, posando para foto no hall do CCBB – Centro Cultural
Banco do Brasil em São Paulo. Do lado direito, a artista Ana Amália Barbosa.
PÁGINA 143
Foto 1. Audiodescrição: Fotografia em preto e branco de um grupo de
pessoas, adultos e crianças cadeirantes, acompanhados de seus pais,
cuidadores e educadores, posando para foto no hall do Instituto Tomie Ohtake
no dia da visita à exposição de Salvador Dalí.
8
uma obra interativa do artista Salvador Dali, intitulada: Rosto da Mae West. A
obra é composta por uma armação em forma de arco com os contornos no
formato de cabelos longos, loiros e cacheados, assim como eram os da atriz e
escritora norte-americana.
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Foto 1. Audiodescrição: Fotografia em preto e branco de um grupo de
meninos e meninas em cadeiras de rodas e seus acompanhantes, reunidos em
uma sala de exposições no Museu Afro Brasil no Parque do Ibirapuera. Na
frente deles, à direita, o educador, um homem negro com cabelos curtos. Ele
usa camisa xadrez de mangas compridas.
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Foto 1. Audiodescrição: A fotografia em preto e branco mostra, em primeiro
plano, a escultura hiper-realista do artista plástico Ron Mueck, intitulada: Casal
debaixo do guarda-sol, medindo 300x400x350 cm. A obra retrata um homem
com calção xadrez deitado no chão de barriga para cima, com o braço esquerdo
sobre a testa, com os joelhos flexionados, com a cabeça no colo de uma mulher
que olha fixamente para ele, embaixo de um guarda-sol. Ao fundo, várias
pessoas apreciam a obra, alguns em pé outros em cadeiras de rodas, na sala
de exposições da Pinacoteca.
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Foto 1. Audiodescrição: Fotografia em preto e branco da artista Ana Amália
Barbosa ao lado de uma jovem, ambas em cadeiras de rodas, apreciando obras
de arte do pintor neerlandês modernista Piet Mondrian no salão de exposições
do CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo, sob orientação de um
educador local que está com o tronco inclinado para frente, ao lado delas.
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Foto 1. Audiodescrição: Fotografia em preto e branco de um grupo de
pessoas, homens e mulheres, em cadeiras de rodas, e seus acompanhantes,
alguns em pé, todos de perfil, apreciando uma escultura sobre uma plataforma
retangular, intitulada: Unidade Tripartida (1948/49), do artista Max Bill, na
galeria de exposições do MAC- MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA-USP. Na
frente da obra duas educadoras do museu.
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Foto 1. Audiodescrição: Fotografia em preto e branco de um grupo de
pessoas, homens e mulheres em cadeiras de rodas, acompanhadas de seus
cuidadores e educadores, posando para foto no terraço do MAC- MUSEU DE
ARTE CONTEMPORÂNEA-USP. Do lado direito do grupo, a artista Ana Amália
Barbosa e o educador José Minerini.
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Audiodescrição: A página é ilustrada na parte superior por duas linhas
grossas, uma azul e outra laranja, na forma de U invertido, sobrepostas, que se
prolongam em linhas verticais e paralelas nas mesmas cores e espessura à
esquerda.
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Audiodescrição: A página é ilustrada na parte superior por duas linhas
grossas, uma azul e outra laranja, na forma de U invertido, sobrepostas, que se
prolongam em linhas verticais e paralelas nas mesmas cores e espessura à
esquerda.
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Audiodescrição: A página é ilustrada na parte superior por duas linhas
grossas na horizontal, uma azul e outra laranja na parte superior fazendo um
ângulo reto à esquerda e uma pequena curva.
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Foto 1. Audiodescrição: No rodapé da página, as logomarcas dos
patrocinadores: Lei de Incentivo à Cultura, Cateno, Cielo e dos realizadores:
Instituto Tomie Ohtake e Ministério da Cultura-Brasil Governo-Federal.
Contracapa
Audiodescrição: A contracapa, com fundo branco, é ilustrada por quatro
linhas grossas, duas azuis e duas cor de laranja que sobem paralelas do lado
esquerdo e no meio, se entrelaçam em curvas e elos. No lado inferior direito,
dois elos nas mesmas cores e espessuras sobrepostos.
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