Você está na página 1de 7

17

AULA
A avaliação para recuperação:
as retroações sistemáticas
Meta da aula
Discutir o conceito e as noções de avaliação para
a recuperação com retroações sistemáticas.
objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo


desta aula, você possa:
• Dominar a noção de avaliação para
a recuperação com retroações sistemáticas.
• Evidenciar as críticas a esta tendência
de avaliação.

Pré-requisitos
Para melhor compreender e atingir os
objetivos desta aula, você deverá estar
dominando os conceitos de paradigma
objetivista (Aula 2) e de avaliação para
recuperação (Aula 16).
Métodos e Técnicas de Avaliação | A avaliação para recuperação: as retroações sistemáticas

INTRODUÇÃO Como já vimos anteriormente, a avaliação para a recuperação é integrante


do conjunto de tendências características do paradigma objetivista, com
diversas influências provenientes da cibernética. Vimos também que é uma
avaliação reguladora para a conformidade. Sua prática supõe que os desvios
das trajetórias previamente traçadas sejam determinantes de recuperações,
isto é, toda vez que deixar de haver alguma conformidade com os objetivos
escolares previamente definidos, as recuperações se tornam necessárias.
As críticas a essa modalidade de avaliação evidenciam, então, ser não apenas
reguladora e autoritária, mas, sobretudo, importante instrumento conservador
de uma realidade que considera inquestionável.
Agora, no presente texto, veremos outra vertente da avaliação para a
recuperação, igualmente situada no contexto da “pedagogia do sucesso” e
da chamada avaliação cibernética.

A palavra cibernética – Há quem afirme que a palavra cibernética, em sua


versão contemporânea, começou a ser usada pelo matemático americano,
Norbert Wiener (1894-1964), a partir da publicação, em 1948, do seu trabalho
“Cibernética ou regulação e comunicação no animal e na máquina”. Outros,
entretanto, reivindicam sua origem para o físico francês André-Marie Ampère
(1775-1836).
O fato, porém, é que, a despeito das reivindicações, muito antes de todos, Platão
(427-347 a.C.) já usava a palavra para designar a arte de dirigir os homens.

A AVALIAÇÃO PARA A RECUPERAÇÃO

A avaliação para a recuperação, na abordagem daqui em diante


apresentada, trabalhará sempre com as chamadas retroações sistemáticas,
o que quer dizer que o processo de aprendizagem será tantas vezes levado
a voltar quanto for a necessidade de corrigir a “progressão dos alunos
nos pontos de entrada, de passagem e de saída do sistema” (BONIOL;
VIAL, 2001, p. 221). O uso exagerado de técnicas também caracteriza
essa modalidade de avaliação. Como na avaliação para a recuperação,
vista na Aula 16, nesta, de igual modo, o tecnicismo é supervalorizado
e é o que guia, rege e domina a situação de avaliação.
A grande diferença entre as duas tendências de avaliação para a
recuperação é que, na primeira, a avaliação ocorre sempre, continuamente,
toda vez que houver alguma evidência de erro/desvio de aprendizagem.
Nesta tendência que estamos apresentando, as retroações, isto é, as

68 CEDERJ
modificações, alterações ou correções do que foi feito, diferentemente,

17
somente ocorrem em momentos determinados: a) nos pontos de entrada,

AULA
ou seja, nos momentos iniciais da aquisição de conceitos, noções etc.;
b) nos momentos de passagem, ou seja, nos momentos de aplicação de
abstrações em situações particulares e concretas, correlacionadas ou
não; c) nos momentos de saída do sistema, isto é, em face dos produtos
escolares realizados.
Na perspectiva de Boniol e Vial (2001, p. 219), esta avaliação,
como a anterior, é também formativa, pois regula a formação, garantindo
que seus meios possam ser adaptados aos estudantes. Em seu centro
situa-se o interesse pelos procedimentos dos estudantes e é permanente
a intenção dos professores de contribuir para melhorar as aprendizagens
em curso. Aliás, para Perrenoud (1999), o que faz com que uma avaliação
seja formativa é exatamente esta intenção docente. Em sua perspectiva,
mesmo sabendo-se que em toda avaliação contínua há uma parcela de
avaliação formativa, ele enfatiza que somente é formativa aquela que
ajuda o estudante a aprender e a se desenvolver.
Vejamos como Perrenoud (1999) diz isso, com suas próprias
palavras:

É formativa toda avaliação que ajuda o aluno a aprender e


a se desenvolver, ou melhor, que participa da regulação das
aprendizagens e do desenvolvimento no sentido de um projeto
educativo. Tal é a base de uma abordagem pragmática. Importa,
claro, saber como a avaliação formativa ajuda o aluno a aprender,
por que mediações ela retroage sobre os processos de aprendizagem
(p. 103).

Allal (1983), um dos mais importantes estudiosos de avaliação,


também entende que a avaliação para a recuperação com retroações
sistemáticas, pode ser formativa, “como meio de regulação no interior
de um sistema de formação”. Alerta, porém, que tenha, pelo menos,
três etapas essenciais na prática escolar cotidiana. Na primeira, faz-se a
coleta de informações acerca das facilidades, dificuldades e progressos
dos estudantes; na segunda, as informações coletadas são interpretadas
à luz de determinados critérios, tentando-se diagnosticar as origens
das dificuldades de aprendizagem; e, por último, na terceira etapa, as
atividades de ensino e aprendizagem são adaptadas aos estudantes.

CEDERJ 69
Métodos e Técnicas de Avaliação | A avaliação para recuperação: as retroações sistemáticas

Em termos mais pontuais, Allal (1983) nos diz que a aplicação


dessa modalidade de avaliação apresenta-se escalonada. Assim, após
as atividades de ensino e aprendizagem, é possível aplicar um controle
escrito (teste, exercício...) a todos os estudantes; os resultados obtidos
se prestam às analises do professor e dos estudantes: os objetivos foram
ou não alcançados? Quais as dificuldades encontradas? Por último, o
professor, então, deve preparar novas atividades de recuperação, “em
função do perfil de resultados obtidos”. É praticamente inevitável essa
retroação aos objetivos não dominados.
Em termos de avaliação contínua, menos pontual portanto,
os procedimentos de avaliação integram os processos de ensino e
aprendizagem. Isto é, o professor vai observando e interagindo com os
estudantes para identificar as dificuldades, as suas causas e os modos
de corrigi-las por meio de adaptações das tarefas aos estudantes.
Segundo Allal (1983), as interações, além de permitirem a regulação
das atividades, permitem até o oferecimento de uma orientação
(grifo do autor) personalizada.
Voltando, porém, à perspectiva de Boniol e Vial (2001) notamos
que, com base nela, pode-se considerar esta avaliação como sendo típica
do que chamam sistemismo; nela o professor-avaliador comanda o
processo de ensino-aprendizagem que se desenvolve no âmbito do sistema
de formação, tira partido dos seus conhecimentos e revela aos estudantes
todas as diretrizes necessárias ao sucesso. Em uma aproximação com
a cibernética, eles comparam o papel dos professores nessa situação de
avaliação, ao dos condutores de máquinas robotizadas, admitindo ser
possível ao professor transferir “para o vivo e para as práticas sociais
as leis técnicas e a vontade de pilotagem”.

70 CEDERJ
ATIVIDADES

17
AULA
1. Sugerimos que você faça dois textos e, em seguida, discuta-os com seu
tutor:

a. Análise da modalidade de avaliação que estamos estudando nesse texto.


__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

b. Descrição de uma prática observada, destacando as aproximações e


distanciamentos da modalidade de avaliação em estudo.

__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

CEDERJ 71
Métodos e Técnicas de Avaliação | A avaliação para recuperação: as retroações sistemáticas

CRÍTICAS À AVALIAÇÃO PARA A RECUPERAÇÃO COM


RETROAÇÕES SISTEMÁTICAS

Há críticas incisivas à avaliação para a recuperação com retroações


sistemáticas. Boniol e Vial (2001), por exemplo, fazem-lhe diversas
críticas. Eles a criticam por ser uma regulação de/para a conformidade,
por transformar em desvios todos os imprevistos, por ser linear e por ter
como objetivo único o sucesso do sistema de formação.
Vial (1993) por seu turno, e sem a companhia do parceiro, também
critica essa avaliação, entre outras razões, por resumir-se “a um meio de se
chegar à aquisição do referencial didático e de controlá-la”, submeter-se
indiscutivelmente aos referenciais e saberes do professor, sempre adaptar
os conteúdos aos estudantes, e dissimular “o fato de que só o avaliador
é autorizado a ser avaliador e de que o formando é a coisa avaliada”.
Esse autor ainda destaca criticamente sua capacidade de “adaptar, tornar
conforme”. Em nosso modo de ver, é mesmo criticável a disposição dessa
modalidade de avaliação para aceitar e incutir estados de dependência
e docilidade.
Outro crítico dessa modalidade de avaliação é Abrecht (1991),
para quem, antes de qualquer coisa, é muito mais uma forma de controle
do que uma verdadeira avaliação na medida em que nega espaço ao
complexo e ao confuso, assim como também às atividades pessoais, à
pesquisa e à invenção. Ele também critica, com muita ênfase, o lugar
de destaque, de prioridade e de valorização que adquire “o preciso, o
delimitado e o que pode ser situado no movimento de aprendizagem”.
Em sua opinião, a avaliação para ser formativa na acepção da palavra
não pode ser mecanizada, limitada ou impor procedimentos a partir do
exterior, “falsificando, assim, os próprios dados da avaliação”.

72 CEDERJ
17
RESUMO

AULA
A avaliação para a recuperação, com retroações sistemáticas, como vimos, é uma
modalidade de avaliação situada no âmbito do paradigma objetivista. Como outras,
supervaloriza a téchne, permitindo assim ser muito realçado seu caráter tecnicista.
Na prática, o seu desenvolvimento incorre em uma pedagogia comprometida
com o sucesso do sistema de formação. Porém, como seus críticos afirmam, nessa
modalidade, qualquer descoberta pessoal por parte dos estudantes está impedida,
descartada. É uma prática avaliativa para a conformidade, para a submissão das
vontades e das idéias.

ATIVIDADE FINAL

Ao final da leitura deste texto, você consegue:

• Redigir uma noção de avaliação para a recuperação com retroações


sistemáticas?

• Escrever um texto comparando os dois tipos de avaliação cibernéticas: avaliação


para a recuperação x avaliação para a recuperação com retroações sistemáticas?

• Há ainda alguma parte deste texto para a qual precisa de ajuda para estruturar
seu pensamento? Em caso afirmativo discuta com seu tutor. Para um aprendizado
significativo é importante que suas estruturas cognitivas estejam bem formadas.

INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA

Em nossa próxima aula teórica vamos discutir a avaliação interna e externa da escola.

CEDERJ 73

Você também pode gostar