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A NOVA
PONTE
A Katembe ficou tão perto! E a cidade
TENDÊNCIAS
A inteligência
artificial vai
uniu-se à sua outra margem, superar-nos?
impulsionando a economia
e reduzindo as distâncias
REVISTA MENSAL — ANO 5 — NO 67 — JUNHO 2018
TIRAGEM: 10 000 EXEMPLARES - CAPA: JÚLIO DENGUCHO
MOÇAMBIQUE
32 AICEP Luís Castro Henriques explica porque as empresas que
integram a CPLP já dispõem de um dos maiores mercados do mundo
NEGÓCIOS
36 Eléctricas Moçambique já produz motas eléctricas e a adesão
é grande, revela a AFRIEMET, empresa de capitais chineses
40 Alarmes Mauro Cuber tem veia de empreendedor e o seu negócio
de montagem de alarmes está em franca expansão
44 Mundial de Futebol As equipas africanas que este ano representam
o futebol do continente na Rússia já garantiram dez milhões de dólares
GLOBAL
32
CPLP: Um dos
50 Comércio O conflito entre os Estados Unidos e a China já começou e
pode ameaçar o sistema de comércio mundial, defende Larry Summers
54 Estados Unidos A dívida do país continua a crescer e já é 76% do PIB
maiores
mercados do GESTÃO
mundo 56 Produtividade Tecnologias que nem existiam ou eram demasiado
AICEP
36
MOTAS:
é abordado por José Salibi Neto e Sandro Magaldi
ESPECIAL
Eléctricas 62 Inteligência artificial A inteligência artificial vai ter um impacto
e oriundas radical na economia e no emprego
da China
MARKETING
76 PME A Samplify contrariou a crise e convenceu empresas como
a Nestlé e a Avon a voltarem a oferecer produtos
82
DÉFICE: O saldo
LIVRO
78 Choque Para Ian Bremmer, o próximo choque político irá traduzir
das contas o confronto entre perdedores e vencedores da globalização
JÚLIO DENGUCHO
ONG
88 Igualdade A luta pelos direitos das mulheres tem 25 anos
SECÇÕES
Editorial 6
Primeiro Lugar 8
OLIVIER DOULIERY/AFP/GETTY IMAGES
Grandes Números 16
Mundo Plano 48
Gestão Moderna 56
Dinheiro Vivo 72
Bazarketing 86
Exame Final 98
4 | Exame Moçambique
CARTADODIRECTOR
IRIS DE BRITO
Edifício Rovuma, Rua da Sé, n.º 114,
DIRECTORA Escritório 109
MAPUTO, MOÇAMBIQUE
INFRA-ESTRUTURAS
geral@examemocambique.co.mz
Directora: Iris de Brito
A
Director Executivo: Jaime Fidalgo
s estimativas mais recentes do Banco Afri- (jaime.fidalgo@examemocambique.co.mz)
cano de Desenvolvimento (BAD) suge- Arte: Elsa Pereira
rem que para o continente africano são Colaboradores Regulares:
Valdo Mlhongo, Levi Mutemba (texto),
necessários 130 a 170 mil milhões de dóla- Thiago Fonseca (crónica),
res por ano para suprir as necessidades mais ime- Júlio Dengucho (fotografia),
diatas ao nível de infra-estruturas (ver EXAME e Pedro Pinguinha (arte final)
Colaboraram nesta edição:
Abril de 2018). Para preencher as lacunas ao nível Alcina Gomes, Aline Scherer, André Lopes,
do financiamento público, que devem rondar os Carla Castro, Elmano Madail, Filipe Serrano,
60% destes valores, o BAD sugere uma proactivi- Gustavo Magaldi, Naiara Bertão, Rafael Kato,
Renata Vieira, Sofia Fernandes (texto),
dade governativa no sentido de captar o interesse Edilson Tomás, Ricardo Franco (fotografia)
de investidores institucionais, bancos comerciais, Direitos Internacionais:
fundos soberanos e o financiamento via mercado. EXAME Brasil (texto e imagens),
E deveria atrair o interesse de todos. De facto, quantas mais opções de finan- AFP, Graphic News e IStockPhoto
ciamento, maior a possibilidade de existir um custo do capital mais baixo e uma Coordenação Geral: Marta Cordeiro (projecto),
Inês Reis (arte)
estrutura de financiamento compatível com os diferentes projectos em termos Multimédia e Internet: Plot.
de prazo e risco. www.examemocambique.co.mz
O Orçamento de Estado de 2018 (ver EXAME Fevereiro de 2018) afecta 17%
da despesa nele inscrita a infra-estruturas, sendo que 75% desta verba se destina PUBLICIDADE
+258 843 107 660
à construção e manutenção de estradas. Infelizmente, a dificuldade de acesso ao comercial@examemocambique.co.mz
financiamento tem limitado a execução orçamental nesta matéria, o que levou Comercial: Gerson dos Santos
já o governo a procurar novas formas de financiamento, como ficou patente no ASSINATURAS
Fórum das Infra-Estruturas em Tete, realizado há cerca de um ano, em que o Moçambique: Nádia Pene, +258 845 757 478
Estado apresentou projectos compa- Portugal: Ana Rute Sousa, +351 213 804 010
tíveis com o investimento privado na assinaturas@examemocambique.co.mz
ordem dos 3000 milhões de dólares.
As estradas, e outras infra-estru- As estradas, e outras REDACÇÃO
+ 258 21 322 183
redaccao@examemocambique.co.mz
turas, permitem a melhoria da cir-
culação, fundamental para a criação
infra-estruturas, permitem Produção: Ana Miranda
6 | Exame Moçambique
MOÇAMBIQUE AICEP
“O MERCADO
DA CPLP
JÁ CONTA
NO MUNDO”
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) Luís Castro
Henriques:
tem o potencial de se constituir como um dos mercados Para o presidente
da AICEP, o facto
mais interessantes do mundo, uma possibilidade real que de os países-
deve ser encarada pelos empresários dos países-membros -membros
pertencerem
ELMANO MADAIL a blocos de
O
comércio
diferentes traz
mais vantagens
facto de os países-mem- num mercado onde seja mais livre a do que
bros se inserirem em dife- circulação de pessoas, bens, capitais desvantagens
rentes mercados e blocos e serviços entre os países-membros.
económicos regionais não Quais são, hoje, os maiores entraves
reduz, antes pelo contrá- à sua concretização visto que, além vantagem para os próprios países da CPLP.
rio, o impacto da comunidade empresa- das regras internas de cada um, Por exemplo, se uma empresa moçambicana
rial dos países que têm o português como os membros pertencem a blocos quiser exportar para Portugal não deve olhar
língua oficial, considera o presidente do económicos distintos (como a União para 10 milhões de consumidores mas para
conselho de administração da AICEP — Europeia e a Zona de Comércio Livre os 500 milhões da UE. Isto pode gerar res-
Agência para o Investimento e Comércio Continental de África)? trições — são blocos de comércio diferen-
Externo de Portugal, Luís Castro Henri- Temos de olhar para a dimensão económica tes — mas as vantagens são maiores do que
ques, que esteve em Maputo para parti- deste mercado. É normal que haja obstácu- as desvantagens. O foco não deve estar nas
cipar na 1.ª Conferência Económica do los de natureza administrativa ou geopolí- barreiras mas nas oportunidades.
Mercado CPLP e falou com a EXAME. tica e choques com acordos mais abrangentes
que os países têm. Mas vejo o facto de Por- Quais os maiores entraves, para os
A Confederação Empresarial da tugal estar na União Europeia (UE) e de empresários, nesse mercado CPLP?
Comunidade dos Países de Língua outros membros, como Moçambique, em A circulação rápida de pessoas (vistos), os
Portuguesa (CPLP) quer afirmar-se outras zonas de comércio livre, como uma critérios locais para estabelecer empresas
32 | Exame Moçambique
Luís Castro Henriques Para o
presidente da AICEP o facto de os
países mebros pertencerem a
blocos de comércio diferentes traz
mais vantagens do que
desvantagens
AICEP
e a padronização de produtos. A AICEP uma padronização limitadora do acesso Num mundo cada vez mais
está a fazer o seu levantamento, alargado a um mercado... Mas pensemos ao con- estruturado em blocos económicos
a outros fóruns, para ver quais as medidas trário: pelo facto de ter um parceiro na fortes, formados por contiguidade
de solução mais rápida. CPLP como Portugal, integrado na UE, geográfica, é viável um mercado
se eu souber que, ao padronizar, estarei a livre numa dispersão tão grande
É justo impor critérios de ter acesso ao maior mercado do mundo, com interesses, práticas e culturas
padronização a produtos de esta é uma perspectiva diferente. É pre- tão diversos?
economias emergentes, como ciso encarar a CPLP não como o soma- O potencial do mercado da CPLP é enorme.
Moçambique, iguais aos de economias tório de muitas partes mas ver o global, E a candidatura da França [em Maio] mos-
maduras, como a da UE? Não há uma que é muito mais vasto do que as oportu- tra o interesse que tem. E parte das suas
desvantagem a priori? nidades dentro do mercado doméstico e, vantagens advém da diversidade geográ-
Depende da perspectiva. Podemos achar até, da própria CPLP. E isso é uma vanta- fica, porque a CPLP toca na América do
que, não tendo mecanismos de produção gem enorme. Devemos olhar pelo lado da Sul, no Leste e Oeste africano, na Europa,
tão competitivos, não devia ser forçado a oportunidade, que tem os seus desafios. na Ásia, e cada um dos países traz recur-
junho 2018 | 33
MOÇAMBIQUE AICEP
AICEP
distribuído pela organização, acentuou,
no decurso da reunião, que “os países
membros da CPLP precisam de estar
ligados economicamente pois a economia
“A CPLP é muito mais que o somatório de muitas
é o pilar para o desenvolvimento
de qualquer sociedade”.
partes, é um horizonte muito mais vasto
do que as oportunidades no mercado doméstico”
sos e competências muitíssimo relevantes. tirem aqui, porque olham para diferentes dos possíveis — e cá está a importância
E, depois, o mercado actual da CPLP, com geografias e Portugal já tem uma posição da CPLP! —, o primeiro dos quais talvez
250 milhões de pessoas, já conta no mundo. — embora com redução estes anos — rele- seja Portugal, até como porta de entrada
vante no investimento em Moçambique. para a UE. Há ainda outros sectores de
Se os observadores se tornarem O actual enquadramento, com estabili- interesse, como o do turismo, e, tendo em
membros efectivos faz sentido dade cambial e de inflação, trará condições conta o futuro da economia moçambicana,
continuar a chamar-lhe CPLP? favoráveis ao investimento e o acréscimo o das infra-estuturas, nos quais também
Sim, porque o elemento que une estes paí- do interesse em Moçambique. já temos presença.
ses todos é a Língua Portuguesa, que está
a ser valorizada pelos próprios observa- E quais as áreas mais atractivas para Como espera Portugal participar no
dores. Portanto, não retirará a identidade os portugueses? projecto de exploração do gás natural
desta comunidade. Aqui há oportunidades muito diversifica- da bacia do Rovuma?
das e a presença das empresas portuguesas A Galp, portuguesa, já participa. E a AICEP,
Na CPLP, Angola e Brasil sempre vai da banca à indústria. Temos grande pre- tanto cá como na sede, tem desenvolvido
foram preferidos pelas PME sença na área agro-alimentar e tudo o que esforços para colocar fornecedores por-
portuguesas. Estando menos bem, está à volta porque actualmente é um negó- tugueses em contacto com os players do
como é que Moçambique pode cio integrado de logística global. Assim, ao projecto do gás natural, o que terá resul-
capitalizar a crise alheia e cativar olharmos para o sector agro-alimentar em tados nos concursos que irão sair. E há
os investidores portugueses? Moçambique como oportunidade é com entusiasmo, por parte de quem lança os
Não se trata de os empresários portugueses a ambição não só de produzirmos para o concursos, em contar com empresas por-
se desviarem de outros destinos para inves- mercado local mas para todos os merca- tuguesas. E que estão cá, que são de cá.b
34 | Exame Moçambique