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patsy redenburg ® segunde circule Tradugio Maria Clara De Biase W. Fernandes CIP-BRASIL, CATALOGAGAO-NA FONTE SINDICATO NACIONAL OS EDITORES DE LIVROS, B. ‘Rodenbueg, Patsy, 1953- 5036 ‘O segundo circu / Patsy Rodenburg; treducio: Maria ‘Clara De Biase W, Fernandes ~ Rio de Janeiro: BestSller, 2009. ‘Tradugio der "The second circle ISBN 978-85-7654-279.8 1, Sucesso, 2, Psicologia energética. 3. Psicologia positive, 4 Tecnicas de antoajuda. I Titulo. 09-2083 DD: 1581 DU: 158.947 “Texto revisado segundo o novo Acorde Ortogriice da Lingua Portuguese. Tinulo original norte-americano ‘THE SECOND CIRCLE (Copyright © 2008, 2007 by Patsy Rodenburg, ‘Copyright da traducio © 2009 by Editora Best Seller Leda. Dingramagior 6 de casa ‘Todos os direitos reservados, Proibida a reproducdo, ‘no todo ou em parte, sem autorlzagéo prévia por escrito da edtora, s9jam quas forem os meios empregados. Diseitos exclusives de publicagéo em lingua portuguesa para o Brasil adquiridos pela EDITORA BEST SELLER LTDA. ‘Rua Argentina, 171, parte, Sio Crist6vlo Rio de Janeiro, RJ ~ 20921-380 ‘que se reserva. a propriedadelterétia desta tradusio Tmpresso no Bras ISBN 978-85-7604-279-8 ‘PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTAL (Caixa Postal 23.052. ‘io de Janeiro, RJ 20922-970 Para Michael O que 0 amor? Nao é 0 futuro. A alegria presente tem riso presente. — Wits Suaxcsrzane, Noite dereis | Agradecimentos “Muuitas pessoas me apoiaram pessoal e profissionalmente quando cescrevi este livro Sou muito grata a Kare Adams, pela f€ no livro, ea Bob Weil, pela orientacio clara; Joe Spieler e Arabella Stein, pela energia cons- ‘ante; meu caro administrador e amigo Rick Score, particularmente pela paciéncia; Tyne Rafaeli, pelo zelo e extrema inteligéncia, ‘A.um maravilhoso grupo de amigos e colegas que me cartega- ram em partes da jomada: Wendy Allnutt, Sue Barnet, Mary Car- tes, Maria Connor, Jan Cutts, Gil Dove, Anna Garduno, John Harle, Jenny Harris, Barry Ife, Wyn Jones, Brigid Larmour, Katie LeOrisa, Simon Mainwaring, Kelly McEvenue, Larry Moss, Lesley ‘Mardin, Ruth Padel, Lisa Robertson, Max Rodeaburg, Alaknanda Samarth, Mischa Scorer, Christina Shewell, Eliot Shrimpton. A grandes educadotes: meus alunos na Guidhall School of Music and Drama. E, finalmente, & querida Antonia Franceschi. Sumario Introducéo u Parte um: Encontrando sua presenga 1 | Presenga a 2 | Como presenga € perdida? 33 3 | Os"Thés Circulos de Energia 37 4 | Como entrar no Segundo Circulo 9 E 5 | Corpo 61 EF 6 | Tiabalhando no corpo do Segundo Circulo n 7 | Respireséo 83 8 | Respiracio do Segundo Circulo: entrando em contato «99 9 | Voz 105 10 | Palavras 119 11 | Audisio 133 412 | Sensidos 143 13 | Mente 7 10 0 Segundo Circuto 14 | A verdade por ens dos clichés 15 | Coracio 16 | Repouso ‘17| Trabalhando com o préptio medo 18 | Defendendo a presena 19 Os sabotadores 20 | Ameagas 21 Testemunhando o dano 22 | Tecnologia 23 | Eventos que saboram 24 Maior liberacio emocional Parte dois: Viva com plena presenga 25 | Familias 26 | Relacionamentos, casamento ¢ sexo 27 Comunidades 28 | Educagio 29 | O local de trabalho 30 | O mundo corporativo 31 | Profssoes que dependem do Segundo Cireulo 32 | Lazer 33 | Purificando a energia negativa 34 | Pritica didsia Novos comegos Sobre autora 151 157 165 169 173 183 187 203 207 25 23, 233, 245 253, 257 265 a 281 301 307 3 315 317 Introdugao Este livro mudard sua vide e despertard cm voct rode 0 poten- cal humano. Mudard seu modo de se envolver com os outros: de olhat, ouvis, pensar, sents, aprender e fazer negécios. Fard se sem, Grmals seguro, desafiard sua compaixio, orédio ea negatividade. ‘Voce entrar no mundo com esperanga ¢ vida — renascido com Dresensa positiva. Aprenderéa se Jembrare canalizar esa enetgia vital em todos os aspectos da vida. Para vivenciar por compleo o potencial do Segundo Citculo, vocé realmente precisa se permitir volear & Presenga positiva com que nas- ceu. Essa presenga o tomar mais bem-sucedido, feliz e amoroxo, Es o problema com a palavra “presenca”. Muitas pessoas acham que ¢ algo que vocé tem ou néo. Um dom de Deus, come S© por exemplo, o carisma que abrilhanta um ator famoso no fesse palpavel e ndo pudesse ser obtido. Discordo: vocé pode no cra maquiagem, as roupas ¢ os efeitos de luz que realgam os as tos, mas pode aprender a descobrir todo o seu carisma. Tudo isso € energia, Energia presente — clara, total e atenta 12 0 Segundo Circuto Ente livro¢ minha busca por energia positiva comesaram trin- ‘3 anos atrés. Durante esse tempo, tive o privilégio de trabalhar com alguns dos artists mais bem-sucedidose famosos do plane ‘a. Talvea o mais intrigance seja que trabalhei nZo s6 com lideres cotporativos¢ pessoas que servem & sociedade — como professo- res, médicos advogados —, mas também com pessoas & margem dela: prsioneiras. Deixe-me explicar, Quando eu era over, adorava a obra de William Shakespeare e ‘me sinto abengoada por ter podido passar muitos anos trabalhan- do com ela. Quanto mais 0 fazia, mais percebia que realmente a adorava, aio &6 devido ao brilho da linguagem ou da profunda compreensio dos seres humanos, mas porque Shakespeare gosta- va de nds, Realmente se imporcava com as pessoas, sabia que éra- ‘mos mais unidos porsemelhancasdo que separedos por diferencas, O mais importante é que nos pediu para nos comportarmos me- thor do que &s vezes estamos dispostos. De modo eategrico, re velou-nos que sé podemos amar incondicionalmente, encontrar intimidade, ser iguais e usar bem o poder se estivermos presentes tas para os outros ¢ o mundo. Através do trauma e da perda ele guia Os personagens em um plano de presenga positiva. ‘Tenho visjado e trabalhado por todo © mundo. Se as pessoas que encontro nas viagens ficam sabendo que trabalho com Shakes- eare, fequentemente citam uma de suas frases mais fumosas: “Ser ou néo ser, eis a questo.” Neste livro explorarei o “ser ou néo set” € provarei que vooé tem uma opsio, pode viver ¢ estar presente positivamente no Se- gundo Circulo consigo mesmo e com os outros. Se quiser Em 1977, comecei a lecionar para arores de vétias universidades ¢ ‘companhias de teatro. Naqueles primeizos tempos trabalhei com Introdugio 13, alguns astros — mas principalmente com jovens estudantes inex: Pesientes— thes ensinando habildades de vor, flac linguagem, Descobri que a preparagio técnica era relativamente cil, porque cles s6 tinham de aprender e repetircertos exercicios, Mae ajuda. fos a entender o que diziam e por que o diziam era mais dificil, embora possivel, Elesse tornaram audiveis, coerentes ¢ interessantes dese ercu- ‘as; mas isso nao bastava. Ex me sentava e ouvia talvez duzentos Por semana. Nao conseguia entender por ‘Que certos atores faziam tudo direto ¢, contudo, nao conseguiam me envolver ou conven cer Alguns eram realmente impressionantes, inteligentes ¢ oxi. biam habilidades complesas. Mas eu esquecia do tabalho eles — nio permanecia na minha meméria. Outros eram multe bonitos, mas néo envolvidos o bastante para serem sexualmente atraentes. O que estava faltando? Indagava aos professores mais velhos eexperientes a esse respei- ‘©, e eles sorriam ¢ diziam algo como “E talento, ou tem ‘presence, Fulano de tal simplesmente no tem isso”. Uma “sso”. Os colegas pareciam estar sugerindo que, Lvesse, fugizlhe a0 poder obté-lo ou a0 meu ensiné-lo, Pelo jeito, aqueles que nao o tinkam — os sem presenca—cairiam em um bursco na rua e desspareceriam para sempre. Agora, o que voot deve saber sobre mim no comeco deste li- wo € que sou teimosa e tenho grande senso de justca. Achei as ‘eases dos outros professores muito injustas e no aceitaria a de- sigualdade da presenca humana. Além disso, de vez em quando, uum dos alunos que inicialmente néo pareciam ter “isso” subita, mente o obtém. E se eu reconhecesse essa mudanca, alguns iriam ‘manté-la. Outros professores a notariam ¢ esse aluno que estava fracassando comecaria a ser bem-sucedido. Era um milagre? Eu achava que no. Mesmo naquela época, sabia que no era um 14 0 Segundo Circulo dom o que eu estava apresentando, mas uma energia que todos rags temos; de algum modo, permitira 2 um aluno descobrir a verdadeira energia, a presenga. Comecei a tentar definir essa pre- senga.e possibilitar aos alunos trabalharem com ela. Sabendo que 0 processo tinha algo 2 ver com energia, passei a reconhecer os diferentes tipos que um ser humano pode aprendera utilizar a energia do corpo, 2 respiracio, a vor, a mente, 0 coragéo 0 espitito. Todos nés emanamos energia ¢, ouvindo, a recebernos. Damos ¢ recebemos. Descobri que néo era um milagre os alunos recuperarem a presenca, mas uma cragédia terem-na perdido, Co -meceia pereeber que presenca ¢ uma qualidade universal que todos possuimos, mas que de algum modo fica adormecida — “isso” esté ‘nos corpos ¢ na respiracio, e pode ser despertado. Por meio de exercicios formais, comecei a compreender que a ener- gia da presence podia ser desenvolvida, entendida e aumentada, Instintos ¢ medos me diziam que cla sé poderia ser cultivada e cres- ‘cer em uma arena segura. J4 nos primeiros dias, sabia que a presen- ‘sem um individuo é uma forga vital que diminui quando a forsa dda negatividade supera a da positividade em uma armosfera de tra- balho. Desencorajava comportamentos que, pelo que observava, diminuiam a energia: negligéncia,relaxamento, respiracio rasa, voz fiaca, pensamento ignorante, zombaria e cinismo— tudo o que parecia esgotaravitalidade de um ser humano ¢ do grupo ao redot. A presenga se desenvolve em meio a amor incondicional e alegria. Pouco a pouco, identifiquei trés movimentos bésicos de ener- sia. O que passei a chamar de Primeiro Circulo era um movimen- to para dentwo que a levava na diresio do eu. No extremo oposto ‘estava o Terctiro Circulo, em que ela era forcada para fora na dire- ‘edo do mundo em geral. No Segundo Cireulo, a energia se con- cencrava em uma pessoa ou objeto especifico se movia nas duas Introduggo 15 disecdes: de dar e receber. © que todos os atores que possuiam “isso” tinham em comum € operar no Segundo Circulo. Desde cedo eu soube que 2 energia para dentro do Primeiro Circulo e a energia generalizada do ‘Terceiro Circulo eram titeis para todos 1nés, mas a perda permanente do Segundo Circulo em alguns dos slunos era a perda de forca vital. Também percebi que algumas pessoas podiam lidar com o Segundo Circulo fisicamente, mas nao emocional ou intelecoualmente. Meu objetivo zeal era tornar um ser humano capaz de funcionar totalmente no Segundo Circulo. Comecei a levar esse trabalho para fora do teatro e a aplicé-lo a ndo atores. Essa parte da jornada comerou quando eu tinha 23 anos. Re- cebi um telefonema de uma senhora me pedindo para trabalhar com o irméo. Ela parecia preocupada, mas s6 disse que ele inha uma vor escipida e monétona. — Sim — disse eu. — Ele é velho—ela pareceu constrangida e entio comple- tou — néo é muito... normal. — Vou tentar— disse eu. —— Voct € jovem... vooé se incomodaré? — Vou tentar. ‘Chamava-se George. Na casa dos cinquenta ¢ bem vesti- do — pela irma— com uma camisa passada, cardigh, gravata de Ta esapatos engraxados. Estava sentado reto com as pernas juntas. ‘AS méos apertavam tanto os bracos da poltrona que os nés dos dedos estavam brancos. Ele forgou um sortiso para esconder 0 medo ea vergonha. Avvozera apagada, assim como os olhos. Fle no estava ali — es- taria sedado? Como teria dito vové: “Nao ha ninguém em casa, as Iuzes esto apagadas.” Ele tentava me agradar, fizer os exercicios € ‘ampliar 0 alcance da vor — aquilo nao funcionava. 16 0 Segundo Circulo Eume sentia um fracasso, mas a irma de George estava encan- tada. Aparentemente, ele adorava vir para a aula. Aprontava-se horas antes da sessio ... mas no estava melhorando. Eu quis paras, mas precisava do dinheiro! Entio, quando a primavera chegou, eu o vi duas horas antes da aula, sentado na praca do lado de fora de meu apartamen- to — excasiado, olhando para uma drvore de magnélia florida. E, subitamente 1 George — ele estava ali, presente e vivo. Estava no Segundo Circulo com as flores. Depois que George entrou arrastando os pés no apartamento © comecamos aula, perguntei: — O que as flores fazem voot sentit? — Catedrais — a resposta veio em uma vor téo alta quan- to as abdbadas géticas que cle adorava. George me falou sobre as catedrais que visitou. Estava totalmente presente, envolvido € com os olhos focados. — Tode aquela beleza descendo sobre oct. Ele terminow e logo se distanciou de mim edo mundo; masa aixdo pelas catedrais teve presenca de paloo. George me ensinou que ela pode ser destravada se vocé en- contra a chave, Uma drvore de magndlia destravou a presenga. ‘Nao tive a oportunidade ou a capacidade de transfetir isso para outras parces da vida dele e temia que vivesse principalmente no Primeiro Circulo— isolado do mundo. Mas por um momento, diante de mim, George teve presenga, € entio eu soube sem som- bra de divida o que Shakespeare sabia: todo ser humano tem Presence, ¢ & essa energia humana universal que une todos nés, Sio 0s hébitos aprendidos que acabam com a presenga natural © conexio com os outros no mundo. A presenca é 0 estado na- ‘ural. Scus hébitos so pessoais. George me fez olhar novamente Para. mundo e procurar pelos Tiés Circulos em toda parte. Introdugio 17 Foi mais facil do que pensei. Bles estéo ao redor e dentro de nés em todas as interagdes sociais. Em todos os encontros, notei que uma pessoa vinka de um dos Tiés Circulos de energia. Inde- pendentemente de posigées sociais, as que vinham do Segundo Cizculo tinham uma qualidade semelhante & presenca de paleo, Como George eas flores de magnélia, se conectavam ese sentiam “todas ali”. © contato com pessoas assim me animava. Nos trinta anos que se passaram desde que me deparei pela primeira vez com essas energias, eu as ensinci sempre que pude e ‘onde pude. Independentemente de se 0 desafio era conquisaar a confianca de um paciente, administrar uma sala de aula cheia de adolescentes indisciplinados, fechar uma venda, tomara palavra na (Cimata, lidar com repérceres hostis ou sobreviver em uma prisio de seguranga méxima, os claros vencedores eram aqueles com pre- senga. Na verdade, vocé nao pode ganhar nada sem ela; mesmo se a obtiver por apenas um momento, é esse momento que Ihe muda- ti avida. Os chamados ‘perdedores” s6 perderam 2 presenga. Todos podem adquirir essa qualidade fugidia que os atores chamam de “isso”. A teotia ¢ ficil de entender — chega a parecer simples —, mas a aplicagio exige muita pritica, particularmente se voce deseja que se torne permanente. Exercicios lhe permitem aperfeigoar todos os aspectos da presena: poscura, tespiracéo, ‘vor, consciéncia sensorial, escura, pensamento claro, generosidade de coragio e pura coragem. Este livro explica como “permanecer no Segundo Circulo” pode se aplicar a desafios mundanos ea ex- traordindrios desafios de vida. Sempre que leciono, digo aos alunos que hé muitos anos percebi ter descoberto algo novo no mundo. Tudo 0 que ensino e eserevo a «se respeito jd € conhecido. Vocé realmente “sabe” sobre presenga ¢ €m algum lugar, talvez bem no intimo, hé uma lembranga dela. Eu realmente sci que este livro reativani sua total presenca. 18 0 Segundo Cireulo Nao se apresse. Vi com calma. Alguns dos exercicios sio difi- eis, mas no precisa se punir por assim aché-los. Talvez nao en- senda bem alguns, mas néo se preocupe. Ninguém pode apressar © aprendizado profundo. Voct notard que usei citagbes para real- sat certas areas do trabalho. Algumas lhe parecerio incomuns Aprecie-as mesmo se ndo entender imediatamente sua televincia, ‘Porque mais cedo ou mais tarde poder compreender. ‘Tudo o que tem de fazer para mudar a propria vida é traba- Thar —e vocé ¢ eu mabalharemos. Mas antes acho que devemnos falar mais sobre a presenga e Segundo Citculo e 0 quio bem vocé jé entende essa energia. Por que precisa dela? Deveriamos 20s lembrar de por que perdemas a presenca. Vocé sabe que nio teve culpa de ela té-lo deixado. Alguém ou algo a tirou de voc’. Agora vocé vai recuperdcla, Encontrando sua presenca 1 Presenca ‘Apenas se conecre! — EM. Fonsten, Howards End Tente se lembrar, nio imporca 0 quanto essas lembrancas estejam distantes, de experiéncias do Segundo Circulo: momentos em que oot se conectou toralmente com o mundo ¢ recebeu energia de volta. Poderia ser um segundo, um olhar trocado com uma pessoa esranha ou olhar mais longo e ébvio trocado com um bebé. Lem- bre-se de um equivalente & magnélia de George ou 20 choque € & admiragio de encarar um tigre no zoolégico. Lembre-se daquela stibica energia, como um interruptor ligado no corpo, quando esté dirigindo um pouco desatento e uma crianga atravessa a rua correndo, e voce s6 pode frear se encontrar a presenga. Ou pense na energia que sente quando é seguido por um estranho ¢ precisa de presenca para se livrar dele. Ou na onda de energia quando troca um breve olhat com alguém que no conhece. Ou naquele momento em que en- tende uma ideia, a mente se desanuvia e a luz entra — voce s6 pode ser iluminado quando esté presente. De igual modo, s6 pode experimentar uma emocéo plenamente se esté presente para o sentimento — ese lembra para sempre das texturas dos a 22 0 Segundo Circulo sentimentos presentes — quando experimenta noticias més, boas ou chocantes. Ao ler este livro, coloque-se no presente, 0 que chamo de Se- gundo Circulo, ¢ comece uma jornada vitalicia comigo para se reconectar. A presenca permite a experiéncia, e todas as mensa- gens e ferramentas necessirias para sobreviverfisica, intelectual ¢ emocionalmente séo ensinadas quando se esté presente. Essa é a energia da sobrevivéncia. Quando vocé néo estd pre- sente pode correr perigo, independentemente de se numa selva ou sais perto de casa, no trabalho ou com a familia. © Segundo Cireulo também é intimidade. Dois seres huma- ‘Ros presentes experimentam juntos intimidade e conhecimento miituo; um conhece algo da histéria do outro ¢ portanto, sua bumanidade, Esta pode ser experimentada em um toque, na re piracéo e na voz — mas é imediatamente sentida e vista com os olhos: as janelas da alma, Isso explica porque os executores evitam olhar nos olhos das vitimas. Historicamente, os prisioneiros tém as cabecas cobertas por capuzes ou sio fuzilados pelas costas. Dizem que um dos mo- tivos de Heinrich Himmler ter ordenado a criago de cémaras de gis para a campanha de limpeza étnica do Terceito Reich foi evi- tar a conexéo dos soldados alemaes com as vicimas. Himmler sa- bia que essas conexées poderiam sabotar a Solucéo Final. Os exércitos séo cuidadosamente treinados, em parte para obedecerem a ordens, mas também para serem suficientemente desumanizados em relacio a quem ou por que estio matando. Se isso néo funcionas, dlcool ou drogas funcionaréo — é dificil estar presente quando vocé est “fora de si”. Minha familia conta que, na terrivel Batalha de Somme, na Primeira Guerra Mundial, meu avé dividiu um cigarro com um. soldado aleméo inimigo em uma terra de ninguém. Sentados na Presenga 23 Jama em uma cratera de granada, eles passaram uma hora em si- Jenciosa comunhao. Antes dessa hora de harmonia, tinham se en- contrado, baionetas fixas, bragos treinados para atacar € mata; ‘mas através de seus medos, uniformes diferentes, capacetes e ros- tos sujos, tocaram um elhar ¢ simplesmente se sentaram ¢ fuma- ram um cigarro. Devo acrescentar que essa decisio podria ter resultado em um assassinato covarde de vové ao amanhecer — isto , tanto no fim dele quanto no meu! Os lucadores treinados com méquinas ¢ tecnologia agora po- dem matar sem 0 tisco de estarem presentes com os inimigos. ‘Mas mesmo nas guerras modemnas, voc? ouve hist6rias parecidas Quando os soldados se aproximam dos adversérios, ficam mais vulneriveis as divides. Aqueles que estiveram perto de qualquer ‘morte tendem mais & antiguerra do que quem ficou na torcida, ausente, afastado do paloo dos acontecimentos. Seem algum sonho sufocante voot também pudesse caminhar Auras do vagio onde nés 0 jogamos, E ver os olhos brances se revirando em sua face, A face que cafa, como o vimito pecador do dembnio; Se voc# pudesse ouvir, em cada sobressato, o sangue Que vinha borbulhando de seus pulmées pela espuma corrompidos, Obsceno como o cinoes, amargo como 0 refitxo Das vis, incurdveisferidas nas linguas inocentes, ‘Meu amigo, vocé néo disia com tanta alegria AAs criangas ardentes por alguma gléria desesperada, Avvelha Mentira: dulce et decorum est Pro patria mori* Warne Oven, Dulee er Decorum Eit * Fras latina que significa é doce © honroso momer pela pt 24 0 Segundo Cireulo ‘Muitos filmes exploram 0 momento em que um homem durso faz.contato visual com a vitima e no consegue maté-la. A pais ¢ a huxiria ocorrem em salzs apinbadas quando duas essoas esto totalmente presentes uma para a outta. E isso o que acontece com Rome ¢ Julieta: uma presenga miiua tio force que é Iais rel para eles do que a familia, o dever e 0 medo da morte. No presente, voct e uma pessoa se veem ¢ mudam; ambos sabem disso. Realmente se encontram, néo desviam os olhares. Este é um aconte-

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