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P72,6 MARCIAL, MELT Yas O Cavaleiro do Imperador L005 SESSENTA EPIGRAMAS EM LOUVOR A DOMICIANO 4\, | U.R.M.G, - BIBLIOTECA UNIVE! i NAO DANIFIQUE ESTA ETIQUETA Selegdo, Wraducio, introdugdo e notas Tarefaio Santiago de Almeida INTRODUCAO * Marcial foi um poeta simpatizante do lado cémico das coisas e das pessoas, conpénfase na segunda preferéncia. Sua obra consta de uns mil e quinhentos epigramas, uma palavra puxa-saudade, que faz pensar na Grécia. E pisca 0 olho quando se quer saber seu uso e significado na antiguidade. * Mas antes de falar em epigrama, é preciso dizer que Marcial (Marcus Valerius Martialis) era um espanhol, filho de pais remediados, que lhe providenciaram uma boa escola, gragas a qual aprendeu boa literatura. * Nascido no final dos anos trinta, pouco depois da morte de Cristo, chegou a Roma no inicio da juventude, a tempo de awsistir ds peripécias do imperador Lucio Domicio Enobarbo, (isto 6, Barba de bronze), conhecido neste mundo como Nero. *'Tal nome aconteceu a Nero ainda nas preliminares, assim que sua mae Agripina a jovem conseguiu enganar com umas iipcias o velho imperador Tibério Claudio Druso, sobrinho im (ue, enteado e filho adotivo do imperador, o menino Lticio do outro Tibério e também poderoso em casos. Foi 4 se vit despojado do seu antigo nome, vestindo o Nero Claudio Cewar, que nio the cabia bem, por alguns motivos, incluindo 4 aparéncia, Pois quando saiu da infancia, como se nao bastasse a evidéncia do cabelo, a barba Ihe surgiu com o mesmo tom vermelho ¢ ele se tornou mais Enobarbo do que nunea, bisneto do figurao Cnéio Domicio Enobarbo, dono de uma folha corrida exemplar. * A propésito deste bisavé dose dupla, correu na ‘ntiguidade a piada do desabafo de um intelectual da €poca, ao vé-lo num povoado, montado em elefante, com infinita escolta de soldados. “Nao admira que tenha barba de bronze, se tem boca de ferro e Coragao de chumbo”. * E verdade que, na tal circunstancia, 0 bisavé regressava triunfante de mais uma expansao do territério romano e, além disso, era cénsul. Eo consulado era em Roma uma espécie de presidéncia da teptiblica, embora com dois presidentes. Pois os cOnsules eram dois, cleitos a ca ida ano. O que nao os proibia de serem reeleitos. ° De modo queo problema daquele tao distante intelectual nao deve ter sido 0 desfile de Cnéio Domicio, nemo elefante. Talvez, quem sabe, tenha sido 0 fato de haver, naquele momento, mais escolta de soldados do que Povoado. De qualquer Maneira, podemos voltar no tempo e imaginar 0 jovem Marcial de frente A Casa de Ouro de Nero, De um lado, a estatua colossal do imperador, cuja cabega foi depois substitufda pela cabeca de Apolo. De outro, um piscinao posteriormente transformado no anfiteatro Flavio, cuja proximidade do colosso de Nero Ihe valeu 0 nome de Colosseu, que derivou no Coliseu de hoje. E no testante do espago, a Casa de Ouro propriamente dita, saldes e salas, mais corredores infindos de Cintilagdes que, antes do reverberar da inauguragao, dei xaram Roma pobre, * Alguns imperadores Tomanos tiveram duas fases. Uma primeira em que foram até razodveis, segundo og historiadores, e outra em que definitivamente despencaram. esses, com uma fase curta e€ sabia, em que até filosofos deram as Cartas. Entre estes, 0 célebre Séneca, de inicio também est6ico, escravo da razao e da ordem, mas pouco depois miliondrio, banqgueiro e agiota. ¢ Foi na segunda fase que Nero percorreu a ee ee em todos os palcos de todos os COncUrsos & ae mae louros de vencedor, do comego ao fim. mee res E ee gordo sem ser bonito, cabeléo amarelo avermelhado. E fra ca e rouquenha, pelo que reza a fama. * Nessa fase final, ele matou a bega, de ane ae ane 4 mae Ihe escapou. Mas quando eomerou 3 “at ae miliondrios, parareter-lhes a fortuna, e assim sa ie ke aan do estado arrebentadas pela Casa de Ouro, veio a g! 2 nei violéncia politica, foram catorze anos de Ne o da vio pe a, fora atol d n ais XO, CxIb1gac esta, como nunca antes. Trés generai ie b e festa, gi : cederam e. depois do outr ‘am fumagados, até que 1S ‘0, for id suced um dep: : i um brucutu de verdade entrou com mao de ferro e em onze OS POs a cas: dei IV Spasiano. anos pds a casa em ordem: Tito Flavio Vespa * Como as elites antigas desapareceram durante P. civil no teinado de Nero (54-68 Sete Ase ae de encontrar o espago livre para a introdugdo ee clunwe de servidores do estado, que preparou o segundo s de Roma, lembrado com respeito. * ‘Tudo isso para dizer que, em Romano ae Bilbilis viu de tudo, E para sobreviver, foi aa Te com pequenos poemas ( os tais aoe a a boa e gente ruim, buscando compreender o q' sentido, Um exemplo: No humor e na maldade sendo iguais, Mulher péssima, péssimo matido, pena entre si ndo serem cordiais. (ipigrama VIEL 35). i ifi des em * Estrangeiro imigrado, Marcial passou dificulda saa i Phi “Cli ae 9 a ar ‘ Roma, A vida inteira foi “cliente”, agregado a amig 10 poderosos que 0 ajudavam quase todos os dias. Bajulou, em (roca de alguma coisa, 0 segundo filho de Vespasiano, imperador Domiciano. Até que protestou: “Meus livros sao lidos em todo 0 império. Mas 0 meu bolso nada sabe disso”, * E que os editores da época eram os verdadeiros proprietarios das obras literarias, ja que eles mesmos faziam copid-las. Direitos autorais nao existiam e olha que Roma foi 4 patria do direito. oA semelhanca de Nero, Tito Flavio Domiciano teve (ambém duas fases no seu reinado, que durou 15 anos, Zeloso © competente na primeira, cruel, desconfiado e repressor, na segunda. Mas nada disso 0 impediu de retribuir com pequenos favores os versos do seu admirador Marcial. Gragas a isto e a iniciativa de alguns protetores, 0 poeta chegou a possuir casa em Roma e sitio nas proximidades da Capital. Além de ser objeto de uma distingao apreciavel, o ttulo de Cavaleiro, conferido por Domiciano e aproveitado na presente obra, para qualificar o poeta, * Quando o imperador morreu, em 96, Marcial, beirando 0s 60 anos, voltou para a sua pequena Bilbilis, atualmente Bambola, onde amigos lhe deram casa e comida e onde viveu pouco tempo, antes de morrer.

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