04 A Competência
04.1 – Introdução
Noções Gerais
Noções Iniciais:
Em razão do grande número de habitantes, da extensão territorial do País e conforme o grau de
complexidade da matéria existe uma repartição da jurisdição entre diversos órgãos encarregados da
aplicação da justiça. Assim, a competência pode ser entendida como a delimitação da jurisdição, ou
seja, a fixação pela lei dos limites que os órgãos jurisdicionais irão exercer a sua função jurisdicional.
A competência é estabelecida segundo critérios estabelecidos em lei. Encontramos as regras sobre a
competência principalmente na Constituição Federal e no Código de Processo Civil.
Além da Constituição e do Código de Processo Civil, pode haver regras sobre a competência
na lei local de organização judiciária e nos regimentos internos dos tribunais. Algumas leis
especiais também dispõem sobre a competência, como a Lei das Desapropriações.
CÓDIGO DE Art. 86 - As causas cíveis serão processadas e decididas, ou simplesmente decididas, pelos órgãos
PROCESSO CIVIL jurisdicionais, nos limites de sua competência, ressalvada às partes a faculdade de instituírem juízo
arbitral.
Questão Prejudicial:
A questão prejudicial ocorre quando uma relação de direito penal condiciona a propositura da ação
na esfera cível. Conforme o art. 110 do CPC, se o conhecimento da lide depender necessariamente da
verificação da existência de fato delituoso, pode o juiz mandar sobrestar o andamento do processo até
que se pronuncie a justiça criminal. Contudo, se a ação penal não for exercida dentro de 30 dias,
contados da intimação do despacho de sobrestamento, cessará o efeito deste, decidindo o juiz cível a
questão prejudicial.
CÓDIGO DE Art. 87 - Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as
PROCESSO CIVIL modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o
órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia.
Quadro comparativo
Competência absoluta Competência relativa
interesse público interesse particular
alegável a qualquer tempo e grau de jurisdição alegável no prazo da resposta do réu, sob pena de prorrogação
Foro de Eleição:
O art. 111 do CPC é expresso ao facultar às partes a alteração da competência relativa, por eleição
em contrato de um foro distinto daquele previsto em lei.
Art. 111 - A competência em razão da matéria e da hierarquia é inderrogável por convenção das
CÓDIGO DE partes; mas estas podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro
PROCESSO CIVIL onde serão propostas as ações oriundas de direitos e obrigações.
§ 1º - O acordo, porém, só produz efeito, quando constar de contrato escrito e aludir expressamente
a determinado negócio jurídico.
Competência Internacional
Noções Iniciais:
Uma primeira limitação da jurisdição é em relação ao espaço internacional, com o fim de regular os
possíveis conflitos com as jurisdições de outros países. Essa primeira delimitação dita as linhas
divisórias da jurisdição nacional, também chamada desta forma de competência geral. O sistema
brasileiro de competência internacional ora adota o critério ratione loci ora o critério ratione
materiae.
Competência Concorrente:
Na competência concorrente a justiça brasileira tem competência para o julgamento do caso concreto,
sem exclusão da justiça estrangeira.
Parágrafo único - Para o fim do disposto no n.º I, reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica
estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal.
Competência Exclusiva:
Na competência exclusiva, somente a justiça brasileira tem competência para as causas mencionadas.
Litispendência:
Verifica-se a litispendência quando se reproduz ação anteriormente ajuizada. Existem
três elementos essenciais e fundamentais que caracterizam a litispendência: as
mesmas partes; a mesma causa de pedir; o mesmo pedido.
É atribuída à Justiça Federal o poder para julgamento das causas relativas a direitos humanos,
quando suscitado pelo Procurador-Geral da República o deslocamento da competência
original, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte.
Giuseppe Chiovenda:
Giuseppe Chiovenda (1872-1937) foi um famoso processualista italiano. Sua carreira
docente transcorreu nas universidades de Parma, Bologna, Nápoles e Roma, como
professor de Direito Processual Civil. Foi responsável por grande reforma nas leis
processuais italianas. É também considerado fundador da moderna ciência processual
civil italiana e suas obras tiveram notada influência na Espanha e América do Sul.
Domicílio do Réu:
Na competência pelo critério territorial a regra geral é a fixação da competência pelo domicílio do
réu (competência territorial geral). Conforme o art. 94 do Código de Processo Civil, a ação fundada
em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão propostas, em regra, no
foro do domicílio do réu e tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer
deles. Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer
deles, à escolha do autor (CPC, art. 94, § 4º). Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele
será demandado onde for encontrado ou no foro do domicílio do autor (CPC, art. 94, § 2º). Quando o
réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será proposta no foro do domicílio do autor.
Se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro (CPC, art. 94, § 3º).
Autor de Herança:
Será competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última
vontade e todas as ações em que o espólio for réu, o foro do domicílio do autor da herança, no
Brasil, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro (CPC, art. 96, caput). O foro competente,
porém, será o da situação dos bens, se o autor da herança não possuía domicílio certo ou do lugar em
que ocorreu o óbito, se o autor da herança não tinha domicílio certo e possuía bens em lugares
diferentes (CPC, art. 96, parágrafo único).
Foro da Ausência:
As ações em que o ausente for réu correm no foro de seu último domicílio, que é também o
competente para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de disposições
testamentárias (CPC, art. 97).
Incapazes:
A ação em que o incapaz for réu se processará no foro do domicílio de seu representante (CPC, art.
98).
Critério Funcional
A competência pelo critério funcional é fixada pelas leis de organização judiciária que, a partir da
Constituição Federal, distribuem as atribuições dos juízes, como a substituição entre os mesmos,
devido a férias, ou a determinação do tribunal que apreciará a causa se houver recurso.
Critério Objetivo
Em Razão da Matéria (Ratione Materiae):
A competência em razão da matéria baseia-se no assunto sobre que versa a lide, ou seja, em relação à
matéria discutida no processo. Assim, temos divisão do judiciário (justiça do trabalho, justiça
eleitoral) e dentro da justiça comum, existem varas especializadas (ex: de família, das execuções).
São órgãos especializados, com juízes possuindo conhecimentos específicos sobre as questões
tratadas.
Prevenção
Noções Iniciais:
O vocábulo prevenção vem do latim (praeventione: vir antes, avisar, prevenir) e significa
processualmente o fenômeno pelo qual se firma a competência daquele que em primeiro lugar tomou
o conhecimento da causa. Assim, o juiz que conhecer da causa em primeiro, terá sua jurisdição
preventa e excluirá possíveis competências concorrentes de outros juízes. O ato que firma a
competência e previne a jurisdição é a citação válida (CPC, art. 219). No caso de juízes da mesma
comarca, a prevenção se dará com o primeiro juiz que efetuar o despacho (CPC, art. 106).
Conexão e Continência
Noções Iniciais:
A competência relativa poderá ser modificada pela conexão ou continência, para que certas ações,
propostas em separado, sejam reunidas e decididas ao mesmo tempo. Dá-se a reunião por dois
motivos: economia processual e preocupação em evitar sentenças contraditórias. A conexão e
continência produzem o mesmo efeito: a reunião de ações análogas propostas em separado, a fim de
que sejam decididas simultaneamente.
Conexão:
Duas ou mais ações são conexas quando tiverem o mesmo objeto ou a causa de pedir (CPC, art. 103).
O objeto da ação (res petitum) é o que o autor pede ao juiz e a causa de pedir (causa petendi) é o
fundamento de fato e de direito da demanda. Exemplo de conexão: ação de despejo por parte do
senhorio e ação de consignação em pagamento dos aluguéis por parte do inquilino, sendo o mesmo
contrato.
Continência:
A continência é uma espécie de conexão. Ocorre quando as partes e causa de pedir são idênticas, mas
o objeto de uma das ações, por ser mais amplo, abrange o das outras (CPC, art. 104). Exemplo de
continência: um credor propõe contra o mesmo devedor, duas ações distintas, numa cobrando um
empréstimo e noutra os juros sobre o mesmo empréstimo.
Noções Gerais
Incompetência Absoluta:
A incompetência pode ser absoluta ou relativa. A incompetência absoluta deve ser declarada de
ofício pelo juiz e pode ser alegada pelas partes a qualquer tempo e grau de jurisdição,
independentemente de exceção. Declarada a incompetência absoluta, somente os atos decisórios
serão nulos, remetendo-se os autos ao juiz competente.
Incompetência Relativa:
A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício pelo juiz. Compete ao réu levantar a
questão, através de peça própria, em separado, chamada exceção de incompetência.
Oposição:
A exceção de incompetência deverá ser proposta no prazo de 15 dias, contados do fato que ocasionou
a incompetência. A incompetência relativa, quando não arguida pela parte, prorroga a competência
do juiz, que, de incompetente, adquire competência para processar e julgar a causa.
Prorrogação da Competência
A prorrogação da competência é o fenômeno processual pelo qual o juiz, a princípio incompetente
relativamente, torna-se competente para apreciar o feito, por ausência de oposição do réu via
exceção, no prazo legal de resposta. Conforme o art. 114 do Código de Processo Civil, prorrogar-se-á
a competência se dela o juiz não declinar na forma do parágrafo único do art. 112 ou o réu não
opuser exceção declinatória nos casos e prazos legais.
Noções Gerais
Noções Iniciais:
Conflito de competência é a controvérsia acerca da qual, dentre dois ou mais juízos, todos tem
atribuições para decidir determinada lide. Será positivo, se dois ou mais juízos se declararem
competentes (CPC, art. 115, I) e negativo, se nenhum se considerar competente (CPC, art. 115, II).
Há também conflito de competência no caso de controvérsia sobre reunião ou separação de processos
(CPC, art. 115, III). O conflito pode ser levantado por qualquer das partes, pelo Ministério Público ou
pelo juiz (CPC, art. 116), e será decidido pelo tribunal (CPC, art. 122). O Ministério Público será
ouvido em todos os conflitos de competência, mas terá qualidade de parte naqueles que suscitar.
Não pode suscitar conflito a parte que, no processo, ofereceu exceção de incompetência. O
conflito de competência não obsta, porém, a que a parte, que o não suscitou, ofereça exceção
declinatória do foro (CPC, art. 117).
Procedimento:
O conflito será suscitado ao presidente do tribunal pelo juiz (de ofício) ou pela parte/Ministério
Público (através de petição). O ofício e a petição serão instruídos com os documentos necessários à
prova do conflito. Após a distribuição, o relator mandará ouvir os juízes em conflito, ou apenas o
suscitado, se um deles for suscitante; dentro do prazo assinado pelo relator, caberá ao juiz ou juízes
prestar as informações. Poderá o relator, de ofício, ou a requerimento de qualquer das partes,
determinar, quando o conflito for positivo, seja sobrestado o processo, mas, neste caso, bem como no
de conflito negativo, designará um dos juízes para resolver, em caráter provisório, as medidas
urgentes. Decorrido o prazo, com informações ou sem elas, será ouvido, em 5 dias, o Ministério
Público; em seguida o relator apresentará o conflito em sessão de julgamento. Ao decidir o conflito, o
tribunal declarará qual o juiz competente, pronunciando-se também sobre a validade dos atos do juiz
incompetente. Os autos do processo, em que se manifestou o conflito, serão remetidos ao juiz
declarado competente.
Conflito de Atribuições:
Conforme o art. 124 do Código de Processo Civil, os regimentos internos dos tribunais regularão o
processo e julgamento do conflito de atribuições entre autoridade judiciária e autoridade
administrativa.
06 - Falecendo uma pessoa estrangeira, com último domicílio no seu país de origem, o imóvel a
ela pertencente, situado no Brasil, será inventariado e partilhado no:
( ) a) Brasil;
( ) b) país de origem da pessoa falecida, mas o imposto de transmissão deverá ser pago aqui;
( ) c) país de origem da pessoa falecida, mas o imposto de transmissão deverá ser pago aqui
e a sentença homologatória de partilha deverá ser submetida ao Supremo Tribunal
Federal;
( ) d) país de origem da pessoa falecida e no Brasil, pois a sucessão hereditária pode
obedecer a critérios totalmente diferentes nos dois países.
10 - Caio, alegando que perdeu uma de suas mãos enquanto operava uma prensa na empresa em
que trabalhava, propôs demanda com objetivo de obter o pagamento dos benefícios
previdenciários a que tem direito. Essa demanda deverá ser julgada pela:
( ) a) Justiça do Trabalho;
( ) b) Justiça Comum Federal;
( ) c) Justiça Comum Estadual, por Vara da Fazenda Pública, nas comarcas em que esta
existir;
( ) d) Justiça Comum Estadual, por Vara Cível, se não existir vara especializada.
01.A 02.E 03.D 04.B 05.D 06.A 07.D 08.A 09.A 10.D
11.A 12.A
Bibliografia
Atualizada em 10.12.2011