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l LEITURA
� editora brasiliense
ÍNDICE
- Falando em leitura . . • � . . • • •. . . . .. . . . . . 7
- Como e quando começamós a ler .. . . . . .
. 11
- Ampliando a noção de leitura . . . • . . . . • . •
22
·
- O ato de ler e os sentidos, a s. emoções e a
razão . • . • . . . . . ·, . . . • . . . . . . . • . •
.
. • • . . � 36
- A leitura ao jeito de cada leitor . . . . . . . . . ·. 82
- Indicações para leitura . • • . . . . • • ;. .. • • • . 88
- Bibliografia . . • • . • . • . . . . . . . : .. . . . . . . . . 92
.· .
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FALANDO EM LEITURA.
Uf11il batida- casual, ou de frarié::a defesa, diante coisas ao nosso redor, com as quais temos fami
de um empurrão proposital. Minha resposta a liaridade sem dar atenção, porque não dizem
esse incidente revela meu modo de lê-lo. Outra nada em particular, ou das quais -temos uma
. coisl: às vezes passamos anos vendo objetos visão preconcebida. De repente se descobre um
comuns, um vaso, um cinzeiro, sem jamais tê-los sentido, não o sentido, mas apenas uma maneira
de fato enxergado; ·limitamo-los à sua função de ser desse objeto que nos prov ocou determinada
decorativa ou utilitária. Um dia, por motivos reação, um modo especial de vê-lo, enxergá-lo,
os mais diversos, nos encontramos diante de um percebê-lo enfim. Podemos dizer que afinal lemos
deles como se fosse algo totalmente novo. O o vaso ou o cinzeiro. Tudo ocorreu talvez de
fGIIWID, a cor, a figura que representa, seu modo casual, sem intenção consciente, mas porque
conteúdo passam a ter sentido, melhor,. a fazer houve uma conjunção . de fatores pessoais com
sentido para nós. o momento e o lugar, com as circunstâncias.
S6 então se estabeleceu. uma ligação efetiva lssa pode acontecer também com relação a
IITtre n6s e esse objeto. E consideramos sua beleza pessoas com quem convivemos, ambientes e
ra. o rid(culo ou adequação ao ambiente situações cotidianas, causando um impacto, uma
-
ou
em que se encontra, o material e as partes que surpresa, até uma "revelação. Nada de sobrenatural.
o c:on.,&m.
Podemos mesmo pensar a sua · Apenas nossos sentidos, nossa ·psique, nossa razão
circunstâncias de sua criação, as responderam a algo para o que já estavam poten
- -
as
- -
•
pessoais e entre· as várias áreas do conhecimento embaixo das imagens, e que provavelmente deveriam
e da expressão do homem e das suas circunstâncias ser insetos desconhecidos·� .
Maria Helena Martins O que é Leitura 15
l
de vida. Enfim, dizem os pesquisadores da lingua .sempre apresentam-na intencionalmente como algo
fl!l", em crescente convicção: aprendemos a ler mágico, senão enquanto ato, enquanto processo
lendo. Eu diria vivendo. . . de descoberta de um universo desconhecido e
lso faz pensar que o aprendizado de Tarzan maravilhoso.
nio seja pura obra da imaginação de Edgar Rice Certamente aprendemos a ler a partir do nosso
8Ln'oughs. Aos dez anos, remexendo nos escom contexto pessoal. E temos que valorizá-lo para
bros da cabana de seu falecido pai, o garoto-macaco poder ir além dele. Esse o· ·recado de Sartre ·em
1IJPOU com alguns livros, e teve . seus primeiros seu relato autobiográfico, no qual apresenta ·�ma
contatos com a .palavra impressa, através de uma perspectiva mais realista, mas não menos fascinante
ha. Tentou de início pegar as imagens que da iniciação à leitura:
a ilustravam, percebendo então serem apenas "Apossei-me de um livro intitulado· Tribulações·
1ep1 atações das. figuras reais. Mas "o que mais de um chinês na ·China e o ·transportei para um
o iubigava eram as figurinhas desenhadas embaixo quarto de despejo; aí, empoleirado sobre uma cama
das imagens, e que provavelmente deveriam ser de armar, fiz de conta que estava lendo: seguia
inse1DS desconhecidos . . . Vários tinham pernas, cóm os olhos as linhas negras semsaltar uma única
m15 em nenhum ·descobria bocas e olhos". Não e me contava uma história em voz alta, tomando
podia imaginar que esses sinais fossem as letr�s o çuidado . de pronunciar todas as snabas. Surpre
do alfabeto. Observando e refletindo, percebeu enderam:me - ou melhor, fiz com que me ·
rra�itD numerosos, repetiam-se várias vezes. Assim, zeloso como um catecúmeno; ia a ponto de dar
numa "'tarefa extraordinária", aprendeu a ler a mim mesmo aulas particulares: eu montava na
-.m possui r a menor noção das letras, nem da minha cama de armar com o Sem Faml/ia, de
nguagem escrita, sem mesmo saber que essas Hector MaJot, que conhecia de cor e, em parte
ooisas existiam". recitando, em parte decifrando, percorri-lhe
·
Fascinante! Impossível, diriam os mais céticos. todas as páginas,_ uma após outra: quando a última
De fato, numa criança desde Um �no de idade foi virada, eu sabia ler.
sem contato com a civilização · tal façanha parece "Fiquei louco de alegria: eram minhas aquelas
apenas coisa ·de ficção. Mas os inúmeros escritores vozes secas em seus pequenos herbários, aquelas
<J.�e têm recriado a aprendizagem da leitura quase . vozes que meu avô reanimava com o olhar, que ele
Maria Helena Martins O que é Leitura 17
ouvia e eu não! Eu iria escutá-las, encher-me-ia de aprendizagem da leitura; umá altamente ficci�
de discursos cerimoniosos e saberia tudo: Deixa nal, outra autobiográfica. Ambas evidenciam a
'llliilfiH1'IB vagabundear pela biblioteca e eu dava curiosidade se transformando em necessidade e
liS5iltto à sabedoria humana. Foi ela quem me fez esforço para alimentar o imaginário, desvendar
•. Nunca esgaravatei a -terra nem farejei ninhos,
.
os segredos do mundo e dar a conhecer o leitor a
nio herborizei nem joguei pedras nos passarinhos. si mesmo através do que lê e como lê. Embora os
Mas os livros foram meus passarinhos e meus exemplos se refiram ao texto escrito, tanto
meus animais domésticos, meu estábulo e Burroughs quanto Saitre indicam que o conhe
meu �; a biblioteca era o mundo colhido cimento da I íngua não é suficiente para a leitura
...-n espelho; tinha a sua espessura infinita, a sua se efetivar. Na verdade o leitor pré-existe à
waiedade e a sua imprevisibilidade. Eu me lançava descoberta do significado das palavras escritas;
a incríveis aventuras: era preciso escalar as cadeiras, foi-se configurando no decorrer das -experiências
as mesas, com o risco de provocar avalanchas q�e de vida, desde as· mais elementares e individuais
me teriam sepultado. As obras da prateletra às oriundas do intercâmbio de seu mundo pessoal
superior rJCaram por muito tempo fora do meu e o universo social e cultural circundante.
alcance; outras, mal eu as descobri, me foram .Ouando começamos a organizar os conheci
atebatadas das mãos; outras, ainda, escondiam-se: mentos adquiridos, a partir das situações que a
eu as apanhara um dia, começara a lê-las, acreditava realidade impõe e da nossa· atuação nela; quando
1i-las reposto no lugar, mas levava uma semana começamos a estabelecer relações entre as expe
.,.a reencontrá-las. Tive encontros horríveis: riências e a tentar resolver os problemas que se
llbria um álbum topava com uma _prancha em nos apresentam - a( então estamos procedendo
'
cores. insetos horríveis pulavam ·sob minha leituras, as quais nos habilitam basicamente a ler
vista. Deitado sobre o tapete, empreendi áridas tudo e quàlquer coisa. Esse seria, digamos, o lado
através de Fontenelle, Aristófanes, otimista e prazeroso do aprendizado da leitura.
�is: as frases resistiam-m e à maneira das Dá-nos a impressão de o mundo estar ao nosso
coisas; cumpria obseníá-la s, rodeá-las, fingir que me alcance; não só podemos compreendê-lo, conviver
afastava e retornar subitamente a elas de modo a com ele, mas até modificá-lo à medida que incor
, surprea endê-l s desprevenidas: na maioria das vezes, poramos experiências de leitura.
giBliavam seu segredo.'' Não obstante, em nossa trajetória existencial,
Aí temos duas sínteses literárias do processo . intérpõem-se inúmeras barreiras ao ato de ler ..
Maria Helena Martins O que é Leitura 19
Quando, desde cedo, vêem-se carentes de convívió diferentes para compreendê-las� Suâ. afirmação,
mano ou com relações sociais restritas, quando nesse sentido, se aproxima da noção da leitura
suas condições de sobrevivência material e cultural proposta aqui. Outra inferência do raciodnio
.
São precárias, refreando também suas expectativas, expresso está na importância dada à leitura da
as pessoas tendem a ter sua aptidão para ler escrita como ponte para outro entendimento, o
- _
mente constrangida. Não que sejam incapazes ·
que é comum ã maioria das pessoas.
(salvo pessoas com graves_ distúrbios de caráter · Seria de se perguntar ·em que medida . essa
patol6gico). A questão aí. está mais· ligada às mulher vê sua capacidade de dar sentido às coisas
condições de vida, a nível pessoal e �ia I. , bloqueada pelo seu analfabetismo e qual a extensão
Em 1981, realizou-se uma pesquisa sobre Tele- . de sua frustração diante disso. Como teria acres
visão e Comunicação Publicitária no Meio Rural". centado que "quando compreende, esquece logo",
I"UI!IIIMD dos depoimentos colhidos entre moradores tem-se aí um dado elucidativo: o que se lhe oferece
do interior do Estado de São Paulo foram divulga para ler na televisão pouco ou nada significa
dos pela Revista Isto !. Uma mulher (37 anos, para ela, por isso não chega a fixar na memória;
c:zada dois filhos' trabalhadora na roça, moradora seu universo de interesses é outro, outras- as suas
em � nha) disse a respeito da televisão: "Para necessidades reais ou de.fantasia.
eJtaJdef tBievisão tem �QUit saber ler. Eu não sei
·
A psicanálise enfatiza que tudo quanto de fato
ll!tr então não entendo nada'� impressionou a nossa mente jamais é esquecido,
·
Êssa declaração, aparentemente sem sentido, mesmo que permaneça muito tempo na obscuri-
deixa transparecer uma lógica, revelando_ um· - dade do inconsciente. Essa constatação evidencia a
pnx:esso de reflexão acerca da leitura. E isso, em importância da memória tanto para a vida quanto
úttima instância, demonstra tratar-se de alguém que para a leitura. Principalmente a da palavra escrita
pralica o ato de ler no seu cotidi?no: tem condi-· - daí a valorização do saber ler e escrever -, já
,
h
ções. embora precárias, de dar sent1do}s co1sas, no que se trata de um signo arbitrário, não disponível
trabalho na vida doméstica, nas relaçoes humanas . .
na natureza, criado como instrumento de comu
. ... � ao condicionar a leitura da TV à leitura
,...... nicação, registro das relações humanas, das ações
do teXt� escrito, assemelhando a linguagem das e aspirações dos homens; transformado com
imagens à dos signos lingüísticos, rompe com o freqüência em instrumento de poder pelos domi
comportamento usual que vê ambas as linguagens nadores, mas que pode também vir a ser a liberação
indepeudetn es e também exigindo capacidades dos dominados.
Maria Helena Martins
l O que é Leitura
21
iQnorãncia; mais inibem do que· estimulam o gosto efetivas, conseqüentes; de se desenvolverem verda
de ler". Elaborados de modo a transmitir uma visão deiros leitores. Há, portanto, um equívoco
de mundo conservadora, repressiva, tais livros estão ·•
de base quando educadores falam em "crise de
n::pletos de falsas verdades, a serviÇo de ideologias leitura"; algo desfocado em relação à nossa
...
A realidade, entretanto, . nos apresenta inúmeras · certamente muitos outros, simpatiza com minha
ifestações culturais originárias das camadas · proposta, embora fique póuco à vontade em seu
n�is ignorantes do povo e cuja força significativa "contra.forte de letrado". · .
as tem feito perdurar por séculos. Daí a necessi Daí. ser preciso não só revelar a· insatisfação
d.:le de se compreender tanto a questão da leitura quanto aos limites de noções estratificadas pelos
quanto a da cultura para além dos limites que as
·
séculos, como · também ousar questioná-las,
instituições impuseram. . aventando alternativas.
Seria preciso, então, considerar a leit'ura como
. *
wn processo de compreensão de expressões formais
* *
está mais ligado à experiência pessoal, à vivência leituras, favorecendo a anibos, trazendo novos
de cada um, do que ao conhecimento sistemático elementos para um e outro.
da l(ngua. _ .
A dinâmica do processo é pois de tal ordem que
A leitura vai, portanto, além do texto (seja ele considerar a leitura apenas como resultado da
� for} e começa antes do contato com ele. interação texto-leitor seria reduzi-lã :considera
O leitor assume um papel atuante, deixa de ser velmente, a ponto de se arriscar equívoco como
mero decodificador ou receptor passivo. E o pensar que um mesmo leitor lendo uni mesmo'·
I Maria Helena Martins - - O que é _Leitura
35
teXto, não importa quantas vezes, sempre realizaria leitura como instrumento liberador e possível de
uma mesma leitura. Não precisa ser especialista no ser usufrufdo por toqos, não apenas pelos letrados.
assu nto para saber o quanto ·as circunstâncias ' Se o papef do /educador pareceu aqui em
pessoais ou não (uma dor de cabeça, uma recomen evidência, ele foi trazido à baila para ser colocad
o
dação acatada ou imposição, uni conflito social) em seu devido lugar e compreendido não neces
podem influir na nossa leitura. _ sariamente como o· do especialista em educação
Em face disso, aprender a ler significa também ou do professor, mas como o· de um indivíduo
aprender a ler o mundo, dar sentido a ele e a nós · letrado que sabe algo e se· propõe a ensiná-lo a
próprios, o que, mal ou bem, fazemos mesmo sem alguém. Importa muito se ter bem presente
a
ser ensinados. A função do educador não seria idéia de que isso de le'r, e ler bem, depende muito
precisamente a de ensinar a ler, mas a de criar de nós mesmos, das nossas condições reais
de
condições para o educando realizar a sua própria existência, mais do que podem (ou querem) nos
aprendizagem, conforme seus próprios interesses, fazer crer os "sabedores das coisas''. Aliás, essas
necessidades, fantasias, segundo as dúvidas . e condições vão inclusive orientar preferências e
exigências que a realidade lhe apresenta. Assim, privilegiar um determinado nível de leitura, como
aiar condições '-.de leitura não implica apenas se verá a seguir.
alfabetizar ou propiciar acesso aos livros. Trata-se,
antes, de dialogar com o leitor sobre a sua leitura,
isto é, sobre ·o sentido que ele dá, repito, a algo -
O que é Leitura 37
Esses aspectos se relacionam à própria existência completo sua trajetória. Noutros casos, assumo
do homem, incitando a fantasia, o conhecimento e uma postura de reverência e encantamento diante
a reflexão acerca da realidade. O leitor, entretanto, de um objeto consagrado: um manuscrito de autor
pouco se detém no funcionamento do ato de ler, notável, uma cadeira que pertenceu a alguém
• na intrincada trama de inter-relações que se esta famoso, um original de quadro há muito admirado
betecem. Todavia, propondo-se a pensá-lo, perce apenas através de reproduções. Ocorrem também
berá a configuração de três níveis básicos de os momentos em que me descubro pensando o
Maria Helena Martins O que é Leitura 39
.Praticamente cada·· estudioso tem uma v1sao agrada e a descoberta e rejeição do desagradável
diferenciada, talvez· por ser questão cada vez mais aos sentidos. E através dessa leitura vamo-nos
repensada e acrescida de novas· perspectivas, o revelando também para nós mesmos.
que sempre aumenta as possibilidades de com Em suas memórias, !:rico Veríssimo dá mais
preendê-la. vida e significação a essas coisas de que estamos
falando: "Estou convencido de que meu primeiro
contato com a música, o canto, o conto e a
mhologia se processOu através da primeira cantiga
Leitura sensorial de acalanto que me entrou pelos ouvidos, sem fazer
sentido em meu cérebro, é óbvio, pois a princípio
A visão, o 'tato, a audição, o olfato e o gosto aquele conjunto ritmado de sons não passava dum
podem ser apontados como os referenciais mais narcótico para me induzir ao sono. Essa canção
. elementares do ato de ler. O exemplo, visto de ninar falava do Bicho Tutu, que estava no
anteriormente, dos momentos iniciais da relação telhado e que desceria para pegar o menino se este
d13 criança com o mundo ilustra a leitura sensorial. ainda não estivesse dormindo. Mas se ele já esti
De certa forma caracteriza a descoberta do vesse piscando, com a areia do sono nos olhos, a
universo adulto no qual todos nós precisamos letra da cantilena era diferente: uma advertência
aprender a viver para sobreviver. Não se trata de ao Bicho Tutu para que não ousasse descer do
uma leitura elaborada; é antes uma resposta ime telhado, pois nesse caso o pai do menino mandaria
diata às exigências e ofertas que esse mundo matá-lo. E aí temos sem dúvida uma .efabulação
apresenta; relaciona-se com as primeiras escolhas ou estória, uma melodia e um elemento mitológico.
e motiva as primeiras revelações. Talvez, por isso Amas e criadas encarregaram-se de enriquecer a
. mesmo, R'!arcantes. galeria mitológica da criança, contando-lhe estórias
.Essa leitura sensorial começa, pois, muito cedo fantásticas, de caráter francamente sadomasoquista,
e nos acompanha por toda a vida. Não importa como aquela da madrasta que mandou enterrar
se mais ou menos minuciosa e simultânea à leitura vivas as três enteadas. (OUço uma voz remota
, emocional e racional. Embora a aparente gratui exclamar: 'Xô, xô, passarinho! ... ') Dessa história
dade de seu aspecto lúdico, o jogo com e êfas das meninas enterradas Capineiro de
imagens e cores, dos materiais, dos ·sons, dos meu pai I não me cortes os cabelos I minha mãe
cheiros e dos gostos incita o prazer, a busca do que me penteou I minha madrasta me. enterrou ...
Mària Helena Martins O que é Leitura . 43
-guardo mais o terror que ela me inspirou do que quem sabe imagens coloridas, atrai pelo formato
o seu enredo. Por essa época a criança já caminhava, e pela facilidade de manuseio; pela possibilidade
e a fita magnética de sua memória estava ainda de abri-lo, decifrar seu mistério e ele revelar
praticamente virgem, pronta para registrar as - através da combinação rítmica, sonora e visual
impressões do mundo com suas pessoas, animais, dos sinais - uma história de encantamento, de
coisas e mistérios". imprevistos, de alegrias e apreensões. E esse jogo
·
A leitura sensorial vai, portanto, dando a conhe com o universo escondido num livro vai estimu
cer ao leitor o que ele gosta ou não, mesmo incons lando na criança a descoberta e aprimoramento
cientemente, sem a necessidade de racionalizações, da linguagem, desenvolvendo sua capacidade de
justificativas, apenas porque impressiona a vista, o comunicação com o mundo. Surgem as primeiras
ouvido, o tato, o olfato ou o paladar. Por certo escolhas: o livro com ilustrações coloridas agrada
alguns estarão a pensar que ler sensorialmente mais; se não contém imagens, éjtrai menos. E só
uma estória contada, um quadro, uma canção, até o fato de folheá-lo, abrindo-o e fechando-o, provoca
uma comida é fácil. Mas como ler assim um livro, uma sensação de possibilidades de conhecê-lo;
seja para dominá-lo, rasgando-o num gesto
·
por exemplo?
onipotente, seja para admirá-lo,' conservando-o a
* * *
fim de voltar repetidamente a·ele. .
Esses ·primeiros contatos propiciam à criança
Antes de ser um texto escrito, um livro é um a descoberta i:lo livro como um objeto especial,
objeto; tem forma,· cor, textura, volume, cheiro. . diferente dos outros brinquedos, mas também
Pode-se até ouvi-lo se folhearmos suas pá ginas. fonte de prazer. Motivam-na para a concretização
Para muitos adultos e especialmente crianças não maior do ato de ler o texto escrito, a partir do
alfabetizados essa é a leitura que conta. Quem já processo de alfabetização, gerando a promessa
teve oportunidade de vivenciá-la e de observar a de autonomia para saciar a curiosidade pelo desco
sua realização sabe o quanto ela pode render. nhecido e para renovar emoções vividas.
Na criança essa leitura através dos sentidos Melhor do que ·qualquer tentativa de explicar
revela um prazer singular, relacionado com iii sua isso é buscar novamente o relato de Sartre: "Eu
disponibilidade (maior que a do adulto) e curio não sabia ainda ler, mas já era bastante esnobe
sidade (mais espontaneamente expressa). O livro, para exigir os meus livros .. Peguei os dois volume
.
esse objeto inerte, contendo estranhos sinais, zinhos, cherei-os, apalpei-os, abri-os negligentemen-
r
te na 'página certa', fazendo-os estalar. Debalde: eu avaliar, mas exibe-as com tal orgulho como se a
não tinha a sensação de possuí-los. Tentei sem mera posse dos exemplares já lhe facultasse o
maior êxito tratá-los como bonecas, acalentá-los, reconhecimento efetivo de importância cultural
beijá-los, surrá-los. Quase em lágrimas, acabei por e social, quando não a exclusividade de manuseio
depô-los sobre os joelhos de minha mãe. Ela deixando aos demais leitores apenas a possibilidad �
levantou os olhos de seu trabalho: 'O que queres de ler mediados por uma vitrina.
que eu te leia, querido? As Fadas?' Perguntei, Diante de tal poder - a simples posse do objeto
incrédulo: As Fadas estão aí dentro?" ·
livro pode significar erudição; sua ·leitura levar à
Já os adultos tendem a uma postÚrã mais inibida . salvação os incrédulos, como quando repositório
diante do objeto livro. Isso porque há, sem dúvida, . das palavras de Cristo nos Evangelhos, ou construir
...ma tradição de culto a ele. Mesmo quando não a loucura, como a do cavaleiro andante Quixote-,
tinham a forma pela qual hoje os conhecemos, os a atitude do homem comum é historicamente
livros eram vistos como escritura sagrada, porta de respeito.
dora da verdade, enigmática ou perigosa. E é Mesmo o advento da era eletrônica, com o
inegável a seriedade que uma biblioteca· sugere. rádio e a televisão, antes de arrefecer o culto aos
A casa onde se encontra uma estante com livros meios impressos e especialmente ao livro, acabou
por si só já conota certo refinamento de espírito, enfatizando· sua importância. A suspeita - amea
inteligência, cultura de seus moradores. Quanto çadora para uns (letrados) e alentadora para outros
mais livros melhor. Não é à toa que se compra (iletrados) - de que a escrita não seria mais
(às vezes por metro) belos exemplares encaderna "indispensável para saber das coisas" não se concre
dos e se os põe bem à mostra, alardeando aos tizou. Pelo contraste entre o facilitário. da comu
1fisitantes o status letrado. Mesmo que esses livros nicação eletrônica ou da co m unicação oral e �
jamais sejam manuseados, sua simples presença complexidade da escrita, acabam ainda sendo mais
física basta para indiciar sabedoria. Os fetichistas valorizados os textos impressos, os livros, �m
compram-nos indiscriminàdamente, .mais. em particular, e seus leitores. Estes optam pelo mais
nção dê seu aspecto do que pela sua representa "difí cil'� e, por ser a escrita mais �ifícil de entender,
tividade, devido ao seu valor intrínseco, por seu seria possivelmente mais importante que os outros
conteúdo ou autor. Há ainda um tipo de fetichista meios. Esse tipo de raciocínio, comum entre a 1
mais sutil: o bibliófilo, colecionador de raridades, população iletrada,e, sem dúvida, estimulado pelos'
as CJiéiÍS muitas vezes sequer tem condiçõe� de intelectuais, resulta ser um dos fatores maiores
l
Maria Helena Martins · O que é Leitura 47
de sustentação do culto da letra e dos livros. apenas por possuí-los ou manuseá-los. E há quem
Os possuidores do· poder da palavra escrita se literalmente perdeu a cabeça por tê-los escrito. Mas
encarregam de sublinhar e alargar a aura mistifi não são apenas religiosos os pretextos de proibição.
cadora que a envolve, certos ·de estarem, eles · Os governos autoritários têm sido os maiores ·
também, sob a proteção dos deuses, enquanto ao censores. E disso nós sabemos muito bem.
leitor em geral cabe a submissão: o que está escrito, Mesmo cercado de tal fama, o objeto livro nem
impresso e, principalmente, publicado em forma sempre convence por si só. Sua aparência também
de livro é inquestionável; significa sabedoria, impressiona, bem ou ·mal. Quem ·de nós não
ciência, arte a que o comum dos mortais só atinge rechaçou um deles por ser impresso em tipos muito
mmo receptor passivo. Não era de graça que Catulo miúdos, por ser muito grosso, ou devido à mancha
da Paixão Cearense, quando mostrava a alguém gráfica compactamente distribuída na página, ao
seus manuscritos, advertia para o fato de que, papel áspero e à brochura ou encadernação não
depois de impressos, ficariam melhores e, ao saírem se acomodarem às nossas mãos?
em livro, estariam excelentes. Os racionalistas dirão: mas o importante é o
Corolário desse poder é a ameaça que os textos que ·está escrito! Não se trata de racionalizar: a
escritos podem inspirar. Daí as queimas e destrui questão aqui envolve os sentidos. Do· contrário,
ções, as proibições daqueles considerados perigosos como explicar· o prazer que pode despertar aos
pelos seus concorrentes na força de persuasão e ·olhos e ao tato um belo exemplar, em papel sedoso,
opressores do pensamento e expressão livres. com ilustrações coloridas e planejamento gráfico
O exemplo mais acabado encontramos no Index cu idadoso, mesmo o texto escrito ·sendo piegas,
Ubrorom Proibitorum (fndice dos Livros Proibi cheio de falsas verdades ou ainda absolutamente
dos), uma lista de títulos elaborada pela Igreja indecifrável? E a revista inescrutável, envolta por
Católica Romana . "para impedir a contaminação um plástico, deixando à mostra apenas a capa
da fé ou a corrupção moral". De meados do atraente e estimulante?
século XVI até 1966, quando foi suspenso, inúme Num primeiro momento o que conta é a nossa
ras edições do Index foram publicadas e, conse- resposta física ao que nos cerca, a impressão em
-entemente, milhares de punições executadas, em nossos sentidos. Estes, entretanto, estando ligados
função da desobediência às proibições. Há· quem às emoções . e à razão, às vezes pregam peças,
1lenha rezado muitas Ave-Marias de penitência por surpreendendo, perturbando, mudando o percurso
ter lido algum dos livros malditos, quando nãq de nossa leitura.
Maria Helena Martins O que é Leitura 49
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Quantos já se dirigiram a alguém. efusivamente obstante, essa a leitura mais comum de quem diz
descobrindo logo tratar-se de pessoa desconhecida? gostar de ler, talvez a que dê maior prazer. E, mais
E aquela almofada macia e· quentinha que virou uma contradição, é pouco revelada e muito menos
oom gato nos arranhando? Há também o caso do valorizada.
filme em branco e preto, em cópia velha, que Certas pessoas, situações, ambientes, coisas,
resulta inesperadamente bom. Uma revista visual bem . como conversas casuais, relatos, imagens,
mente agradável que, de repente, deixa de ter . temas, cenas, caracteres ficcionais ou não têm
qualquer interesse para nós. Ou um livreco de o poder de incitar, como num toque mágico,
sebo, meio rasgado e sujo, ·com péssimo planeja nossa fantasia, libertar emoções. Vêm ao encontro
mento gráfico, que acaba nos agarrando. de desejos; amenizam ou ressa'ltam frustrações
·
Assim, quando uma leitura - seja do que for - diante da realidade. Levam-nos a outros tempos
nos faz ficar alegres ou deprimidos, desperta a e lugares, imaginários ou não, ma's que· naquelas
wriosidade, estimula a fantasia, provoca descober circunstâncias respondem a uma necessidade
provocam intensa satisfação .ou ao contrário'
tas, lembranças - a f então deixamos de ler apenas
mm os sentidos para entrar em outro nfvel de
d
desencadeiam angústia, levando à epressão. Tud �
se passa num processo de· identificação; não temQs
leitura- o emocional.
controle racional sobre isso, pelo menos naquele
momento. E quando nos percebemos dominados
pelos sentimentos, nossa reação tende a ser a de
Leitura emocional refreá-los, ou negá-los, por "respeito ·humano",
conforme os católicos, ou, como explica Freud, por
um mecanismo de defesa, pois a expressão livre das
Sob o ponto de vista da cultura letrada, se a .
emoções nos torna demasiado vuineráveis.
leitura sensorial parece menor, superficial pela sua
Esses os motivos pelos quais procuramos esca
própria natureza, a leitura emocional também tem
motear ou justificar uma leitura emocional uma
seu teor de inferioridade: ela lida com os senti
mentos, o que necessariamente implicaria falta de
vez passado seu impacto. Chegamos mes o a �
ridicularizá-la, . tempos depois, menosprezando
objetividade, subjetivismo. No terreno das emoções
nossa capacidade como leitor, na ocasião. Tolice.·
·
ou "de cabeça fria". Naquele momento contaram Ocorrem também lembranças mais prosaicas e
apenas as nossas em oções. desagradáveis. Imaginem um texto lido-às pressas
Por que negar o fato de nos emociónarmos ao para realizar uma. prova. Tudo ·nele abor,rece ou
assistir a uma cena amorosa real ou na telenovela, preocupa por ter-se que dar con'a de seu conteúdo,
a0 ouvir uma canção romântica ou em face de uma provavelmente devendo.se ainqa encontrar-lhe
.
contrariedade doméstica, de uma injustiça social qualidades. Na verdade pouco ou nada é elaborado.
inexorável? Não são essas situações e reações A leitura pode até se t()rnar 'insuportável; um
comuns à maioria dos homens? verdadeiro exercício de angústia. Esse texto,
Acontece que, p�r um lado, a gente não quer
· �
de um animal, de um objeto, de uma personagem perguntarmos sobre o seu aspecto, sobre o que um
de ficção. Caracteriza-se, pois, um processo de certo texto trata, em que ele .consiste, mas sim o
participação afetiva numa realidade alheia, fora que ele faz, o que provoca em nós.
de nós. Implica necessariamente disponibilidade, Às vezes, temos uma semiconsciência de estar
ou seja, predisposição para aceitar o que vem do mos lendo algo medíocre, sem originalidade,
IR.Indo -exterior, mesmo se depois venhamos a mistificador da realidade ou sem representatividade
rechaçá-lo. estética, social, política, científica. Trate-se de
A criança tende a ter maior disponibilidade que um romance, um filme, um relato histórico,
o adulto pelo simples fato de, em princípio, tudo
uma reportagem, um manual de comportamento
lhe ser novo e desconhecido e ela precisar conhecer sexual. Mas essa dúvida aparece parcial e i,emota
o mais possível a fim de aprender a conviver com
mente. Define nossa ligação com o texto algo mais
esse mundo. Assim sendo, não só é mais receptiva forte e inexplicável, irracional. Por i�so nos
oomo mais espontânea quanto a manifestar
sentimos inseguros, quase incapacitados de explicar
emoções. Acaba então revelando a empatia de porque nos prendemos à leitura. E 'ocorre, por
modo até exacerbado. Daí sermos condescenden certo, a situação inversa: apesar do reconhecimento
tes, não levarmos muito "a sério" suas manifes
geral do valor de um texto, nossa resposta a ele é
tações, consideradas "infantis", isto ·é, não condi de total desagrado, o que também nos causa
cionadas pelas normas de conduta adulta. Haverá
constrangimentos.
aí uma ponta de inveja nossa por aquela esponta Podem-se encontrar as determinantes dessas
neidade perdida? Será por isso que fica mais
preferências e rejeições, aparentémente descabidas,
difícil expressar certos sentimentos nossos em
tanto no universo social como no individual.
·
gico que nos plasmou como.membros de uma deter pelo paradoxo, isto é, por revelarem a imagem
minada classe social, de uma religião, de um partido idealizada às avessas, caracterizando-se a atração
político, de uma profissão. Todavia·, não basta pelos opostos.
compreendermos isso, No segundo caso, é preciso Com o correr do tempo, outras preferências
saber como esses fatores externos se relacionam de leitura surgem, mas permanece a ligação inicial,
com o nosso inconsciente, com o nosso universo a ponto de a mera visão de um filme ou exemplar
interior, afinal onde se forma e se ·desenvolve a dessas aventuras desencadear um processo nostál
nossa emocionalidade. Para conhecê -lo,· torna-se gico, não raro levando à retomada dos textos.
necessário analisar nossas, fantasias, nossos sonhos . Talvez então ocorra um distanciamento. Porém é
em vigília ou durante o sono. mais comum nos deixarmos envolver com a mesma
Ambas as tarefas requerem um grau considerável disponibilidade da infância ou· adolescência
de conhecimento, de reflexão, · de· interpetaÇão da (principalmente se não há testemunhas dessa
nossa história social e pessoal. E isso só consegui recalda). E a releitura se desenvolve entre uma
mos realizar ·no decorrer de toda uma trajetória semiconsciência de que talvez o texto "não valha
de vida. Há, porém, um recurso mais imediato e· nada" bem como a imersão na magia que ele
viável para começar a investigação: o das rememo permanece oferecendo·. E a ·criança que ainda
rações da infância e adolescência, das lembranças somos emergindo no adulto, possibilitando tam
de leituras realizadas. e das predileções e aversões bém conhecermo-nos mais.
atuais. . . E quanto às fotonovelas, às telenovelas o� aos
Se, por exemplo, quando criança ou adolescente, programas de rádio e TV tipo mundo-cão, agora
a preferência foi por ficção de aventuras, tipo voltando com força total e plena aceitação? Sua
Tarzan, Zorra ou,- mais recentemente, ·satman, característica comum, diz-se, é o gosto popular.
Super-homem, a fixação afetiva possivelmente se Para Ligia Chiappini, "há todo um processo de
deu com relação às personagens-título. Apesar de identificação do público. Essas classes sociais
as narrativas serem basicamente calcadas na para as quais são dirigidos vivem muito mais os
�ncia de acontecimentos, o· tempo e o espaço problemas da violência. Não apenas a violência
em que se desenrolam contam menos que a identi criminal, mas tudo aquilo que. sofrem no seu
ficação do leitor com o herói. Atraem mais a sua cotidiano: a fome, a doença, o trabalho árduo,
personalidade e seu modo de agir, seja ,por se toda a sorte de dificuldades".
assemelharem .à imagem que a· leitor faz de si ou De fato, uma leitura mesmo superficial revela
56 Maria Helena Martins O que é Leitura
.
muitos quadros intimamente ligados às frusÚações
e angústias de cada leitor, vindo também ao
encontro de suas fantasias mais comuns. Diante das
desgraças presenciadas através. do vídeo, ouvidas
pelo rádio ou lidas nos jo.rnais e revistas, tende
a desenvolver-se no leitor um processo catártico:
/
se as suas agruras são tantas, há piores . . . Por
outro lado, há sempre algo que alimenta a ilusão
de se conseguir, como na novela, "tirar o pé do
barro", num golpe de sorte: um amor rico, uma
herança, uma alma generosa : ..
--r. Investigando as leituras de operárias (numa
fábrica de São Paulo), Ecléa Bosi constata a prefe
rência por revistas sentimentais, sendo as narrativas
típicas as fotonovelas, histórias em quadrinhos
·infantis, reportagens sobre. a vida de artistas,
realização do sonho de uma criança doente, crônica
de milagre, carta ao consultório sentimental.
Fundamentando-se em Freud e Gramsci, observa
não ser "a busca de uma compensação qualquer
que move e comove a leitora de fotonovela, mas a
de um correlato imaginário de sua posição especí
ficia jlo sistema social. Situação em que se interpe
n�tram carências econômicas
· básicas, graves
' limitaÇões de cultura e, via de regra, a impossibilida
pe de transcender, pelos próprios esforços, o
horizonte que sua classe e seu status circuns
crevem".
Vê-se, nesses exemplos, a importância da leitura O leitor; então, consome o texto sem se perguntar
emocional não só no âmbito individual mas no como ele foi feito.
Maria Helena Martins O que é Leitura 59
das relações sociais, evidenciando-se a necessidade podemos ou não queremos expressar. A leitura
de se dar-a ela mais atenção. O inconsciente indivi transforma-se, então, numa espécie de válvula
·
dual e o universo social orientam seus passos. Não de escape. Mas não apenas isso: direta ou indire
obstante, geralmente é considerada de menor tamente, ajuda a elaborar -através do relaxamento
significação pelos estudiosos, enquanto para de nossas tensões - sentimentos diHceis de
muitos leitores adquire i
val. dade principalmente compreender e conviver. Assim sendo, o conceito
em momentos de· lazer, descomprometimento. de escapismo aplicado ao modo de ler torna-se·
Isso se deve· muito ao fato de ser vista como _ambíguo, como observa Robert Escarpit; embora
leitura de passatempo, seja qual for o grau de possua uma carga pejorativa, o termo evasão
instrução, cultura, status social do leitor. Roland pode significar "fuga para a I iberdade e conse
Barthes, ensaísta e estudioso da literatura e outras qüentemente uma abertura intencional.de novos
forrr.as de expressão, declara que para ler, senão horizontes".
woluptuosamente, pelo menos . gulosamen��_, é Essa a razão pela qual não se pode simplesmente
preciso ler fora de toda a responsabilidade imputar ã leitura emocional a característica· de
aítica; o leitor, então, consome o texto sem se alienante. Por certo, se me torno dependente de!a
perguntar como ele foi feito. e a uso sistematicamente como refúgio para
Enquanto passatempo, essa leitura revela a afastar-me de· uma realidade insuportável, meu
predisposição do leitor de entregar-se ao un�verso comportamento deixa de ser o de quem busca
apresentado no texto, desligando�se das circuns momentos de lazer e distensão ou distração para
tâncias concretas e imediatas. Daí ser também ser o de alguém que se nega a viver seus próprios
encarada como leitura de evasão, o que conota problemas e, em conseqüência, não luta para
certo menosprezo por ela, quando, na realidade, solucioná-los. Ao preferir o desligamento de si e a
�ria levar a uma reflexão aprofundada .. imersão no universo do que é lido, deixam-se de
Na aparente gratuidade da leitura de umà novela estabelecer as relações necessárias para possibilitar
a diferenciação e compreensão tanto do contexto
de TV, uma revista de modas, uma fotonovela,
uma comédia cinematográfica, um romance _.
pessoal e social quanto do ficcional ou mistificador
policial ou pornográfico, está implícito o modo da realidade. Caracteriza-se, então, a total submisão
que encontramos · para extravasar emoções, do leitor, tornando-se ele vulnerável e suscetível
satisfazer curiosidades e alimentar nossas fantasias. à manipulação. E. os estragos causados são con- ·
sideráveis.
Sentimentos esses que, no nosso cotidiano, não \
f
Tudo o que lemos, à exceção da natureza (isso desencadeadas pela leitura. As vezes, a retomada
se não considerarmos a interferência do homem d? texto significa também uma nova postura
nela), é fruto de uma visão de mundo, de um d1ante dele; outras, o fato de termos interrompido
sistema de idéias e técnicas de produção, caracte t a leitura não nos impede de mergulharmos nova
rizando um comprometimento do autor com mente nela, como se narcotizados, mesmo havendo
o que produz e, por certo, com seus poss1ve1s então emoções diferenciadas.
leitores. Há, portanto, relação entre texto e Assim, além da história pessoàl do leitor e do
ideologias, pois estas são inerentes à intenção seu contexto, fica de novo sublinhado o quanto os
{consciente ou inconsciente) do autor, a seu modo fatores circunstanciais da leitura influem no tipo
de ver o mundo, tornando-se também elementos de resposta dada ao texto. Um dramalhão uma
de ligação entre ele e os leitores de seu texto (este not(�ia de jo rnal ou um incidente cotidiano odem
p
_
susc1tar lágnmas ou gargalhadas; um clássico do
não nos interessa aqui pelo seu valor intrínseco -
se artístico ou não, discutível ou elogiável, bem ou teatro, da literatura ou do cinema talvez provo
mal realizado - importa antes como algo sujeito quem bocejos ou emoções as mais profundas e
a leituras). duradouras. Depende muito do referencial da
Mas se há uma intencionalidade na criação, ela leitura, da situação em que nos encontramos das
sabidamente nem sempre corresponde ao modo intenções com que nos aproximamos dela, do' que
como a leitura se realiza. A resposta do leitor el? desperta de lembranças, desejos, alegrias,
depende de inúmeros fatores presentes no ato de _
tnstezas. .
ler. Estando predisposto a entregar-se passivamente I �P?rta, por . fim, frisar o quanto em geral·
ao texto, tende a se deixar envolver pela ideologia repnmtmos e desconsideramos a leitura emocional
ou ideologias nele expressas (explícitas ou não), muito em função· de uma pretensa atitude inte:
daí a sua vulnerabilidade. lectual. Todavia, ·se interrogadas sobre os motivos
Sempre haverá, entretanto, momentos de - que as levam a ler livros, revistas ir ao cinema
distanciamento, quanto mais não seja, causado� f
assistir televisão ou mesmo ouvir ofocas, muita �
pessoas revelam ser para se distrair. 1 sso não
por fatores externos à leitura (a interrupção do ..
significa serem leitores desatentos ou incapazes
ato de ler, por exemplo). E nessas ocasiões, vindo
à tona, emergindo do universo lido, o leitor pode
de pensar um texto. Apenas sua tendência mais
estabelecer relações entre seu mundo e o do texto. ceimum é deixarem-se envólver emocionalmente
pelo que lêem. Ocorre, entretanto - e cada vez
Há então oportunidade para elaborar as emoções
l
' Maria Helena Martins O que é Leitura
63
com maior freqüência -, as pessoas sentirem ou, pior ainda, representar Shak ·
.
·
espeare em tom .
necessidade de justificar suas preferências de popularesco: uma afronta ao
bardo inglês e à
. Cultura. Como admitir também
·
'
. ·
.
uma pessoa, que nos desgostam ou agradam mt�lectuars: pensadores, estet
as, críticos e mesmo
profundamente, são lidos de um jeito e a leitura artrstas que reservam a si o direi
to de ditar normas
revelada de modo distorcido. E agimos assim à n o�s� leitur�, _?em como guardam
_ para si 0
porque temos motivos intelectuais para· isso. pnvrle�ro da cnaçao e fruição das
artes, das idéias,
Estamos, nesse caso, penetrando- aindà que pela das corsas boas da Vida.
porta dos fundos- em outro nível de leitura o �ntes ·de prosseguir, convém esclarece Há uma
� ne de características diferenciadorasr.entr
-·
racional. e as
drversas -�tegorias de intelectuais (Horácio
Gon�ales est�da-as em outro livro
desta coleção).
Aqur generalizo e simplifico
Leitura racional o sentido de inte
le�tual, leva�do-�, i�clusive, à radicalização
_
�ejoratrva, pors evrdencro o elitismo, o intelectua- ·
comumente enten
de produzir e apreciar a linguagem, erri especial dida como intelectual.
a artística. Enfim, leitura é coisa séria, dizem os . A leitur� a esse nível intelectual enfa
tiza, pois, 0
intelectuais. Relacioná-la com nossas experiências r�telectuahsmo, doutrina que
afirma a preeminên
sensoriais e emocionais diminui sua significação, Cia e anterioridade dos fenômen
os intelectuais
revela ignorância. Imagine-se o absurdo de ir ao sobre os sentimentos e a vont
ade. Tende a ser
teatro e divertir-se com Otelo ou Ricardo III un ívoca; o leitor se debruça
sobre o texto,
Maria Helena Martins O que é Leitura
64
. pretende vê-lo isolado do contexto e· sem envol formas de expressão humana e da natureza .
vimento pessoal, orientando-se por certas normas A�im, na perspectiva proposta aqui, a compe
preestabelecidas. Isto é: ele endossa um r:nodo ten�la para criar ou ler se concretiza tanto por
A
de ler preexistente, condicionado por uma ideolo me1o de textos escritos (de caráter ficCional ou
gia. Tal postura dirige a leitura de modo a se não) quanto de expressão oral música artes
perceber no objeto lido apenas o que interessa plásticas, artes dramáticas ou d Õ
e situaç es da
ao sistema de idéias ao qual o leitor se liga. Muitas realidade objetiva cotidiana (trabalho, lazer.
vezes se usa, então, o texto como pretexto para relações afetivas, sociais). Seja o leitor inculto ou
avaliar e até provar asserções alheias a ele, frus-. erudito, seja qual for a origem do objeto de leitura.
trando o conhecimento daquilo que o individualiza. tenha ele caráter utilitário, científico, artístico
•
Ao se aplicar um esquema de leitura ao texto, configure-se como produto da cultura folclórica
•
adotando um comportamento esteriotipado em popular, de massa ou das elites.
relação a ele, põe-se também de lad� uma maneira Reforça-se, então, o que já foi dito: a construção
· de ler, de dar sentido, nossa, autêntica, em função da capacidade de produzir e compreender as mais
de uma leitura supostamente correta porque sob o diver �a� linguagens está diretamente ligada a
beneplácito de intelectuais. Assim, se estes cond1çoes propícias para ler, para dar sentido
autorizam a reverêr.tcia, o riso, o entu$iasmo ou a expresSÕes formais e simbólicas, representacionais
o menosprezo em face de um texto,. "revogam-se ou não, quer sejam configuradas pela palavra, quer
as disposições em contrário". · pelo gesto, pelo som, pela imagem. E essa capaci
· Outro aspecto muito difundido dessa concepção dade relaciona-se em princípio com a aptidão para
intelectual liga-se ao fato de, em princípio, limitar ler a própria realidade individual e social.
a noção de leitura ao texto escrito, pressupondo. E�sas considerações são básicas para se perceber
educação formal e certo grau de cultura ou mesmo a diferença entre a leitura a nível intelectual e
erudição do leitor.
·
a �ível racional, como as c�loco aqui. A leitura
Como se viu de início, discuto aqui a visão da rac1ona �
é certamente intelectual, enquanto
leitura confinada à escrita e ao texto literário ou �
ela orada por nosso intelecto; mas, se a enuncio
às manifestações artísticas em geral, propondo ass1� ' é para tornar. mais evidentes os aspectos
.
vê-la como. um processo de compreensão abran-. pos1t1vos contra os negativos do que em regra se
considera leitura intelectual.
·
importa se apresente maior ou menor grau de Cabe aqui uma observação, talvez dispensável,
·
qualidade. Aliás, quando se fala em qualidade, em caso não viesse dar força ao que tentei sublinhar
critérios de valor, estamos necessariamente diante no decorrer desta reflexão.· Embora enfatizasse
do confronto entre um e outros textos, entre a leitura das mais diferentes linguagens, a da
leituras. Cotejando-os, evidencia-se aquilo que escrita acabou se impondo; os exemplos literários
individualiza cada um. E quanto maiores as evidenciam isso. Primeiro, porque é através dela
possibilidades de confrontar, melhores as condições
·
que o próprio ato de ler tem sido pensado; segundo,
para apreender isso. porque na literatura se encontram· elementos
Quem leu um único romance, por exemplo, aos quais podemos voltar inúmeras vezes, testando
pode ter opinião definida, senão definitiva, sobre nossa memória, incitando nosso imaginário, dei
literatura de ficção. Seu repertório desse tipo de xando sentidos, emoções e pensamentos serem
leitura, talvez por ser bem .limitado, permite permeados pela variedade de sentidos que pode
maior clareza de critérios. Para quem leu inúmeros, possuir uma única palavra.
as coisas se tornam mais complexas, os parâmetros Além disso, quer se queira ou não, todos estamos
diversificam-se. Não vai aí nenhum juízo de valor historicamente ligados à noção de leitura como
para um ou outro tipo de leitura, leitor ou texto. referindo-se à letra, talvez o sinal mais desafiador
Quero, com esse exemplo, apenas observar que, ao e exigente em ·qualquer nível, especialmente o
se ampliarem as fronteiras do conhecimento, as racional. E, creio, quanto mais lermos de modo
extgencias, necessidades e interesses também abrangente, mais estaremos também favorecendo
aumentam; que, uma vez encetada a . trajetória nossa capacidade de leitura do texto escrito.
de leitor a nível racional, as possibilidades de Sem dúvida, o intercâmbio de experiências de
leitura de qualquer texto, antes de serem cada leituras desmistifica a escrita, o livro, levando
vez menores, pelo contrário, multiplicam-se. nos a compreendê-los e apreciá-los de modo mais
Principalmente porque nosso diálogo . com o natural, e certamente estaremos assim fortalecendo
objeto lido se nutre de inúmeras experiências nossas condições de leitores efetivos das inumerá
de leitura . anteriores, enquanto lança desafios veis mensagens do universo em que vivemos.
e promessas para outras tantas.
* * *
* * *
desencadear ·e orientar a leitura racional. Um dos física indica traços de personalidade. As vezes
mais comuns é a narrativa, sustentada praticamente esse recurso é usado de maneira caricatural, mar
por qualquer tipo de linguagem· (falada, escrita, cando o perfil de determinados tipos. Tem sido
gestual, gráfica, plástica, musical, cinematográfica). extremamente explorado nas narrativas populares,
..
.....
Todo texto nos conta alguma coisa, seja por nos folhetins, nas fotonovelas, nas telenovelas, no
meio de uma narrativa nitidamente marcada cinema, no teatro. Os modelos clássicos dessa
pela seqüência cronológica dos acontecimentos, tipologia remontam à dupla Quixote/Pança,
como no romance tradicional, seja de modo criação de Cervantes. Dom Quixote tem sua
obscuro ou quase imperceptível, como num alienação e vulnerabilidade salientadas pelo porte
poema I írico ou numa composição .musical. E a frágil, longil íneo, doentio, envelhecido, contras
busca do processo narrativo - do modo como tando com o ridículo de uma paramentação e
a história é contada - pode ser excelente deixa atitudes de pseudocavaleiro, ai iás, "Cavaleiro da
·
pantalha concentrava sobre a tábua, para ler uma nas vivências de muitos de nós. Apesar das limita
ietrinha apagada ou acertar um ponto mais ções ambientais, de recursos materiais precários
delicado.O estancieiro ocupava uma das cabeceiras. e de uma experiência de vida ainda em suas
Dona Alzira sentava perto, na cadeira de embalo. primeiras descobertas, a circunstância favoreceu a ·
Na outr� ponta, as crianças brincavam ... [ Lelita] realização da leitura, efetivada aí simultaneamente
Juntando as pai mas das mãos - seus dedos eram a nível sensorial, emoCional e racional, os quais se
delgados, compridos, flexíveis punha-se interpenetram e se complementam.
defronte à lâmpada e projetava na parede silhuetas
de cabecinhas de cordeiro, de coelho, de gato
* * *
•a
•• ••
O que é Leitura 83
A LEITURA AO JEITO
DE CADA LEITOR
exceções é dispensável. Fundamental mesmo é Uma � as razões pelas quais às vezes nos sentimos
a continuidade da leitura, o interesse em realizá-la. desanimados diante de um· texto considerado
Quantos leitores já deixaram passar a sua parada · "difícil" está no fato de supormos ser em função
porque, no ônibus superlotado, barulhento e ·de deficiência nossà, de incapacidade para compre
endê-lo. Isso em geral é um equívoco. Por que
·
87
86 Maria Helena Martins O que é Leitura
desistirmos de uma leitura racional se temos Daí a importância de discutir a seu respeito, de
interesse e necessidade de realizá-la? Tampouco buscar esclarecimentos com outros leitores ou
adianta ficar relendo mecanicamente; pelo em outrós textos.
contrário, é pior. Para diminuir a tensão, amenizar A leitura, mais cedo ou mais tarde, sempre
as dificuldades, importa muito não considerar o acontece, desde que se queira realmente ler.
texto como uma ameaça ou algo inatingível.. Acima de t udo, precisamos ter presente que se
Melhor relaxar, não se preocupar em decifrá-lo,· em não conseguimos, de vez, dar o pulo do gato -
descobrir o sentido, mas cercá-lo ao modo da bem, que se continue andando ainda um pouco,
gente, pelo ângulo que mais atraia, mesmo pare pois não é pecado caminhar.
cendo algo secundário do texto.
Tratando-se de um livro, retomá-lo folheando
ao acaso e lendo uma ou outra passagem, sem nos
sentirmos obrigados a entendê-la, mas procurando
apreciá -la, estabelecendo relações com outras
passagens lidas, com leituras já realizadas, quais
quer que tenham sido os meios de expressão dos
textos ou os níveis privilegiados. As vezes o som
das palavras de um poema vem-nos indicar o
caminho para começar· a pensá-lo; ·a descrição
de uma cena; de uma paisagem, de um aconteci
mento talvez remeta a uma experiência vivida e
facilite a compreensão do texto; um assunto
desconhecido pode, num determinado momento,
trazer referências a algo já lido e, por aí, come
çamos a entendê-lo.
Enfim, é fundamental não ter preconceito, nem
receio de carrear para a leitura quaisquer vivências
·
anteriores; procurar questionar o texto quem
.._,.
Mas, como também se viu, é através da escrita rápida, o ato de ler e o processo de formação do
que a leitura tem sido pensada e se torna mais fácil autor estão imbricados, revelando como se fez
aprofundar uma reflexão· a seu respeito. Prova esse ·que é taiJez o maior filósofo de nosso século.
disto está nos textos que serviram· de apoio para De Jorge Luis Borges, mais que através dos ensaios,
o que discorri. Aliás, eles foram selécionados já lendo-se História Universal da lnfâmcia (contos)
por serem agradáveis e esclarecedores, revelando fica-se sabendo e rec'onhecendo como um grande
aspectos curiosos da iniciação à leitura. leitor se transforma num escritor geniaL Depois,
t
Para começar, melhor ir direto à poesia, à é saborear seus inúmeros outros livros.
·
f'ICÇão, às memórias; Má�io Ouintana, lá na epígrafe· Quanto aos ensaios citados, tÓdos trazem
...
O que é Leitura 93
Mar.a Helena Martins
oferecendo subsídios _especialmente para professo · FUNARTE, Rio de Janeiro, 1980 (inddito).
CHIAPPINI, Ligia. A. TV se volta para o gosto "popular". Entre
res e bibliotecários. E, em Leitura em Crise na
vista concedida ao jornal O Estado de São Paulo, São Paulo, 23
Escola (Mercado Aberto), organizado por Regina de maio de 1982.
Zilberman, há artigos
e pesquisas de vários ESCARPIT, Robert & BARKER, Ronald. A fome de ler. Rio de
professores do e 39 graus. Relatam-se
1 '?, 21? Janeiro, Fundação Getúlio Vargas/MEC, 1975.
· FREIRE, Paulo. A importlncia do ato de ler (em três artigos que
experiências, discutindo as deficiências e apon
se completam). São Paulo, Autores Associados/Cortez. 1982.
t ando saídas para o impasse da leitura e do ensino
. Padagogia do oprimido. 6� ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
da literatura em nossas escolas. 1978.
Para terminar, vários livros da Coleção Primeiros LINS; Osman, Do ideal B da glória; problemas inculturais brasileiros.
Passos relacionam-se com questões levantadas São Paulo, Summus, 1977.
MARTINS, Cyro. Um menino vai para o coltlgio. Porto Alegre,
aqui_ Dentre eles, Ideologia, de Marilena Chaui;
Movimento, 1977.
Literatura, de Marisa Lajolo; Poesia, de Fernando
REVISTA Isto t. A TV no outro mundo. São Paulo, 7 de Abril
Paixão; Arte, de Jorge Coli; Intelectuais, de Horá de 1982.
cio Gonzales; Cinema, de Jean-Claude Bernardet; SARTRE, Jean-Paul. As palavr•. São Paulo, Difusão Europfia
Teatro, de Fernando Peixoto. ·
do Livro, 1964. .
SMITH, Frank. UndBritanding r88díng; a psycholinguistic analysis
of reading and learning to read. 2� ed, Nova. Yorque, Holt, Rine
hart and Winston, 1978.
Bibliografia VERrSSIMO, E: rico. Solo de Claríneta. Porto Alegre, Globo, 1973,
vol. 1.
ADLER, M<mimer J. & VAN DOREN, Charles. A arte de ler. Rio
·
Stllinha de Leitura para crianças, a qual muito contribuiu J. Ell Volga 34 • St81lftl- J. meni.rf....o Ruben Cesar Keinert cor Cesarotto/M. Souza �
Paulo Netto 35 · 1--" 11 • A- Betty Mllan 11 • -. 134 . ""'-"" � �
A. Mendes Catanl 31 - Cultuno - � Joio B. Clntra 135 - Conto Luzlo de - UI -
pua a elaboração deste O que é leitura. ,..._ A. AU9USto Arantes 37 • Rlbes 10 • .,.......,.. Civil Eroll..., Lúcia Casteflo ar-co
fl- Calo Prado Jr. 31 • - Evaldo VIeira ti · Uni..,.... 137 • Vlcleo Cindido ..Jose ..._
- - ,,.... C. R. Brandia Lulz E. W. Wandorley 12 • aue. dos de Almeida 131 • ...._.
3!1. l'olcologlo 8oclol S. T. Mou tio de Moradia Lulz C. O. Ribei 1'11ulo de Solles Oliveira 13!1 -
rer lane 40 • TrotNiemo J. Ro ro/Robert M. Pechman 13 - .laD Herói Martin Cazar Feijó ta -
berto Compoa 41 • - Roberto Mugglotl 14 - llbllotec:a Autonomlo -"- Lúcio llone
Jamll A. Haddod 42 • -lo Lulz Mllanesl H • -lpeçlo to Bruno 1•1 • AfleMPD w..
Urbona Rogls de Mareio 43 • -. Juen E. Oiez Bordenave 91 • C. ley Codo 1o12 - .._. EWo
ele MartiMI Glauco Mattoso 44 - poeira Almlr das Areles 17 • Um Aluo de Oliveira 1CJ - c-li
f ,_..._ B. M. Alveo/J. Pltan bendi Patrícia Blrman • .. Utll ra. tulnte Marllla Garcia 144 - ..,_
guy .as - A- Rodolpho tur11 Popular Joseph M. Luyten tório""' � S6nia -
Cantata 41 • Arte Jorge Coll 47 • " • P1lpel Qtjvlo Roth tOO - Luyteni.U-�....._
Comlahs de Filbrtce R. Antu Conlnculturo Carlos A. M. Pe Vlnlcius FerTeira 1• - �
caro leitor: nes/A. Nogueira 41 • � reira tOI • c-� Rural mo • 2.' .._ - Laura Yiwà
Ruy Moreira 41 • DINitoe di Juan E. O. Bordenave 102 • Fome ros de castro 1.-t • -
As opiniões expressas neste livro são as do autor, - Dalmo de Abntu Dallorl Rie��rdo Abramovay 103 • Sem� t1ce A..... Jean Cost1t.es te •
podem não ser as suas. Caso você ache que vale a 50 • F..,.tlo Donde Prado 51 • Pa t1ce Lúcia Santaella 104 • Porttcl· Marx- - Poulo - ..
lrlnMinlo - Corloa A. C. peçiO Politica Dalmo de Abreu - Tox- Jondir - •
pena escrever um outro livro sobre o mesmo tema, Lemos 52 -,..._.._
tln Alan lndlo Sarrono 13 • U..
Dollarl 105 • .luat1ça Júlio C6sar
Tadou Barbosa toe • Aalrologla
. -- Lulz. Souza ...
ranhio 151 • - E-- P
nós estamos dispostos a estudar sua publicação - Morlso la)Oio 54 • ...,._ Juon A. C. Müller/L6a M. P. G. Rocha 152 ·- Edoao ....
Wollgang Leo Mur 56 • Eaplrl Müller 107 • Polftlce CUitlnl settl 113 - Uot Cca;u -
com o mesmo título como "segunda visão". . . - Roque Joclntho 11 • "'- Martin Cozer- Foiló toe •. c-. to Suannes.