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A ética como qualquer outro campo do conhecimento vem

passando por sucessivas reformulações, adaptando-se às novas


demandas ao longo do processo de desenvolvimento social. Propor
uma discussão sobre o tema é sempre um desafio, que se coloca
de forma mais evidente quando focamos as questões relacionadas
à saúde. E aqui temos que colocar a saúde como “Bem Supremo”,
valor de referência para julgamento das demais potencialidades e
capacidades dos homens. Nestes termos, podemos concordar com
Bellato (2003, pg. 430), quando diz “por seu incomensurável poder
de agregar outros valores, a saúde se torna cenário privilegiado
para o exercício da ética (...)”. Compreendendo a saúde nesta
dimensão, passaremos à contextualização dos extremos
vivenciados por nós brasileiros no cotidiano das práticas
assistenciais.
Segundo Garrafa (2003), a saúde brasileira vem nos últimos
anos apresentando uma contradição insustentável, onde em alguns
hospitais brasileiros se desenvolvem cirurgias da mais alta
complexidade técnica, como por exemplo, os transplantes múltiplos
de órgãos e no outro extremo centenas de adultos e crianças
continuam morrendo diariamente de problemas que poderiam ser
evitados por meio de corriqueiras medidas sanitárias. Vivemos uma
situação paradoxal, onde segundo Garrafa, apud Berlinger (1993),
oscilamos entre a esperança e a repugnância. A “esperança” de
que a ciência e a técnica consigam suplantar esses vergonhosos
quadros. E a “repugnância” diante dos outros milhares de
desassistidos espalhados por todas as regiões do país.
No entanto, alcançamos importantes avanços, que tem como
marco a Constituição de 1988, que é uma das mais avançadas no
que se refere às questões médicas sanitárias. Temos a nossa
disposição um aparato legal considerável, como exemplo, a Lei
Orgânica de Saúde, assentada em princípios teóricos da
descentralização administrativa, da universalização do acesso dos
usuários ao sistema prestador de serviços, da equidade e outros. É
importante registrar que a Conferência Nacional de Saúde
transformou-se em fórum de permanente
reformulação/aperfeiçoamento desta Legislação e vem ampliando
as possibilidades de participação, inclusive dos usuários, não
somente na gestão do processo como também na formulação de
políticas para o setor.
Porém a dificuldade está na implementação da prática dessas
conquistas legais. Essas dificuldades se assentam, segundo
Garrafa (2003), na ausência de comportamentos comprometidos
com a saúde da população em todos os níveis de gestão/prestação
de serviços de assistência. Nessa direção visualizamos a
educação/formação profissional como campos de ação privilegiado.
Há que se registrar que o movimento que vem ocorrendo
nesta área e que resultou na mudança da legislação de ensino em
todos os níveis e que resultou na proposição de um Projeto Político
Pedagógico, vem permitir que as diversas adeqüem seus conteúdos
contemplando essas questões, para a enfermagem brasileira por
força das DCN (Diretrizes Curriculares Nacionais), este projeto
apontou para uma preocupação mais integrada da formação do
enfermeiro centrada na realidade social e com perfil generalista,
humano, crítico e reflexivo, tendo com base o rigor cientifico. Há
que se incorporar aqui, a exemplo do que acontece na saúde, a
preocupação com as avaliações/ajustes necessários ao seu
aperfeiçoamento.
Condutas profissionais referidas pelos enfermeiros frente ao
evento adverso com medicação.

Pela análise dos dados verificou-se que os 116 enfermeiros da


amostra indicaram um total de 346 condutas assim distribuídas,
segundo a freqüência: comunica o médico (33,0%), intensifica os
controles do paciente (30,0%), repreende o funcionário (13,0%) e
anota no prontuário.

No entanto, analisando-se as condutas segundo a ordem de


prioridade atribuída pelos enfermeiros, comunicar ao médico
(69,8%) e intensificar os cuidados (55,1%) foram predominantes
como primeira e segunda prioridades, reiterando as respostas
obtidas na análise geral das condutas. Porém, com relação à
terceira prioridade, constatou-se maior número de indicações para
anotar o evento no prontuário (28,0%), do que repreender o
funcionário (24,5%).

A tomada de decisão diante de uma situação crítica, envolvendo


erro na administração de medicamentos nas Unidades de
Emergência, exige do enfermeiro prontidão de ação com vistas à
prevenção de agravos à saúde do paciente. Sendo o enfermeiro
responsável pela coordenação da assistência e pela supervisão dos
profissionais da equipe de enfermagem(16), espera-se que coloque
em prática medidas que evitem conseqüências de maior gravidade.

A comunicação do evento ao médico, como conduta prioritária,


parece adequada e esperada, uma vez que situações dessa
natureza, podem exigir procedimentos médicos específicos, como a
prescrição de outras drogas, solicitação de exames laboratoriais e
avaliação clínica mais criteriosa.

Em relação à segunda conduta mais mencionada, isto é,


intensificar os cuidados, pode-se supor que a principal justificativa
relacione-se ao fato de que estando os enfermeiros cientes das
graves conseqüências possíveis e sendo responsáveis pela
segurança do paciente sob seus cuidados(17), aumentem a
vigilância e monitorização das condições clínicas dos pacientes,
visando a uma intervenção pronta frente a qualquer anormalidade.

Como terceira conduta mais citada pelos enfermeiros em ordem


de prioridade, encontrou -se anotar o evento no prontuário, mais
apontada do que a repreensão ao funcionário.

A anotação no prontuário como uma das prioridades referidas


pelos enfermeiros tem sido uma prática cada vez mais necessária,
embora, muitas vezes, omitida pelos profissionais, provavelmente
pelo medo das sanções ético-legais a que ficam expostos. No
entanto, ao apontarem a anotação como uma prioridade que se
sobrepõe à punição do funcionário, os enfermeiros mostraram -se
em conformidade com as perspectivas atuais na abordagem desse
tipo de evento.

Contrária à tendência de punir o profissional, organizações


internacionais voltadas à monitorização e prevenção de erros de
medicação(13,18) têm, reiteradamente, sugerido que se estimule a
comunicação do erro como uma das principais formas de acessar
as reais causas dos eventos e sua possível prevenção. A busca por
culpados para punir não tem proporcionado diminuição dos erros,
tampouco contribuído para a. elaboração de estratégias preventivas
eficazes Agem em sentido contrário, na medida em que induzem à
sub-notificação e dificultam a implementação de protocolos que
levem à prevenção de erros( 19).

Pelos resultados obtidos, pode-se pressupor que os fatores que


levam os profissionais a tomarem decisões, em situações de erros
com a medicação, variam de acordo com características intrínsecas
e extrínsecas a sua pessoa, ou seja, crenças, valores, experiência
profissional, tempo de atuação na área, filosofia da instituição, entre
outros (20).

Com o intuito de aprofundar a analise dos dados, o estudo da


associação das variáveis condutas dos profissionais com idade,
tempo de formado e tempo de trabalho na área de emergência,
mostrou dados interessantes. Enquanto que as condutas foram
independentes da idade e do tempo de atuação na área de
emergência, e da vivência anterior com erros de medicação,
diferenças estatisticamente significativas foram verificadas quanto
às condutas e o tempo de formado. Enfermeiros com tempo de
formado maior do que três anos, indicaram como primeira
prioridade intensificar os controles dos pacientes (29,0%) para, em
seguida, avisarem o médico (27,0%). Enfermeiros com menor
tempo de formado, ao contrário, primeiro avisam o médico (48,0%)
e, em segundo lugar, intensificam os controles (28,0%)

Assim sendo, parece fazer sentido que os enfermeiros com maior


tempo de formado voltem-se primeiro para intensificar os cuidados
do paciente ao invés de comunicarem o médico imediatamente.
Maior tempo de exercício profissional pressupõe maior segurança
no controle e identificação das manifestações apresentadas pelo
paciente, comparativamente, aos recém-formados que comunicam
ao médico como primeira conduta, certamente na busca de uma
solução compartilhada do problema.

4.2. Sentimentos profissionais referidos pelos enfermeiros


frente ao evento adverso com medicação.

De um total de 318 sentimentos citados pelos enfermeiros do


estudo, obteve-se a seguinte distribuição: preocupação (35,0%),
insegurança (16,0%), raiva e impotência (14,0%, cada um), culpa
(12,0%) e outros (9,0%).

No entanto, a análise desses resultados segundo a prioridade


atribuída pelos profissionais assim se apresentou em ordem
decrescente: preocupação (79,3%), raiva e impotência (22,2%
cada) e insegurança (24,4%).

A variada gama de sentimentos referidos parece confirmar que os


enfermeiros experimentam grande sofrimento psíquico quando se
deparam com a ocorrência de um erro de medicação. Talvez a
preocupação, como principal manifestação emocional, tenha
surgido não só pelas conseqüências que o erro pode trazer ao
paciente, como também a si próprio, face à responsabilidade que
lhe cabe na liderança de sua equipe(7,17,21,22).

A preocupação é apontada como uma das maiores causas de


estresse da equipe de enfermagem, sendo desencadeada pelo
intenso conflito de achar que deveria e poderia ter feito alguma
coisa que não foi feita. Além disso, o receio pelas cobranças de
melhor desempenho e represálias que poderão sofrer por parte dos
médicos, chefias imediatas e da instituição empregadora,
contribuem para a sua manifestação.

A raiva e impotência mencionadas pelos enfermeiros, em


segundo lugar na ordem de importância, foram também
encontrados na UTI em investigação que envolveu um erro na
administração de digitálico(2).Tais sentimentos parecem bastante
compreensíveis nessas situações. A raiva em razão de ter ocorrido
com um funcionário sob sua supervisão, o que leva a uma
exposição negativa da enfermagem perante a equipe
multidisciplinar e família, agravada pela responsabilidade que o
enfermeiro assume perante o erro, independente dos agentes que o
causaram(17). Já a impotência seria justificada pela sensação de
nada poder fazer após o erro cometido, restando apenas a
possibilidade de evitar outras complicações.

No que diz respeito à insegurança citada pelos enfermeiros como


terceira prioridade, é possível que a imprevisibilidade da dimensão
das conseqüências do erro, tanto para o paciente como para o
profissional, assim como a impotência diante delas contribuam para
a insegurança referida pelos enfermeiros dos serviços de
Emergência.

É possível que a intensificação dos controles que os


enfermeiros apontaram como uma das principais condutas
adotadas tenha também sido colocada em prática numa tentativa de
amenizar as manifestações afetivas encontradas.
Quando se procurou explorar os sentimentos mencionados por
meio da associação de variáveis, não foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas com o tempo de formado, tampouco
com o tempo de experiência na área de emergência. Observou-se,
porém, diferença estatisticamente significante entre os sentimentos
com a idade e com a vivência anterior com erro de medicação.

Enfermeiros com idade menor ou igual a 30 anos indicaram a


preocupação como primeira e segundas prioridades (79,5% e
28,2%, respectivamente), seguida pela insegurança (31,3%). Os
profissionais com mais de trinta anos, embora apontassem a
preocupação como principal manifestação (80,2%),citaram a raiva
(23,9%) e a insegurança (21,6%) como segunda e terceira
prioridades.

Proposta metodológica

INTRODUÇÃO

Nas instituições hospitalares, a Enfermagem desempenha


importante papel na preparação da infra-estrutura para a realização
segura e eficaz dos procedimentos médicos e de enfermagem, além
de ações assistenciais, orientação e educação preventivas, visando
ao autocuidado, facilitando a reintegração social do paciente.

No Brasil, a equipe de enfermagem representa o percentual mais


significativo de pessoal, chegando a atingir em alguns casos cerca
de 60% nas instituições hospitalares.

A maioria das instituições de saúde tem um setor denominado


“educação continuada ou contínua” ou “educação em serviço” que,
para desenvolver suas atividades necessita de recursos naturais,
financeiros, físicos e, sobretudo, humanos.

A Organização Panamericana de Saúde - OPAS recomenda que


um profissional (enfermeiro) seja o coordenador e responsável por
este Setor, diretamente envolvido com o atendimento às
necessidades de desenvolvimento pessoal e profissional.
A participação dos enfermeiros é essencial, porque eles mantêm
contato direto e permanente com a equipe de enfermagem, o que
possibilita perceber a realidade e avaliar suas necessidades.

Nos hospitais, a qualidade se impõe da mesma forma como na


mundialização dos mercados, no aumento da oferta e na
diversificação das tecnologias.

Qualidade no hospital não tem o mesmo sentido que na indústria,


onde ela expressa a conformidade de uma peça ou produto a uma
norma ou especificação preestabelecida. O hospital, como outras
empresas de serviços, está sujeito ao humano, à imprevisibilidade
das situações, à particularidade das ocorrências e exigências, o que
não invalida as normas, apenas exige maior atenção para observar,
escutar, imaginar e antecipar ajustamentos e adaptações.

É importante refletir que as instituições hospitalares necessitam


ter “uma qualidade melhor”(4). Nesta tarefa, todos têm sua função e
responsabilidades, pois o paciente tem o direito ao diagnóstico e
tratamento, administração dos medicamentos, leito e roupas,
iluminação e ventilação, alimentação, comunicação, limpeza,
técnicas para evitar infecções, por vezes fatais, entre outros
serviços, não de qualquer jeito ou como favor, mas como direito e
com qualidade.

Nos serviços de saúde, os processos educativos visam ao


desenvolvimento dos profissionais por uma série de atividades
genericamente denominadas de capacitações, treinamentos e
cursos emergenciais ou pontuais, estruturados e contínuos.

O saber fazer deve ser um saber fazer bem, que leve em conta os
aspectos técnicos, políticos e éticos. Para o profissional de saúde,
não basta saber é preciso “articular responsabilidade, liberdade e
compromisso”.
Nessa direção nos processos educativos é preciso pensar em
interação, não apenas entre campos de saberes, mas entre os
profissionais das diversas áreas de conhecimento.

Pela reflexão e crítica num trabalho interdisciplinar, é possível


construir uma nova consciência da realidade do pensar com a troca,
a reciprocidade e a integração entre diferentes áreas, objetivando a
resolução de problemas de forma global e abrangente. “A
interdisciplinaridade é uma condição para uma educação
permanente” que exige mudança de atitude individual e
institucional.
Assim, a Educação Continuada é um conjunto de práticas usuais
que objetivam mudanças pontuais nos modelos hegemônicos de
formação e atenção à saúde. É “um processo que busca
proporcionar ao indivíduo a aquisição de conhecimentos, para que
ele atinja sua capacidade profissional e desenvolvimento pessoal,
considerando a realidade institucional e social”.

A Educação Permanente tem evoluído em seu conceito e no


contexto dos sistemas de saúde. Assim trata-se de um processo
permanente que promove o desenvolvimento integral dos
profissionais do setor, empregando os acontecimentos do trabalho,
o ambiente normal das atividades em saúde e os estudos dos
problemas reais e do cotidiano e situações mais apropriadas para
atingir uma aprendizagem significativa.

As empresas devem buscar a capacitação e o desenvolvimento


de seus quadros, pois observa-se que, atualmente nas
organizações hospitalares, o contraste entre necessidades e
realidade é acentuado.

Desse modo, um programa de educação voltado aos profissionais


de enfermagem requer um planejamento dinâmico, participativo,
interdisciplinar com objetivos definidos, buscando atender
diretamente as necessidades da organização e dos profissionais.
Assim, o objetivo do presente estudo consite em analisar o
Programa de Educação Continuada de um Hospital de Apoio ao
Ensino no município de São Paulo, tendo em vista levantar
subsídios para seu aprimoramento em uma perspectiva
interdisciplinar.

METODOLOGIA

Trata-se de um Estudo de Caso da perspectiva quali-quantitativa.


O cenário da pesquisa foi um Hospital de Apoio ao Ensino no
município de São Paulo.

Para a coleta de dados, foram entrevistadas as duas enfermeiras


que coordenam o Setor de Educação Continuada, após
agendamento. As entrevistas tiveram duração média de 45 minutos
cada e foram gravadas, conforme autorização dos respondentes e,
posteriormente, transcritas.

Foi aplicado também um questionário a 100 enfermeiros das


várias unidades, com questões de múltipla escolha e abertas,
distribuídas em três partes:

ÉPerfil dos enfermeiros: gênero, idade, tempo de formação,


tempo de exercício profissional e formação acadêmica;

É Dados funcionais: local e período de trabalho, tempo de trabalho


na instituição, experiências profissionais e tipos de participação nos
programas desenvolvidos pela Educação Continuada;
É Aspectos considerados de maior relevância para atender aos
objetivos: planejamento, participação dos enfermeiros,
levantamento e priorização de necessidades, mudanças
comportamentais observadas na equipe e aplicabilidade do que
aprendeu totalizando 12 perguntas, e um espaço destinado a
comentários que considerassem importantes não contemplados nas
perguntas.

Este instrumento foi entregue pessoalmente ao respondentes


pela pesquisadora.
A pesquisa foi desenvolvida de acordo com a Port.196/1996(9) e
submetida a apreciação dos Comitês de Ética em Pesquisa da
UNIFESP e do Hospital onde se desenvolveu o estudo. A
participação dos enfermeiros foi voluntária e com assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A POLÍTICA E A LEGISLAÇÃO DE PROTEÇÃO AO IDOSO

O Estado brasileiro, ao longo dos últimos vinte anos, construiu alguns


dispositivos legais de amparo à pessoa idosa, entre eles os que estão
inscritos na Constituição Federal, constituindo diretrizes para a elaboração
da Política Nacional de Saúde do Idoso, além do Estatuto do Idoso. Todavia,
diante da realidade de violência parece que apenas a existência de
dispositivos não é suficiente para o enfrentamento do problema.

Conforme a Constituição Federal, o idoso é um sujeito de direitos; está


impedida qualquer forma de discriminação por idade; e compete à família, à
sociedade e ao Estado “[...] o dever de amparar o idoso, assegurar sua
participação na comunidade, defender sua dignidade e bem-estar, e
garantir seu direito à vida”.

A Lei Orgânica da Saúde, nº 8.080/90, traz o princípio da “preservação


da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral”. Já o
Estatuto do idoso, Lei nº 10.741, no seu capítulo IV, “Do Direito à Saúde”,
assegura ao idoso o direito à atenção integral em saúde, através do
Sistema Único de Saúde, com toda a totalidade de serviços que este
sistema puder prestar, incluindo ainda atenção especial às doenças que
afetem preferencialmente esta parcela da população. Especificamente para
os idosos estão previstos, além de outros direitos comuns aos demais
cidadãos, a criação de unidades geriátricas de referência; atendimento
domiciliar com internações domiciliares, caso necessário.

O Estatuto proíbe a cobrança diferenciada de valores de planos de


saúde pelos idosos com a justificativa do avanço da idade. Um aspecto de
grande relevância para esta análise é o artigo 19 do Estatuto do Idoso que
trata da obrigatoriedade de comunicação, por parte dos profissionais de
saúde, dos casos de suspeita ou confirmação de maus tratos contra o idoso,
aos seguintes órgãos públicos: autoridade policial, Ministério Público,
Conselho Municipal do Idoso, Conselho Estadual do Idoso, e Conselho
Nacional do Idoso.

O Estatuto ainda prevê as seguintes prioridades no atendimento ao


idoso: serviços de atendimento às vítimas de violência (inclusive
preventivo), localização de familiares de idosos abandonados em
instituições, suporte jurídico-social, ampliação da participação social no
atendimento ao idoso.

A Portaria 1395/GM, de 10 de dezembro de 1999, trata da Política


Nacional de Saúde do Idoso, estabelecendo entre seus princípios que “[...]
a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos
os direitos de cidadania, garantindo sua participação na comunidade,
defendendo sua dignidade, seu bem-estar e seu direito à vida”. Em relação
aos maus tratos contra idosos, a Portaria afirma que os profissionais de
saúde devem estar sempre atentos para a possível existência deste mal,
causado por parte da família, do cuidador, ou de outros profissionais; e que
os idosos devem saber reconhecer seus sinais. Ainda afirma que idosos,
familiares e profissionais devem sempre denunciar casos suspeitos de
violência contra o idoso.

No ano de 2000 foi lançada no Brasil a Política Nacional de Redução da


Mortalidade por Acidentes e Violência, que enfatiza a promoção da saúde
para o alcance da qualidade de vida, prioriza as ações preventivas
intersetoriais e a ação comunitária. Suas principais diretrizes são: promoção
da adoção de comportamentos e de ambientes seguros e saudáveis;
monitorização da ocorrência de acidentes e violência; sistematização,
ampliação e consolidação do atendimento pré-hospitalar; assistência
interdisciplinar e intersetorial às vítimas de acidentes e de violência;
estruturação e consolidação do atendimento voltado à recuperação e à
reabilitação; capacitação de recursos humanos; apoio ao desenvolvimento
de estudos e pesquisas.

Em 2002 foi lançado em Madri o II Plano de Ação para o


Envelhecimento, que serviu de Base para a criação do Plano de Ação para
Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa (PAEVPI), pela
Subsecretaria de Direitos Humanos da Secretaria Geral da Presidência da
República do Brasil. “O Plano tem por objetivo promover ações que levem
ao cumprimento do Estatuto do Idoso (Lei nº 10741/2003), em
conformidade com o Plano de Madri, que tratam do enfrentamento da
exclusão social e de todas as formas de violência contra a pessoa idosa,
assim como garantir os direitos fundamentais”.

O PAEVPI prevê, igualmente, ações de combate e prevenção a todas


as formas de violência já identificadas contra os idosos, com
responsabilidades, atribuições, e estratégias divididas para o espaço cultural
coletivo, público, família, e instituições asilares. Dentre as várias ações
estratégicas citadas no Plano para cada um destes setores, algumas já
foram implementadas, como: a criação de Delegacias Especializadas para
idosos; criação de fóruns específicos; criação de sistema de denúncia; de
promotorias e Defensorias Públicas, e de Conselhos Municipais e Estaduais
de Direitos da Pessoa Idosa; capacitação de profissionais de saúde, de
direito, de assistência social, conselheiros, idosos, sociedade, e gestores de
instituições asilares, entre outras ações.

Conforme as considerações acima descritas o Brasil atualmente possui


suficientes recursos legais para o enfrentamento da violência contra o idoso.
Contudo, apenas a produção de instrumentos legais não é suficiente para
mudar a situação de violência a que está submetida a população idosa no
país.

Além das medidas legais faz-se necessária uma mudança de visão da


sociedade em relação ao ser idoso, como por exemplo, a mudança que
passa pela educação no sentido mais amplo, e especificamente na formação
dos profissionais, associadas à influência e ao poder que deve ter o Estado
para fazer valer as leis por ele criadas.

QUESTÕES ÉTICAS DO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA OS


IDOSOS

Na definição de Marilena Chauí a palavra violência significa usar a força


para ir contra a natureza de algum ser, ir contra sua vontade; violência é
violação; é transgressão contra as coisas que alguém acha justas e direitas,
caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão,
intimidação, pelo medo e pelo terror. Ela se opõe à ética pois trata seres
racionais como se fossem coisas, desprovidos de razão, vontade, liberdade
e responsabilidade.

A violência nega valores universais dos seres humanos, como a


igualdade, a justiça e a liberdade; consegue reduzir o valor da vida
humana, e se constitui em violação absoluta dos direitos humanos.

A violência contra o idoso é real, existe de fato, acontece na casa ao


lado, das formas mais elementares: é a vizinha que se apodera da pensão
da mãe; é o pai que é alojado no último cômodo da casa; é o neto que
destrata o avô com ameaças; é a falta de cuidado com a administração da
medicação. É o banho que não foi dado. A fralda que não foi trocada. É a
divisão de bens antes da morte, com mecanismos de persuasão e coação
física e psicológica do idoso. É o caçoar de sua demência e favorecer-se
dela. É a agressão física simplesmente, sempre feita por alguém mais
jovem e mais forte. É o abuso sexual das velhas acamadas, por seus
conjugues. É o ostracismo do asilo.
É urgente a necessidade de tornar visível a violência contra o idoso
para que ela seja reconhecida nos atos cotidianos e reprovada como atitude
a-ética, porque praticada por sujeitos sociais livres que podem decidir por
não praticá-la.

O reconhecimento de um ato ou comportamento de violência, e o seu


repúdio, estão diretamente relacionados às capacidades de percepção e
sensibilidade de cada indivíduo, que por sua vez dependem de valores
éticos. Só a ética faz perceber e repudiar um ato de violência. Portanto a
ética precisa ser cultivada em todas as instâncias da sociedade, como
instrumento de preservação da própria vida humana.

A ética é o conhecimento à serviço da vida. Usar a ética nos casos de


violência conduz o profissional (e demais pessoas) à reflexão e a busca de
respostas a uma situação que se mostra ambígua e extrema.

Os profissionais de saúde, no exercício de suas atribuições, devem


tomar suas condutas baseados em atos morais, guiados por valores éticos,
que devem ser reforçados durante sua formação profissional. É preciso
despertar e manter a sensibilidade dos profissionais para com os atos de
covardia e injustiça praticados contra a vida humana, até mesmo para que
se evitem idiossincrasias, como a prática de negligência, abuso, e
desrespeito pelos próprios profissionais de saúde, fato infelizmente comum
no cotidiano.

Três componentes éticos são essenciais para o enfrentamento da violência


pelos profissionais de saúde: o reconhecimento da dignidade das pessoas, o
respeito pelo outro, e os valores humanos. Resumiríamos estes três
componentes em uma só palavra: empatia. Saber pôr-se na situação do
outro, sentir como ele sente, identificar-se com ele. Seria o suficiente para
que vários atos de covardia e abuso fossem reconhecidos e combatidos não
apenas entre profissionais de saúde, mas em toda a sociedade, amenizando
o sofrimento humano do ponto de vista físico e moral.
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Resumo

Ética é o conjunto de princípios morais e valores que regulamentam os direitos e deveres


de cada cidadão e que são estabelecidos e aceitos por um povo em um determinado
tempo. A palavra moral possui diferentes sentidos, sendo associada ao comportamento
humano, que se refere ao bem e ao mal. Todas as profissões devidamente regulamentadas
possuem um código de deontologia que normatiza os deveres e obrigações das profissões.
Dessa forma, o código de deontologia da enfermagem busca normatizar os deveres do
profissional enfermeiro e orientá-lo sobre o que deve ou não ser feito. Assim como o
código de deontologia, a enfermagem também possui um código de ética próprio que
mapeia todos os direitos, deveres e proibições. Com base no que foi dito, surge o seguinte
questionamento: como a enfermagem visualiza e encara seus códigos e diretrizes que
regem a ética e moral dos enfermeiros tanto no meio acadêmico como em seu ambiente
hospitalar? O presente trabalho tem como objetivo principal conhecer a concepção dos
profissionais de enfermagem acerca dos conceitos de ética e moral. Além disso, busca-se
entender como os (as) enfermeiros (as) atuam nos serviços fazendo uso da ética e da moral,
bem como analisar a influência da ética e da moral na assistência prestada pela
enfermagem. O presente trabalho constitui-se como uma pesquisa qualitativa de caráter
descritivo, realizada por meio da construção de um referencial teórico, ou seja, uma revisão
integrativa de artigos publicados em revistas e livros que discutem a temática. Percebeu-se,
nos resultados, que há entre alguns profissionais uma falta de clareza em distinguir a ética
da moral, o que pode comprometer o atendimento ou a assistência prestada por esse
profissional, uma vez que a responsabilidade da enfermagem perante o paciente está
intimamente ligada ao seu código de ética, pois além de pautar as ações do enfermeiro,
auxiliando-o em sua escolha, também está associado à experiência da prática profissional
podendo oferecer ao profissional uma forma de assegurar cuidado seguro aos usuários.
Considerando o que foi exposto, percebeu-se que cada pessoa possui a sua moral que é
influenciada por vários fatores e que a utiliza nas ações que realiza. E que assim como a
moral, a ética também se faz presente nos atendimentos de enfermagem. No entanto, além
de ser influenciada pelos fatores supracitados, é também regulamentada por leis e decretos
que regem a profissão, de modo a interferir direta e indiretamente na maneira como ocorre
a assistência de enfermagem. O reconhecimento da saúde como um bem é necessário para
que os profissionais de enfermagem possam se posicionar de maneira adequada no
cuidado prestado aos pacientes, estando eles embasados tanto no viver coletivo, quanto
nas individualidades, e tendo a ética como instrumento fundamental na tomada de
decisões e nos processos de trabalho do profissional, assegurando ao paciente sua
dignidade e ao profissional, legalidade em seu trabalho.

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