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CURSO DE CAPACITAÇÃO EM HIDROLOGIA E

HIDROMETRIA PARA CONSERVAÇÃO DE MANANCIAIS


3ª EDIÇÃO

ORGANIZAÇÃO:
MASATO KOBIYAMA
FERNANDO GRISON
ALINE DE ALMEIDA MOTA

FLORIANÓPOLIS, FEVEREIRO DE 2011


3ª edição
1ª impressão – 2011

_______________________________________________________________________________________
Kobiyama, Masato

Curso de capacitação em hidrologia e hidrometria para conservação de mananciais 3ª edição –


Florianópolis: UFSC/CTC/ENS/LabHidro, 2011.
242p.

Inclui bibliografia

1. Hidrologia. 2. Hidrometria. 3. Mananciais.


_________________________________________________________________________________

Impresso no Brasil
2011

2
AUTORES
Aline de Almeida Mota (Mestranda, Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental
(PPGEA) - UFSC, aline.mota86@hotmail.com)
Antônio Augusto Alves Pereira (Professor, Departamento de Engenharia Rural (ENR) - UFSC,
aaap@cca.ufsc.br)
Cláudia Weber Corseuil (Professora, Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental - UFPEL,
cwcorseuil@hotmail.com)
Fernando Grison (Doutorando, Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental (PPGEA) -
UFSC, fernando@ens.ufsc.br)
Gabriela Pacheco Corrêa (Engenheira Sanitarista e Ambiental - UFSC,
gabrielapaco@yahoo.com.br)
Henrique Lucini Rocha (Mestrando, Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental
(PPGEA) - UFSC, henrique.lucini@gmail.com)
Joana "ery Giglio (Mestranda, Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental (PPGEA) -
UFSC, Joana_n_g@yahoo.com.br)
Masato Kobiyama (Professor, Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (ENS) - UFSC,
kobiyama@ens.ufsc.br)
"adine Lory Bortolotto (Acadêmica do Curso de Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental
- UFSC, nadi@ens.ufsc.br)
Patricia Kazue Uda (Mestranda, Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental (PPGEA) -
UFSC, pati_kz@yahoo.com.br)
Pedro Guilherme de Lara (Acadêmico do Curso de Graduação em Engenharia Sanitária e
Ambiental - UFSC, pedroguilherme.lara@gmail.com)
Pedro Luiz Borges Chaffe (Doutorando, Urban and Environmental Engineering School, Disaster
Prevention Research Institute, Kyoto University, plbchaffe@yahoo.com.br)
Péricles Alves Medeiros (Professor, Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (ENS) -
UFSC, pericles@ens.ufsc.br)

3
CRO
OGRAMA

Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira


Horário
21/02/2011 22/02/2011 23/02/2011 24/02/2011 25/02/2011
8:00 às 9:30 h MASATO: PÉRICLES: Saída de Campo: PÉRICLES: SIMONE:
Apresentação Capítulo 8 Saída: 07:00 h Laboratório Capítulo 11

Capítulos 1 e 2 FERNANDO: ALINE:


FlowTracker e Ensaio de
Micromolinete infiltração
9:30 às 10:00 h Café Café Café Café
10:00 às 12:00 h MASATO: PÉRICLES: PÉRICLES: JOANA:
Capítulo 2 (cont.) Capítulo 8 (cont.) CLÁUDIA: Laboratório (cont.) Capítulo 5
GPS
Capítulo 3 ALINE: FERNANDO:
Ensaio de Discussão das
infiltração (cont.) medições
12:00 às 13:30 h Almoço Almoço Almoço Almoço Almoço
13:30 às 15:30 h FERNANDO: CLÁUDIA: FERNANDO: PATRÍCIA: MASATO:
Capítulo 9 Capítulo 14 ADP Capítulo 10 Capítulo 12
15:30 às 16:00 h Café Café Café Café
16:00 às 17:30 h HENRIQUE: ALINE: Demonstração de FERNANDO: MASATO:
Capítulo 4 Capítulos 6 e 7 aparelhos Capítulo 13 Capítulo 15

Encerramento

4
SUMÁRIO

AUTORES ..................................................................................................................................... 3
SUMÁRIO ..................................................................................................................................... 5
PREFÁCIO ................................................................................................................................... 6
1. I
TRODUÇÃO ...................................................................................................................... 7
2. CICLO HIDROLÓGICO E PROCESSOS HIDROLÓGICOS ......................................... 12
3. MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS ................................................................................ 15
4. PRECIPITAÇÃO ................................................................................................................. 25
5. I
TERCEPTAÇÃO ............................................................................................................. 46
6. I
FILTRAÇÃO ................................................................................................................... 57
7. PERCOLAÇÃO ................................................................................................................... 72
8. CO
CEITOS BÁSICOS DE HIDRÁULICA DE CA
AIS ............................................... 97
9. MEDIÇÃO E ESTIMATIVA DE VAZÃO ....................................................................... 119
10. EVAPOTRA
SPIRAÇÃO ................................................................................................ 134
11. SEDIME
TOS EM RIOS ................................................................................................. 159
12. GERAÇÃO DE VAZÃO EM RIOS .................................................................................. 174
13. I
STALAÇÃO E MA
UTE
ÇÃO DE ESTAÇÕES HIDROMETEOROLÓGICAS .. 200
14. GEOPROCESSAME
TO ................................................................................................. 212
15. CO
CLUSÕES .................................................................................................................. 242

5
PREFÁCIO

A presente apostila é uma versão modificada das apostilas que foram utilizadas como
material didático para a realização do “Curso de capacitação em hidrologia e hidrometria para
conservação de mananciais” no período de 09 a 13 de fevereiro de 2009, e do “II Curso de
capacitação em hidrologia e hidrometria para conservação de mananciais” no período de 29 de
junho a 03 de julho de 2009, no campus da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Essa
versão modificada será utilizada para “III Curso de capacitação em hidrologia e hidrometria para
conservação de mananciais” no período de 21 a 25 de fevereiro de 2011, no mesmo local. A
realização do primeiro e segundo curso fez parte do projeto cujo título é o mesmo do curso,
financiado pelo Edital MCT/CNPq/ CT-HIDRO – nº 037/2006 (Seleção Pública de Propostas no
Âmbito da Ação Vertical Capacitação em Hidrometria). O objetivo destes cursos é tornar técnicos
da área de recursos hídricos, capazes de monitorar, calcular e analisar os principais processos
hidrológicos que ocorrem em microbacias hidrográficas. A realização do III Curso é uma ação
voluntária do Laboratório de Hidrologia (LabHidro) e Laboratório de Hidráulica (LabHidra) do
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambeintal (ENS) da UFSC.
A maioria dos autores da apostila pertence ao Laboratório de Hidrologia (LabHidro) do
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – ENS da UFSC. Portanto, encontram-se
naturalmente nesta apostila vários resultados do trabalho desse laboratório. Os integrantes do
LabHidro estão abertos a críticas, e a quaisquer possíveis questionamentos. Para isso, as
informações para contato estão disponíveis abaixo e também no site do LabHidro
www.labhidro.ufsc.br. Nesse site pode-se encontrar mais os respectivos estudos.

Florianópolis, 15 de fevereiro de 2011

Masato Kobiyama

Contato:

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC


Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – ENS
Laboratório de Hidrologia – LABHIDRO
Caixa postal 476 - CEP 88040-900
Florianópolis – SC
Telefone: (48) 3721-7749
email: labhidro@ens.ufsc.br

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1. I
TRODUÇÃO

Masato Kobiyama
Pedro Luiz Borges Chaffe
Aline de Almeida Mota

1.1 Hidrologia
A hidrologia é a ciência (logia) da água (hidro). Segundo UNESCO (1964), “Hydrology is
the science which deals with the waters of the earth, their occurrence, circulation and distribution on
the planet, their physical and chemical properties and their interactions with the physical and
biological environment, including their responses to human activity. Hydrology is a field which
covers the entire history of the cycle of water on the earth”. Então, internacionalmente a hidrologia
é definida como a ciência que lida com a água da Terra, sua ocorrência, circulação e distribuição no
planeta, suas propriedades físicas e químicas e sua interação com o ambiente físico e biológico,
incluindo suas respostas para a atividade humana. A hidrologia é o campo que cobre a inteira
história do ciclo da água na terra.
A hidrologia trata dos processos físicos relacionados à água que ocorrem no meio natural. O
ser humano, por sua vez, cria tecnologias de modo a adequar sua ocupação no ambiente, por isso a
quantificação da disponibilidade hídrica é utilizada para o planejamento e o gerenciamento dos
recursos hídricos. Aprimorando e possibilitando assim, atividades como, abastecimento de água,
agricultura irrigada e a dessedentação de animais, aqüicultura, navegação, geração de energia
elétrica, recreação e lazer e preservação da fauna e flora. Essas atividades tornaram-se vitais para a
humanidade e, portanto devem ser controladas de maneira sustentável.
O planejamento dos recursos hídricos é uma atividade que visa adequar o uso, controlar e
proteger a água às demandas sociais e/ou governamentais, fornecendo subsídios para o
gerenciamento dos mesmos (LANNA, 2004). A função da hidrologia nesse processo é auxiliar na
obtenção de informações básicas e fundamentais como na coleta e análise de dados hidrológicos. A
Figura 1.1 mostra essa função no contexto do gerenciamento dos recursos hídricos. Assim, nota-se
que a hidrologia é uma ciência fundamental no gerenciamento dos recursos hídricos.
Existem dois tipos de atividades na hidrologia: monitoramento e modelagem. A observação
ou medição contínua de processos chama-se monitoramento. A diferença entre o monitoramento e o
diagnóstico é que o primeiro possui a atividade contínua e o segundo normalmente não. Na
natureza, os experimentos são realizados em tempo real e em escala real, e o monitoramento neste
caso busca obter e interpretar dados. Tratando-se de processos de grande complexidade, como os
encontrados em bacias hidrográficas, podem existir sérias dificuldades em criar um modelo. Neste
caso, primeiro pode-se fazer o monitoramento, e os resultados obtidos possibilitarão ou auxiliarão
na modelagem.
Os fenômenos naturais são de grande complexidade e muitas vezes existe a impossibilidade
de medir e percorrer todas as suas partes e/ou etapas. Isso acaba dificultando os estudos para sua

7
compreensão. Uma abordagem básica destes fenômenos, apenas para compreendê-los fisicamente e
de forma genérica, torna necessária a utilização de leis empíricas e de hipóteses, o que requer a
aplicação da modelagem. Portanto, para estudar os fenômenos, precisa-se ter modelos. O modelo é
uma apresentação do sistema (ou objeto) tanto estático quanto dinâmico. Existem dois tipos: (1)
modelo físico e (2) modelo matemático (analítico e/ou numérico). O primeiro usa umas formas
físicas, enquanto o segundo linguagens matemáticas.
Qualquer modelo é uma aproximação à realidade. Para ter melhor modelo, necessita-se
observação do sistema, ou seja, monitoramento. O modelo numérico possui várias vantagens, como:
facilidade de execução, baixo custo, rápida obtenção dos resultados, permitindo a simulação de
experimentos inviáveis na prática. Isso facilita a previsão dos fenômenos e processos naturais. O
uso deste tipo de modelo está sendo incrementado pelo desenvolvimento da técnica computacional,
permitindo sofisticações.

Figura 1.1. Hidrologia no contexto do gerenciamento dos recursos hídricos. (Modificação de


KUIPER, 1971).

A simulação é a execução do modelo. Nesta execução, a calibração do modelo é


indispensável. Pela natureza da simulação, quanto mais sofisticado o modelo, mais calibrações são
necessárias. A calibração do modelo é sempre feita com dados obtidos pelo monitoramento.
Então fica claro que o sucesso do modelo, da modelagem e da simulação depende da
qualidade do monitoramento e que não há nenhum bom modelo sem o uso de dados obtidos do
fenômeno monitorado. Assim, a modelagem e o monitoramento não se confrontam, passando a
serem métodos científicos mutuamente complementares, efetuados sempre paralelamente.
8
Mais complexidade, mais dados para calibrar modelos. Modelo só é útil se testado com
dados reais.

1.2 Hidrometria
A hidrometria é uma parte da hidrologia. Pode-se dizer que o monitoramento hidrológico é a
hidrometria feita de maneira contínua. Como a hidrometria é responsável pela coleta e fornecimento
de dados, ela pode ser considerada a base experimental da hidrologia, que é uma ciência natural e
empírica. Enquanto os modelos são uma representação da realidade, podemos considerar os dados
medidos como o mundo real. O hidrometrista deve então entender e optar por métodos apropriados
para a medição do fenômeno em questão, saber os custos e detalhamento adequados para cada
trabalho, cuidar da qualidade da medição e verificação dos dados.
Devido à hidrologia aplicada à engenharia ser dependente principalmente de dados de chuva
e vazão, foi nessa área onde houve uma maior padronização e consolidação dos métodos de
medição. Porém, sabemos que a água da chuva não cai diretamente no rio, e a circulação da mesma
no continente dá-se em diferentes processos e escalas (interceptação e escoamento subterrâneo, por
exemplo). Então o hidrometrista deve ter habilidades que envolvam não só a área de hidráulica de
canal, mas também topografia, física do solo e até mesmo agronomia. Com essas habilidades ele
pode medir processos hidrológicos que passam pelas escalas do plot e da encosta até chegar à escala
da bacia hidrográfica propriamente dita.
Um dos desafios da hidrometria é gerar dados consistentes onde a variabilidade espaço-
temporal dos processos é grande e tem-se um número limitado de aparelhos de medição. O principal
exemplo é como medir a chuva de maneira representativa em uma determinada bacia sendo que
existe uma variabilidade tridimensional do fenômeno. A medição de vazão é outra parte básica da
maioria dos estudos hidrológicos, porém o uso da curva-chave nas simulações de cheias é muito
discutível sabendo-se que a incerteza na curva-chave aumenta abruptamente na parte extrapolada.
Ainda existe muita dificuldade em verificar e confirmar dados extrapolados de curvas-chave, pois a
vazão é um fenômeno natural e que a medição em eventos extremos implica em risco de vida.
A hidrologia como ciência e como engenharia, depende dos dados e de modelos para poder
entender os processos e fazer previsões. Muitas vezes os modelos dão respostas aparentemente
coerentes mas pelos motivos errados. Portanto, a maneira mais produtiva de se trabalhar com
hidrologia é aquela em que as pessoas que trabalham com monitoramento e com modelagem
tenham um diálogo e usem suas habilidades como complemento do conhecimento do próximo. O
hidrometrista pode reconhecer e informar as mudanças e problemas ocorridos durante o
monitoramento, e.g., mudanças no local da estação, horários de medição, mudança de equipamentos
e mudanças de equipe. Esse tipo de informação é essencial para a pessoa que vai trabalhar os dados,
porém fica muitas vezes em um escritório.

1.3 Situação atual no brasil


No Brasil, há grande carência de dados hidrológicos de pequenas bacias hidrográficas. A
instalação e coleta de dados tiveram como seu principal agente o setor de geração de energia
elétrica. Desta forma, há poucos postos em bacias com menos de 500 km². O monitoramento das
pequenas bacias reveste-se, portanto, de fundamental importância para a complementação da rede

9
de informações hidrológicas, além de sua natural vocação para o estudo do funcionamento dos
processos físicos, químicos e biológicos atuantes no ciclo hidrológico. Em função dessas
características, as pequenas bacias hidrográficas têm sido utilizadas com maior freqüência em
estudos de regionalização ou como bacias experimentais ou representativas (PAIVA, 2003).
O que se faz de hidrometria no Brasil hoje é relacionado a grandes rios e bacias
hidrográficas para produção de energia nas usinas hidroelétricas. Seus principais problemas são
decorrentes da qualidade de água (presença de sedimentos) que alteram a vida útil de uma barragem
e conseqüentemente da usina e da produção de energia.
Atualmente há uma carência no monitoramento de pequenas bacias hidrográficas. Essas
bacias são importantes, pois a captação de água para abastecimento público dos municípios
brasileiros é realizada nesses mananciais. A qualidade da água é um dos principais fatores para sua
possível captação nessas pequenas bacias pela verificação da carga de poluentes existente nos rios.
Outro problema que poderá ser amenizado com um maior controle hidrológico é a questão
da macrodrenagem. As pequenas bacias também são responsáveis pela macrodrenagem no
município. A preocupação se torna maior pelo fato de que a precipitação está variando cada vez
mais espacial e temporalmente, deixando os problemas mais localizados.
Uma das justificativas importantes para o monitoramento em pequenas bacias é a de que
elas podem servir como bacias-escola sendo utilizadas para educação ambiental de toda a
população. Através do monitoramento hidrológico bem detalhado nestas bacias-escola, a
conscientização da população, especialmente dos técnicos das companhias de saneamento
municipais e estaduais, serão aperfeiçoadas.
Em todo o território nacional, em nível estadual e municipal, programas para a avaliação da
qualidade da água, através de parâmetros físico-químicos e bacteriológicos já foram implantados e
muitos deles com sucesso. A Resolução 357/2005 – CONAMA, estabelece ainda, a necessidade de
avaliações toxicológicas para classificação de corpos d’água e controle de despejos de efluentes.
Este fato demonstra uma evolução na legislação brasileira a respeito do controle da qualidade de
água nos mananciais.
As avaliações qualitativas e quantitativas dos mananciais, na maioria das vezes, são
realizadas separadamente não havendo a integração de dados. Fica evidente que esta integração
daria mais subsídios para o gerenciamento adequado das bacias hidrográficas. Neste projeto
estamos propondo esta integração, formando técnicos com esta concepção.
Como a população brasileira concentra-se na região litorânea, muitos mananciais se
localizam em zonas estuarinas. As bacias hidrográficas com tais condições apresentam alguns
fenômenos peculiares no respeito de bacias localizadas longe da influencia direta do mar. No
balanço hídrico alem dos processos de evapotranspiração na bacia deve ser considerada
explicitamente a troca de água com o mar. As variações relativas entre os níveis do oceano e do
corpo lagunar promovem, alem de escoamento em um ou outro sentido, a mistura das águas de
drenagem com as do oceano.
A preocupação atual dos municípios brasileiros está voltada para a qualidade de água e seu
abastecimento público, a macrodrenagem e a educação ambiental através das bacias-escola. Estas
estão ligadas diretamente com as pequenas bacias hidrográficas municipais e, portanto é evidente
que necessitam de um monitoramento hidrológico adequado.

10
1.4 Estrutura da apostila
Esta apostila é composta por 14 capítulos complementares entre si. A leitura deve ser feita
preferencialmente na ordem em que aparecem os assuntos, já que os conceitos básicos para
entendimento de hidrologia estão nos capítulos iniciais. No capítulo 2, é feita uma introdução sobre
o ciclo hidrológico e os processos hidrológicos que ocorrem nas bacias. Em seguida, no capítulo 3,
a bacia hidrográfica, que é a unidade básica para o estudo de hidrologia e conseqüentemente
hidrometria, é definida e suas características são explanadas Os processos hidrológicos como:
Precipitação, Interceptação, Infiltração, Percolação e Evapotranspiração são abordados mais
detalhadamente em separado nos capítulos 4, 5, 6, 7 e 10 respectivamente.
Para realizar hidrometria é necessário além de hidrologia, conhecimentos de hidráulica. Para
isso, o capítulo 8 trata dos aspectos teóricos na medição de vazão, bem como a formulação, o
modelo de distribuição de velocidade e outros. O assunto hidrometria é diretamente tratado nos
capítulos 9 e 13, em que obtém-se informações detalhadas sobre equipamentos e métodos de
medição dos principais parâmetros hidrológicos.
Existem atividades imprescindíveis para a sobrevivência humana, e boa parte delas está
relacionada à exploração dos mananciais. Para isso, é importante que eles estejam em boas
condições de preservação. Assim, é necessário que se entenda como funciona a produção e
transporte de sedimentos, bem como métodos para estimá-la. Estas informações são obtidas no
capítulo 11. Além disso, não se pode deixar de entender a zona ripária, ou como é mais conhecida
mata ciliar. Esta área de uma bacia tem enorme valor para preservação de mananciais. Estes
aspectos são tratados no capítulo 12. E no capítulo 14 é aborada a metodologia do
geoprocessamento, bem como suas ferramentas, que constitui de uma importante tecnologia que
pode auxiliar no planejamento ambiental.
As conclusões dessa apostila se encontram no último capítulo onde é discutido a importância
da hidrologia e dos cursos de capacitação para a preservação dos recursos hídricos.

Referências bibliográficas
KUIPER, E. Water Resources Project Economics. London: Butterworth, 1971. 447p.
LANNA, A.E. Gestão dos Recursos Hídricos. In: TUCCI, C. E. M. (Org.). Hidrologia: ciência e
aplicação. 3ª edição, Porto Alegre: Ed. da UFRGS/ ABRH/ EDUSP, 2004. p.727-768.
PAIVA, J.B.D.; PAIVA, E.M.C.D. (orgs.) Hidrologia aplicada à gestão de pequenas bacias
hidrográficas. Porto Alegre: ABRH, 2003. 628p.
UNESCO World Water Assessment Programme. 2008. Disponível em:
<http://www.unesco.org/water/iyfw2/water_use.shtml>. Acesso em: 28 de julho de 2008.

11
2. CICLO HIDROLÓGICO E PROCESSOS HIDROLÓGICOS

Masato Kobiyama
Aline de Almeida Mota

2.1 Ciclo hidrológico


Leonardo da Vinci define a água da seguinte maneira: “......... a água é para o mundo, o
mesmo que o sangue é para o nosso corpo e, sem dúvida, mais: ela circula segundo regras fixas,
tanto no interior quanto no exterior da Terra, ela cai em chuva e neve, ela surge do solo, corre em
rios, e depois retornam aos vastos reservatórios que são os oceanos e mares que nos cercam por
todos os lados ..........”
O ciclo hidrológico, ou ciclo da água, é definido pelo conjunto de processos hidrológicos
naturais que ocorrem em escala global permanentemente (Figura 2.1). Este conceito é fundamental
para a hidrologia. Os processos hidrológicos são responsáveis pela circulação da água presente na
atmosfera, nos continentes, no solo e nos oceanos. Portanto pode-se pensar no ciclo hidrológico
como sendo a movimentação da água existente em vários reservatórios, que seriam os oceanos, o
solo, a atmosfera. Ela pode ser encontrada nos três estados físicos da matéria: gasoso (na
atmosfera), líquido (nos rios, mares, lagos) e sólido (nas geleiras, calotas polares).

Nuvem

Precipitação

Evapotranspiração
Interceptação
Transpiração Evaporação
Infiltração
Percolação
Evaporação Evaporação

Esc. Subterrâneo
RIO Vazão total LAGO

Figura 2.1. Ciclo hidrológico.

12
A energia solar impulsiona as mudanças de estado físico da água, como a evaporação. Sendo
assim, ela é fundamental no ciclo hidrológico, principalmente nos processos de formação e
transporte de vapor na atmosfera. A gravidade e outras forças também são essenciais, exemplos
disso são a precipitação e os vários tipos de escoamento (HORNBERGER et al., 1998).
A distribuição desuniforme de energia solar na Terra, e outros fatores fazem com que o ciclo
hidrológico não ocorra de maneira uniforme em todo o globo terrestre, mas sim variável no espaço
e no tempo. Essa variabilidade temporal e espacial pode ocasionar, muitas vezes, desastres naturais
por excesso ou falta de água.
Segundo ANA (2005), o Brasil é um país privilegiado em termos de disponibilidade hídrica,
com 12% das reservas de água doce do mundo em seu território. Porém, a distribuição desuniforme
da água é notável, já que 75% da água doce concentram-se na região norte, onde vive apenas
aproximadamente 8% da população brasileira (IBGE, 2007). Apesar de os estudos comprovarem
que a quantidade de água no planeta não se alterou significativamente nos últimos anos, muitos
dizem que a água está acabando. O fato é que a água, mesmo sendo um recurso renovável e que,
portanto, não se esgota, pode se tornar imprópria para o consumo humano o que gera a
preocupação.

2.2 Processos hidrológicos


Os processos hidrológicos mais relevantes constituintes do ciclo hidrológico são:
precipitação, interceptação, infiltração, percolação no solo, escoamentos fluviais e
evapotranspiração. O sistema (objeto) principal onde o ciclo hidrológico ocorre é a bacia
hidrográfica e a atmosfera acima dela. Nesse sentido, os componentes (sub-sistemas) são copa da
vegetação, solo, rede fluvial, entre outros,onde os processos hidrológicos ocorrem. Como cada sub-
sistema possui diferente capacidade de armazenar e transportar água, causa as heterogeneidades
temporais e espaciais dos recursos hídricos em quaisquer locais e momentos. Por isso, cada
processo deve ser bem estudado em termo de conceitos, sua medição, análise e modelagem.
Os processos hidrológicos alteram a qualidade da água. Quando a água da chuva cai sobre
uma área com vegetação tem suas características modificadas devido a este contato, ao passo que
quando vai infiltrando lentamente no solo pode ser filtrada e se tornar mais pura. Neste sentido, a
hidrologia tem importância fundamental no gerenciamento de recursos hídricos, já que tem como
meta principal quantificar os volumes armazenados nos componentes terrestres e as quantidades
transportadas de água entre eles.

2.3 Distribuição da água no planeta


Existem diversos estudos sobre a quantidade de vários tipos de água no mundo. E encontra-
se uma pequena divergência entre esses estudos. Entretanto, analisando esses dados, criou-se a
Tabela 2.1. Estima-se que 97,5% da água do planeta compõem os oceanos e mares. Sendo assim,
apenas 2,5% da água existente é doce e encontra-se distribuída em diversos locais. Observa-se que a
quantidade de água doce disponível é pequena, se comparada à quantidade total de água do planeta.
Além disso, a maior parte encontra-se em formas não prontamente disponíveis ao homem (geleiras).

13
Tabela 2.1. Quantidade de águas e seus tempos de circulação.
Volume Taxa Quantidade transportada Tempo de
(103 km³) (%) (103 km³/ano) circulação (ano)
Oceano 1.349.929,0 97,50 418 3229
Glacial 24.230,0 1,75 2,5 9692
Água subterrânea 10.100,0 0,73 12 841
Água do solo 25,0 0,0018 76 0,3
Lagos 219,0 0,016 38 5,7
Rios 1,2 0,00009 35 0,034 (= 13 dias)
Fauna e flora 1,2 0,00009 - -
Vapor na atmosfera 12,6 0,0009 483 0,026 (= 10 dias)
Total 1.384.518,0 100
(Fonte: KOBIYAMA et al., 2008)

O tempo de circulação ou tempo de residência é aquele no qual o sistema consegue


naturalmente substituir toda a porção de água, e pode ser estimado pela razão entre o volume total e
a quantidade transportada. Essa grandeza é importante para os estudos de preservação ambiental,
pois a partir dela pode-se, por exemplo, estimar quanto tempo um determinado poluente irá
permanecer em um rio, lago ou aqüífero sem que ele seja naturalmente purificado. Esse tempo para
os rios no mundo é aproximadamente 13 dias. Obviamente, este valor é médio, e depende do
tamanho (comprimento) de cada rio. Mas de qualquer maneira, o tempo de circulação para os rios é
bastante curto. Isto significa que os rios alcançam uma limpeza natural rapidamente. Por outro lado,
o tempo de circulação para a água subterrânea é 841 anos, e bem maior do que a expectativa média
de vida do ser humano. Então, pode-se dizer que, uma vez poluída a água subterrânea, algumas
gerações da comunidade humana não conseguem despoluí-la. Por isso, a maior atenção deve ser
colocada na preservação das águas subterrâneas.

Referências bibliográficas
ANA Cadernos de Recursos Hídricos: Disponibilidade e demandas de recursos hídricos no Brasil.
Brasília: ANA, 2005. 123p. CD-ROM
HORNBERGER, G.M.; RAFFENSPERGER, J.P.; WIBERG, P.L. ESHLEMAN, K.N. Elements of
Physical Hydrology. Baltimore: The Johns Hopkins Univ. Press, 1998. 302p.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Contagem da População 2007. Rio de Janeiro: 2007.
Disponível em http://www.ibge.gov.br. Acesso em 22 de janeiro de 2009.
KOBIYAMA, M.; MOTA, A.A.; CORSEUIL, C.W. Recursos hídricos e saneamento. Curitiba: Ed.
Organic Trading, 2008. 160p.

14
3. MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS

Masato Kobiyama
Joana Nery Giglio

3.1 Conceitos
A bacia hidrográfica é definida como uma área na superfície terrestre, sobre a qual o
escoamento superficial em qualquer ponto converge para uma única saída, chamada exutório. A
bacia hidrográfica se estende até seu divisor, uma linha rígida imaginária que contorna a bacia. Essa
linha separa as precipitações que caem em bacias hidrográficas vizinhas, e que escoam para cada
um dos sistemas fluviais adjacentes. A Figura 3.1 indica o exutório em uma bacia hidrográfica.
611500 622000
7066500 7066500

7057100 7057100
611500 622000
Legenda
Projeção Universal Transversa de Mercator Curvas de nível
Meridiano Central: 51°WGr Fuso: 22 S Cursos de água
South American Datum 1969 Limite da bacia

Figura 3.1 Bacia hidrográfica do Rio do Bispo.

Do ponto de vista do gerenciamento é consenso, hoje em dia, a importância de se fazer o


Manejo Integrado da Bacia Hidrográfica. Para esse fim, a bacia inclui corpos da água de todos os
tipos (arroios, rios, banhados, lagos, etc.), solo, subsolo, rocha, atmosfera, fauna, flora, espaço
construído e sociedade.
O Ministério da Agricultura (BRASIL, 1987) sugere a microbacia hidrográfica como
unidade ideal para o planejamento integrado do manejo dos recursos naturais. O órgão define
microbacia hidrográfica como uma área fisiográfica drenada por um curso da água ou por um
15
sistema de cursos de água conectados e que convergem, direta ou indiretamente, para um leito ou
para um espelho da água (Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas).
Devido à variabilidade das características das bacias hidrográficas, é difícil estabelecer um
limite universal para microbacias. Para alguns autores, bacias com tempo de concentração inferior a
1 hora são consideradas pequenas. Para outros, são as que não superam 2,5 km² de área.
Para Rocha e Kurtz (2001), as microbacias são menores que 20.000 ha. Isso porque é a
máxima área que uma equipe pode trabalhar em campo. Esse dado, oriundo de experiência de
campo, é válido para o sul do Brasil, Uruguai e norte da Argentina. Os mesmos autores definem
sub-bacias como aquelas com dimensões superficiais entre 20.000 ha e 300.000 ha, por ser um
tamanho compatível com o sistema cartográfico do sul do país (cartas em escala 1:50.000).
Se recorrermos à literatura internacional, Ponce (1989) descreve as características de uma
bacia pequena (small catchment): a precipitação pode ser considerada uniformemente distribuída no
tempo e espaço; a duração da chuva em geral excede o tempo de concentração; o escoamento é
essencialmente hortoniano (overland flow); o armazenamento em canais é desprezível.
O manancial é a unidade hidrográfica utilizada quando o objetivo é o abastecimento de água.
Segundo Kobiyama et al. (2008), os mananciais são locais com disponibilidade de água em
qualidade e quantidade suficientes para suprir uma demanda, e cuja captação seja permitida e
economicamente viável. Diferentes corpos de água podem ser mananciais, como poços, fontes,
açudes, lagos, rios, etc.
Apesar do conflito entre definições e nomenclaturas, o consenso é que a bacia hidrográfica
é a unidade ótima para o estudo e planejamento de recursos naturais. Todas as matérias, como
solo, água e nutrientes, são coordenadas dentro dos contornos da bacia. Tais matérias circulam na
bacia, com uma dinâmica governada pelo comportamento da água.

3.2 Delimitação de bacias


As medições em uma bacia são realizadas em intervalos de tempo predeterminados. Se estes
intervalos são suficientemente pequenos, trabalha-se com medições instantâneas. Senão, trabalha-se
com intervalos de medição. A escolha do intervalo de medição depende do tempo de concentração
da bacia. Portanto, é importante conhecer a área da bacia, assim como outras de suas características.
A análise da bacia e o cálculo de sua área exigem, em primeiro lugar, conhecer seus limites.
Depois de delimitada a bacia, sua área pode ser calculada, seus rios podem ser classificados e
hierarquizados e sua curva hipsométrica pode ser traçada.
Há dois tipos de divisor delimitando cada bacia hidrográfica: um divisor topográfico ou
superficial, e um divisor freático ou subterrâneo. O primeiro é condicionado pela topografia e
delimita a área do escoamento superficial da bacia. O último é condicionado principalmente pela
geologia do terreno, influenciado ou não pela topografia, e delimita os reservatórios de água
subterrânea de onde provém o escoamento de base da bacia. Em geral os divisores topográficos e
freáticos não coincidem, já que o divisor freático está condicionado às flutuações no nível do lençol
freático. Devido ao caráter constante e a facilidade em traçar o divisor topográfico, este é utilizado
para determinar a área da bacia hidrográfica. A Figura 3.2 mostra a flutuação do lençol freático e os
divisores freático e topográfico no perfil de uma encosta.

16
Divisor topográfico
Divisor freático Lençol freático

Rocha impermeável

Bacia A Bacia B

Figura 3.2 Corte transversal do limite entre duas bacias hidrográficas (Modificação de VILLELA e
MATTOS, 1975).

O divisor topográfico une os pontos de maior altitude que contornam a bacia e pode ser
desenhado a partir de sua rede hidrográfica e suas curvas de nível, em uma carta topográfica. O
ponto de partida é determinar o exutório da bacia escolhida, que pode ser qualquer ponto ao longo
do rio principal. A escolha do exutório deve estar de acordo com o objetivo do estudo. Para
mananciais, o exutório costuma ser o local de captação de água ou, quando existe, da barragem
construída para a captação. O limite da bacia é nada mais que uma linha contínua, que inicia e
termina no exutório, segue perpendicular às curvas de nível e não corta nenhum curso de água em
nenhum ponto além do exutório. Terminada, a linha deve englobar toda a área e os rios de interesse.

3.3 Classificação dos rios e hierarquia fluvial


Os rios podem transportar água permanentemente ou não. De acordo com esse atributo,
podem ser classificados em três tipo: (1) perenes, rios que drenam água no decorrer de todo o ano;
(2) intermitentes, funcionam durante parte do ano, mas tornam-se secos em estações de pouca
chuva; (3) efêmeros, existem apenas durante e imediatamente após a chuva.
Os cursos de água (e a área drenada correspondente) também podem ser classificados de
acordo com a sua hierarquia dentro da bacia na qual se encontra. Um método objetivo de
classificação foi estabelecido por Strahler (1952), uma modificação do método proposto por Horton
(1945).
O método de Strahler consiste em atribuir a 1ª ordem aos canais menores, sem tributários,
desde a nascente até a primeira confluência; os canais de 2a ordem iniciam na confluência de dois
canais de 1a ordem, e só recebem afluentes de 1a ordem; na confluência de dois canais de 2a ordem
inicia um canal de 3ª ordem, que pode receber afluentes de 2a e de 1a ordem; os canais de 4a iniciam
na confluência de dois canais de 3a ordem, e podem receber tributários das ordens inferiores. E
assim sucessivamente.
A Figura 3.3 apresenta uma comparação entre as hierarquias propostas por Horton e
Strahler.

17
1 1 1 1
3 2 2 1 1 1
2 1 1 1 1 1
1 2 1 1 1 2 1 1
1 2 1 2 2
3 1 3 1
1 1 3
4 1
1 2 4 1 2 4
2 4 1 2
1 1 1 3 1 1 1 1
1 2 1 1 1 1
1 1 1 1 1 1
1 1 2
1 1 1 1
1 1
2 1 1 2 1 1
2 1
2 2 2 2
1 3 1 1 1 3 1 1
2 1
1 1 2 1 1 2
2 1 2 1
1 1
1 1
1 1
1 1
1 1
1 1
1 1
A B

Figura 3.3 Hierarquia fluvial da bacia do Rio do Bispo pelos métodos de Horton (A) e de Strahler (B)

Sabendo a ordem de uma bacia hidrográfica, pode-se estimar o número de rios que
compõem a mesma, pela lei do número de canais. A ordem de um canal aumenta de 1 quando entra
em confluência com outro de mesma ordem. A lei é válida para ambas as classificações, mas o
número total de canais é igual à soma dos canais das várias ordens de Horton e igual ao número
canais de primeira ordem de Strahler. A Tabela 3.1 quantifica os rios da Figura 3.3.

Tabela 3.1 Quantidade de rios na bacia hidrográfica do Rio do Bispo

Ordem Horton Strahler


1a 38 48
2a 7 10
3a 2 3
4a 1 1

3.4 Caracterização quantitativa da rede fluvial – Leis de Horton


Horton (1945) demonstrou as relações empíricas entre as características da rede fluvial,
estabelecendo quatro taxas, que tendem a ser constantes em uma bacia. Nota-se que as Leis de
Horton são válidas mesmo que o método de classificação de Strahler seja utilizado.
A 1ª. Lei de Horton (Lei do número de canais) define a taxa de bifurcação com a seguinte
equação:
'
Rb = ω (ω = 1, 2, ... , Ω - 1) (3.1)
' ω +1
onde: 'ω é o número de segmentos de ordem ω; Ω é a máxima ordem; e Rb é constante para
uma bacia. Leopold et al. (1992) e Smart (1972) apresentaram que o valor da taxa de bifurcação
varia normalmente entre 2 e 4 e entre 3 e 5, respectivamente. Segundo Borsato e Martoni (2004), o
seu valor varia pouco de região para região, no entanto valores altos podem ser encontrados em
regiões de vales rochosos escarpados.
A 2ª. Lei de Horton (Lei do comprimento de canais) define a taxa de comprimento com a
seguinte equação:

18
Lω +1
Rl = (ω = 1, 2, ... , Ω - 1) (3.2)

onde: Lω é o comprimento médio dos segmentos de ordem ω; Ω é a máxima ordem; e Rl é
constante para uma bacia. Resultados empíricos de Smart (1972) mostraram uma variação da taxa
de comprimentos entre 1,5 e 3,5 para as bacias naturais.
A 3ª. Lei de Horton (Lei da declividade de canais) define a taxa de declividade de cada
segmento com a seguinte equação:

Rs = (ω = 1, 2, ... , Ω - 1) (3.3)
S ω +1
onde: S ω é a declividade média dos segmentos de ordem ω; Ω é a máxima ordem; e Rs é
constante para uma bacia.
A 4ª. Lei de Horton e Schumm (Lei da área de bacias) define a taxa de área de bacias com a
seguinte equação:
Aω +1
RA = (ω = 1, 2, ... , Ω - 1) (3.4)

onde: Aω é a área média das bacias de ordem ω; Ω é a máxima ordem; e Ra é constante
para uma bacia. Segundo Smart (1972), a taxa de área varia entre 3 e 6 para as bacias naturais.
A Figura 3.4 mostra a expressão gráfica da forma logarítmica das Leis de Horton.

Figura 3.4 Expressão gráfica das Leis de Horton

3.5 Análise areal de bacias


A projeção da bacia hidrográfica em um plano horizontal permite determinar seu perímetro
(P) e sua área (A) usando curvímetro e planímetro, papel milimetrado ou técnicas computacionais.
Sherman (1932) mencionou a influência das características morfológicas da bacia sobre a vazão. É
fundamental saber a área da bacia para qualquer estudo hidrológico. O comprimento da bacia (L) é
comumente definido como o comprimento do rio principal prolongado até o divisor. Há outros
métodos para determinar o comprimento da bacia, e todos eles levam a diferentes resultados.
Horton (1932) propôs o fator da forma da bacia (Sf), definido pela equação:
L L2
Sf = = (3.5)
B A
onde: L é comprimento da bacia; A é área da bacia; e B é largura média e igual a A/L.
19
E o inverso de Sf foi definido como a taxa de forma (F), ou seja:
1 B A
F= = = 2 (3.6)
Sf L L
Teoricamente, supondo que o valor de F seja constante, L deve ser proporcional à raiz
quadrada de A. Entretanto, isto não acontece na realidade. Hack (1957) propôs a seguinte relação
empírica, posteriormente confirmada também empiricamente por outros pesquisadores:
L = 1,5 ⋅ A0, 6 (3.7)
onde: A e L são área e comprimento da bacia, em km² e km, respectivamente.
Leopold et al. (1992) generalizou a Equação 2.7 para:
L = κ ⋅ An (3.8)
Segundo Hack (1957), n não é igual a 0,5 porque a bacia tende a tornar-se mais comprida
quando ficar maior. A equação (3.8) é conhecida como a Lei de Hack.
O índice de compacidade (Kc) é uma outra forma de determinar a forma da bacia, proposta
por Garcez e Alarez (1988). O índice é a relação entre o perímetro da bacia hidrográfica e a
circunferência de um círculo de área igual à da bacia. Assim, para uma bacia qualquer, obtém-se:
P
K c = 0,28 ⋅ (3.9)
A
onde: P e A são, respectivamente, o perímetro em km e área da bacia em km². Assim, quanto
mais irregular for a bacia, maior será o índice de compacidade. Para uma bacia perfeitamente
circular, Kc=1.
Além do tamanho e forma da bacia, a densidade fluvial é uma característica a ser analisada
na bacia. Existem dois tipos de densidade fluvial: densidade de rios, relação entre o número de
canais e a área da bacia; e a densidade de drenagem, relação entre o comprimento total dos canais
com a área da bacia. O cálculo das densidades de rios e de drenagem segue as equações (3.10) e
(3.11), respectivamente.


ω

Dr = =1
(3.10)
A


ω

Dd = =1
(3.11)
A
onde: Dr é a densidade de rios em km-2; Dd é a densidade de drenagem em km-1; 'ω é o
número de segmentos de ordem ω; Lω é o comprimento dos segmentos de ordem ω; Aω é a área
das bacias de ordem ω; Ω é a máxima ordem.
A Figura 3.5 exemplifica a diferença entre densidade de drenagem e densidade de rios.
Melton (1958) propôs uma relação empírica entre essas duas densidades:
Dr = 0,694 ⋅ Dd (3.12)

20
(a) (b)
Dr = Dr Dd = Dd
Dd > Dd Dr > Dr
Figura 3.5 Comparação entre densidade de drenagem e densidade de rios.

3.6 Geometria de encostas


A bacia hidrográfica é caracterizada principalmente por dois componentes geomorfológicos:
a rede de drenagem e as encostas.
As encostas podem ser descritas por sua geometria em dois planos: um plano vertical e
paralelo ao contorno da bacia, e um plano horizontal. Cada um dos dois planos pode ter forma
retilínea, côncava ou convexa. A combinação da forma da encosta em cada um dos planos resulta
em uma unidade tridimensional. Essas unidades estão representadas na Figura 3.6. Na figura, a seta
pontilhada indica a tendência de fluxo inicial e a seta cheia representa a tendência de fluxo
concentrado.

Figura 3.6 Geometria em encostas. Fonte: Ruhe (1975) modificado por Checchia (2005).

21
3.7 Análise de relevo
A declividade da bacia tem influência na drenagem e em outros processos hidrológicos que
ocorrem em seu interior. É um parâmetro necessário em muitos dos métodos para o cálculo do
tempo de concentração da bacia. Por outro lado, a altitude exerce influência em fatores
meteorológicos que atuam sobre a bacia, como precipitação e temperatura.
a) Declividade
Aqui se adota o método das quadrículas para o cálculo de declividades na bacia. O método
consiste em uma distribuição percentual das declividades normais às curvas de nível. No caso de
mapas com escala 1:50.000 ou 1:25.000, traça–se uma rede de quadrículas de dimensões 1 km x 1
km. Dentro de cada quadrícula, se calcula as altitudes mínima e máxima e a declividade média da
mesma. Então, é possível determinar a distribuição percentual de declividade do terreno.
A declividade média da bacia é calculada com a seguinte equação:

Dm = ∑ (d ⋅ a ) (3.13)
A
onde: Dm é a declividade média; d é a declividade média entre dois valores de declividade;
a é a área que possui d ; e A é a área total.
A declividade mediana (Dm*) é aquela que corresponde a 50% da área, e pode ser obtida a
partir da curva de distribuição de declividades

b) Curva hipsométrica (curva de área-elevação)


A curva hipsométrica é a representação gráfica da variação das elevações ao longo da bacia.
No mapa topográfico, mede-se a área de cada faixa entre duas altitudes com o método de
quadrículas ou com o planímetro. No gráfico, coloca-se a altitude no eixo das ordenadas e a área
acumulada (ou sua porcentagem) no eixo das abscissas. Essa plotagem gera a curva hipsométrica
(Tabela 3.2).

Tabela 3.2 Distribuição hipsométrica para a bacia hidrográfica do Rio do Bispo

Cotas Ponto médio Área entre as curvas Área acumulada % % Acumulada Coluna 2 x Coluna 3
(m) (m) (km²) (km²)
480-520 500 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00
520-560 540 0.58 0.58 2.18 2.18 310.92
560-600 580 0.95 1.52 3.57 5.75 548.18
600-640 620 0.82 2.34 3.08 8.83 506.20
640-680 660 1.01 3.35 3.82 12.65 666.78
680-720 700 1.33 4.68 5.04 17.68 933.09
720-760 740 2.85 7.53 10.76 28.44 2107.15
760-800 780 4.81 12.34 18.17 46.61 3752.20
800-840 820 5.71 18.04 21.56 68.17 4679.00
840-880 860 3.33 21.37 12.57 80.74 2861.97
880-920 900 3.57 24.95 13.50 94.24 3216.37
920-960 940 1.48 26.42 5.57 99.82 1386.74
960-1000 980 0.05 26.47 0.19 100.01 49.05

22
Figura 3.7 Curva hipsométrica da bacia do Rio do Bispo

Se a ordenada apresenta a taxa altura (h) sobre altura total (H), isto é h/H, e a abscissa
apresenta a taxa de área (a) sobre a área total (A), isto é a/A, então a curva se chama curva
hipsométrica em porcentagem (Figura 3.7). Essa curva é útil para comparar bacias de diferentes
tamanhos e altitudes.
As altitudes máxima e mínima são fáceis de determinar observando o mapa topográfico.
A altitude média da bacia é calculada com a seguinte equação:

Hm = ∑ (h ⋅ a ) (3.14)
A
onde: Hm é a altitude média; h é a altitude média entre duas curvas de nível; a é a área entre
as curvas de nível; e A é a área total. Para a bacia hidrográfica do Rio do Bispo, Hm = 794 m.
A altitude mediana (Hm*) é aquela que corresponde a 50% da área, e pode ser obtida a
partir da curva hipsométrica. Para a bacia do Rio do Bispo, Hm* = 800 m.

Referências bibliográficas
BRASIL. Decreto n° 94.076, de 5 de março de 1987. Institui o Programa Nacional de Microbacias
hidrográficas e dá outras providências. 1987.
CHRISTOFOLETTI, Antonio. Geomorfologia. São Paulo, Edgard Blücher, 2ª ed., 1980.
GARCEZ, L.N.; ALVAREZ, G.A. Hidrologia. 2ª edição, São Paulo: Ed. Edgard Blücher, 1988.
HACK, J.T. Studies of longitudinal stream profiles in Virginia and Maryland. USGS. Prof. Paper,
294B, p.45-97, 1957.
HORTON, R.E. Drainage basin characteristics. American Geophysical Union Transaction, v.13,
p.350-361, 1932.
KOBIYAMA, M.; MOTA, A.A.; CORSEUIL, C.W. Recursos hídricos e saneamento. Curitiba:
Ed. Organic Trading, 2008. 160p.
LEOPOLD, L.B.; WOLMAN, M.G.; MILLER, J.P. Fluvial processes in geomorphology. New
York: Dover Pub., 1992. 522p.

23
MELTON, M.A. Geometric properties of mature drainage systems and their representation in an E4
phase space, J. Geol., v.66, p.35-54, 1958.
PONCE, V.M. Engineering Hydrology: Principles and Practices. Englewood Cliffs, Prentice-Hall,
1989.
ROCHA, J. S. M. e KURTZ, S. M. de J. M. Manual de Manejo Integrado de Bacias
Hidrográficas. Santa Maria, Edições UFSM, 4ª ed., 2001.
SHERMAN, L.K. The relation of hydrographs of runoff to size and character of drainage basins.
American Geophysical Union Transaction, v.13, p.332-339, 1932.
STRAHLER, A.N. Hypsometric (Area-altitude) analysis of erosional topography. Bull. G.S.A.,
v.63, p.1117-1142, 1952.
VILLELA, S.M.; MATTOS, A. Hidrologia Aplicada. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1975.

24
4. PRECIPITAÇÃO

Masato Kobiyama
Gabriela Corrêa Pacheco
Henrique Lucini Rocha

4.1 Introdução
A precipitação é a água proveniente do meio atmosférico que atinge a superfície terrestre
sob a forma de chuvisco, chuva, saraiva, granizo, orvalho, neve ou geada. Formas estas que se
diferenciam pelo estado físico em que a água se encontra. Nesse sentido, a atmosfera é considerada
como um vasto reservatório de sistema de transporte e distribuição do vapor de água. A chuva, em
especial, será o enfoque do presente capítulo.
A chuva é a queda da água no estado líquido na superfície terrestre, e por esse motivo é um
componente crítico para o ciclo hidrológico, pois possibilita a infiltração da água no solo de forma a
alimentar as nascentes e os lençóis freáticos, permitindo a sobrevivência dos ecossistemas
existentes. A quantidade de chuva é medida por aparelhos chamados pluviômetros e pluviógrafos.
Através de sua medição é possível avaliar o nível dos cursos de água, fornecer mapas de áreas de
riscos de inundações, avaliar a produtividade da agricultura, estimar e prever a ocorrência de chuvas
intensas, a fim de melhorar o planejamento da cidade, dentre outras atividades.

4.2 Formação da precipitação


A formação da precipitação está ligada, basicamente, a dois aspectos essenciais: o
crescimento das gotículas das nuvens e o deslocamento das massas de ar. A nuvem é um aerossol
constituído por uma mistura de ar, vapor de água e gotículas em estado líquido, sólido e/ou
sobrefundido (quando a água está no estado líquido a temperatura mais baixas que seu ponto de
fusão).
O efeito de turbulência no meio atmosférico e/ou a existência de correntes de ar ascendentes
que contrabalançam a força da gravidade permite que esse aerossol fique suspenso. Portanto, para
que as gotículas precipitem é necessário que apresentem um peso superior às forças que as mantêm
em suspensão (Tucci, 1993). O aumento do peso das gotículas se dá da seguinte maneira: o vapor
de água deposita-se nas gotículas permitindo seu crescimento; o aumento do volume permite que as
gotículas se choquem e se juntem umas as outras, aumentando seu peso.
Os fatores que interferem na ocorrência das precipitações são: (i) aqueles relacionados às
condições atmosféricas de pressão e temperatura decorrentes do encontro de massas de ar quentes e
frias; (ii) e ao relevo de região, pois funciona como uma barreira ou como um caminho para as
correntes de ar (correntes ascendentes e descendentes). Quando as correntes frias caminham em
direção as regiões quentes o efeito é a queda da temperatura local e a formação de nuvens
carregadas ocasionando fortes chuvas acompanhadas ou não de trovões e relâmpagos. Quando as

25
massas de ar quentes caminham em direção as regiões frias o resultado é a formação de nevoeiros e
chuviscos (Varejão-Silva, 2005). Na Tabela 4.1 são apresentadas as formas de precipitação e suas
características.

Tabela 4.1. Formas de Precipitação.


Formas de Precipitação Características
Chuvisco ou Garoa Fina precipitação de baixa intensidade constituída de água líquida
(Drizzle, Mizzle) com diâmetro variando entre 0,2 a 0,5 mm, menores que as gotas de
chuva, fato que faz com que parte da água precipitada evapore antes
mesmo de chegar ao chão. Ocorre principalmente nos oceanos e em
regiões subtropicais, cobrindo grandes áreas e criando uma aparência
acinzentada de céu encoberto (GEM – USP). Estudos apontam que a
garoa apresenta baixas taxas de acumulação superficial e importante
ligação à morfologia das nuvens.
Chuva Precipitação na forma líquida de diâmetro variando de 1 a 6 mm, que
(Rain) geralmente, provém do derretimento de cristais de gelo durante a
precipitação. Quando a chuva é constituída por água sobre fundida as
gotas se congelam quando chegam ao solo, o que chamamos de chuva
congelada. As chuvas estão diretamente ligadas aos processos
hidrológicos e a vazão dos cursos d’água.
Saraiva Precipitação na forma de pequenas pedras de gelo arredondadas com
(Ice Pellets) diâmetro de cerca de 5 mm (Tucci, 1993). Durante a queda, os cristais
de gelo encontram camadas de ar de diferentes temperaturas
resultando na mudança do estado físico da gotícula, quando a camada
próxima a superfície é fria a gotícula volta a resfriar-se dando origem
à saraiva.
Granizo Precipitação sob forma de pedras, redondas ou irregulares, com
(Hail) diâmetro superior a 5 mm (Tucci, 1993) oriundas de nuvens
carregadas, como as de tempestade. O processo de formação é o
mesmo que a saraiva.
Orvalho São gotas de água, presente nos objetos da superfície terrestre,
(Dew) decorrente da condensação do vapor de ar durante as noites claras e
calmas, quando a temperatura cai (Tucci, 1993).
Neve Precipitação sob forma de cristais de gelo que ao longo da queda se
(Snow) juntam atingindo tamanhos variados.
Geada Deposição de cristais de gelo nos objetos da superfície terrestre
(Frost) decorrente da condensação do vapor de ar quando a temperatura cai
abaixo de 0°C (Tucci, 1993).

26
Em relação às chuvas, conforme Tucci (1993), elas podem ser classificadas de acordo com a
ascensão das massas de ar e divididas em três grupos:

(1) Convectivas: O aquecimento desigual da superfície terrestre provoca o aparecimento de


camadas de ar com densidades diferentes, o que gera uma estratificação térmica da
atmosfera em equilíbrio instável. Se esse equilíbrio por qualquer motivo for rompido
(ventos, superaquecimento) ocorre uma ascensão brusca e violenta do ar mais quente (e
menos denso), capaz de atingir seu nível de condensação, gerando as chuvas. Este tipo de
precipitação é típico das regiões tropicais, onde os ventos são fracos e a circulação de ar é
essencialmente vertical. Geralmente, as chuvas são intensas e de curta duração.
(2) Orográfica: Ocorre quando o ar quente e úmido, vindo, geralmente, do oceano para o
continente, é forçado a transpor barreiras, como de montanhas. O ar então se eleva e se
resfria, permitindo a condensação e a precipitação. As chuvas geralmente são de baixa
intensidade e longa duração. Este tipo de formação é comum na Serra do Mar.
(3) Ação frontal de massas: Resulta da interação das massas de ar quentes e frias que
permite que o ar quente seja impulsionado para cima resfriando-o, resultando na
condensação do vapor, permitindo a ocorrência de chuvas. Geralmente, são chuvas de
longa duração e de média intensidade, podendo ser acompanhadas de ventos fortes.

4.3 Medição de chuva


4.3.1 Grandezas Características
(1) Altura pluviométrica (h): Representa a quantidade de chuva que cai em uma
determinada região através da altura de água acumulada no aparelho. Expressa,
normalmente, em mm.
(2) Duração (t): intervalo de tempo decorrido entre o instante quando se iniciou a chuva e
seu término. Expressa-se, normalmente, em minutos ou horas.
(3) Intensidade (i): velocidade de chuva, isto é i = h/t. Expressa-se, normalmente, em
mm/h ou mm/min.
(4) Freqüência (F): Número de ocorrências de uma determinada precipitação no decorrer
de um intervalo de tempo fixo.
(5) Tempo de Retorno ou Período de Retorno ou Período de Recorrência (Tr):
Representa o tempo médio de anos que a precipitação analisada apresente o mesmo valor
ou maior.

4.3.2 Aparelhos para Medição

4.3.2.1 Pluviômetro
Aparelho usado para saber a altura pluviométrica que caiu em uma determinada área.
Durante a instalação e manutenção devem ser tomados os seguintes cuidados (Santos et al., 2001):

• Posicioná-lo em áreas abertas longe de prédios e da vegetação alta;


• Construir uma cerca para evitar que animais danifiquem-no;
27
• Utilizar uma peneira no funil para evitar que folhas secas ou outros objetos obstruam a
passagem da água precipitada, além de limpar o aparelho periodicamente;
• Registrar e arquivar os dados apresentando inclusive as possíveis falhas.

Existem dois tipos: pluviômetros ordinários e pluviômetros totalizadores.

• Pluviômetro Ordinário

É um simples receptáculo da água composto por um coletor com funil que conduz a água da
chuva para o recipiente armazenador. Vale apontar que o funil protege a água coletada da radiação
solar diminuindo sua perda por evaporação. Para a medição da água utiliza-se um aparelho
graduado (uma proveta pluviométrica ou uma régua pluviométrica) ou até mesmo uma balança.
Existem diversos tipos de pluviômetros e o mais difundido no Brasil é do tipo Ville de Paris (Figura
4.1)

Figura 4.1. Pluviômetro tipo Ville de Paris.

O tipo Ville de Paris é um pluviômetro de capacidade total de 125 mm e área de captação de


400 cm2, instalado normalmente, a 1,5 m de altura do solo. Pela abertura da torneira no final do
aparelho retira-se o volume de água coletado e através da equação abaixo se encontra a altura
pluviométrica (Santos et al., 2001). Em uma proveta graduada a relação direta é 40 mL de água
coletada para 1 mm de água precipitada.
V
P = 10. (4.1)
A
onde P é a precipitação em (mm); V é o volume coletado em (cm3) ou (mL); e A é a área de
captação do anel em (cm2).
O intervalo de tempo para a coleta da água depende da capacidade do recipiente de
armazenagem e do cuidado do operador da estação. Para intervalos muito grandes a água coletada
pode ter interferência da evaporação e alguns casos de extravasamento.
Caso o operador tenha organizado a coleta em tempos muito espaçados é comum que as
chuvas de curta duração não sejam registradas separadamente e sim, em acúmulo. Se nos horários
definidos pelo operador estiver ocorrendo uma chuva é necessário esperar essa cessar para depois

28
realizar a coleta. Caso a chuva seja suficiente para encher o recipiente armazenador é necessário
retirar a quantidade relativa a esse recipiente nos momentos que o volume foi preenchido. Vale
ressaltar que a confiança dos registros é dependente do cuidado do operador.

• Pluviômetro Totalizador

Da mesma forma que o pluviômetro ordinário o pluviômetro totalizador (Figura 4.2) é um


aparelho utilizado para saber quantos milímetros de chuva caíram em uma determinada área. No
entanto, seu recipiente de armazenamento pode variar sendo suficiente para o acúmulo de uma
semana ou até mais de um mês.

Figura 4.2. Pluviômetro Totalizador

Para evitar a interferência da evaporação esses recipientes são colocados enterrados e neles
certa quantidade de óleo é introduzida, formando uma película anti-evaporante. A retirada da água
armazenada se dá de forma mecânica através de um sifão e uma bóia, que esvazia o recipiente
quando cheio. Uma haste é conectada a bóia de forma a registrar o número de vezes que ocorreu o
esvaziamento (Varejão-Silva, 2005). Em áreas mais isoladas, a escolha por esse tipo de aparelho ou
por pluviógrafos, principalmente de registro por dataloggers, é mais comum.

4.3.2.2 Pluviógrafo

O pluviógrafo é um aparelho que registra a altura de chuva em milímetros no decorrer do


tempo. Durante a instalação e manutenção do aparelho devem ser tomados os mesmos cuidados
tomados apresentados para uma pluivômetro e também:

• Caso o registro dos dados seja através da pena registradora, deve-se realizar a troca do
papel utilizado. Nesse tipo de marcação a pena desenha no papel um gráfico que
relaciona a evolução da chuva ao longo do tempo em milímetros;

29
• Caso o pluviógrafo basculante tenha o registro dos dados através de dataloggers, deve-se
descarregá-los de tempos em tempos. Nesse tipo de registro, o datalogger não traça um
gráfico como acontece na pena registradora, mas armazena os dados em um conjunto de
degraus correspondentes à altura de chuva equivalente ao volume de água que cabe em
cada cuba basculante (Santos et al., 2001).

Existem três tipos mais comuns de pluviógrafos: flutuador; de balança; basculante (tipping
bucket).

• Pluviógrafo Flutuador (ou de Bóia)

Em geral, esse aparelho possui área de captação igual a 200 cm2 composta por um coletor
com funil e uma cisterna onde existe uma bóia acoplada ao sistema de pena registradora. Quando a
cisterna está cheia um sistema de sifão a esvazia, e a pena inicia o gráfico no ponto zero. Cada
“sifonada” corresponde a 10 mm de água, na maioria desses pluviógrafos (Santos et al., 2001). Vale
ressaltar que durante o tempo de esvaziamento não há registro da chuva, acarretando um erro
instrumental.

Figura 4.3. Pluviógrafo Flutuador

• Pluviógrafo de Balança

Em geral, esse aparelho possui área de captação igual a 200 cm2 composta por um coletor
com funil e um recipiente ligado a um sistema de balança auto-equilibrada acoplada a uma pena
registradora. O aumento do peso do recipiente transmite movimento à pena que registra os dados.
Quando esta atinge a marcação de 10 mm um sistema de sifão esvazia o recipiente e a pena inicia o
gráfico no ponto zero (Santos et al., 2001). Da mesma forma que o pluviógrafo flutuante, durante o
tempo de esvaziamento não há registro da chuva, acarretando um erro instrumental.

30
Figura 4.4. Pluviógrafo de Balança

• Pluviógrafo Basculante (Tipping Bucket)

Formado por um funil e um recipiente de perfil triangular divido em dois compartimentos


que coletam pequenas quantidades de água, um de cada vez, semelhante ao movimento de uma
gangorra (báscula). Quando um compartimento enche, ele desce e a água é descartada, enquanto o
outro recebe a água. Esse movimento alternado de enchimento é acoplado a um circuito elétrico que
aciona o registrador, seja a pena registradora ou o datalogger. Cada basculada representa,
normalmente, 0,1 ou 0,2 mm de água (Varejão-Silva, 2005).

Básculas

datalogger

Figura 4.5. Pluviógrafo Basculante

31
4.4 Interferências na medição
A ação dos ventos e as características do coletor como o material utilizado, o diâmetro, a
profundidade, o nivelamento, a precisão das dimensões, o local de instalação e a perda por
evaporação, são fatores que interferem na correta medição dos aparelhos.

4.4.1 Material do Coletor


A facilidade que a água tem em passar pelo coletor e a condutividade térmica do mesmo são
características que influem no tipo de material escolhido. A presença de oxidação e rugosidade
proporciona a apreensão da gota ao invés de facilitar a passagem da mesma. O uso de tintas também
deve ser observado, pois algumas absorvem a água. Os materiais mais usados são: alumínio
anodizado, aço inoxidável, ferro galvanizado, fibra de vidro, bronze e plástico (Strangeways, 2000).

4.4.2 Diâmetro
A maioria dos coletores é de formato cilíndrico justamente para amenizar a ação dos ventos
(Strangeways, 2000). Diâmetros muito pequenos apresentam grandes erros de medição, pois são
mais sensíveis à interferência dos ventos, permitindo uma quantidade menor de água coletada.
Diâmetros muito grandes necessitam de grandes recipientes de armazenamento dificultando a
instalação. O tamanho mais utilizado no Brasil é de 20 cm (Santos et al., 2001).

4.4.3 Profundidade
Para coletores de baixa profundidade que não possuem funil é possível que a gota,
dependendo do seu tamanho, rebata na superfície da água contida no coletor e saia da área do
recipiente, de forma a armazenar uma quantidade incorreta. Coletores de grandes profundidades
sofrem mais com a ação dos ventos, facilitando a instabilidade do aparelho (Strangeways, 2000).

4.4.4 Altura
A altura ideal para a instalação do aparelho é próximo ao solo, pois nessa região a ação dos
ventos é menor, interferindo menos na queda natural da gota e, portanto, na captação da água. No
entanto, é necessário colocar um gradeamento ou um material que permita a melhor infiltração da
água no solo ao redor do aparelho, impedindo que o rebate da água que caiu no solo entre no coletor
(Strangeways, 2000). Em grandes alturas a ação dos ventos é maior, e, portanto, menor é a precisão
dos dados coletados.
Na Tabela 4.2 são apresentados valores da taxa de captação de chuva conforme a variação
da altura de instalação do aparelho.

Tabela 4.2. Taxa de captação (TC) da chuva em diferentes alturas (em polegadas) da superfície da
terra no Canadá.
Altura 2” 4” 6” 8” 12” 18” 30” 60” 240”
TC (%) 105 103 102 101 100 99,2 97,7 95,0 90,0

32
4.4.5 'ivelamento
O nivelamento correto do aparelho durante a instalação diminui a possibilidade de erro de
medição devido ao mau posicionamento. Um erro de mediçao de cerca de 1% ocorre para cada 1°
de inclinação do aparelho (Strangeways, 2000).

4.4.6 Precisão das Dimensões


Dimensões menores que as especificadas no equipamento, deformidades e fissuras nas
bordas do funil aumentam a percentagem de erro do aparelho, já que interferem diretamente na
quantidade de água coletada.

4.4.7 Local de Instalação


Deve-se evitar o posicionamento do aparelho próximo aos prédios e a vegetação alta, o que
atrapalha a captura de água pelo coletor. Da mesma forma, não se deve despresar a ação dos ventos
em locais completamente abertos.

4.4.8 Limpeza do Aparelho


É necessário realizar a limpeza do aparelho periodicamente para evitar a entrada de galhos,
folhas e outros objetos que obstruam a passagem da água gerando medições errôneas dos eventos de
chuva.

4.4.9 Evaporação
A temperatura local, a condutividade térmica do material do coletor, a profundidade do
mesmo, a presença de rugosidades que aprisionam as gotas de chuva e a forma de armazenamento
da água coletada (em recipientes enterrados ou não) são fatores que interferem na perda de água por
evaporação proporcionando erros na medição.

4.4.10 Vento
Os aparelhos de medição funcionam como um obstáculo na corrente de vento, causando um
aumento de velocidade na superfície do coletor e turbilhões na região do funil. Esse aumento da
velocidade altera o movimento de queda natural da gota da chuva, de forma que algumas passam
pelo coletor ao invés de cair dentro dele (Strangeways, 2000). Na Tabela 4.3 são apresentados
valores de redução da taxa de captação com o aumento da velocidade do vento.

Tabela 4.3. Redução da taxa (%) de captação com aumento da velocidade de vento no Canadá
Velocidade de vento Tipo de precipitação
(m/s) Chuva Neve
0 0 0
5 6 20
10 15 37
15 26 47
25 41 60
50 50 73
Obs.: Considerou-se que captação da chuva na superfície é o padrão.
33
Algumas formas de diminuir a ação dos ventos são apresentadas a seguir.

4.4.10.1 Escudos ou Barra Ventos


São construções metálicas ao entorno do coletor no formato de um cone invertido (funil)
preso por arestas laterais para não acumular água no fundo

Figura 4.6. Escudos ou Barra Ventos

4.4.10.2 Barreira de Gramínea


São barreiras construídas ao entorno de aparelhos instalados próximos ao solo.
Primeiramente cava-se um “buraco” em formato cilíndrico de dimensões relativas ao diâmetro do
aparelho e a velocidade do vento do local e constrói-se um muro no entorno. Coloca-se um material
ao redor do aparelho para aumentar a infiltração e diminuir a possível entrada da água no coletor
devido ao rebote da precipitação no solo. É necessário fazer a limpeza da cava de tempos em
tempos para não diminuir a espessura do muro e evitar o entupimento do coletor.

Figura 4.7. Barreira de Gramínea

4.4.10.3 Gradeamento
Segundo Strangeways (2000), o gradeamento (Figura 4.8) é a melhor forma de se medir os
dados pluviométricos, pois diminui a ação dos ventos em aparelhos instalados próximos ao solo,
além de formar uma proteção contra possíveis entradas de água no coletor devido ao rebote da
34
precipitação no solo. Este sistema consiste na construção de uma grade no entorno do aparelho. É
necessário fazer a limpeza da grade de tempos em tempos para não acumular folhas, gramas e
outros objetos.

Figura 4.8. Gradeamento

4.5 Análise dos dados


Para utilizar os dados coletados das estações pluviométricas devem-se seguir os seguintes
procedimentos:

• Analisar a existência de erros e corrigi-los se possível;


• Fazer o preenchimento de falhas;
• Comprovar o grau de homogeneidade dos dados e então corrigi-los;
• Utilização dos dados para cálculo da precipitação média, mínima e máxima provável;
freqüência de séries mensais e anuais; determinação de curvas intensidade-duração-
freqüência; e gráficos de distribuição temporal (Pluviogramas).

4.5.1 Análise dos Erros


É importante ressaltar que a detecção de erros é uma avaliação relativa que depende do tipo
de erro e da pessoa que está analisando.
Em estações que possuem pluviógrafos é comum instalar um pluviômetro próximo, a fim de
comparar os registros e corrigir os possíveis erros. Ainda nessas estações, outra forma de corrigir os
erros é interpolando os dados registrados quando se verifica a presença de discrepâncias ou falhas.
Para quantidades significantes de erros pode-se anular o dado e realizar o preenchimento de falha.

4.5.1.1 Detecção de Erros de Observação


Os erros de observação são apresentados na Tabela 4.4 e englobam (Santos et al., 2001):

Tabela 4.4. Erros de Observação

35
Erros São erros referentes às falhas humanas, como derramamento de água
grosseiros coletada, fechamento inadequado da torneira de pluviômetros do tipo
Ville de Paris, registro de coleta em dias inexistentes (exemplo, 30 de
fevereiro), correções aleatórias de dados pelo próprio observador,
transbordamento do coletor, bóia do pluviógrafo presa, escolha errada
das escalas, etc. Para se ter uma maior confiança aos dados coletados
é válida a comparação com o registro de estações vizinhas para
verificar se não apresentam grande variância.
Erros São erros associados às instalações em locais inadequados e ao
sistemáticos próprio aparelho, como a falta de nivelamento, surgimento de
defeitos, deformações devido à temperatura e violações, falta de
regulagem do relógio pluviométrico, etc. Geralmente os erros
sistemáticos têm como característica a repetição do mesmo valor de
erro nos dados coletados.
Erros São erros oriundos de causas diversas, incluindo particularidades do
acidentais próprio observador, como sua capacidade de visão para a leitura dos
dados, e a margem de precisão do próprio equipamento, como seu
nível de interferência devido à evaporação e ao vento.

4.5.1.2 Erros de Transcrição


Os erros de transcrição, como o próprio nome diz, decorrem de falhas humanas durante a
anotação dos dados em algum lugar, sejam em resumos, em mapas, em formas digitais, etc. Para
evitar esses erros é preciso uma melhor atenção durante a anotação e a conferência dos dados.

4.5.2 Preenchimento de Falhas


O preenchimento de falha pode ser realizado através de três métodos diferentes (Tucci,
1993):

• Método de Ponderação Regional;


• Método da Regressão Linear;
• Método de Ponderação Regional com base em Regressão Linear.

As falhas consistem na falta de dados durante certo intervalo de tempo, devido a possíveis
descuidos do observador, danificações ou defeitos nos próprios aparelhos.

4.5.2.1 Método de Ponderação Regional


O método de ponderação regional consiste na escolha de três estações de características
climatológicas semelhantes à estação de análise e que possuem pelo menos 10 anos de dados
coletados para o preenchimento de séries mensais ou anuais. Utilizar esse método para
preenchimento de falhas de dados diários pode acarretar erros significativos (Tucci, 1993).
O método utiliza a seguinte relação:
1  Mx Mx Mx 
Px =  ⋅ Pa + ⋅ Pb + ⋅ Pc 
3  Ma Mb Mc  (4.2)

36
onde a precipitação na estação (Px) é proporcional às precipitações nas estações vizinhas a, b, e c
num mesmo período, representadas por Pa, Pb, e Pc. O coeficiente de proporcionalidade é a relação
entre a média Mx e as médias Ma, Mb e Mc no mesmo intervalo de tempo.
Através desse método é possível estimar as precipitações ocorridas para regiões que não
possuem estações pluviométricas.

4.5.2.2 Método de Regressão Linear


O método da regressão é divido em simples e múltiplo.
O método simples consiste em relacionar as variáveis, tempo(X) e precipitação(Y),
linearmente (Y = A + BX) através da construção de um gráfico ou pelo método dos mínimos
quadrados. Pela primeira opção os pontos são plotados em um plano cartesiano, e então é traçada,
“a sentimento”, a melhor reta que passa pelos valores médios dos dados. Pela opção dos mínimos
quadrados, a diferença é que se inserem as coordenadas na calculadora e encontram-se os valores de
A e B de forma a encontrar a equação da melhor reta. Basta colocar o valor do tempo (X) referente
à falha e encontrar a precipitação (Y).
O método múltiplo consiste na associação de duas ou mais informações de uma estação com
outras estações vizinhas através da equação (Tucci, 1993):
yci = a0 x1i + a1 x2i + ... + an−1 x (4.3)
onde n é o número de estações consideradas; a0, a1, ..., an são os coeficientes a serem estimados; e
x1i, x2i, ..., xni são as observações correspondentes registradas nas estações vizinhas.

4.5.2.3 Método de Ponderação Regional com base em Regressão Linear


Esse método consiste em estabelecer uma regressão linear entre o número de estações
consideradas.
Primeiramente faz-se o método de regressão linear simples pelos múltiplos quadrados para
cada estação escolhida e encontra-se o valor do coeficiente de correlação (R). Depois, calcula-se o
fator de peso (Wi) para cada estação através da equação (4.4) (Tucci, 1993):
Ri
Wi = (4.4)
(R1 + R2 + ... + Rn )
Por último, calcula-se a o valor da precipitação (Y) da estação em análise pela equação (4.5)
(Tucci, 1993):
Y = x1W1 + x2W2 + ... + xnWn (4.5)
onde x1,x2...,xn são as precipitações correspondentes ao mês (ou ano) das estações
escolhidas; e W1, W2, ..., Wn são as seus respectivos pesos.

4.5.3 Verificação da Homogeneidade dos Dados – Método da Dupla Massa


A verificação da homogeneidade dos dados significa a análise de consistência dos dados da
estação em estudo. Esta análise efetua-se comparando aos registros das estações vizinhas, já com as
devidas correções. É uma analise dentro da visão regional.
O método de Dupla Massa consiste na comparação dos dados através da construção de
gráficos que relacionam os valores totais mensais (ou anuais) acumulados de cada estação escolhida

37
(no eixo das ordenadas) com os valores médios acumulados da região (no eixo das abscissas), ou
seja,Acúmulo Médio da Região,para a Estação i.
Os valores médios acumulados da região são calculados através da acumulação das médias
aritméticas em cada mês (ou ano) em todas as estações. Qualquer mudança brusca na direção da
reta indica anormalidade.
As mudanças de declividade significam erros sistemáticos e para correção do dado é feita a
relação apresentada na equação (4.6) (Tucci, 1993):
M
Pa = a xP0 (4.6)
M0
onde Pa é a observação ajustada à condição atual; Po é o dado observado a ser corrigido; Ma é o
coeficiente angular da reta no período recente; Mo é o coeficiente angular da reta no período antigo.
O alinhamento dos pontos em retas paralelas significa que existem erros de transição ou a
existência de anos extremos nos dados plotados (Tucci, 1993).
A distribuição aleatória dos pontos significa que a comparação está equivocada, pois as
estações escolhidas não possuem características pluviométricas semelhantes (Tucci, 1993). Na
Figura 4.9 são apresentadas algumas peculiaridades do método de Dupla Massa.

Figura 4.9. Casos Peculiares do método de Dupla Massa

4.5.4 Cálculos da Precipitação

4.5.4.1 Precipitação Média da Região


• Método da Média Aritmética

Esse método admite que todas as estações possuam o mesmo peso de importância, portanto,
a média da precipitação no local (Xn) é calculada pela soma das precipitações médias das estações,
dividindo o resultado pelo número de estações. O resultado considera a distribuição temporal, ou
seja, é possível calcular a precipitação média para intervalos de dias, meses, anos, etc.

38
∑ in=1 X i
Xn = (4.7)
n
• Método de Thiessen

O método consiste em calcular a precipitação média da região (Pm) a partir da determinação


da área de abrangência de cada estação. A fórmula usada é (Tucci, 1993):
1
Pm = x ∑ Ai xPi (4.8)
A
onde A é a soma de todas as áreas de influência; Ai é a área de abrangência da estação; e Pi é a
precipitação média da estação.
Pelo método de Thiessen (1911) é possível analisar a área de abrangência de cada estação
pluviométrica pela seguinte forma (Figura 4.10):

(1) Calcular a área total da região em análise;


(2) Localizar as coordenadas das estações pluviométricas distribuídas na região;
(3) Tracejar uma linha que ligue os pontos das estações pluviométricas, formando
triângulos;
(4) Traçar linhas perpendiculares a cada linha tracejada nos pontos médios até o baricentro;
(5) Apagar as linhas tracejadas;
(6) As linhas que sobram formam as áreas relativas a cada estação pluviométrica.

Figura 4.10. Esboço do Método de Thiessen, com P1, P1, P3, P4 e P5 estações pluviométricas.

O método de Thiessen considera a distribuição temporal da precipitação, no entanto, embora


ele seja mais preciso que o método aritmético, ele não considera as limitações orográficas do local,
simplesmente organiza linearmente a porção de área referente a cada estação. Portanto, para se ter
bons resultados com esse método é importante que o relevo seja pouco acidentado e as distâncias
entre as estações pluviométricas pouco extensas.
39
• Método das Isoietas

São linhas, semelhantes às linhas de curva de nível, que unem locais com mesmo valor de
chuva. Para o cálculo da precipitação média utiliza-se a fórmula usada no método de Thiessen.
Onde Ai representa a área entre duas isoietas e Pi representa a média aritmética dos valores dessas
isoietas.
Vale ressaltar que o método das isoietas é o método mais preciso dentre os apresentados,
pois considera a distribuição espacial de intensidade de chuva devido as influências orográficas (a
influência do relevo e das massas de ar), além da distribuição temporal, ou seja, é possível desenhar
as isolinhas para determinado intervalo de tempo (meses, períodos chuvosos, períodos secos, etc.).

4.5.4.2 Precipitação Máxima Provável


O valor calculado para a precipitação máxima não significa o valor limite que se pode ter,
mas o valor máximo observado no histórico de dados pluviométricos do local. O cálculo da
precipitação máxima provável é de suma importância para obras civis como barragens, pontes e
outras, independente do tempo de retorno que ela apresente.
Uma maneira de calcular a precipitação máxima provável é através do método estatístico da
generalização das estimativas, composto pelas equações (4.9) (4.10) e (4.11)(Tucci, 1993), onde
em cada estação é:

(1) Calculado os valores de precipitação média (Xn) pelo método aritmético;


(2) Calculado os desvios padrões (Sn ou σ):
∑ in=1 ( X i − X n )
2
σ = (4.9)
n
(3) Calculado os coeficientes de variância (Cv):
X
Cv = n (4.10)
Sn
(4) Plotado os valores de Xn e Cv;
(5) Estabelecido a relação da Precipitação Máxima Provável (PMP) a partir da equação
(4.11):
PMP = X n (1 + K m Cv ) (4.11)
onde Km é o coeficiente de recorrência. Adota-se Km = 11 para chuvas de 3, 4 e 5 dias ou Km = 9
para chuvas de 1 e 2 dias (Tucci, 1993).

4.5.4.3 Freqüência dos totais precipitados


A estimativa de freqüência dos totais precipitados permite saber o intervalo de tempo entre
os eventos de análise, inclusive o tempo de retorno da região. Quanto maior a quantidade de meses
e anos de registros, devidamente corrigidos, menores são os erros relativos ao cálculo da freqüência.
Saber a freqüência dos eventos é de grande relevância para a construção das obras hidráulicas.

• Freqüência de Precipitações Mensais

40
Os dados são organizados em ordem decrescente e a cada um é atribuído o seu número de
ordem m (m variando de 1 a n, sendo n o número de observações). A freqüência com que foi
igualado um evento de ordem m será:
m
- Pelo Método Califórnia: f = ;
n
m
- Pelo Método Kimball: f = ;
n +1
A diferença entre os métodos é relativa ao tempo de retorno (Tr), calculado pelo inverso da
1
freqüência Tr = . O método Kimball permite um tempo de retorno maior que o método Califórnia
f
para os mesmos dados.

• Freqüência de Totais Anuais

Quando o número de observações é pequeno e espaçados o valor do período de recorrência


pode ser calculo pela equação (4.12):
1
Tr = (4.12)
P
onde P é a estimativa de probabilidade teórica. Essa função probabilística, chamada distribuição
normal ou de Gauss, é calculada através de uma variável reduzida Z (equação (4.13)) e uma
integração (equação (4.14)), onde X é o total de precipitação anual, Xn é a precipitação média, σ é o
desvio padrão.
X − Xn
Z= (4.13)
σ
z − z2
1
P (z ) = ∫ e 2 .dz (4.14)
2π −∞
A integral (equação (4.14)) não tem resolução analítica e, portanto, são usadas tabelas que
podem ser encontradas em qualquer obra de referência estatística (Pinto et al., 1995).

Tabela 4.5. Parte da tabela que relaciona F(x) com Z.


Z 0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09
0,0 0,5000 0,5010 0,5080 0,5120 0,5160 0,5199 0,5239 0,5279 0,5319 0,5359
0,1 0,5398 0,5438 0,5478 0,5517 0,5557 0,5596 0,5636 0,5675 0,5714 0,5753
0,2 0,57 93 0,5832 0,5871 0,5910 0,5948 0,5987 0,6026 0,6064 0,6103 0,6141
0,3 0,6179 0,6217 0,6255 0,6293 0,6331 0, 6368 0,6406 0,6443 0,6480 0,6517
0,4 0,6554 0,6591 0,6628 0,6664 0,6700 0,6736 0,6772 0,6808 0,6644 0,6819
0,5 0,6915 0,6950 0,6985 0,7019 0,7054 0,7088 0,7123 0,7157 0,7190 0,7224
0,6 0,7257 0,7291 0,7324 0,7357 0,7389 0,7422 0,7454 0,7406 0,7517 0,7549
0,7 0,7580 0,7611 0,7642 0,7673 0,7704 0,7734 0,7764 0,7791 0,7823 0,7852
0,8 0,7881 0,7910 0,7939 0,7967 0,7995 0,8023 0,8051 0,8078 0,8106 0,8133
0,9 0,8159 0,8186 0,8212 0,8238. 0,8264 0,8289 0,8315 0,8310 0,8365 0,8389
1,0 0,8413 0,8138 0,8461 0,8485 0,8508 0,8531 0,8554 0,8577 0,8599 0,8621
Para obtenção de resposta numérica deve-se realizar as seguintes etapas:

41
(1) Primeiramente encontram-se os valores de Xn e σ e obtém Z em função de X;
(2) Encontra-se o valor de Z para cada total anual, de precipitação X;
(3) Encontram-se os valores de F(x) para cada valor de Z calculado, a partir da Tabela 4.5;
(4) Através do ajuste da lei de Gauss calcula-se os tempos de retornos (Tr) pela seguinte
relação:
1
Tr = , para F(x) ≤ 0,5 (4.15)
F (x )
1
Tr = , para F(x) > 0,5 (4.16)
1 − F (x )

4.5.5 Precipitação de Chuvas Intensas – Relação Intensidade-Duração-


Freqüência
Entende-se como chuva intensa uma forte precipitação contínua em um curto intervalo de
tempo, geralmente em um tempo de minutos ou algumas horas. A intensidade da chuva varia no
decorrer do intervalo de tempo, representada pela equação (4.17):
dh
i= (4.17)
dt
onde i é a intensidade da chuva, dh é o acrescimento de altura pluviométrica, e dt é o intervalo de
tempo infinitesimal. Na prática, o cálculo considerado é a integração do acréscimo de altura
pluviométrica ao longo do tempo de duração da chuva, equação (4.18), com unidade em mm/h ou
mm/min (Pinto et al., 1995).
t0 + ∆t
i.dt
im = ∫
t0
∆t
(4.18)

A variação da intensidade com a freqüência pode ser analisada com o método de Gumbel,
que segue o seguinte procedimento:

• Escolhe-se a máxima intensidade de cada ano durante n anos, para cada duração t, usando
pluviograma da região;
• Obtém-se uma série anual, constituída por n máximos (Xi), para cada duração. A média (Xn)
e o desvio padrão amostral (σam) são:
∑ in=1 X i
Xn = (4.19)
n
∑ in=1 ( X i − X n )
2
σ am = (4.20)
n −1
• A probabilidade da máxima intensidade média de precipitação de dada duração ser maior ou
igual a X é calculada pela equação:
P = 1 − exp − e − b ( ) (4.21)
onde,
1
b= ( X − X n + 0,45σ am ) (4.22)
0,7797σ am
• Então, o período de retorno é:

42
1 1
T= = (4.23)
(
P 1 − exp − e −b )
• Linearizando a equação do desvio padrão amostral obtém-se:
X = X n + Kσ (4.24)
onde,
K = [(0,7797 b ) − 0,45] (4.25)
  T − 1 
b = − ln − ln  (4.26)
  T 
A fórmula abaixo representa a relação entre intensidade-duração-freqüência (Pinto et al.,
1995):
aTrn
i= (4.28)
(t + b )m
onde a e b são parâmetros e n e m expoentes específicos a serem determinados para cada local; i é a
intensidade máxima para uma duração de tempo t; e Tr é o tempo de retorno do local. Exemplos:
99,154 ⋅ T 0, 217 3462,7 ⋅ T 0,172 1239 ⋅ T 0,15
Rio de Janeiro i = ; São Paulo i = ; Curitiba i = .
(t + 26)1,15 (t + 22)1,025 (t + 20)0,74

4.6 Escolha da quantidade e do local de instalação das estações pluviométricas


A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), através da Resolução nº396 de 04 de
dezembro de 1998, estabelece a quantidade mínima de aparelhos pluviométricos exclusivamente
para empreendimentos hidrelétricos. A Tabela 4.6 mostra as recomendações da ANEEL.

Tabela 4.6. Quantidade de estações pluviométricas por área de drenagem incremental – ANEEL
Área de Drenagem
úmero mínimo de estações
Incremental (km2) Pluviométricas
De 0 a 500 -
De 501 a 5.000 3
De 5 001 a 50.000 4
De 50 001 a 500.000 6
Acima de 500.000 7

A quantidade mínima de estações pluviométricas para fins de pesquisa depende de fatores


como o tamanho da área de análise, o objetivo da pesquisa, a disponibilidade financeira dos órgãos
envolvidos, o tipo de aparelho utilizado, o método escolhido para avaliação e as características do
relevo local. Pois, a orografia ocasiona uma heterogeneização das chuvas, de forma que em regiões
mais planas é possível admitir uma área de abrangência maior que uma região mais montanhosa
para um mesmo aparelho e análise. Mesmo que a escolha seja relativa a essas considerações a
WMO (World Meteorological Organization) a fim de melhorar a avaliação e o planejamento das
redes pluviométricas elaborou um manual de práticas hidrológicas em 1984 no qual apresenta uma
tabela que relaciona as características fisiográficas da região e a densidade mínima da rede
pluviométrica (Tabela 4.7).

43
Tabela 4.7. Modelo original para densidades mínimas das redes pluviométricas segundo WMO
(1984) citado por Salgueiro(2005).
Limite das
ormas para uma rede Limite das
ormas admissíveis em
mínima. circunstâncias especialmente
Características Fisiográficas (Superfície em km2 por estação) difíceis 1.
(Superfície em km2 por estação)
Regiões Planas de Zonas
Temperadas, Mediterrâneas e 600-900 900-3.000
Tropicais;
Regiões Montanhosas de zonas
Temperadas, Mediterrâneas e 100-250 250-1.000 4
Tropicais;
Pequenas Ilhas Montanhosas com -
Precipitação muito irregular e rede
hidrográfica muito densa; 25
Zonas áridas e Polares 2. 1.5000-10.000 3 -
1 Limite máximo e admissível em circunstâncias excepcionalmente difíceis;
2 Sem incluir os grandes desertos;
3 Segundo as possibilidades;
4 Em condições de grande dificuldade podem ampliar-se até 2.000km2.

Já em 1994 a própria WMO apresentou uma nova tabela na qual relaciona as unidades
fisiográficas com a densidade mínima por estação (Tabela 4.8).

Tabela 4.8. Modelo revisado para densidades mínimas das redes pluviométricas segundo WMO
(1994) citado por Salgueiro(2005).
Densidade Mínima por Estação
Unidades Fisiográficas (Área em km2 por estação)
Sem Registrador Com Registrador
Costeira 900 9.000
Montanhosa 250 2.500
Planas e Interiores 575 5.750
Montanhosas / Onduladas 575 5.750
Pequenas Ilhas 25 250
Áreas Urbanas - 10-20
Polares/ Áridas 10.000 100.000

Para a escolha dos locais de instalações é necessário considerar: o objetivo da pesquisa; a


orografia local juntamente com a altura da vegetação e prédios além das áreas abertas; a segurança
do ponto escolhido; e a facilidade de acesso de instalação e manutenção.

44
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 4. PRECIPITAÇÃO, UFRJ. Disponível em:
http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/leonardo/downloads/APOSTILA/HIDRO-Cap4-PPT.pdf.
Acesso em: 23 de janeiro de 2009.
http://www.icess.ucsb.edu/gem/nuvens.htm; http://www.icess.ucsb.edu/gem/index.htm GEM
(Grupo de Estudo em Multi-Escala – USP), visitando em 15 de janeiro de 2009.
Investigando a Terra – Instituto Astronomico e Geofisico – USP
<http://www.iag.usp.br/siae97/meteo/met_prec.htm>. visitado em 16 de janeiro de 2009.
PINTO, N. L. S.; HOLTZ, A. C. T.; MARTINS, J. A.; GOMIDE, F. L. S. Hidrologia Básica. 5ª
Ed, São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda, 1995. 278p.
SALGUEIRO, J. H. P. B. Avaliação de rede pluviométrica e análise devariabilidade espacial da
precipitação : estudo de caso na Bacia do Rio Ipojuca em Pernambuco. 2005. 122f.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Engenharia Civil, Universidade Federal de
Pernambuco, Recife, 2005. Disponível em:
<http://www.cprm.gov.br/publique/media/mestra_salgueiro.pdf>. Acessado em: 01 de fevereiro de
2009.
SANTOS, I.; FILL, H.D.; SUGAI, M.R.V.; BUBA, H.; KISHI, R.T.; MARONE, E.; LAUTERT,
L.F.C. Hidrometria Aplicada. Curitiba - Pr: Lactec, 2001. 372 p.
STRANGEWAYS, I. Measuring the
atural Environment. Cambridge: Cambridge University
Press, 2000. 365p.
The Thiessen Method. Disponível em: http://data.piercecollege.edu/weather/flash/Thiessen.swf.
Acesso em: 22 de janeiro de 2009.
TUCCI, C. E. M. Hidrologia: Ciência e Aplicação, 1ª Ed, Porto Alegre: Edusp, 1993. 943p.
VAREJÃO-SILVA, M. A. Meteorologia e Climatologia. Versão Digital, Recife, 2005.

45
5. I
TERCEPTAÇÃO

Pedro Luiz Borges Chaffe


Masato Kobiyama
Joana Nery Giglio

5.1 Conceito
A interceptação é a retenção, acima da superfície do solo, de parte da precipitação. Esse é o
primeiro processo hidrológico pelo qual a água da chuva passa. Basicamente, a precipitação em
uma bacia florestal é interceptada pelos elementos que se encontram na superfície (folhas, galhos,
troncos e serrapilheira). Após a capacidade de armazenamento de água nesses elementos ser
atingida, a água fica então disponível ao solo. A água armazenada será evaporada de volta a
atmosfera e, portanto, pode ser encarada como uma perda. Em áreas de floresta a interceptação pode
chegar a 40 % do total precipitado, tendo um papel importante no balanço hídrico (Zinke, 1967).
Então, medir interceptação é uma das maneiras de avaliar o efeito do uso do solo no balanço
hídrico.
A parte da precipitação que cai diretamente sobre o solo ou que é interceptada e cai depois
na forma de gotas das folhas e ramos é chamada de chuva interna ou throughfall. A parte que é
desviada da copa e escoa através dos troncos até o solo é chamada de escoamento de tronco ou
stemflow. A soma da chuva interna com o escoamento de tronco é a chamada chuva líquida.

5.2 Fatores influenciadores


A quantidade de água interceptada depende das características da precipitação, da vegetação
e das condições meteorológicas. Os fatores que influenciam podem ser resumidos em:

• Intensidade da chuva;
• Volume total precipitado;
• Chuva antecedente;
• Intensidade do vento;
• Umidade e temperatura do ar;
• Tipo e densidade da vegetação.

Geralmente, quanto menor a intensidade e quantidade de chuva maior será a interceptação.


A Figura 5.1 mostra que a interceptação varia de 100%, pequenos volumes precipitados, até
aproximadamente 10% para maiores volumes. As variações nas medidas podem ser explicadas
pelas diferentes taxas de evaporação durante os eventos, condições antecedentes e também
condições meteorológicas.
O tipo, densidade e idade da vegetação influenciam principalmente na capacidade de
armazenamento. Dependendo do tipo de folha e casca da vegetação, a interceptação pode variar.
Folhas largas têm maior área de captação, porém existe a formação de gotas maiores que pingam
46
mais facilmente no solo. Além disso, vegetação do tipo perene tem a capacidade de armazenamento
mais uniforme durante o ano se comparada a vegetações que perdem as folhas de acordo com a
estação do ano (decíduas ou caducifólias). Em termos gerais, uma maior densidade de vegetação
equivale a uma maior capacidade de armazenamento e, portanto, a uma maior interceptação. A
densidade de vegetação está relacionada não só a densidade de árvores, mas também de arbustos,
gramíneas e serrapilheira no solo.
As condições meteorológicas em um evento de chuva podem afetar tanto o armazenamento
quanto a taxa de evaporação. Os principais fatores envolvidos são umidade e temperatura do ar e
intensidade do vento. Quanto maior a umidade do ar e menor a temperatura, menor são as taxas de
evaporação. No caso de uma maior intensidade do vento pode ocorrer que a perda por interceptação
aumente ou diminua. Sabe-se que quanto maior a intensidade do vento maior será a evaporação
potencial. Porém, pode ser que a água armazenada nas folhas seja sacudida com rajadas de vento e
caia no solo, reduzindo a capacidade de armazenamento da vegetação.

100

90

80

70
Interceptação (%)

60

50

40

30

20

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Precipitação Total (mm)

Figura 5.1. Relação entre interceptação e precipitação total (bacia Pinus 1).

5.3 Medição
O conhecimento que se tem sobre interceptação é baseado principalmente em investigações
empíricas e sua determinação é dada, geralmente, de maneira indireta. Considera-se um sistema
onde a entrada (chuva total) e as saídas (chuva interna e escoamento de tronco) podem ser medidas.
A diferença entre a entrada e a saída é aquilo que ficou retido ou interceptado pelo sistema. Pelo
balanço hídrico no sistema considerado (por exemplo, copa de árvores), temos:
I = P − Pt − Ps (5.1)
e
I = E + Sc + St (5.2)

onde I é a interceptação; P é a precipitação total (externa ou grossa); Pt é a precipitação


interna “throughfall”; e Ps é o escoamento pelo tronco “stemflow”; E é a evaporação durante o
evento de chuva; Sc é o armazenamento de copa e St é o armazenamento de tronco.

47
Pela Equação 5.1, vê-se que ao medir três variáveis (chuva total, chuva interna e escoamento
de tronco) pode-se determinar a interceptação indiretamente. A medição de chuva total deve ser
feita com um pluviômetro (ou pluviógrafo) instalado em uma clareira ou acima da floresta para não
sofrer influência da vegetação. Aconselha-se que o ângulo formado entre o topo do pluviômetro e o
topo da árvore mais próxima e mais alta seja de no máximo 45° (Figura 5.2, detalhe (1)).
A medição de escoamento de tronco pode ser feita individualmente para cada árvore ou
fazendo-se uma média entre algumas árvores (Figura 5.2, detalhe (2)). A opção de medir
individualmente ou em grupo deve levar em conta a disponibilidade de equipamentos e a
heterogeneidade da floresta. A Figura 5.3 mostra o detalhe da instalação do colar para captação de
escoamento de tronco de uma árvore. O colar pode ser construído com chapa fina de metal ou com
uma mangueira cortada. Ele pode ser fixado na árvore com pregos e o uso de silicone nas bordas
evita vazamento.
Devido à heterogeneidade espacial e temporal da chuva interna, o uso de calhas com maior
área de captação geralmente é aconselhável. As calhas devem captar chuva interna e conduzi-la até
um pluviômetro (Figura 5.2, detalhe (3)). As calhas podem ser construídas com chapas de zinco ou
plástico e o tamanho varia conforme a necessidade. A água captada pela calha pode ser conduzida
para um pluviômetro através de mangueiras. O uso de apenas pluviômetros para medição de chuva
interna pode induzir a erros; caso ele se localize em uma parte aberta haverá superestimação da
chuva, caso fique embaixo de uma copa densa as medidas serão subestimadas. Nesse caso deve-se
ter um número elevado de equipamentos instalados para garantir uma maior representatividade dos
dados.

Figura 5.2. (1) Pluviógrafo medindo chuva externa. (2) Pluviógrafo medindo escoamento de
tronco. (3) Pluviógrafo medindo chuva líquida coletada pelas calhas.

48
Figura 5.3. Detalhe de colar no tronco e tubo condutor até pluviógrafo.

A Figura 5.4 mostra fotos de equipamentos para medição de chuva interna e escoamento de
tronco instalados em uma bacia experimental. A chuva interna é coletada com calhas de zinco
(Figura 5.4 a) e conduzidas até um pluviógrafo por mangueiras ligadas à saída da calha (Figura
5.4b). Em caso de árvores com casca espessa (Pinus, por exemplo) aconselha-se que seja feita uma
limpeza na área em que será feita a instalação do colar para captação de escoamento de tronco
(Figura 5.4c). Com essa limpeza obtém-se uma superfície mais homogênea e evita-se vazamentos.
A Figura 5.4d mostra a calha para medição de chuva interna e as mangueiras condutoras de
escoamento de tronco ligadas a pluviógrafos. Ambos pluviógrafos são ligados a dataloggers e
registram volume captado a cada 10 minutos.

49
(a) (b)

(c) (d)

Figura 5.4. (a) Instalação de calha para coleta de chuva interna. (b) Detalhe de mangueiras que
ligam a calha ao pluviógrafo do tipo báscula. (c) Limpeza da casca para instalação de mangueiras
de coleta de escoamento de tronco. (d) Área com medição instalada de chuva interna e escoamento
de tronco.

5.4 Análise
O primeiro passo para análise dos dados de chuva interna e escoamento de tronco é a
transformação dos volumes medidos para milímetros equivalentes. No caso do uso de calhas para
coleta de chuva líquida, deve-se dividir o volume total medido pela área de coleta da calha
projetada em planta (Figura 5.5(3)). A Figura 5.5(4) mostra em planta o colar de captação de
escoamento em quatro troncos e a condução até um pluviógrafo. O volume escoado pelo tronco
deve ser dividido pela área de influência aproximada das copas das árvores medidas (Figura 5.5(1)).
Um pluviógrafo para medição de chuva externa é mostrado na Figura 5.5(2).

50
Figura 5.5. Vista em planta de um plot com equipamentos de medição de interceptação instalados.
(1) Área para cálculo de escoamento de tronco. (2) Pluviógrafo medindo chuva externa. (3) Calha
para medição de chuva interna. (4) Colar para medição de escoamento de tronco.

Como visto anteriormente, a quantidade de água interceptada depende do volume total


precipitado. É comum que em estudos de interceptação seja usado uma relação de regressão entre a
precipitação interceptada e a total. Horton (1919) propôs a seguinte equação empírica:
I = a.P n + b (5.3)
onde I é a quantidade interceptada, P a chuva total e a, b e n são parâmetros de ajuste.
Alguns dados destes parâmetros estão na Tabela 5.1. A vantagem desse tipo de abordagem é que
pode ser usado com medidas de chuva totais por evento, não necessitando de dados medidos com
uma maior resolução temporal. Porém, existem críticas pelo fato desse método não levar em conta
certas variáveis como intensidade de chuva e duração. Gash (1979) re-examinou do ponto de vista
físico esses coeficientes e propôs que para o caso de n = 1,00:
a=Ē/Ȓ (5.4)
e
b = (Sc + ʃ E dt ) ⋅ {1 – (Ē / Ȓ) ⋅ (1- p - pt)-1} (5.5)
onde E é a taxa de evaporação, Ē é a taxa de evaporação média durante o evento, Ȓ é a
intensidade média de chuva durante o evento, p é o coeficiente de chuva que cai no solo sem atingir
a vegetação e pt é a proporção de chuva que é desviada como escoamento de tronco (Rutter et al.,
1971).

Tabela 5.1. Parâmetros da equação de Horton para alguns tipos de cobertura vegetal.
Cobertura vegetal a b '
Pomar 0,04 0,018 1,00
Carvalho 0,05 0,18 1,00
Maple 0,04 0,18 1,00
Pinus 0,05 0,20 0,50
Arbustos 0,02 0,40 1,00

51
Normalmente, n = 1,00
Uma maneira para se determinar a capacidade de armazenamento de copa para uma floresta
é utilizando dados de precipitação interna e precipitação total (Leyton et al., 1967). Através de uma
dispersão desses dados (Figura 5.6) é possível perceber que existe um ponto de inflexão (≈ 5 mm)
que divide os eventos em dois grupos. O primeiro é caracterizado por eventos que não alcançaram a
capacidade máxima de armazenamento de copa. A inclinação da reta de regressão feita nessa
primeira parte dos dados é a proporção de precipitação que chega ao solo sem ser interceptada (p ≈
0,41).
O segundo grupo é aquele em que a saturação da copa foi atingida. Uma curva envoltória
deve ser traçada para esses dados passando-se apenas por pontos onde condições de evaporação
mínima são assumidas. A extrapolação dessa curva até o eixo de precipitação interna resulta em um
valor negativo, que representa a capacidade de armazenamento máximo de copa (Sc ≈ 2,71 mm).
Idealmente, cada evento de chuva deveria ser tratado em separado, porém, isso depende da
disponibilidade de medições automáticas.
Os parâmetros de armazenamento de tronco podem ser estimados de maneira similar aos da
copa. Faz-se uma dispersão do escoamento de tronco pela precipitação total (Figura 5.7). A
inclinação da curva de regressão dos dados informa o valor proporcional de água que é desviada
para o tronco (pt ≈ 0,13) e a interceptação da linha até com o eixo do escoamento de tronco
representa a capacidade máxima de armazenamento de tronco (St ≈ 1,06 mm).

80

70 Pt = 0,97 P - 2,71
R² = 0,9997
Precipitação Interna (mm)

60

50
Ponto de Inflexão
40 ≈ 5 mm

30
Pt = 0,41 P - 0,22
20 R² = 0,5944

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Precipitação Total (mm)

Figura 5.6. Relação entre precipitação interna e precipitação total. (bacia Pinus 1).

52
16

14

Escoamento de Tronco (mm)


12
Ps = 0,13 P - 1,06
10 R² = 0,872

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Precipitação Total (mm)

Figura 5.7. Relação entre escoamento de tronco e precipitação total. (bacia Pinus 1).

O fator de cobertura de copa (c) pode ser estimado através de foto com a câmera apontando
para o céu (Figura 5.8) e depois calculando-se a área da foto que corresponde a copa das árvores e a
parte que corresponde a superfícies livre. O problema desse método está na distorção na imagem
devido à lente. Outra maneira que pode ser usada é com a medição de radiação externa e interna na
floresta. A razão entre as duas tem relação com o fator de cobertura.

Figura 5.8. Foto para estimativa do fator de cobertura de copa (c).

5.5 Modelagem
Existem diversos modelos propostos para estimativa de perdas por interceptação (Rutter et
al., 1975; Suzuki et al, 1979; Gash, 1979; Valente et al., 1997). Dois dos mais usados são o modelo
de Rutter (Rutter et al, 1975) e o modelo de Gash (Gash, 1979), que na verdade é uma simplificação
do modelo Rutter juntamente com alguns conceitos de regressão linear. Aqui é apresentada uma
versão reformulada do modelo de Rutter proposta por Valente et al. (1997), chamado de modelo de
Rutter esparso ou Sparse Rutter Model. Esse modelo tem como entrada chuva total e evaporação
potencial e pode estimar chuva interna e escoamento de tronco a cada passo de tempo.
Basicamente a chuva total (R) é separada em chuva que cai em áreas abertas ou
descobertas ((1-c) *R) e que cai no sistema de copas ou área coberta (c*R) (Figura 5.9). A copa é
53
representada por um tanque com capacidade máxima de armazenamento Sc e água armazenada em
um determinado passo de tempo Cc. A evaporação de copa é dado por Ec. Quando Cc > Sc, Ec
corresponde a evaporação potencial, caso contrário é usado um fator de redução de evaporação.
Quando Cc ultrapassa o valor limite de Sc a água em excesso é escoada em parte para o tronco
através da proporção pd e a outra parte cai no solo (1-pd). O sistema de tronco funciona análogo ao
de copa. A proporção de água que evapora de copa e evapora de tronco é dada pelo coeficiente ee.
Perda por
Precipitação total interceptação
R E + Et

Evaporação Evaporação
de copa de tronco
Área descoberta Copa
E = c Ec E t = c E t,c
input input
R R

área área
descoberta coberta (1 - ee) E p C c , C c < S c
1-c c Sc
Ec =
(1 - ee) E p , Cc = Sc

Sc
Cc

Drenagem de copa
D c = d (C c - S c)/dt
Precipitação
livre
R

Tronco
input
P d Dc
ee E p C t,c , C t,c < S t,c
E t,c = S t,c
ee E p , C t,cc = S t,c

S t,c
C t,c

Drenagem de
Gotas tronco
Di,c = (1 - p d) D c D t,c = d (C t,c - S t,c)/dt

Precipitação Escoamento
interna de tronco
(1 - c) R + c Di,c c Dt,c

Figura 5.9. Fluxograma do modelo Sparse Rutter Model. (adaptado de Valente 1997)

A Figura 5.10 apresenta a simulação com o Sparse Rutter Model da chuva interna e do
escoamento de tronco para um evento de chuva. Foram usados dados de chuva externa, interna e
escoamento de tronco medidos a cada 10 minutos. A evaporação potencial diária, uma entrada do
modelo, foi calculada através do método de Penman (ver Capítulo 11). Os valores diários foram
transformados através de uma função para obtenção de evaporação potencial a cada 10 minutos.
54
0

Precipitação
(mm/10min)
2

6
0 50 100 150 200 250 300 350
6

(mm/10min)
Throughfall
Simulado
4
Medido
2

0
0 50 100 150 200 250 300 350
0.4
(mm/10min)
Stemflow

0.2

0
0 50 100 150 200 250 300 350
Tempo (10min)

Figura 5.10. Simulação de chuva interna e escoamento de tronco com o modelo Sparse Rutter
Model. (Bacia Pinus 1)

5.6 Considerações
A parcela da chuva que não chega ao solo, perdida no processo de interceptação, pode
corresponder a parcelas elevadas do balanço hídrico (até ≈ 40% do total). Porém, sua quantificação
precisa e de maneira padronizada é difícil de ser feita devido a influência das características da
precipitação, condições meteorológicas e da heterogeneidade da vegetação. Devido a essa
dificuldade, muitas vezes esse tipo de medição não é feita e a justificativa acaba sendo que a
interceptação não é significativa.
A maioria dos modelos usados hoje de chuva-vazão para o estudo de balanço hídrico não
contam com rotinas de interceptação e são muitas vezes alimentados com dados de chuva externa
(ou total). Esses modelos já têm na sua estrutura toda uma incerteza devido as simplificações feitas
e a entrada de dados incorretos pode aumenta ainda mais a incerteza do estudo ou condicionar um
modelo a achar bons resultados mas por razões erradas. Os dados de interceptação são necessários
então para a redução de incerteza desses estudos e consequentemente aumentar o grau de
conhecimento sobre os processos hidrológicos. Se no final das contas queremos saber o que
acontece com a água da chuva quando chega à superfície, nada mais coerente do que medir o
primeiro processo pelo qual ela passa.

55
Referências bibliográficas
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56
6. I
FILTRAÇÃO

Antônio Augusto Alves Pereira


Aline de Almeida Mota

6.1 Introdução
Infiltração é o nome dado ao processo de passagem da água que chega à superfície do solo
via precipitação, degelo ou irrigação, para seu interior, através dos poros. Então, entendemos que a
água que cai sobre um terreno permeável é succionada, isto é, infiltra. É importante conhecer esse
fenômeno porque a taxa em que se dá essa infiltração, em relação ao suprimento de água, determina
se haverá um volume excedente, que poderá escoar sobre a superfície. A infiltração é um processo
importante por influenciar o tempo que a água permanece na bacia: a água, após infiltrar, passa a
compor a umidade do solo e eventualmente pode formar um aqüífero (reservatório de água
subterrâneo) quando preenche os poros de camadas do subsolo. Por outro lado, a parcela que escoa
tende a sair rapidamente pela rede de drenagem, deixando de estar disponível para os processos
biológicos. A manutenção da umidade no solo propicia condições para o desenvolvimento das
plantas, da fauna e dos microorganismos. Já o escoamento superficial provoca erosão laminar no
horizonte superficial do solo reduzindo sua fertilidade e em zonas urbanizadas pode provocar
alagamento de áreas habitadas.
A dinâmica do processo de infiltração depende, entre outros fatores, da quantidade de água
presente e da permeabilidade da superfície, do tamanho e forma dos poros no interior do solo e da
quantidade de água já existente nesses poros. É fundamental conservar a capacidade natural de
infiltração dos solos, mas sabemos que a ação do homem contribui para piorar a condição original.
Nas cidades acontece impermeabilização devido às construções e à pavimentação das vias; no
campo, a exposição do solo sem cobertura vegetal ao impacto das gotas de chuva provoca o
selamento da superfície.
A dimensão dos poros por onde a água irá infiltrar é influenciada pelo tamanho, forma e
natureza mineral das partículas e pelo modo como estas partículas estão arranjadas (estrutura). Entre
os tipos de solos, aqueles com poros maiores, como os de textura arenosa ou os argilosos com
agregados estáveis e matéria orgânica, oferecem melhor condição para a infiltração da água, já que
a resistência à passagem através da superfície tende a ser pequena. Os poros grandes podem ser
decorrentes da existência de partículas grandes compondo o solo (fração areia) ou da estrutura, já
que partículas pequenas (fração silte a argila) podem ser aglutinadas em agregados maiores devido á
presença de substâncias cimentantes. A cobertura vegetal existente sobre a superfície, tanto viva
como morta (palha), ajuda bastante a infiltração da água, tanto por proteger a superfície do impacto
direto das gotas de chuva como também por reduzir a velocidade do escoamento superficial,
aumentando o tempo de oportunidade para que a água infiltre. Terrenos planos permitem uma
infiltração maior que terrenos declivosos também pelo maior tempo de permanência da água em
contato com a superfície. Pela mesma razão, uma ladeira lisa perde mais água por escoamento que

57
uma que apresenta irregularidades devido a variações microtopográficas, causadas por torrões,
pequenas depressões ou outros obstáculos na superfície.
O teor de água inicial de água no solo, a presença de rachaduras e as características da
precipitação (intensidade e duração) também interferem na taxa de infiltração. Alguns dos fatores
citados são fortemente influenciados pelo manejo adotado pelo homem em áreas de uso com
agricultura ou pecuária (forma como o solo é trabalhado, incluindo práticas de revolvimento e
número de animais que pisoteiam o solo por unidade de área).
Em geral, quanto maior for a intensidade da chuva, maior será a taxa de infiltração, até que
seja superada a capacidade que o solo tem de receber a água (Infiltrabilidade). O termo
Infiltrabilidade refere-se ao fluxo de água através da superfície que ocorre naturalmente quando
água sob pressão atmosférica (ou na forma de uma lâmina bem pequena) encontra-se livremente
disponível para penetrar no solo. A infiltrabilidade é, portanto, uma propriedade do solo, que
quando superada por uma chuva intensa, tem como decorrência o escoamento de água sobre a
superfície. A infiltração é condicionada por fatores do solo e do ambiente, que como vimos, podem
aumentar ou diminuir a intensidade do processo. Os fatores relacionados ao solo são usualmente
reunidos em um parâmetro denominado condutividade hídrica do solo, que pode ser quantificado
no campo ou em laboratório. A infiltrabilidade tem sido também usada como um parâmetro
indicador da compactação do solo.
A infiltração acontece espontaneamente, pois a água que entra em contato com a superfície
do solo possui energia potencial maior que a água que já está nos poros do solo. O potencial total da
água no solo tem como componentes principais o componente gravitacional e o mátrico (decorrente
do fenômeno da capilaridade nos poros do solo). A gravidade está sempre presente, mas o potencial
mátrico só atua em solos não saturados. Assim, como veremos nas determinações a campo, quando
um solo está com baixo teor de umidade, a taxa de infiltração pode ser muito grande, mas à medida
que este solo torna-se saturado, apenas o componente gravitacional permanece atuando como força
motriz da infiltração, reduzindo a taxa de entrada de água.
O processo de infiltração é influenciado pelo meio poroso como um todo, mesmo porque
solos agrícolas apresentam horizontes (camadas) com características distintas. Portanto não se deve
esperar o mesmo comportamento durante a infiltração em um solo com propriedades físicas
homogêneas em todo o perfil, quando comparado com a infiltração que acontece em um solo com
perfil estratificado (tamanho dos poros e tortuosidade diferentes em camadas distintas). Convém
lembrar que a movimentação da água no interior do perfil do solo pode limitar a taxa de infiltração
através da superfície.
Apesar de ser um processo cotidiano e de fácil observação, a infiltração é regida por
complexas leis físicas, e sua quantificação pode ser feita por meio de experimentos, leis empíricas e
solução de equações diferenciais que regem o movimento da água no solo (RIGHETTO, 1998).

6.2 Medição da infiltrabilidade


Serão apresentados dois métodos para estimar a infiltrabilidade do solo bastante utilizados
por sua simplicidade. O primeiro - método dos cilindros concêntricos - é apropriado para medir a
infiltrabilidade vertical; o segundo - método do cilindro único - permite também observar o
movimento horizontal da água durante o processo de infiltração.

58
6.2.1 Método dos cilindros concêntricos
Destinado a medir a infiltrabilidade vertical, consiste em observar a taxa de infiltração de
uma pequena lâmina de água represada dentro de dois cilindros metálicos cravados no solo (Figura
6.1). A altura da lâmina deve ser mantida aproximadamente constante pela reposição da água
infiltrada durante o teste. O uso de dois cilindros é necessário para que apenas a água do anel
externo movimente-se tanto na direção vertical como na horizontal, funcionando como bordadura.
Dessa forma garante-se que a água colocada no cilindro interno (onde serão feitas as medições)
infiltrará apenas na direção vertical, como ocorre com a infiltração decorrente de uma precipitação.
A observação deve prosseguir até que a taxa de infiltração com o tempo apresente valores muito
próximos durante leituras sucessivas.

Figura 6.1. Cilindros de aço usados para determinação da infiltrabilidade do solo. Podem ser
construídos artesanalmente ou adquiridos prontos.

Material necessário:
• Dois cilindros de aço com 30 e 60 cm de diâmetro interno e 30 e 20 cm de altura,
respectivamente;
• Régua de 30cm;
• Suporte para a régua - serve como referência para as leituras do nível da água no
cilindro interno e para manter a régua na vertical. (Pode ser feito com tubo de
p.v.c. ou de madeira, deixando-se um orifício para passagem da régua);
• Disco de isopor para ser preso à base da régua e permitir que ela flutue com a
oscilação do nível da água;
• Cronômetro;
• Dois baldes com capacidade de 10 litros aproximadamente;
• Marreta e caibro de madeira para cravar o anel;
• Nível de bolha;
• Pedaço de filme plástico de 60 cm x 60 cm;
• Proveta graduada ou becker de 500 ou 1000 ml;
• Quadro para registro dos dados;
• Tesoura para aparar a vegetação.

59
Seqüência de procedimentos:
Escolher no campo um local aproximadamente plano e com micro-relevo uniforme para
cravar os cilindros. A vegetação deve ser aparada rente com uma tesoura e não arrancada, para não
perturbar a estrutura da camada superficial do solo que não deve sofrer qualquer tipo de
revolvimento ou perturbação.
O cilindro de maior diâmetro deve ser cravado em primeiro lugar, até metade de sua altura.
Deve-se apoiar sobre o mesmo, o caibro de madeira (Figura 6.2). A seguir bate-se com a marreta no
centro do caibro para que o cilindro penetre verticalmente no solo. A posição do caibro deve ser
constantemente trocada (giros de 45°). O nível de bolha deve ser utilizado durante essa operação
para garantir que o cilindro não esteja se inclinando enquanto penetra o solo. A seguir deve ser
cravado o cilindro interno, seguindo o mesmo procedimento.

Figura 6.2. O uso do nível de bolha auxilia para que a cravação do cilindro aconteça na direção
vertical.

Recomenda-se, para fins de comparação com testes feitos em outros locais, retirar uma
amostra de solo com estrutura natural ao lado do local onde foram instalados os cilindros para
determinar a densidade do solo e sua umidade. Para dar início à determinação da infiltrabilidade,
coloca-se o filme plástico, o suporte e a régua no cilindro interno e acrescenta-se água suficiente
para formar uma lâmina com altura em torno de 5 cm, como está ilustrado na Figura 6.3. A seguir
coloca-se água no cilindro externo até que se forme em seu interior uma lâmina equivalente à que
existirá no cilindro interno. Retira-se rapidamente o filme plástico disparando o cronômetro nesse
instante, dando início ao teste. A altura inicial da lâmina de água deve ser lida e registrada.

60
Figura 6.3. Preparação para o início do teste: o volume de água deve ser calculado para que se
tenha a lâmina de água desejada.

Em tempos previamente estabelecidos, registrados num quadro de anotações, deverá ser


feita a leitura da altura da lâmina de água no cilindro interno, na marca de referência existente no
suporte da régua. Deve-se evitar que haja impedimento à livre flutuação da régua, para o correto
registro da variação da altura da lâmina de água no interior do cilindro interno. A montagem final
do ensaio pode ser observada na Figura 6.4.

Figura 6.4. Ilustração dos cilindros instalados para a realização da medição da taxa de infiltração.

Recomenda-se que durante os primeiros 5 a 10 minutos, as leituras sejam feitas a intervalos


curtos (30s a 1min em solos arenosos, dois a cinco minutos nos argilosos). A partir daí, se for
observada uma redução na taxa de infiltração, as leituras podem passar a ser mais espaçadas. O
intervalo de tempo entre leituras deve ser definido de forma que a variação da lâmina d’água entre
duas leituras consecutivas não ultrapasse 3,0cm.
O desenrolar do teste consiste nas leituras do nível da água no cilindro interno, por meio da
régua. Deve-se observar a redução do nível da água no anel interno: caso esteja próxima de 3,0cm,
deve-se completar o nível da água, preferencialmente no momento da leitura, até atingir o valor
registrado na régua no início do teste. As adições de água devem ser registradas no quadro de
anotações. O nível da água no cilindro externo deve acompanhar o nível do cilindro interno durante
todo o teste, mas os registros da altura de água são feitos só no cilindro interno.
61
Em solos com umidade inferior à da saturação, a variação da altura da lâmina de água
usualmente torna-se menor à medida que o processo de infiltração da água no solo prossegue. Ou
seja, a infiltrabilidade é decrescente com o tempo.

Quando encerrar:
O teste deverá prosseguir até que taxa de infiltração, calculada através dos dados da Tabela
6.1, mostrar valores semelhantes durante duas ou três leituras consecutivas. Com base na
experiência, pode-se dizer que em solos de perfil uniforme e suficientemente profundo, a duração
do teste é de uma a duas horas em solos arenosos e de 3 a 4 horas em solos argilosos.

Tabela 6.1. Exemplo de dados obtidos durante a determinação da curva de infiltração pelo
método dos cilindros concêntricos.
TEMPO MEDIDAS INFILTRAÇÃO TAXA DE
Acumulado Acumulado Leitura Diferença ACUMULADA INFILTRAÇÃO
(min) (h) (cm) (cm) (cm) (cm/h)
(A) (B) (C) (D) (E) (F)
0 - 10,0 - 0 -
5 0,0833 10,9 0,9 0,9 10,8
10 0,1667 11,6 0,7 1,6 8,4
20 0,3333 12,4 0,8 2,4 4,8
40 0,6667 13,5 1,1 3,5 3,3
15,1
80 1,3333 1,6 5,1 2,4
(12,0)
120 2,0000 10,5 1,5 6,6 2,25
160 2,6667 9,2 1,3 7,9 1,95
200 3,3333 8,0 1,2 9,1 1,80
240 4,0000 6,8 1,2 10,3 1,80

Análise dos dados obtidos no campo:


A representação dos dados obtidos no plano cartesiano permite analisar a variação da taxa
de infiltração com o tempo e fazer comparação entre solos de características diferentes. Os valores
das colunas B e F (Tabela 6.1) deram origem aos pontos representados no gráfico da Figura 6.5. Os
dados obtidos na determinação feita a campo também podem ser ajustados a um modelo
matemático que expresse a variação da infiltrabilidade com o tempo. Uma opção bastante aceita por
sua simplicidade é a Equação de Horton. É uma equação empírica, na qual se assume que a
infiltração inicia com uma taxa f0 e decresce exponencialmente com o tempo t. Depois de um tempo
variável, quando a umidade do solo atinge um grau elevado (próximo da saturação), a taxa de
infiltração converge para um valor constante fc.

f t = f c + ( f 0 − f c ).e − k .t (6.1)
ft: taxa de infiltração no tempo t;
t: tempo transcorrido desde o início do processo de infiltração;
f0: taxa de infiltração inicial (tempo t = 0);
fc: taxa de infiltração alcançada quando a umidade do solo está próxima da saturação;
k: taxa de decaimento constante da taxa de infiltração, específica para cada solo.

62
A taxa de decaimento k pode ser estimada por:
k = ( f 0 − f c ) / Fc (6.2)
Onde Fc é a área sob o gráfico da curva da taxa de infiltração. Para obter Fc é necessário
ajustar uma curva aos pontos da Figura 6.5 á mão e estimar a área sob a projeção da curva no eixo
x, porém esta opção não é muito prática. Uma maneira mais rápida de ajustar equação de Horton
aos pontos obtidos é pelo uso de programas de computador que utilizam o método dos quadrados
mínimos. No exemplo visto a seguir foi utilizado o programa Graph 4.3, que pode ser obtido
gratuitamente no site http://www.padowan.dk/graph/. É possível escolher a equação à qual se
deseja ajustar os dados, por meio das opções “inserir ajuste de curva” e depois “definida pelo
usuário”. Escolheu-se um ajuste para duas variáveis, f0 e k, já que fc pode ser determinado no campo
com bastante precisão (taxa de infiltração que determina o encerramento do teste).
A equação de Horton foi inserida no programa na forma 1.8+($a-1.8)*EXP(-$b*x), já que o
programa usa ponto e não vírgula para separar os valores decimais.
O valor fc = 1,8 foi aquele obtido para os dois últimos dados taxa de infiltração da Tabela
6.1;
$a representa a variável f0;
$b representa a variável k;
X representa o tempo t.

O resultado obtido foi a equação f(x)=1,8+(14,072426 – 1,8)*exp(-3,7970982*x); com


R²=0,9885, onde:
f0 = 14,072426
k = 3,7970982

Podemos reescrevê-la como:


ft = 1,8 + 12,2724.e-3,7971.t

Esta equação, ajustada aos pontos da coluna F da Tabela 6.1, nos dá a curva apresentada na
Figura 6.5.

63
Taxa de Infiltração (cm/h)
14

13

12

11

10

1
Tempo (h)
0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
-1

Figura 6.5. Curva da taxa de infiltração em função do tempo, obtida a partir do ajuste da equação
de Horton aos dados da determinação a campo (Tabela 6.1).
A partir da integração da equação anterior em relação ao tempo, é possível estimar o volume
total de água infiltrado (Ft) desde o início do processo até o tempo t:
( f − fc )
Ft = f c .t + 0 .(1 − e −k .t ) (6.3)
k
Substituindo os valores ajustados, obtemos:
Ft = 1,8.t + 3,232.(1 − e −3,7971.t ) (6.4)

A Equação 6.4 que está ajustada aos pontos da coluna E da Tabela 6.1, apresentada na
Figura 6.6.

64
Infiltração acumulada (cm)
14

13

12

11

10

1
Tempo (h)
0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
-1

Figura 6.6. Curva da lâmina de infiltração acumulada em função do tempo, obtido a partir do ajuste
da equação de Horton integrada em relação ao tempo aos dados da coluna E da Tabela 6.1.

Exemplo de aplicação:
Por quanto tempo a água deverá ficar retida ou escoando sobre um ponto determinado para
que seja adicionada uma lâmina de água de 40 mm ao solo?
Ft = 1,8.t + 3,232.(1 − e −3,7971.t )

No programa Graph 4.3, escolhe-se a opção “cálculo“ e a seguir seleciona-se a função


desejada. Basta inserir valores de tempo pra que o programa forneça os valores de infiltração
acumulada, em centímetros. Para o exemplo em questão, o tempo encontrado foi de 0,6 horas ou 36
minutos.

6.2.2 Método do cilindro único


O texto apresentado a seguir foi adaptado da tradução feita por Pedro Luiz de Freitas
(pfreitas@cnps.embrapa.br, Eng. Agr., Ph.D. em Ciência do Solo, Pesquisador da Embrapa Solos,
Goiânia, GO) do artigo de Roose et al. (1993), citado no final deste capítulo.
Caracterizado pela simplicidade e baixo custo, este método permite classificar os horizontes
pedológicos do solo segundo sua porosidade capacidade de infiltração e armazenamento de água,
bem como visualizar a forma de molhamento do solo.

65
Figura 6.7. Material para realização do teste de infiltração pelo método do cilindro único.

Considerações:
O método do anel único, proposto por Roose et al. (1993), exige pouco material, pouca água
e pouco tempo de observação, permitindo uma série de repetições com maior confiabilidade. O
método é bastante sensível à condição estrutural do solo (rugosidade, atividade biológica, cobertura
vegetal, umidade, fissuração, porosidade e agregação). Se o solo estiver seco, permite examinar a
permeabilidade relativa dos horizontes subsuperficiais, a forma da frente de molhamento e os riscos
de drenagem lateral.

Material necessário:
• Cilindro de 10cm de diâmetro e 15cm de altura - tubo de PVC, acrílico ou metal -
com borda cortante (bisel) na parte inferior;
• Régua de no mínimo 15cm;
• Papel de filtro de vazão rápida ou plástico suficiente para evitar a abertura de buraco
no solo durante o enchimento do cilindro com água;
• Cronômetro;
• Duas vasilhas de 500 cm3;
• Ferramentas para escavação;
• Papel e caneta para anotações.
Procedimento:
Escolher área representativa da superfície do solo, se possível em um período seco, após, no
mínimo, cinco dias sem chuva ou irrigação;
Enterrar o cilindro de 2 a 3cm, perturbando o mínimo possível a superfície do solo. Resíduos
e raízes superficiais devem ser cortados com uma tesoura. A introdução do cilindro pode ser
facilitada umedecendo suas paredes para diminuir o atrito com o solo;
Vedar a parte externa do cilindro, em contato com o solo, com ajuda de terra fina,
umedecida e compactada, a fim de evitar vazamento da água que estará no interior do cilindro;

66
Ajustar o papel de filtro no fundo do cilindro para evitar que a água, ao ser colocada,
perturbe a superfície do solo. Também pode ser utilizado um plástico, que será retirado no inicio do
teste;
Afixar a régua à parede do cilindro, acima do papel de filtro ou, no caso de uso de plástico,
entre o plástico e a parece interna do cilindro;
Colocar a água com cuidado, evitando ao máximo erodir a superfície do solo ou destruir a
cobertura vegetal, até chegar a uma altura mínima de 5cm (pode ser um pouco mais para dar tempo
até a leitura inicial);
Se estiver sendo utilizando filme plástico, retirá-lo lentamente. Disparar o cronômetro e
fazer a leitura inicial (T0) quando a altura da água estiver a 5 do fundo do cilindro;
Anotar o tempo de passagem do nível da água a cada 0,5cm, até que toda a água tenha
infiltrado (realizar também leitura de tempo com nível de 0cm);
Repetir o teste logo em seguida caso esteja utilizando papel de filtro, ou colocar o plástico e
a água no cilindro e recomeçar;
Após realizar 5 repetições, retirar o cilindro;
Coletar rapidamente uma amostra de solo para determinação da umidade gravimétrica
máxima. Caso seja necessário determinar também a densidade do solo, usar cilindro de volume
conhecido para coletar amostra com estrutura natural (Figura 6.8);

Figura 6.8. Coleta de amostra com estrutura natural (não deformada) dos primeiros 5cm de solo.

Em área próxima, coletar outra amostra para determinação da umidade inicial do solo;
Abrir uma trincheira a partir da posição do cilindro, para exame da mancha formada pela
água infiltrada no solo. Cavar com uma pá de corte e completar com uma faca até que toda a
mancha esteja aparente (Figura 6.9);

67
Figura 6.9. Trincheira escavada para mostrar a mancha formada pela infiltração da água (frente de
molhamento) após aplicação de duas lâminas de água de 5cm.

Observar e desenhar a forma da mancha deixada pela água, anotando a profundidade (H) e a
largura (Largura/2 = raio R). A largura deve ser determinada a cada 5cm de profundidade para
cálculo do diâmetro médio da frente de molhamento;
Cobrir o solo acima da frente de molhamento com um plástico para impedir perdas por
evaporação ou acréscimo de água pela precipitação;
Retirar nova amostra após 24 horas do teste para determinar a umidade de capacidade de
campo;
A sensibilidade do teste é tal que bastam cinco repetições. Determinações em uma trincheira
em escada permitem a compreensão do comportamento hídrico de cada horizonte pedológico
descrito.

Interpretação dos resultados:


A Figura 6.10 mostra os comportamentos esperados da frente de molhamento em função das
características do solo. Em solos arenosos e muito permeáveis, a frente de molhamento terá a forma
cilíndrica. Em solos argilosos, a forma será de balão, com maior expansão lateral à medida que for
mais intenso o efeito da capilaridade nos horizontes superficiais.
No caso de solos com impedimento mecânico à infiltração de água, a frente de molhamento
terá uma forte expansão lateral, mostrando claramente a profundidade do inicio da compactação.

68
Figura 6.10. Formas da frente de umedecimento em função das características hidrodinâmicas dos
horizontes do solo: (a) Solo de características arenosas, permeável; (b) Solo argiloso com
porosidade fina; (c) Solo pouco permeável, compactado; (d) Horizonte permeável sobre um
horizonte sub-superficial pouco poroso com tendência à drenagem oblíqua.

Velocidade média de infiltração (VIm)


O tempo de infiltração de uma lâmina de 50mm varia de 1 a 60 minutos em função da
condição estrutural do solo e da estabilidade dessa estrutura, da umidade inicial e da existência de
fissuras. Em solos com estrutura instável, a capacidade de infiltração diminui fortemente após um
primeiro teste com solo seco. A velocidade média de infiltração é determinada tendo como base a
soma do tempo para a infiltração de duas lâminas de 50mm (total de 100mm). Por meio de uma
regra de três, calcula-se a infiltração em mm/h.
Observando graficamente a dinâmica de infiltração nas Figuras 6.11 e 6.12 (tempo no eixo
horizontal e a altura da lâmina d’água nas ordenadas), temos duas formas básicas:
Em solos arenosos ou argilosos bem estruturados e com agregados estáveis, temos duas retas
de pendente variável, dependendo da umidade inicial do solo;
Em solos argilosos dispersos ou com agregados instáveis, temos uma reta que tende a ser
tangente ao eixo dos tempos.
No exemplo apresentado ao final deste item, a infiltração foi medida em um solo sob plantio
direto, em que o comportamento da infiltração assemelha-se ao que foi descrito no item a (Figura
6.12) e num solo sob preparo convencional do solo, que se comportou como descrito no item b
(Figura 6.11).

Velocidade de infiltração final (VIf)


Para determinar a velocidade de infiltração final recomenda-se que a frente de
umedecimento tenha ultrapassado a profundidade de 12 a 30cm e a lâmina d’água seja inferior a

69
15mm. Em nosso exemplo, o cálculo foi feito para a infiltração de duas lâminas de 50mm. Foi
utilizado o último valor observado sob a segunda lâmina, para os dois solos.
Constatando-se a existência de movimentação lateral da água, indicada pela forma da frente
de molhamento, a velocidade de infiltração final deverá ser dividida por um coeficiente de correção,
que varia de 2 a 8. Esta correção é necessária porque teoricamente, deveríamos ter uma frente de
molhamento com o mesmo diâmetro do cilindro, visto que estamos pesquisando como aconteceria a
infiltração de uma lâmina d’água que incidisse sobre todo o terreno (ou seja, um número infinito de
cilindros colocados lado a lado). Como a medida é feita com um só cilindro, temos que
desconsiderar a movimentação lateral, que faz com que o raio médio da frente de molhamento (R)
exceda o raio do cilindro (r). A correção é feita em função do quociente entre o volume da frente de
molhamento e o do cilindro, da seguinte forma:
Vol .FrenteMolh amento π .H .R 2 R 2 R 2
= = = (6.5)
Vol .Cilindro π .H .r 2 r 2 25

O fator de correção varia de 2 a 6 em solos arenosos ou estáveis e, de 4 a 8 em solos


argilosos, compactados ou instáveis.

Exemplo de aplicação:

Tabela 6.2. Dados medidos de infiltração para resolução do exemplo.


Sistema Sistema
Sistema Plantio Sistema
Sistema Convencional Sistema Convencional
Direto Plantio Direto
de (Grade Pesada) de (Grade Pesada)
Manejo H Tempo H Tempo Manejo H Tempo H Tempo
(cm) (min) (cm) (min) (cm) (min) (cm) (min)
5,0 0,00 5,0 0,00 5,0 0,00 5,0 0,0
4,5 0,33 4,5 0,08 4,5 0,60 4,5 0,20
4,0 0,82 4,0 0,18 4,0 1,25 4,0 0,43
3,5 1,52 3,5 0,32 3,5 1,98 3,5 0,65
3,0 1,98 3,0 0,45 3,0 2,72 3,0 0,92
Lâmina 1 2,5 2,72 2,5 0,60 Lâmina 2 2,5 3,48 2,5 1,25
2,0 3,53 2,0 0,80 2,0 4,37 2,0 1,52
1,5 4,40 1,5 1,02 1,5 5,33 1,5 1,80
1,0 5,42 1,0 1,22 1,0 6,25 1,0 2,10
0,5 6,32 0,5 1,43 0,5 7,38 0,5 2,33
0,0 7,29 0,0 1,65 0,0 8,18 0,0 2,62

70
Tabela 6.3. Dados para resolução do exemplo.
PREPARO CO
VE
CIO
AL PLA
TIO DIRETO
Lâmina total 100 mm 100 mm
Tempo total para duas lâminas 15,47 min 4,27 min
Infiltração média 387,8 mm/h 1405,1 mm/h
Infiltração final 375 mm/h 1034,5 mm/h
Raio médio da frente de molhamento 8,25 cm 10,5 cm
Fator de correção 2,72 4,40
Infiltração final corrigida 137,9 mm/h 235,1 mm/h

Figura 6.11. Curvas da infiltração no solo sob Figura 6.12. Curvas da infiltração no solo sob
sistema convencional de preparo. sistema de plantio direto.

Referências bibliográficas
BERNARDO, S. Manual de irrigação. Viçosa, Editora da UFV, 1989.
CAUDURO, F.A. e DORFMAN, R. Manual de ensaios de laboratório e de campo para
Irrigação e Drenagem. Porto Alegre, PRONI: IPH-UFRGS, s.d.
GLIESSMANN, S.R. Agroecologia – Processos ecológicos em agricultura sustentável. Porto
Alegre, Editora da UFRGS, 2000.
REICHARDT, K. A água em sistemas agrícolas. São Paulo, Manole, 1987.
RIGHETTO, A.M. Hidrologia e recursos hídricos/ Antônio Marozzi Righetto. São Carlos:
EESC/USP, 1998. 840p:il.
ROOSE, E.; BLANCANEAUX, Ph.; FREITAS, P.L.de. Un simple test de terrain pour évaluer la
capacité d'infiltration et le comportement hydrodynamique des horizons pédologiques
superficiels: méthode et exemples. Cahiers Orstom, Série Pédologie (Spécial érosion:
réhabilitation des sols), Paris, vol. XXVIII, n. 2, p 413-419, 1993.

71
7. PERCOLAÇÃO

Masato Kobiyama
Aline de Almeida Mota

7.1 Algumas propriedades físicas do solo


Quando a água da chuva infiltra pela superfície da terra ocorre outro processo hidrológico
no meio poroso (solo) que é chamado de percolação. O solo é um sistema poroso trifásico,
integrado pelas fases sólida, líquida e gasosa. A fase sólida consiste em areia, silte e argila (aprox.
97%) + partícula orgânica (aprox. 3%). A fase líquida é a solução do solo na qual se encontram
vários íons (K+, Na+, NH4+, SO42-, etc.). A fase gasosa é o ar do solo, tendo CO2, O2, N2, NH3, etc.
As fases líquida e gasosa caracterizam a umidade do solo e a porosidade de aeração,
respectivamente. Elas são complementares, por isso quando uma aumenta, a outra diminui, e vice-
versa. A soma delas é a porosidade total do solo.
Para descrever a condição dessas três fases, usa-se convencionalmente uma figura virtual
(Figura 7.1), com a qual pode-se determinar vários parâmetros.

Figura 7.1. As três fases do solo.

7.1.1 Densidade
Há dois tipos de parâmetros que explicam a densidade dos solos. Um é a densidade das
partículas que pode ser chamada densidade real ou massa específica das partículas, sendo expressa
como:
m
ρp = s (7.1)
Vs

72
onde ρ p é a densidade das partículas em g/cm3 ou kg/m3; ms é a massa de sólidos; e Vs é o
volume dos sólidos. A densidade de quartzo é 2,65 g/cm3 (= 2.650 kg/m3), e este mineral é
componente freqüente no solo. Portanto, o valor típico para solo comum é também de 2,65 g/cm3.
O outro parâmetro é a densidade do solo, e também é chamado como densidade global,
densidade aparente ou massa específica do solo seco. Ela é:
m + mar ms
ρ ss = s ≈ (Q mar ≈ 0) (7.2)
Vt Vt
onde ρ ss é a densidade do solo em g/cm3 ou kg/m3; mar é a massa do ar; e Vt é o volume
total do solo. Os valores típicos para solo arenoso, argiloso e orgânico podem ser 1,3 a 1,8 g/cm3,
1,1 a 1,4 g/cm3, e 0,2 a 0,6 g/cm3, respectivamente.

7.1.2 Umidade do solo


Também há dois parâmetros para expressar a umidade do solo. Um é a umidade
gravimétrica, sendo expressa como:
m − ms mag
U= u = (7.3)
ms ms
onde U é a umidade gravimétrica em g/g, kg/kg; mag é a massa da água; e mu é a massa
úmida (= ms + mag); e ms é a massa seca (= massa sólida). Se for expressa em %, necessita-se
multiplicar por 100.
O outro é a umidade volumétrica,
V
θ = ag (7.4)
Vt
onde θ é a umidade volumétrica em cm3/cm3 ou m3/m3; e Vag é o volume da água. Dividindo
a eq. (7.4) pela (7.3) para relacionar esses dois parâmetros de umidade, obtém-se:
θ Vag Vt m V ρ ρ
= = s t = ss , ∴θ = U ⋅ ss (7.5)
U mag ms mag Vag ρag ρag
onde ρ ag é a densidade da água. Assim, nota-se que esses parâmetros são bem diferentes.
Portanto, é importante sempre especificar de qual umidade do solo se trata, através dos termos
“volumétrica” ou “gravimétrica”.

7.1.3 Porosidade
A porosidade total é expressa como:
V + Var Vt − Vs V m V ρ
α t = ag = = 1 − s = 1 − s t = 1 − ss (7.6)
Vt Vt Vt ms Vs ρp
onde αt é a porosidade total em cm3/cm3 ou m3/m3; e Var é o volume do ar. Seus valores
típicos para solo arenoso, siltoso, argiloso, e orgânico são de 0,55 m3/m3, 0,6 m3/m3, 0,65 m3/m3, e
0,8 m3/m3, respectivamente. Assim, pode-se dizer que, em geral, o solo com a textura mais fina
possui o maior valor da porosidade total. Entendendo o fato de que as fases líquida e gasosa são
complementares, facilmente obtém-se a fórmula de porosidade de aeração, isto é:
α ar = α t − θ (7.7)

73
onde αar é a porosidade de aeração em cm3/cm3 ou m3/m3. Quando θ = α t , o solo está
saturado. E quando θ < α t , o solo está na condição não saturada. Normalmente a condição na qual
αar > 15% é desejável para obtenção do crescimento ideal das plantas em geral.
O sistema de poros do solo é complexo. Em geral, os poros podem ser classificados em dois
tipos: os macro e os microporos (BRADY, 1984). Segundo HILLEL (1980a), os macroporos são,
na sua maioria, cavidades de interagregados que atuam como os principais caminhos para
infiltração e drenagem da água, bem como para a aeração. Os microporos, por sua vez, são as
capilaridades dos interagregrados pela retenção de água e de solutos. A diferenciação prática entre
estes, porém, é algo muito difícil, sendo esta separação normalmente arbitrária.
KIEHL (1979) também classificou os macroporos como os maiores poros, geralmente
preenchidos pelo ar do solo. De maneira semelhante, os microporos são definidos como os menores
poros, capilares, principais responsáveis pelo armazenamento da água.
Há uma tendência, entre os pesquisadores, de primeiro definirem a macroporosidade. Isto
gerou, como conseqüência, uma tendência a determinar a microporosidade pela diferença entre a
porosidade total e a macroporosidade. REICHARDT (1987) definiu a macroporosidade como uma
porosidade livre de água, sendo assim constituída pelos poros maiores com diâmetro maior que 0,05
mm, o que corresponde a uma sucção de 60 cm de água.
A macroporosidade foi definida por NELSON e BAVER (1940) como a porosidade não-
capilar. Tais autores também indicaram como limite de separação entre esta e a microporosidade, o
diâmetro de 0,1 mm. Este diâmetro mínimo da macroporosidade foi definido por MARSHALL
(1959) como 0,03 mm. BOUMA et al. (1977) definiram o mesmo como 0,1 mm e GERMANN e
BEVEN (1981) como 3 mm. Este diâmetro pode, às vezes, possuir um valor maior, como quando
delimitado pelo diâmetro de galerias de minhocas (EHLERS, 1975), dos canais formados pelas
raízes (AUBERTIN, 1971), e rachaduras de contração do solo (LEWIS, 1977).
EDWARDS et al. (1979) usaram valores de 5 e 10 mm para os diâmetros de poro em um
estudo de modelagem numérica para avaliar os efeitos dos poros não-capilares sobre a infiltração.
Esta desuniformidade no uso dos termos macro e microporosidade pode conduzir à
ambigüidade, particularmente com o interesse renovado pelos fenômenos de canalização da água no
solo (THOMAS e PHILLIPS, 1979).
Ao introduzir o conceito de mesoporosidade, LUXMORE (1981) propôs uma classificação
dos poros do solo. Nesta classificação, os macroporos são definidos como os poros maiores que 1
mm, e geram o fluxo do canal quando ocorrem o alagamento superficial e o lençol freático pousado.
Os mesoporos são os poros com diâmetro compreendido entre 0,01 e 1 mm, responsáveis pela
drenagem sujeita a força gravitacional. Os poros com diâmetro inferior a 0,01 mm passam a ser
definidos como microporos, que influenciam a evapotranspiração.
RUSSELL (1973) sugeriu outra classificação, separando os poros em: poros grosseiros (>0,2
mm), poros médios (0,02 - 0,2 mm), poros finos (0,002 - 0,02 mm) e poros muito finos (<0,002
mm). Na classificação proposta por EHLERS (1973) a divisão foi feita em: poros grandes (>0,03
mm), poros médios (0,003 - 0,03 mm), poros pequenos (0,0002 - 0,003 mm) e poros muito
pequenos (<0,0002 mm). A proposta de BREWER (1964), separa os poros como macroporo
grosseiro (>5 mm), macroporo médio ( 2 -5 mm), macroporo fino ( 1 -2 mm), macroporo muito fino
(0,075 -1 mm), mesoporo (0,03 - 0,075 mm), microporo (0,005 - 0,03 mm), ultramicroporo (0,0001
- 0,005 mm) e criptoporo (<0,0001 mm).

74
Criticando todos estes tipos de classificações, que dividem os poros arbitrariamente, e
enfatizando a necessidade de considerar-se os processos que ocorrem continuadamente no solo,
SKOPP (1981) afirmou ser a simples definição do tamanho um indicador inadequado para uma
classificação. Propõe este autor uma classificação qualitativa, usando dois tipos: macroporosidade e
porosidade matriz. A macroporosidade sendo definida como a porosidade formada pelos poros que
fornecem o fluxo preferencial, e a porosidade matriz sendo definida como a porosidade que
transmite água e solutos com menor velocidade.
Uma divisão proposta por OKA (1986), em uma simulação numérica, também separa os
poros em macroporos e poros matrizes, usando o valor de 1 mm como limite para sua separação.
Uma revisão sobre a importância dos macroporos sobre o fluxo da água no solo foi feita por
BEVEN e GERMANN (1982). Estes autores detectaram implicações sobre o movimento rápido dos
solutos e poluentes através do solo.
Considerando o papel hidrológico da porosidade, TAKESHITA (1985) classificou os poros
como (Tabela 7.1):

Tabela 7.1. Classificação dos poros no solo. (Adaptado de TAKESHITA, 1985)


Categoria Subcategoria pF Diâmetro (mm)
Muito-grande 0 < pF em sucção > 3,0
Macroporo
Grande 0(zero) < pF < 0,7 0,6 < d < 3,0
Médio 0,7 < pF < 1,7 0,06 < d < 0,6
Poro-grosseiro
Pequeno 1,7 < pF < 2,7 0,006 < d < 0,06
Poro-fino - 2,7 < pF < 4,2 0,0006 < d < 0,006

Nesta classificação, o poro-muito-grande é considerado como canal do solo. No poro-


grande, ocorre o movimento gravitacional da água, quase sem força capilar. Nos poros-médio e
pequeno, o movimento gravitacional da água está sujeito à força gravitacional de baixo e alto grau,
respectivamente. A água no poro-fino não pode se mover pela ação da força gravitacional.
Na mesma classificação, o macroporo atua na drenagem rápida durante chuvas de alta
intensidade, contribuindo com o escoamento direto da água. O poro-médio é utilizado para
infiltração e percolação vertical durante a chuva e alguns dias depois desta, contribuindo com o
final do escoamento direto e com o início do escoamento base depois da chuva. O poro-pequeno é
eficaz no armazenamento da água no solo. A água deste poro é a fonte para a evapotranspiração na
rizosfera e atua na descarga muito lenta na camada abaixo da rizosfera. A água no poro-fino se
movimenta somente sob influência da evapotranspiração. O mesmo autor concluiu que a capacidade
de armazenamento da água, que está diretamente associada com a recarga dos rios, depende
somente dos poros-grosseiros, enfatizando que sua capacidade é controlada pela espessura das
camadas do solo.
Assim, pode-se dizer que os solos possuem poros de vários tamanhos, de forma distribuída.
CHILDS (1940) sugeriu o nome "curva característica de retenção de água" para a curva obtida pela
relação entre umidade do solo e sucção. O volume de água retirado de determinado volume de solo,
para uma sucção específica, representa o volume do poro, de tamanho indicado por esta sucção
(VOMOCIL, 1965).
A forma de diferencial desta curva mostra diretamente a distribuição do tamanho do poro.
Nesta forma diferencial, normalmente existe um pico que mostra seu valor máximo. A sucção que
corresponde a este valor máximo conduz ao diâmetro equivalente do poro. COLLIS-GEORGE et
75
al.(1971) definiram este diâmetro como tamanho médio do poro, que é o mais eficaz indicador da
capacidade de armazenar água de um solo.
Tal relação entre o tamanho do poro e a capacidade de armazenamento de água, torna-se
importante por esta representar a quantidade de água disponível para as plantas, fator que vem
sendo discutido há muito tempo.VEIHMEYER e HENDRICKSON (1927 e 1949) definiram
capacidade de campo (θc) como a quantidade de água retida pelo solo após a drenagem de seu
excesso, quando a velocidade do movimento descendente praticamente cessa, o que usualmente
ocorre dois a três dias após a chuva ou irrigação em solos permeáveis de estrutura e textura
uniformes. Estes autores também definiram ponto de murcha permanente como o limite inferior de
umidade (θr), no qual a reserva de água disponível do solo se esgotou, introduzindo o conceito de
água disponível para a planta, como o valor de (θc - θr). Na área da hidrologia da água subterrânea,
a porosidade, onde a água pode se movimentar, é definida como a porosidade efetiva (TODD, 1964;
KAYANE, 1980). Neste sentido, a porosidade efetiva pode ser equivalente ao valor de (θs - θr).
O valor da sucção que fornece θc, pode estar na faixa de pF1,7 a pF2,5 (RUSSEL, 1973). O
valor da sucção correspondente ao ponto de murcha permanente é normalmente pF4,2
(aproximadamente 15 bar) (HILLEL, 1980b).
Assumindo θs como umidade saturada, a água contida no solo entre θs e θc é definida como
água gravitacional por REICHARDT (1987). A porosidade representada como θs - θc é definida
como porosidade drenável por HILLEL (1980b). Esta porosidade usualmente é ocupada por ar,
fornecendo uma condição de aeração para as plantas. Segundo BAVER e FARNSWORTH (1940) e
VOMOCIL e FLOCKER (1961), a aeração do solo tem um efeito prejudicial sobre o crescimento
das plantas quando a porosidade ocupada por ar é menor do que 10 %. O milho exige valores
mínimos de 12 a 15 %, e valores menores abaixo deste limite, persistindo por 3 a 5 dias, afetam
drasticamente seu metabolismo (REICHARDT, 1987).

7.1.4 Armazenamento de água no solo, z [mm, cm, m, ........]


Vag
Como Vag = A ⋅ z na Figura 7.1, obtém-se z = (7.8)
A
onde z é a lâmina da água no solo.
V A⋅ z
Então, θ = ag = ∴z =θ ⋅Z (7.9)
Vt A⋅ Z

[Exercício 1]
Você escavou o solo até 30 cm de profundidade utilizando um trado de 10 cm de diâmetro.
A massa úmida do solo removido apresenta 3,5 kg das quais 0,7 kg é de água. Se ρ p = 2.650 kg/m3
e ρ ag = 1.000 kg/m3, determine (a) ρss, (b) U, (c) θ, (d) αt, (e ) z até Z = 30 cm, e (f) αar.

a) Volume da coluna do solo (Vt) = (altura) x (área) = 0,3·3,14·(0,1/2)2 = 2,355·10-3. [m3]


Massa seca: ms = 3,5 – 0,7 = 2,8 kg.
m 2,8
Usando a Equação (7.2), ρ ss = s = ≈ 1189 kg/m3.
Vt 2,355 ⋅ 10 -3

76
mu − ms 3,5 − 2,8
b) Usando a Equação (7.3), U = = = 0,25 [kg/kg ] = 25%
ms 2,8
ρ ss
≈ 0,297 [m 3/m 3 ] = 29,7%
1189
c) Usando a Equação (7.4), θ = U ⋅ = 0,25 ⋅
ρ ag 1000
ρ ss
≈ 0,551 [m 3 /m 3 ] = 55,1%
1189
d) Usando a Equação (7.5), α t = 1 − =1−
ρp 2650
e) Usando a Equação (7.8), z = θ ⋅ Z = 0,297 ⋅ 30 = 8,91 [cm ]
[ ]
f) Usando a Equação (7.6), α ar = α t − θ = 0,551 − 0,297 = 0,254 m 3 /m 3 = 25,4% . Como
α ar = 25,4% > 15% (= valor mínimo para planta), pode-se dizer que o solo se encontra bem aerado.

[Exercício 2]
Os dados da tabela a seguir foram obtidos num perfil de solo utilizando-se cilindros de 50
mm de diâmetro e 40 cm altura. Se ρ p = 2.650 kg/m3 e ρ ag = 1.000 kg/m3, determine (a) ρss, U, e
θ, por camada; (b) o armazenamento de água até 1200 mm de profundidade; e (c) o volume de água
existente em 1,0 ha desse solo até a mesma profundidade.

^z Massa úmida + Massa Massa seca + Massa Massa do


[mm] cilindro [kg] cilindro [kg] cilindro [kg]
0-200 0,13100 0,11621 0,0227
200-400 0,12651 0,11118 0,0210
400-600 0,12738 0,11027 0,0199
600-800 0,13357 0,11418 0,0229
800-1000 0,13471 0,11352 0,0223
1000-1200 0,13820 0,11430 0,0219

a) Volume do cilindro (Vt) = (altura)x(área) = 0,04·3,14·(0,05/2)2 = 7,85·10-5. [m3]


Na primeira camada (0 – 200 mm de profundidade)
Massa seca: ms = 0,11621 – 0,0227 = 0,09351 [kg]
Massa úmida: mu = 0,13100 – 0,0227 = 0,1083 [kg]
Massa da água: mag = mu –ms = 0,1083 – 0,09351 = 0,01479 [kg]
m 0,09351
Usando a Equação 7.2, ρ ss = s = ≈ 1191 kg/m3.
Vt 7,85 ⋅ 10-5
mag 0,01479
Usando a Equação (7.3), U = = ≈ 0,1582 [kg/kg ]
ms 0,09351
ρ ss
≈ 0,1884 [m3 /m3 ]
1191
Usando a Equação (7.4), θ = U ⋅ = 0,1582 ⋅
ρag 1000

77
Realizando o mesmo processo para as outras camadas, obtém-se a seguinte tabela.
^z ρss U θ
[mm] [kg/m3] [kg/kg] [m3/m3]
0-200 1191 0,1582 0,1884
200-400 1148 0,1700 0,1952
400-600 1151 0,1893 0,2179
600-800 1162 0,2124 0,2468
800-1000 1161 0,2323 0,2697
1000-1200 1176 0,2587 0,3042
média 1165 0,2035 0,2370

b) Usando a Equação 7.8, obtém-se o armazenamento da água na camada 0 – 200 mm.


z0 − 200 = θ ⋅ Z = 0,1884 ⋅ 200
Então, o armazenamento até 1200 mm é
z = 0,1884 ⋅ 200 + 0,1952 ⋅ 200 + 0,2179 ⋅ 200 + 0,2468 ⋅ 200 + 0,2697 ⋅ 200 + 0,3042 ⋅ 200 ≈ 284 mm
ou
z = 0,2370 ⋅1200 ≈ 284 mm

c) Volume total da água na área de 1,0 ha é:


V = (área)·(armazenamento) = 1 ha · 284 mm = 100·100·0,284 = 2840 m3

7.2 Estado de energia relativa da água no solo


A lei de conservação de energia na hidráulica pode ser expressa com a equação de Bernoulli.
Isto é:
(Energia cinética)+ (Energia potencial)+ (Energia de pressão) = (Energia total)
ρV ⋅ v 2
+ ρV ⋅ g ⋅ z + p ⋅ V = const [J]
2
ρ ⋅ v2
+ ρ ⋅ g ⋅ z + p = const [J/m 3 ] = [Pa]
2
v2 p
+ g ⋅ z + = const [J/kg]
2 ρ
v2 p
+z+ = const [J/N] = [m]
2g ρ⋅g
onde V é o volume; ρ é a densidade; v é a velocidade; z é a altura; e g é a aceleração
gravitacional. Na prática, a última equação é mais utilizada. Neste caso, a energia se chama carga,
sendo expressa com símbolo h. As equações acima mencionadas são todas válidas para escoamento
de canais e condutos forçados. Mas, no caso de meio poroso (solo), precisa-se ter outra
consideração.

7.2.1 Condição saturada (Zona saturada)

v2 p
Vamos ver novamente a equação de Bernoulli. h = +z+ (7.10)
2g ρ⋅g
78
No caso do fluxo no meio poroso saturado, v é permeabilidade e se chama condutividade
hidráulica saturada (Ks). Aqui, vamos supor que v (=Ks) = 1 m/dia = 1,157·10-5 m/s.

Neste caso,
v2
=
(
1,157 ⋅ 10−5)
2

≈ 6,835 ⋅ 10 −12 [m/s] Este valor é desprezível, comparado


2g 2 ⋅ 9,8
com energias potencial e de pressão. Então no caso de solo saturado, a equação de Bernoulli torna-
se mais simples:
p
h=z+ (7.11)
ρ⋅g
p
No solo saturado, é positiva abaixo da superfície da água, ou nulo na superfície da
ρ⋅g
água.

7.2.2 Condição não saturada (Zona vadosa, θ < θs = αt, αar > 0)
Na não saturação, a Equação 7.11 pode ser utilizada para definir o estado de energia, mas
p
com uma diferença muito importante. Na não saturação, os valores de são negativos ou nulos.
ρ⋅g
Para medir esses valores, utiliza-se um aparelho que se chama tensiômetro (Figura 7.2).

Figura 7.2. Representação esquemática de um tensiômetro


Em equilíbrio
p
Força no A = h + h1 + h2 −
ρ⋅g

79
Força no B = h ⋅ 13,6
Para o equilíbrio,
p
h ⋅ 13,6 = h + h1 + h2 −
ρ⋅g
p
= −13,6h + h + h1 + h2 = −12,6h + h1 + h2
ρ⋅g
Quanto mais seco, tanto mais alta a coluna do mercúrio.

[Exercício 3]
p
Quando h = 56,5 cm, h1 = 30 cm, h2 = 20 cm, determine o valor de .
ρ⋅g
p
= −12,6 ⋅ 56,5 + 30 + 20 = −662 cmH 2O
ρ⋅g
O tensiômetro funciona bem até a pressão de -102,7 (≈ -500 cmH2O) a -102,9 (≈ -800
cmH2O). Quando a pressão é menor do que este, ou seja, a tensão é maior do que este valor, a água
não possui resistência contra pressão e a coluna se rompe, entrando muitas bolinhas na mangueira.

7.3 Quantificação da dinâmica da água no solo


7.3.1 Em solo saturado
DARCY (1856) realizou um experimento simples para compreender o fluxo no solo
saturado, e obteve os seguintes resultados:
• A vazão Q é proporcional à área A da sua seção transversal Q ∝ A
• Q é proporcional à diferença de energia (carga), i.e. h1 – h2 através da coluna de
material (areia) Q ∝ h1 – h2
• Q é inversamente proporcional ao comprimento (L) da coluna Q ∝ 1/L
h −h Q h −h
A combinação dos três resultados resulta em Q ∝ A 1 2 ∴ = q ∝ 1 2
L A L
onde q é o fluxo (vazão por unidade de área).
Introduzindo uma constante de proporcionalidade KS (condutividade hidráulica saturada),
obtém-se a equação de Darcy:
h −h
q = K S 1 2 ..................... (7.12)
L
dh
Nota-se que a forma correta desta equação é q = − K S
dz
onde dh/dz é o gradiente hidráulico.

80
[Exercício 4]
(a) Qual fluxo que passa pela amostra da figura?
p
h1 = z1 + 1 = 15 + 5 = 20 [cm]
ρ⋅g
p2
h2 = z2 + = 0 + 0 = 0 [cm]
ρ⋅g
dh h1 − h2 20 − 0
= = = 1,333 [cm/cm]
dz 15 15
Usando a equação de Darcy,
dh
q = KS = 1 ⋅ 1,333 = 1,333[cm / h] ≈ 3,7 ⋅ 10− 4 [cm / s ]
dz

(b) Qual a vazão que passa pelo solo, se a área interna do cilindro é de 100 cm2?
Q = q·A = 1,333·100 = 133,3 [cm3/h]

(c) Para se determinar Ks de um solo, foi montado um arranjo esperimental tal como o
esquematizado na figura acima. O volume de água coletado na proveta, após 20 min de coleta foi
300 cm3. Qual o valor de Ks?
V dh
A equação de Darcy é: = q = KS
A⋅t dz
V 300
Então, K S = = ≈ 0,113 [cm/min] ≈ 1,88·10-3 [cm/s]
dh 100 ⋅ 20 ⋅ 1,333
A⋅t ⋅
dz

[Exercício 5]
Sendo Ks = 10 cm/h e A = 0,01 m2, pergunta-se:
quanto tempo é necessário para se ter 200 mm da água passando através da coluna da figura.
p
h1 = z1 + 1 = 100 + 5 = 105 [cm]
ρ⋅g
p2
h2 = z2 + = 0 + 0 = 0 [cm]
ρ⋅g
dh h1 − h2 105 − 0
= = = 1,05 [cm/cm]
dz 100 100
V dh 20 [cm]
Como = q = KS , = 10 [cm/h] ⋅ 1,05
A⋅t dz t
Então, t = 20/(10·1,05) ≈ 1,9 [h] ≈ 114,3 [min]

7.3.2 Em solo não saturado.


BUCKINGHAM (1907) estendeu a formula de Darcy para o solo não saturado como:
dh
q = K (θ ) (7.13)
dz

81
Essa equação se chama equação de Buckingham-Darcy. A diferença entre as equações
(7.12) e (7.13) é que Ks é constante na Equação 7.12, e que K(θ) varia e é uma função da umidade
(θ) na Equação 7.13. Então, pode-se dizer que a Equação 7.12 é um caso particular da (7.13).
Há diversos métodos propostos para determinar K(θ) em laboratório e em campo. Um dos
métodos mais utilizados é o método de VAN GENHUCHTEN (1980). A fácil utilização desse
método foi verificada por PREVEDELLO et al. (1995).

7.3.3 Propriedades hidráulicas do solo


A dinâmica da água do solo pode ser determinada, governada e descrita por duas
propriedades hidráulicas do solo: curva característica de retenção de água e permeabilidade (ou
condutividade hidráulica) (KOBIYAMA et al. (1998). A primeira é a relação entre a carga de
p
pressão (ou ψ) e a umidade volumétrica (θ), e a segunda é a relação entre condutividade
ρ⋅g
hidráulica saturada e não saturada (K) e ψ ou θ. Por causa da análise numérica da dinâmica da água
no solo, K(ψ) é mais comumente usada do que K(θ).
Diversos métodos foram desenvolvidos para determinar estas relações in situ e em
laboratório (KLUTE, 1986). Para a curva de retenção existem equações tais como BROOKS e
COREY (1964), AHUJA e SWARTZENDRUBER (1972), HAVERKAMP et al. (1977), VAN
GENUCHTEN (1980), TANI (1982). Para a condutividade hidráulica, por exemplo, BROOKS e
COREY (1964), CAMPBELL (1974), MUALEM (1976), VAN GENUCHTEN (1980), entre
outros.
Como acima mencionado, a equação de Van Genuchten (1980) é facilmente aplicada, isto a
torna a equação comumente utilizada. Portanto, estas equações são aqui detalhadamente apresentas.
A teoria de MUALEM (1976) derivou uma equação para prognosticar a condutividade
hidráulica relativa Kr, que seria a seguinte:
2
 S 1 
1 ∫ dθ 
K 0 ψ (θ )
Kr = = S2 ⋅  (7.14)
KS 
1 1 
 ∫0 ψ (θ ) 

onde Ks é condutividade hidráulica saturada; S é saturação efetiva definida por COREY


(1954) como:
θ − θr
S= (7.15)
θs − θr
onde θr é umidade residual; θs é umidade saturada. Para resolver a Equação (7.14), VAN
GENUCHTEN (1980) propõe a seguinte função de S(ψ):
m
 1 
S (ψ ) =  n
(7.16)
1 + (α ψ ) 
onde α, m e n são parâmetros. Quando m = 1, a Equação (7.16) passa a ser a equação de
AHUJA e SWARTZENDRUBER (1972). Juntando as equações (7.15) e (7.16), obtêm-se:
m
θ − θr  1 
= n
(7.17)
θ s − θ r 1 + (α ψ ) 
82
Modificando a Equação (7.17), obtém-se:
θs − θr
θ (ψ ) = θ r + (7.18)
{
1 + (α ψ )
n m
}
e
1
 1
n 1
 θ s − θ r  m
 − 1  − m1 n
 θ − θ r    S − 1
 
ψ (θ ) =  =  (7.19)
α α
ou seja,
1
 
1 n

1 − S 
m

 1 
 S 
m
ψ (θ ) = ψ (S ) = (7.20)
α
Substituindo a Equação (7.20) na Equação (7.14):
2
 1


 1 S Sm
1
 n

 ∫   dS 
0  1 
1 α 
 f (S )
2

 1 − S m
 1
K r (S ) = S 2 ⋅   = S2 ⋅  (7.21)
   f (1) 
1

 1 1 Sm
1
 n

 ∫  dS 
α 0
1 

 
 1 − S m
 
1 1
 m1  n  m1  n
 S  x 
onde: f (S ) = ∫ dS = ∫ 
S S
dx (7.22)
0  1  0  1 

1 − S  1 − x 
m m

Substituição de x = ym na Equação (7.22) conduz:



1 1
 1

  S m  m -1+ − 
1
 y n
m −1 
1
f (S ) = ∫  d y = m ∫  y n ⋅ (1 − y ) n d y
Sm
 my (7.23)
0  1− y 
  0
  
Segundo VAN GENUCHTEN (1980),
1
m =1− (7.24)
n
Então, a Equação (7.23) torna-se:
1
Sm
 (1 − y ) 
1 m

m 1

f (S ) = m ∫ (1 - y )
Sm m -1
d y = m =  − m 
  1 S  −1 (7.25)
 m 0
0
 
Portanto: f(1) = - 1 (7.26)
Substituindo as equações (7.25) e (7.26) na Equação (7.21), obtém-se

83
2
 
1 1 m
 1
K r (S ) = S 1 − 1 − S   na condição de m = 1 − e 0 < m < 1
2 m
(7.27)
    n
Consultando as equações (7.14), (7.15) e (7.27), obtém-se
2

1
2 1   1 m

 1

m
  θ − θr  2    θ − θr   
m
K (θ ) = K s ⋅ S 2 1 − 1 − S m   = K s   1 − 1 −  
 
(7.28)
     θs − θr     θs − θr   
   
Substituindo a Equação (7.17) na (7.28), têm-se:

[ )]
2
1 − (α ψ )n −1 1 + (α ψ n −m 
 
K (ψ ) = K s   (7.29)
[ ]
m
1 + (α ψ ) 2
n

Definindo C (ψ ) = dθ como capacidade específica de água (specific water capacity) e



derivando a Equação (7.18), obtém-se
− m ⋅ n ⋅ α n ⋅ (θ s − θ r ) ⋅ ψ
n −1

C (ψ ) = (7.30)
[1 + (α ψ ) ]n m +1

Derivando a Equação (7.19), obtém-se:


1
-1
dψ dψ dS 1  1  - -1 1  -
1 1
n 1
= ⋅ =  −  ⋅ S m ⋅ ⋅  S m − 1 ⋅
dθ dS dθ α  m  n   θs - θ r (7.31)
-m
- -1  
1 1
m -1 -
= ⋅ S m ⋅  S m − 1
αm(θs - θr )  

Como 0 < m < 1, fica:

dψ 1− m 1
-1 
1

-m

= ⋅S
-
m  -
⋅ S −1
m (7.32)
dθ α ⋅ m ⋅ ( θs - θr )  
Devido à condutividade hidráulica e a curva de retenção, pode-se derivar uma expressão de
difusividade definida por CHILDS e COLLIS-GEORGE (1950) como:

D (θ ) = K (θ ) ⋅ (7.33)

Substituindo as equações (7.28) e (7.32) na Equação (7.33), obtém-se:
D( θ) = D( S)
2
( 1 − m) 1  − m1 
m 1   1 m

⋅ S − 1 ⋅ Ks ⋅ S ⋅ 1 − 1 − S  
- -1
= ⋅S m 2 m
α ⋅ m ⋅ ( θs - θr )      
m 2m
 1
  1

1 − 21 − S  + 1 − S 
m m
( 1 − m) ⋅ Ks 1 1
-    
= ⋅S 2 m ⋅
α ⋅ m ⋅ ( θs - θr )  − 1

m

SS m
− 1
 

84
m 2m
 1
  1

1 − 21 − S  + 1 − S 
m m
( 1 − m) ⋅ Ks 1 1
-    
= ⋅S 2 m ⋅
α ⋅ m ⋅ ( θ s - θr )  1 m

1- S m 
 
S
S
( 1 − m) ⋅ Ks 1 1  
-m 1 m
1
  
 m  m
-
= ⋅S 2 m ⋅  1− S + 1− S − 2 (7.34)
α ⋅ m ⋅ ( θs - θ r )     
Em geral, as equações (7.18), (7.19), (7.28), (7.29), (7.30) e (7.34) são conhecidas como as
equações de VAN GENUCHTEN (1980).

[Exercício 6]
(a) Dados obtidos no Lab. de Física do Solo da UFPR: Ks = 0,95 cm/min
p/ρg θ
[cmH2O] [cm3/cm3]
11,5 0,3816
21,5 0,3831
41,0 0,1749
58,0 0,1040
81,5 0,0245
111,0 0,0199
195,0 0,0021

Usando um programa, obtém-se: α = 0,029 [cm-1]; θs = 0,396 [cm3/cm3]; θr = 0,005


[cm /cm3]; n = 4,178, m = 0,761. (r2 = 0,991).
3

Então, usando as equações de van Genuchten ((7.18) e (7.28)), obtém-se:


0,391
θ = 0,005 + (7.35)
4 ,178 0 , 761
  ρ   
1 +  0,029  
  ρg  

2
  1 1
 
0 , 761

 θ − 0,005     θ − 0,005  0, 761  


K (θ ) [cm/min ] = 0,95
2
 1 − 1 −  
 
(7.36)
 0,391     0,391 
   
(b) Você instalou dois tensiômetros (superior e inferior) em z = 30 e 50 cm de profundidade
numa área que possui solo acima mencionado. Neste momento, os dois tensiômetros estão acusando
as pressões de -30 cmH2O e -40 cmH2O, respectivamente. Então, a água está subindo ou descendo?
Sendo que a superfície do solo é a referência,
p
h30 = z30 + 30 = −30 + (−30) = −60 [cm]
ρ⋅g
p50
h50 = z50 + = −50 + (−40) = −90 [cm]
ρ⋅g
Como h30 > h50, a água está descendo.

85
(c) Nesta condição, quais os correspondentes valores de θs em z = 30 e 50 cm?
Usando a Equação (7.35),

θ 30 = 0,005 +
0,391
[
= 0,2789 cm3 /cm3 ]
{
1 + (0,029 ⋅ − 30 ) }
4 ,178 0, 761

θ 50 = 0,005 +
0,391
[
= 0,1808 cm3 /cm3 ]
{1 + (0,029 ⋅ − 40 ) }
4 ,178 0 , 761

(d) Qual a umidade média para a região do fluxo entre z = 30 e 50 cm?


θ +θ
θ = 30 50 =
2
0,2789 + 0,1808
2
= 0,22985 cm3 /cm3 [ ]

(e) Determine o valor de ter K(θ) e o valor de fluxo nesta condição.


Usando a Equação (7.36),
2
 
1 1

0 , 761

 0,22985 − 0,005     0,22985 − 0,005  
 = 0,1124 [cm/min ]
2 0 , 761
K (θ ) = 0,95  1 − 1 −   
 0,391     0,391   
   
dh − 60 − (− 90)
q = K (θ ) = 0,1124 ⋅ = 0,1686 [cm/min]
Usando a Equação (7.13), dz 50 − 30
≈ 0,10 [m/hora ]

(f) Qual o volume de água passa na região do fluxo durante uma hora num hectare?
Volume = q·A·t = 0,10·10000·1 = 1000 m3.

[Exercício 7]
Você coletou amostras não deformadas de solo em uma área do seu projeto de irrigação.
Com estas amostras, fez uma análise de retenção de água com o método de van Genuchten e teve
resultados a seguir: α = 0,04 [cm-1]; θs = 0,6 [cm3/cm3]; θr = 0,15 [cm3/cm3]; n = 2, m = 0,5. Neste
local, você instalou dois tensiômetros (superior A e inferior B) em profundidades de z = 20 cm e 40
cm, respectivamente.
Num dia, você mediu eles e observou que as alturas da coluna do Hg foram 50 cm e 45 cm
nos A e B, respectivamente. Então, a água está subindo ou descendo? Admite que a altura do nível
do Hg nas cubas, a partir da superfície do solo foi de 10 cm para ambos tensiômetros.
pA
= −12,6 ⋅ 50 + 10 + 20 = −600 [cm]
ρ⋅g
pB
= −12,6 ⋅ 45 + 10 + 40 = −517 [cm]
ρ⋅g
pA
Então, hA = z A + = −20 − 600 = −620 [cm]
ρ⋅g
pB
hB = z B + = −40 − 517 = −557 [cm]
ρ⋅g
Como hA < hB, a água está subindo.
86
(b) Determine os valores de θ em z = 20 e 40 cm.
0,45
Usando a Equação (7.3), θ = 0,15 +
2 0,5
  ρ  
1 +  0,04  
  ρg  

Então, θ 20 = 0,15 +
0,45
[
≈ 0,169 cm3 /cm3 ]
{
1 + (0,04 600 )
2 0,5
}
θ 40 = 0,15 +
0,45
[
≈ 0,172 cm3 /cm3 ]
{1 + (0,04 517 ) }
2 0,5

(c) Sabendo que Ks = 2 [cm/min], calcule o fluxo que está subindo (ou descendo).
A umidade média na região do fluxo é :
θ +θ 0,169 + 0,172
θ = 20 40 =
2 2
≈ 0,171 cm3 /cm3 [ ]
Nesta condição, a condutividade hidráulica não saturada é
2
 
1 1 0,5 

 0,171 − 0,15     0,171 − 0,15  0,5  
 ≈ 5,128 ⋅ 10 [cm/min ]
2
K (0,171) = 2  1 − 1 −   −7

 0, 45     0, 45  
   
dh − 557 − (− 620 )
O gradiente hidráulico é = = 3,15 [cm/cm]
dz 40 − 20
dh
Então, q = K (θ ) = 5,128 ⋅ 10− 7 ⋅ 3,15 = 1,615 ⋅ 10− 6 [cm/min ]
dz

(d) Qual o tempo necessário para ter um volume de água de 1 litro que passa numa área de 1
hectare?

t=
V
=
[ ]
103 cm3
≈ 6,19 minutos ≈ 6 minutos 12 segundos
q ⋅ A 1,615 ⋅ 10 − 6 [cm/min] ⋅ 108 cm 2 [ ]
A partir da teoria de Laplace, pode-se determinar a ascenção capilar, h, como:
2σ ⋅ cos α c
h= (7.37)
g ⋅ρ ⋅r
onde σ é a tensão superficial; αc é o ângulo de contato; g é a aceleração gravitacional; ρ é a
densidade da água; e r é o raio do capilar.
Assumindo que σ = 73,5 (dyn/cm), ρ = 1 (g/cm3), g = 980 (cm/s2), αc = 0o, obtém-se
0,3 0,3
h= = (7.38)
2r d
onde d é o diâmetro equivalente do poro (cm). Neste caso pode-se considerar que h é sucção
da água em altura (cm). Usando a eq. (7.38), pode-se construir a relação entre o diâmetro
equivalente do poro e a sucção.

87
Como acima mencionado, por meio de derivar a eq. (7.18), obtém-se uma relação entre
capacidade específica da água C e ψ , ou seja, a eq. (7.30). A curva expressa pela eq. (7.30)
demonstra a distribuição de poros no solo.
Através dessa distribuição, pode ser determinado o valor de ψMÁX que fornece o máximo
valor de C( ψ) . Então, matematicamente, tem-se:
d C (ψ MAX ) d 2θ (ψ MAX )
= =0 (7.39)
dψ dψ 2
ou seja
/
 n - 1 ,  n m + 1
( )  ( ) 
 n m+1
( ) ( ) αn ψMÁX
n-1
n
 m n θs - θr α ψ MÁX  1 + α ψ - m n θs - θr  1 + α ψ 

MÁX MÁX
  
2 = 0 (7.40)
 n m + 1 
1 + α ψMÁX

( )  

Simplificando a Equação (7.40), obtém-se finalmente,
1
1  n −1n
ψ MAX =   (7.41)
α n 
Assim, o valor de ψMÁX de cada solo pode ser determinado com sua curva característica de
retenção de água. Como ψMÁX é o valor que define o tamanho (diâmetro) médio do poro, definido
por COLLIS-GEORGE et al. (1971), então inserindo a Equação (7.41) na Equação (7.38), obtém-
se:
0,3
DM = 1
(7.42)
1  n −1n
 
α n 
onde DM é tamanho médio do poro. Assim, o tamanho médio do poro pode ser estimado a
partir da equação de Van Genuchten (1980).

7.4 Medição em campo e em laboratõrio


O método da mesa de tensão e o da câmara de Richards para elaborar a curva de retenção
são descritos por KIEHL (1979), EMBRAPA-SNLCS (1979), KLUTE (1986), e CAUDURO e
DORFMAN (1986). Além disso, nas mesmas referencias, encontram-se os métodos para se
determinar o valor de condutividade hidráulica saturada.
No caso de analisar a umidade do solo, hoje em dia usa-se um equipamento que se chama a
reflectometria no domínio do tempo (TDR), proposto por TOOP et al. (1980). Medindo o tempo de
propagação da onda na linha de transmissão consegue-se correlacionar a umidade do solo com a
constante dielétrica do meio. Para se medir a umidade volumétrica no solo através do TDR é
necessário fazer uma curva de calibração do sistema. TOOP et al. (1980) estabeleceram a equação
universal como independente da massa específica do solo seco. No entanto, isso nem sempre é
verdade e deve ser lembrado, também, que a constante dielétrica é, em geral, sensível a presença de
materiais magnéticos e de solutos no solo, tendo em vista os diferentes tipos de solo. A grande
dificuldade em usar o TDR antes de qualquer estudo ou determinação de dados físicos, é justamente
a necessidade da construção de uma curva de calibração do solo utilizada no experimento de campo.

88
Desta maneira, MINELLA et al. (1999) procuraram uma nova equação para um latossolo do
município de Foz do Iguaçu e compararam-na com a curva universal estabelecida pelo fabricante do
aparelho. Os mesmos autores mostraram a diferença significativa entre duas curvas (Figura 7.3),
sugerindo que para cada tipo de solo existe uma equação de ajuste.

Figura 7.3. Comparação entre os dados observados, a curva para o latossolo e a curva proposta pelo
fabricante do TDR. (Fonte: MINELLA et al., 1999)

7.5 "atureza do solo


Normalmente, para podermos estudar algum fenômeno ou processo da natureza temos que
simplifica-lo. No caso da dinâmica da água no solo não é diferente. A Figura 7.4 ilustra mostra um
esquema das possibilidades de combinação das propriedades hidráulicas do solo. Na porção
superior esquerda é representado um cenário onde em dois lugares diferentes a água tem
comportamentos iguais, e além disso tanto na direção vertical como na horizontal também não
apresenta diferenças. Isso caracteriza o solo como isotrópico e homogêneo. Este cenário que não
acontece na natureza, é utilizado em simulações.

isotrópica anisotrópica

homogeneidade

heterogeneidade

Figura 7.4. Propriedades hidráulicas do solo e direção.


89
A célula superior direita apresenta solos anisotrópicos, mas homogêneo. Isto significa que
em uma determinada região o solo é o mesmo, porém quanto ao comportamento vertical e
horizontal existem diferenças. Já a porção abaixo, ou seja, a inferior direita representa a maioria dos
casos que acontecem na natureza, em que o solo é anisotrópico e heterogêneo.

7.6 Água subterrânea


7.6.1 Distribuição das águas subterrâneas
A água na zona vadosa está sujeita principalmente às forças devidas à:
• atração molecular ou adesão (água higroscópica)
• tensão superficial ou efeito de capilaridade (água capilar)
• atração gravitacional (água gravitacional)

Figura 7.5. Distribuição da água abaixo da superfície.

7.6.2 Aqüíferos
Aqüíferos: Uma formação geológica que contém água e permite que a mesma se movimente
em condições naturais e em quantidades significativas.( Figura 7.6)
• Aqüífero freático (não confinado): possui lençol freático (superfície livre)
• Aqüífero confinado: sub pressão positiva (às vezes, artesiano)

90
Aqüiclude: Uma formação geológica que pode conter água mas sem condição de
movimentá-la em condições naturais e em quantidades significativas.
Aqüitarde: Uma formação geológica de natureza semipermeável, que transmite água a uma
taxa muito baixa, comparada com a do aqüífero.

Figura 7.6. Aquíferos confinados e livres.(Fonte: Todd, 1967)

7.7 Interações rio-aquífero


A movimentação da água, ou seja o escoamento deve-se majoritariamente pela diferença de
potencial. Na Figura 7.7 pode-se ver o escoamento da água do lençol freático para o rio e vice-
versa.

91
Rio é afluente Rio é efluente.

Figura 7.7. Escoamento devido à diferença de potencial.


Para as enchentes, a elevação do nível no curso de água pode superar o correspondente do
lençol freático, criando-se uma pressão hidrostática maior no rio do que nas margens, ocasionando a
inversão do movimento temporariamente (Figura 7.8.

Figura 7.8. Interação entre lençol freático e o rio.

7.8 Métodos de trabalho em laboratório


7.8.1 Condutividade hidráulica saturada
O valor da Ks do solo pode ser determinado através do Lei de Darcy, ou seja:

q = - Ks (1)
dz
onde q é densidade de fluxo, Ks é condutividade hidráulica saturada, φ é carga hidráulica e z
é distância.
Neste estudo aplicou-se esta lei diretamente à medição do valor de Ks das amostras
indeformadas de 100 cm3 referenciando KLUTE (1986). O método de carga constante foi
utilizado.
92
Para cada amostra, a medição foi executada três vezes e sua média foi calculada na unidade
de cm/s.

7.8.2 Retenção de água (curva característica de água)


A metodologia de determinação de retenção de água consiste em dois tipos: (1) método de
sucção e (2) método de pressão (KLUTE, 1986). Neste estudo utilizou-se o método de mesa de
tensão (método de sucção) até‚ que o valor de sucção chegasse a 50 cm de água. Após, a câmara de
Richards foi utilizada para executar o método de pressão até -15380 cm de tensão. O método de
mesa de tensão e o da câmara de Richards são descritos por KIEHL (1979), KLUTE (1986) e
EMBRAPA-SNLCS (1979a).
Neste estudo, a umidade do solo foi medida para tensões de 0, -4, -7, -10, -20, -30, -50, -
100, -316, -1000, e -15380 cm de H2O, no processo de drenagem, sem consideração de histereses.

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96
8. CO
CEITOS BÁSICOS DE HIDRÁULICA DE CA
AIS

Péricles Alves Medeiros

8.1 Introdução
Os escoamentos da água em rios, canais, canalizações de esgoto sanitário ou pluvial, são
todos do mesmo tipo. Chamam-se escoamentos livres. Funcionam somente com a energia da
gravidade e sempre tem pressão atmosférica na superfície da água. Para que isso, é necessário que o
fundo esteja inclinado no sentido longitudinal do fluxo. Se, em toda a extensão do rio, o fundo for
horizontal, a água estaria imóvel. Neste último caso, teríamos então uma espécie de reservatório
estreito e bem extenso e o caso seria estudado como Hidrostática. Um rio pode até ter alguns
pequenos trechos curtos sem declividade mas não em toda sua extensão. Além disso,
diferentemente dos condutos forçados, a água não precisa necessariamente ocupar todo o espaço da
secção transversal disponível. É até interessante que o escoamento trabalhe com uma certa folga ou
seja, com altura menor do que a de extravasamento. No caso dos esgotos, tanto sanitários como
pluviais, a referida altura deve ser portanto inferior ao diâmetro. Ainda neste último caso, convém
lembrar que se a altura for igual ao diâmetro e a mencionada pressão for maior que a atmosférica, o
caso deixará de ser o de um escoamento livre e será portanto um conduto forçado com suas
fórmulas específicas.

8.2 Tipos de escoamento


A literatura tem apresentado várias maneiras de classificar os escoamentos em rios e canais.
Por exemplo, segundo CHOW (1973), os tipos de escoamento em rios e canais podem ser
resumidos no seguinte:
A) Escoamento permanente ( vazão constante):
• Uniforme (MPU)
• Variado (gradualmente ou bruscamente: MPGV, MPBV)

B ) Escoamento não permanente (vazão variável):


• Uniforme (raro)
• Variado (gradualmente ou bruscamente)

A classificação considera as alterações das variáveis hidráulicas tanto em relação ao tempo


como à distância percorrida. Ou seja, qualquer variável hidráulica tem sua derivada parcial em
relação ao tempo e também em relação à distância. A palavra “permanente” significa: vazão
constante. Em uma determinada secção com movimento permanente variado, a altura de água é
constante, porém, em cada secção, esta altura é diferente. Em linguagem matemática, a derivada
parcial da altura em relação ao tempo é zero mas não o é em relação à distância. Este é o caso das
curvas de remanso mostradas mais adiante. Nessas curvas, sempre há alguma aceleração tanto
97
positiva como negativa. O MPU é um caso particular do movimento permanente pois as duas
citadas derivadas são zero. Isso equivale à dizer que, em todas as secções, a altura é a mesma e,
além disso, não varia com o tempo. O MPU só ocorre em canais de vazão constante e que sejam
suficientemente longos para que haja um somatório nulo de todas as forças atuantes (inclusive o
atrito). Com isso, pela segunda lei de Newton, a aceleração será zero. Como se verá mais adiante, a
equação da continuidade permitirá concluir que a área da secção transversal e a velocidade média
serão também constantes neste tipo de escoamento. Na prática da Hidráulica, o escoamento
fundamental e mais considerado por sua simplicidade física e matemática, é exatamente o
comentado MPU. Em grande parte dos casos práticos em que a variação da vazão ou da lâmina é
pequena, tem-se considerado o escoamento como se fosse “quase” permanente uniforme. Assim, o
cálculo apesar de não ser totalmente correto, torna-se fácil e rápido. Seria o caso, por exemplo, de
uma fraca enchente em um curto trecho de rio retilíneo e com pouca variação da lâmina. O
escoamento não permanente uniforme exige que a vazão além de variável, propicie uma superfície
da água sempre paralela ao fundo, o que é bem difícil de ocorrer na prática. Como exemplo de um
escoamento não permanente gradualmente variado cita-se a propagação de uma onda de cheia em
um rio. Por fim, o fluxo resultante do rompimento brusco de uma barragem de concreto é um caso
de escoamento não permanente bruscamente variado.

8.3 Análise longitudinal e transversal do escoamento


Antes da abordagem das equações básicas da hidráulica, é interessante primeiro estabelecer
uma análise longitudinal e outra transversal ao escoamento. A Figura 8.1 mostra um exemplo de
análise longitudinal de um escoamento permanente com secções bem definidas e estáveis. Por
enquanto, não se apresenta nenhuma equação e o comentário é portanto qualitativo. Na figura,
percebe-se a existência de 4 trechos distintos: dois com MPU e dois com MPGV. As variáveis
mostradas em um trecho com MPU da referida figura, são as da equação de Bernoulli a ser
explicada mais adiante.

Figura 8.1. Perfil longitudinal de um canal

Como a vazão aqui é constante, se nenhuma alteração for introduzida, a superfície da água
ficará estabilizada. Note que tanto do lado esquerdo (montante) como do lado direito (jusante) a
superfície da água apresenta as chamadas “curvas de remanso”. Assim, essas duas extremidades
apresentam o MPGV. Na zona central teremos aproximadamente o MPU. Será exatamente MPU se,
98
como já foi dito, o canal for suficientemente extenso para que a aceleração seja nula e a superfície
seja paralela ao fundo. Assim, é preciso “dar tempo à água” para que ela saia da curva de montante
e se estabilize no MPU. No final de jusante, o escoamento lentamente começa a desacelerar
aumentando sua altura para se adaptar à condição de contorno de jusante, no caso o nível de um
lago ou mar.
Para uma análise transversal do escoamento, apresenta-se a Figura 8.2 com uma secção do
tipo trapezoidal. Com a variação do ângulo do talude ( para  tem-se portanto uma secção
retangular ou até mesmo quadrada dependendo da altura da água. Por esta razão, com uma mesma
metodologia de cálculo pode-se resolve-se várias secções. Por essa razão essa é a forma geral de
secção mais utilizada na prática. Basicamente essa análise transversal ao fluxo abrange apenas duas
coisas: geometria e distribuição das velocidades pontuais da água que são as linhas isótacas. Essas,
analogamente às curvas de nível da topografia, ligam pontos de mesma velocidade. A velocidade
pontual é máxima numa região central um pouco abaixo da superfície da água. No fundo e nas
paredes, a velocidade é zero. A isótaca correspondente à velocidade média estaria aproximadamente
situada na faixa central de cor cinza. Sua exata posição dependeria da medição de velocidade em
muitos pontos.

Figura 8.2. Secção transversal do escoamento.

As características geométricas são: b sendo a largura no fundo em m; B é a largura na


superfície em m; h = altura da água nesta secção em m; A é a área molhada em m2; P é o perímetro
molhado em m; R = A/P é o raio hidráulico em m; θ é o ângulo de talude lateral em graus. Quanto
às pressões, na superfície da água ocorre, como já foi dito, a pressão atmosférica (zero em termos
relativos). Dentro da massa líquida, admite-se neste livro, uma distribuição hidrostática de pressões
ou seja, o produto do peso específico da água pela altura dará a pressão no fundo.

8.4 Equações básicas da hidráulica


Em Hidráulica, fazendo uma grande simplificação, poder-se-ia dizer que só existem 4
equações: continuidade, energia, quantidade de movimento e atrito. Inicialmente, serão
apresentados as equações em derivadas parciais que são as generalizações para aplicação em
qualquer caso. Mais adiante, são apresentadas as simplificações dos casos particulares mais
utilizados na prática.
Na hidráulica de rios e canais as principais equações são as de Saint Venant (1870) a seguir
descritas:
Equação da continuidade:
∂Q + B ∂h = 0 (8.1)
∂x ∂t
99
∂Q + ∂A =0 (8.2)
∂x ∂t
H ∂V + V ∂h + ∂h = 0 (8.3)
∂x ∂x ∂t
onde Q é a vazão em m3/s ; B é a largura na superfície em m; x é a distância na direção do
escoamento em m; h é a altura da lâmina de água em m; t é o tempo em segundos; V é a velocidade
média (V = Q/A) na secção transversal em m/s; H é a altura hidráulica (H = A/B) em m; A é a área
da secção transversal em m2. Essas são 3 apresentações distintas para a mesma equação. Cada uma
tem sua aplicação dependendo das condições do problema e das variáveis que se quer utilizar. Além
disso, ainda poderiam ser incluídos mais termos como, por exemplo, uma vazão de contribuição
lateral, etc.
Equação da quantidade de movimento (ou dinâmica):
∂y + α V ∂V + 1 ∂V = I − J (8.4)
∂x g ∂x g ∂t

onde α é o coeficiente de Coriolis (número > 1 para compensar distribuição das velocidades
individuais dos diferentes filetes). Na prática, pode-se tomar α = 1; I é a declividade longitudinal do
fundo do canal; J é a declividade da linha de energia; g é a aceleração da gravidade em m/s2.
Essa equação também pode ser ampliada ou diminuída para poder adequar-se à casos
especiais. O sistema formado pelas duas citadas equações descreve satisfatoriamente um
escoamento não permanente gradualmente variado, por exemplo, uma propagação de cheia em um
rio. A integração exata desse sistema de equações é praticamente impossível a não ser em casos
particulares simplificados. Normalmente o que se utiliza é a solução por métodos numéricos como,
por exemplo, “diferenças finitas”, fora do alcance desse texto. Na literatura específica de modelos
matemáticos podem ser encontrados todos os detalhes. Para casos simplificados da prática, como
por exemplo, secção transversal constante, altura constante, vazão constante, canal prismático
retilíneo, etc, as duas equações já comentadas tornam-se muito mais simples e dispensam tais
cálculos numéricos.
A seguir então são mostradas as equações para os mencionados casos práticos simplificados:
Equação da continuidade para movimentos permanentes:
Q = AiVi = AV = cte (8.5)
onde Q é a vazão em m3/s ; Ai é a área da secção i em m2; Vi é a velocidade média na secção
i em m/s.
Essa equação vem do conceito de vazão como sendo um volume de água que passa, dividido
pelo tempo transcorrido. Se considerarmos o escoamento como um prisma reto, esse volume será a
área da secção multiplicada por uma certa distancia. Esta, por outro lado, é uma velocidade média
multiplicada por um determinado tempo. Dessa forma, chega-se à citada equação 8.5. Neste texto, o
termo simplificado “secção” aparecerá várias vezes e significará, à rigor: “secção transversal”,
perpendicular à direção do escoamento. Para deixar bem claro, uma “velocidade média” será então:
V = Q/A. Essa velocidade é apenas um ente matemático significando que, se todos os pontos da
área A tivessem essa velocidade, a vazão seria Q. Na verdade, cada ponto do líquido tem sua
própria velocidade como pode ser visto na Figura 8.2.

Equação da energia (ou de Bernoulli):

100
Inicialmente será considerada a aplicação da equação de Bernoulli apenas na zona central do
perfil longitudinal onde há MPU, conforme já foi apresentado na Figura 8.1. A equação 8.6 é a
forma básica de apresentação:
2 2
z1 + h1 + V1 = z 2 + h2 + V2 + hpt (8.6)
2g 2g
onde z1 é a cota topográfica do ponto 1 em m; h1 = p1 /γ é a altura representativa da pressão
no ponto 1 junto ao fundo em mca; αV12 /2g = αV22 /2g é a taquicarga ou energia cinética em mca;
α é o coef. de Coriolis =1,0 adimensional; V é a velocidade média = Q /A em m/s; Q é a vazão em
m3/s; A é a área da secção transversal em m2; g é aceleração da gravidade em m/s2; hpt é a perda
de carga total entre as secções 1 e 2 em mca; LE = linha de energia (linha imaginária, situada V2 /2g
acima da superfície da água; LP é a linha piezométrica (coincidente com a superfície da água).
Se admitirmos um escoamento no qual nem a velocidade nem a turbulência são muito
significativas e que as curvaturas verticais longitudinais do fundo são suaves, podemos considerar a
variação da pressão no interior da massa líquida como hidrostática. Por isso, o termo p /γ poder
substituído por h que significa a altura representativa da pressão no fundo. Na verdade, essa é a
equação de Pascal/Stevin da hidrostática. Como no trecho a vazão e a altura são constantes, a área a
velocidade média e taquicarga também o serão. Assim, a equação da energia no trecho em MPU
fica resumida à:
∆z = hpt (8.7)
onde ∆z é a diferença de cotas topográficas em m; hpt é a perda de carga total entre as
secções 1 e 2 em mca;
Dividindo-se ambos os membros pela distancia entre as duas secções (em projeção
horizontal), teremos:
I=J (8.8)
onde I é a declividade do fundo em m/m = tg β2, adimensional; J é a declividade da linha de
energia em m/m = tg β1 , adimensional (ou seja, no MPU os dois citados ângulos são iguais).
Isso significa que a linha da superfície da água (linha piezométrica LP), a linha de energia
(LE) e o fundo longitudinal do canal são todos paralelos. Finalmente, a aplicação da mesma
equação 8.6 nas regiões onde há MPGV, mostrará que a declividade da linha de energia (J) é
sempre diferente da declividade do fundo (I). Tal fato, associado à equação da continuidade,
permitirá concluir que a taquicarga é variável e portanto a linha de energia não será paralela à linha
piezométrica.

Equação da quantidade de movimento:


A bem conhecida 2ª Lei de Newton da mecânica é:
F = ma (8.9)
onde F é a resultante de todas as forças que atuam no volume de controle de líquido,
incluindo a força de atrito no fundo e paredes, em N; m é a massa do corpo em kg; a é a aceleração
sofrida pelo massa do volume de controle em m/s2.
Substituindo-se a aceleração por ∆V/ ∆t fica:
F∆t = m∆V (8.10)

101
onde ∆t é o intervalo de tempo considerado em segundos; ∆V a diferença entre velocidade
final e inicial em m/s. Esta equação é indispensável para casos de variações bruscas de velocidade
da massa líquida como é o caso do ressalto hidráulico que será visto mais adiante.

Equação de atrito:
Em qualquer caso da água em movimento, é bastante difícil a determinação matemática das
reais forças de atrito (ou de resistência) que surgem nos contornos do escoamento, ou seja, no fundo
e nas margens. Nos rios e canais naturais, pela sua grande irregularidade, é mais difícil ainda. Uma
maneira de resolver esse problema é a observação externa sistemática de uma série de experimentos
feitos em canais de laboratório de hidráulica suficientemente extensos para que o MPU prevaleça.
Assim, a aplicação principal destas equações de atrito são para MPU e portanto a altura da água em
uma secção será a chamada “altura normal”. Na prática, essas equações de atrito tem sua aplicação
digamos, estendidas, ao MPGV ou até mesmo em movimento não permanente gradualmente
variado se o trecho for curto, aproximadamente prismático, linha d’água com pouca curvatura e
pequena variação de vazão. Nestes casos, o mais correto é a utilização da linha de energia (J). Um
resumo da metodologia de ensaio em laboratório poderia ser a que segue. Observa-se cada ensaio
macroscopicamente ou seja, mede-se as variáveis, a saber, declividade da linha de energia (no MPU
J = I), largura, área da secção, lâmina de água e vazão. O cuidadoso ajuste matemático dessas
variáveis é conduzido de tal forma que apareça um fator aproximadamente constante que refletirá
indiretamente essas forças de atrito ou seja, a resistência do canal. Os ensaios devem ser repetidos
para cada tipo de material, secção transversal, etc. Assim, como foi dito, é realizado apenas uma
análise macroscópica sem entrar na questão física real de cada variável que seria uma tarefa
matemática bem, mais difícil. Assim, surgem as chamadas “fórmulas empíricas” que conseguem
descrever com precisão apenas razoável esse tipo de problema porém com grande aplicação e
popularidade na engenharia prática. O trabalho dos pesquisadores foi realmente extenso e aqui
somente serão apresentadas algumas dessas fórmulas empíricas que são aplicáveis, em princípio, só
para MPU.
Fórmula de Chézy (1769):
V = C RJ (8.11)
onde V é a velocidade média do escoamento em m/s; C um coeficiente que reflete a
resistência do canal; R é o raio hidráulico em m; J é a declividade da linha de energia em m/m .
Se o canal for suficientemente longo para ter tempo de desenvolver MPU, J pode ser
obviamente substituído pela declividade do fundo I , que é variável bem mais fácil de ser medida.
Na literatura podem ser encontradas outras fórmulas de resistência como a de Strickler, Ganguillet
& Kutter, etc. Neste livro, só serão apresentados alguns coeficientes para a fórmula de Manning que
acabou se tornando a mais utilizada.
Fórmula de Manning:
V = 1 R2 3J 1 2 (8.12)
n
onde n é o coeficiente “de resistência” de Manning. Demais símbolos já explicados e
comentados.
Aplicando a equação da continuidade (8.5) aparecerá então a vazão Q em m3/s:

Q = 1 AR 2 3 J 1 2 (8.13)
n
102
onde Q é a vazão em m3/s ; A é a área da secção em m2; Demais símbolos, já explicados.
Comparando-se as fórmulas de Chézy e Manning deduz-se que C = R1/6/ n . De certa forma,
isso mostra que o conceito de resistência em Chézy é mais elaborado pois é função de dois
parâmetros: raio hidráulico e rugosidade de fundo. É importante salientar que em A e R está
automaticamente embutida a “altura normal” (hN) que é uma altura bem particular que só ocorre no
MPU. Assim, essa altura é diferente das várias alturas que aparecem, por exemplo, no MPGV a ser
visto mais adiante. O citado coeficiente de rugosidade de Manning (n) expressa indiretamente, para
cada tipo de material e situação, a influência do atrito da água com o fundo e os taludes laterais.
Não é um coeficiente exato pois o fenômeno é bastante complexo e não será neste livro analisado
em todos os detalhes. A Tabela8.2 abaixo é apenas ilustrativa e mostra uma média geral das faixas
de valores de n para algumas situações. O menor valor é sempre relativo ao material com melhor
acabamento, ou seja, com menor rugosidade absoluta. Assim, percebe-se que uma decisão final
depende do julgamento e experiência do projetista. Em Chow (1973) encontra-se um longo e
cuidadoso estudo sobre o tema com extensas tabelas, fotografias, etc. Para uma vazão, secção,
material e declividade constantes, quanto maior o n , tanto menor será a velocidade média e, pela
equação da continuidade, maior será a área molhada e a altura normal. Para facilitar a compreensão,
pode-se imaginar tal coeficiente como uma espécie de “freio” ao escoamento. Se o freio aumenta, a
água não tendo outra possibilidade, eleva-se.

Tabela 8.1. Coeficiente de Manning segundo Horton apud Neves (1989)

103
Além dos valores de “n” simplesmente citados em tabelas, existe uma outra abordagem mais
científica que tenta determinar esse coeficiente como função da rugosidade absoluta do fundo. Por
exemplo, segundo Chow (1973) o coeficiente pode ser dado pela equação 8.14.
( )
n = Φ R ⋅ k1 6
k
(8.14)
ou segundo Strickler (1923) para um fundo aluvial erodível e sem formas de fundo (dunas,
antidunas, etc.):
16
d 90
n≈ (8.15)
K
onde n é o coeficiente de Manning; Φ é “função de”; R é o raio hidráulico em m; k é a
rugosidade absoluta do fundo; d90 em metros é abertura da peneira do ensaio granulométrico
correspondente à passagem de 90 % do peso da amostra de sedimento; K é um coeficiente empírico
adimensional variando aproximadamente de 20 a 35, dependendo das reais condições do
escoamento e granulometria do fundo.
Chow mostra que nos casos reais a variação da função Φ (R/k) é pequena. Segundo
Strickler, o valor médio de K é 29,24. A Tabela 8.2 à seguir apresenta, para areias e cascalhos, um
cálculo do coeficiente n pela fórmula 8.15.
Tabela 8.2. Coeficientes de Manning segundo Strickler (fórmula 8.15 c/ K = 29,24).
d90 (m) n
0,0005 0,00963
0,001 0,01081
0,002 0,01214
0,003 0,01299
0,004 0,01362
0,005 0,01414

Como um exemplo, nas tabelas da literatura, o concreto bem executado (o de menor


rugosidade absoluta) tem um n de aproximadamente 0,013. Pela tabela 8.2 equivale à um canal de
cascalho com fundo plano de d90 = 3 mm de rugosidade absoluta o que parece bastante razoável.

8.5 Velocidades e tensões de cisalhamento máximas admissíveis


Cada material de que é constituído o canal possui uma determinada resistência à erosão.
Uma das maneiras de quantificar a ação de um escoamento sobre o material do canal é com a
utilização de sua velocidade média (Q/A) como indicador. Ou seja, nesta abordagem cada material
pode suportar até determinada velocidade média sem sofrer erosão. Dessa forma, ao se projetar um
determinado canal que seja estável, há que se observar, os limites acima descritos. Para cálculos
aproximados essa abordagem é válida, porém uma análise mais apurada tem que considerar as
velocidades em cada ponto de uma determinada vertical. De posse de algumas medições pontuais
de velocidade, pode-se ajustar uma parábola mostrando a variação da velocidade que, junto ao
fundo, seria zero. Esse fato gera uma certa polêmica pois como a erosão por arraste se produz
basicamente junto ao fundo, essa velocidade nula não poderia erodir nenhuma partícula mesmo com
velocidades médias superiores às recomendadas. Porém a experiência mostra que a erosão
claramente acontece se os limites de velocidade média não forem respeitados. Uma melhor
explicação é considerar não a citada parábola mas uma outra curva que admitisse velocidades
maiores que zero junto ao fundo. Outro detalhe é a definição de “fundo” adotada. Se este estiver na
104
“cota zero” servindo de apoio aos sedimentos estes (principalmente os mais graúdos) estariam um
pouco acima, portanto sofrendo ação de alguma velocidade. Enfim, o critério da velocidade média
apesar de funcionar razoavelmente, pode sempre sofre críticas.
Uma diferente abordagem sobre a erosão pode ser dada através da tensão de cisalhamento
que o líquido exerce no fundo e margens. A equação 8.16 é a fórmula básica:
τ = k (γRJ ) (8.16)
onde k é um coeficiente adimensional variando de zero à 1; τ é a tensão de cisalhamento no
fundo ou margens em kgf/m2; γ é o peso específico da água ( 1000 kgf/m3); R é o raio hidráulico
em m; J é a declividade da linha de energia em m/m.
A distribuição da tensão de cisalhamento nas margens e fundo depende da forma do canal,
altura da água, inclinação das margens e a localização do ponto considerado. Para canais muito
largos e de pouca altura de água: k ≈ 1,00; R ≈ h e τ será máxima. Assim, se o material não resistir à
essa força aplicada, ocorrerá a erosão. Essa última metodologia tem mais consistência do que a
primeira visto que a tensão de cisalhamento atua realmente no nível do sedimento. O tema erosão
em canais naturais irregulares por ser muito amplo, só pode ser desenvolvido com a literatura
especializada. Apenas como exemplos, à seguir são mostrados alguns estudos de laboratório tanto
utilizando velocidades médias como tensões de cisalhamento. A Tabela 8. 3 apresenta apenas
alguns dos resultados de Fortier & Scobey, apud Chow 1973.
Tabela 8.3. Velocidades máximas admissíveis e correspondentes tensões de cisalhamento p/
água limpa em canais retos, de pouca declividade e antigos, ( Fortier & Scobey, apud Chow 1973).
Material n Vmax (m/s) τ (kgf/m2)
Areia fina coloidal 0,020 0,457 0,132
Solo franco arenoso não coloidal 0,020 0,533 0,132
Silte aluvial não coloidal 0,020 0,610 0,234
Cascalho fino 0,020 0,762 0,366
Argila rígida muito coloidal 0,025 1,143 1,269
Cascalho graúdo não coloidal 0,025 1,219 1,465
Seixo rolado 0,035 1,524 4,443

Figura 8.3. Velocidades críticas de início de erosão em canal de fundo arenoso; Medeiros (1996).

A Figura 8.3 mostra o ajuste matemático final entre números adimensionais feito por
Medeiros utilizando sedimentos com os seguintes diâmetros aproximadamente uniformes: A = 4,53
mm, B = 3,90 mm, C = 2,93 mm , D = 2,18 mm, E = 1,84 mm, F = 1,43 mm, G = 1,01 mm, H =
0,710 mm, I = 0,50 mm, J = 0,36mm. Esse autor, utilizando um critério específico para
identificação visual de movimento de grãos e também Análise Dimensional, chegou a uma
105
expressão geral para a velocidade média crítica de início de erosão em fundos móveis (equação
8.17).
[ (
Vc = 4,408 gh(ρs − ρ ρ ) ⋅ (h d ) dg 1 3v −2 3 ) ]
1 3 −0, 522
(8.17)
onde Vc é a velocidade crítica de início de erosão por arraste para fundos móveis (ou
aluviais) em m/s; g é a aceleração da gravidade = 9,81 m/s2 ; h é a altura da lâmina de água em m; ρ
é a massa específica da água = 1000 kg/m3; ρs é a massa específica do grão de sedimento = 2650
kg/m3; d é o diâmetro do sedimento uniforme em m; ν é a viscosidade cinemática da água em m2/s.
Os exemplos acima tratam de rios aluviais ou canais de fundo “móveis” (erodíveis). Para
arraste de sedimentos em canais artificiais de concreto ou argamassa, os exemplos são bem mais
raros. A seguir (Tabela 8.3), alguns resultados de Medeiros & Marin (1994). Para canais de fundo
fixo (artificiais), os autores estudaram quais as velocidades médias e tensões de cisalhamento
mínimas que garantiam transporte de descargas de grãos injetadas no escoamento, sem que
ocorressem depósitos. Este tipo de abordagem tem aplicação, por exemplo, em galerias de
drenagem urbana e redes de esgotos sanitários onde os depósitos não são tolerados. As equações
8.18, 8.19 e 8.20 são os números adimensionais utilizados na metodologia.

Tabela 8.4. Alguns resultados de Medeiros & Marin (1994) para fundos de cimento alisado
d (mm) Velocidade média Tensão de cisalhamento
2,84 f(V) = 7,128 f(gs)0,362 f(τ) = 0,689 + 0,013 f(gs)
2,10 f(V) =18,73+0,22 f(gs) f(τ) = 0,618 + 0,016 f(gs)
1,42 f(V) = 6,648 f(gs)0,411 f(τ) = 0,579 + 0,019 f(gs)
0,392
1,02 f(V) = 7,466 f(gs) f(τ) = 0,541 + 0,022 f(gs)
0,65 f(V) = 10,08 f(gs)0,319 f(τ) = 0,808 + 0,016 f(gs)

V
f (V ) = (8.18)
(v ⋅ g )1 s
τ ⋅ g1 s
f (τ ) = (8.19)
γ sv2 s
gs
f (g s ) = (8.20)
γ sv
onde τ é a tensão de cisalhamento no fundo em kgf/m2; g é a aceleração da gravidade em
2
m/s ; é o peso específico da partícula de sedimento em kgf/m3; é a viscosidade cinemática da
água em m2/s; d é o diâmetro do sedimento uniforme em m; V é a velocidade média em m/s.
Como informação, sobretudo para os mais jovens, salienta-se que os resultados de qualquer
pesquisa de laboratório de Hidráulica quando realizada por pesquisador confiável e publicada em
meio de igual credibilidade, serão sempre válidos. Apenas como exemplo, uma velocidade de início
de arraste de um certo cascalho observada, por exemplo, em 1920 nunca será velha ou fora de
moda. É importante perceber que enquanto a água tiver as mesmas características físicas e o planeta
tiver a mesma gravidade, não haverá resultado “velho”. A água que passou lá na antiga
Mesopotâmia ou sob o olhar de Leonardo da Vinci, ainda é a mesma. Claro que no século XXI,
com melhor instrumentação, computação, consegue-se um número bem maior de resultados, com
melhor precisão, qualidade, etc. Da mesma forma, novas metodologias vão surgindo. Pode-se hoje

106
melhorar, ampliar e, em alguns casos, corrigir resultados anteriores mas a Hidráulica, sendo Física,
ainda é basicamente a mesma.

8.6 Energia Específica, número de Froude e regimes de escoamento


Chama-se energia específica (E) a soma da altura da água (h) com a taquicarga (V2/2g). É
portanto uma equação de Bernoulli incompleta. Dito de outra forma, é uma equação de energia mas
não em relação à uma referência horizontal e sim em relação ao fundo inclinado. Quanto ao
coeficiente de Coriolis, aqui será tomado igual à 1. A equação 8.18 resume esta relação:
2
E = h +V (8.18)
2g

A Figura 8.4 apresenta, para uma vazão fixa, um gráfico da variação da energia específica
em função da altura. O gráfico pode ser obtido fazendo escoar em um canal uma determinada vazão
constante e, em cada ensaio, variar apenas a declividade do fundo. Assim, se tem várias alturas
normais, cada uma com sua velocidade média. Dito de outra forma, quando a altura for pequena, a
velocidade será grande e vice versa.

Figura 8.4. Energia específica.

Derivando-se a equação 8.18 em relação à altura e igualando o resultado à zero, temos uma
situação hidráulica “notável”, representando a condição de mínima energia necessária para
movimentar uma determinada vazão. Esse estado chama-se “regime crítico”, expresso pela seguinte
equação:
Q2B =1 (8.19)
gA3
onde Q é a vazão em m3/s; B é a largura na superfície em m; g é a aceleração da gravidade
em m/s ; A é a área molhada em m2.
2

Na Figura 8.4, o ponto de mínima energia, com ordenada hC , é o “ponto crítico”, definidor
do regime crítico. Abaixo desta ordenada, o regime é rápido ou supercrítico. Acima, é lento ou sub-
crítico. A velocidade das ondas rasas em um canal é:
Vo = gH (8.20)

107
A relação entre velocidade média e velocidade das ondas rasas chama-se número de Froude
e tem portanto, a seguinte expressão:
F=V (8.21)
gH
Na equação acima, para qualquer secção transversal do canal, V é a velocidade média do
escoamento ( = Q /A) e H é a “altura hidráulica” ( = A/B). Evidentemente que no caso de uma seção
retangular a altura hidráulica é a própria altura da água. A já citada equação 8.19 pode ser
particularizada para o caso de uma secção retangular. Assim, substituindo-se a área molhada por
“B.h” teremos:
32
Q = 3,132hc ⋅B (8.22)
onde h passou a se chamar altura crítica hc.
Outra relação que se pode deduzir das equações anteriores é:
hc
=2 (8.23)
Emin 3

Significando que na condição crítica a altura crítica representa 2/3 da energia. Assim , resta
exatamente 1/3 da energia para a taquicarga. É importante notar que a altura nas equações 8.22 e
8.23 deve levar o sub-índice “c” e ser chamada de “altura crítica” (hc). Logo, em um “escoamento
crítico” de largura B, a vazão é apenas função da altura crítica que pode ser medida no local. Não é
necessário pois o conhecimento nem da declividade de fundo, nem da rugosidade do material da
calha. Este é um fato notável e é aproveitado com muitas vantagens nos medidores de vazão de
regime crítico como a calha tipo Parshall. Nesta, para a determinação da vazão, não se mede a
própria altura crítica pois esta variando um pouco de posição em função de cada vazão, dificulta a
ação do operador. Em função disso, o fabricante indica a medição de uma outra altura em posição
fixa um pouco mais à montante da crítica. De qualquer forma, mesmo com essa alteração, o
princípio acima descrito é, em essência, o mesmo.
Pode ser conveniente substitur Q/B = q = “vazão por metro de largura” ou “vazão unitária”,
tornando a expressão 8.22 mais compacta sob a forma da equação 8.24:
hc = 0,4671 ⋅ q 2 3 (8.24)
Com as mesmas equações recentemente citadas, pode-se ainda facilmente deduzir a seguinte
expressão:
Q2B = F2 (8.25)
gA3

O número de Froude pode assim ser utilizado para definir 3 tipos de regime , a saber:
• Regime lento, fluvial ou sub-crítico, com F < 1
• Regime rápido, torrencial ou super-crítico, com F > 1
• Regime crítico, com F = 1

Tais regimes pode ser apreciados na própria Figura 8.4 já apresentada.

108
8.7 Ressalto hidráulico
Sob certas condições, um escoamento em regime rápido (com F > 1) pode bruscamente, de
maneira espontânea, elevar-se e passar para o regime lento. Nesta elevação, a superfície da água não
é lisa e contínua mas totalmente irregular e com grande agitação. Um exemplo típico de ocorrência
do fenômeno é logo após uma comporta de fundo. Esta deve ter à montante uma altura de água bem
superior à sua altura. Dito de outra forma, deve haver uma carga hidráulica suficiente grande para
produzir uma velocidade tal que seu número de Froude seja > 1. A Figura 8.5 mostra uma fotografia
de um ensaio típico realizado em laboratório e Figura 8.6 mostra as variáveis hidráulicas.

Figura 8.5. Ressalto hidráulico (Cortesia Lab. de Hidráulica da Eng. Sanitária e Ambiental da
UFSC)

Figura 8.6. Variáveis do ressalto hidráulico.

A velocidade relativamente alta do escoamento supercrítico de montante recebe uma força


de atrito em sentido contrário. Esta atua como um freio repentino. Não havendo outra possibilidade,
o escoamento tem que bruscamente diminuir sua velocidade e, como conseqüência, aumentar sua
109
área já que a vazão é constante. Como a largura do canal é fixa, a altura da água em jusante
aumenta 4, 5 ou até mais vezes. Por isso, a velocidade diminui muito e o processo envolve uma
grande perda de energia. O princípio fundamental é definido pela segunda lei de Newton
transformada em quantidade de movimento (equação 8.10) onde a aceleração foi substituída por
∆V/ ∆t . Para a dedução da equação básica do ressalto hidráulico, utiliza-se um volume de controle
com as forças de pressão atuando nos dois lados. Além disso, vários outros princípios são também
utilizados na dedução como: a equação da continuidade, equação de Bernoulli, equação de Pascal,
conceito de peso e massa específica, etc. A equação final do ressalto resulta em:
= 1  1 + 8 F1 − 1
d2 2
(8.26)
d1 2 
onde d1 é a altura da água à montante do ressalto em m; d2 é a altura da água à jusante do
ressalto em m; F1 é o número de Froude à montante do ressalto, adimensional.
Dessa forma, com os dados da entrada do ressalto (F1 , d1 ), determina-se facilmente a altura
de água à jusante (d2). Com uma vazão e largura, pode-se determinar as áreas das secções bem
como as correspondentes velocidades. Uma importante utilização do ressalto é na dissipação de
energia de um escoamento ao pé de jusante de uma barragem ou de um vertedor tipo Creager.
Efetivamente, a intensa agitação da água acaba por diminuir significativamente a energia do
escoamento (ver “hp” na Figura 8.6). Assim, a água pode tranquilamente ser re-incorporada ao rio
evitando erosões indesejáveis que uma alta velocidade provocaria. Em canais de secção retangular,
o comprimento (L) de um ressalto bem desenvolvido situa-se entre 5,2 d2 e 6,1 d2. Este valor é
aproximado até porque nem sempre é fácil definir exatamente o ponto de início e final do ressalto
devido às oscilações e grande turbulência. Abaixo, dois exemplos de fórmulas obtidas em
observações de laboratório.
Por Smetana:
L = 6,02(d 2 − d1 ) (8.27)

Por Safranes:
L = 5,20d 2 (8.28)

8.8 Curvas de remanso


No MPGV como o próprio nome diz, a vazão deve ser constante. Ao contrário, as alturas, as
áreas das secções e as velocidades são todas diferentes em cada secção. À montante e à jusante, há
sempre alguma condição de contorno estabelecida por um reservatório, barragem, vertedor ou
mesmo um canal de comprimento infinito. Dessa forma, a superfície da água é obrigada à adaptar-
se à essas condições. Como resultado, a superfície da água é sempre uma curva e a altura normal
não chega matematicamente a se estabelecer à não ser no infinito. A Figura 8.7 ilustra esse conceito
e mostra, para o caso mostrado, que a superfície da água tende assintoticamente à altura normal no
lado montante do desenho ou seja, à esquerda. Para jusante, embora a figura não mostre, supõe-se a
existência de uma barragem visto que a linha de energia tendendo à tocar a linha d’água, vai
implicar em velocidade igual à zero ou seja, um reservatório.

110
Figura 8.7. Exemplo genérico de curva de remanso.

A equação básica de uma curva de remanso é deduzida à partir da equação de Bernoulli para
um ponto genérico no escoamento (ver figura 8.7):
H = z + h + v2 2 g ( 8.29)
Substituindo v por Q/A ( Q é constante) e derivando H em relação ao comprimento x:
dH dx = dz dx + dh dx + Q 2 2 g ⋅ dA−2 dx (8.30)
Considerando que dA/ dx = (dA/dh).(dh/dx) = B dh/dx; dH/dx = - J e dz/dx = - I tem-se:
(
dh dx = (I − J ) 1 − F 2 ) (8.31)

Que é a equação genérica de uma curva de remanso. Com uma ordenada e sistemática
discussão da equação 8.31, pode-se identificar as características de todas as curvas possíveis. A
análise está baseada na comparação de I com J, comparações de F2 com a unidade e, dessa forma,
sinais do numerador e denominador. Assim, identifica-se quais curvas tem altura crescente ou
decrescente pelo sinal da derivada.
Dependendo das particularidades de cada canal, da declividade do fundo e da região onde a
curva de remanso se desenvolve podem existir muitos tipos de curva, cada uma com características
muito bem definidas. Como “região” entende-se a localização da curva em corte longitudinal
tomando como referências a altura normal e a altura crítica. Em resumo, trata-se de saber se a curva
está, por exemplo, abaixo ou acima da altura crítica, entre a altura crítica e a altura normal, etc. A
Figura 8.8 à seguir mostra apenas alguns tipos de curvas possíveis. Por fim, o estudo completo das
curvas de remanso está fora dos objetivos deste livro.

111
Figura 8.8. Alguns tipos de curvas de remanso, Porto (1998).

Para se realizar um cálculo prático do desenvolvimento espacial de uma curva de remanso


pode-se utilizar o método mais simples, chamado “direct step method”. O canal é dividido em
vários trechos pequenos e o cálculo é conduzido, trecho à trecho, de um extremo ao outro do canal.
Em regimes lentos (F < 1) a direção de cálculo costuma ser de jusante para montante. Em regime
rápidos, é o contrário. A equação 8.32 é a expressão básica.
E −E
∆x = 2 *1 (8.32)
I −J
Onde é a extensão de um trecho; E2 é a energia específica no ponto de jusante do trecho
em m; E1 é a energia específica no ponto de montante do trecho em m; I é a declividade do fundo
em m/m; J* é a declividade da linha de energia média do trecho: (J1 + J2)/2, em m/m, dada pela
fórmula de Manning.
A fórmula 8.32 nada mais é que a própria equação de Bernoulli para 2 pontos do canal.
Neste método, toma-se a perda de carga do trecho como: J*. ou seja, uma perda aproximada
visto que J*, sendo médio, não será uma curva como deveria ser no MPGV mas uma linha reta
simplificadora. A precisão do cálculo é diretamente proporcional à quantidade de trechos em que o
canal for dividido.

8.9 Exercício resolvidos


1) Determine a velocidade média e a vazão de um canal de secção retangular com b = 3,50 m; θ = 90o
(Figura 8.9 abaixo); considerado como MPU, h = hN = 1,25 m; hmáx = 1,35m (prof. máx. sem transbordar), I
= J = 0,85 % = 0,0085 m/m. Material: alvenaria de pedra argamassada em condições boas. A figura está
abaixo.

112
Figura 8.9. Secção do canal.

Resolução:
Observe antes a seção transversal genérica da Figura 8.1 no início deste capítulo. Fazendo uma pequena
dedução matemática, chega-se às seguintes expressões para área (A), perímetro (P) e largura na superfície
(B), válidas para qualquer secção trapezoidal, retangular ou quadrada:
A = b. h + m.h2;
P = b + 2h ;
B = b + 2m.h;
R = A/P (já comentada antes)

Sendo: m = cotg θ = cotg 90o = 0


A = 3,50.1,25 + 0.(1,25)2 = 4,375 m2;
P = 3,50 + 2. 1,25 = 6,00 m;
R = 4,375/6,00 = 0,729 m

Note que para não transbordar: h tem que ser menor que H (OK, confere)
O coeficiente de Manning pela Tabela 8.1 é 0,020.
Quando a incógnita for a velocidade média ou vazão, pode-se aplicar a fórmula de Manning diretamente:
V= = 3,734 m/s
Q = A.V = 4,375. 3,734 = 16,336 m3/s

Mesmo que a aplicação direta da fórmula de Manning tenha resolvido o problema, uma outra maneira de
chegar ao resultado é com o uso da Tabela 8.5 (explicada somente no exercício 2). Primeiro, calcula-se a
variável: h/b = 1,25/3,50 = 0,35714
K= = 0,12551 (obtido, por interpolação linear na linha correspondente à h/b = 0,35714
e m = 0)

Logo, Q = 16,338 m3/s (praticamente igual à vazão obtida anteriormente).


V = Q/A = 16,338 / (1,25. 3,50) = 3,734 m/s.

2) Determine a altura do MPU para uma secção trapezoidal com: b = 7,00 m; θ = 45o (ver Figura 8.2);
Material: concreto em boas condições; hmáx = 1,20 m (prof. máxima sem transbordar), Vazão (Q) = 60,00
m3/s; cota topográfica de um ponto 1 situado sobre o fundo: z1 = 131,50 m; idem, em relação a um ponto 2
situado 400,00 m (em planta) à jusante de 1: z2 = 130,00 m.

Resolução:
Declividade do fundo = (131,5-131,0) / 400 = I = tg β2 (ver Figura 8.1) = 0,00125 m/m
Coeficiente de Manning = n = 0,014 (ver Tabela 8.1); m = cotg θ = 1,00.
Quando a incógnita é a altura normal, a resolução da equação de Manning fica mais difícil, pois não se pode
explicitar essa variável. Teria que ser resolvida por algum método numérico (manualmente ou por
calculadora pré-programada) ou por tentativas, arbitrando um valor para h e verificando se a vazão resulta
em 60,00 m3/s.
Outra maneira é transformar a equação de Manning na seguinte função:

K= = = f (h/b; m)
113
Dessa forma, à esquerda teremos um parâmetro K (são dados nesse tipo de problema). À extrema direita,
uma função a ser desenvolvida com apenas duas variáveis: h/b; m. Assim, trata-se de uma função de 3
variáveis (K; h/b; m) onde, arbitrados 2 valores, teremos o terceiro. A Tabela 8.5 abaixo apresenta um
conjunto de cálculos para uma certa faixa de valores das variáveis.
Assim, temos então:
K= = 0,076501

Na coluna correspondente à m = 1 procura-se o valor mais próximo à K que está pois entre 0.074706 e
0.080889. Interpolando-se linearmente tem-se h/b ≈ 0,2129. Logo, h ≈ 0,2129. 7,00 ≈ 1,490 m.

3) Qual a velocidade média real e velocidade crítica de início de erosão por arraste de um canal de cascalho
uniforme com d90 ≈ d50 = 4,53 mm, ν = 0,000001141 m2/s , h = 0,50 m , ρs = 2650 kg/m3, ρ = 1000 kg/m3,
declividade do fundo = 0,3 %? Aplicando o critério da tensão de cisalhamento haverá erosão?

A equação 8.17 de Medeiros (1996), é um tanto complexa, pois é generalizada para qualquer diâmetro entre
0,36 e 4,53 mm e alturas até 0,50 m. Nesse trabalho, Vc é a máxima velocidade sem erosão (Não confundir
com a velocidade crítica da Energia Específica).

Vc = [(0,5/0,00453)( 0,00453. . 0,000001141- 2/3 )1/3 ]- 0,522 = Vc


= 0,493 m/s

Velocidade real do canal em MPU, considerando “canal largo” (b ≥10 h). Assim, R ≈ h:
n = 0,004531/6/ 29,24 = 0,01391 (rugosidade de Manning segundo Strickler)
V = 1/0,01391 . 0,5 2/3. 0,003 ½ = 2,480 m/s (OBS: A vazão, neste caso, não interessa)

Com a fórmula de Medeiros: 2,480 >>> 0,493 m/s, logo haverá muitíssima erosão.
Com Fortier & Scobey: 2,480 > 0,762 m/s (Tab. 8.3), logo haverá muita erosão.
OBS: O cálculo da quantidade de material erodido está totalmente fora do alcance deste livro, pertencendo à
uma especialização chamada Transporte de Sedimentos.

Com a tensão de cisalhamento:

k = 1 (considerando a tensão máxima no centro do canal)


R≈h
τ = 1000. 0,50. 0,003 = 1,50 Kgf/m2 (eq. 8.16, com MPU)
As equações de Medeiros para tensão de cisalhamento são específicas para fundos de cimento alisado, logo
não servem para o presente caso.
Por Fortier & Scobey (Tab. 8.3):

1,50 >> 0,366 kgf/m2 logo, haverá muita erosão.

Em Erosão e Transporte de Sedimentos sempre há alguma aleatoriedade nos resultados, por isso, em um
projeto real deve-se ainda incluir um certo coeficiente de segurança para restringir um pouco mais a
velocidade real do canal. A literatura especializada sobre o tema apresenta imensa quantidade de
metodologias, informações e possibilidades dentro do tema. Em contrapartida, o leitor vai se deparar com tal
complexidade que só será resolvida com a experiência e bom senso. Em resumo, o presente tema está longe
de ser simples, pois a natureza é muito irregular e diferente dos ensaios de laboratório que não contemplam
adequadamente, matéria orgânica, coesão, grandes variações de secção transversal, coesão, fundo
absolutamente irregular, etc.

4) Determine o regime de escoamento para: Caso a) um canal de secção retangular com b =10,00 m; hN (ou
seja, MPU) = 2,00 m; fundo com areia d50 = 1,0 mm; I = J = 0,0002 m/m. Caso b) Idem, com hN = 0,50 m; I
= J = 0,015 m/m.

114
Caso a:
m=0
A = 10,0. 2,0 + 0. 0,502 = 20,00 m2; P = 10,0+2.2,0 = 14,00 m ; R = A/P = 1,428 m
n = 0,0011/6 / 29,24 = 0,01081 (utilizando o n de Strickler)
V por Manning = 1,659 m/s
H (altura hidráulica), neste caso, = hN = 2,00 m
Velocidade das ondas rasas; Vo = = 4,429 m/s
F = V / Vo = 1,659 / 4,429 = 0,374 < 1,00 logo, Regime LENTO

Caso b:
m=0
A = 10,0. 0,5 + 0. 0,502 = 5,00 m2; P = 10,0+2.0,5 = 11,00 m; R = A/P = 0,454 m
n = 0,01081
V por Manning = 6,693 m/s
Velocidade das ondas rasas; Vo = = 2,215 m/s
F = V / Vo = 6,693 / 2,215 = 3,022 > 1,00 logo, regime RÁPIDO.
OBS: No caso b tem-se: declividade relativamente alta para canais e rugosidade baixa. Essa combinação
resultou em velocidade excessiva para rios e canais que, na maioria dos casos, é inferior à 3,50 m/s. Não foi
realizado o cálculo mas o movimento do sedimento de fundo será certamente muito grande. Possivelmente,
com a erosão, haverá alterações na secção e, em cadeia, outras variáveis irão também se alterar com o tempo.

5) Calcule todas as variáveis de um ressalto hidráulico. Dados: Q = 4,80 m3/s; d1 =0,40 m, b = 2,60 m.
Vazão unitária = Q/B = 4,80 / 2,60 = 1,846 m3/s.m

No ponto de montante:
Vo = = = 1,981 m/s;
V = 4,80/(2,6.04) = 4,615 m/s
F1 = 4,615/1,981 = 2,330

Em jusante:
d2 / d1 = 1/2 ( - 1) = 2,833
d2 = 2,833 . 0,40 = 1,133 m
Vo = = = 3,334 m/s;
V = 4,80/(2,60. 1,133) = 1,629 m/s
F2 = 1,629/3,334 = 0,489
Extensão do ressalto:
L = 6,02 (1,133 - 0,40) ≈ 4,41 m (Smetana)
L = 5,20 . 1,133 ≈ 5,89m (Safranes)
OBS: Um ressalto sempre oscila um pouco para montante e jusante. Seu comprimento como se vê, não é
uma variável exata. A critério do projetista, pode-se tomar tanto o maior valor como um valor médio.

6) Na Figura abaixo, determine as curvas de remanso (MPGV) em um canal com duas declividades de fundo
: II = 0,001 m/m; III = 0,05 m/m. Secção retangular com b = B = 3,00 m, vazão = 6,0 m3/s, n = 0,012 (cimento
alisado). Os comprimentos são indefinidos.

Figura 8.10. Perfil longitudinal do canal.


115
Na Figura 8.10, quando existe um aumento brusco da declividade e passagem do regime
lento (trecho I) para o rápido (trecho II), pode-se já, de início, colocar a altura crítica no ponto de
quebra de declividade. À rigor, essa altura não ocorre exatamente nesse ponto mas alguns
centímetros acima. Aqui, para não complicar demais os cálculos, será feita essa simplificação. Na
Figura 8.4 (Energia específica) visualiza-se esse exercício como um ponto localizado na parte alta
da curva (Regime lento) que vai lentamente descendo pela curva, passa pela altura crítica e atinge
um determinado ponto na parte inferior da curva (regime rápido). As direções de cálculo
recomendadas para cada trecho estão no referida Figura 8.10.
Será utilizado o método mais simples que é o “Direct Step Method” ou método direto cuja
fórmula é:
E −E
∆x = 2 *1 (eq. 8.32)
I−J

Uma maneira de realizar o cálculo é inicialmente determinar: a)à montante do trecho I a


altura normal, b)a altura crítica (que é igual para os dois trechos pois não depende da declividade
nem das rugosidades). c)à jusante do trecho II a altura normal que será menor que a primeira.
Como o movimento é MPGV as variações da altura serão suaves e contínuas. Pode-se
dividir as variações de alturas em ∆h fixos para se ter várias alturas já pré-determinadas. Assim, as
incógnitas serão suas localizações ou seja, as distâncias x. No trecho I, as alturas variam da altura
crítica no ponto O, até hN I (à montante, no “infinito”). No trecho II, variam logicamente hC até hN II.
Trecho I:
K= ≈ 0,12162
Para m = 0, pela Tabela 8.5 tem-se: h/b ≈ 0,349; hN I ≈ 1,050 m

Trecho II:
K= ≈ 0,01720
Para m = 0, pela Tabela 8.5 tem-se: h/b ≈ 0,0937; hN II ≈ 0,279 m
A altura crítica para qualquer dos trechos, será :
hC = 0,4671. (6,0/3,0)2/3 = 0,741 m
Alturas pré-determinadas do Trecho I:
∆h = (1,050 – 0,741) / 4 = 0,7725 m
Assim, tem-se (de jusante p/ montante) as seguintes alturas:
ho = hC = 0,741; h1 = 0,818; h2 = 0,895; h3 = 0,973; hN I = 1,050 m
Este é apenas um exemplo didático sem grande precisão. Para melhor resultado, recomenda-
se dividir em, por exemplo, 10 alturas.
Seguindo a direção de cálculo recomendada, o primeiro cálculo é a determinação do
primeiro ∆x referente ao sub-trecho 1. Para isso, primeiro calculam-se as energias específicas (E) e
as declividades de energia (J) ambas no início e fim do sub-trecho 1. (OBS: coeficiente de Coriolis
tomado como 1,00).
Eo = 0,741 + 1,0 [ 6,0 / (3,0 + 0,741)]2. 1 / (2.9,81) = 1,1123 m
E1 = 0,818 + 1,0 [ 6,0 / (3,0 + 0,818)]2. 1 / (2.9,81) = 1,1227 m
Ao = 2,223 m2; A1 = 2,454 m2; Ro = A / P = 0,4960 m; R1 = 0,5293 m
Jo = [(0,012 . 6,0) / (2,223. 0,4960 2/3)]2 = 0,002672 m/m
116
J1 = [ (0,012 . 6,0) / (2,454. 0,5293 2/3 ) ]2 = 0,002010 m/m
J* médio do intervalo = (0,002672 + 0,002010) /2 = 0,002341 m/m
∆x 1 = (1,1123 - 1,1227) / (0,001 – 0,002341) ≈ 7,75 m
Assim, prossegue-se o cálculo em direção à montante até chegar na altura normal hN I.
No trecho II, o procedimento é igual começando em hC e terminando em hN II.
Os resultados são:

Trechos Pontos
0 1 2 3 4 5
I h =0,741 h =0,818 h =0,895 h =0,973 h =1,047 ----------
xacum = 0 xacum = 7,75 xacum = 41,95 xacum = 140,9 xacum = 560,1
II h =0,741 h =0,649 h =0,556 h =0,464 h =0,371 h =0,279
xacum = 0 xacum = 0,444 xacum = 2,279 xacum = 6,981 xacum = 19,91 xacum = 94,72
OBS: Unidades em metros. No trecho II optou-se por dividir em mais alturas, pois a curva apresentou maior
concavidade.

Na Figura 8.11 está o perfil final sendo que as declividades foram omitidas, ou seja, as cotas topográficas z
foram consideradas todas igual à zero.

Figura 8.11. Perfil longitudinal do remanso.

Tabela 8.5. Resolução de canais trapezoidais: Valores de K.


m
h/b 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5
0.01 0.000458 0.000461 0.000463 0.000465 0.000466 0.000467 0.000468 0.000469
0.02 0.001436 0.001455 0.001468 0.001478 0.001486 0.001493 0.0015 0.001507
0.03 0.002786 0.002843 0.002882 0.002911 0.002935 0.002957 0.002978 0.002999
0.04 0.004444 0.004567 0.00465 0.004713 0.004766 0.004815 0.004862 0.004908
0.05 0.006368 0.006589 0.00674 0.006854 0.006953 0.007044 0.007132 0.007219
0.06 0.008527 0.008882 0.009128 0.009317 0.00948 0.009631 0.009778 0.009923
0.07 0.010895 0.011428 0.011799 0.012086 0.012335 0.012568 0.012794 0.013018
0.08 0.013454 0.014209 0.014739 0.015152 0.015513 0.015851 0.01618 0.016505
0.09 0.016186 0.017212 0.017939 0.018508 0.019008 0.019478 0.019935 0.020388
0.1 0.019079 0.020428 0.02139 0.022149 0.022818 0.023449 0.024063 0.024671
0.11 0.022118 0.023845 0.025086 0.02607 0.026941 0.027764 0.028565 0.02936
0.12 0.025294 0.027457 0.029022 0.03027 0.031378 0.032425 0.033448 0.034461
0.13 0.028597 0.031257 0.033193 0.034745 0.036127 0.037436 0.038714 0.039981
0.14 0.032019 0.035237 0.037595 0.039495 0.041191 0.042799 0.04437 0.045927
0.15 0.035551 0.039393 0.042227 0.044519 0.04657 0.048517 0.05042 0.052307

117
Tabela 8.5. Resolução de canais trapezoidais: Valores de K. (cont.)
0.16 0.039188 0.043721 0.047084 0.049816 0.052266 0.054595 0.056871 0.059128
0.17 0.042922 0.048215 0.052166 0.055387 0.058282 0.061036 0.063729 0.066399
0.18 0.046748 0.052873 0.05747 0.061232 0.06462 0.067846 0.071 0.074126
0.19 0.050661 0.05769 0.062995 0.067352 0.071283 0.075027 0.07869 0.08232
0.2 0.054655 0.062664 0.068741 0.073748 0.078273 0.082586 0.086806 0.090986
0.21 0.058727 0.067791 0.074706 0.08042 0.085593 0.090526 0.095354 0.100135
0.22 0.062873 0.073071 0.080889 0.087371 0.093247 0.098853 0.10434 0.109773
0.23 0.067088 0.078499 0.087291 0.094601 0.101237 0.107572 0.113771 0.11991
0.24 0.071369 0.084074 0.093911 0.102113 0.109567 0.116686 0.123654 0.130553
0.25 0.075713 0.089795 0.10075 0.109907 0.11824 0.126202 0.133995 0.14171
0.26 0.080117 0.09566 0.107806 0.117985 0.127259 0.136125 0.144801 0.15339
0.27 0.084578 0.101666 0.11508 0.12635 0.136629 0.146459 0.156079 0.1656
0.28 0.089094 0.107814 0.122573 0.135003 0.146352 0.157209 0.167835 0.17835
0.29 0.093661 0.1141 0.130285 0.143947 0.156433 0.168381 0.180075 0.191646
0.3 0.098278 0.120525 0.138216 0.153182 0.166874 0.17998 0.192807 0.205498
0.31 0.102942 0.127088 0.146366 0.162712 0.177679 0.19201 0.206036 0.219912
0.32 0.107652 0.133787 0.154737 0.172538 0.188853 0.204477 0.21977 0.234898
0.33 0.112405 0.140621 0.163329 0.182663 0.200398 0.217387 0.234015 0.250462
0.34 0.117199 0.14759 0.172143 0.193089 0.212318 0.230743 0.248778 0.266613
0.35 0.122034 0.154693 0.181179 0.203818 0.224617 0.244552 0.264064 0.28336
0.36 0.126907 0.161929 0.190438 0.214852 0.237298 0.258818 0.279881 0.300708
0.37 0.131817 0.169298 0.199922 0.226193 0.250366 0.273546 0.296234 0.318667
0.38 0.136762 0.1768 0.20963 0.237845 0.263824 0.288742 0.313131 0.337245
0.39 0.141741 0.184434 0.219564 0.249808 0.277676 0.30441 0.330578 0.356448
0.4 0.146752 0.192199 0.229725 0.262086 0.291924 0.320555 0.34858 0.376284

Referências bibliográficas
CHOW,V.T. Open Channel Hydraulics, McGraw-Hill, New York: 1973.
NEVES, E. T. Curso de Hidráulica, 9a ed. Editora Globo, São Paulo: 1989.
MEDEIROS, P. A. Canal de Vidro de Secção Retangular, (Desenvolvimento de material didático ou
instrucional- Equipamento para Laboratório de Hidráulica), UFSC- CTC- ENS, Florianópolis, 2000.
MEDEIROS, P. A. Notas de aula da disciplina ENS 5101-Hidráulica, UFSC-CTC- ENS, Florianópolis,
2010.
MEDEIROS, P.A.; MARIN, E. M. Transporte de Sedimentos en un Canal de Fondo Fijo Liso. Revista
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PORTO, R.de M. Hidráulica Básica, EESC-USP, Projeto REENGE,1998, São Carlos.
SILVA, R. C. V. da, et al, Hidráulica Fluvial, 2 vol. COPPE / UFRJ, 2003.

118
9. MEDIÇÃO E ESTIMATIVA DE VAZÃO

Fernando Grison
Masato Kobiyama
"A água é a força motriz de toda natureza"
Leonardo da Vinci

9.1 Introdução
A medição de um fluxo d’água em um rio é uma atividade que vem sendo desenvolvida desde
os tempos de Leonardo da Vinci no século XV que realizou as primeiras medições com seu
Odômetro (aparelho usado para medir certa distância percorrida). Isso significa que naquela época
saber o comportamento de um rio já era considerado importante para o desenvolvimento da
sociedade.
O conhecimento de um regime fluvial é obtido por dados de vazão (produto da velocidade do
fluxo d’água pela área de uma determinada seção transversal). Os dados de vazão são
indispensáveis para o planejamento dos recursos hídricos, previsão de cheias, gerenciamento de
bacias hidrográficas, saneamento básico, abastecimento público e industrial, navegação, irrigação,
transporte, meio ambiente e muitos outros estudos de grande importância científica e sócio-
econômica (Ibiapina et al., 2007).
Atualmente, a determinação da vazão de um rio é feita em geral com o uso de equipamentos
convencionais ou equipamentos modernos que utilizam o princípio físico do efeito Doppler
(também chamados de aparelhos Doppler). Entre os convencionais os mais utilizados pelos

119
hidrometristas são os molinetes e micromolinetes e entre os modernos são o ADCP (Acoustic
Doppler Current Profiler) e o ADP (Acoustic Doppler Profiler).
O procedimento de medição de vazão é extremamente trabalhoso e honeroso. Por este motivo,
opta-se pelo registro dos níveis d’água (feito por sensores ou réguas de nível) em uma determinada
seção transversal do rio e determina-se uma relação entre os níveis d’água e suas vazões
correspondentes. Essa relação é denominada de curva-chave ou curva de descarga. O presente
capítulo tem por objetivo mostrar como a vazão de um rio pode ser medida e estimada com o uso de
aparelhos convencionais ou aparelhos Doppler. Além disso, a partir dos dados de nível d’água e
vazão, mostrar como uma curva-chave pode ser construída e extrapolada e qual método usar para
isso.

9.2 Hidrometria (Fluviometria)


As medições de processos hidrológicos são feitas pela hidrometria. A hidrometria é definida
como a ciência da medida e da análise das características físicas e químicas da água, inclusive dos
métodos, técnicas e instrumentação utilizados em hidrologia (Glossário de Termos Hidrológicos,
2002). É também uma das partes mais importantes da hidráulica, pois, cuida de questões tais como
medidas de profundidade, de variação do nível da água, das seções de escoamento, das pressões,
das velocidades e das vazões ou descargas (Azevedo Netto, 2003).
A fluviometria, que faz parte da hidrometria, trata das medições de vazões dos rios. A
fluviometria é composta por estações fluviométricas onde se faz as medições dos níveis de água e
vazão de um rio. As medições de níveis d’água geralmente são feitas por réguas linimétricas (réguas
de nível), linígrafos (que registram graficamente o nível d’água) ou sensores de pressão (que
medem automaticamente o nível d’água). Uma estação fluviométrica precisa ser localizada em uma
seção transversal onde seja possível se realizar medições de nível d’água e vazão tanto em baixos
como altos níveis d’água do rio. Por isso a seção transversal precisa ser representativa do rio, ou
seja, suas características geométricas que variam com o nível d’água dever ser bem definidas e de
fácil identificação. A Figura 9.1 mostra as características geométricas que são as seguintes:

 Área molhada: área da seção transversal ocupada pela água;


 Perímetro molhado: comprimento da linha de contato entre a superfície molhada e o
leito;
 Raio hidráulico: quociente da área molhada pelo perímetro molhado;
 Largura superficial: comprimento da linha horizontal da área molhada;
 Profundidade média: quociente da área molhada pela largura superficial.

120
Figura 9.1. Características geométricas de uma seção transversal. abca é área molhada; abc é o
perímetro molhado; L é largura superficial; h é profundidade; hm é profundidade média.

9.3 Medição convencional de vazão


A medição convencional de vazão geralmente é feita por molinetes ou micromolinetes
hidrométricos. Esses aparelhos medem a velocidade de um escoamento por meio de uma hélice
acoplada a um eixo que gira no sentido contrário ao fluxo mandando sinais elétricos a um contador
de rotações (Figura 9.2).

Figura 9.2. Micromolinete com contador de rotações.

A velocidade do fluxo é calculada com uma equação própria do aparelho, construída em


laboratório. Portanto, esses aparelhos vêm calibrados de fábrica.
V = ' ⋅ p +ν (9.1)
onde V é a velocidade (m.s-1); ' é o número de rotações por segundo; p é o passo da hélice; e ν é a
velocidade de atrito.
Esse tipo de medição consiste em traçar a área da seção transversal e determinar a
velocidade média do fluxo nessa seção. Medindo a largura do canal e a profundidade em diversos
pontos, formando várias verticais (chamadas verticais de profundidades) no decorrer da seção,
obtém-se a área da seção transversal. Em cada vertical, determinam-se várias velocidades em
121
diferentes profundidades correspondentes. A velocidade média em cada vertical pode ser então
determinada por métodos analíticos como o Método Detalhado (Tabela 9.1) e o Método
Simplificado (Tabela 9.2).

Tabela 9.1. Tabela de cálculo das velocidades médias pelo Método Detalhado.
Nº de Posição na vertical em Cálculo da velocidade média na vertical (m/s) Profundidade (m)
pontos relação à profundidade (m)
1 0,6p v = v0 , 6 0,15 – 0,6
2 0,2p e 0,8p v = ( v0 , 2 + v0 , 8 ) / 2 0,6 - 1,2
3 0,2p; 0,6p e 0,8p v = ( v0 , 2 + 2 v0 , 6 + v0 , 8 ) / 4 1,2 - 2,0
4 0,2p; 0,4p; 0,6p e 0,8p v = ( v0 , 2 + 2 v0 , 4 + 2 v0 , 6 + v0 , 8 ) / 6 2,0 - 4,0
S; 0,2p; 0,4p; 0,6p; 0,8p e
6 F (*) v = (v s + 2(v 0 , 2 + v 0 , 4 + v 0 , 6 + v 0 ,8 ) + v f ) / 10 > 4,0
(*) S = superfície; F = fundo
DNAEE (1977) citada por SANTOS et al., 2001.

Tabela 9.2. Tabela de cálculo das velocidades médias pelo Método Simplificado.
Nº de pontos Posição na vertical em Cálculo da velocidade Profundidade (m)
relação à profundidade (m) média na vertical (m/s)
1 0,6p v = v0,6 < 0,6
2 0,2p e 0,8p v = (v 0 , 2 + v 0 ,8 ) / 2 > 0,6

A escolha do número de verticais de profundidade deve ser tal que a vazão média em cada
vertical não ultrapasse 10% da vazão média total da seção. A Tabela 9.3 mostra algumas distâncias
recomendadas entre as verticais.

Tabela 9.3. Distâncias recomendadas entre as verticais.

Largura do canal (m) Distância entre as verticais (m)


< 3,0 0,30
3,0 a 6,0 0,50
6,0 a 15,0 1,00
15,0 a 30,0 2,00
30,0 a 50,0 3,00
50,0 a 80,0 4,00
80,0 a 150,0 6,00
150 a 250,0 8,00
> 250,0 12,00
DNAEE (1967) citada por SANTOS et al., 20010

Para fins mais práticos de anotação em campo existe uma tabela padrão de medição de
descarga líquida que facilita a organização dos dados quando se realiza uma medição com molinete.
Essa tabela está em anexo e foi adaptada da antiga Superintendência de Desenvolvimento de
Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental – SUDERHSA/ PR.

122
9.3.1 Estimativa convencional de vazão
A estimativa de vazão com dados de um molinete pode ser feita pelo método da Meia Seção
e pelo método da Seção Média.
O método da Meia Seção consiste em calcular vazões parciais de várias subseções. Isso é
feito através da multiplicação da velocidade média da vertical pela área do segmento retangular,
definido pelo produto da profundidade média pela soma das semi-distâncias às verticais adjacentes
(Santos et al., 2001) (Figura 9.3).

Figura 9.3. Esquema ilustrativo do método da meia seção.

Neste método, primeiro calcula-se a largura do segmento:


( d − d i −1 )
Li = i +1
2 (9.2)
onde Li é a largura dos segmentos (m); e d i +1 e d i −1 são as semi-distâncias às verticais (m). Após, a
área dos segmentos pode ser calculada:
ai = Li hm (9.3)
onde ai é a área dos segmentos (m²); e hm é a profundidade média dos segmentos (m). Com isso, a
vazão parcial fica:
qi = vi ai
(9.4)
-1
onde qi é a vazão parcial (m³.s ); e vi é a velocidade média na vertical (m.s). Finalmente, obtém-se
a vazão total:
QT = ∑ qi
(9.5)
-1
onde QT é a vazão total da seção (m³.s ).

O método da Seção Média consiste em calcular as vazões parciais para as subseções


formadas entre as verticais. Considera-se nas extremidades subseções triangulares e as demais
trapezoidais. A velocidade é a média aritmética das verticais (Santos et al., 2001) (Figura 9.4).

123
Figura 9.4. Esquema ilustrativo do método da seção média.

Neste método, primeiramente é calculada a velocidade média na subseção:


(v + v )
vi = i i −1 (9.6)
2
onde vi é a velocidade média na subseção (m.s-1). Após, a área dos segmentos pode ser calculada:
 h + hi −1 
a i = ( d i − d i −1 ) i  (9.7)
 2 
onde hi e hi −1 são as profundidades das verticais (m). Assim, a vazão parcial fica:

q i = vi ai (9.8)
Finalmente, com a Equação (9.5) obtém-se a vazão total.

9.4 Medição de vazão com aparelhos Doppler


Os aparelhos Doppler são aparelhos desenvolvidos para medir a velocidade das partículas
suspensas na água e por conseqüência a corrente d’água através do princípio físico do efeito
Doppler (Figura 9.5).

(a) (b)
Figura 9.5. (a) ADP modelo RiverSurveyor "Mini" System; (b) Suporte do ADP modelo RiverCat
Integrated Catamaran System.

Para esses aparelhos o efeito Doppler é a mudança na freqüência de uma onda sonora
causada por um movimento relativo entre o aparelho transmissor do som (chamado de transdutor) e
o material em suspensão na água. O material ao ser atingido por um feixe de ondas sonoras muda a
freqüência de retransmissão. Como esse material se desloca na mesma velocidade da corrente de
água, a magnitude do efeito Doppler é diretamente proporcional a essa velocidade (Filho et al,
124
1999). Portanto, para medidores de corrente Doppler, olha-se para a reflexão do som nas partículas
da água.
O aparelho Doppler transmite um pulso acústico (um ping) na coluna de água e em seguida,
escuta o regresso do som (o eco). Ao receber o eco o aparelho calcula o efeito Doppler. A Figura
9.6 mostra um esquema de como um pulso acústico é transmitido na água e as suas conseqüentes
reflexões de energia acústica (Simpsom, 2001).

Figura 9.6. Transmissão e dispersão de um pulso acústico (Simpson, 2001).

Uma grande vantagem de um aparelho Doppler é a sua rapidez na medição da velocidade da


água. Além disso, mede muito mais pontos em uma seção transversal de um rio do que
instrumentos convencionais, como molinetes. Também possuem a facilidade de comunicar-se
diretamente com microcomputadores, transferindo os dados de velocidade em tempo real e
calculando a vazão automaticamente por softwares específicos. Por outro lado, uma grande
desvantagem é o alto custo de aquisição.
A medição de vazão com um aparelho Doppler pode ser comparada a uma medição
convencional com um conjunto de molinetes colocados em uma seção vertical (Figura 9.7). A
velocidade de cada um dos molinetes corresponde a um ponto e com o aparelho Doppler a
velocidade será a média das velocidades para cada uma das células do feixe de ondas sonoras
emitidas. Portanto, cada célula tem sua extensão determinada pela velocidade de navegação do
aparelho e pela velocidade de processamento dos dados, aproximadamente 0,5 segundo. Assim,
pode-se dizer que a principal diferença das medições dos aparelhos Doppler para os convencionais
é que as feitas por Doppler são muito mais detalhadas. Além disso, a trajetória do aparelho Doppler
não precisa ser perpendicular à seção de medição (Gamaro, 2007).

125
Figura 9.7. Analogia de uma medição de vazão convencional para uma medição com efeito
Doppler.

9.4.1 Estimativa de vazão com aparelho Doppler


Em geral, a estimativa da vazão total é realizada automaticamente por softwares específicos
desenvolvidos pelos próprios fabricantes dos aparelhos. Esses softwares coletam os dados do
aparelho, exibem-os em tempo real e armazenam-os em arquivos específicos permitindo um
processamento e análise posterior às medições. A Figura 9.8 mostra o Layout do software
RiverSurveyor 4.6 desenvolvido pela empresa Sontek. É preciso ressaltar que hoje em dia já existem
aparelhos que fazem todo o processamento dos dados, não necessitando de software.

Caminho percorrido pelo ADCP

Seção medida pelo ADCP

Figura 9.8. Layout do Riversurveyor versão 4.6.

126
9.4.2 Áreas não medidas pelos aparelhos Doppler
Em uma seção de medição existem áreas que não são medidas pelos aparelhos Doppler.
Essas áreas geralmente são aquelas próximas ao aparelho, próximas do leito e nas margens do rio.
Em frente ao transdutor (emissor do pulso acústico) há um espaço reservado para emitir e receber o
feixe sonoro. Nessa pequena região o aparelho não consegue medir, e por isso é chamada de
blanking region. Isto permite aos transdutores recuperar eletronicamente o pulso transmitido e
preparar para receber o retorno do sinal. Na área do fundo as ondas sonoras se espalham numa
vertical formando um feixe paralelo, chamado “side lobe”. O “side lobe” possui uma energia muito
fraca que não produz ruído considerável e por isso chega ao fundo primeiro. Ao encontrar uma boa
superfície para reflexão ele contamina o espaço perto do leito, impedindo a leitura de dados. As
áreas não medidas nas margens são devido à baixa profundidade da coluna de água (SONTEK,
2000).

9.4.3 Diferenças entre os aparelhos Doppler ADCP e ADP


Atualmente as grandes empresas produtoras dos aparelhos Doppler são a RD Instruments e a
SonTek/YSI. A RD Instruments produz o ADCP e a SonTek/YSI o ADP. Esses dois aparelhos
medem a velocidade de um fluxo baseados no mesmo princípio, o efeito Doppler. Porém existe
uma grande diferença entre eles que ocorre no processamento do sinal dos pulsos acústicos. O
ADCP emite os pulsos acústicos na forma de feixes de ondas com bandas largas (BroadBand). O
ADP na forma de bandas estreitas ('arrowBand). Segundo Gamaro (2007), as bandas estreitas, por
terem seu feixe mais estreito, possuem maior desvio padrão por pulso. Mas em compensação seus
pulsos são processados mais facilmente, emitidos mais rapidamente e possuem maior alcance (com
relação à bandas largas de mesma freqüência). Assim, as bandas estreitas compensam o grande
desvio padrão por pulso com maior numero de pulsos (ou amostras) o que promove um maior
detalhamento das velocidades na seção de medição. Como o desvio padrão da medição é dado pela
razão entre desvio padrão da velocidade de todos os pulsos pela raiz quadrada do número de pulsos
ocorre uma melhora do desvio padrão da medição.
Existem vários modelos de ADCPs e ADPs. Cada um deles mede diferente faixa de
profundidade e velocidade. O mais correto ou ideal para se fazer uma determinada medição de
vazão depende de critérios como profundidade máxima a ser medida, velocidade máxima a ser
medida, largura do rio, entre outros. É importante sempre ter claro objetivo, a finalidade da
medição, o que vai ser feito com os dados de vazão, pois isso pode auxiliar na escolha do aparelho.

9.5 Curva-chave
Em uma seção transversal de um curso d’água, a relação que existe entre a vazão e a altura
da lâmina d’água (cota) é uma função denominada de curva de descarga, ou curva-chave. Essa
função é muito complexa e envolve características geométricas da seção transversal considerada e
características hidráulicas do canal. É importante ressaltar que essa relação de cota com vazão é
específica para uma única determinada seção, não valendo para um trecho do rio o qual inclui a
seção considerada (Jaccon e Cudo, 1989).
A representação de uma curva-chave é feita de tres formas: gráfica, matemática e por tabela.
Um exemplo da forma gráfica pode ser vista na Figura 9.9 que mostra a curva-chave da Bacia do
127
Campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em Florianópolis. Matematicamente a
representação de uma curva-chave pode ser feita em geral de duas formas: exponencial (ou
potencial) e polinomial (Equações 9.9 e 9.10 respectivamente).

Q = a (h − h0 ) n (9.9)
Q = a0 + a1h + a2 h 2 + ... + am h n (9.10)

onde Q é a vazão (m³.s-1); h é a altura da lâmina de água correspondente à vazão Q (m); h0 é a altura
da lâmina de água correspondente à vazão nula (m); e a, a0, a1, a2 e am são coeficientes
característicos da estação calculados por regressão linear. O coeficiente n será aquele que fornecer a
melhor regressão linear representado através do coeficiente de determinação r² que indica a
porcentagem da variância explicada pelo ajuste da curva.
A representação de uma curva-chave na forma de tabela nada mais é do que uma simples
tabela de cota-vazão, em que estão todos os resultados das vazões correspondentes as cotas de
interesse. É uma forma prática de se usar uma curva-chave.

1.8
1.6
1.4
1.2
Cota (m)

1
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 5 10 15 20
Vazão (m³/s)

Figura 9.9. Curva-chave da bacia do campus da UFSC.

9.5.1 Traçado e extrapolação das curvas-chave


Segundo Filho (2003), a interpretação e análise das curvas-chave devem considerar todas as
informações disponíveis, pesquisando-se históricos e relatórios de inspeção, alterações da posição
das réguas e das seções transversais, e possíveis mudanças das condições de escoamento nas
proximidades das estações.
Depois de traçada a curva-chave precisa ser extrapolada. Extrapolar uma curva-chave
significa complementar o traçado da relação cota-vazão nas regiões de cotas observadas em que não
foi possível medir a vazão. Para essa atividade é necessário conhecimento do comportamento dos
parâmetros geométricos e hidráulicos para os mesmos intervalos de cotas. Resumindo, extrapolar é

128
interrogar-se sobre como variam as características geométricas de uma seção durante a continuidade
de um escoamento (Jaccon e Cudo, 1989).
Existem muito métodos de extrapolação de curvas de descarga. O principal cuidado que se
deve ter ao utilizá-los é diferenciá-los em relação ao nível de água. Uns são aplicados em médios e
altos níveis de água e outros em baixos. A seguir, se encontra a descrição dos principais métodos
utilizados no Brasil.

9.5.1.1 Extrapolação em médios e altos níveis de água

(i) Método logarítmico


Segundo Jaccon e Cudo (1989), esse método considera que se a curva-chave, pelo menos no
trecho superior, é do tipo exponencial, ela obedece a seguinte equação:

Q = a (h − h0 ) n (9.11)
onde h é a cota para vazão Q (m); e h0 é a cota para uma vazão inicial Q0 (m).
Para extrapolar a curva, faz-se uma regressão linear do conjunto das medições para se
descobrir os parametros a e n e consequentemente a equação da curva. Com essa equação gera-se as
vazões para as cotas superiores de interesse até a cota máxima observada em uma determinada
enchente histórica. O mais importante nessas extrapolações superiores é obter um bom alinhamento
dos pontos (Jaccon e Cudo, 1989).
Sempre que a seção linimétrica de um canal estiver sob controle hidráulico (características
geométricas invariáveis, sempre com a mesma vazão para a mesma cota) o método logarítmico
costuma dar bons resultados. Caso contrário, as mudanças nas condições de controle acarretam
muitos e graves erros. Por isso, esse método não é aplicável para baixas vazões, pois, nessas
condições a geometria da seção pode sofrer grandes mudanças (Santos et al., 2001).

(ii) Método de Stevens


O método de Stevens utiliza a fórmula de Chezy (Equação 9.12). Só se aplica esse método
em casos de escoamentos pseudo-uniformes (quase uniformes), seções estáveis e com um número
de medições alinhadas (Jaccon e Cudo, 1989). Além disso, é adequado para rios largos, onde o raio
hidráulico pode ser considerado igual à profundidade média.

Q = cA RI (9.12)
onde c é o coeficiente de Chezy, variável em função do raio hidráulico e da natureza do leito
(m1/2.s-1/2); A é a área molhada (m²); R é o raio hidráulico (m); e I é a declividade superficial (m.m-
1
).
Nesta equação, A R e c I representam o fator geométrico da seção (que pode ser obtido
por levantamentos topobatimétricos) e o fator de declividade, respectivamente. Se c I é constante
na Equação (9.12), Q A R também é constante. Isso significa que a função A R = f (Q ) é
graficamente uma reta que passa pela origem. Dessa forma, essa reta pode ser prolongada até o fator
geométrico equivalente ao nível máximo observado.

129
É preciso ressaltar que para aplicar o método de Stevens, além do escoamento ser quase
uniforme, é necessário também ter um perfil estável ou um número suficiente de medições
alinhadas.
Uma vantagem desse método é que ele não depende das velocidades medidas e por isso nas
medições de vazão não há necessidade da seção de medição ser sempre a mesma (Sefione, 2002).

(iii) Método das fórmulas hidráulicas de escoamento


Existem muitas fórmulas na hidráulica, que podem ser aplicadas para extrapolar um curva-
chave. As mais utilizadas são as que possibilitam a extrapolação da curva por meio do cálculo da
curva de remanso, a partir de um controle hidráulico. O remanso pode ser calculado partindo-se de
uma soleira (corredeira) até um salto mais a jusante, ou também observando a curva em uma ponte
(Jaccon e Cudo, 1989). A Fórmula de Aubuisson é a mais aplicada nesse tipo de método, isto é:

Q = K . A 2 gy + α V − ∆h (9.13)
onde K é o coeficiente adimencional tabelado e varia de 0,5 à 1; g é a aceleração gravitacional (=
9,81 m/s²); y é o abaixamento da linha d’água no remanso (m); α é o coeficiente de repartição das
velocidades da seção; e ∆h é a perda de carga por atrito.

9.5.1.2 Extrapolação em baixos níveis de água


(i) Método da superfície molhada e velocidade média
Nesse método considera-se a variação da cota (h) em função da área molhada (A) e da
− −
velocidade média do escoamento ( V ). Para isso, plota-se as curvas h(A) e h( V ) em um mesmo

sistema de eixos, com escalas apropriadas. A extrapolação é feita na curva h( V ) prolongando-se a

extremidade inferior até a cota nula. Dessa forma, o produto de A por V no trecho extrapolado
resulta na vazão para cotas não medidas (Jaccon e Cudo, 1989).

9.5.2 Determinação das incertezas nas extrapolações


Depois de traçada e extrapolada a curva-chave deverá ser confirmada. Para isso, é necessária
uma rigorosa análise de suas incertezas, erros que podem conduzir a uma idéia totalmente fora das
condições naturais de comportamento das vazões de um rio.
As incertezas podem surgir de várias formas: incerteza da medição, incerteza devido ao
aparelho de medição, incerteza do método de traçado e do método de extrapolação da curva-chave,
incerteza devido à seção inapropriada, etc. Para tentar minimizar e até eliminar muitas dessas
incertezas pode-se construir um gráfico da curva juntamente com as diferentes extrapolações
(Figura 9.10).

130
Figura 9.10. Gráfico típico de curva-chave com extrapolações (linhas pontilhadas).

Para verificar a melhor extrapolação serão realizadas medições diretas em pontos de baixas e
elevadas vazões, a fim de confirmar o método mais adequado.

9.6 Considerações finais


O uso de aparelhos Doppler e convencionais nas medições de vazão é muito importante para
o gerenciamento dos recursos hídricos, pois os dados medidos são dados primários que formam a
base das conclusões dos estudos hidrológicos. Segundo Grison (2008) o aparelho Doppler se mostra
uma ferramenta muito eficiente no processo de construção de uma curva-chave. Isso se deve
principalmente pela facilidade de se medir um evento de extrema vazão com esse aparelho. O
equipamento possui um sistema de resposta muito mais rápido do que o método tradicional do
molinete. Porém, sempre que possível, é interessante utilizar os dois métodos numa mesma seção de
medição e comparar seus resultados. Isso aumenta a segurança dos valores das vazões e
conseqüentemente da curva-chave.
A construção e extrapolação de uma curva-chave a partir dos dados de nível d’água e vazão
é um processo muito importante para o entendimento das variações das vazões de um rio. Por isso,
os métodos de extrapolação precisam ser os mais adequados possíveis ao local das medições. Além
disso, a confirmação das extrapolações tanto nas cotas superiores como inferiores são necessárias
para a confiabilidade da curva-chave.
A preservação dos pequenos mananciais deve ser encarada como prioridade pelas políticas
de preservação ambiental. Para isso, a tecnologia Doppler pode ser fundamental. Com a facilidade,
rapidez e qualidade nas medições de vazão, os aparelhos Doppler contribuem com a rápida
execução dos projetos que objetivam contribuir com o gerenciamento dos sistemas de
abastecimento de água (Grison et al., 2008).

131
Referências bibliográficas
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FILHO, D.P.; SANTOS, I. dos; FILL, H.D. ; Sistema de Ajuste e Extrapolação de Curva de
Descarga – Stevens. In: Anais do XV Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Curitiba – Paraná,
23 a 27 de novembro de 2003.
FILHO, G.L.T.; VIANA, A.N.C.; CAETANO, G.T.; SANTOS, R.M. O Uso do Adcp em Pequenos
e Médios Cursos D’água. In: Grupo de trabajo sobre hidromecânica - 5ª Reunião, Montevidéu –
Uruguai, 1999. 10p.
GAMARO, P. E. III Curso de Medidores de Vazão Acústica Doppler, de 05 a 09 de novembro de
2007, Foz do Iguaçu-PR. Apostila Módulo Básico, Revisão 1.0, 2007.
GLOSSÁRIO DE TERMOS HIDROLÓGICOS, Versão 2.0.1, Agência Nacional das Águas
(ANA), 2002.
GRISON, F.; Uso do ADCP como ferramenta de apoio no traçado e extrapolação de curva-chave
na bacia hidrográfica do Rio Cubatão do 'orte. Florianópolis: UFSC/CTC/ENS, Monografia
(Trabalho de Conclusão de Curso em Engenharia Sanitária e Ambiental), 2008a. 46p.
GRISON, F.; KOBIYAMA, M,; SANTOS, I.; CUNHA, H. D. Uso do ADCP para construção de
curva-chave. In: VII Simpósio Nacional de Geomorfologia e II Encontro Sul-Americano de
Geomorfologia (2008: Belo Horizonte) Belo Horizonte: UFMG, Anais, 2008. 11p. CD-rom.
IBIAPINA, A.V.; FERNANDES, D.; CARVALHO, D.C.; OLIVEIRA, E.; SILVA, M.C.A.M.;
GUIMARÃES, V.S. Evolução da hidrometria no Brasil. Agencia Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL), 2007. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/srh/acervo/publica/doc/oestado/texto/121-138.html. Acesso em:
agosto de 2007.
JACCON, G.; CUDO, K.J. (1989). Curva-chave: análise e traçado, Brasília, DNAEE, 1989. 273p.
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SONTEK. “Acoustic Doppler Profiler”. Technical Documentation: 2000.
SEFIONE, A. L.; “Estudo comparativo de métodos de extrapolação superior de curvas-chave”.
UFRGS - Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, Porto
Alegre, 2002, Dissertação de mestrado, 240p.

132
A
EXO

LABORATÓRIO DE HIDROLOGIA MEDIÇÃO DE DESCARGA LÍQUIDA

Código: Estação: Rio:


Data N° Medição Cota Média Vazão (m³/s) Área (m²) Largura (m) Prif. Méd. (m) V. Méd. (m/s)

Molinete: Hélice: Marca: Root/Toque: Aferido em:

Equação:

SM Cota Início Fim Período às Tipo de Medição


Vau Barco Ponte
PI-NA NA-PF Início Verticais Equipe
ME MD
Vert. DISTÂNCIA LARGURA PROFUND. POS.MOL. TOQUE TEMPO VELOC. VEL.MÉDIA ÁREA VAZÃO

133
10. EVAPOTRA
SPIRAÇÃO

Masato Kobiyama
Pedro Luiz Borges Chaffe
Cláudia Weber Corseuil
Patrícia Kazue Uda

10.1. Conceitos
O ciclo hidrológico consiste na troca constante de água entre a superfície terrestre e a
atmosfera. A água chega até a superfície através da precipitação. E o componente responsável por
abastecer a atmosfera de água é a vaporização da água da superfície. Toda água que retorna a
atmosfera passa a ficar indisponível para outros usos pelo menos temporariamente (seja água que
escoaria superficialmente ou abasteceria um aqüífero subterrâneo). Estudos de evaporação são,
portanto, essenciais para o planejamento de atividades agrícolas (ex. lagos para irrigação),
abastecimento de água, operação de barragens para geração de energia e até mesmo para usos
relacionados à recreação.
Algumas definições são usadas em hidrologia para os diferentes aspectos da transformação
de água para sua forma de vapor:

Evaporação: o conjunto dos fenômenos físicos que transformam em vapor a água da


superfície do solo, interceptada pelas plantas, dos cursos de água, lagos, reservatórios e mares.
Transpiração: a evaporação devida à ação fisiológica dos vegetais. As plantas, através de
suas raízes, retiram do solo a água para suas atividades vitais e transpiram pelos estômatos.
Evapotranspiração (evapo(transpi)ração; evaporação + transpiração,): o conjunto de
processos físicos e fisiológicos que provocam a transformação da água precipitada na superfície da
Terra em vapor. Esse termo é bastante usado devido à dificuldade de separação da evaporação e da
transpiração tanto nos cálculos como na medição.
Evapotranspiração potencial (ideal): o total de água transferido para a atmosfera por
evaporação e transpiração, de uma superfície extensa, coberta por vegetação e não sendo limitado
pela disponibilidade de água.
Evapotranspiração real (atual): a perda de água para a atmosfera por evaporação e
transpiração, nas condições atmosféricas e de umidade do solo existentes. Conceitualmente a
evapotranspiração real não pode exceder a evapotranspiração potencial.

10.2 Fatores intervenientes


A transformação de água líquida em vapor é um fenômeno físico. Quando na forma líquida,
a água mantém o volume devido a forças de atração entre as moléculas. Portanto, para que as
moléculas de água escapem do volume líquido em forma de vapor elas precisam de energia
suficiente para superar essa força de atração. Além disso, é necessário que exista algum mecanismo
que retire as moléculas da interface água–ar e previna que essas moléculas condensem novamente.

134
No ambiente natural, a evaporação depende basicamente de fatores meteorológicos e físicos,
que podem ser resumidos em:
• Disponibilidade de água;
• Radiação solar;
• Umidade relativa do ar;
• Pressão atmosférica;
• Vento;
• Temperatura do ar e água;
• Forma e profundidade da superfície livre da água;
• Salinidade da água.

A evaporação somente ocorrerá se existir água disponível, a disponibilidade de água é o


fator limitante principal de todo o processo. Em regiões de deserto, de nada adianta a
evapotranspiração potencial ser alta enquanto a real pode ser ou estar muito próxima de zero.
Radiação solar: Uma parte da radiação solar que chega na terra é refletida pela atmosfera e
superfície. A razão entre a radiação refletida e radiação incidente é chamada de albedo. A outra
parte dessa energia será absorvida e transformada em calor. Portanto quanto maior a radiação solar
incidente, maior a quantidade de energia disponível para a evaporação.
Umidade relativa do ar atmosférico: Quanto maior for a quantidade de vapor de água no ar
atmosférico, tanto maior o grau de umidade e menor a intensidade da evaporação. Segundo a lei de
Dalton, E ∝ po − pa , onde E é a intensidade de evaporação; po é a pressão de saturação do vapor de
água à temperatura da água; pa é a pressão do vapor de água presente no ar atmosférico.
O ar é menos denso em lugares com pressão atmosférica menor, ou seja, existe menos
moléculas de ar em um determinado volume. Devido a essa menor quantidade de moléculas, a
evaporação aumenta com a diminuição da pressão atmosférica. A pressão atmosférica varia
inversamente com a altitude (maior altitude, menor pressão), é por isso que a água ferve a
temperaturas mais altas ao nível do mar do que quando comparado a lugares de grande altitude.
Vento: Ele modifica a camada de ar vizinho a superfície, substituindo uma camada muitas
vezes saturada por uma com menor teor de vapor da água. Portanto, quanto maior a intensidade do
vento, maior a intensidade de evaporação.
Temperatura: A elevação da temperatura tem influencia direta na evaporação, pois eleva o
valor da po (Tab. 10.1). Quanto maior a temperatura do ar, mais vapor de água pode ser retido e
ainda quanto maior a temperatura da água, mais rápido ela evapora.

Tab. 10.1. Variação de p0 com a temperatura.


Temperatura (oC) po (atm) Temperatura (oC) po (atm)
0 0,0062 25 0,0322
5 0,0089 30 0,0431
10 0,0125 35 0,0572
15 0,0174 40 0,0750
20 0,0238

Forma e profundidade: A forma da superfície livre da água pode influenciar nos padrões de
vento e, por conseguinte na evaporação. No caso da profundidade, águas mais profundas tem uma
maior estabilidade quanto a mudanças no clima pela capacidade de armazenamento de energia ao
longo da coluna de água. Portanto, enquanto em estações quentes superfícies mais rasas podem
135
evaporar mais, em estações muito frias pode ser que superfícies mais profundas evaporem mais
água devido à energia armazenada durante a época quente.
Salinidade da água: A intensidade da evaporação reduz-se com o aumento do teor de sal na
água. Isso acontece porque o sal na água não está exatamente na forma sólida. Ele se dissolve em
íons com cargas elétricas que atraem moléculas de água, o que aumenta a energia necessária para
evaporação. No caso do cloreto de sódio (sal de cozinha), o íon de cloro (carga negativa) é atraído
ao hidrogênio da molécula de água; o íon de sódio (carga positiva) é atraído pelo átomo de
oxigênio.
Todos esses fatores meteorológicos influenciam a capacidade de transpiração das plantas,
pois está diretamente ligada a evaporação da água. É a maneira que a planta consegue manter o
balanço térmico nas folhas. A transpiração ainda depende da idade e espécie das plantas, que
determinam tipo de raiz, folha e fases de crescimento, e também da água disponível no solo para
absorção das raízes.
Como as condições meteorológicas dependem da altitude, latitude e longitude da região e
variam ao longo dos dias e também sazonalmente. Regiões perto do equador têm o números de
horas de sol mais uniformes durante todo o ano e estações menos definidas que regiões de maiores
latitudes. A evaporação depende, por conseguinte, da hora do dia, da época do ano e da região de
estudo. A Figura 10.1 mostra a variação mensal da Evapotranspiração potencial calculada para a
região de Rio Negrinho – SC. A Figura 10.1 mostra ainda como a vazão estimada poderia variar de
acordo com a precipitação e evapotranspiração potencial calculada.
A evapotranspiração potencial diária calculada pode ser transformada em para estimativa de
valores horários ou com maior resolução temporal. A Figura 10.2 mostra um exemplo onde se
considerou uma evaporação potencial diária de 1 mm. Supôs-se que a evaporação segue uma função
senoidal nas horas de sol (06h00min às 18h00min h) e corresponde a 90% da evaporação total. Nas
horas sem sol (00h00min às 06h00min e 18h00min às 00h00minh) a evaporação é uniforme e seu
total corresponde a 10% da evaporação potencial diária.

225 ETp
ETp, Precipitação, Vazão (mm/mês)

200 Precipitação

175 Vazão Estimada

150

125

100

75

50

25

0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Mês

Figura 10.1. Comportamento mensal da evapotranspiração potencial, precipitação e vazão


estimada, para a região de Rio Negrinho – SC. (Chaffe & Kobiyama, 2006)

136
0.12

0.1

Evaporação Potencial (mm ⋅ h-1)


0.08

0.06

0.04

0.02

0
00:00 06:00 12:00 18:00 00:00
Tempo (h:min)

Figura 10.2. Exemplo de suposta distribuição da Evaporação potencial ao longo de um dia (24 h)
com 12 horas de sol.

10.3. Medição
10.3.1. Tanques de Evaporação
Tanque de evaporação é um tipo de evaporímetro que mede a evaporação da superfície da
água. Existem diversos tipos de tanque: enterrados, superficiais, com base de concreto ou metal e de
forma cilíndrica ou cônica. O mais conhecido deles é o Tanque Classe A do U.S. Weather Bureau
(Fig. 10.3). Normalmente é colocado em uma área gramada sobre um pallet de madeira (10 – 20 cm
acima do solo) quando seu propósito é estimar a evapotranspiração. É um tanque cilíndrico feito de
aço galvanizado com de 122 cm de diâmetro e 25,4 cm de profundidade. As leituras de variação do
nível podem ser feitas com auxílio de uma régua ou parafuso micrométrico em forma de gancho
(Figura 10.3c) e recomenda-se que seja operado com o nível de água de 5 – 7,5 cm da borda
superior. O parafuso micrométrico deve ficar dentro de um poço tranqüilizador para evitar
turbulência na hora da leitua (Figura 10.3d). A estação padrão deve ser acompanhada de
anemômetro e termômetro. Este método de medição é direto e a evaporação do tanque em um
determinado intervalo de tempo é dada por:

E = h0 − h (10.1)
onde E é a evaporação total no intervalo de tempo; h0 é a leitura no tempo inicial e h é a leitura no
tempo final. As leituras geralmente são feitas em mm, assim, a unidade da evaporação também é
mm.

137
(a) (b)

(c) (d)

Figura 10.3. Tanque Classe A. (a)Tanque em cima de pallet visto de perspectiva. (b) Tanque visto
de cima. (c) Parafuso micrométrico com ponta em forma de gancho. (d) Parafuso micrométrico
dentro de poço tranquilizador.

As condições de evaporação dentro do tanque são diferentes daquelas de evapotranspiração


real de uma superfície vegetada ou ainda a superfície de um lago. Sabe-se que as condições variam
conforme tipo de vegetação, condições climáticas e inclusive dependendo do ambiente em que o
tanque se encontra. Em um lago profundo, por exemplo, parte da energia que poderia ser usada para
evaporação da água na superfície é armazenada com a transferência de calor e conseqüente aumento
da temperatura de camadas mais profundas. Portanto, para estimar a evaporação de uma
determinada superfície através do uso de tanques de evaporação, deve-se fazer estudos de
correlação e assim achar razões entre evapotranspiração e evaporação no tanque. No caso de lagos e
tanques instalados no mesmo local, alguns estudos mostram que se deve fazer um ajuste com o
coeficiente de correção de 0,7 a 0,8 (comum 0,7), ou seja, o tanque superestima a evaporação.

10.3.2. Balanço hídrico


Devido à dificuldade de medir diretamente a evapotranspiração, muitas vezes opta-se por
monitorar outras variáveis hidrológicas e calcular a evapotranspiração de maneira indireta. Assim
deve-se determinar um sistema e medir as entradas e saídas do mesmo, através de um balanço de
massa é possível achar a evapotranspiração. Esse método é chamado de balanço hídrico e em sua
forma mais simples consiste em medir a chuva (entrada do sistema) e a vazão (saída), a

138
evapotranspiração é a diferença entre a entrada e a saída, o sistema considerado em estudos
hidrológicos geralmente consiste da bacia hidrográfica. Para esse caso:

ET = P − Q (10.2)
onde E é a evapotranspiração; P a chuva; e Q a vazão. Outro sistema que pode ser considerado para
se fazer o balanço hídrico pode ser um volume de solo explorado por plantas (Figura 10.4) (Pereira
et al., 1997).

Figura 10.4. Esquema de balanço hídrico em uma cultura agrícola.

Neste caso, usa-se:

P + I − ET − RO − DP + AC = ∆At (10.3)
onde P é a precipitação; I é a irrigação; ET é a evapotranspiração real; RO é o escoamento direto
(runoff); DP é a drenagem profunda; AC é a ascensão capilar; ∆AL é a variação do armazenamento
de água na camada do solo de estudo. A Figura 10.5 mostra alguns componentes do balanço hídrico
de quatro bacias hidrográficas determinados através do uso de um modelo hidrológico de chuva-
vazão HYCYMODEL. Com esse modelo calibrado também é possível separar os componentes da
evapotranspiração (Figura 10.6).

139
100% 2% 6% 4% 6%

80%
51% 42% 50% 49%
60% dS
10% E
6% 4%
40% 11% Qd
Qb
20% 40% 42% 41%
35%

0%
Fragosos Avencal Rio Preto Rio Negro
Figura 10.5. Balanço hídrico de quatro bacias usando o modelo HYCYMODEL (Qb = escoamento
de base; Qd = escoamento direto; E = evapotranspiração real; e dS = armazanamento de água no
solo). (Kobiyama et al, 2009)

900 Ec
Ei
800
Et
Evapotranspiration (mm/year)

700

600

500

400

300

200

100

0
77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94
Year

Figura 10.6. Componentes da evapotranspiração da bacia do rio Cubatão-Sul para os anos de 1977
a 1994 (Et = transpiração, Ei = evaporação por interceptação, Ec = evaporação de canal).
(Kobiyama e Chaffe, 2008)

10.3.3. Lisímetro
É um equipamento que consiste de uma caixa impermeável, contendo um volume de solo e
que permite conhecer com detalhe alguns termos do balanço hídrico do volume amostrado (Figura
10.7).

140
Figura 10.7. Representação esquemática de um lisímetro.

10.3.4. Medição da transpiração


Fitômetro: O fotômetro fechado consiste em um recipiente impermeável contendo terra para
alimentar a planta. A tampa do fitômetro evita a entrada da água da chuva e a evaporação da água
existente no solo, só permitindo a perda pela transpiração do vegetal. Este método só pode ser
realizado no caso de plantas de pequeno porte.
Potômetro: É um aparelho que mede a transpiração de cada folha.
Método de Heat-pulse: É uma técnica que mede a velocidade do fluxo da água no tronco.
(Figuras 10.8, 10.9 e 10.10).

141
Figura 10.8. Equipamentos para aplicação do método Heat-Pulse.

Figura 10.9. Resultados do uso da técnica Heat-pulse.

142
Figura 10.10. Gráfico de transpiração pela velocidade do Heat-pulse.

10.4 Estimativa
Existem diversos métodos para estimar evapo(transpi)ração potencial e real. A Figura 10.11
mostra a comparação entre 6 métodos diferentes, sendo que dois deles (Water Budget e com o
modelo HYCYMODEL) calculam evapotranspiração real e os outros a potencial. Neste capítulo são
apresentados dois dos métodos que vêm sendo comumente utilizados: Thornthwaite e Penman.

250
THORNTHWAITE
BLANEY & CRIDDLE
PENMAN
200
HAMON
WATER BUDGET
ETP (mm/month)

150 HYCYMODEL

100

50

0
Jan. Feb. Mar. Apr. May Jun. Jul. Aug. Sep. Oct. Nov. Dec.
Month

Figura 10.11. Comparação da evapotranspiração calculada para a bacia do rio Cubatão-Sul com
dados de 1977-1994 através de 6 métodos diferentes. (Kobiyama e Chaffe, 2008)

10.4.1. Método de Thornthwaite


Dados necessários: apenas a temperatura média mensal do ar
Parâmetro obtido (estimado): Evapotranspiração potencial média mensal para um mês de 30
dias e cada dia tem 12 horas de fotoperíodo (insolação diária).

143
a
 10 ⋅ Ti 
ETP = 16 ⋅   (10.4)
 I 
1,514
12
 Ti 
I = ∑  (10.5)
i =1  5 

a = 6,75 ⋅ 10−7 ⋅ I 3 − 7,71 ⋅ 10−5 ⋅ I 2 + 1,7912 ⋅ 10−2 ⋅ I + 0,49239 (10.6)


onde ETP é a evapotranspiração potencial média mensal não ajustada (mm/mês); Ti é a
temperatura média mensal (oC); I é o índice de calor; a é um coeficiente. O subscrito i representa o
mês do ano, por exemplo i = 1 para jan.; i = 2 para fev.; etc.).
Para estimar a ETP para um mês de ND dias e fotoperíodo médio mensal N horas, deve-se
fazer uma simples correção.
' 'D
ETPcorrigido = ETP ⋅ ⋅ (10.7)
12 30

A Tabela 10.2 apresenta valores de ' correspondentes ao 15º dia de cada mês em função da
latitude local. Normalmente assume-se que o 15º dia representa a média mensal para '.

Tabela 10.2. Duração máxima da insolação diária ('), em horas, nos meses e latitude de 10ºN a
40ºS. Os valores correspondem ao 15º dia de cada mês.
Latitude Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
ov Dez
10oN 11,6 11,8 12,1 12,4 12,6 12,7 12,6 12,4 12,2 11,9 11,7 11,5
8oN 11,7 11,9 12,1 12,3 12,5 12,6 12,5 12,4 12,2 12,0 11,8 11,6
6oN 11,8 11,9 12,1 12,3 12,4 12,5 12,4 12,3 12,2 12,0 11,9 11,7
4oN 11,9 12,0 12,1 12,2 12,3 12,4 12,3 12,2 12,0 12,0 11,9 11,9
2oN 12,0 12,0 12,1 12,2 12,2 12,2 12,2 12,2 12,1 12,1 12,0 12,0
Equador 12,1 12,1 12,1 12,1 12,1 12,1 12,1 12,1 12,1 12,1 12,1 12,2
2o S 12,2 12,1 12,1 12,1 12,0 12,0 12,0 12,0 12,1 12,1 12,2 12,2
4o S 12,3 12,2 12,1 12,0 11,9 11,8 11,9 12,0 12,1 12,2 12,3 12,4
6o S 12,4 12,3 12,1 12,0 11,9 11,7 11,8 11,9 12,1 12,2 12,4 12,5
8o S 12,5 12,4 12,1 11,9 11,7 11,6 11,7 11,9 12,1 12,3 12,5 12,6
10oS 12,6 12,4 12,1 11,9 11,7 11,5 11,6 11,8 12,0 12,3 12,6 12,7
12oS 12,7 12,5 12,2 11,8 11,6 11,4 11,5 11,7 12,0 12,1 12,7 12,8
14oS 12,8 12,6 12,2 11,8 11,5 11,3 11,4 11,6 12,0 12,1 12,8 12,9
16oS 13,0 12,7 12,2 11,7 11,4 11,2 11,2 11,6 12,0 12,1 12,9 13,1
18oS 13,1 12,7 12,2 11,7 11,3 11,1 11,1 11,5 12,0 12,5 13,0 13,2
20oS 13,2 12,8 12,2 11,6 11,2 10,9 11,0 11,4 12,0 12,5 13,2 13,3
o
22 S 13,4 12,8 12,2 11,6 11,1 10,8 10,9 11,3 12,0 12,6 13,2 13,5
24oS 13,5 12,9 12,3 11,5 10,9 10,7 10,8 11,2 11,9 12,6 13,3 13,6
26oS 13,6 12,9 12,3 11,5 10,8 10,5 10,7 11,2 11,9 12,7 13,4 13,8
28oS 13,7 13,0 12,3 11,4 10,7 10,4 10,6 11,1 11,5 12,0 12,5 13,0
30oS 13,9 13,1 12,3 11,4 10,6 10,3 10,4 11,0 11,9 12,8 13,6 14,1
32oS 14,0 13,2 12,3 11,3 10,5 10,0 10,3 10,9 11,9 12,9 13,7 14,2
34oS 14,2 13,3 12,3 11,3 10,3 9,8 10,1 10,9 11,9 12,9 13,9 14,4
36oS 14,3 13,4 12,4 11,2 10,2 9,7 10,0 10,7 11,9 13,0 14,0 14,6
o
38 S 14,5 13,5 12,4 11,1 10,1 9,5 9,8 10,6 11,8 13,1 14,2 14,8
40oS 14,7 13,6 12,4 11,1 9,9 9,3 9,6 10,5 11,8 13,1 14,3 15,0
Dados interpolados da Tabela meteorológica de Smithsonian. 6a edição. 1951 - Quadro 171

144
[Exemplo]
Dados: Num local (22º42´S), a temperatura (ºC) média mensal ao longo do ano é: jan = 24,0;
fev = 24,7; mar = 23,9; abr = 21,1; mai = 17,6; jun = 16,8; jul = 17,2; ago = 18,9; set = 20,3; out =
22,2; nov = 22,9; dez = 23,8; média anual = 21,1.

1, 514 1, 514 1, 514 1, 514


12
 Ti   24   24,7   23,8 
I = ∑  =  +  + ....... +   = 106,9928
i =1  5   5   5   5 
a = 6,75 ⋅ 10 −7 ⋅ I 3 − 7,71 ⋅ 10 −5 ⋅ I 2 + 1,7912 ⋅ 10 −2 ⋅ I + 0,49239
= 6,75 ⋅ 10 − 7 ⋅ 106,99283 − 7,71 ⋅ 10 − 5 ⋅ 106,9928 2 + 1,7912 ⋅ 10 − 2 ⋅ 106,9928 + 0,49239 = 2,353

Então,
a 2 , 353
 10 ⋅ Ti   10 ⋅ 24 
Para Janeiro: ETP = 16 ⋅   = 16 ⋅   = 107,1 mm/mês
 I   106,9928 
a 2 , 353
 10 ⋅ Ti   10 ⋅ 24,7 
Para Fevereiro: ETP = 16 ⋅   = 16 ⋅   = 114,6 mm/mês
 I   106,9928 
Fazendo a correção com a Tab. 10.2, obtém-se
' 'D 13,4 31
Janeiro: ETPcorrigido = 107,1 ⋅ ⋅ = 107,1 ⋅ ⋅ =123,6 mm/mês
12 30 12 30
' 'D 12,8 28
Fevereiro: ETPcorrigido = 107,1 ⋅ ⋅ = 114,6 ⋅ ⋅ =114,1 mm/mês
12 30 12 30

10.4.2. Método de Penman


Este método combina os efeitos de balanço de energia e aerodinâmico. O método original
foi apresentado por Penman (1948). Doorenbos & Pruitt (1992) modificaram algumas partes desta
equação. Aqui, o método modificado está apresentado.
Dados diárias necessários: temperatura (ºC); insolação (hora/dia); umidade relativa do ar
média (%); velocidade média do vento a 2 m acima da superfície do solo (km/dia)
Parâmetro obtido (estimado): Evapotranspiração potencial diária (mm/dia)
ETP = c[W ⋅ Rn + (1 − W ) ⋅ f (U ) ⋅ (ea − ed )]
onde ETP é a evapotranspiração potencial diária (mm/dia); c é o fator de ajuste
(adimensional); W é o fator de ponderação relacionado com a temperatura e a altitude
(adimensional); Rn é a radiação líquida (mm/dia); f(U) é a função relacionada a vento; ea é a
pressão de vapor da água no ar saturado (mbar); ed é a pressão do vapor do ar na condição real
(mbar).

145
(1) Estimativa de (ea - ed)
 ur  Tabela 10.3. Tensão de saturação de
Pela definição, ea − ed = ea − ea   , onde ur é a vapor de água no ar (mmHg).
 100 
umidade relativa do ar (%). Os valores de ea se
encontram na Tab. 10.3. Como a Tab. 10.3 adota a
unidade de mmHg, deve-se fazer uma transformação
da unidade, pois 1 mbar = 0,75 mmHg.

(2) Estimativa de f(U)


 U 
f (U ) = 0,27 ⋅ 1 + 2  onde U2 é a velocidade média
 100 
diária do vento (km/dia) a 2 m acima da superfície do
solo. As vezes, a velocidade média diária do vento
(km/dia) a 10 m acima da superfície, U10, encontra-se
disponível. Neste caso, usa-se a seguinte
transformação:
1
U2  Z2  7
= 
U10  Z10 
onde Z2 e Z10 são alturas de 2 m e 10 m,
respectivamente.

(3) Estimativa de W
Os valores de W estão na Tabela 10.4.

Tabela 10.4. Valores para o fator de peso (W) para o efeito da radiação na ET em diferentes
temperaturas e altitudes.
Temperatura (oC) 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
W por altitude 0 (m) 0,43 0,46 0,49 0,52 0,55 0,58 0,61 0,64 0,66 0,69
500 0,44 0,48 0,51 0,54 0,57 0,6 0,62 0,65 0,67 0,7
1000 0,46 0,49 0,52 0,55 0,58 0,61 0,64 0,66 0,69 0,71
2000 0,49 0,52 0,55 0,58 0,61 0,64 0,66 0,69 0,71 0,73
3000 1,52 0,55 0,58 0,61 0,64 0,66 0,69 0,71 0,73 0,75
4000 0,54 0,58 0,61 0,64 0,66 0,69 0,71 0,73 0,75 0,77

Temperatura (oC) 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40
W por altitude 0 (m) 0,71 0,73 0,75 0,77 0,78 0,80 0,82 0,83 0,84 0,85
500 0,72 0,74 0,76 0,78 0,79 0,81 0,82 0,84 0,85 0,86
1000 0,73 0,75 0,77 0,79 0,80 0,82 0,83 0,85 0,86 0,87
2000 0,75 0,77 0,79 0,81 0,82 0,84 0,85 0,86 0,87 0,88
3000 0,77 0,79 0,81 0,82 0,84 0,85 0,86 0,87 0,88 0,89
4000 0,79 0,81 0,82 0,84 0,85 0,86 0,87 0,89 0,90 0,90

146
(4) Estimativa de Rn
 n
Rns = (1 − r )Rs = (1 − r ) a + b  Ra
 '
onde Rns é a radiação solar líquida de ondas curtas (mm/dia); r é o coeficiente de refletância
(albedo) (Tabela 10.5); Rs é a radiação solar (mm/dia); a e b são constantes (normalmente, a = 0,25
e b = 0,50); n é a insolação (hora/dia); ' é máxima possível insolação (hora/dia) (Tabela 10.2); Ra é
a radiação solar recebida no topo da atmosfera (mm/dia) (Tabela 10.6).
Nota-se que, no caso de estações automáticas, a radiação solar (Rs) está sendo medida em
vez de insolação n.
Tabela 10.5. Albedo de diversas superfícies.
Superfície % superfície % superfície %
Concreto 22 grama 24 sorgo 20
solo escuro seco 14 batata 20 algodão 21
solo escuro úmido 8 beterraba 26 tomate 23
asfalto 7 cevada 24 abacaxi 15
areia branca 37 trigo 24 floresta conífera 5 - 15
neve recém caída 82 feijão 24 floresta folhosa 10 - 20
neve velha 57 milho 20 campos naturais 3 - 15
Água 5 Fumo 22 Cidades 14 - 18

147
Tabela 10.6. Valores para a radiação recebida no topo da atmosfera (Ra ) expressa em evaporação
equivalente em mm/dia.
Hemisfério
orte
Latitude
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
ov Dez
50o 3,8 6,1 9,4 12,7 15,8 17,1 16,4 14,1 10,9 7,4 4,5 3,2
o
48 4,3 6,6 9,8 13,0 15,9 17,2 16,5 14,3 11,2 7,8 5,0 3,7
46 o 4,9 7,1 10,2 13,3 16,0 17,2 16,6 14,5 11,5 8,3 5,5 4,3
o
44 5,3 7,6 10,6 13,7 16,1 17,2 16,6 14,7 11,9 8,7 6,0 4,7
42 o 5,9 8,1 11,0 14,0 16,2 17,3 16,7 15,0 12,2 9,1 6,5 5,2
o
40 6,4 8,6 11,4 14,3 16,4 17,3 16,7 15,2 12,5 9,6 7,0 5,7
38 o 6,9 9,0 11,8 14,5 16,4 17,2 16,7 15,3 12,8 10,0 7,5 6,1
o
36 7,4 9,4 12,1 14,7 16,4 17,2 16,7 15,4 13,1 10,6 8,0 6,6
34 o 7,9 9,8 12,4 14,8 16,5 17,1 16,8 15,5 13,4 10,8 8,5 7,2
o
32 8,3 10,2 12,8 15,0 16,5 17,0 16,8 15,6 13,6 11,2 9,0 7,8
30 o 8,8 10,7 13,1 15,2 16,5 17,0 16,8 15,7 13,9 11,6 9,5 8,3
o
28 9,3 11,1 13,4 15,3 16,5 16,8 16,7 15,7 14,1 12,0 9,9 8,8
26 o 9,8 11,5 13,7 15,3 16,4 16,7 16,6 15,7 14,3 12,3 10,3 9,3
o
24 10,2 11,9 13,9 15,4 16,4 16,6 16,5 15,8 14,5 12,6 10,7 9,7
22 o 10,7 12,3 14,2 15,5 16,3 16,4 16,4 15,8 14,6 13,0 11,1 10,2
o
20 11,2 12,7 14,4 15,6 16,3 16,4 16,3 15,9 14,8 13,3 11,6 10,7
18 o 11,6 13,0 14,6 15,6 16,1 16,1 16,1 15,8 14,9 13,6 12,0 11,1
o
16 12,0 13,3 14,7 15,6 16,0 15,9 15,9 15,7 15,0 13,9 12,4 11,6
o
14 12,4 13,6 14,9 15,7 15,8 15,7 15,7 15,7 15,1 14,1 12,8 12,0
o
12 12,8 13,9 15,1 15,7 15,7 15,5 15,5 15,6 15,2 14,4 13,3 12,5
o
10 13,2 14,2 15,3 15,7 15,5 15,3 15,3 15,5 15,3 14,7 13,6 12,9
o
8 13,6 14,5 15,3 15,6 15,3 15,0 15,1 15,4 15,3 14,8 13,9 13,3
o
6 13,9 14,8 15,4 15,4 15,1 14,7 14,9 15,2 15,3 15,0 14,2 13,7
o
4 14,3 15,0 15,5 15,5 14,9 14,4 14,6 15,1 15,3 15,1 14,5 14,1
o
2 14,7 15,3 15,6 15,3 14,6 14,2 14,3 14,9 15,3 15,3 14,8 14,4
o
0 15,0 15,5 15,7 15,3 14,4 13,9 14,1 14,8 15,3 15,4 15,1 14,8

Hemisfério Sul
Latitude
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
ov Dez
o
50 17,5 14,7 10,9 7,0 4,2 3,1 3,5 5,5 8,9 12,9 16,5 18,2
o
48 17,6 14,9 11,2 7,5 4,7 3,5 4,0 6,0 9,3 13,2 16,6 18,2
o
46 17,7 15,1 11,5 7,9 5,2 4,0 4,4 6,5 9,7 13,4 16,7 18,3
o
44 17,8 15,3 11,9 8,4 5,7 4,4 4,9 6,9 10,2 13,7 16,7 18,3
o
42 17,8 15,5 12,2 8,8 6,1 4,9 5,4 7,4 10,6 14,0 16,8 18,3
o
40 17,9 15,7 12,5 9,2 6,6 5,3 5,9 7,9 11,0 14,2 16,9 18,3
o
38 17,9 15,8 12,8 9,6 7,1 5,8 6,3 8,3 11,4 14,4 17,0 18,3
o
36 17,9 16,0 13,2 10,1 7,5 6,3 6,8 8,8 11,7 14,6 17,0 18,2
o
34 17,8 16,1 13,5 10,5 8,0 6,8 7,2 9,2 12,0 14,9 17,0 18,2
o
32 17,8 16,2 13,8 10,9 8,5 7,3 7,7 9,6 12,4 15,1 17,1 18,1
o
30 17,8 16,4 14,0 11,3 8,9 7,8 8,1 10,1 12,7 15,3 17,2 18,1
o
28 17,7 16,4 14,3 11,6 9,3 8,2 8,6 10,4 13,0 15,4 17,3 17,9
o
26 17,6 16,4 14,4 12,0 937,0 8,7 9,1 10,9 13,2 15,5 17,2 17,8
o
24 17,5 16,5 14,6 12,3 10,2 9,1 9,5 11,2 13,4 15,6 17,1 17,7
o
22 17,4 16,5 14,8 12,6 10,6 9,6 10,0 11,6 13,7 15,7 17,0 17,5
o
20 17,3 16,5 15,0 13,0 11,0 10,0 10,4 12,0 13,9 15,8 17,0 17,4
o
18 17,1 16,5 15,1 13,2 11,4 10,4 10,8 12,3 14,1 15,8 16,8 17,1
o
16 16,9 16,4 15,2 13,5 11,7 10,8 11,2 12,6 14,3 15,8 16,7 16,8
o
14 16,7 16,4 15,3 13,7 12,1 11,2 11,6 12,9 14,5 15,8 16,5 16,6
o
12 16,6 16,3 15,4 14,0 12,5 11,6 12,0 13,2 14,7 15,8 16,4 16,5
o
10 16,4 16,3 15,5 14,2 12,8 12,0 12,4 13,5 14,8 15,9 16,2 16,2
o
8 16,1 16,1 15,5 14,4 13,1 12,4 12,7 13,7 14,9 15,8 16,0 16,0
o
6 15,8 16,0 15,6 14,7 13,4 12,8 13,1 14,0 15,0 18,7 15,8 15,7
4o 15,5 15,8 15,6 14,9 13,8 13,2 13,4 14,3 15,1 15,6 15,5 15,4
o
2 15,3 15,7 15,7 15,1 14,1 13,5 13,7 14,5 15,2 15,5 15,3 15,1
0o 15,0 15,5 15,7 15,3 14,4 13,9 14,1 14,8 15,3 15,4 15,1 14,8

148
Se for difícil determinar o valor do albedo, adota-se a seguinte critério: r = 0,05 para
superfície livre da água, 0,15 para solo nu, e 0,23 para superfície com vegetação.
n
Rnl = f (t ) ⋅ f (ed ) ⋅ f  
'
onde Rnl é a radiação líquida de ondas longas; e f(t) é a função obtida na Tab. 10.7.

Tabela 10.7. Efeito da temperatura f(t) na radiação de onda longa (Rnl ).


o
T ( C) 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36
4
f(T) = σTk 11,0 11,4 11,7 12,0 12,4 12,7 13,1 13,5 13,8 14,2 14,6 15,0 15,4 15,9 16,3 16,7 17,2 17,7 18,1

f (ed ) = 0,34 − 0,044 ed , onde ed é a pressão do vapor do ar na condição real (mbar) e


 ur 
ed = ea  
 100 
n n
f   = 0,1 + 0,9
' '
Finalmente, obtém-se: Rn = Rns - Rnl

(5) Estimativa de c
Normalmente recomenda-se o uso da Tabela 10.8. Mas se for difícil de determinar o valor
de c, considera-se que c = 1.

Tabela 10.8. Fator de ajuste (c) presente na Equação de Penman.


Rhmax = 30% Rhmax = 60% Rhmax = 90%
Rs
3 6 9 12 3 6 9 12 3 6 9 12
(mm/dia)
Udia (m/s) Udia/Unoite = 4,0
0 0,86 0,90 1,00 1,00 0,96 0,98 1,05 1,05 1,02 1,06 1,10 1,10
3 0,79 0,84 0,92 0,97 0,92 1,00 1,11 1,19 0,99 1,10 1,27 1,32
6 0,68 0,77 0,87 0,93 0,85 0,96 1,11 1,19 0,94 1,10 1,26 1,33
9 0,55 0,65 0,78 0,90 0,76 0,88 1,02 1,14 0,88 1,01 1,16 1,27
Udia/Unoite = 3,0
0 0,86 0,90 1,00 1,00 0,96 0,98 1,05 1,05 1,02 1,06 1,10 1,10
3 0,76 0,81 0,88 0,94 0,87 0,96 1,06 1,12 0,94 1,04 1,18 1,28
6 0,61 0,68 0,81 0,88 0,77 0,88 1,02 1,10 0,86 1,01 1,15 1,22
9 0,46 0,56 0,72 0,82 0,67 0,79 0,88 1,05 0,78 0,92 1,06 1,18
Udia/Unoite = 2,0
0 0,86 0,90 1,00 1,00 0,96 0,98 1,05 1,05 1,02 1,06 1,10 1,10
3 0,69 0,76 0,85 0,92 0,83 0,91 0,99 1,05 0,89 0,98 1,10 1,14
6 0,53 0,61 0,74 0,84 0,70 0,80 0,94 1,02 0,79 0,92 1,05 1,12
9 0,37 0,48 0,65 0,76 0,59 0,70 0,84 0,95 0,71 0,81 0,96 1,06
Udia/Unoite = 1,0
0 0,86 0,90 1,00 1,00 0,96 0,98 1,05 1,05 1,02 1,06 1,10 1,10
3 0,64 0,71 0,82 0,89 0,78 0,86 0,94 0,99 0,85 0,92 1,01 1,05
6 0,43 0,53 0,68 0,79 0,62 0,70 0,84 0,93 0,72 0,82 0,95 1,00
9 0,27 0,41 0,59 0,70 0,50 0,60 0,75 0,87 0,62 0,72 0,87 0,96

149
[Exemplo]
Estação experimental (acima de areia) no município de Campos – RJ (Latitude 22ºS;
Altitude 0 m). No dia 03 de junho de 2004, obteve-se: Temperatura = 15,0 ºC; Insolação = 8,5
hora/dia; Umidade relativa = 75,0%; Vento U2 = 43,2 km/dia (= 0,5 m/s). Considera-se que o valor
de Albedo da areia branca é de 37% (Tabela 10.5).

Utiliza-se a seguinte equação: ETP = c[W ⋅ Rn + (1 − W ) ⋅ f (U ) ⋅ (ea − ed )]

(1) Pela tabela de valores de tensão de saturação de vapor d’água no ar, para T=15ºC,
12,79
ea = 12,79 mmHg = = 17,05 mbar (pois, 1 mbar = 0,75 mmHg).
0,75
 ur 
Portanto, ea − ed = ea − ea   = 17,05·(1 – 0,75) = 4,26
 100 

 U   43,2 
(2) f (U ) = 0,27 ⋅ 1 + 2  = 0,271 +  = 0,38664
 100   100 

0,61 + 0,64
(3) W = = 0,625
2
(4) Para areia, r =37% = 0,37.
a = 0,25; b = 0,50
Para Junho, ' = 10,8 hora/dia (Tabela 10.2); Ra = 9,6 mm/dia (Tabela 10.6)
 n  8,5 
Rns = (1 − r )Rs = (1 − r ) a + b  Ra = (1 − 0,37 ) 0,25 + 0,5 ⋅  ⋅ 9,6
 '  10,8 
= 3,892 mm/dia

13,5 + 13,8
Segundo a Tabela 10.7, f (t ) = = 13,65
2
 ur   75 
f (ed ) = 0,34 − 0,044 ed = 0,34 − 0,044 ea   = 0,34 − 0,044 17,05  = 0,1826577
 100   100 
n n 8,5
f   = 0,1 + 0,9 = 0,1 + 0,9 = 0,8083333
' ' 10,8

n
Portanto, Rnl = f (t ) ⋅ f (ed ) ⋅ f   = 13,65·0,1826577·0,8083333 = 2,0153993
'

Portanto, Rn = Rns - Rnl = 3,892 – 2,0153993 ≈ 1,877 mm/dia


ETP = c[W ⋅ Rn + (1 − W ) ⋅ f (U ) ⋅ (ea − ed )]
= 1·[0,625·1,877 + (1 – 0,625)·0,38664·4,26 ≈ 1,79 mm/dia

150
10.4.3. Estimativa de Evapotranspiração Regional
A evapotranspiração é uma componente que apresenta grande incerteza. Pode ser medida
através de equipamentos específicos, como lisímetros, estimada por meio de balanço hídrico ou por
dados metereológicos aplicados a equações. No entanto, sua medição é difícil e os resultados
estimados representam valores pontuais de localização específica. Portanto, a adoção destes dados
pontuais para grandes regiões pode resultar em uma estimativa errônea de evapotranspiração,
devido às diferentes coberturas de solo, dentre outros fatores(GIACOMONI & MENDES, 2008;
FOLHES, 2007, SANTOS, FONTANA & ALVES, 2010).
Neste contexto, o desenvolvimento de técnicas de sensoriamento orbital e os sistemas de
informações geográficas (SIGs) possibilitaram que vários fenômenos fossem representados de
forma espacial e, podem ser uma alternativa para o cálculo de evapotranspiração a nível regional.
Uma importante vantagem do uso de sensoriamento remoto é possibilidade de cálculo de
evapotranspiração sem a necessidade de se quantificar complexos processos hidrológicos
(GIACOMONI & MENDES, 2008).
Comumente, a representação espacial da evapotranspiração é realizada por meio de
algoritmos matemáticos em SIGs, que interpolam e/ou extrapolam informações pontuais obtidas em
estações metereológicas, gerando um plano de informação. Mas, se o objetivo é avaliar a
distribuição espacial da evapotranspiração, aumenta a incerteza da estimativa ao utilizar métodos de
interpolação\extrapolação dos elementos meteorológicos na área de estudo. Visando minimizar o
emprego de variáveis meteorológicas com baixa representatividade regional, muitos modelos foram
desenvolvidos nas últimas décadas para estimar os fluxos de energia na superfície terrestre com
base técnicas de sensoriamento remoto. Foram desenvolvios modelos de caráter empírico,
determinístico e semi-emprírico (FOLHES, 2007).
Dentre os métodos empíricos pode-se citar o método residual do balanço de energia, Water
Deficit Index (WDI), etc. Os métodos empíricos apresentam-se simples, no entanto, necessitam
grande esforço metdológico para se tornarem operacionais.
Os métodos determinísticos baseiam-se nos processos físicos de transporte de massa e
energia, ligados por meio de modelos de interação solo-planta-atmosfera, ou seja, são uma
abordagem determinística, utilizada nos modelos Soil Vegetation Atmosphere Transfer (SVAT) que
estimam evapotranspiração e outros processos, por meio da interação dos diferentes elementos do
sistema vegetal. Estes métodos apresentam como vantagens, em relação aos empíricos: i) expressam
melhor a realidade física do transporte de energia e água no sistema; e ii) simulam os fluxos de
maneira conínua. Porém, os modelos determinísticos frequentemente necessitam de grande número
de parâmetros de entrada e apresentam complexas interações, implicando em significativas
simplificações antes de sua utilização.
Os métodos semi-empíricos reproduzem o balanço de energia nas superfícies. Proporcionam
uma operacionalização das estimativas de evapotranspiração de maneira mais fácil, porque
possibilitam a realização de diversas simulações em curto espaço de tempo e relativamente com
poucos dados de superfície.
Atualmente, diversos métodos vêm sendo utilizados, como por exemplo, o algoritmo S-
SEBI (Simplified Surface Energy Balance Index), algoritmo SEBAL (Surface Energy Balance
Algorithm for Land) e o METRIC (Mapping Evapotranspiration at high Resolution and with
Internalized Calibration).

151
O algoritmo SEBAL foi desenvolvido por Bastiaanssen, em 1995 e validado em várias
regiões pertencentes ao Egito, Espanha, Portugal, França, Itália, Argentina, China, Índia, Nigéria,
Estados Unidos, etc. Esta medotologia vem sendo amplamente utilizada e tem como princípio o uso
da equação do balanço de energia e a relação entre as radiâncias do espectro infravermelho termal e
visível de áreas com contraste hidrológico evidente, ou seja, superfícies secas e úmidas na região de
estudo. Ele utiliza como dados de entrada os climatológicos obtidos a partir de estações
metereológicas e imagem NDVI (Ìndice de Vegetação da Diferença Normalizada) e simula suas
inter-relações para estimar os fluxos de energia da superfície para uma grande variação de obertura
do solo (BASTIAANSSEN et al, 1998; ALLEN et al, 2002).
A vegetação tem grande influência no balanço hídrico de uma bacia hidrográfica. As
técnicas de sensoriamento remoto, juntamente com o processamento digital de imagens,
possibilitam a obtenção de dados de extensas áreas vegetadas. Ou seja, a compreensão das variações
da evapotranspiração passa pela análise das informações quantitativas das mudancas espaciais e
temporais da cobertura vegetal, as quais podem ser avaliadas mediante as técnicas de sensoriamento
remoto.
Algumas linhas de pesquisa buscam relacionar evapotranspiração a algumas características
da vegetação, utlizando modelos empíricos. Dentre as técnicas que permitem obter dados de
vegetação a partir de imagens orbitais, tem-se o realce de imagens por meio de razão de bandas, as
quais têm como objetivo principal maximizar as informações de vegetação, denominadas índice de
vegetação, sendo comumente usado o 'DVI.
Aqui, será apresentado sucintamente um trabalho de Uda et al (2010) que estimaram a
distribuição espacial da evapotranspiração potencial (ETP) por meio da correlação com o 'DVI
para a bacia do Rio Negrinho-SC.

Estudo de caso: Análise da evapotranspiração potencial distribuída por meio de imagens


"DVI, na bacia do Rio "egrinho - SC.

Objetivo
O objetivo geral deste estudo foi analisar a evapotranspiração potencial distribuída, por meio
de imagens NDVI na bacia do Rio Negrinho – SC.

Material
Foram utilizados: i) programas Idrisi Andes Versão 15.0 e SPRING (Sistema de
Processamento de Informações Georreferenciadas), versão 5.0.4; ii) Imagens do satélite LandSat-
TM5 (resolução espacia de 30m), datadas de 02/01 e 28/08/2009, referentes à órbita 220, pontos 78
e 79, obtidas gratuitamente pelo site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE.
http://www.dgi.inpe.br/CDSR; iii) Dados meteorológicos: temperaturas média e umidade relativa
do ar, velocidade do vento e radiação, obtidos de nove estações, sendo três localizadas no Estado do
Paraná e seis, em Santa Catarina.

Área de Estudo
A bacia hidrográfica do Rio Negrinho (195,09 km2), localiza-se no Planalto Norte
Catarinense e situa-se entre as longitudes 49°19’54”W e 49°31’22”W e as latitudes 26°14’45”S e
26°25’31”S, abrangendo as cidades de Rio Negrinho, São Bento do Sul e Corupá.

152
Método
• Uso e cobertura do solo
Por meio de um recorte das imagens LandSat TM5, ponto 78, que continha a bacia do rio
Negrinho, mapas de uso e cobertura do solo foram obtidos no software SPRING 5.0.4, por meio de
segmentação por crescimento de regiões e posterior classificação supervisionada pelo, definindo-se
as classes: reflorestamento, mata nativa, agricultura, área urbana e solo exposto.

• Imagens 'DVI
No software Idrisi Andes, inicialmente, foi feita a calibração radiométrica e a correção
atmosférica das imagens para obtenção de valores físicos de reflectância da superfície de forma
mais fidedigna, possibilitando a obtenção do índice de vegetação. Através do modelo Cos(t),
proposto por Chavez (1996), que utiliza as equações propostas por Markham e Barker (1986),
realizou-se a conversão dos NDs para fator de reflectância bidirecional (FR) e o método da
subtração do pixel escuro para a remoção de névoa.
Após, foram geradas as imagens de índice de vegetação da diferença normalizada (NDVI).
Este índice possibilita o realce das imagens por meio da diferença normalizada entre bandas,
condensando as informações espectrais dos objetos e realçando a vegetação, com o objetivo de
minimizar a influência do solo na resposta espectral da mesma, diminuir a interferência da
atmosfera e as variações mensais do ângulo solar zenital, a partir da Equação 1:
NDVI = (ρ4-ρ3) / (ρ4+ρ3) (1)
em que NDVI é o índice da diferença normalizada; ρ3 é a reflectância na região do vermelho; ρ4 é a
reflectância na região do infravermelho próximo.

• Método de Penman Modificado


O método de Penman Modificado foi aplicado visando à obtenção de valores de ETP para
posteriormente serem relacionados com valores de NDVI, conforme Equação 2:
(2)

• Imagens de ETP Distribuída


Primeiramente, foi estabelecida a relação entre os dados de NDVI e ETP por meio de
regressão linear. Os dados de ETP utilizados nas regressões lineares correspondem aos calculados
pelo método de Penman Modificado para as estações meteorológicas. Já os dados de NDVI foram
adquiridos pela identificação do valor do NDVI para o pixel de coordenadas idênticas a de cada
estação. Em adição, foi adotada a hipótese de que, quando o NDVI tem seu valor mínimo (-1,0),
não ocorre ETP (ETP = 0), visto a não detecção de corpos de água nas imagens. A partir da
plotagem dos dados, obteve-se o diagrama de dispersão e, por meio do método dos mínimos
quadrados, a linha e a equação de regressão (Equação 3) em que é mínima a soma dos quadrados
dos desvios entre os valores observados e estimados da variável dependente para os dados
amostrais.
(3)

153
em que é a evapotranspiração potencial (mm.d-1); e são os coeficientes a serem estimados
pelo método dos mínimos quadrados e é o valor do índice de vegetação da diferença
normalizada (adimensional).
Determinados os coeficientes e da Equação 3, foram gerados os mapas de ETP
distribuída no software Idrisi Andes, por meio da inserção da equação de regressão no módulo
Image Calculator, tendo como variável independente as imagens NDVI. Desta maneira, para cada
pixel das imagens NDVI foi calculado o respectivo valor de ETP, gerando as imagens de ETP
distribuída.

Resultados
• Imagens 'DVI
As Figuras 1 e 2 representam o NDVI para a bacia do rio Negrinho. Constatam-se valores
entre -1 e 1 e que as imagens NDVI destacam a vegetação em relação aos demais elementos, como
áreas urbanas e solo exposto. Os tons de verde indicam áreas cobertas de vegetação, sendo que as
zonas em verde escuro representam regiões de vegetação densa, como florestas, onde os valores de
NDVI estão próximos de 1. As zonas urbanas, o solo exposto e os plantios recentes estão
representados em tons mais amarelados, com NDVI variando de 0 a -1. Na bacia em estudo não foi
detectada a presença de corpos d’água de magnitude suficiente a serem evidenciados nas imagens
NDVI, uma vez que as imagens apresentam uma resolução de 30x30m. Para extração dos dados
visando à relação ETP x NDVI, foram geradas imagens NDVI que abrangem todas as estações
meteorológicas (visualizadas no canto inferior direito das Figuras 1 e 2).

Figura 1: Imagem NDVI para 01/02/2009. Figura 2: Imagem NDVI para 01/02/2009.

154
• Mapas de ETP Distribuída
A relação entre os dados NDVI e ETP foi realizada a partir da regressão linear entre os
dados de ETP das estações e de NDVI, dos pixels de localização geográfica idêntica a das estações
meteorológicas (Tabela 1), obtendo-se os diagramas de dispersão (Figuras 3 e 4).

Tabela 1: Dados de NDVI e ETP utilizados para regressão linear.


01 de fevereiro de 2009 28 de agosto de 2009
Estação
DVI ETP (mm.d-1)
DVI ETP (mm.d-1)
Rio Negrinho A862 0,587035 3,945 0,55113 2,902
Indaial A817 0,906801 4,976 0,631533 3,602
Florianópolis A806 0,84359 5,345 0,692394 3,410
Curitiba A807 0,770952 4,657 0,417897 3,343
Morretes A873 0,888212 4,989 0,893864 3,212
Rio dos Bugres 0,757434 4,145 0,408139 2,646
Itaopá A851 0,776037 4,889
Ituporanga A863 0,84667 4,598
Ilha do Mel A847 0,910759 6,012

Figura 3. Relação ETP x NDVI, para Figura 4. Relação ETP x NDVI, para
01/02/2009. 28/08/2009.

Obtidos os diagramas de dispersão, foram estabelecidas as equações de regressão por meio


do método dos mínimos quadrados, para 01/02/2009 e 28/08/2009, visualizadas nas Figuras 3 e 4,
respectivamente.
As Figuras 5 e 6 representam as imagens de ETP distribuída da bacia do rio Negrinho para
os dia 01 de fevereiro e 28 de agosto de 2009 respectivamente. De maneira geral, as tonalidades de
verde claro e amarelo representam valores mais baixos de evapotranspiração e correspondem às
áreas urbanas e ao solo exposto. As tonalidades de azul correspondem às áreas cobertas por
vegetação (cultivos agrícolas, pastagens e florestas). A partir da Figura 5 constata-se que as zonas
urbanas abrangem uma amplitude interquartil de 0,87 mm/dia, variando de 3,84 a 4,71 mm.d-1 (ou
seja, 50% do total de dados de ETP localizados mais ao cento da distribuição estão compreendidos
no intervalo de 3,84 a 4,71 mm.d-1). Já as áreas de solo exposto apresentam uma amplitude
interquartil de 0,62 mm.d-1, com variação de ETP de 4,07 a 4,69 mm.d-1. Verifica-se, em adição,
uma amplitude interquartil de 0,29 mm.d-1 para as áreas de agricultura (abrangendo de 4,76 a 5,05
mm.d-1), 0,12 mm.d-1 para as áreas de reflorestamento (5,04 a 5,16 mm.d-1) e 0,14 mm.d-1 para as
áreas de mata nativa (4,96 a 5,10 mm.d-1). Pela Figura 6 também observa-se valores menores de
ETP para as áreas urbanas e de solo exposto, com amplitude interquartil de 0,47 mm.d-1, variando
de 2,74 a 3,21 mm.d-1 e 0,34 mm.d-1, abrangendo de 3,03 a 3,37 mm.d-1, respectivamente. Uma
155
amplitude interquartil de 0,28 mm.d-1 é constatada para as áreas de cultivo agrícola (variando de
3,24 a 3,52 mm.d-1), 0,22 mm.d-1 para mata nativa (3,42 a 3,64 mm.d-1) e 0,19 mm.d-1 para
reflorestamento (3,53 a 3,72 mm.d-1). Para as duas datas, as áreas de reflorestamento e mata nativa
apresentam ETP mais elevadas que as demais classes, e exercem grande influência no
comportamento da evapotranspiração, visto que cobrem mais de 75% da área total da bacia do rio
Negrinho. Observa-se, ainda, que a ETP relativa a áreas urbanas pode ter sido superestimada, visto
que as cidades de Rio Negrinho e São Bento do Sul se enquadram em zona rural (com vegetação em
meio à área urbana) e que, visualmente, a área urbana, no mapa de uso e cobertura do solo, foi
sobreestimada, em função da resolução da imagem (30x30m). Em suma, a mistura de valores
discrepantes de reflectância nas áreas urbanas, em função da presença de vegetação, ocasionou uma
variabilidade maior nos dados de ETP estimados, o que explicaria amplitudes interquartis maiores
em relação às demais classes de uso e cobertura do solo.

Figura 5. Mapa de ETP distribuída, para Figura 6. Mapa de ETP distribuída, para
01/02/09. 28/08/09.

Conclusões
• O método aplicado obteve bom ajuste, evidenciando uma alta relação entre índice de
vegetação da diferença normalizada e evapotranspiração potencial pelos elevados coeficientes
de determinação (r2 = 0,9364 e 0,9193).
• Para as imagens LandSat-TM5, datadas de 01 de fevereiro e 28 de agosto de 2009, o NDVI
variou de -1 a 1 na bacia do rio Negrinho, indicando que existem áreas sem cobertura vegetal
e com densa cobertura de vegetação, respectivamente.
• Na bacia do rio Negrinho, a vegetação tem grande influência no comportamento da
evapotranspiração, visto que corresponde a mais de 75% de sua área.

156
• A evapotranspiração apresentou os menores valores para as áreas urbanas, com amplitude
interquartil entre 3,84 e 4,71 mm.d-1 em 01 de fevereiro de 2009 e 2,74 a 3,21 mm.d-1 em 28
de agosto de 2009, e os maiores valores para áreas de reflorestamento, com amplitude
interquartil entre 5,04 e 5,16 mm.d-1 em 01 de fevereiro de 2009 e 3,53 a 3,72 mm.d-1 em 28
de agosto de 2009.

Referências bibliográficas
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Balance Algorithms for Land: Advanced Training and Users Manual. Idaho. Versão 1.0.
Agosto de 2002. 98p.
BASTIAANSSEN, W.G.M., MENENTI, M., FEDDES, R.A., HOLTSLAG, A.A.M. A remote
sensing surface energy balance algorithm for land (SEBAL) 1. Formulation. Journal of
Hydrology. 212-213. p. 198-212, 1998.
CHAFFE, P.L.B.; KOBIYAMA, M. Estudo hidrológico comparativo na região serrana sul
brasileira. Florianópolis: UFSC/CTC/ENS/LabHidro, 2006. 35p.
FOLHES, M. T. Modelagem da evapotranspiração para a gestão hídrica de perímetros
irrigados com base em sensores remotos. 2007. 186 p. Tese (Doutorado em Sensoriamento
Remoto) São José dos Campos: INPE.
GIACOMONI, H.M.; MENDES, C.A.B. Estimativa de Evapotranspiração Regional por meio de
Técnicas de Sensoriamento Remoto Integradas a Modelo de Balanço de Energia. Revista
Brasileira de Recursos Hídricos, vol 13, n. 4. p. 33-42. out/dez 2008.
KOBIYAMA, M.; CHAFFE, P.L.B. Water balance in Cubatão-Sul river catchment, Santa
Catarina, Brazil. Revista Ambiente e Água, Taubaté, v.3, p.5-17, 2008.
KOBIYAMA, M.; CHAFFE, P.L.B.; ROCHA, H.L.; CORSEUIL, C.W.; MALUTTA, S.; GIGLIO,
J.N.; MOTA, A.A.; SANTOS, I.; RIBAS JUNIOR, U.; LANGA, R. Implementation of school
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southern Brazil. In: TANIGUCHI, M.; BURNETT, W.C.; FUKUSHIMA, Y. HAIGH, M.;
UMEZAWA, Y. (eds.) From Headwaters to the Ocean: Hydrological Changes and Watershed
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MOREIRA, M. A. Fundamentos do Sensoriamento Remoto e Metodologias de Aplicação.
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UDA, P. K.; CORSEUIL, C.W.; NETTO, A.O.A.; BORTOLOTTO, N.L. Análise da
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In: IX Seminário de Atualização em Sensoriamento Remoto e Sistemas de Informações
Geográficas Aplicados à Engenharia Florestal. Curitiba: FUPEF, Anais, 2010. p.288-295.

157
Bibliografia recomendada (avançada)
BRUTSAERT, W. Evaporation into the atmosphere. London: D. Reidel Pub. Co., 1982. 299p.
DOORENBOS, J.; PRUITT, W.O. Guidelines for predicting crop water requirements. 2 ed.
Rome: FAO, 1992. 144p. (FAO Irrigation and Drainage Paper 24).
PEREIRA, A. R.; NOVA, N.A.V.; SEDIYAMA, G.C. Evapo(transpi)ração. Piracicaba: Fundação
de Estudos Agrários Luiz de Queiroz, 1997. 183 p.

158
11. SEDIME
TOS EM RIOS

Henrique Lucini Rocha


Masato Kobiyama
Gabriela Pacheco

11.1 Processos hidrossedimentológicos

O percurso que a água superficialmente segue em uma bacia topográfica é determinado por
suas formações topográficas. Ao transitar, esta água pode possuir uma dada energia que pode
remover e carrear partículas do solo e do leito dos rios. Como o movimento dos sedimentos ocorre
junto com o da água, ao se enfatizar mais a dinâmica do sedimento do que o da água, os processos
hidrológicos podem ser chamados processos hidrossedimentológicos.
Então, em outras palavras, pode-se dizer que os processos hidrossedimentológicos estão
fortemente ligados ao ciclo hidrológico. Tais processos compreendem a desagregação, separação ou
erosão, o transporte, decantação ou sedimentação, deposição e consolidação ou compactação de
partículas sólidas presentes na bacia hidrográfica. Muitas vezes, a desagregação, a separação e a
erosão estão sendo tratadas como sinônimos. Da mesma forma a decantação, sedimentação e a
deposição são tratadas como sinônimos. A consolidação e a compactação não serão tratadas na
presente discussão devido ao fato que esses dois fenômenos geralmente ocorrem no tempo
geológico. Nota-se que, às vezes, que todos estes processos estão inclusos nos chamados processos
erosivos. Desta forma, de maneira simples, pode-se dizer que os processos erosivos consistem em
erosão (desagregação), transporte e deposição.
O assoreamento constitui-se em um dos mais graves impactos da erosão nos recursos hídricos,
favorecendo a ocorrência de enchentes, causando a perda da capacidade de armazenamento de água nos
reservatórios para o abastecimento público e incremento de poluentes químicos. Mas existe também o
aspecto benéfico relacionado ao transporte e deposição de microorganismos ou matéria orgânica que
melhora a fauna fluvial, bem como o carreamento de nutrientes, fertilizando terras já formadas.
De qualquer maneira, todos os processos contribuem com o remanejo e redistribuição de
partículas sólidas ao longo da bacia. Isto pode eventualmente ou permanentemente alterar o ciclo
hidrológico e a própria dinâmica dos sedimentos, e conseqüentemente, influenciar no manejo dos
recursos naturais.

11.1.1 Desagregação
A desagregação é o desprendimento de partículas sólidas do meio do qual fazem parte, por
meio de reações químicas, variações de temperatura, ações mecânicas dentre outros fatores. O
desprendimento e arraste de partículas é causado por forças ativas e passivas. As forças ativas,
representadas pelas tensões de cisalhamento são determinadas pelas características da chuva, a
declividade, comprimento da superfície do terreno e a capacidade de infiltração do solo. As forças
passivas são o atrito e a coesão do solo que representam a resistência do solo contra a ação erosiva da

159
água. Esta resistência depende das propriedades do solo, do uso do solo e da umidade do solo
(Adinarayana et al., 1999).
A erosão pode ser entendida como o processo de desgaste e arrastamento da superfície da
terra pela ação da gravidade combinada com água, vento, gelo, atividades humanas ou outros
agentes naturais (Silva et al., 2003). A erosão esta relacionada com a fragmentação mecânica e
decomposição química das rochas, bem como na remoção superficial e subsuperficial dos produtos
do intemperismo (Bigarella, 2003). Os principais fatores condicionantes do processo erosivo são os
tipos de solo, a natureza das rochas formadoras do solo, o clima, a topografia e a cobertura do solo.
A erosão pode ocorrer de quatro grandes tipos: (i) erosão eólica; (ii) erosão hídrica
superficial; (iii) erosão fluvial; e (iv) erosão por remoção em massa (Carvalho, 1994).
A erosão eólica é aquela provocada pelo vento. Sua ocorrência esta ligada a coesão do solo,
ao tamanho e estabilidade das partículas, rugosidade da superfície, velocidade e turbulência do
vento, dentre outros fatores (Carvalho, 1994).
A erosão hídrica pode ocorrer por: (i) erosão pluvial – ocorre pelo contato da gota com o
solo; (ii) erosão por escoamento difuso – também conhecida por erosão em sulcos ou ravinas, tem
capacidade reduzida de arranque; (iii) erosão por difuso intenso – possui as mesmas características
do anterior mas com transporte maior de sedimentos; (iv) erosão laminar – ocorre quando o solo
esta saturado e forma-se uma lâmina de água que escoa e erode a superfície uniformemente em toda
sua extensão; e (v) erosão por escoamento concentrado – quando permite com que sulcos vão
sofrendo desmoronamentos terminando pela formação de voçorocas (Carvalho, 1994).
A erosão fluvial é aquela que acontece espontaneamente pela ação das correntes dos rios.
Este tipo de erosão é o responsável pela formação do leito dos rios.
A erosão em massa corresponde aos grandes movimentos de massa tanto de solo como de
rochas. Conforme Carvalho (1994) a erosão em massa pode se processar de forma lenta (rastejo e
solifluxão) e rápida (desprendimento de terra, escorregamento superficial e escorregamento
profundo). Pode-se utilizar também para este tipo de erosão a classificação proposta por Augusto
Filho (1994) separando os escorregamentos em 4 tipos: rastejos, deslizamentos (rotacional e
translacional), quedas de blocos e fluxo de escombros (debris flow). Dentre estes movimentos, o
mecanismo do fluxo de escombros pode ser considerado com um dos mais complexos, pois
geralmente inicia com um deslizamento rotacional ou translaciona, e se transorma em um fluxo
quando o material deslizado alcança e se propaga pelo canal. Assim, este tipo de movimento possui
caracteríriticas tanto de erosão em massa como erosão fluvial. A descrição mais detalhada do fluxo
de escombros se encontra em Takahashi (2007). Embora o presente trabalho não trate desse
fenômeno, ele deve ser detalhadamente estudado no Brasil já que ocorreu intensamente e gerou
muitos prejuízos no Vale do Itajaí em 2008 e 2009 (Goerl et al., 2009).

11.1.2 Transporte
Os sedimentos resultantes do processo de erosão acabam sendo transportados
principalmente pela ação do escoamento da águas influenciado pelas condições locais e
granulometria dos sedimentos.
O transporte de sedimentos é o fenômeno de deslocamento de sedimentos que acontece em
ambientes aquáticos e aéreos, promovidos pela interação química e física das partículas ao fluído. O
presente trabalho terá como foco o transporte em ambientes fluviais.

160
Os sedimentos presentes nos rios englobam os materiais proveninetes das rochas, solos e
poluentes antropicos procedentes de diversas ações como: os processos erosivos que ocorrem nas
vertentes da bacia hidrográfica, no leito e nas margens dos rios; os movimentos de terra que
atingiram os rios; os despejos de contaminantes; dentre outras origens.
O transporte nesses ambientes ocorre na forma dissolvida, em suspensão, por rolamento,
deslizamento e/ou saltação (Vestena, 2008). A Figura 11.1 apresenta os parâmetros que interferem
no transporte:

Transporte de Sedimentos

Figura 11.1. Parâmetros que definem o tipo de transporte de sedimentos.

11.1.2.1 Princípios da Interação Química


Para analisar a forma como o sedimento são transportados no fluido deve-se levar em
consideração as interações químicas dos mesmos com o ambiente fluvial. E para tanto, é importante
estudar as propriedades da água como solubilidade, temperatura, pH e estado físico, além da origem
do material que compõe o sedimento.
Os poluentes antropicos compreendem principalmente os fertilizantes e a poluição urbana
que são carreados até os rios pelos processos erosivos, e também os óleos de embarcações e os
despejos pontuais de resíduos domésticos e industriais lançados nos corpos dos rios.
Quando presentes no ambiente fluvial os fertilizantes e os despejos pontuais podem se
encontrar na forma dissolvida ou não, dependendo da solubilidade do poluente, e o transporte
ocorre na mesma dinâmica do fluido. Esses poluentes permitem a formação de compostos tóxicos e
a obtenção do oxigênio dissolvido utilizado pelos seres vivos para sua degradação, afetando a vida
aquática.
Os óleos de embarcações possuem baixas ou nenhuma solubilidade e são transportados na
mesma dinâmica que os fluidos. Geralmente são menos densos que a água e por esse motivo
acabam dificultando a penetração dos raios solares necessários para a fotossíntese, interferindo na
produção de oxigênio dissolvido, e, portanto, na vida dos seres vivos.
Os sedimentos formados por solos são constituídos por uma fração orgânica e outra mineral.
A porção orgânica se encontra na forma dissolvida (produtos da degradação) ou em suspensão
(microrganismos) nos ambientes fluviais e, da mesma forma que os poluentes antropicos, permite a
obtenção do oxigênio dissolvido utilizado pelos seres vivos prejudicando a vida aquática
dependendo do volume presente no corpo hídrico. A porção mineral se desloca em suspensão, por
rolamento, deslizamento e/ou saltação, dependendo da sua granulometria. Segundo Leinz e Amaral
(2001), as rochas sedimentares são divididas em três grupos, que se diferem a partir da sua origem:

161
• Sedimento Clastícos ou Mecânicos

São fragmentos de rochas ígneas, metamórficas e/ou sedimentares que foram transportados e
depositados em determinados locais onde sofreram ou não, a consolidação Englobam: matacões,
blocos, seixos, grânulos, areias, siltes e argilas. Conglomerados, brechas, arenitos e folhelhos são
exemplos de rochas sedimentares consolidadas e areias, argilas e siltes são exemplos de não
consolidadas. Os sedimentos clastícos se deslocam em suspensão, por rolamento, deslizamento e/ou
saltação a partir da sua granulometria e da dinâmica do fluido. No entanto, parte da composição
mineral das argilas pode também se transportar na forma dissolvida, pois se apresentam na forma de
íons. Os detalhes de cada movimento serão apresentados no item Princípios de Interação Física.

• Sedimentos Químicos

São sedimentos que estavam presentes dissolvidos na água e se formaram através da


precipitação de solutos ou da evaporação da água que ocorre em diferentes estágios de tempo.
Segundo Popp (1998), os sedimentos químicos são sub-divididos em: sedimentos carbonáticos,
formado pela precipitação de carbonatos dando origem aos calcários e dolomitas; sedimentos
ferríferos, formado pela deposição de hidratos férricos originado as piritas e hematitas; sedimentos
silicosos formados pela precipitação de sílica e se encontram em camadas dentro de outros
sedimentos; sedimentos evaporitos, formados pela precipitação de sais como cloreto de sódio
potássio e outros decorrentes da evaporação. O transporte dos sedimentos químicos se dá por
dissolução e suspensão dependendo da relação soluto e solvente.

• Sedimentos Orgânicos

Formados a partir do acúmulo de restos de microorganismos e matéria orgânica. Ex:


diatomiltos, carvão mineral e betumes (na forma sólida como o asfalto natural, líquida como o
petróleo, e gasoso como o gás natural). Os betumes são compostos de hidrocarbonetos, e, portanto,
possuem baixa ou nenhuma solubilidade em água. O conhecimento da geologia da região de estudo
permite apontar o grupo de sedimentos que serão encontrados nos corpos dos rios devido aos
processos erosivos. Dessa forma, evidencia-se a importância de se analisar as interações químicas
dos sedimentos com os fluidos a fim de entender os mecanismos de transportes.
As propriedades da água como temperatura, pH e o estado físico vem a favorecer ou
prejudicar os níveis de solubilidade que os sedimentos adquirem em meio aquoso. O aumento da
temperatura e o estado líquido da água são pontos que favorecem os níveis de solubilidade. O
critério de pH é peculiar ao tipo de sedimento analisado.

11.1.2.2 Princípios da Interação Física


A análise da interação física entre os sedimentos e o fluido se dá a partir da relação entre a
granulometria dos sedimentos clásticos das rochas sedimentares e da dinâmica do fluido. A partir
das informações do trabalho de Vestena (2008) foi elaborada a Tabela 11.1 que relaciona o tipo de
sedimento clástico com o tipo de transporte.

162
Tabela 11.1. Relação entre a granulometria do sedimento e transporte.
Material Ø mm (AB
T 65602/95) Transporte
Argila 0<Ø<0,002 Em suspensão
Silte 0,002<Ø<0,06 Em suspensão
Areia Fina 0,06<Ø<0,2 Em suspensão, rolamento,
Média 0,2<Ø<0,6 arraste e/ou saltação
Grossa 0,6<Ø<2,0
Pedregulho Fina 2,0<Ø<6,0 Rolamento, arraste e/ou
Média 6,0<Ø<20,0 saltação
Grossa 20,0<Ø<60,0

11.1.2.3 Dinâmica do fluido


O estudo do transporte de sedimentos pela dinâmica do fluido está vinculado à energia do
rio, tanto potencial quanto cinética. A energia potencial dos pontos a montante se transforma
parcialmente em energia cinética a partir do momento que vence as resistências ao movimento.
Segundo Suguio e Bigarella (1990), para a compreensão do transporte de sedimentos é
importante avaliar:
• A massa, o peso, a densidade e o peso específico do sedimento;
A densidade traduz a exigência da quantidade de energia que o rio precisa estar para alterar
o estado de movimento do sedimento.
• A viscosidade do fluido, sua tensão tangencial e sua temperatura;
A viscosidade traduz a resistência do fluido a uma deformação, ou seja, quanto maior a
viscosidade menor será a velocidade que o fluido se movimenta e maior a capacidade de arraste. A
água possui baixa viscosidade, na ordem de 17,9 x 10-4 kg/m.s a 1atm e a 0°C.
• A declividade do terreno, o volume de água transportado e o coeficiente de
rugosidade do canal.
Esses parâmetros, juntamente com a viscosidade, interferem na velocidade da água
(Equação (11.1)), que é quantificada através da fórmula de Manning, que define a velocidade em
função do raio hidráulico (Rh)(Equação (11.2)), da declividade (S) e do coeficiente de rugosidade
(n).
1 2/3
V = ⋅ Rh ⋅ S 1/ 2 (11.1)
n
onde Rh é calculado pela razão entre a área molhada (Am) e o perímetro molhado (Pm).
Am
Rh = (11.2)
Pm
A vazão é calculada através da fórmula (11.3).
nQ 2/3
= Am ⋅ Rh (11.3)
S

163
O estudo da velocidade do fluido permite avaliar a energia da água, e, portanto, a
turbulência do fluido. A turbulência define se o sedimento se desloca em suspensão, por rolamento,
deslizamento e/ou saltação. Isso significa que um mesmo material pode ser transportado de formas
diferentes devido à turbulência da água. O estudo das condições do fluxo permite analisar a
intensidade de turbulência para manter os sedimentos em suspensão, e normalmente, nos ambientes
fluviais encontra-se o fluxo turbulento.
As condições do fluxo do rio são determinadas pelo 'úmero de Reynold (Re) que define o
fluxo como laminar ou turbulento, e pelo 'úmero de Froude (Fr) que define o fluxo como
supercrítico e subcrítico. As expressões matemáticas de ambos os parâmetros são apresentadas
abaixo.
v.D.ϕ
Re = (11.4)
µ
onde v é a velocidade, D é a profundidade, φ é o peso específico e µ é a viscosidade, com valor
igual a 1,12 x 10-4 m2.s. Quando o valor de Re é inferior a 500 o fluxo laminar é predominante,
quando superior a 750 predomina-se o fluxo turbulento.
v
Fr = (11.5)
g .D
onde g é a aceleração da gravidade. Quando o valor de Fr é inferior a 1 o fluxo é tranqüilo
(subcrítico), quando superior a 1 o fluxo é rápido (supercrítico).
Para uma mesma condição de fluxo, a turbulência aumenta ao longo da profundidade do
canal do rio devido ao aumento da fricção nas camadas limites (superfície do rio e fundo do leito),
seguindo o mesmo perfil de velocidade do fluido como mostra a Figura 11.3 (a) e (b).
Vale ressaltar que a forma e o tamanho dos sedimentos além das saliências existentes sobre
os fundos dos leitos dos rios interferem na remoção da partícula então depositada nestes fundos do
leito. Suguio e Bigarella (1990) apresentam uma comparação entre a dinâmica de deposição e
movimento das areias e argilas. Segundo estes autores, as argilas, em virtude da coesão existente,
exije uma maior energia para proporcionar essas remoções comparadas às areais, no entanto, as
areias se depositam mais rapidamente que as argilas.
Os sedimentos em suspensão se transportam com a mesma velocidade do fluido e
permanecem em suspensão desde que a intensidade de turbulência seja superior a velocidade de
decantação da partícula. Essa por sua vez depende da viscosidade do fluido, do peso específico, do
tamanho e esfericidade da partícula.
A distribuição vertical dos sedimentos nos cursos de água está diretamente relacionada à
velocidade da corrente horizontal e do peso das partículas. A concentração de sedimentos, de
maneira geral, apresenta seu mínimo na superfície e seu máximo perto do leito, variando de acordo
com a granulometria. As partículas mais finas, como silte e argila apresentam uma distribuição
aproximadamente mais uniforme na vertical, enquanto as partículas mais grossas apresentam uma
variação crescente da superfície para o leito (Figura 11.2).

164
Figura 11.2. Distribuições verticais teóricas dos sedimentos no rio em função do material.
(Fonte: Morris e Fan, 1997)

Ao longo de uma seção transversal a concentração do sedimento em suspensão também


varia, sendo esta variação em função da velocidade do fluxo do rio, da disponibilidade do
sedimento e da granulometria do mesmo. Na Figura 11.3(a) é apresentado um diagrama da
velocidade, concentração de sedimentos e descarga sólida em cursos d’água. Na Figura 12.3(b) é
apresentada uma relação entre o tipo de sedimento e sua condição de transporte em um curso
normal d’água.

(a) (b)
Figura 11.3. (a) Diagrama da velocidade, concentração de sedimentos e descarga sólida em cursos
d’água; (b) Relação entre tipo de sedimento, condição de transporte e perfil de velocidade do
fluxo.(Fonte: (a) Carvalho, 1994; (b) Suguio e Bigarella, 1990)

Os sedimentos podem ser transportados em um curso d’água de duas formas: como


sedimento de arrasto; e como sedimento em suspensão.
Para determinar a descarga sólida de arrasto deve-se levar em conta a granulometria do
material, a velocidade da corrente, a declividade do leito, força de atrito entre partículas,
profundidade do curso d’água entre outros fatores (Carvalho, 1994). Já para medição da descarga
em suspensão é necessário saber a concentração do sedimento em suspensão e a descarga líquida.
165
Carvalho (1994) afirma que na maior parte dos cursos d’água essa parcela representa mais de 90%
da descarga sólida total.
No subtítulo 11.2 são apresentadas formas de medições de sedimentos de arrasto e em
suspensão através de amostradores. Além dos amostradores, podem ser utilizadas fórmulas para
obtenção dos valores de sedimento de arrasto. Graf (1984) afirma que podemos agrupar as diversas
fórmula em três grupos:

• As equações similares a de Du Boys;


• As equações similares a de Schoklitcsh;
• E as equações similares a de Einstein.

A equação de Du Boys (1879) faz o movimento do sedimento em camadas com diferentes


espessuras. Estas camadas são movidas devido a força de tração resultante da tensão tangencial
exercida entre as diferentes camadas (Graf, 1984).
A equação de Schoklitsch (1934) adota como princípio que o material de leito somente se
movimenta apartir da descarga crítica. Esta formulação foi obtida a partir de simulações numa calha
de Gilber, com sedimento de granulometria média de 0,3 a 0,5mm (Carvalho, 1994).
Einstein (1950) desenvolveu um modelo físico a partir dos avanços da mecânica dos fluidos.
Ele sugere que o transporte de sedimento de arrasto, está mais relacionado com a variação da
velocidade, do que com a velocidade média. O início e o fim do movimento devem ser expressos
numa probabilidade que relaciona as forças hidrodinâmicas com o peso de cada partícula (Graf,
1994).
Para se obter a descarga sólida total (total load) (Qst) transportada em um rio, soma-se a
descarga de sedimentos transportada por arrasto de fundo (bed load) (Qsf) com a descarga em
suspensão (suspended load) (Qss).

11.1.3 Deposição
A decantação ou sedimentação refere-se ao processo pelo qual as partículas transportadas em
suspensão, descendem ao fundo do leito sob efeito da gravidade. A decantação é muitas vezes
confundida com o depósito, porém difere por poder continuar movimentando-se mesmo em contato com
o fundo (fundo móvel). A deposição representa a parada total da partícula em suspensão recém
decantada sobre o fundo, ou daquela transportada por arraste (Bordas e Semmelmann, 2000). A
deposição ocorre quando a força peso das partículas sólidas transportadas torna-se maior que a
energia de transporte.
A consolidação ou compactação representa o acúmulo de partículas sobre o fundo e a
compactação do depósito resultante sob efeito do próprio peso dos sedimentos, da pressão
hidrostática ou outro fenômeno que venha aumentar a densidade dos depósitos (Bordas e
Semmelmann, 2000).

11.1.4 Diagrama de Hjülström


Na Suécia, Hjülström (1935) elaborou um diagrama (Figura 11.4) que mostra as influências
do tamanho (diâmetro) da partícula e a velocidade do fluxo nos três processos principais, isto é,

166
desagregação, transporte e deposição. Nota-se na figura que o tamanho da partícula e a velocidade
do fluxo para erosão não possuem uma relação linear. Quando o tamanho for entre 0,2 e 0,4 mm, a
velocidade necessária para erosão torna-se mínima. Quando o tamanho for ainda menor, necessita-
se uma velocidade ainda maior para gerar a erosão. Isto porque, partículas com tamanho menor
(argila e silte) possuem maior coesão e precisam sofrer maior força para desagregação. Uma vez
que as partículas se movimentam, a energia necessária para transporte diminui, pois não existe mais
coesão entre as partículas.

Figura 11.4. Diagrama de Hjülström. (Fonte: Christofoletti, 1988)

11.2 Estimativa da perda de solos


A modelagem da perda de solo envolve diversos fatores relacionados com os processos
erosivos. Dessa maneira, diversos dados não podem ser medidos ou observados em campo fazendo
com que os modelos utilizados trabalhem baseados numa simplificação da realidade Stocking
(1982) classificou os modelos em dois tipos: (i) conceituais ou matemáticos; e (ii) empíricos ou
estatísticos.
Os modelos conceituais são os que tentam modelar os processos de erosão, baseados em
equações que reproduzem a realidade física do processo. A principal vantagem é uma maior
confiabilidade nas extrapolações, tanto futuras como passadas. A desvantagem é a complexidade do
processo e a dificuldade da representação matemática exata dos fenômenos que geram o processo
de erosão.
Os modelos empíricos são geralmente constituídos de equações que tentam representar as
causas-efeitos sendo calibrados através de experiências de quem realiza a simulação ou baseados
em bibliografia. Os dados a serem calibrados estão relacionados com os dados observados da perda
de solo e as características locais. A maior vantagem desses modelos é a sua simplicidade funcional.
A principal desvantagem é a impossibilidade de gerar extrapolações para eventos extremos.
Um dos modelos empíricos mais utilizados para quantificação da perda de solo é USLE
(Universal Soil Loss Equation) desenvolvido por Wischmeier & Smith (1978). Essa equação
relaciona características físicas, meteorológicas e geomorfológicas de uma região, permitindo
estimar a perda de solo média mensal ou anual. Desde então, a USLE tem sido largamente utilizada

167
na estimativa da erosão, principalmente pela sua simplicidade, e pelo número pequeno de dados de
entrada necessário no modelo. A USLE é apresentada como:
A = R.K .L.S .C.P (11.6)
onde A é a perda do solo computada por unidade de área [ton/(ha.ano)]; R fator erosividade da
chuva [MJ.mm/(ha.h.ano)]; K fator erodibilidade do solo, definido como a quantidade de solo
perdida por unidade de área por unidade de índice de erosividade [ton.ha.h/ha.MJ.mm]; L fator
comprimento do declive (adimensional); S fator declividade (adimensional); C fator uso e manejo
do solo (adimensional); P fator práticas conservacionistas (adimensional).
Com o tempo a USLE sofreu diversas modificações para outras finalidades, podendo citar:

• MUSLE - Foi desenvolvida por Williams (1975) para prever a produção de sedimentos em
de pequenas e médias bacias hidrográficas através de análises de chuvas. Houve
modificação no cálculo do fator hidrológico, os demais permanecendo iguais ao USLE.
• RUSLE – Desenvolvida por Renard et al. (1991) é uma atualização da USLE, com
modificações na estimativa de alguns fatores K, C e P.

Devido a sua simplicidade e facilidade do uso, a USLE vem sendo utilizada amplamente no
Brasil. A ANA adotou este modelo para realizar o programa “Produtor de Água” (Chaves et al.,
2004). Por causa deste projeto, este modelo poderá ser ainda mais difundido no futuro.

Uma outra maneira de estimar a perda de solos é através da Taxa de Transferencia de


Sedimentos (Sediment Delivery Ratio - SDR). Esta taxa é definida como a razão entre o volume de
sedimento por unidade de área, movido para fora de uma bacia hidrográfica pelo volume estimado
de sedimento, por unidade de área, produzido nessa bacia. Pode ser definida também como a razão
entre a quantidade de sedimentos transportados (medidos) em uma determinada seção e o total de
solo erodido na bacia de contribuição da seção de medição. Assim, a SDR expressa a porcentagem
de material sólido erodido, que alcança uma designada seção do rio a jusante (Maidment, 1993).
Chow (1964) mencionou que a SDR sofre influência de fatores físicos da região, como o
tamanho da área de drenagem, a declividade do terreno e geometria do canal. Entre as
características hidrológicas que influenciam na taxa de transferência pode-se citar as características
pluviométricas da região, que variam de acordo com posição geográfica. Segundo Walling (1983), a
magnitude da SDR para uma bacia em particular é influenciada por uma extensa gama de fatores
geomorfológicos e ambientais incluindo a natureza, a extensão e a localização da origem dos
sedimentos, as características do relevo, o modelo de drenagem, as condições do canal, a cobertura
vegetal, o uso da terra e a textura do solo. Clark et al. (1985) mostraram que os fatores que
influenciam na SDR são: a escala de tempo; a localização das partículas sólidas desagregadas; a
quantidade de canais na área de drenagem; o tamanho da área de drenagem; características do tipo e
uso do solo; e a erosividade da chuva.
Para Maidment (1993) a probabilidade de deposição da partícula sólida na própria bacia de
origem aumenta de acordo com o tamanho da área de drenagem dessa bacia. Dessa forma, a taxa de
transferência de sedimentos decresce com a área de drenagem da bacia (Figura 11.5). Segundo
Schumm (1977), para bacias pequenas, em torno de 0,259 km2, a SDR está em torno de 20 a 90%.

168
Para bacias maiores, em torno de 776 km2, a SDR está por volta de 3 a 20%. Walling (1983)
apresentou uma única relação entre o tamanho da bacia e o valor da SDR (Figura 11.6).

Figura 11.5. Relação entre área da bacia e SDR. (Fonte: Maidment, 1993)

Figura 11.6. Única relação entre área da bacia e SDR. (Fonte: Walling, 1983)

Entretanto, Walling (1988) relatou que a SDR pode variar substancialmente no decorrer do
ano, sofrendo uma variação entre 20% a 50% no inverno, e de até 100% a 350% no verão. Assim, a
relação entre área da bacia e a SDR não é muito simples. Entretanto, de posse dessa relação, pode-
se estimar a quantidade dos sedimentos que passam em uma determinada seção no rio caso se tenha
valor de perda total do solo na área de contribuição. Aplicação da USLE é relativamente simples.
Então, calculando a perda de solo com a USLE, é possível ter uma noção da quantidade dos
sedimentos no rio. Mesmo assim é aconselhavel medir os sedimentos no rio com amostragem.

11.3 . Amostragem no rio


11.3.1 Sedimento em suspensão
A amostragem de sedimento em suspensão pode ser feita de forma pontual ou integral. As
medições pontuais são normalmente utilizadas para apresentar a concentração vertical de
sedimentos ou para representar a seção como um todo, quando já analisado o comportamento dos
sedimentos na seção. As amostras integrais são aquelas realizadas em várias verticais de modo a

169
serem representativas para toda a seção. Estas amostras representam a concentração média de
sedimento da vertical como da seção, quando as coletas são realizadas ao longo de diversas verticais
na seção. Na medição integral deve-se ter cuidado para nunca tocar o fundo do rio e também que a
velocidade com que o amostrador é baixado e levantado sejam suficientes para não encher a garrafa
(Carvalho, 1994).
Para a determinação da concentração de sedimento em suspensão (CSS) pode ser realizada
através de amostradores: (i) instantâneos; (ii) por integração; e (iii) por bombeamento (Carvalho,
1994).
Os amostradores instantâneos (Figura 11.7) coletam a amostra pelo fechamento instantâneo
das extremidades do equipamento. Os amostradores por integração acumulam no recipiente a
amostra obtida através do meio por um bico. Já os amostradores por bombeamento utilizam uma
bomba para coleta da amostra.

Figura 11.7. Exemplo de amostrador instantâneo.


(Fonte: http://www.lunus.com.br/Produtos/Prod_General_Oceanics/Img_GO/niskin.jpg)

O amostrador de sedimentos em suspensão apresentado na Figura 11.8(a) é conhecido como


USDH-48 (AMS-1). Este amostrador é classificado como um amostrador integrador. As coletas são
feitas a vau (operador dentro do rio) sendo o equipamento do tipo leve, com operação através de
uma haste ou cabo. Utiliza-se para pequenas profundidades (1,5 m), sendo a amostra coletada e
armazenada em uma garrafa de vidro (Carvalho, 1994). Na Figura 11.8(b) é apresentado um
exemplo de utilização deste amostrador sendo utilizado a vau.

(a) (b)
Figura 11.8. Amostrador por integração: (a) amostrador; (b) utilização a vau.

Após a coleta da amostra o valor de sedimento em suspensão é obtido em laboratório.


170
11.3.2 Sedimento de arrasto
A medição de sedimento de arrasto pode ser feita através de medição direta, com
equipamentos portáteis ou fixos e através de métodos empíricos ou pela subtração do sedimento em
suspensão do sedimento total medido. Os equipamentos de medição direta podem ser de: (i) cesta;
(ii) bandeja ou tanque; (iii) diferença de pressão; e (iv) estrutura de fenda ou poço (Carvalho, 1994).
Os amostradores de cesta são abertos na frente e telados nos demais lados, alguns possuindo
também o fundo aberto. O sedimento é depositado dentre destes amostradores através da
diminuição da velocidade da corrente. Os amostradores de bandeja ou tanque possuem uma rampa
de entrada e um tanque que armazena o sedimento que cai na abertura que este equipamento possui.
Os amostradores de diferença de pressão são projetados para que a velocidade de entrada seja a
mesma da corrente. Este tipo de amostrador pode apresentar um saco para armazenamento do
sedimento de arrasto. Os amostradores de fenda ou poço são aqueles onde são construídos poços
transversais ao sentido do fluxo retendo assim o sedimento de arrasto. Os dois primeiros tipos de
amostradores de arrasto apresentam eficiência muito variável, sendo os de fenda os mais eficientes,
mas em contrapartida os mais dispendiosos (Carvalho, 1994).
Na Figura 11.9 é apresentado um exemplo de equipamento tipo diferença de pressão
conhecido como amostrador Helley Smith.

(a) (b)
Figura 11.9. Amostrador Helley Smith: (a) em campo (b) em detalhe.
(Fonte (b): http://www.fondriest.com/images/helley-smith_sampler_sm.jpg)

11.3.3 Material de leito


As amostragens de material de leito são utilizadas para determinar a granulometria do
sedimento que está disponível para transporte. Estas amostragens normalmente são realizadas a
distâncias incrementais iguais. Normalmente a coleta do material é feita em menor número de
verticais que as amostras de sedimento em suspensão, nunca sendo menor do que 3 verticais,
permitindo uma boa representatividade estatística (Carvalho, 1994). Na Figura 11.10(a) é
apresentado um exemplo de amostrador US-BMH-53 modificado. Este amostrador consiste de um
pistão manual com penetração vertical.

171
(a) (b)
Figura 11.10. Amostrador de material de leito: (a) aplicação em campo; (b) US-BMH-53.
(Fonte: (b) http://water.usgs.gov/osw/pubs/OFR_2005_1087/US_BMH53.gif)

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173
12. GERAÇÃO DE VAZÃO EM RIOS

Masato Kobiyama
Pedro Luiz Borges Chaffe

12.1 Zona ripária


12.1.1 Terminologia
A faixa de vegetação ao longo dos rios é, sem dúvida, uma das partes mais importantes dos
mananciais e deve ser protegida (ou recuperada) para a conservação do ambiente fluvial. Esta faixa
de vegetação ou área recebe denominações de zona ripária, mata ciliar, floresta de galeria, entre
outros, nas sociedades, ambas, comum e científica. Tomando como base a imprensa falada e escrita,
assim como atividades de educação ambiental, pode-se dizer que o termo “mata ciliar” é mais
popular na sociedade brasileira.
Procurando apenas termos utilizados para este assunto (tal vegetação e tal área), nota-se que
há diversidade dos termos. Esta diversidade implica, e resulta da complexidade deste assunto.
Entretanto, para fazer ciência, deve-se que uniformizar alguns termos técnicos.
Em inglês, a floresta (vegetação) que ocupa o espaço próximo ao rio se chama riparian
forest (vegetation). Segundo Gregory & Ashkenas (1990), o termo riparian (ripária) é derivado do
latim, e significa banco de areia ou de terra depositada junto à margem dos rios e/ou terra perto da
água e simplesmente refere-se à área próxima ao corpo da água.
A Tabela 13.1 apresenta diversos termos utilizados em idiomas como o inglês, português e
japonês. Nota-se uma enorme diversidade da terminologia. Mesmo quando empregam termos
iguais, os autores definem de diferentes maneira, por exemplo, Gregory et al. (1991) e Georgia
Adopt-A-Stream (2002) para a zona ripária e Schiavini (1997) e Barbosa (1997) para a floresta de
galeria.
Além disso, a terminologia possui uma regionalidade. Por exemplo, no Cerrado o termo de
“mata (floresta) de galeria” é mais comum, e em planície sulina usa-se “mata de fecho ou de
anteparo” (MANTOVANI, 1989). Mencionando diversos nomes, Barbosa (1996) comentou que os
termos mais utilizados pelos técnicos e cientistas no Brasil são floresta ciliar e floresta de galeria.
Rodrigues (2000) fez outro comentário. Segundo ele, o termo floresta (ou mata) ripária é
mais comumente usado para floresta ocorrente ao longo do curso da água em regiões onde a floresta
cobre as vertentes (interflúvios). Na legislação brasileira, o termo floresta (ou mata) ciliar vem
sendo utilizada de forma extremamente genérica. O mesmo autor definiu a formação ribeirinha e,
ainda, a classificou em três categorias: formação ribeirinha com influência fluvial permanente;
formação ribeirinha com influência fluvial sazonal; e formação ribeirinha sem influência fluvial.

174
Tabela 12.1. Termos empregados para zona ripária. (a)inglês; (b)português; e (c)japonês.
(a)
Autor(es) Termo utilizado Definição
Dillaha et al. (1989) Faixa vegetal de filtragem Área de vegetação estabelecida para remover
(vegetative filter strip) sedimentos e outros poluentes a partir do
escoamento superficial através de filtragem,
deposição, infiltração, adsorção, absorção,
decomposição, e volatilização.
Gregory & Ashkenas Área ripária Ecossistema aquático (EA) e porções do
(1990) ecossistema terrestre (ET) próximas ao EA,
que diretamente afetam ou são afetados pelo
EA. Inclui rios, lagos, banhados, planície de
inundação, uma parte de vertente.
Gregory & Ashkenas Zona de manejo ripário Área especificamente estabelecida para
(1990) objetivos do manejo ripário. Está dentro da
área ripária, mas não necessariamente inclui
toda parte da mesma.
Gregory et al. (1991) Zona ripária Interface entre ecossistemas terrestre e
aquático. É ecótono. Estende-se
horizontalmente até o limite que a inundação
alcança, e verticalmente até o topo da copa da
vegetação. É reconhecida como corredor para
movimento de animais dentro do sistema de
drenagem.
Bren (1993) Zona ripária Área de maior proximidade dos rios
Hupp & Osterkamp Zona ripária Uma parte da biosfera inundada e suportada
(1996) pela paisagem fluvial atual. Inclui barranco,
planície de inundação
NRCS (1997) Armazenamento florestal Área de árvores e arbustos, localizada próxima
ripariano (Riparian Forest de rios, lagos, lagoas e banhados.
buffer)
Bren (1997) Armazenamento do rio (Stream Área adjacente ao rio, a partir da qual o
buffer) desamamento não é permitido.
Bren (1998) Faixa de armazenamento (Buffer Área de terra ao longo do rio, protegida da
strip) prática de uso do solo na bacia hidrográfica,
para proteger o rio dos impactos de montantes.
Georgia Adopt-A- Zona ripária Área de vegetação (natural) em torno do corpo
Stream (2002) de água.
McKergow et al. Área ripária Terra bem próxima a rios, podendo
(2003) potencialmente minimizar impactos da
agricultura sobre os mesmos. Minimizar
impactos da agricultura sobre rios.
Webb & Erskine Zona ripária Conjunto de canal, barraco e planície de
(2003) inundação.

175
(b)
Autor(es) Termo utilizado Definição
Salvador (1987) Floresta ripícola ou ciliar Vegetação arbórea das margens dos rios, que
desempenha funções ecológicas e hidrológicas
importantes em uma bacia hidrográfica.
Mantovani (1989) Floresta ripária Formações com particularidade florística, em
função das cheias periódicas, variáveis em
intensidade, duração e freqüência e da flutuação
do lençol freático.
Mantovani (1989) Floresta de condensação Floresta situada no fundo de vales, em condições
mesoclimáticas que favorecem a condensação e
a permanência de neblina nas primeiras horas do
dia, ao menos em algum período do ano.
Mantovani (1989) Mata aluvial Floresta que se situa sobre aluviões
Mantovani (1989) Floresta paludosa ou de várzea Floresta que se situa em várzeas
Rodrigues (1991) Floresta ripária Faixa de vegetação sob as interferências diretas
da presença de água em algum período do ano.
Rodrigues (1992) Mata ciliar Qualquer formação às margens de cursos da
água, incluindo as matas ripárias, de galeria e até
de brejo, quando se tem um curso da água bem
definido.
Torres et al. (1992) Floresta de brejo Floresta sobre solos permanentemente
encharcados, com fluxo constante de água
superficial.
Schiavini (1997) Floresta de galeria Florestas situadas nas faixas marginais dos
cursos da água, formando uma galeria. Dessa
maneira, é um caso especial da floresta ciliar.
Barbosa (1997) Floresta de galeria Formações vegetais características de margens
de corpos da água com espécies altamente
tolerantes e resistentes ao excesso da água no
solo.
Brazão & Santos Áreas das formações pioneiras com Áreas de acumulação dos cursos de água, lagoas
(1997) influência fluvial ou lacustre e assemelhados, que constituem os termos
(vegetação aluvial) aluviais sujeitos ou não a inundações periódicas.
Souza (1999) Vegetação ripária Toda e qualquer vegetação de margem, não
apenas a que está relacionada ao corpo da água,
seja este natural ou criado pelo homem.
Rodrigues (2000) Formação ribeirinha Formação vegetal e fitogeográfica em áreas de
entorno de cursos de água, definindo uma
condição ecotonal (ecótono ciliar).
Dias (2001) Áreas de preservação permanente Áreas com qualquer formação às margens de
ciliares cursos da água (ciliares), legalmente protegidas,
de acordo com o Código Florestal.
Selles et al. (2001) Mata ciliar Faixa de mata na margem da água.
Ohta & Takahashi Zona ripária Ecossistema aquático, tais como rios e lagoas, e
(1999) ecossistema terrestre que influencia diretamente
os mesmos.
The Japan Society of Zona ripária Zona próxima a rios, lagos, pântanos, etc. Esta
Erosion Control zona influencia fortemente a transferência de
Engineering (2000) energia, nutrientes, sedimentos etc. entre os
ecossistemas terrestre e aquático. Incluem
planície, vertente, vegetação, e a estrutura
subterrânea onde a água subterrânea se
movimenta.
The Japan Society of Zona de armazenamento (buffer) Zona que minimiza efeitos físicos, químicos e
Erosion Control biológicos dos usos da terra sobre outros
Engineering (2000) ambientes vizinhos.
The Japan Society of Zona de manejo ripário. Zona florestal protegida, em torno de rios e
Erosion Control lagoas, pela legislação.
Engineering (2000)

176
NRCS (1997) classificou a área mais detalhadamente com critério de geomorfologia e uso
da terra (Figura 12.1). Nesta figura, a Zona 3 é considerada como faixa de filtragem que é
exclusivamente para reduzir a quantidade dos sedimentos e solutos (fertilidade e agrotóxicos) que
vêm da área de cultivos e entram no rio.

Figura 12.1. Zoneamento da faixa de armazenamento (Fonte: NRCS, 1997).

No caso da proposta de Gregory & Ashkenas (1990), a zona de manejo ripário não coincide
com a ripária. Isso é natural, pois para melhorar a condição da zona ripária, o manejo deve ser
efetuado não somente nela, mas também em seu redor (Figura 12.2). Nesta figura, a zona ripária
coincide com a planície de inundação.

Figura 12.2. Zona de manejo ripário (Fonte: Gregory & Ashkenas, 1990)

Analisando os termos e suas respectivas definições, aqui se colocam alguns comentários.


Comparando “mata” e “floresta”, observa-se que o termo mata é mais utilizado para o aspecto geral
de vegetação e, literalmente, mais empregado que vegetação. Neste caso, floresta já implica
existência de árvores de grande porte, e também dá uma conotação mais científica do que mata.
Vegetação é um termo geral que inclui não somente floresta, mas também arbustos e gramíneas.
O termo “ciliar” é originado de cílios, significando então, proteção. Neste sentido, floresta
utilizada para quebra-vento poderia ser mata ciliar também. Entretanto, ripária significa próximo ao
177
corpo de água, e leva em consideração conceito de distância e água. Portanto, o termo “ripária” é
mais correto do que ciliar para o presente assunto do livro.
Na literatura em inglês, encontram-se os termos filter (filtragem) e buffer (tampão e
armazenamento). Estes indicam mais a função que floresta ripária possui. Os termos “faixa” e
“área” dão impressão de conceito de bi-dimensão horizontal. Nesse sentido, a zona ripária pode ser
também bidimensional.
De fato, precisa-se tratar o espaço de forma tridimensional incluindo vegetação (árvore,
arbusto, ervas, gramíneas, entre outros), solo e rio (corpo da água). Com esse objetivo, é que o
presente livro recomenda o uso do termo “zona ripária”, que trata o espaço acima descrito.
Resumindo, a zona ripária é definida como um espaço tridimensional que contêm vegetação, solo e
rio. Sua extensão é horizontalmente até o alcance de inundação e verticalmente do regolito (abaixo)
até o topo da copa da floresta (acima). A determinação desta extensão horizontal e vertical é
semelhante à de Gregory et al. (1991). A planície de inundação é, geralmente, uma superfície plana
e inundada, em média, uma vez por 1 a 3 anos (HUPP & OSTERKAMP, 1996). Na parte de baixo
da superfície, o leito do rio, a zona ripária inclui a zona “hyporheic” que é segundo Stanford &
Ward (1988), um espaço importante para ecologia dos organismos aquáticos no fundo do canal.
Takahashi & Ohta (1999) definiram a zona “hyporheic” como aquela onde água fluvial entra
por baixo do leito do canal e a condição hidráulica da água fica entre as das águas fluviais e
subterrâneas (Figura 12.3). Neste sentido, a zona “hyporheic” também é considerada com ecótono,
onde a água subterrânea flui entre os ecossistemas terrestre e aquático. Segundo os mesmos autores,
a profundidade é, normalmente, 20 a 60 cm, sendo difícil determinar este valor na prática.

Figura 12.3. Conceito da zona “hyporheic”. (Fonte: Takahashi & Ohta, 1999). Observação: A
origem da água no rio é da água subsuperfical de vertente (A), água subsuperficial da zona
“hyporheic” (B), e água subterrânea bem profunda (C). Normalmente a água “hyporheic” recarrega
o rio, mas às vezes o rio recarrega a zona “hyporheic” (D).

Finalizando a discussão sobre a terminologia, a zona ripária deve ter melhor compreensão
em termos de espaço físico tridimensional (KOBIYAMA, 2003). Entretanto, neste caso, a zona
ripária implica apenas espaço. Quando se precisa tratar o sistema, processos, mecanismos entre
outros, é melhor usar o termo ecossistema ripário. Este ecossistema é sistema aberto. Por isso, ele é
considerado ecótono entre ecossistemas terrestres e aquáticos através da movimentação das águas
superficial e subterrânea (Figura 12.4).

178
Regolito
(Horizontes A e B Zona
“Hyporheic”

Seção transversal da zona ripária

Figura 12.4. Zona ripária (espaço físico do ecossistema ripário)

12.1.2 Tamanho da zona ripária


O interesse sobre zonas ripárias tem aumentado consideravelmente. Esse interesse está
relacionado à conservação dos recursos hídricos, isto é, a manutenção das características naturais
dos corpos de água. Em razão disso, muitos estudos foram realizados a fim de analisar a eficiência
e/ou dimensionar a largura de faixas vegetativas. Nota-se entre os estudos um consenso que a
estimativa da largura das faixas depende da função que ela deverá exercer. A aplicabilidade de uma
ou mais funções dessa vegetação depende do tipo de solo, topografia, uso do solo à montante, tipo
de vegetação envolvida e morfologia do rio, entre outros.
Então, surge a pergunta: Qual seria a largura de faixa ripária vegetativa suficiente? Essa
pergunta, do ponto de vista científico, não pode se respondida de maneira tão fácil, em virtude da
complexidade dos ecossistemas e da própria dinâmica dos processos envolvidos, podendo-se citar:
infiltração, escoamento superficial, erosão, deposição de sedimentos, etc.
O presente livro define a largura da faixa vegetativa de zona ripária como, a distância
horizontal perpendicular ao rio, medida a partir da calha maior deste (Figura 12.5). Segundo o
Código Florestal Brasileiro, esta calha é delimitada pela maior cheia sazonal.

179
CALHA MAIOR

FAIXA VEGETATIVA FAIXA VEGETATIVA

ZONA RIPÁRIA

Figura 12.5. Definição de faixa vegetativa de zona ripária.

Analisando diversos trabalhos, Silva (2003) classificou as funções da zona ripária em nove
itens, descritos a seguir:
(i) Estabilização de taludes e encostas
A vegetação ripária atua significativamente para a estabilização de taludes e encostas. Nos
taludes, contribui para a formação junto ao solo de uma manta protetora contra a erosão causada
pela chuva e pelo escoamento superficial. Nas encostas, as raízes das plantas contribuem para a
fixação do solo acima da camada de rocha.
(ii) Manutenção da morfologia do rio e proteção a inundações
A vegetação garante a preservação dos meandros nos rios, diminuindo a velocidade do
escoamento e conseqüentemente diminuindo a erosão, aumentando a infiltração da água no solo
durante as inundações. Também por infiltração diminui a quantidade de água que chega ao rio.
Desta forma, a quantidade de água transbordada é menor (diminuição do pico de cheia) e, em
conseqüência disso, os danos causados também são menores.
(iii) Retenção de sedimentos e nutrientes
Funcionando como um filtro, a vegetação retém os sedimentos e nutrientes provenientes de
alterações à montante (atividades agrícolas, desmatamentos, etc). Diminui a velocidade do
escoamento superficial e favorece a infiltração dos nutrientes para degradação pelo solo. Desta
forma, a vegetação ripária contribui para a manutenção da qualidade do rio.
(iv) Mitigação da temperatura da água e do solo
A interceptação dos raios solares produz sombras sobre o rio, regulando a temperatura e a
umidade do ar. No rio a redução da temperatura máxima favorece a oxigenação e reduz o stress de
peixes e outras espécies aquáticas. No solo diminui a temperatura na superfície favorecendo a
conservação da umidade.
(v) Fornecimento de alimento e habitat para criaturas aquáticas
A vegetação ripária contribui para o rio com escombros lenhosos (restos de galhos, troncos), folhas e
insetos. Estes escombros podem formar escada – piscina (step–pool) providenciando cobertura para peixes.
(vi) Manutenção de corredores ecológicos
Faixas contínuas de zona ripária favorecem a formação de corredores ecológicos. É através dos
corredores que as mais variadas espécies se inter-relacionam através das diferentes paisagens. Preservando as
espécies que dificilmente são encontradas fora da zona ripária.
(vii) Paisagem e recreação
Zonas ripárias contribuem para uma imagem mais verde ao longo dos rios, bloqueando a vista de
transformações urbanas. Como locais de recreação permitem a prática de camping e trilhas.
180
(viii) Fixação do gás carbônico
Como toda floresta, as florestas ripárias contribuem para a fixação de gás carbônico. O gás se integra
à biomassa da floresta e esta por sua vez libera oxigênio. Esse gás é um dos grandes responsáveis pelo efeito
estufa.
(ix) Interceptação de escombros rochosos
A vegetação ripária, mais precisamente as árvores, pode funcionar como barreiras contra sedimentos
(pedras) vindos de montante. Esses sedimentos podem vir acompanhados de água (debris flow) ou sem água
(dry debris flow).

A Figura 12.6 mostra uma relação das larguras recomendadas para as faixas ripárias de acordo com
as funções que elas desempenham. Essas larguras são apresentadas em CRJC (2003).

Atividade humana

Rio

15 30 45 60 75 90

Estabilidade de taludes ( 10 a 15m) m


Habitat de peixes ( 15 a 30m)
Remoção de nutrientes ( + 30m)
Controle de sedimentos ( 30 a 45m)
Controle de enchentes (+ 60m)

Habitat vida silvestre ( + 90m)

Figura12.6. Larguras ideais para as funções da zona ripária. (Adaptação de CRJC, 2003).

A Figura 12.7 mostra uma combinação entre as faixas recomendadas pela CRJC (2003) e os
resultados obtidos por Silva (2003)
A grande variação das faixas para um mesmo objetivo (diferença entre a largura mínima e
máxima) é função das diferentes metodologias empregadas e todos os outros parâmetros envolvidos
na determinação, como: tipo de solo, tipo de vegetação, declividade, vazão do efluente etc.

Atividade humana

Rio

20 60 100 170 210 250

Estabilidade de taludes (10 a 15m)


Alimento e habitat aquático (50m) Remoção de nutrientes (3,8 a 280m)

Agrotóxicos (20m)
Sedimentos (9 a 52m)
Temperatura no rio (12m) Controle de enchentes (+ 60m)

Habitat vida silvestre (30 a 175m)

Variação entre largura mínima e máxima

Figura 12.7. Faixas estimadas pelos estudos pesquisados.

181
As funções de estabilidade de taludes e de controle de enchentes não foram relacionadas à
largura da faixa ripária nos trabalhos levantados. Desta forma, foram utilizadas as larguras
recomendadas pela CRJC (2003). Também, não foram encontrados trabalhos que fizessem a mesma
relação para a função de interceptação de sedimentos (escombros lenhosos).

12.1.3 Processos geobiohidrológicos na da zona ripária


Na hidrologia, especialmente hidrologia de encosta (KIRKBY, 1978) e hidrologia física
(HORNBERGER et al., 1998; BEVEN, 2001), trata-se de conceito de área variável de fonte
(variable source area) que foi proposto por Hewlett (1961a e 1961b). Essa área não
necessariamente coincide com a zona ripária, mas possui um conceito semelhante à mesma. A
Figura 12.8 mostra ocorrência da área variável de fonte com vários tempos em um hidrograma. No
momento do pico do hidrograma, essa área corresponde a área máxima da zona ripária se o
hidrograma correspondesse ao evento de chuva intensa que ocorre uma vez por 1 a 3 anos.

Figura 12.8. Área variável de fonte (Fonte: Hewlett, 1982)

Embora não tenha utilizado o termo área variável de fonte, Tsukamoto (1961) demonstrou esse
conceito, com medição intensiva em uma bacia pequena no Japão. Takasao (1963) também apresentou esse
conceito através da modelagem numérica com teoria de onda cinemática. Além disso, Betson (1964) notou
esse conceito com análise dos dados de processo chuva-vazão, propondo outro termo “área parcial de fonte
(partial source area)”. Assim, através da revisão bibliográfica em relação à área variável, nota-se que nos
EUA e no Japão diversos pesquisadores descobriram individualmente o mesmo conceito de diferentes
maneiras. Isto é historicamente interessante. Descrição mais detalhada sobre esse conceito encontra-se em
Chorley (1978) e Mendiondo & Tucci (1997).
O conceito de área variável de fonte explica a dinâmica hídrica da água em entorno da rede fluvial.
Entretanto, ele não explica a dinamismo geomorfológico nesta área. Estendendo a classificação de
hierarquização da rede fluvial de Strahler (1952), Tsukamoto (1973) introduziu o novo conceito “ordem
zero”. Este local de ordem zero é onde ocorre erosão superficial e subsuperficial, conseqüentemente sendo a
fonte de sedimento em bacia hidrográfica. Os aspectos hidrogeomorfológicos em ordem zero foram
discutidos com medição em campo, por Tsukamoto & Minematsu (1987).
A zona ripária sofre uma drástica evolução geomorfológica. Essa evolução ocorre freqüentemente na
nascente (ou ordem zero). Schumm (1994) mostrou essa evolução (Figura 12.9). A evolução geomorfológica

182
foi demonstrada por Cohen & Brierly (2000) através da observação de um rio na Austrália que apresentou
três fases na evolução: (1) incisão do canal; (2) retificação e alargamento; (3) ajustamento lateral.
Segundo Gregory et al. (1991) e Hupp & Osterkamp (1996), a vegetação ripária ocupa uma das áreas
mais dinâmicas da paisagem. A distribuição e a composição das comunidades de plantas ripárias refletem a
história da inundação. Inundações freqüentes dificultam o estabelecimento da vegetação pela erosão
superficial e também pelos efeitos fisiológicos da inundação. A magnitude, a freqüência e a duração de
inundação diminuem lateralmente para fora do curso ativo da água, influenciando a distribuição de espécies.
Desta forma, na área próxima ao rio, a vegetação é mais jovem e baixa. Mesmo na área de inundação, se for
longe do curso da água, normalmente a vegetação é mais antiga e alta. Ainda, Seddel et al. (1990)
comentaram que as variações das características hidrológicas, enchentes e secas, condicionam o
desenvolvimento de espécies animais e vegetais na zona ripária e altera o habitat dos peixes. Além de
magnitude, freqüência e duração de inundação, sedimentos depositados também influenciam a distribuição
de espécies (MELICK & ASHTON, 1991).
A vegetação ripária exerce uma influência significativa sobre geomorfologia fluvial por afetar a
resistência ao fluxo, a resistência mecânica do solo em barranco, o armazenamento de sedimento, a
estabilidade de leito e a morfologia do canal (HICKIN, 1984), e é importante para função de ecossistema
aquático (GREGORY et al., 1991). Nos canais, a floresta ripária produz escombros lenhosos que
influenciam processos fluviais (KELLER & SWANSON, 1979; Nakamura & Swanson, 1993). Segundo
Brooks & Brierly (1997), existe uma comprovação que vegetação na zona ripária modifica a eficiência
geomorfológica dos eventos de inundação.
Assim, a vegetação ripária e o ambiente fluvial são bem relacionados. Essa relação foi
detalhadamente revisada por Malanson (1993) que enfatizou a ecologia de paisagem.
Segundo Vannote et al. (1980) que propuseram o conceito de contínuo fluvial (River Continuum
Concept), a influência da zona ripária é maior na parte montante da bacia onde os cursos da água são
caracterizados por ter pequena largura, alta velocidade, pouca vazão, pouca profundidade, entre outros. Ela
relativamente diminui mais para jusante. Com base nesses aspectos, Kobiyama et al. (1998a) concluíram que
a influência biológica na hidrologia é mais acentuada quanto menor tamanho da bacia.

183
Figura 12.9. Evolução da seção do canal (Fonte: Schumm, 1994)

Considerando os fenômenos acima mencionados, observam-se os processos


geomorfológicos, biológicos e hidrológicos e também as interações entre eles na zona ripária. Este
tipo de assunto deve ser pesquisado pela geobiohidrologia proposta por Kobiyama et al. (1998a).
Esses autores mencionaram que o estudo da zona ripária seria um desafio dessa ciência, pois nessa
zona os processos geobiohidrológicos são mais intensos e mais complexos. A Figura 12.10 ilustra a
esquematização dos processos geobiohidrológicos no ecossistema ripário.
Na zona ripária, por natureza, ocorre fenômenos naturais tais como enxurrada, deslizamento,
erosão do solo, erosão fluvial, e inundação. E muitas vezes eles prejudicam a sociedade, tornando-
se os desastres naturais. Então, esses desastres naturais que a zona ripária enfrenta podem ser
chamados como desastres geobiohidrológicos.
Durante o evento de chuva intensa, ocorre deslizamento e a massa (solo, rocha e vegetação)
movimentada atinge o rio e enterra seu leito. Isso funciona como barragem e causa a inundação no
local (Figura 12.11). Nesse caso a barragem se destrói, por causa da alta pressão hídrica ou

184
instabilidade da própria massa, ocorre enxurrada ou fluxo de lama que destrói ainda mais a parte a
jusante. A Figura 12.12 apresenta o fluxograma desses desastres.

PROCESSOS HIDROLÓGICOS
Ciclo hidrológico
Chuva
Seca
Infiltração
Escoamento superficial
Escoamento subterrâneo
Velocidade da vazão
Profundidade da vazão

Intemperismo
Erosão superficial Inundação
Inundação Crescimento vegetal
Deslizamento Qualidade de água
Enxurrada PROCESSOS
GEOBIOHIDROLÓGICOS
Determinação da estrutura
da vegetação ripária
Morfologia fluvial
Regime hídrico

PROCESSOS GEOMORFOLÓGICOS PROCESSOS BIOLÓGICOS


Estrutura fluvial (soleira – depressão) Fotossíntese
Vertente Transpiração
Rede fluvial Intemperismo Desenvolvimento radicular
Declividade Crescimento vegetal Aumento do índice de área foliar
Planície de inundação Deslizamento Escombros lenhosos
Dique marginal Enxurrada

ECOSSISTEMA RIPÁRIO

Figura 12.10. Processos geobiohidrológicos no ecossistema ripário.

Figura 12.11. Deslizamento e seu conseqüente efeito (inundação) no local.

185
Deslizamento
em vertente
(Massa
+ Escombros lenhosos)

Deposição da massa
no leito

Construção de
barragem

Manutenção Destruição

Enxurrada
Inundação
Fluxo de lama
Figura 12.12. Fluxograma de ocorrência de desastres devido a deslizamento em vertente próxima
ao rio.

Além disso, sedimentos gerados pelo movimento de massa e extensas voçorocas podem
alterar as características do canal localmente e extensivamente, com efeitos que incluem
alargamento do canal, redução do tamanho de sedimento no leito, aumento de turbidez (HARVEY,
1991; MADEJ & OZAKI, 1996).
Na ilustração onde Cohen & Brierley (2000) mostraram a evolução do canal, encontram-se o
deslizamento em talude e sua conseqüência devido a presença de escombros lenhosos (Woody
debris) em canal (Figura 12.13). The Japan Society of Erosion Control Engineering (2000) definiu
tamanho de escombros lenhosos grandes como os de diâmetro > 10 cm e comprimento > 3 m. A
presença desses escombros constrói depressão (pool) no canal, que é importante para o habitat de
peixes.

Figura 12.13. Deslizamento e escombros lenhosos em canal (Modificação de Cohen & Brierley
(2000))

Deslizamentos e enxurrada podem escavar canais, destruindo a vegetação ripária e expondo


a rocha no leito do canal (BENDA, 1990; CENDERELLI & KITE, 1990)
Hupp & Osterkamp (1996) acreditam que, na maioria das situações, o gradiente do canal é o
fator que mais afeta morfologia fluvial. A vegetação florestal pode afetar intensamente as taxas de
erosão e deposição. A relação entre vegetação e processos fluviais varia entre condições climáticas
e geomorfológicas.
Gomi et al. (2003) analisaram 16 cabeceiras de rio na região do Alaska e demonstraram a
tendência de forma do leito do rio, em diferentes locais em uma bacia e também a distribuição

186
morfológica entre bacias caracterizadas por diferentes processos geomorfológicos (Figura 12.14). A
mudança de tipo de morfologia do leito já foi notada por Montgomery & Buffington (1997).

Figura 12.14. Perfil longitudinal de distribuição de trechos de diferentes tipos. (Modificação de


Gomi et al., 2003)

Ohmori & Shimazu (1994) classificaram o risco natural ao longo do rio em três tipos:
enxurrada (debris flow), escoamento de lama (turbidity flow) e inundação. A enxurrada é um fluxo
de alta densidade que contém inúmeros blocos (>256 mm). O escoamento de lama é torrente que
possui mais carga tradicional de seixo (4 – 26 mm) e pedra (64 – 256 mm). A inundação é o
escoamento superficial e deposição de lama sem cascalho. Dá um prejuízo com ampla área. Esses
três tipos possuem diferentes processos de transporte de sedimentos que o gradiente do leito
influencia. Os mesmos autores analisaram rios de diversos tamanhos no Japão e concluíram que, o
gradiente do leito que separa a enxurrada e o escoamento de lama é de 80/1000, e que o gradiente
do leito que separa escoamento de lama e inundação é de 1/1000.
Na região das cabeceiras dos rios, ou seja, torrentes, o transporte de sedimentos é
caracterizado pela descontinuidade temporal de produção de sedimento (perda de solo) e de vazão,
também pelo conseqüente desequilibro da potencial de transporte de sedimento. Em outras palavras,
mesmo que ocorra erosão superficial (perda de solo) e deslizamento em grande parte da bacia, os
canais com ordens menores (1 a 2 ordens) não conseguem transportar esses sedimentos que,
conseqüentemente, ficam depositados nos seus leitos. Embora ocorra erosão nas margens do rio, a
quantidade de solo erosivo é pequena para transportar a maior parte desses sedimentos depositados,
necessitando eventos episódicos de chuva para gerar um fluxo tipo de enxurrada. Então, este tipo de
enxurrada catastrófica ocorre uma vez por 10 a 100 anos, que escava e retira este tipo de material
instável do leito e o expõem a superfície rochosa no leito. Assim, a morfologia fluvial vem sendo
desenvolvida pela alteração contínua (repetitiva) no nível do leito (elevação – deposição e
rebaixamento – erosão fluvial). Os organismos (fauna e flora) são controlados por ambos estrutura
geomorfológica e freqüência da alteração geomorfológica, mantendo seus habitats.

187
Então, quanto mais próximo à fonte de sedimento, ou seja, cabeceira do rio, os sedimentos
vêm sendo transportados eventualmente, e quando transportado, a quantidade do sedimento é
elevada. Pelo contrário, quanto mais a jusante, a quantidade de sedimento transportado é menor,
mas mantém-se constante. Maita et al. (1994) ilustraram este conceito (Figura 12.15).

Figura 12.15. Conceito de transporte de sedimentos de montante para jusante. (Fonte: Maita et al.,
1994).

Na prevenção de desastres naturais há duas categorias: as medidas estruturais e as não


estruturais. Normalmente as primeiras são mais onerosas do que as últimas. Entre as medidas
estruturais está a preservação, a manutenção e a recuperação da zona ripária. Esta medida estrutural,
além de ser economicamente mais viável, é ambientalmente mais correta e contribui para o
desenvolvimento sustentável.
A estrutura mais adequada da zona ripária para prevenção de desastres naturais depende do
tipo de desastre a ser minimizado. Como mencionado anteriormente, o tipo de desastre natural
depende do local na bacia. A Figura 12.16 apresenta um esquema do tipo de desastre, por local na
bacia e a respectiva estrutura mais adequada para a vegetação ripária.
Na realidade, o sistema fluvial possui sua hierarquização em relação ao tamanho. Segundo
Frissell et al (1986), encontram-se diversos tamanhos (hierarquia) que são bacia (>103 m), segmento
(ordem) do canal (102 m), trecho (reach) do canal (101 m), unidade do canal (por exemplo, estrutura
soleira (riffle)– depressão (pool)) (100 m), espaço para pequenos organismos (10-1 m). O tipo de
fenômeno depende da escala. As escalas que necessitam mais estabilidade da estrutura para
prevenção de desastres devem ser a bacia e o segmento do canal.
A vegetação ripária como medida estrutural pode atuar como: (1) fixação de vertente
(encostas), (2) interceptação no decaimento de rochas à montante em vertentes, (3) armazenamento
(filtragem) do sedimento, e (4) redução de erosão marginal do rio.

188
Tipos de desastres Tipos de vegetação

Cabeceira

Enxurrada com bloco Árvores altas


Montante

Deslizamento Ãrvores com sistema radicular


forte e profundo

Enxurrada com pedras Arbustos e grama

Fluxo de lama Grama

Jusante
Inundação Árvores altas e arbustos

Planície

Figura 12.16. Relação entre tipo de desastre por local da bacia e vegetação a ser utilizada.

Para vegetação ripária atuar como estabilizadora de taludes é recomendável o estudo do perfil do
solo. Nesta função a vegetação além de desempenhar um importante papel, pode contribuir com a
aparência do local. Tsukamoto & Kusakabe (1984) definiram quatro tipos de efeitos das raízes na
estabilização de encostas (Figura 12.17). Analisando a mesma função Montgomery & Dietrich (1994)
constataram em seu estudo que no escoamento superficial sobre vegetação rasteira (grama) há transporte
de sedimento apenas quando o escoamento superficial desenvolve força trativa suficiente para vencer a
resistência da vegetação que cobre o solo. Da mesma forma Masterman & Thorne (1994) estudaram a
resistência ao escoamento de taludes vegetativos. O método desenvolvido possibilitou o estudo da
influência de taludes vegetativos na morfologia do canal. Predições do modelo puderam ilustrar que a
vegetação pode proteger o talude de escoamentos potencialmente erosivos. Esta proteção é adicional
àquela proporcionada pelas raízes. Sugerem ainda que combinações de vegetações flexíveis, não-
flexíveis e emergentes são mais eficientes na proteção dos taludes do que qualquer uma delas sozinha.
Nesta mesma linha de sistemas combinados, Gillespie et al. (1995) analisaram a influência da vegetação
rasteira no crescimento e sobrevivência de árvores maiores. Concluíram que as vegetações junto ao solo
não interferem nas árvores maiores e recomendam o uso de sistemas combinados para uma melhor
eficiência em retenção de sedimentos.

Tipo de encosta Descrição Efeito das raízes

A. Camada de solo relativamente Superficial – plano de quebra


fina, completamente reforçado ocorre na interface da rocha.
com raízes, camada de rocha não
solo penetrada pelas raízes.

B. Similar ao tipo A, exceto que a Alto.


rocha camada de rocha apresenta
descontinuidades, permitindo a
entrada das raízes que atuam
desta forma com pilares.
C. A camada de solo possui uma Substancial.
camada de transição com maior
Camada
densidade. As raízes penetram
de
nesta camada.
transição

D. Grossa camada de solo abaixo Pequeno.


da zona de raízes. As árvores
flutuam nesta camada.

Figura 12.17. Efeitos das raízes na estabilização de encostas. (Adaptação de Tsukamoto &
Kusakabe, 1984).
189
A vegetação ripária quando atua como barreira para interceptar rochas na presença de água
foi estudada por Mizuyama et al (1989). Os mesmos autores analisaram a resistência de árvores a
um fluxo de sedimento em um modelo reduzido, usando areia para representar os sedimentos. Os
resultados mostraram que o coeficiente de rugosidade aumenta e a sedimentação é bastante notada
quando a percentagem de área ocupada por árvores torna-se maior. A sedimentação (interceptação)
foi máxima quando a razão entre a distância entre as árvores e o diâmetro das mesmas foi mínimo.
Quando este fenômeno ocorre sem a presença de água é denominado fluxo de escombros (debris
flow), mas a função das árvores da zona ripária continua sendo a mesma, o de interceptação dos
escombros.
Fry et al. (1994) citando Debano & Schmidt (1989) relatam que zonas ripárias providenciam
um controle natural das cheias. Árvores e pequenas espécies vegetativas promovem a estabilização
de taludes, os quais permitem ao rio a manutenção dos meandros e da profundidade. A formação de
meandros é a forma mais efetiva na diminuição da velocidade das cheias do que a retificação de
canais. Reduzir as velocidades do escoamento permite garantir mais tempo para que as águas das
cheias sejam absorvidas pela vegetação ou pelo próprio leito do rio. A absorção de água pelo leito
do rio também é importante para manutenção da água subterrânea. Na mesma função, mas
simulando sedimentos menores Darby (1999) constatou que vegetações não flexíveis oferecem
maior rugosidade do que as flexíveis. O modelo utilizado por ele fornece orientações para
renaturalização de rios e dimensionamento de canais para controle de cheias envolvendo vegetação
ripária.

12.2 Processo geral


Hidrologia é definida como a ciência que trata das águas da terra, sua ocorrência,
circulação, distribuição, suas propriedades físicas e químicas e suas reações com o meio
ambiente, incluindo sua relação com os seres vivos (CHOW, 1964). Devido à abrangência dessa
definição, com o tempo houve muitas ramificações da hidrologia, meteorologia estuda a água na
atmosfera e oceanografia a água no mar por exemplo. A hidrologia de hoje acabou se concentrando
no estudo da água sobre os continentes e o estudo sobre os mecanismos de geração de vazão têm
sido considerado um dos assuntos principais da hidrologia como ciência.
A vazão em uma bacia hidrográfica é normalmente expressa pelo hidrograma e ele é o
resultado do comportamento hidrológico da mesma. Os componentes do hidrograma são
classificados por KAYANE (1980), da seguinte forma:

 escoamento superficial (overland flow)


 Escoamento direto 
Escoamento   escoamento subsuperficial (interflow)
 Escoamento de base (escoamento da água subterrânea)

Os primeiros estudos sobre a geração de vazão na forma de escoamento superficial foram


feitos pelo engenheiro e cientista Robert E. Horton e apresentados em meados da década 1930.
Após a década de 1960, hidrólogos florestais e geógrafos, principalmente, continuaram o trabalho
de medição em campo e descobriram vários mecanismos de movimento de água em bacias
hidrográficas. Nos últimos 40 anos foram publicados alguns livros sobre o assunto baseados nos
190
“novos” conceitos de geração de vazão (KIRKBY, 1978; DUNNE & LEOPOLD, 1978;
TSUKAMOTO, 1992)
Horton (1931, 1933) apresentou um tipo de escoamento superficial (Hortonian overland
flow) que ocorre quando a intensidade da chuva fica maior do que a capacidade de infiltração do
solo superficial. A idéia principal era que o hidrograma de cheia era composto pela água que não
infiltrava e escoava superficialmente pela bacia, como em uma camada homogênea (Figura
12.18(a)). Este conceito influenciou definitivamente a análise de escoamento, dando um significado
físico ao conceito de hidrograma unitário proposto por Sherman (1932). Por isso, os trabalhos de
Horton são considerados como o inicio da hidrologia moderna. Entretanto, a hipótese de que a
capacidade de infiltração é superada de maneira uniforme em toda a bacia é considerada atualmente
um caso especial que ocorre em situações extremas, como por exemplo, em áreas áridas e de solo
compactado.
Devido à dificuldade de observação do escoamento do tipo Hortoniano, Betson (1964)
concluiu que uma bacia hidrográfica inteira não contribui para o escoamento direto e sim somente
uma parte da bacia onde a capacidade de infiltração é excedida (Figura 12.18(b)). Esta parte
contribuinte pode ser expressa em função da profundidade do solo, precipitação total, umidade
inicial e intensidade de chuva. O conceito de Betson (1964) denomina-se de área parcial de
influência (partial source area). Hewlett (1961a, 1961b) apresentou o conceito de área variável de
influência (variable source area), também complementando o conceito de escoamento superficial
de Horton.
Através da observação em campo, Dunne & Black (1970a, 1970b) apresentaram outro tipo
de escoamento superficial, ou seja, escoamento superficial saturado. Esse escoamento ocorre devido
à chuva que cai no solo saturado. Eles concluíram que o throughflow saturado não contribuiu para o
escoamento direto por causa de sua velocidade lenta. A conclusão foi sustentada pela simulação
numérica de Freeze (1972a, 1972b). Entretanto, Hewlett e Hibbert (1967) prestaram mais atenção
sobre contribuição do throughflow do que o escoamento superficial, insistindo no fluxo de pistão.
As críticas negativas contra o escoamento superficial de Horton e Dunne foram contestadas
por várias observações em campo (MOSLEY, 1979; YASUHARA, 1984; OHTA et al., 1983)
mostrando que nem o tipo de Horton e nem o de Dunne ocorreram numa microbacia hidrográfica e
que o papel do throughflow foi importante para o escoamento direto.
De qualquer maneira, todos os trabalhos sustentaram o conceito de área variável de
influência, complementando o conceito de Horton (1931, 1933). Segundo Hino (1989), a área de
influência (source area) é classificada em três tipos: área parcial, área variável com escoamento
superficial e área variável com escoamento subsuperficial.
No aspecto do escoamento direto é necessário prestar atenção sobre a separação do
escoamento para vários componentes. Como Dunne (1978) apontou, os mecanismos de escoamento
direto entre microbacia e bacia hidrográfica são diferentes e a maioria dos estudos sobre os
processos de escoamento foram limitados para as microbacias. Portanto, nos estudos do mecanismo
de escoamento sempre há necessidade de considerar o tamanho do objeto do estudo, ou seja, a bacia
hidrográfica.

191
Figura 12.18. Tipos de escoamento possíveis em uma bacia hidrográfica.(BEVEN 2001)

192
12.3 Código Florestal e sua aplicação
Um sistema ripário saudável auxilia na filtragem de sedimentos, na estabilização de taludes,
no armazenamento e eliminação de água na bacia e na recarga de aqüíferos. Além desses fatores,
influencia as áreas adjacentes, é benéfica para a manutenção da fauna local, auxilia no controle da
erosão, na qualidade da água e retarda os eventos de cheias, entre outros.
A Figura 12.19 mostra um exemplo de uma bacia preservada, localizada na zona rural do
município de Rio Negrinho/SC, onde se observa que a área de entorno dos cursos da água apresenta
uma zona ripária bem conservada. A vegetação ripária presente nessa área está exercendo seu papel
de protetora dos cursos da água, promovendo o retardo, a absorção, bem como a filtragem do
escoamento subsuperficial e superficial.
Visando garantir a qualidade e quantidade de água dos corpos hídricos, o Código Florestal
Brasileiro, Lei 4.771 de 15/09/65 e suas alterações no ano de 1989, consideram de preservação
permanente, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:
a) Ao longo dos rios ou cursos d’água, desde o seu nível mais alto em faixa marginal, cuja
largura mínima seja de: 30 m para rios com largura menor que 10 m; 50 m para rios com largura
entre 10 a 50 m; 100 m para rios com 100 a 200 m; maior que 200 m a faixa de vegetação deve ser
igual à largura do rio, inclusive no perímetro urbano.
b) Ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais.
c) Nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados olhos d’água, qualquer que seja a
sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 m de largura (redação dada pela Lei nº. 7.803 de
18/07/1989).

Figura 12.19. Exemplo de bacia hidrográfica com zona ripária preservada.

193
A resolução do CONAMA nº 302 de 20 de março de 2002 dispõe sobre os parâmetros,
definições e limites das Áreas de Preservação Permanente de reservatórios artificiais e o regime de
uso de entorno.
Considerando a necessidade de regulamentar o art. 2º da Lei nº 4.771, de 1965, no que
concerne às Áreas de Preservação Permanente no entorno dos reservatórios artificiais, a resolução,
no seu Art. 2º, adotada as seguintes definições: a) reservatório artificial: acumulação não natural de
água destinada a quaisquer de seus múltiplos usos; b) Área de Preservação Permanente: a área
marginal ao redor do reservatório artificial e suas ilhas, com a função ambiental de preservar os
recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e
flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas; c) nível máximo normal: a
cota máxima normal de operação do reservatório. Com relação às áreas no entorno dos reservatórios
artificiais, o Art. 3º apresenta as seguintes definições:
Art. 3º - Constitui Área de Preservação Permanente a área com largura
mínima, em projeção horizontal, no entorno dos reservatórios artificiais, medida a
partir do nível máximo normal de:
I - trinta metros para os reservatórios artificiais situados em áreas urbanas
consolidadas e cem metros para áreas rurais;
II - quinze metros, no mínimo, para os reservatórios artificiais de geração
de energia elétrica com até dez hectares, sem prejuízo da compensação ambiental.
III - quinze metros, no mínimo, para reservatórios artificiais não utilizados
em abastecimento público ou geração de energia elétrica, com até vinte hectares de
superfície e localizados em área rural.
§ 1º Os limites da Área de Preservação Permanente, previstos no inciso I,
poderão ser ampliados ou reduzidos, observando-se o patamar mínimo de trinta
metros, conforme estabelecido no licenciamento ambiental e no plano de recursos
hídricos da bacia onde o reservatório se insere se houver.
§ 2º Os limites da Área de Preservação Permanente, previstos no inciso II,
somente poderão ser ampliados, conforme estabelecido no licenciamento
ambiental, e, quando houver, de acordo com o plano de recursos hídricos da bacia
onde o reservatório se insere.
§ 3º A redução do limite da Área de Preservação Permanente, prevista no §
1º deste artigo não se aplica às áreas de ocorrência original da floresta ombrófila
densa - porção amazônica, inclusive os cerradões e aos reservatórios artificiais
utilizados para fins de abastecimento público.
§ 4º A ampliação ou redução do limite das Áreas de Preservação
Permanente, a que se refere o § 1º, deverá ser estabelecida considerando, no
mínimo, os seguintes critérios:
I - características ambientais da bacia hidrográfica;
II - geologia, geomorfologia, hidrogeologia e fisiografia da bacia
hidrográfica;
III - tipologia vegetal;
IV - representatividade ecológica da área no bioma presente dentro da bacia
hidrográfica em que está inserido, notadamente a existência de espécie ameaçada
de extinção e a importância da área como corredor de biodiversidade;
V - finalidade do uso da água;
VI - uso e ocupação do solo no entorno;
VII - o impacto ambiental causado pela implantação do reservatório e no
entorno da Área de Preservação Permanente até a faixa de cem metros.

Na Figura 12.20, é possível observar que existem áreas no entorno da represa de Volta Grande, no
município de Rio Negrinho/SC, que estão desprotegidas de vegetação ciliar, sendo utilizadas para agricultura
e pastagem, sem aplicação de práticas conservacionistas. Isso implica na maior susceptibilidade dessas áreas
194
aos processos de erosão causados pelo escoamento superficial. O impacto negativo desse cenário é o
transporte de sedimentos, poluentes agroquímicos e dejetos de animais, causando o assoreamento e a
poluição da represa.
Desta forma, fica evidente a necessidade de preservar os mananciais dessa região, sejam eles naturais
e artificiais, visando a melhoria da qualidade e quantidade de água para diversos usos. Assim, trabalhos estão
sendo desenvolvidos pelo Grupo de Estudos de Bacias Hidrográficas (LABHIDRO/UFSC) juntamente com a
Companhia Volta Grande de Papel com objetivo de levantar os problemas existentes nessa região e propor
possíveis soluções para melhoria da qualidade e quantidade da água para a população que utiliza a represa
para os mais diversos fins.

Figura 12.20. Uso do solo na região da represa de Volta Grande no município de Rio Negrinho/SC.

195
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199
13. I
STALAÇÃO E MA
UTE
ÇÃO DE ESTAÇÕES
HIDROMETEOROLÓGICAS

Fernando Grison
Pedro Guilherme de Lara
Masato Kobiyama

13.1 Introdução
A partir da década de 80 com o surgimento da informática e da telecomunicação as
informações hidrológicas puderam ser adquiridas em tempo real. Isso aconteceu devido ao processo
de medição automática que possibilitou um maior numero de informações. Segundo Mauro (2002),
a modernização da telecomunicação teve como conseqüências: maior número de informações
diárias; melhoria na qualidade dos dados; avaliação “instantânea” da disponibilidade hídrica;
melhor avaliação do potencial energético; análise de balanço hídrico em tempo “quase real”; melhor
controle dos recursos hídricos e disposição de dados mais atualizados para a sociedade.
Apesar de toda a modernização na obtenção das informações hidrológicas o grande
problema do Brasil ainda é o alto custo de um monitoramento hidrológico. Na maioria das vezes os
custos de projetos de monitoramento são previstos para um curto período de tempo, o suficiente
para produzir uma tese. Isso acontece porque geralmente os aparelhos previstos para o
monitoramento são muito caros. Depois do término do estudo, os aparelhos são retirados ou
simplesmente abandonados por falta de recurso financeiro para manutenção e continuação do
estudo.

13.2 Medição automática


A medição automática é feita com uso de sensores conectados em aparelhos chamados de
dataloggers. Datalogger é um aparelho responsável por ler, armazenar e, em alguns casos,
transmitir os dados gerados na estação para um computador servidor. Segundo Braga (2005) uma
grande vantagem de um datalogger é a crescente capacidade de memória instalada nesse tipo de
equipamento o que permite aumentar o intervalo de tempo das visitas de acompanhamento. Os
dataloggers em conjunto com outro aparelho, um modem, podem transmitir os dados a um servidor
(computador que recebe os dados). O modem serve para estabelecer a comunicação entre o
datalogger e o servidor. Para a configuração da comunicação entre o datalogger e o servidor
basicamente precisa-se apenas do IP (Internet Protocol) do servidor. O IP é um número de endereço
de um computador que serve para identificar esse computador no mundo virtual. É importante que o
IP seja do tipo fixo (e não dinâmico) para evitar que ocorram mudanças no destino dos dados
durante a transmissão.
Para transmissão dos dados do monitoramento automático utiliza-se a técnica da telemetria
que geralmente está relacionada com a transmissão dos dados das estações sem a utilização de fios
(via celular, via satélite ou via rádio). As estações realizam leituras por meio de sinais elétricos, os
200
quais são posteriormente equacionados pelo seu próprio microprocessador gerando parâmetros, tais
como: nível, precipitação, tensão, radiação solar, entre outros. Para que seja possível o
monitoramento remoto a partir da telemetria, as estações devem ter um datalogger acoplado. A
Figura 13.1 mostra um esquema de comunicação de um datalogger com sensores e com um
servidor.

Sistema de transmissão a radio


Sensores Microprocessador

Servidor

Circuito de alimentação

Figura 13.1. Esquema de comunicação de um datalogger.

Para a transmissão de dados a longa distancia e de baixo custo pode ser usada a transmissão
via celular. Essa tecnologia utiliza o sistema GPRS (General Packet Radio Service) que tem como
base a tecnologia GSM (Global System for Mobile Communications), mas pode ser encontrado
disponível no padrão TDMA (Time Division Multiple Access). Tanto GMS quanto TDMA são
padrões utilizados em comunicação móvel. A disponibilização do sinal GPRS nos padrões GMS e
TDMA torna-o flexível, pois quase qualquer operadora de telefonia disponibiliza pacotes de
serviços GPRS para transmissão de dados. A transmissão é feita via comutação de pacotes (pacotes
de dados) onde ocorre a divisão da informação em partes para posterior reorganização no endereço
de destinatário. A localização do datalogger e o relevo da região são fatores importantes que
influenciam na qualidade do sinal de transmissão. Também é importante ter uma antena da
prestadora de serviço de comunicação móvel nas proximidades do local de monitoramento.
A transmissão de dados via satélite é uma alternativa eficiente para tráfego de dados. As
questões relacionadas com o revelo e a localização não são problemas que afetam o sistema, pois os
satélites permanecem em órbita e conseguem cobrir todo o globo terrestre. Os dados transmitidos
são da alta qualidade e com baixa possibilidade de surgimento de ruídos. A função do satélite é
receber, converter a freqüência recebida, amplificar e retransmitir. Entretanto um dos pontos
negativos na utilização desse tipo de tecnologia é o alto custo de implantação do sistema. O capital
necessário para investir é relativamente superior quando comparado a outros sistemas de
comunicação de dados. Por outro lado, o custo de manutenção é nulo visto que esta tarefa é feita
pela prestadora de serviço.
A transmissão de dados via sinal de rádio é uma alternativa de baixo custo. O sistema de
transmissão a rádio já vem acoplado no datalogger havendo a necessidade de ajustar o
posicionamento das antenas do transmissor e receptor do sinal. É um sistema eficiente para
comunicação de informação, pois mantendo condições ideais de uso o sinal é de alta qualidade e
201
com baixa possibilidade de surgimento de ruídos. Entretanto o revelo afeta consideravelmente a
qualidade os dados e por isso pode ser necessário a instalação de um retransmissor de sinal entre o
datalogger e o servidor, o que encarece o custo do sistema. Por isso, esse tipo de sistema é aplicado
geralmente para pequenas distâncias. Os dataloggers dispõem de moduladores de baixa freqüência,
os quais possuem um pequeno raio de atuação de até 2000 m.

13.3 Intervalo de tempo de medição


Uma das primeiras dúvidas que surge depois de montar um sistema de monitoramento
automático é sobre o intervalo de tempo de medição que se deve usar. Esse intervalo é fundamental
para o entendimento dos fenômenos hidrometeorológicos. É com base nele que se pode descobrir,
por exemplo, qual o nível máximo de um evento de vazão de um rio. Se o nível máximo
permanecer por menos tempo do que o intervalo de medição pode ser que o nível máximo não seja
registrado. A Figura 13.2 mostra um exemplo de como se comporta a vazão e a precipitação com
intervalo de medição horário e diário. No horário tanto para a vazão como para a precipitação os
picos ficam bem definidos o que mostra um comportamento mais próximo da realidade. Já no
intervalo diário a vazão e a precipitação não são compreensíveis, são muito subjetivas.
A definição do intervalo de tempo medição pode ser feita com base no Tempo de
Concentração (TC) da bacia hidrográfica monitorada. Segundo Singh (1976), Mulvany (1850) ao
relacionar com a máxima vazão definiu esse tempo como o tempo necessário para chuva, que cai no
local mais distante da exutória, escoar até a mesma. Singh (1976) mostrou que, além das
características morfométricas (ou geométricas) da bacia as características espacial e temporal de
precipitação influenciam o valor de TC. Segundo McCuen et al. (1984) e Silveira (2005) o TC é a
diferença de tempo entre o fim da precipitação efetiva (que gera o escoamento superficial) e o fim
do escoamento superficial. Como é muito difícil determinar a precipitação efetiva opta-se pelo fim
do evento da precipitação.

202
Precipitação diária

Precipitação horária

Vazão horária

Vazão diária

Figura 13.2. Exemplo do comportamento da vazão e da precipitação com intervalo de medição


horária e diária.

Para o começo do monitoramento, como não existem dados medidos, o TC pode ser obtido
simplesmente por meio de fórmulas matemáticas. A Tabela 13.1 mostra algumas fórmulas para o
cálculo de TC. Para essas fórmulas, os valores de área, comprimento do talvegue (canal principal da
bacia) e desnível da bacia podem ser obtidos por meio de um mapa.

Tabela 13.1. Fórmulas para estimar o TC em minutos. A é a área da bacia hidrográfica em


km², L o comprimento do talvegue em km, H o desnível da bacia em km, i é a intensidade média de
precipitação de um evento e S = H/L a declividade do talvegue.

ome Fórmula Fonte
Kirpich L 0, 77 Kirpich (1940)
TC = 3,989 ⋅
S 0,385
Dooge A0, 41 Porto (1995)
TC = 21,88 ⋅
S 0,17
Carter L0,6 Carter (1961)
TC = 5,862 ⋅
S 0, 3
Federal Aviation Agency L0,5 Federal Aviation Agency (1970)
TC = 22,73 ⋅ (1,1 − C )
S 0,33
McCuen 135 L0,5552 McCuen et al. (1984)
TC = ⋅
i 0, 7164 S 0, 2070

203
É preciso ressaltar que as fórmulas da Tabela 13.1 foram desenvolvidas para bacias
específicas. Por isso é importante que a partir das primeiras medições o TC seja estimado
hidrologicamente, a fim de confirmar ou não o valor de TC obtido pela análise morfométrica. No
caso da não confirmação dos valores de TC, ou seja, a análise hidrológica diferir significativamente
da morfométrica, se opta pela hidrológica. Mas é preciso ter cuidado com os dados utilizados, pois
podem ter erros dos próprios aparelhos de medição. Para a estimação hidrológica de TC constrói-se
um hidrograma (Vazão & Tempo) junto com um hietograma (Precipitação & Tempo). O TC é o
tempo entre o fim da precipitação e o fim do escoamento superficial (Figura 13.3).

5.00
TC 0.00
0.20
4.00 0.40

Precipitação (mm) )
0.60
(m³/s)
Vazão (m3/s)

3.00 0.80
1.00
2.00 1.20
1.40
1.00 1.60
1.80
0.00 2.00
0:02
0:10
0:18
0:26
0:34
0:42
0:50
0:58
1:06
1:14
1:22
1:30
1:38
1:46
1:54
2:02
2:10
23:05
23:13
23:21
23:29
23:38
23:46
23:54

Tempo Tempo Tempo(min)


inicial final

Figura 13.3.Estimativa hidrológica do tempo de concentração.

13.4 Instalação e manutenção de estações de monitoramento


Uma estação de monitoramento hidrometeorológico pode ser composta por vários sensores
de medição de vários parâmetros. A seguir são apresentados os aparelhos que formam uma estação
de monitoramento do processo chuva-vazão:
• Sensor de nível (de pressão): É um sensor usado para medir o nível d’água de um rio. Ele
fica instalado embaixo da água, mergulhado no rio, e por meio da pressão da coluna
d’água produz sinais elétricos que são enviados ao datalogger e convertidos em dados de
nível d’água;
• Réguas linimétricas: São réguas graduadas em centímetros que servem para visualizar o
nível d’água de um rio. Geralmente são feitas de metal, madeira ou formadas por uma
pintura em alguma superfície plana. Além da medição de nível d’água as réguas também
são importantes para conferir a leitura do sensor de nível;
• Sensor de turbidez: É um sensor utilizado para medição de turbidez da água. No caso de
monitoramento hidrológico é comum utilizar esse tipo de sensor para medição de sólidos
suspensos. O sensor fica instalado embaixo da água, mergulhado no rio onde emite um
feixe de luz de uma determinada freqüência. Essa luz se reflete nas partículas em
suspensão da água mudando sua freqüência. A mudança de frequencia da luz é captada e
interpretada pelo sensor e transmitida na forma de sinais elétricos ao datalogger. O

204
datalogger converte esses sinais elétricos em dados de turbidez ou quantidade de sólidos
suspensos;
• Pluviógrafo (de básculas): Aparelho utilizado para medição de precipitação (chuva). É
formado basicamente por um funil que conduz a água da chuva para um sistema de duas
básculas de volume conhecido. Quando uma báscula enche automaticamente ela vira para
esvaziar e a outra báscula passa a coletar a água. As básculas são unidas por um eixo que
contém um imã acoplado. Quando ocorre a virada das básculas esse imã passa em frente
a um dispositivo que fecha um circuito que emite um pulso elétrico ao datalogger. Cada
pulso transmitido é convertido em milímetros de chuva (conforme o volume da báscula).

A Figura 13.4 abaixo mostra os aparelhos de uma estação de monitoramento do processo


chuva-vazão.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 13.4. Aparelhos usados para monitorar chuva e vazão. (a) Sensor de nível; (b) Seção de
réguas linimétricas; (c) Sensor de turbidez; (d) Pluviógrafo de básculas.

205
A qualidade dos dados de uma rede de monitoramento não depende apenas da tecnologia
dos aparelhos de medição. Depende também de aspectos como a localização do aparelho de
medição em relação à bacia de monitoramento, da fixação desse aparelho e da sua manutenção
periódica. A Tabela 13.2 abaixo apresenta alguns dos principais aparelhos utilizados nas estações
de monitoramento hidrológico com algumas recomendações de instalação.

Tabela 13.2. Principais aparelhos utilizados nas estações de monitoramento hidrológico e


algumas recomendações de instalação.
APARELHO RECOME
DAÇÕES DE I
STALAÇÃO
Sensor de nível (de pressão) → Instalar em trecho do rio alinhado e a montante de seções de
controle (trechos naturais do rio que controlam a vazão);
→ Em local de pouca turbulência e ondulação da água (geralmente
onde se formam piscinas no rio);
→ Colocar o sensor dentro de alguma tubulação para que fique
protegido de algum impacto;
→ Se possível colocar o sensor fora do canal do rio e de fácil acesso
em caso de cheia;
→ Instalar o sensor próximo à seção de réguas linimétricas
(importante para a calibração do sensor).
Seção de réguas linimétricas → Instalar em trecho alinhado do rio e a montante de seções de
controle;
→ Em local de pouca turbulência e ondulação da água (geralmente
onde se formam piscinas no rio);
→ Montar a seção das réguas em forma de degraus começando no
leito do rio e terminando no nível máximo de água observado em
alguma enchente histórica;
→ Nivelar as réguas com referência na primeira régua do leito do rio;
→ Instalar uma referencia de nível para que em caso de
deslocamento das réguas elas possam ser reinstaladas na mesma
posição (mesma cota).
Sensor de turbidez → Instalar próximo ao sensor de nível;
→ Se possível em profundidade livre da influencia da luz solar;
→ Instalar o sensor dentro de alguma tubulação para que fique
protegido de algum impacto;
→ Posicionar o sensor de forma perpendicular à direção do fluxo de
água do rio.
Pluviógrafo (de básculas) → Instalar o mais afastado possível de vegetação, construções,
estradas, etc, que provoquem interferências na captação da água
da chuva;
→ Instalar o pluviógrafo a uma altura média de 1,5 metros do solo
para que fique mais representativo da precipitação local e de fácil
acesso para manutenção;
→ Cercar uma pequena área ao redor do aparelho para evitar a
aproximação de animais e algum tipo de vandalismo.

A Figura 13.5 abaixo mostra um esquema básico de instalação de uma estação de


monitoramento hidrológico automático. Essa estação mede nível de água, sólidos suspensos e
precipitação. Os dados ficam armazenados em um datalogger que por meio de um sistema com

206
sinal de celular transmite os dados até um computador servidor. Os dados também podem ser
obtidos diretamente do datalogger com um computador portátil.
Antena de celular

Pluviógrafo

Computador servidor

Painel solar Antena

Datalogger Régua linimétrica

RN
Sensor de SS*

Sensor de nível
(pressão)

* SS = Sedimento em suspensão
Figura 13.5. Esquema básico de instalação de uma estação de monitoramento hidrológico
automático.

A Figura 13.6 mostra uma estação de monitoramento instalada de forma semelhante ao


esquema da Figura 13.5.

Sensor de nível
Sensor de turbidez
Régua linimétrica

(a) (b)
Figura 13.6. Estação de monitoramento de nível d’água, sedimento em suspensão e precipitação.

Além da preocupação com a instalação de uma estação é preciso também se preocupar com
a manutenção da mesma. De nada adianta ter uma estação bem instalada se ela não passar
periodicamente por uma manutenção adequada. Por mais que o monitoramento seja automático as
207
visitas aos locais de medição são indispensáveis para manter a calibração dos sensores e a qualidade
dos dados. Também, é importante que cada problema encontrado seja relatado, pois assim, quando
o banco de dados for analisado os erros encontrados podem ser mais facilmente resolvidos. Por
exemplo, em visita a uma determinada estação encontra-se um pluviógrafo entupido. Se for anotado
essa alteração quando os dados do local forem analisados haverá uma falha de dados de chuva que
será facilmente compreendido o porquê não foi registrado. A Tabela 13.3 abaixo mostra alguns dos
problemas que podem ocorrer pela falta de manutenção dos aparelhos de medição.

Tabela 13.3. Alguns problemas devido à falta de manutenção.

APARELHO PROBLEMAS

Sensor de nível (de pressão) → Formação de ferrugem e processo de corrosão;

→ Deslocamento da posição de medição.

Seção de réguas linimétricas → Desnivelamento da seção de medição;

→ Formação de camada de algum tipo de limo ou acúmulo de


sujeira que dificulta a leitura do nível de água, principalmente
nas réguas que ficam o tempo todo na água.

Sensor de turbidez → Acúmulo de sedimento na frente do sensor, o que dificulta a


leitura;

→ Deslocamento da posição de medição.

Pluviógrafo (de básculas) → Entupimento com poeira, folhas e com ninho de insetos;

→ Desnivelamento.

A Figura 13.7 mostra alguns problemas encontrados pela falta periódica de manutenção dos
aparelhos de um monitoramento hidrológico.

208
(a) (b)

(c) (d)

Figura 13.7. Problemas da falta de manutenção. (a) Pluviógrafo entupido com ninho de insetos; (b)
Pluviógrafo com marcas de vandalismo; (c) Sensor de turbidez com sedimento acumulado ao redor;
(d) Régua linimétrica com camada de resíduo que dificulta a leitura correta do nível d’água.

13.5 Considerações finais


O avanço da tecnologia de comunicação beneficia a ciência hidrológica com a obtenção de
dados em tempo real. Isso acontece devido ao sistema de medição automática juntamente com a
telemetria. A medição automática é realizada com uso de dataloggers, aparelhos responsáveis pelo
armazenamento e transmissão de dados. Entre os principais sistemas telemétricos utilizados para
transmissão de dados hidrológicos encontram-se os sistemas via sinal de rádio, celular e satélite. A
Tabela 13.4 mostra algumas vantagens e desvantagens desses três sistemas de comunicação.

209
Tabela 13.4. Principais vantagens e desvantagens dos sistemas de telemetria

Tecnologia de Vantagens Desvantagens


comunicação
GPRS - Sistema de fácil operação e - Dificuldade em manter a
manutenção; qualidade do sinal;

- Sistema de baixo custo; - Relevo pode interferir na


transmissão do sinal;

-Aparecimento de ruídos nas


matrizes de dados;
Satélite - Alta qualidade na transmissão de - Alto custo de implantação do
dados; sistema;

- Sistema de fácil manutenção;


Rádio - Baixo custo de implantação e - Relevos acidentados afetam a
manutenção do sistema; qualidade no sinal (AM ou FM);

- Sistema de fácil operação; - Sistema ruim para monitoramento


em grandes distâncias;
- Sistema bom para monitoramento
em pequenas distâncias;

A Hidrometria, ferramenta hidrológica responsável pela medição de dados primários, é a


base do sucesso de qualquer estudo hidrológico. Porém, muitas vezes, e isso depende do que se
busca na hidrometria, as verdadeiras conclusões de um experimento só aparecem em longo prazo.
Ou seja, depois de um longo período de monitoramento e com muitas medições. Por isso, é muito
importante analisar os custos de montagem e manutenção de um sistema de monitoramento
principalmente pela importância de sua continuação.

210
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211
14. GEOPROCESSAME
TO

Cláudia Weber Corseuil


Patrícia Kazue Uda
Nadine Lory Bortolotto

14.1 Introdução
Nos estudos em que a variação espacial é de extrema importância, como por exemplo,
aqueles que envolvem a modelagem hidrológica distribuída, o geoprocessamento tem se mostrado
como uma metodologia promissora e vem se desenvolvendo fortemente. A motivação reside,
principalmente, nos estudos que envolvem as mudanças climáticas, os impactos das mudanças de
uso do solo e de previsão de vazões.
Segundo Miranda (2005) o geoprocessamento tem permitido uma grande evolução na
modelagem e planejamento ambiental, devido às facilidades de armazenamento, manipulação e
análise de grandes quantidades de dados espacialmente distribuídos.
O geoprocessamento reúne uma série de vantagens com relação à produção de dados e
informações para o estudo dos fenômenos e recursos naturais, em função da obtenção de
informações confiáveis, muitas vezes, num curto espaço de tempo e com custos mais acessíveis,
quando comparado com levantamentos de campo. Além disso, permite a combinação de um grande
número de dados oriundos de diversas fontes (mapas, imagens de satélite, fotografia aéreas,
tabulares, entre outros), objetivando a análise das interações existentes entre eles, a elaboração de
modelos de predição para à tomada de decisão.
As tecnologias utilizadas no geoprocessamento, denominadas de geotecnologias, para a
aquisição, o processamento, a interpretação e/ou análise de dados espaciais, traz progressos
significativos no desenvolvimento de pesquisas, nas ações de planejamento, nos processos de gestão
e no manejo do meio ambiente. Entre as principais geotecnologias, estão os sistemas de
informações geográficas (SIG), o sensoriamento remoto, os sistemas de posicionamento por
satélites, a fotogrametria digital, entre outras.

14.2 Sistema de Informação Geográfica (SIG)


Entre os sistemas que compõem o geoprocessamento o SIG é o que permite realizar análises
complexas ao integrar dados de diversas fontes e gerar um banco de dados georreferenciados.
Burrough (1998) define SIG como um sistema computacional que processa dados gráficos e
alfanuméricos, com ênfase em análises espaciais e modelagem de superfícies. Haning (1988)
descreve SIG como um sistema de gerenciamento de informações que apresenta funções como: i)
aquisição de dados, armazenamento e recuperação de informações baseadas nas suas localizações
espaciais; ii) identificação de locais selecionados a partir de determinados critérios; iii) busca as
relações entre dados de um certo ambiente; iv) analisa os dados espaciais para subsidiar tomada de
decisões; v) permite explorar modelos analíticos capazes de avaliar alternativas de impactos no

212
meio ambiente; vi) evidencia áreas, tanto graficamente, como em forma de valores, antes e/ou
depois das análises (modelagem).
Para Silva (2003) os SIGs requerem um meio digital, de uma base de dados integrada, dados
com controle de erro, funções de análises como, álgebra cumulativa e operações lógicas.
Os primeiros sistemas de geoprocessamento surgiram na década de 60, no Canadá, como
parte de um programa governamental para criar um inventário de recursos naturais, o Canadian
Land Inventory, desenvolvido por Tomlinson em 1962, denominado de CGIS (Canadian
Geographic Information System) (SILVA, 2003).
Nos Estados Unidos, em 1964, a Divisão de Suprimento de Água e o Controle de Poluição
do Serviço de Saúde Pública, desenvolveram o STORET (Storage and Retrieval). Este sistema teve
como principal objetivo padronizar os dados gerados por diversas agências privadas e
governamentais com relação às características hidrológicas como, qualidade da água, fluxo de água
e processos de tratamento. Ao longo dos anos 70 foram desenvolvidos novos recursos de hardware
e software, tornando viável o desenvolvimento de sistemas comerciais. Nesta época, também
surgiram os primeiros sistemas comerciais de CAD (Computer Aided Design), que melhoraram as
condições para a produção de desenhos e plantas de engenharia, e serviram de base para os
primeiros sistemas de cartografia automatizada (CÂMARA et al., 2009).
A década de 80 representa o momento quando a tecnologia dos SIGs inicia um período de
acelerado crescimento, que dura até os dias de hoje. Até então, limitados pelo alto custo do
hardware e pela pouca quantidade de pesquisas específicas sobre o tema, os SIGs se beneficiaram
fortemente da massificação causada pelos avanços da microinformática e do estabelecimento de
centros de estudos sobre o assunto. Nos EUA, a criação dos centros de pesquisa que formam o
National Centre for Geographical Information and Analysis (NCGIA), em 1989, marca o
estabelecimento do geoprocessamento como disciplina científica independente (Câmara et al.,
2009).
Ainda, segundo os autores acima, o geoprocessamento iniciou no Brasil na década de 80.
Sendo que em 1984, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) estabeleceu um grupo
específico para o desenvolvimento de tecnologias de geoprocessamento e sensoriamento remoto: a
Divisão de Processamento de Imagens (DPI). De 1984 a 1990 a DPI desenvolveu o Sistema de
Tratamento de Imagens (SITIM) e o SIG (Sistema de Informações Geográficas) e, a partir de 1991
o SPRING (Sistema para Processamento de Informações Geográficas) para ambientes UNIX e
Windows.
No decorrer dos anos 80, com a grande popularização e diminuição dos custos de hardware,
além da evolução dos computadores e dos sistemas gerenciadores de bancos de dados relacionais,
ocorreu uma grande difusão do uso de SIG, bem como a incorporação de muitas funções de análise
espacial que proporcionou um aumento de suas aplicações (SILVA, 2003).
Os anos 90 consolidaram, definitivamente, o uso do geoprocessamento como ferramenta de
apoio à tomada de decisão. A partir de importantes projetos, esses sistemas saíram do meio
acadêmico para alcançar o mercado com uma ampla velocidade. Instituições do governo e grandes
empresas começaram a investir no uso de aplicativos comerciais disponíveis no mercado.
Consolidam-se as aplicações desktop que agregavam diversas funções no mesmo sistema
(modelagem 3D, análise espacial, processamento digital de imagens, etc).
A utilização do geoprocessamento tem evoluído significativamente nos últimos anos,
abrangendo diversas organizações nas áreas de administração, infra-estrutura, gestão ambiental,

213
saúde, entre outras. Toda essa evolução está ligada ao avanço das geotecnologias. Em função disso,
nas últimas décadas o dado espacial (georreferenciado) está mais acessível ao usuário, fazendo com
que a coleta e o processamento dos dados espaciais fiquem mais próximos dos orçamentos de países
como o Brasil.

14.2.1 Estruturas de dados em SIG


A utilização de um SIG pressupõe a existência de um banco de dados georreferenciado, isto
é, de dados referenciados a um sistema de coordenadas conhecido (coordenadas geodésicas e
planas). O tratamento desses dados é realizado por meio de um sistema gerenciador de banco de
dados (SGBD). Esses sistemas são estruturados de tal modo que, os dados possam ser relacionados
entre si. Para isso, são utilizados códigos identificadores que vinculam os registros dentro do
sistema de banco de dados (FITZ, 2008). A Figura 14.1 mostra a estrutura de dados em um SIG. No
caso de um SGBD de um SIG são utilizados, basicamente, dois grandes grupos de dados: i)
espaciais (gráficos); ii) dados não gráficos (alfanuméricos ou descritivos).

Figura 14.1. Estrutura básica de dados no SIG.


(Fonte: adaptada de Rocha, 2002)

i) Dados Espaciais

Os dados espaciais são aqueles que podem ser representados de forma gráfica e descrevem
as características espacias (geometria e posição) da superfície representada. Estes dados podem ser
obtidos de imagens de sensoriamento remoto, mapas temáticos (solo, uso do solo, geologia, entre
outros), sistema de posicionamento por satélite, entre outros (FITZ, 2008). Esses dados representam
os fenômenos ou objetos do mundo real, cujos valores podem variar de forma discreta (por
exemplo, pontos de deslizamentos de terras, rios, parcelas de cobertura da terra), ou de forma
contínua (por exemplo, a topografia, declividade, precipitação).
As principais formas de representações computacionais de dados espaciais em um SIG são:
vetorial e matricial.

214
Na forma vetorial a representação de um elemento gráfico é reduzida a três formas básicas
como: o ponto, a linha (ou arcos) e a área (ou polígono) (CÂMARA e MEDEIROS, 1998).
O SIG, internamente, representa os pontos, linhas e polígonos como conjuntos de pares de
coordenadas (x, y) ou (latitude, longitude). Os pontos são representados por apenas um par de
coordenadas, enquanto que as linhas e polígonos são representados por uma sequência de pares de
coordenadas. As linhas possuem, no mínimo, dois vértices conectados, gerando polígonos abertos e
expressam elementos expressão comprimento ou extensão linear. Já os polígonos são representados
por, no mínimo, três vértices conectados, sendo que o primeiro vértice possui coordenadas idênticas
ao do último, gerando assim, polígonos fechados que definem elementos espaciais com área e
perímetro (Rocha, 2002).
Cada elemento gráfico pode apresentar uma estrutura associada relacionando cada entidade
a um atributo digital ou mesmo um banco de dados alfanuméricos.
São exemplos de representações vetoriais no SIG as curvas de nível associadas as altitudes;
polígonos relacionando o tipo de solo com as suas características descitivas, pontos cotados,
estradas, rios, entre outros. A Figura 14.2 mostra um modelo de representação vetorial no SIG.

Figura 14.2. Modelo de representação vetorial


(Fonte: adaptada de Miranda, 2005)

Os dados espaciais também podem ser armazenados internamente no SIG em forma de


matrizes. Neste formato, tem-se uma matriz, na qual estão associados valores que permitem
reconhecer os objetos na forma de uma imagem digital. Cada uma das células, denominada pixel
(picture element), é endereçável por meio de suas coordenadas (ou linha, coluna) (Rocha, 2002).
Para Câmara et al. (1998) a representação do espaço na estrutura matricial é obtida por meio
de uma malha com linhas e colunas regularmente espaçadas, formando células. Essas células (ou
pixels), geralmente, possuem dimensões verticais e horizontais iguais, definindo a resolução da
malha, ou seja, a área abrangida no terreno por cada pixel.

215
É possível associar o par de coordenadas da matriz (coluna, linha) a um par de coordenadas
espaciais (x, y) ou (longitude, latitude). Cada um dos pixels está associado a valores. Desta forma, a
relação entre as células é subentendida em função das coordenadas da malha, pois devido a sua
forma regular, dada a linha e a coluna que localizam um elemento, pode-se facilmente localizá-la e
mesmo efetuar análise simples como operações de vizinhança, distância, no SIG. Estes valores
serão sempre números inteiros, geralmente, utilizados para definir uma cor para apresentação na
tela ou para impressão (CÂMARA et al., 1998)
Os valores dos pixels representam alguma grandeza física, correspondente a uma porção do
terreno. O principal componente de uma estrutura matricial é a resolução, que corresponde à
distância linear da menor unidade de um espaço geográfico onde os dados são registrados. Essa
unidade corresponde a célula e, o arranjo espacial destas a matriz (Figura 14.3). Assim, haverá alta
resolução quando essas células apresentarem dimensões muito pequenas. Desta forma, alta
resolução significa quantidade de detalhes, quantidade de células, grandes matrizes e células
pequenas.

Figura 14.3. Modelo de representação matricial.


(Fonte: adaptada de Miranda, 2005)

Exemplo de dados em SIG associados às representações vetoriais e matriciais:

 Mapas temáticos: podem ser representados por meio de estrutura vetorial (mapa
contendo polígonos de solos) e matricial (mapa hipsométrico);
 Imagens de sensoriamento remoto: são armazenadas no SIG na forma matricial;
 Modelo numérico do terreno (M
T): podem ser armazenados na forma de
estrutura vetorial (grades triangulares, isolinhas) e matricial (mapa hipsométrico)

216
Modelo numérico do terreno (M"T)

Além das formas básicas de representação de dados espaciais, isto é vetorial e matricial,
outra muito utilizada é o Modelo Numérico de Terreno (MNT).
O MNT é a representação matemática computacional da distribuição espacial de um
fenômeno que ocorre numa determinada região da superfície terrestre. Como exemplo de dados que
podem ser representado por um MNT tem-se: i) altimetria, ii) dados geológicos, iii) dados de
batimetria, iv) meteorológicos, v) geofísicos e geoquímicos (SPRING, 2009).
O MNT consiste na representação matemática de uma superfície por meio de coordenadas x,
y e z, onde z = f (x, y).
O MNT é uma superfície, geralmente, contínua e o fenômeno que ele representa pode ser
variado. Dentre as aplicações de um MNT pode-se citar armazenamento de dados altimétricos para
produzir mapas topográficos, de declividade, aspecto e de exposição, entre outros (Burrough, 1986).
O processo de modelagem numérica do terreno pode ser realizado em duas etapas: i) a
primeira consiste na aquisição de um conjunto de dados amostrais representativos do fenômeno de
interesse (solo, cotas altimétricas, precipitação, temperaturas, etc.); ii) interpolação dos dados
amostrados, ou seja, o modelo propriamente dito, que envolve a elaboração de uma estrutura de
dados e a definição da superfície de ajuste, visando obter uma representação contínua do fenômeno
a partir dos dados amostrados.
A etapa de aquisição de dados é caracterizada pela obtenção das coordenadas (x, y, z), que
representam a superfície ou fenômeno a ser modelado. O levantamento destes dados depende da
área a ser modelada e da precisão desejada.
Os dados para geração de um MNT podem ser obtidos por meio de digitalização ou
vetorização mapas existentes; métodos fotogramétricos a partir de modelos estereoscópicos de
fotografias aéreas e imagens de sensoriamento remoto; e levantamentos de campo (topografia,
sistema de posicionamento por satélite), cotas estimadas por imagens SRTM (Shuttlle Radar
Topography Mission).
A aquisição de dados a partir de mapas existentes pode ser efetuada por meio de
digitalização manual (vetorização) ou automática (leitores de varredura ótica).
No caso de dados para a elaboração, por exemplo, de modelos digitais de elevação, caso
específico de MNT, onde são considerados valores de altitude, são utilizados mapas topográficos
contendo curvas de nível (linhas de mesma altitude) e pontos cotados. O processo de vetorização
das curvas de nível consiste na transformação destas, em uma seqüência de pontos com
coordenadas x, y de mesmo valor em z (altitude). Na digitalização por varredura ótica é obtida uma
matriz de pontos onde cada célula representa um valor de cota.
Quanto aos métodos fotogramétricos são utilizadas fotografias aéreas ou imagens de
satélites com sobreposição. Como exemplo de imagens de satélite disponíveis, atualmente, tem-se:
as do SPOT -5/HRS (Satellite pour l'Observation de la Terre), IKONOS-2, ASTER, CBERS, entre
outros. Estas imagens possuem características operacionais que permitem a superposição (imagens
estereoscópicas), que, depois de restituídas por métodos fotogramétricos, produzem um MDE
(Rocha, 2002).
A partir de estereopares de imagens, obtidas pelos sensores remotos que operam no espectro
óptico, é possível gerar um DEM pelo princípio da Estereoscopia. A estereoscopia permite obter
dados tridimensionais, por meio da observação de um par de imagens planas (estereopares) de uma

217
mesma cena, com ângulos de incidência diferentes (Santos et al.,1999). Entre os sensores remotos
orbitais de média e alta resolução espacial que possuem capacidade de gerar DEMs, destacam-se:
ASTER, SPOT-5/HRS, IKONOS-II e QuickBird (Toutin e Gray, 2000).
Quanto aos levantamentos de campo, os dados são obtidos de forma direta utilizando
instrumentos topográficos informatizados como, as estações totais automáticas, níveis digitais e
sistemas de posicionamento por satélites.
A segunda etapa é a geração do modelo propriamente dito. Para isso, existe uma variedade
de algoritmos de interpolação de dados. A interpolação envolve a criação de estrutura de dados e a
definição da superfície de ajuste com o objetivo de se obter uma representação contínua do
fenômeno a partir das amostras. A interpolação é o processo de determinar (estimar) valores
desconhecidos ou não amostrados, de uma característica contínua, por meio de valores conhecidos
ou amostrados (Miranda, 2005).
Sendo que, a interpolação espacial converte dados de observações pontuais para contínuos
(transforma imagens vetoriais em matriciais) e assim, produz padrões espaciais (planos de
informações contínuos) que podem ser comparados com outras entidades espaciais contínuas. A
base da interpolação é que, em geral, os valores de um atributo tendem a ser semelhantes em locais
próximos a ele. Dentre os métodos de interpolação mais utilizados nos SIG, tem-se: i) polígonos de
Thiessen; ii) Triangulação (TIN - Triangulated Irregular Networks) (Figura 14.4); iii) média local
simples; iv) inverso da distância; v) média móvel local; vi) Krigagem (Miranda, 2005).

Figura 14.4. Representação da malha triangular e de um modelo digital de elevação.

Dentre as aplicações do MNT destacam-se a seguir:

218
 Geração de mapas de contorno, que representam isolinhas, ou seja, curvas que
conectam pontos da superfície com mesmo valor. Essas isolinhas podem representar
valores de elevação, dados geofísicos, geoquímicos, meteorológicos, entre outros;
 mapas de declividade;
 orientação de vertentes, objetivando o cálculo da inclinação e orientação das
vertentes do terreno;
 extração de padrões como, vales, divisores de água, talvegue;
 geração de perfis, que representam a interseção de planos verticais com a superfície
do terreno, possibilitando a observação do comportamento do terreno ao longo de um
traçado linear;
 análise de bacias hidrográficas como direção de fluxo, delimitação automática de
bacias e sub-bacias, comprimento de rios, extração de rede de drenagem, entre
outros.

ii) Dados alfanuméricos

Os dados alfanuméricos (ou não gráficos) são aqueles constituídos por letras, números ou
sinais gráficos e, podem ser armazenados em forma de tabelas organizadas num banco de dados no
SIG. Os dados dispostos nas tabelas possuem atributos (características) que se relacionam à
estrutura espacial (gráfica) e podem ser identificados por meio de suas coordenadas e características
específicas, com sua descrição qualitativa ou quantitativa (Fitz, 20008). Esses dados possuem,
portanto, informações referentes aos mapas a eles vinculados, por meio do seu endereço
(coordenadas) e, são associados aos elementos gráficos fornecendo informações descritivas.
Os dados alfanuméricos podem ser de dois tipos: i) características dos dados espaciais, ii)
atributos de localização (ou de georreferência).
As características dos dados espaciais fornecem informações descritivas, relacionadas ao
dado espacial (gráfico).
Os dados alfanuméricos se relacionam com os gráficos (elementos espaciais) por meio de
identificadores (códigos) comuns, que são armazenados, tanto nos registros alfanuméricos, como
nos registros espaciais. A organização dos atributos é feita de acordo com técnicas convencionais de
banco de dados. A maioria dos SIG utiliza o modelo relacional, baseado na estruturação dos dados
em tabelas, onde cada linha (ou registro), corresponde a um elemento geográfico representado
graficamente no plano de informação (ou camadas) e, as colunas (ou campos), correspondem as
caracteríscas dos elementos.
A função dos atributos é fornecer informações qualitativas ou quantitativas associadas aos
elementos espaciais como pontos, linhas e polígonos, representados na base de dados no SIG
(Rocha, 2002). Por exemplo, uma feição do tipo linha, que representa uma rede de abastecimento de
água, possibilita estruturar um arquivo associado à informações como: tipo de rede, material
utilizado, diâmetro, vazão. Neste exemplo, a análise realizada no SIG pode ser feita por meio de
uma consulta ao banco de dados, do tipo: Onde estão todas as redes com diâmetro igual a “x” e
vazão maior do que “y”? A resposta a essa pergunta pode ser dada na forma de tabelas, textos ou
visualizadas no mapa.

219
Os atributos de georreferência são aqueles onde a preocupação é somente localizar uma
característica específica, sem descrever as feições espaciais. Esses dados são armazenados e
gerenciados em arquivos separados, sendo associados à base espacial por meio de registros (Rocha,
2002).

14.2.2 Componentes do SIG


As transformações e operações nos SIGs operam no domínio espacial, topológico e não
espacial dos dados, tanto separadamente como em conjunto. As características analíticas de um SIG
são classificadas segundo suas ferramentas e segundo suas operações analíticas (Miranda, 2005).
Em relação às ferramentas, existem quatro grupos principais:
• Consulta à base de dados - possibilita obter informações sobre os dados armazenados
(localização, atributo, ou ambos).
• Álgebra de mapas - possibilita combinar mapas e realizar operações para produzir mapas
derivados.
• Operadores de distância - permite realizar cálculos complexos que envolvem medidas de
distâncias.
• Operadores de vizinhança - permitem gerar novas informações espaciais a partir de
informações presentes na vizinhança, por exemplo, a construção do MNT e os diferentes
métodos de interpolação.
A principal diferença de um SIG para um sistema de informação convencional é a sua
capacidade de armazenar, tanto os atributos descritivos, como as geometrias dos diferentes tipos de
dados geográficos (Câmara, 2005).
As principais características de um SIG são: i) inserir e integrar, numa única base de dados,
informações espaciais oriundas do meio-biótico, dados censitários, de cadastro (urbano e rural),
imagens de satélite, e dados de sistema de posicionamento por satélite; iii) fornecer mecanismos
para combinar as várias informações, usando algoritmos de manipulação e análise, bem como
consultar o conteúdo armazenado na base de dados espaciais (Câmara, 2005).
Os principais componentes de um SIG são:
• Interface homem-máquina
• Entrada e integração de dados
• Consulta e análise espacial. Estes algoritmos incluem operações topológicas, álgebra de
mapas, modelagem numérica do terreno e processamento de imagens.
• Visualização e impressão armazenamento e recuperação de dados (organizados na
forma de banco de dados).
Esses componentes se relacionam de forma hierárquica. No nível mais próximo ao usuário, a
interface define como o sistema é operado. No nível intermediário, um SIG possui mecanismos de
processamento de dados espaciais (entrada, edição, análise, visualização e saída). Já internamente,
um sistema de gerenciamento de dados controla o armazenamento e a recuperação de dados
espaciais e seus atributos (características).
Cada sistema de acordo com seus objetivos e necessidades, implementa estes componentes
de forma diferenciada. Entretanto, todos eles devem fazer parte de um SIG (CÂMARA, 2005)

220
14.3 Obtenção de dados em geoprocessamento
O processo de obtenção e tratamento dos dados para alimentar os sistemas de
geoprocessamento utiliza, basicamente, as metododologias apresentadas na Figura 14.5.

Figura 14.5. Métodos de obtenção dos dados em geoprocessamento.

14.3.1 Digitalização de mapas e imagens existentes


A digitalização é o processo de transferência das informações gráficas em papel (mapas ou
fotos existentes) para a forma digital. Este processo pode ser manual ou automático. No primeiro
caso, a digitalização pode ser realizada por meio de uma mesa digitalizadora ou diretamente sobre o
monitor de vídeo. Já no segundo, são feitas por equipamentos de varredura óptica (scanner). As
técnicas usadas para essa transformação são a digitalização manual, que gera mapa na estrutura
vetorial, e digitalização automática, também chamada de rasterização, que resulta em mapas na
forma de imagens ou matrizes (ROCHA, 2002).
A maioria dos programas de geoprocessamento permite a transformação entre o formato
matricial e vetorial e, vice-versa. Assim, um dado pode ser digitalizado num formato e armazenado
ou manipulado em outro, de acordo com a aplicação a que se destina. Portanto, a escolha do
processo deve ser direcionada considerando-se aspectos como: tempo de aquisição, custo, objetivo
do trabalho e fontes de dados disponíveis.

14.3.2 Fotogrametria
A fotogrametria é a ciência que estuda e desenvolve instrumentos e metodologias que
permitem a obtenção de medidas confiáveis em fotografias, a partir das quais é possível elaborar
mapas topográficos e temáticos (LOCH & ERBA, 2007).
As fotografias para fins de mapeamento são obtidas por aeronaves e sistemas fotográficos,
especialmente desenvolvidos para esse fim. Como as fotografias aéreas são obtidas no intervalo de
comprimento de onda do visível do espectro eletromagnético e suas proximidades, o seu conteúdo é
de fácil interpretação, pois apresenta uma aparência natural com relação à forma, ao tamanho e à
cor dos objetos fotografados na superfície terrestre.
As fotografias aéreas podem ser utilizadas nos mais diversos estudos, desde visão detalhada
(fotos em escala grande) até uma visão panorâmica da região (fotos em pequena escala) (Loch e
Erba, 2007).
Atualmente, a aerofotogrametria é muito utilizada para geração mapas topográficos, modelo
digital de elevação, mapas cadastrais, estudo de bacias hidrográficas, entre outros. A Figura 14.6

221
mostra uma fotografia obtida por métodos fotogramétricos, onde é possível observa com riqueza de
detalhes o terreno fotografado.

Figura14.6. Ortofoto digital da região de Rio Negrinho-SC.

14.3.3 Sensoriamento remoto


O sensoriamento remoto possui uma grande potencialidade para a alimentação de dados
espaciais para os sistemas de geoprocessamento, em função da variedade de imagens de satélites
disponíveis, atualmente.
O sensoriamento remoto orbital oferece uma série de vantagens em relação à outros modos
de aquisição de dados espaciais, como fotografias aéreas e levantamentos de campo. Dentre as
principais vantagens tem-se: a cobertura global da superfície terrestre; observação em multi-escalas;
obtenção de informações em regiões do espectro de radiação eletromagnética em regiões invisíveis
ao olho humano; periodicidade das informações; transmissão imediata de dados; e informações em
formato digital, permitindo a transmissão de dados em tempo real (Chuvieco, 2007).
O sensoriamento remoto pode ser definido como a utilização conjunta de sensores,
equipamentos para o processamento e a transmissão de dados, colocados a bordo de aeronaves,
espaçonaves, ou outras plataformas, com o objetivo de estudar eventos, fenômenos e processos que
ocorrem na superfície da Terra. Isto pode ser realizado a partir do registro e da análise das
interações entre a radiação eletromagnética e as substâncias que compõem a superfície terrestre em
suas mais diversas manifestações (NOVO (2008).
Para a aquisição de dados em sensoriamento remoto são necessários três elementos básicos,
i) a fonte de energia radiante (solar, por exemplo), o objeto observado (alvo na superfície) e o
sensor (CHUVIECO, 2007; NOVO, 2008).
A aquisição das informações por sensores remto pode se dar de três maneiras: i) por reflexão
da radiação solar, ii) por emissão de radiação pelo alvo, ou iii) por emissão-reflexão (sensor emite
fluxo energético e capta posteriormente sua reflexão sobre a superfície terrestre) (Figura 14.7). Em

222
qualquer uma das três situações, a radiação eletromagnética é o meio pelo qual a informação é
transferida do objeto observado ao sensor (Chuvieco, 2007; Novo, 2008).

Figura 14.7. Formas de obtenção de informações em sensoriamento remoto: (1) reflexão, (2)
emissão, (3) emissão-reflexão. (Fonte: adaptada de Chuvieco, 2007).

A radiação eletromagnética é a forma mais importante de energia para o sensoriamento


remoto, pois é originada diretamente da luz solar. Sendo esta, a principal fonte de energia para o
planeta Terra. O sol ilumina a superfície terrestre, que reflete a energia em função do tipo de
cobertura presente sobre ela. Essa energia refletida é detectada pelo sensor a bordo do satélite que o
transmite às estações receptoras dos sinais, responsáveis pela geração das imagens ou outro tipo de
dados coletado. Entre a superfície e o sensor se interpõe a atmosfera, que dispersa e absorve parte
do sinal original (CHUVIECO, 2007).
Existem outras formas de obtenção de informações em sensoriamento remoto, a energia
emitida pelos objetos e a enviada pelo sensor, que gera seu próprio fluxo energético, detectando,
posteriormente, a sua reflexão sobre a superfície terrestre. Em qualquer um dos casos, o fluxo
energético entre a cobertura terrestre e o sensor é a radiação eletromagnética (Chuvieco, 2007).
Ao conjunto de ondas eletromagnéticas que compõem o campo de radiação de um
determinado objeto, denomina-se de espectro eletromagnético (Figura 14.8). Este representa todo o
conjunto de comprimentos de onda do espectro eletromagnético, desde os raios gama até ondas de
rádio (NOVO, 2008). O espectro pode ser dividido em diferentes regiões, em função: i) dos
processos físicos que dão origem à radiação; ii) do tipo de interação que ocorre entre a energia e os
objetos sobre os quais incide; iii) da transparência da atmosfera em relação à radiação.

223
Figura 14.8. Espectro Eletromagnético: principais regiões.
(Fonte: adaptada de
ovo,2008)

Assim, o espectro eletromagnético é dividido em bandas ou faixas espectrais de acordo com


os comprimentos de onda (metros) ou freqüências (Hertz, ciclos por segundos) correspondentes. As
principais bandas utilizadas pelo sensoriamento remoto, para a geração de imagens, baseadas em
Chuvieco (2007) são:
• Região do visível (0,4µm a 0,7µm): única faixa da radiação eletromagnética que é percebida
pelo olho humano, coincidindo com os comprimentos de onda, em que a radiação solar é
máxima. Pode ser dividida em três bandas elementares: azul (0,4 a 0,5µm), verde (0,5 a 0,6
µm) e vermelho (0,6 a 0,7 µm).
• Região do Infravermelho: é amplamente utilizada no sensoriamento remoto por estar
associada à emissão de calor. Está situada entre os comprimentos de onde de 0,7 µm a 1,0
mm com as seguintes subdivisões: infravermelho próximo (0,7 a 3µm), infravermelho
médio (3 a 8µm) e infravermelho distante ou térmico (8 - 14µm).
• Microondas: situam-se na faixa de 1,0 mm a 30 cm e seu uso no sensoriamento remoto é
interessante por ser uma radiação pouco afetada pela atmosfera.
Entretanto, a atmosfera é composta de gases, vapor de água e aerossóis que interagem de
forma diferente com as várias bandas do espectro eletromagnético, comportando-se como um filtro
seletivo dos comprimentos de onda, absorvendo-os, dispersando-os ou emitindo-os em função das
características das ondas e pelo tamanho destes constituintes (MOREIRA, 2003; CHUVIECO,
2007; NOVO, 2008; JENSEN, 2009).
O processo de absorção ocorre devido à presença de gases (oxigênio, ozônio, gás carbônico,
etc) e vapor d’água, que absorvem a maioria da radiação eletromagnética com comprimentos de
onda inferiores a 0,3µm e permitem a penetração de radiação com comprimentos de ondas maiores
que 0,3µm (região do visível às microondas) na superfície terrestre.
As bandas transmitidas à superfície compõem as janelas atmosféricas e são as mais utilizadas
pelo sensoriamento remoto.
O processo de dispersão é causado, principalmente, pelos componentes aerossóis e vapor de
água, sendo um processo físico que resulta da obstrução das ondas eletromagnéticas, provocando
reflexão ou refração da radiação (MOREIRA, 2003; CHUVIECO, 2007; NOVO, 2008; JENSEN,
2009). A Figura 14.9 mostra as janelas atmosféricas (transmitância da atmosfera em diferentes
comprimentos de onda).

224
Figura 14.9. Radiação do sol e da Terra e janelas atmosféricas.
(Fonte: Adaptada de Moreira, 2003)

A Figura 14.10 mostra a distribuição do espectro de energia eletromagnética do Sol no topo


da atmosfera e na superfície terrestre observada ao nível do mar. As áreas sombreadas representam
as absorções devido aos diversos gases presentes numa atmosfera limpa. Os principais gases
absorventes da radiação são o vapor de água (H2O), oxigênio (O2), ozônio (O3) e gás carbônico
(CO2). Os gases CO, CH4, NO e N2O ocorrem em pequenas quantidades e também exibem
espectros de absorção (Moraes, 2003).

Figura 14.10 Janelas de transmissão e bandas de absorção da radiação solar.


(Fonte: Adaptada de Moreira, 2003)

Os processos de interações da energia eletromagnética com os constituintes atmosféricos


influenciam a caracterização da energia solar e terrestre disponíveis para o sensoriamento remoto

225
dos recursos naturais. A energia eletromagnética ao atingir a atmosfera é espalhada, e parte desta
retorna para o espaço, vindo a contaminar a energia refletida ou emitida pela superfície e que é
detectada pelos sensores orbitais (Moreira, 2003).
Atualmente, existe uma grande variedade de sensores remotos desenvolvidos para os mais
diversos usos ambientais. Os sensores são dispositivos que captam a energia refletida ou emitida
por uma superfície qualquer e armazenam na forma de dados digitais (por exemplo, imagens,
gráficos, números) (Novo, 2008).
Os sensores remotos apresentam características fundamentais que influenciam na escolha de
um ou de outro para uma dada aplicação. Dentre as principais características, citam-se: i) a
resolução espacial; ii) a resolução espectral; iii) a resolução radiométrica; e iv) resolução temporal.
A capacidade do sensor em “enxergar” objetos na superfície terrestre define a sua resolução
espacial. Assim, quanto maior a capacidade de enxergar objetos menores, maior a resolução
espacial do sensor. A maneira mais comum de se determinar a resolução espacial de um sensor é
pelo campo de visada instantâneo ou IFOV (Instantaneous Field of View). Este campo é
determinado pelas propriedades geométricas do sistema sensor e define a área do terreno
fotografado que é “vista” pelo sensor num dado instante. O IFOV é medido pelas dimensões da área
vista no terreno e, de uma forma simplificada, representa o tamanho do pixel na imagem de satélite.
Salienta-se que, o IFOV, e consequentemente, a resolução espacial, é um conceito teórico, visto que
existem variações na altitude da órbita dos satélites que provocam mudanças no IFOV, mas não no
tamanho do pixel, que é fixo e é determinado pelo intervalo de amostragem do sinal recebido pelo
sensor (Crosta, 1999).
Atualmente, existe uma variedade de sensores em funcionamento para a observar a superfície
terrestre, com diferentes resoluções espaciais.
As imagens que permitem a visualização de grandes objetos possuem baixa resolução
espacial, ou seja, o tamanho da área mínima detectada pelo sensor é grande. Imagens de alta
resolução espacial permitem detectar objetos de dimensões pequenas. A Figura 14.10 permite
avaliar o impacto da resolução espacial no processo de reconhecimento de feições na superfície
terrestre. Com sensores de alta resolução espacial (menor que 4 metros) é possível identificar
prédios, árvores, aviões, entre outros, numa área urbana (Figura 14.10a). Na medida em que a
resolução se torna menor, com um pixel de tamanho mínimo de 20 m no terreno, por exemplo,
pode-se identificar traçados de ruas, rios grande de porte, manchas urbanas e de vegetação (Figura
14.10b).

226
(a) (b)
Figura 14.10. Imagens de satélite com diferentes resoluções: (a) Imagem do satélite
Quikbird (resolução 1 m); (b) Imagem adquirida pelo satélite CBERS-2, câmera CCD, da capital do
Estado de Amazonas (resolução de 20 m)

A resolução espectral refere-se a uma medida da largura das bandas espectrais e da


sensibilidade do sensor em diferenciar entre dois ou mais níveis de intensidade do sinal de retorno.
Assim, um sistema sensor que opera na faixa de 04 a 05 µm, por exemplo, apresenta uma resolução
maior do que aquele que registra de 0,4 a 0,6 µm (Novo, 2008).
Em outras palavras, a resolução espectral indica a quantidade de bandas do espectro nas quais
o sensor é capaz de gerar uma imagem. Muitos sistemas registram energia ao longo de intervalos
separados de comprimentos de onda com várias resoluções espectrais distintas, estes são chamados
de multiespectrais. Atualmente, existem sistemas avançados que cobrem bandas espectrais muito
estreitas ao longo do visível, são os sensores hiperespectrais.
Outra característica dos sensores remotos é a resolução radiométrica, que descreve a
capacidade do sensor em distinguir variações no nível de energia refletida que deixa a superfície do
alvo, por reflexão, emissão ou retro-espalhamento. Assim, quanto maior a capacidade do sensor em
discriminar diferenças na intensidade do sinal, maior será a sua resolução radiométrica (Novo,
2008).
A resolução radiométrica é definida pelo número de bits utilizado para armazenar os números
digitais. Esta resolução indica a quantidade máxima de níveis de cinza que podem ser utilizados
para representar os objetos ou fenômenos numa imagem. Por exemplo, uma imagem é formada por
números digitais de 8 bits, o total de níveis de cinza para representar a imagem será 256 (28=256),
desta maneira a imagem será identificada como tendo resolução radiométrica de 8 bits, na qual o
valor zero é associado à cor preta e 255 à cor branca. Os níveis intermediários aparecem em uma
escala de tons de cinza, do mais escuro (nível 1) ao mais claro (nível 254) (Crosta, 1999).
Por fim, a resolução temporal refere-se à frequência de cobertura que um sensor proporciona.
Em outras palavras, é a periodicidade com que este adquire imagens ou dados da mesma porção da
superfície terrestre. O ciclo de cobertura é função das características orbitais dos satélites, como
altura, velocidade e inclinação e, principalmente , do ângulo de abertura (Chuvieco, 2007). Cabe
salientar que a resolução temporal varia de acordo com os objetivos fixados para cada sensor. Por
exemplo, os satélites meteorológicos necessitam de um período de tempo mais curto entre uma

227
tomada de dados e outra, pois o objetivo é fornecer informações sobre fenômenos dinâmicos
(climáticos).
Assim, a escolha de uma imagem para um estudo específico deve ser fundamentada nas
características mencionadas acima. Esta escolha pode ser em função da quantidade de detalhes do
terreno que a imagem proporciona (resolução espacial), ou na periodicidade de obtenção dos dados
(resolução temporal) e, assim por diante.

Exemplos de satélites e sistemas sensores para estudos ambientais

• Satélites CBERS

A missão CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite ou Satélite Sino-Brasileiro de


Recursos Terrestres) iniciou no ano de 1988, após convênio técnico-científico entre Brasil -
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e China - Academia Chinesa de Tecnologia
Espacial (CAST). Esta missão mantém três satélites de observação terrestre em órbita: o CBERS-1
(lançado em 1999 e inativo desde 2003), o CBERS-2 (lançado em 2003) e CBERS-2B (lançado em
2007) (EMBRAPA, 2009).
Os satélites CBERS-1, CBERS-2 e CEBRS-2B possuem a bordo o sensor óptico CCD
(Couple Charged Device). A resolução temporal deste sensor é de 26 dias. A câmera de alta
resolução CCD possui cinco faixas espectrais (5 bandas) e fornece imagens com faixa de 113 km de
largura e uma resolução espacial de 20m. As principais características deste sensor são apresentadas
na Tabela 14.1.

Tabela 14.1. Principais características do sensor CCD.


Resolução Resolução Resolução Área
Sensor Bandas Espectrais
Espectral Espacial Temporal Imageada
PAN 0,51 – 0,73 µm
26 dias
AZUL 0,45 – 0,52µm
(visada
Câmara VERDE 0,52 – 0,59 µm
20 m vertical) 113 km
CCD VERMELHO 0,63 – 0,69 µm
e 3 dias
INFRAVERMELHO (visada lateral)
0,77 – 0,89 µm
PRÓXIMO
(Fonte: http://www.sat.cnpm.embrapa.br/conteudo/cbers.htm#ccd)

Suas principais aplicações são: a identificação de anomalias antrópicas ao longo de cursos


de água, a identificação de áreas de florestas e campos agrícolas (Figura 14.11), quantificação de
áreas, análise da dinâmica das florestas, parques, identificação dos limites continente - água,
monitoramento de reservatório, geração de material de apoio para o ensino de geografia, meio
ambiente, dentre outras.

228
Figura 14.11. Exemplo de imagem CBERS-2, sensor CCD, enfatizando o campo agrícola (cinza
escuro).

O satélite CBERS-2B possui o sensor HRC (High Resolution Camera ou Câmera


Pancromática de Alta Resolução), que capta uma única banda espectral, da região do visível a
infravermelho próximo. É caracterizado pela alta resolução espacial (2,7 metros), possibilitando um
maior detalhamento da superfície em relação aos dados captados pelo sensor CCD (Tabela 14.2).
Este sensor é capaz de produzir imagens com 27 km e obter a cobertura completa da Terra em 130
dias, o que corresponde a aproximadamente 5 ciclos de cobertura do sensor CCD. As principais
aplicações do HRC são a geração de mosaicos nacionais ou estaduais detalhados, criação de
produtos para fins de planejamento local ou municipal, aplicações urbanas, atualização de cartas
temáticas.

Tabela 14.2. Principais características do sensor HCR.


Bandas Resolução Resolução Resolução Res. Área
Sensor
Espectrais Espectral Espacial Temporal Radiométrica Imageada
27 km
HRC PAN 0,50 – 0,80µm 2,7 m 130 dias 8 bits
(nadir)
(Fonte: http://www.sat.cnpm.embrapa.br/conteudo/cbers.htm#hrc)

• Satélite Landsat-TM5

A série dos satélites Landsat teve inicio no final da década de 60, por meio do projeto
desenvolvido pela Agência Espacial Americana, que visava a observação dos recursos naturais
terrestres. O primeiro satélite da série (Landsat-1) foi lançado em 1972 e o último, Landsat-7, em
1999.
Atualmente o único satélite em operação é o LANDSAT-5, que possui o sensor Tematic
Mapper (TM) e contribui para o mapeamento temático da superfície terrestre (Tabela 14.3).

229
Tabela 14.3. Principais características do sensor TM.
Resolução Resolução Resolução Área Resolução
Sensor Bandas Espectrais
Espectral Espacial Temporal Imageada Radiométrica
0,45 –
(B1) AZUL
0,52 µm
0,50 –
(B2) VERDE
0,60 µm
0,63 –
(B3) VERMELHO 30 m
0,69 µm
(B4)
0,76 –
INFRAVERMELHO 16 dias 185 km 8 bits
0,90 µm
TM PRÓXIMO
(Thematic (B5)
1,55 –
INFRAVERMELHO
Mapper) 1,75 µm
MÉDIO
(B6)
10,4 –
INFRAVERMELHO 120 m
12,5 µm
TERMAL
(B7)
2,08 –
INFRAVERMELHO 30 m
2,35 µm
MÉDIO
(Fonte: http://www.sat.cnpm.embrapa.br/conteudo/landsat.htm#tm)

A antena de recepção do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) localizada em


Cuiabá capta desde os anos 70 imagens de todo território nacional, o que representa um enorme e
único acervo de dados sobre nosso país. Dentre as aplicações das imagens obtidas deste sensor estão
a análise das condições atuais e das mudanças nos suprimentos de água, já que para este tipo de
análise necessita-se da repetição sistemática da cobertura, fornecida pelo sistema Landsat. Outras
aplicações são a avaliação da produtividade agrícola e a previsão de culturas. A Figura 14.12
apresenta um pedaço de uma cena do Landsat-TM5.

Figura 14.12. Exemplo de imagem do satélite LandSat-TM 5.

• Satélite IKO'OS II

O satélite Ikonos II começou a operar em 2000. É um satélite de alta resolução espacial


operado pela Empresa GeoEye. Foi o primeiro satélite de alta resolução espacial com capacidade de
imageamento de 1 metro no modo pancromático e 4 metros no modo multiespectral.
230
O IKONOS II possui os sensores PAN e MS, que operam na região do visível e
infravermelho próximo, respectivamente, obtendo imagens pancromáticas e multiespectrais com
resolução espacial de 1 metro e 4 metros (Tabela 14.4). Em adição, podem ser programados para
adquirir imagens estereoscópicas, visando a elaboração de modelos de elevação digital (DEM).

Tabela 14.4. Principais características do Satélite IKONOS II.


Sensor Bandas Espectrais
Resolução Resolução Resolução Resolução Área
Espectral Espacial Temporal Radiométrica Imageada
(PAN) PAN 0,45- 1m 2,9 dias
PANCROMÁTICO 0,90µm
AZUL 0,45 –
(MS) 0,52 µm 11 bits 11 x 11
MULTIESPECTRAL VERDE 0,52 – 4m 1,5 dia km
0,60 µm
VERMELHO 0,63 –
0,69 µm
INFRAVERMELHO 0,76 –
PRÓXIMO 0,90 µm
(Fonte: http://www.sat.cnpm.embrapa.br/conteudo/ikonos.htm#panms)

Como podem ser observadas, as imagens do IKONOS II são obtidas com resolução
radiométrica de 11 bits, ou seja, 2048 níveis de cinza, o que viabiliza grande distinção entre objetos
(Figura 14.13). O IKONOS tem capacidade para ser ampliado com qualidade até 1:2.500 e possui
uma ampla aplicabilidade em trabalhos científicos que necessitam de dados e informações
detalhadas da superfície terrestre.

Figura 14.13. Exemplo de imagem do satélite IKONOS.


(Fonte: http://www2.engesat.com.br/pub/fckeditor/Image/amostras_ikonos/olinda_psm.jpg)

• Satélite AQUA

O AQUA é um satélite americano e seus instrumentos foram desenvolvidos em parceria com


o Japão e Brasil. Como o próprio nome sugere, foi idealizado para monitorar vários tipos de
fenômenos físicos referentes à circulação da energia e da água na Terra. A missão AQUA leva a

231
bordo seis instrumentos sensores: Atmospheric Infrared Sounder (AIRS), Advanced Microwave
Sounding Unit (AMSU-A), Humidity Sounder for Brazil (HSB), Advanced Microwave Scanning
Radiometer for EOS (AMSR-E), Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS) e
Clouds and the Earth's Radiant Energy System (CERES) (EMBRAPA, 2009).
Dentre estes sensores, o MODIS tem uma importância singular para diversos estudos, dentre
os quais, trabalhos em agricultura, devido à sua alta resolução temporal e espectral, que permitem o
monitoramento sistemático de algumas culturas (Tabela 14.5).
.
Tabela 14.5. Principais características do sensor MODIS.
Bandas Resolução Resolução Resolução Área Resolução
Sensor
Espectrais Espectral Espacial Temporal Imageada Radiométrica
620 – 670 2330 x
1 250 m 1 a 2 dias 12 bits
nm 5000 km
841 – 876
2
nm
459 – 479
3
nm
545 – 565
4
nm 2330 x
500 m 1 a 2 dias 12 bits
1230 – 5000 km
5
1250 nm
1628 –
6
1652 nm
2105 –
7
2155 nm
405 – 420
8
nm
438 – 448
9
nm
483 – 493
MODIS (Moderate 10
nm
Resolution Imaging
526 – 536
Spectroradiometer) 11
nm
546 – 556
12
nm
662 – 672
13
nm
673 – 683 2330 x
14 1000 m 1 a 2 dias 12 bits
nm 5000 km
743 – 753
15
nm
862 – 877
16
nm
890 – 920
17
nm
931 – 941
18
nm
915 – 965
19
nm
3660 –
20
3840 nm

232
Continuação Tabela 14.5.
Bandas Resolução Resolução Resolução Área Resolução
Sensor
Espectrais Espectral Espacial Temporal Imageada Radiométrica
3929 –
21
3989 nm
3929 –
22
3989 nm
4020 –
23
4080 nm
4433 –
24
4498 nm
4482 –
25
4549 nm
1360 –
26
1390 nm
6535 –
27
6895 nm
7175 –
MODIS (Moderate 28
7475 nm 2330 x
Resolution Imaging 1000 m 1 a 2 dias 12 bits
8400 – 5000 km
Spectroradiometer) 29
8700 nm
9580 –
30
9880 nm
10780 –
31
11280 nm
11770 –
32
12270 nm
13185 –
33
13485 nm
13485 –
34
13785 nm
13785 –
35
14085 nm
14085 –
36
14385 nm
(Fonte: http://www.sat.cnpm.embrapa.br/conteudo/aqua.htm#modis.)

Dentre os diversos produtos obtidos pelas imagens deste sensor pode-se citar: produtos
relacionados ao balanço de energia e radiação da superfície, para avaliação física de processos
superficiais; produtos de vegetação e ecologia, para caracterização e funcionamento de
ecossistemas, padrões de produtividade sazonais. A Figura 14.14 apresenta um exemplo de imagem
obtida pelo sensor MODIS.

233
Figura 14.14. Exemplo de imagem obtida pelo satélite AQUA, sensor MODIS.
(Fonte: http://www.sat.cnpm.embrapa.br/conteudo/aqua.htm#modis)

14.3.4 Geodésia
A Geodésia é a ciência que estuda a forma, as dimensões e o campo gravitacional da Terra
em grandes extensões de área, considerando a sua curvatura. Ela estabelece o apoio básico para dar
suporte à elaboração de mapas, ou seja, a malha de pontos geodésicos com latitude, longitude e
altitude, de alta precisão. Para isso, utiliza instrumentos de alta precisão e métodos complexos para
as medições realizadas na superfície terrestre.
Apesar da finalidade principal da Geodésia ser cientifica, ela é empregada como estrutura
básica do mapeamento e trabalhos topográficos. Os levantamentos geodésicos compreendem o
conjunto de metodologias para as medições e observações que se destinam à determinação da forma
e dimensões da Terra (geóide e elipsóide). Ela é a base para o estabelecimento do referencial físico
e geométrico necessário ao posicionamento dos elementos que compõem a superfície terrestre
(IBGE, 1999).
Os levantamentos geodésicos, até recentemente, se baseavam em medidas de ângulos e
distâncias terrestres para solucionar os seus problemas, sendo a intervisibilidade entre os pontos
medidos, uma exigência e, conseqüentemente, uma das principais restrições enfrentadas. Com o
surgimento dos primeiros satélites artificiais, os geodesistas descobriram as vantagens de utilizá-los
como pontos espaciais geodésicos de referência para o estabelecimento de redes geodésicas (Loch e
Erba, 2007).
A utilização dos sistemas de posicionamento por satélites artificiais nos levantamentos
geodésicos, para fins topográficos, oferece uma série de vantagens com relação à eficiência na
coleta e automação dos dados, dispensa da intervisibilidade entre os vértices e a possibilidade do

234
transporte simultâneo de coordenadas tridimensionais (x, y, z) em qualquer condição atmosférica e,
a qualquer hora do dia.

Sistema de posicionamento por satélite

No início dos anos 70, a necessidade de um sistema de navegação por satélites de alta
precisão, com cobertura mundial, que estivesse disponível a qualquer momento, sob quaisquer
condições meteorológicas, tornou-se imprescindível no âmbito das forças armadas dos Estados
Unidos. Além disso, foi estabelecida como requisito essencial do sistema uma capacidade de
posicionamento contínuo tridimensional (latitude, longitude e altitude). Esse sistema deveria ser
empregado não só por navios, submarinos, aeronaves e veículos militares terrestres, mas, também,
ser de grande utilidade para o segmento civil, com uma ampla variedade de aplicações, desde
mapeamento topo-hidrográfico de precisão até sistemas anti-colisão de navios e aeronaves
(Hofmann-Wellenhof et al., 1997).
Em abril de 1973, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos iniciou formalmente o
programa de desenvolvimento de um sistema de navegação por satélites de segunda geração,
denominado NAVSTAR- GPS ('avigation Satellite with Timing And Ranging – Global Positioning
System), ou GPS (Global Positioning System).
O sistema consiste basicamente de um conjunto de estações fixas espalhadas pela superfície
terrestre, uma cosntelação de satélites artificais orbitando em volta da Terra a uma altitude de,
aproximadamente, 20000 km e de estações receptoras terrestres móveis.
Conforme Hofmann-Wellenhof et al. (1997) o sistema GPS é constituído por três segmentos
principais: espacial, controle terrestre e do usuário.

Segmento espacial

Segundo Silva (2003), o segmento espacial é composto pela constelação de satélites e possui
a função de gerar e transmitir os sinais GPS. Compreende 27 satélites (24 operacionais e 3 de
reserva) distribuídos em 6 planos orbitais, com 4 satélites operacionais por plano, inclinados 55° em
relação ao plano do Equador e a uma altura dos satélites de 20000 km, o que implica um período de
12 horas, tempo para completar uma volta em torno da Terra. O sistema foi projetado para garantir
pelo menos 4 satélites sempre acima do horizonte, em qualquer ponto da superfície da Terra, 24
horas por dia (Figura 14.15).

Figura 14.15. Distribução dos satélites GPS nos planos orbitais. Fonte: Monico (2000).

235
Os satélites GPS são transmissores de sinais de rádio gerados a partir de uma freqüência
fundamental de 10,23 MHz. Os satélites transmitem duas ondas de rádio denominadas portadoras,
obtidas pela multiplicação eletrônica da freqüência fundamental pelo fator 154 e 120. As
freqüências obtidas estão na faixa da banda L de radiofreqüências (1000 a 2000 MHz), e as
portadoras transmitidas são conhecidas como L1 e L2, com freqüências 1575,42 e 1227,60MHz,
respectivamente. Os satélites transmitem continuamente dois códigos modulados em fase sobre as
portadoras. Sobre a L1, modula-se o código C/A (Clear Acess ou Course Aquisition) e sobre as
portadoras L1 e L2, modula-se o código P (Precise Code). O código C/A apresenta freqüência de 1,
023 MHz enquanto que o código P é gerado na freqüência fundamental de 10,23 MHz. Ambos os
sinais transmitem ainda uma série de mensagens de navegação, como as efemérides, correções dos
relógios dos satélites, saúde dos satélites e outras, que são processadas pelos receptores. (Silva,
2003; Rocha, 2002).
O Sistema GPS é um sistema de posicionamento baseado na radionavegação, que permite
aos usuários determinar suas posições em coordenadas cartesianas retangulares (x, y, z) em relação
ao centro de massa da Terra e, posteriormente, convertê-las em coordenadas curvilíneas elipsoidais
expressas em latitude, longitude e altura. A posição GPS é baseada na medição de distâncias aos
satélites do sistema. Os satélites GPS funcionam como pontos de referência no espaço, cuja posição
é conhecida com precisão. Então, um receptor GPS, com base na medição do intervalo de tempo
decorrido entre a transmissão dos sinais pelos satélites e sua recepção a bordo, determina a sua
distância a três satélites no espaço, usando tais distâncias como raios de três esferas, cada uma delas
tendo um satélite como centro. A posição GPS será o ponto comum de interseção das três esferas
com a superfície da Terra. O sistema de referência usado pelo GPS é o Datum WGS 84 (World
Geodetic System).

Segmento de controle

Segundo Segantine (1998), o segmento de controle terrestre tem a função de rastrear os


satélites GPS e fornecer suas posições periodicamente, corrigir as efemérides transmitidas e os erros
dos relógios; determinar o tempo GPS; predizer as efemérides e o comportamento dos relógios dos
satélites; atualizar periodicamente a mensagem de navegação de cada satélite. Os componentes
desse segmento são: estação de controle central, estações de monitoramento e controle de antenas
terrestres (Hofmann-Wellenhof et al. 1997). As estações de controle e monitoramento estão
localizadas em Colorado Springs (Master Control Station), Hawaii, Ilha Ascensão (no Atlântico
Sul), Diego Garcia (Oceano Índico) e Kwajalein (Pacífico Norte) (Rocha, 2002).

Segmentos do usuário

O segmento do usuário compreende os usuários do sistema, militares e civis, os tipos de


receptores e os serviços de informações de apoio disponíveis. Os serviços oferecidos são de dois
tipos, de acordo com o acesso do usuário às informações: O Serviço de Posicionamento Padrão
(SPS-Standard Positioning Service) e o Serviço de Posicionamento Preciso (PPS- Precise
Positioning Service) (Hofmann-Wellenhof, 1997).
Os receptores GPS têm como principais componentes: a antena com pré-amplificador;
secção de radiofrequência para identificação e processamento de sinal; microprocessador para

236
controle do receptor, amostragem e processamento de dados; oscilador, responsável pela geração da
frequência interna do receptor; interface com o usuário como painel de exibição de dados e
comandos de operação, que permitem a configuração do receptor antes dos levantamentos; fonte de
energia e memória para armazenar os dados coletados.
Existem vários tipos de receptores GPS que podem ser classificados de acordo com:
• A freqüências recebida: recptores simples freqüência, que recebem somente a freqüência L1,
o acesso ao código C/A é dado entre o sinal do satélite com uma réplica gerada no receptor.
Recptores de dupla freqüência, recebem as freqüências L1 e L2, e podem ter acesso ao
código C/A e ao código P.
• Número de canais - os receptores que possuem apenas um canal que se move rapidamente
de um satélite para outro; receptores multicanais que possuem vários canais independentes
para rastrear, simultaneamente, cada satélite visível no horizonte.
• O tipo de sinal observado - os receptores podem rastrear somente o código C/A, o código
C/A e a portadora L1, há os que rastreiam o código C/A e as portadoras L1 e L2, os
receptores que rastreiam os códigos C/A e P e as portadoras, os que rastreiam somente a
portadora L1 e os receptores que rastreiam somente as portadoras L1 e L2 sem o código.

Princípio Básico do Posicionamento por GPS

Segundo Rocha (2002), o posicionamento pelo sistema GPS é baseado em dois tipos de
medições diretas satélite/receptor: (1) medida baseada nos códigos (medidas das pseudodistâncias);
(2) medida baseada nas ondas portadoras (medida de fase).
Para o posicionamento através do código, sendo dado um sistema de referência, no caso o
Datum WGS 84, um ponto pode ser determinado pelas suas coordenadas (x, y, z). O posicionamento
consiste em três procedimentos fundamentais:
• Medir as distâncias satélite-receptor;
• Determinar as coordenadas dos satélites;
• Calcular as coordenadas do receptor no ponto.
A medição da distância satélite-receptor pelos códigos se dá através do tempo de propagação
(∆t), necessário para a correlação entre o código recebido do satélite e a sua réplica gerada pelo
receptor. Neste caso a distância é calculada por:
D = c x ∆t (14.1)
onde D é a distância entre os satélites e oa receptores (m); c é a velocidade da luz; ∆t o tempo de
propagação do sinal.
Este é o tipo de posicionamento utilizado principalmente para navegação. A precisão fica
em aproximadamente 15 m. Com a observação de três satélites, tem-se a geometria mínima para a
determinação das coordenadas (x, y e z). Recomenda-se que sejam observados 4 satélites para a
correção do erro dos relógios dos receptores. (SILVA, 2003; ROCHA 2002).

Os Erros no Posicionamento por GPS

Alguns erros interferem na recepção do sinal do sistema GPS e podem afetar a precisão do
posicionamento por pontos.Estes erros podem estar relacionados aos satélites, à propagação do
sinal, aos receptores e às antenas. A Tabela 14.6 mostra os erros que influenciam no
237
posicionamento por GPS. Os principais fatores que causam erros de posicionamento nas
coordenadas adquiridas com o GPS estão na Tabela 14.7.
Os erros mais comuns relacionados aos satélites são os erros nos relógios dos satélites e
receptores e aqueles relativos à distribuição geométrica dos satélites, denominada de DOP (Dilution
Of Precision). O fator DOP descreve o efeito da distribuição dos satélites no espaço sobre a
precisão obtida na solução de navegação (Figura 14.16). O melhor valor possível para o DOP é 1 e
o pior é infinito. Existem vários os índices de DOP: GDOP – Geometria, PDOP – Posição 3D,
HDOP – Horizontal, VDOP – Vertical, TDOP – Tempo. Nos equipamentos de navegação, o DOP é
representado pelo EPE (erro de posição estimado) dado em metros. (Silva, 2003).
Outro erro ocorre devido à disponibilidade seletiva (SA) que é a de degradação do sinal GPS
de forma intencional através da manipulação dos dados das efemérides transmitidas e dos relógios
dos satélites. Segundo Rocha (2000), foi implementado pela primeira vez em 1990 e desligado em
maio de 2000.

Tabela 14.6. Erros que afetam os dados GPS


ERROS DESCRIÇÃO
Datum Erro devido à configuração do Datum
Erro Nominal devido à imprecisão das efemérides; Erro adicional devido à degradação
Órbita
do sinal através da SA.
Atraso nas medidas de pseudodistância e avanço da medida da fase portadora, devido
Ionosfera aos elétrons livres da ionosfera (região da atmosfera que se estende de 100 a 1000 km
acima da superfície terrestre.
Atraso na transmissão de sinal devido a componentes da atmosfera, em regiões acima
Troposfera
de 80 km da superfície terrestre.
Erro do Relógio do Satélite Diferença entre o tempo do satélite e tempo do sistema GPS.

Erro do Relógio do Receptor Diferença entre o tempo recebido e o tempo do sistema GPS.

Ruído do Código no Receptor Imprecisões na medida do código devido a ruído no receptor.

Ruído da Portadora ao
Imprecisões na medida da portadora devido a ruído no receptor.
Receptor

Multicaminhamento Erro devido ao fenômeno da recepção e sobreposição de sinais refletidos.

(Fonte: adaptado de Segantine, 1998).

Tabela 14.7. Erros de Posicionamento com GPS.


ORIGEM DO ERRO ERRO ESTIMADO (m) (Código C/A)
Relógio do Satélite ≈ 3,5
Efemérides ≈ 2,6
Atraso na Ionosfera ≈ 6,4
Atraso na Troposfera ≈ 0,4
Ruído do Receptor ≈ 0,6
Obliqüidade entre os sinais ≈ 0,6
Multicaminhamento ≈ 3,5

(Fonte: adaptada de Rocha, 2002)

238
Figura 14.16. Representação do DOP.

Os erros relacionados à propagação do sinal podem ser atrasos no tempo de propagação do


sinal através das camadas constituintes da atmosfera como a Ionosfera e a Troposfera. Na
Troposfera os sinais dos satélites sofrem um atraso em decorrência do conteúdo de vapor d’água, da
temperatura e pressão do ar, que variam conforme o local de observação. Este atraso não depende
da freqüência com que os sinais são emitidos pelos satélites e a sua correção não se faz necessária.
(Segantine, 1998). Para este mesmo autor, a camada da atmosfera denominada de Ionosfera é
composta por elétrons livres que podem funcionar como um meio dispersivo dos sinais dos satélites
GPS, ocasionando atraso no código e adiantamento na fase portadora. A refração ionosférica
depende da freqüência de emissão dos sinais dos satélites e vários métodos de posicionamento
possibilitam a correção destes erros, principalmente os empregados com receptores de freqüência
L1 e L2.
Um erro comum sobre o posicionamento com uso do sistema GPS é o de
multicaminhamento (Figura 14.17) do sinal emitido pelos satélites. Este erro é resultado da reflexão
do sinal devido a obstáculos localizados próximos da antena receptora e que podem influenciar as
medidas realizadas com receptores GPS. Os sinais emitidos pelos satélites podem ser refletidos na
presença de obstáculos como prédios, árvores, redes de transmissão, e percorrem caminhos
indiretos até a antena do receptor. O efeito do multicaminhamento pode ser reduzido com o uso de
antenas especiais no rastreamento de satélites, instalação de antenas em locais livres de superfícies
refletoras e observações dos sinais por um longo período de tempo.

Figura 14.17. Erro de Multicaminhamento.

239
Outros Sistemas de Posicionamento por Satélite

Há outros sistemas GNSS (Global 'avigation Satellite System) como o Glonass e o Galileu.
O sistema de posicionamento Glonass é um sistema Russo e foi desenvolvido para fins militares,
controlado pelo Ministério de Defesa Federal Russo. Tem altitude de 19100 km, projeto de 24
satélites em três planos orbitais com inclinação do plano orbital de 65° em relação ao Equador e
período espacial de 11h15min. Atualmente 12 satélites estão em operação e o sistema está integrado
com o GPS. Existem receptores que rastreiam GPS e Glonass, melhorando o número de satélites,
diminuindo o DOP. O sistema Galileu é um sistema 100% civil, implantado pela Comunidade
Européia com a participação de vários outros países, 14 nações ao todo. Tem projeto previsto para
30 satélites em três orbitas com inclinação de 56° com o Equador. Altitude de 23600 km, período de
14h04min. Possivelmente este sistema será compatível com o GPS.

Referências bibliográficas

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Assessment. Oxford: Oxford University Press, 1986. 194 p.
BURROUGH, P.A.; MACDONNELL, R.A. Principles of geographical information systems.
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241
15. CO
CLUSÕES

Masato Kobiyama
Fernando Grison

Como foi mencionado, a hidrologia é uma ciência básica e fundamental no gerenciamento


de recursos hídricos. Tentando controlar o excesso e a falta de recursos hídricos, minimizando
danos socio-economico-ambientais da sociedade, e garantindo o saneamento básico, a meta final do
gerenciamento de recursos hídricos é garantir a saúde dos indivíduos e da sociedade.
O fenômeno e o objeto (sistema) principal da hidrologia são o ciclo hidrológico e a bacia
hidrográfica, respectivamente. Os componentes do primeiro se chamam processos hidrológicos tais
como precipitação, interceptação, entre outros. Os componentes (sub-sistemas) do segundo são copa
da vegetação, solo, rede fluvial, entre outros. Como cada sub-sistema possui diferente capacidade
de armazenar e transportar água, ocorrem heterogeneidades temporais e espaciais dos recursos
hídricos em quaisquer locais e momentos.
Recentemente, a mudança climática global torna-se destaque mundial. A maioria dos
cientistas que trabalham com isso e também a mídia geral se manifesta sobre aquecimento global
alertando que no futuro os eventos hidrológicos extremos se intensificarão, ou seja, acontecerão
mais chuvas fortes e estiagens fortes. Embora sendo a minoria, existem pesquisadores que
defendem a teoria do esfriamento global. Segundo alguns pesquisadores que apóiam o esfriamento
global, os eventos extremos no processo de esfriamento ficaram ainda mais severos do que no
aquecimento. Portanto, independente de aquecimento ou esfriamento, a sociedade deve preparar-se
ainda mais contra os eventos hidrológicos extremos. Para isso, é indispensável monitorar os
processos hidrológicos com o maior tempo e o maior número de locais possíveis.
Os processos hidrológicos são fortemente não-lineares, o que gera a complexidade. Segundo
KAN (2005), quando aumenta a área de bacia, aumenta a linearidade. Então, no caso de uma bacia
pequena, precisa-se considerar ainda mais esta não-linearidade. As bacias úteis para abastecimento
normalmente são pequenas. Então, o sistema do monitoramento hidrológico para tais bacias deve
ser bem estruturado. A conservação de mananciais e seu uso dependem totalmente do
monitoramento, ou seja, da hidrometria. Com correto conhecimento da hidrologia e adequadas
técnicas de hidrometria, cada manancial deve ser monitorado.
Os cursos de capacitação na área de recursos hídricos são uma ferramenta básica do
processo de preservação dos mananciais. Eles podem ser considerados uma educação ambiental
avançada, na qual profissionais de vários setores do meio ambiente buscam enriquecer suas
informações sobre a preservação dos recursos hídricos. Por isso, as instituições de ensino buscam
promover esses cursos como uma missão com a comunidade e com a preservação do meio
ambiente.

Referências bibliográficas
KAN, A. Estimativa de evapotranspiração real com base na análise de recessão dos
hidrogramas. Curitiba: UFPR, 2005. 257p. (Tese de doutorado em Métodos Numéricos em
Engenharia).

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