ESPÍRITO EMPREENDEDOR
por Sérgio Fernando Gomes Pinheiro
Sumário. Apresentam-se, de forma sintética, o conceito de espírito empreendedor em Portugal, o estado da nação no
que respeita a empreendorismo, entraves e medidas para fazer frente a esses entraves.
Palavras chave. Espírito empreendedor, empreendorismo em Portugal.
Em Portugal não há instrumentos de apoio à fase Estratégia de marketing; avaliação das necessidades
inicial de criação da empresa, a denominada “seed.” de pessoal; equipamento; instalações; recurso a ser-
viços de apoio; financiamento.
O capital de risco que temos não se direcciona para
esta fase do negócio, mas sim para a fase de expan- 3. Legislação e Fiscalidade -É importante que seja
são. O que precisamos em Portugal é de capital feito um levantamento exaustivo de toda a regula-
semente ou “business angels”. Na fase inicial das mentação geral ou específica aplicável ao sector
empresas o capital de risco não investe porque não há onde tenciona operar.
garantias.
4. Orçamento - Com base na análise dos investimen-
Apesar de sermos cidadãos europeus, o nosso quadro tos financeiros e do mercado que já efectuou, está
de orientação continua a ser um rectângulo na ponta na fase em que irá preparar as suas contas provisio-
de Europa que se chama Portugal. Dizemos que nais. As projecções financeiras a três ou quatro
vamos para o estrangeiro quando apenas vamos a anos permitir-lhe-ão verificar as condições em que
Espanha, e por muito que apregoemos a ideia do o seu negócio pode ser validado, ao mesmo tempo
mercado comum ainda continuamos a ter fronteiras que serão úteis para aferir a necessidade de efectuar
mentais difíceis de transpor. ajustes necessários ao projecto.
4. Iniciativas para o próximo ano 5. Plano de Negócios -Permite analisar a viabilidade
de um projecto empresarial. É o momento em que
Alargar a abrangência do nosso público-alvo e levar o sistematiza, planeia e reflecte sobre todas as ideias
empreendorismo às escolas do 1º ciclo do ensino que teve. O plano de ser o resumo escrito e sistema-
básico. A ideia é que desde essa altura a carreira tizado de todas as etapas anteriores.
empresarial se apresente como uma opção. A vocação
empresarial não tem de ser feita depois do ensino 6. Financiamento - O financiamento pode surgir de
superior. Para além disto, irá ser criado um concurso três fontes: capital próprio, crédito bancário ou
de planos de negócio e um sistema de incentivos através da entrada de investidores no capital da
destinado a apoiar os potenciais empresários na cria- empresa. Deverá avaliar bem as vantagens e des-
ção do seu plano de empresa. Vai-se também alargar vantagens de cada uma destas opções e escolher a
a abrangência dos projectos da ANJE à Administra- que mais de adequa à sua situação.
ção pública. 7. Entrada no Mercado - Acautele situações inespe-
Um país moderno irá pela inovação, pelo design e radas, mantenha-se atento à mudança e saiba ade-
pela nova cultura de imagem, de sofisticação, de quar o seu negócio à evolução do tempo e deman-
qualidade. A meta é através das marcas portuguesas das do mercado. Jamais descuide a qualidade dos
agregar valor à marca Portugal, seja qual for o sector. seus produtos ou serviços e lembre-se de que em
cada canto existem oportunidades de negócio a
Quanto às apostas nas tecnologias de informação, explorar.
durante algum tempo viveu-se um deslumbramento
pela tecnologia. Cometeram-se excessos e só agora o
3. Conclusões
mercado filtrou os bons projectos. É um bom momen-
to para apostar nas tecnologias pois o mercado já Para alcançar um real incentivo de empreendorismo,
crivou as empresas sustentáveis. devemos acabar coma ideia de que se é empresário
para toda a vida. Temos de estar mentalizados de que
5. Sete passos para materializar uma ideia: iremos ter vários empregos e é absurdo continuar a
Da ideia à concretização de um negócio vai um longo pensar que uma vez empresário, sempre empresário.
caminho, regra geral cheio de barreiras. Muitos A sociedade não admite um “downgrade” e dá como
empreendedores desistem e ficam pelo caminho nesta certo que o empresário atingiu um estatuto que não
fase. Assim, sugerem-se sete passo a seguir, para por lhe permite voltar a trabalhar por conta de outrem.
em prática uma ideia de negócio: Isto é penalizador para a capacidade de iniciativa.
1. A ideia e sua adequação - Avaliar as potenciali- Em um determinado momento da vida posso ter ape-
dades da sua ideia no mercado onde quer desen- tência para correr riscos e noutra fase procurar mais
volvê-la ( o mercado necessita do seu produto?, o estabilidade. É extremamente complicado para um
produto é inovador? Já tem concorrentes? Se já jovem de 25 anos que vai iniciar a sua empresa sentir
tem concorrentes, quem é o público alvo? Qual o o peso de ter de ser empresário para toda a vida, de
potencial de expansão do negócio? não poder mudar ou fracassar. A sociedade penaliza
os casos de insucesso.
2. Elaboração de um plano de gestão - Nesta fase
deverá ser capaz de definir o seu segmento de Há que veicular a ideia de que ser empresário é ter
mercado alvo e os obstáculos que podem surgir- dois caminhos: o sucesso e o insucesso. Ambos têm a
lhe no caminho. É agora que define toda a estru- mesma dimensão e o mesmo peso.
tura de negócio em vários domínios: O objectivo é que a atitude de empreendedor seja
partilhada por todos, os que estão na função pública,
os que são empresários, os que trabalham por conta
Referências
1. Revista mensal - Executive Digest (2004, nº
115, edição de Maio)