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Nome: Jhonatan Testa

Discorra sobre o modelo de direito autoral vigente, posicionando-se sobre o aspecto


dicotômico moral/patrimonial do direito do autor.

No período que antecedeu à imprensa, invenção concebida por Gutemberg, as obras de criação
intelectual eram governadas pelo direito de propriedade. Este modo de proteção ao direito de
autor é compreensível naquela época, vez que as obras não eram reproduzidas em larga escala,
não sendo os autores dependentes deste tipo de produção, como nos ensina Otávio Afonso:

O autor de uma obra (manuscritos, escultura ou pintura) transformava-se em proprietário de


um objeto material e podia vendê-lo a outra pessoa. Durante a idade média, a reprodução de
uma obra era extremamente difícil. Os manuscritos somente podiam ser reproduzidos à mão, o
que limitava drasticamente o número de cópias que podiam ser feitas. Por conseguinte, a
utilização futura de uma obra não prejudicava os direitos patrimoniais de autor, já que estes não
dependiam da produção e reprodução da obra em grandes quantidades.

Contudo, com a introdução da imprensa na Europa por Gutemberg, no século XV, a comunicação
em forma escrita foi amplamente beneficiada, pois se podia copiar qualquer obra literária em
mais de um exemplar. Por isso, a invenção da imprensa é considerada até hoje o verdadeiro
berço do Direito de Autor.

A partir daí começaram a surgir idéias sobre proteção a trabalhos impressos dirigidas aos
editores de obras literárias, pois estes, juntamente com os vendedores de livros, formam a
primeira categoria organizada de comerciantes de obras intelectuais. Foram com as idéias
advindas do movimento Iluminista e sobretudo com a Revolução Francesa que os conceitos de
proteção ao Direito de Autor atingiram as obras musicais e seus autores.

A primeira lei que garantia a proteção do direito individual sobre uma obra impressa foi realizada
na Inglaterra em 10 de abril de 1710, conhecida como lei da Rainha Ana ou Copyright Act, ou
seja, Ato do Direito de Cópia. Esta lei destinou-se a proteger os editores contra a reprodução
ilegal e sem autorização de seus impressos. Contudo, ainda não protegia os verdadeiros autores
das produções intelectuais, configurando apenas como um privilégio de impressão.

Séculos seguintes, durante a Revolução Francesa, foi aprovado um decreto sobre direito de
autor em 1791, que sancionou o direito de execução e representação, e outro de 1793 que
garantiu ao autor o direito exclusivo de reprodução.

No começo do século XIX, muitos Estados já haviam promulgado suas leis sobre direito de autor,
sendo somente no final do mesmo século que vários Estados assinaram o primeiro acordo
multilateral sobre o assunto: a Convenção de Berna de 1886.

Em vigor até hoje, discute e regula as questões ligadas à proteção dos direitos de autor sobre
obras literárias, artísticas e científicas, sendo tal tratado o mais importante ponto de referencia
do Direito Autoral, do qual o Brasil é signatário desde 1922.

Vale dizer que o texto do também chamado Convênio de Berna para a Proteção das Obras
Literárias e Artísticas em vigor hoje em dia é aquele da sua última revisão, realizada em 1971.

O droit d’ auteur (“direito do autor”, em francês), por sua vez é mais voltado à integridade
criativa do autor. Garantindo a proteção autoral mesmo quando a obra se passa de nada além
do que uma ideia. Os únicos terceiros beneficiados, nesse regime, são os herdeiros do autor,
que receberão os direitos após o falecimento, como se faz com qualquer outra transferência de
bens post mortem. Quer resguardar os direitos do autor e seus direitos morais, garantindo,
assim, que ele tenha o controle sobre sua obra e caiba a ele decisões a respeito da mesma.

A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS AUTORAIS NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

No Brasil, mesmo depois da declaração da Independência, o sistema de privilégios de impressão


foi mantido, só sendo abolido com a Proclamação da República.

Os direitos de autor no Brasil foram precariamente tratados em uma primeira vez com a
promulgação da lei Imperial que instituiu os primeiros cursos jurídicos nas cidades de Olinda, no
Estado de Pernambuco e na capital de São Paulo. Em seu artigo 1º, garantiu aos denominados
lentes um privilégio de 10 anos sobre todas as obras textuais que produzissem.

Como visto, o sistema de privilégios não foi abolido, pois só atingiu os professores universitários
das mencionadas instituições, mas sem dúvida tal lei foi o marco inicial dos direitos de autor no
país.

A cominação de penas em razão do desrespeito do direito de autor veio em 1830 com o Código
Criminal, que impôs sanções a quem gravasse, imprimisse, litografasse ou introduzisse qualquer
tipo de escrito ou de estampa que tivessem sido feitos, compostos ou traduzidos por cidadãos
brasileiros, enquanto estes viverem, e dez anos depois de sua morte se deixassem herdeiros.

A matéria só foi efetivamente examinada na Constituição de 1891 que abonou os autores de


obras literárias e artísticas com direito exclusivo de reproduzi-las pela imprensa ou qualquer
outro processo mecânico, deixando aos herdeiros o gozo destes direitos pelo tempo que a lei
determinasse.

A primeira lei sobre direitos autorais foi a de nº 496 de 1898, denominada Lei Medeiros e
Albuquerque, nome do autor do projeto que a originou, que contava com importantes e
modernos dispositivos, muitos deles presentes em nossa legislação atual.

Entretanto, com o passar dos anos, os dispositivos sobre direito de autor contidos no Código
Civil começaram a conflitar com a evolução dos meios de comunicação e de reprodução de sons
e imagens, sendo necessário a edição e a publicação de várias leis e decretos para solucionar
tais conflitos, resultando em tantos diplomas legais que a unificação de toda a matéria em uma
única lei se tornou objeto de extrema importância, resultando na Lei nº 5.988 de 14.12.1973,
inegável marco na história dos direitos autorais no Brasil.

Esta lei que contava com 134 artigos divididos em nove títulos instituiu o sistema autoral
brasileiro, constituído no Conselho Nacional de Direito Autoral (CNDA), nas Associações de
Defesa dos Direitos Autorais e no Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD).

Com o advento da Constituição Federal de 1988, a proteção autoral foi incluída em seu artigo
5º, incisos XXVII e XXVIII.

Finalmente, o Brasil editou em 19.02.1998 a Lei nº 9.610, a Lei Brasileira de Direitos Autorais,
resultado do Projeto de Lei nº 5.430/90 do Senado Federal.

Embora não seja inovadora sob o aspecto jurídico, pois mantém a estrutura básica da lei nº
5.988/73, a nova lei veio atender as modernidades tecnológicas do início novo milênio, embora
de uma forma limitada, sendo extenuante o trabalho dos advogados e dos profissionais do
direito em se manterem atualizados e desenvolver novos meios jurídicos que garantam a
proteção dos direitos autorais de acordo com a evolução dos meios tecnológicos.
O ASPECTO DICOTÔMICO MORAL/PATRIMONIAL DO DIREITO DO AUTOR.

Nesse campo do direito autoral ou de autor, ainda temos muitas léguas a percorrer. A proteção
excessiva, sobretudo quando se trata de interesses de herdeiros, pode privar o país de ter acesso
a obras de interesse geral em todos os campos do conhecimento, bem como artístico,
simplesmente para beneficiar patrimonialmente alguns sucessores do verdadeiro autor.
Garantir por 70 anos, depois do falecimento do AUTOR, a indisponibilidade da obra produzida
(é claro, o teor da obra, isto é, sua essência, isto não deve ter limite de proteção, e sua defesa
poderá ser feita por qualquer que a entenda violada) é um desserviço à cultura do país

A legislação deve caminhar para uma maior distribuição, reconhecendo que, desde que uma
obra esteja esgotada ou conte com uma versão atualizada (no caso dos programas de
computador: é o caso das versões de plataformas, onde, colocada uma versão nova, já
desaparece das vendas a versão anterior, não se importando o fabricante se o consumidor
pretende manter aquela antiga versão), as publicações já esgotadas possam ser copiadas e
vendidas livremente sem que isso constitua infração administrativa ou penal.

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