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BERNARD ROUX
pesquisador associado ao CESAER (Dijon)
bernard.roux@agroparistech.fr
JEAN PIERRE BOINON
professor e pesquisador do ENESAD (Dijon), membro do CESAER (Dijon)
jp.boinon@enesad.fr
RESUMO
RÉSUMÉ
Au cours des vingt dernières années, la politique agricole en France a subi
d'importantes modifications, avec la libéralisation et la globalisation des
marchés, et avec l’injonction de prendre en compte le nouveau référentiel de
développement durable. Au niveau européen, les tensions budgétaires liées au
financement de la PAC et au niveau national, la contestation du modèle
d’agriculture productiviste, ont conduit les gouvernements à introduire la
dimension environnementale dans le compromis économique et social du
développement agricole en vigueur jusqu'alors. La présente communication se
propose d’étudier comment ont été produites les modifications de la politique
agricole qui concernent le développement durable. On utilisera l’approche
institutionnaliste, qui considère les décisions politiques comme résultats de
négociations et de compromis entre les acteurs sociaux impliqués et qui prend
en compte les conflits d’intérêts, d’idées et de pouvoir, au sein d’arènes plus ou
moins visibles, l’aboutissement des compromis étant l’élaboration d’éléments
nouveaux de politiques dans un processus où l’Etat demeure un acteur
déterminant.
Mots clés: développement durable; politique agricole; France; institutionnalisme
historique. JEL classification: Q01; Q18
ABSTRACT
During the twenty last years, agricultural policy in France underwent important
modifications under the effect of the liberalization and the globalisation of
the markets, and with the injunction, to take into account the new
reference frame of sustainable development. At the European level, the
budgetary tensions related on the financing of the CAP and at the national
level, the dispute of the productivist model of agriculture, led the
governments to introduce environmental dimension into the economic and
social compromise of the agricultural development. The present paper
proposes to study how the modifications of the agricultural policy were
produced which relate to sustainable development. The institutionnalist
theory will be used, which regards the political decisions as results of
negotiations and compromise between the stakeholders and who takes
into account the conflicts of interests, ideas and power, within more or less
visible arenas, the result of the compromises being the development of
new elements of policies in a process where the State remains a
determining actor. Key words: sustainable development, agricultural policy,
France, historical institutionalism
INTRODUÇÃO
2.2 – O artigo 19
2 Como testemunha o slogan lançado pelo presidente Giscard d'Estaing durante a campanha
eleitoral das legislativas de 1978 : “a agricultura é o petróleo verde da França”.
As primeiras medidas européias tomando em conta o meio-ambiente,
ditas “agro-ambientais”, serão introduzidas em 1985 no regulamento (CEE)
n° 797/85, sob a pressão do governo britânico enfrentando, desde o fim dos
anos 1970 um forte movimento de opinião em favor de uma abordagem
ambientalista da PAC (Comolet, 1990). Este regulamento se insere numa série
de textos regulamentares visando controlar a oferta de produtos agrícolas nos
mercados. É em seu artigo 19 que se aborda as relações entre agricultura e
meio-ambiente.
Este artigo introduz, com efeito, a possibilidade para os Estados membros
de outorgar subsídios “aos agricultores que se engajem a explorar zonas
sensíveis do ponto de vista ambiental”, com vistas a “contribuir com a
introdução ou manutenção de práticas de produção agrícola que sejam
compatíveis com as exigências da proteção do espaço natural e a assegurar
uma renda adequada aos agricultores”. Assim, pela primeira vez, são
reconhecidas e encorajadas as ações dos agricultores na proteção do meio-
ambiente e na gestão do território (Mainsant, 1992). O artigo 19 pode somente
ser aplicado num território previamente delimitado em cada Estado membro.
Tendo a contrapartida de um auxílio, o agricultor se engaja, de maneira
voluntária, a cumprir os compromissos de um contrato de duração mínima de
cinco anos.
Se a Grã-Bretanha desempenhou um papel piloto neste dispositivo, a
França apenas lançara suas primeiras experiências em 1989, a abordagem
francesa diferindo sensivelmente daquela dos vizinhos britânicos (Facchini,
1999), visando lutar contra o declínio agrícola. A França deseja utilizar o artigo
19 como um instrumento de ordenamento do território, mas as exigências
regulamentares comunitárias se revelam pouco adaptadas à especificidade e à
diversidade das situações francesas. Este problema explica por que a profissão
agrícola e o Ministério da Agricultura tenham tanto tempo atrasado a aplicação
do artigo 19 (Comolet, 1990).
Para os responsáveis do Ministério da Agricultura 3, a missão primeira dos
agricultores sendo produzir genros alimentares, estava fora de questão impor
limites ambientais. Quanto à profissão agrícola, continua a pensar que era
necessário justificar os apoios à agricultura pela função alimentar e não por
funções ambientais. Para o sindicato agrícola majoritário, a FNSEA, a proteção
da natureza não devia contrariar a produção.
Em 1989, uma reflexão foi desenvolvida pelos Ministérios da Agricultura e
do Meio-Ambiente para testar as condições de uma aplicação na França do
artigo 19. Um programa experimental foi lançado em três zonas úmidas de
interesse comunitário e uma zona de montanha (Comolet et al. 1994). A
implantação do artigo 19 ocorre pelo procedimento das Operações Agrupadas
de Ordenamento fundiário (Opérations groupées d'aménagement foncier,
OGAF), que tinham sido introduzidas nos anos 1960 para facilitar a
reestruturação fundiária dos estabelecimentos agrícola. Estas operações são
designadas “OGAF ambientais”. No dia primeiro de janeiro de 1994, eram
contados 62 projetos, com uma superfície média de um pouco mais de 3000
ha. Com 205.200 ha contratados em 1993, tratava-se de uma parte muito
3 Entre 1986 e 1988, o Ministro da Agricultura era François Guillaume, antigo presidente da
FNSEA.
reduzida do território.
Entretanto, com este dispositivo, o papel da agricultura na gestão do
território era reconhecido. Até então objeto de debates conflituosos, a proteção
do meio-ambiente se abria ao consenso e ao estabelecimento de acordos.
Enfim, o espaço rural passa a ser considerado como patrimônio complexo que
se deve gerir e preservar, não somente como simples suporte da agricultura
enquanto atividade econômica (Mondot, 1990). A implementação do artigo 19
marca uma mudança de comportamento do mundo agrícola. Seu discurso
evoluía sensivelmente num sentido mais favorável ao meio-ambiente, em
oposição ao modelo da agricultura produtivista preconizada até então. O artigo
19 foi o primeiro passo da integração das preocupações ambientais na PAC.
A agricultura racionalizada
A condicionalidade
Se inegavelmente existe na França uma vontade nacional de tomar em
conta o desenvolvimento sustentável em sua dimensão agrícola, é necessário
relativizar o impacto prático desta aspiração: de fato, até o presente, as
medidas importantes neste domínio são aquelas do âmbito da Política Agrícola
Comum (PAC) e que começaram a ser efetivas após a reforma de 1992. Acima,
foi mencionado como as preocupações ambientais tinham parido medidas
contratualizadas, ditas agro-ambientais (MAE), retomadas após o compromisso
de Berlim em 1999 no segundo pilar da PAC (desenvolvimento rural). O Prêmio
para a manutenção dos sistemas de pecuária extensiva (PMSEE ou Prime à
l’herbe), instaurada em 1993, após substituída em 2002 pelo prêmio pastagem
agro-ambiental (PHAE), constitui um dispositivo importante, já antigo, de
consideração da sustentabilidade. A PAC comporte portanto medidas de apoio
e auxílios financeiros incitativos, ligados a contratos, que constituem a primeira
vertente, fundamentalmente ambiental, da tomada em conta do
desenvolvimento sustentável.
Ora, desde 2005, é implantada outra vertente que repousa sobre uma
lógica diferente: a condicionalidade. Não se trata mais de proporcionar uma
transferência social monetária aos agricultores como na primeira vertente, mas
de submeter estes últimos a ameaças de penalidades, aplicadas em caso de
não respeito de exigências agrupadas em cinco domínios de controle:
“ambiental”, “boas condições agrícolas e ambientais (bonnes conditions
environnementales, BCAE) – pastagens permanentes”, “saúde produções
vegetais”, “saúde produções animais”, “proteção animal”. O objetivo manifesto
deste dispositivo é duplo: de uma parte, incitar os produtores a se orientar para
uma agricultura mais sustentável e, de outra parte, favorecer a aceitação pelo
conjunto dos cidadãos europeus das despesas orçamentárias no âmbito da
PAC.
Na prática, a introdução da condicionalidade supôs a definição detalhada
das práticas que podem dar lugar a sanções, assim que aquela das condições
de exercício dos controles. Não vale a pena aqui apresentar a longa lista de
tais práticas, sendo pertinente apenas assinalar que elas se referem
notadamente à proteção das aves selvagens, à proteção das águas contra a
poluição por nitratos, à não queima de resíduos da colheita, à captação de
água para a irrigação, à utilização dos produtos fito-sanitários, à identificação e
o registro dos animais das produções pecuárias e ao bem-estar animal. No que
se refere aos controles, sob a responsabilidade dos serviços descentralizados
do Ministério da Agricultura, eles se realizam no estabelecimento agrícola.
Quando uma anomalia é constatada, um repertório de critérios de gravidade é
mobilizado, o que pode conduzir a uma penalidade, podendo atingir um teto de
5% das subvenções recebidas.
Evidentemente, a aplicação da condicionalidade não é apreciada pelos
agricultores. Já preocupados pela reforma da PAC que praticamente os
entregou às forças de mercado e pelas perspectivas de uma redução das
subvenções diretas a partir de 2013, eles se consideram como injustamente
submetidos às pressões minuciosas da tecnocracia de Bruxelas.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS