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DIREITO ROMANO E HISTÓRIA DO DIREITO

PROF. KLEBER CHAGAS CERQUEIRA


AULA DE 30/04/2010

Direito das Pessoas (Parte II)


(Referência Bibliográfica: páginas 73 a 104 do livro do Cretella)

“Status Civitatis” – A Cidadania em Roma

1)A “Civitas”: é a da cidadania romana, status que uma vez adquirido dá direito ao

gozo do jus civile. Além da liberdade, ideal máximo a que aspira todo habitante do mundo
romano antigo, a condição perseguida por todos os homens livre é a da “ civitas”. Quanto
ao “status civitatis” os habitantes do império romano dividem-se em:

a) cidadãos romanos: são todos os que têm o direito de cidade, adquiridos por
nascimento ou por fatos posteriores; têm situação jurídica privilegiada, tanto no
campo privado (direito de comerciar, de adquirir propriedades ( jus commercii), de
casar (jus connubii) e de agir em juízo) quanto no público (participação política –
jus suffragii e honorum – e militar).

b) não-cidadãos romanos; estes dividem-se em:

i) latinos: todos os que não são romanos mas também não são
estrangeiros, por serem nascidos nas proximidades de Roma e terem como
língua materna o latim; dividem-se em:

 velhos (veteres): inicialmente os antigos habitantes do Lácio; mais


tarde, todos os habitantes das colônias fundadas pela Liga Latina
e, finalmente, todos a quem foi conferida a qualidade de latinos;
têm os mesmos direitos dos cidadãos romanos no campo do direito
privado e no campo do direito público apenas o de votar ( jus
suffragii);

 colonários (colonarii): a princípio, os habitantes das colônias, têm


direito ao jus commercii e o de agir em juízo, e no campo do
direito público apenas o de votar;

 junianos (juniani): libertos habitantes do império em condição


jurídica similar à dos latinos, mas regulados por lei especial: a
Junia Norbana.
ii) peregrinos: os estrangeiros, que se dividem em:

 ordinários: habitantes das cidades conquistadas por Roma que


celebraram com o Império acordos de paz e de preservação de
seus costumes (gauleses, gregos);

 deditícios: habitantes das cidades que resistiram à conquista


romana, terminando por serem conquistados e tornados
praticamente sem direitos, exceto pelo jus commercii; não foram
beneficiados pelo Edito de Caracala, de 212 d. C., só se tornando
cidadãos romanos no império de Justiniano (século VI).

2)O Edito de Caracala: é a constituição antoniana de Marco Aurélio Antonino Bassanus,

cognominado Caracala (não é o Marco Aurélio, “Rei Filósofo”), que no ano 212 concedeu a
cidadania romana a todos os habitantes do império, exceto os peregrinos deditícios. Tal
concessão melhorou a arrecadação do império, que vivia então enorme crise financeira.

O “Status Familiae”

3) A Família Romana: família na Roma antiga significava o conjunto de pessoas sob o


domínio e a autoridade de um chefe – o paterfamilias, e também o patrimônio desse
chefe. É uma família patriarcal, em que todas as pessoas que lhe são subordinadas e
dependentes (esposa, descendentes, parentes colaterais e agregados) são pessoas de
direito alheio (alieni juris). E tem uma tríplice dimensão: é um grupo religioso (do qual o
pater é o sacerdote), econômico (do qual o pater é o dirigente) e jurídico-político (do qual
o pater é o magistrado).

4) Relações de Parentesco:

a) Agnação: é o parentesco civil, aos olhos da lei; são agnatos todos os que se acham

sob o domínio e a autoridade de um mesmo chefe, que assim continuaram até sua
morte e que cairiam sob seu poder se ele vivesse indefinidamente; embora de
caráter artificial, é o parentesco reconhecido pelo direito romano e somente os
agnatos entram na linha sucessória.

b) Coganação: é o parentesco de sangue, não considerado para efeito jurídico,

embora o incesto fosse sempre proibido. Só com Justiniano, em 534, extinguiu-se a


agnação e passou-se a basear a família e a sucessão testamentária na comunidade
de sangue, na cognação.

5) A Patria Potestas: inicialmente é um poder quase absoluto do pater sobre todos os


seus dependentes, inclusive filhos, podendo, casar os filhos com quem quiser, obrigá-los
ao divórcio, rejeitá-los, abandoná-los, vendê-los como escravos e até matá-los, mediante
consulta aos membros da família mais próximos. O patrimônio da família é patrimônio do
pater, podendo ele deixá-lo, por testamento, para quem quiser, mesmo em prejuízo dos
herdeiros. Os dependentes são juridicamente totalmente incapazes (ex. do menor
devedor). Todavia, a partir da República atenua-se o poder absoluto do pater sobre sua
clientela e muitos dos allieni juris, especialmente os filhos, já passam a poder representar
o pater e a poder celebrar outros atos jurídicos.

6) Pecúlio (“Peculium”): originalmente um rebanho confiado à guarda de um filho ou


escravo; posteriormente, conjunto de bens entregue pelo chefe de família a um de seus
dependentes; as espécies de pecúlio são:

a) Profetício: conjunto de bens que o pater confia ao filho ou servo para ser

administrado na forma de um patrimônio de que o filho ou servo é detentor, mas


cuja propriedade continua sendo do pater; em caso de morte do detentor o
patrimônio volta ao pater;

b) Castrense: é o conjunto de bens que o filho adquire como militar nos

acampamentos (ad castra), provenientes do soldo, presentes, saques; embora


pertença ao filho, caso ele morra, se não há disposição testamentária em contrário,
esses bens vão para o pai; a partir de Justiniano o pater não recebe mais esse
pecúlio, podendo vir a receber parte desses bens apenas pela via da sucessão;

c) Quase castrense: são os bens recebidos pelo filho na Corte do Império na condição

de funcionário do Estado; também pertence ao filho, mas a partir de Justiniano


passa a ser regido pelas mesmas normas do pecúlio castrense;

d) Adventício: são todos os bens que os filhos recebem por direito de sucessão; no

caso dos bens da mãe falecida, inicialmente eram confiados ao pater; a partir de
Constantino passam a ser submetidos a um regime especial, em que o pater os
administra mas não pode dispor livremente sobre eles (os filhos são nu-
proprietários).
7) Fontes da Patria Potestas: descendência no casamento legítimo (“ justae
nuptiae”), legitimação e adoção.

8) Extinção da Patria Potestas: morte, emancipação, abandono concessão de certas


dignidades ao filho e perda da libertas ou da civitas pelo pater.

9) Justas Núpcias: também chamada matrimônio, é o casamento legítimo, contraído


de acordo com o direito civil; o justo aqui vem de jus, ou seja, o que é estritamente legal,
conforme a jus, aplicando-se somente aos cidadãos romanos; há dois tipos de casamentos
legítimos:

a) Cum manu: aquele em que a mulher cai sob o poder do marido ou do paterfamilias

deste, se ele for um allieni juris; substituindo-se, assim, a antiga patria potestas
sob a qual se achava antes de casar;

b) Sine manu: aquele em que a mulher não cai sob o poder do marido, continuando

sob a manus (autoridade) do pater da família de que provém.

10) Uniões diferentes das justas núpcias:

a) Concubinato: que evoluiu de união inferior e sem consequência jurídica à

condição de união legítima, sob Teodósio;

b) Matrimônio sem conúbio: entre cidadãos romanos e peregrinos, regulado

pelo direito das gentes;

c) Casamento nacional de peregrinos: regulado pelas leis das cidades dos

cônjuges;

d) Contubérnio: união de fato entre escravos ou entre pessoa livre e escravo,

sem reconhecimento jurídico.

11) Legitimação: elevação da condição dos filhos naturais de uma união não
legítima à condição de filhos legítimos, transformando-se a união em justas núpcias;
podia se dar pelo casamento subseqüente dos pais, pelo oferecimento dos filhos à
cúria e pelo rescrito imperial.

12) Adoção: é a colocação de alguém sob nova patria potestas; era muito usada
para dar herdeiro a quem não tinha ou para melhorar o status de um indivíduo,
concedendo-lhe a cidadania romana.

13) Emancipação: exclusão de um filho da patria potestas de um pater, excluindo-o


de sua sucessão.

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